Diversas estudantes da Universidade Federal do Rio Grande do Norte relatam sofrer com a precariedade do transporte que leva as estudantes das cidades do interior até a capital. Paradas muito longe, poucos carros, assédio e pouca segurança estão entre os relatos.
Emilly Lima | Natal
MULHERES — É fato que as mulheres são maioria dentro das universidades. De acordo com uma pesquisa realizada pelo IBGE, em 2020, as mulheres representam 54,9% nos cursos de bacharelado e 71,3% nos cursos de licenciatura. No entanto, mesmo sendo maioria, as estudantes são contempladas com poucas políticas de permanência estudantil, em especial as alunas que se deslocam diariamente de cidades interioranas para estudar na metrópole.
Uma das questões que mais afetam essas mulheres são as poucas paradas de ônibus, como foi relatado por uma estudante de direito, a qual vem todos os dias de Santo Antônio (cidade interiorana do estado do RN) para Natal: “Minha maior dificuldade é que meu ônibus só para em ECT (Escola de Ciência e Tecnologia da Universidade Federal do Rio Grande do Norte), daí tenho que caminhar à noite de ECT para o Setor I, porque às vezes não compensa esperar o [ônibus] circular”. Do setor das exatas para o setor I estima-se mais de um quilômetro de caminhada. Durante esse percurso, em especial à noite, as estudantes estão sujeitas a diversos perigos, como assaltos e principalmente assédios; não se sabe o que esperar, já que devido a problemas estruturais da universidade, não há segurança nem iluminação que garanta menos aflição às discentes.
Outro problema são as paralisações dos ônibus escolares cedidos pela prefeitura, que impedem o acesso das alunas às instituições de ensino. Ao ser questionada por que isso ocorria, uma estudante de serviço social — que reside em São José de Mipibu — afirmou que há apenas dois ônibus disponíveis na cidade, mas sem justificativas da secretaria de transportes, é comum que apenas um ônibus esteja disponível para levar os alunos até a universidade. Ademais, há o fato da superlotação do transporte; a mesma estudante relata que quando apenas um dos dois ônibus está rodando, é terrivelmente desconfortável e apertado. Os estudantes procuraram os responsáveis pelo transporte público do município, no entanto, não houve respostas.
Além disso, o transporte público permanece no topo da lista de lugares onde mais ocorrem assédios. Em 2019, os Institutos Patrícia Galvão e Locomotiva entrevistaram 1081 brasileiras e 97% delas relataram que já sofreram assédio nos meios de transporte. Os olhares maliciosos, aliciamentos entre outros desrespeitos são uma das causas para que as mulheres estudantes sintam receio de sair de casa e passar horas no transporte, sujeitas à essas violências até chegar na universidade. Não surpreendentemente, a maioria dos casos de evasão no ensino superior são de mulheres.
Por isso, é importante que as mulheres se organizem e procurem reivindicar por políticas públicas de segurança em relação ao transporte, além de exigir qualidade e lutar contra a precarização. Um exemplo disso é a campanha de abaixo-assinado por uma empresa pública de transporte urbano lançada em Natal pelos movimentos sociais que compõem a Unidade Popular; o Movimento de Mulheres Olga Benario vem convidando as mulheres natalenses, trabalhadoras e estudantes, para se somarem na luta pelo transporte, visto que são o público mais afetado pela precarização.