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domingo, 24 de novembro de 2024

Radamés Cândido: “Com a paralisação, conseguimos um aumento salarial de 19%”

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O jornal A Verdade realizou entrevista com Radamés Cândido, presidente do Sindicato dos Trabalhadores da Limpeza Urbana da Paraíba (Sindlimp-PB), durante o 2º Congresso Nacional do MLC. Ele relatou sua experiência na organização dos trabalhadores da limpeza urbana durante os últimos 22 anos, descreveu as dificuldades que a categoria vive e contou como foi possível conquistar o maior aumento salarial proporcional do Brasil. 

Alexandre Ferreira | Redação


A Verdade – Qual é a realidade do trabalhador da limpeza urbana hoje no Brasil?

Radamés Cândido – Somos trabalhadores praticamente invisíveis, apesar de estarmos nos centros das cidades e nas grandes metrópoles. Estamos limpando, varrendo, mas somos observados como se não fôssemos uma classe organizada. A realidade que vivemos é de uma alta exploração. E do olhar negativo de várias pessoas, principalmente dos ricos.

O Sindlimp-PB possui 21 anos. Conte um pouco dessa trajetória e seus desafios.

Foi muito difícil chegar aonde estamos hoje. Hoje somos uma força, temos a categoria junto com o sindicato. Mas, no começo, a rotatividade dos trabalhadores e as perseguições das empresas eram grandes. Quando o sindicato chegava na porta da garagem, o trabalhador que se aproximasse poderia ser demitido. E existia uma negativa do próprio trabalhador, pois, em primeiro lugar, estavam o emprego e a família. Mesmo com uma situação humilhante, ruim e constrangedora que pudesse estar passando, ele tinha que ter o ganha-pão dele. Então, a trajetória do Sindlimp na Paraíba foi de muito trabalho e dedicação, da diretoria do sindicato, sempre com todo apoio do Movimento Luta de Classes, pela valorização do trabalho da limpeza urbana e a desmistificação do nome “gari”. Passamos por um processo de muita luta para hoje a categoria ser reconhecida e o sindicato ser valorizado na base.

Então, a principal luta que enfrentamos foi para que não houvesse demissões, para reduzir a rotatividade. O trabalhador não conseguia atingir cinco ou seis anos. Quando entrava um prefeito e saía outro, o que entrava fazia novas licitações ou colocava um contrato emergencial. O trabalhador nem podia colocar atestado, tinha que trabalhar doente. Se colocasse, já era olhado de uma forma negativa. Eles aproveitavam a saída de uma empresa e a entrada de outra para aquele trabalhador não voltar para o trabalho. Nossa luta foi pela defesa do emprego dos companheiros e por melhores condições de trabalho na limpeza urbana.

Qual o balanço das duas últimas campanhas salariais do Sindlimp-PB?

A gente começou esse trabalho junto com o MLC, fortalecendo muito a nossa luta, fazendo o trabalho de base nos trechos, levando panfleto aos trabalhadores, dizendo que eles precisavam lutar, que o patrão só queria lucrar e depois o trabalhador seria descartado. Conseguimos realizar, no ano passado, uma campanha salarial muito forte. A paralisação teve grande adesão, as empresas não aguentaram e conseguimos o maior percentual de aumento salarial do Brasil, de 19%. Este ano, com medo do nível de organização e da força da categoria, a empresa já foi aceitando a proposta do sindicato. Conseguimos, mais uma vez, um alto percentual de reajuste salarial, de 10%, e de 15% no vale-alimentação. A gente vê que, com luta e dedicação todos os dias, chamando o trabalhador para lutar e se organizar, principalmente se reconhecendo como classe, a gente avança bastante.

Qual é a importância da greve para a categoria nesse processo de luta?

A greve é quando o trabalhador compreende e se sente verdadeiramente dono do seu trabalho. Esse é o seu verdadeiro valor. Porque ele vê ali que o patrão não é nada. Que o que tem foi conseguido com o suor do trabalhador. Então, quando a gente vê o patrão se humilhando pra gente voltar a trabalhar, vê os encarregados e os gerentes pedindo por favor pra gente voltar. Então ali cresce a consciência, cria dentro do trabalhador uma condição de dizer: “eu sou um trabalhador da limpeza urbana, eu tenho que ser valorizado, se eu não me valorizar, esses caras não me valorizarão”. Então a greve é um processo educativo muito forte. Mostra para os que se acham donos da gente, que ganham fortunas em cima da gente, que eles só ganham porque nós trabalhamos. Quando paramos, eles deixam de ganhar. Ou seja, a greve é um instrumento fundamental das categorias pela luta em defesa do aumento salarial, contra as injustiças e como uma escola de formação para os trabalhadores.

Entrevista publicada na edição nº 278 do Jornal A Verdade.

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