Desde o movimento Fridays for Future (sextas-feiras pelo futuro), que incentiva desde 2019 milhões de estudantes a praticar greves escolares e ocupar as ruas em defesa do clima, movimentos pela proteção do clima terrestre ganharam força no mundo inteiro. Especialmente jovens veem o seu futuro ameaçado e organizam protestos para exigir dos governos ações mais concretas em relação as mudanças climáticas e por formas de produção mais sustentáveis. O movimento iniciado por estudantes encontra hoje uma grande ressonância na sociedade e vem sendo acompanhado por vários outros grupos como o Parents for Future (pais pelo futuro), Teachers for Future (professores pelo futuro) ou o Scientists for Future (cientistas pelo futuro).
Katharina Kirsch-Soriano da Silva e Gustavo Partel | Viena, Áustria
JUVENTUDE – Os impactos das mudanças climáticas são cada vez mais evidentes. Secas intensas provocam fome e insegurança alimentar em diversas regiões do planeta. Ao mesmo tempo, tempestades e inundações também estão aumentando, com danos consideráveis à produção agrícola. O verão atual traz para os países ao sul do continente europeu calor inédito, com mais de 40° C na Itália, Espanha e Grécia. Florestas se incendeiam e cada vez mais pessoas falecem como consequência do calor excessivo. De acordo com um estudo publicado recentemente na revista científica Nature, o verão de 2022 foi o mais quente desde os primeiros registros de temperatura na Europa. Somente no continente, 60.000 mortes relacionadas ao calor foram registradas. Os países mais pobres e as camadas mais pobres da população são muitas vezes os mais afetados pelos efeitos das mudanças climáticas.
Apesar do cenário preocupante, as metas climáticas da maioria dos países ainda não foram alcançadas. O índice anual de proteção do clima (Climate Change Performance Index), que acompanha os avanços nesse campo para os 64 países responsáveis por 90% das emissões de carbono globais, tem suas três melhores colocações vagas, já que nenhum desses países conseguiu atingir uma proteção climática suficiente. Os melhores resultados são de países como Dinamarca e Suécia; a União Europeia como um todo ocupa o 19° lugar, o Brasil o 38° lugar. Piores resultados são vistos pelos EUA (52°), a Austrália (55°) e a Rússia (59°) (https://ccpi.org/ranking/).
Criminalização de movimentos sociais
Como forma de chamar atenção para a urgência de medidas políticas mais consequentes, movimentos sociais adotam novas formas de protestos civis. Pessoas se “colam” nos cruzamentos das vias públicas para sensibilizar as pessoas para a redução da circulação de carros. Ativistas se acorrentam em jatos privados e organizam ações de bloqueio a aeroportos. Rios, canais e fontes são coloridos temporariamente.
Tais formas de protesto questionam a “ordem pública” e são vistas por governos como “fatores de incômodo”. Como reação, representantes de movimentos pelo clima têm sido alvo de repressão na Alemanha e na Áustria nos últimos meses. Movimentos sociais e protestos civis são criminalizados e há prisões na maioria dos protestos. No final de maio, ocorreu em sete estados alemães uma grande ofensiva contra o movimento “Letze Generation” (última geração), no qual 170 policiais e oficiais conduziram buscas em vários apartamentos e estabelecimentos comerciais. Durante meses, conversas telefônicas de ativistas foram interceptadas. Na Áustria, uma importante liderança do movimento foi até ameaçada de deportação e expulsão do país.
Quando serão responsabilizados os ameaçam nossas vidas?
O sociólogo Matthias Quent, em entrevista para o noticiário alemão ZDF se mostra preocupado com essa nova onda de criminalização: “Os ativistas são pacíficos até o momento. […] É bem possível que a criminalização possa levar à radicalização dentro do movimento pelo clima. Isso ocorre porque eles têm a impressão de que o Estado está agindo mais contra as pessoas que protestam contra as mudanças climáticas do que contra as próprias mudanças climáticas.” O partido político Die Linke (A Esquerda) também critica veementemente a postura das autoridades alemãs. Os verdadeiros causadores dos problemas da sociedade e da destruição das condições básicas para a vida são aqueles que praticam o lobby para grandes corporações, e não jovens, que com seus protestos civis defendem uma maior proteção do clima: “Quando será realizada a batida contra todos aqueles que ignoram as decisões do Tribunal Constitucional Federal com sua inércia na proteção climática?”, pergunta Lorenz Gösta Beutin da direção do Die Linke.
Em nível global, são principalmente as grandes corporações que, por meio de suas formas de produção predatórias, ameaçam o meio ambiente e o futuro da população mundial. Apenas 100 empresas são responsáveis por quase três quartos das emissões de carbono industriais. Deve-se perguntar, então, quando essas empresas multinacionais serão responsabilizadas, e como as relações de produção poderão ser moldadas de forma a garantir um futuro socialmente e ecologicamente mais justo, sem explorar nem as pessoas nem o meio ambiente e as condições de vida no nosso planeta.
Matéria publicada na edição nº 278 do Jornal A Verdade.