Estejamos atentas e em luta para destruir qualquer vestígio daquilo que nos violenta!

184

Em Viçosa, interior de Minas Gerais no dia 28 de setembro, dia de Luta pela Legalização do Aborto na América Latina e Caribe, um vereador da Câmara Municipal da cidade articulou uma Audiência Pública junto daqueles que são pró-vida, como se intitulam, com o tema: contra o aborto e os riscos da ADPF 442.

Paula Dornelas | Militante do Movimento de Mulheres Olga Benario MG


Viçosa – Indo na contramão das discussões científicas, das estatísticas, da luta e reivindicações daquelas que são consideradas criminosas aos olhos dos reacionários e do Estado burguês – além de desrespeitar as normas internas da Câmara e a laicidade do Estado – o vereador Sérgio Marota realiza sua audiência “pública” embasada em discursos moralistas, religiosos, negacionistas, sem participação de especialistas sobre o tema, e sem convocação dos Conselhos Municipais que, segundo o regimento da Câmara, deveriam ter sido chamados.

Depois de muita pressão por parte do Conselho Municipal dos Direitos da Mulher (CMDM) e faltando menos de 1 hora para a audiência, conseguimos essa única representação nas cadeiras para o debate.

Com o argumento de que o plenário estava cheio, os movimentos sociais, junto de significativas representações como membras do CMDM, defensoria pública, estudantes e demais pessoas contrárias ao chamado da audiência estavam sendo impedidas de participar.

Novamente, após pressão, liberaram tais participações. Haviam cartazes fixados na parte interna do plenário da Câmara com os dizeres “Movimento Eu sou Pró-Vida” e uma imagem de um feto entre duas mãos. A mesa principal da audiência era composta por padres,  pastores, uma mulher com seu bebê no colo, além de uma psicóloga e advogados descomprometidos com a ciência e os direitos das mulheres.

A atividade teve início com uma oração, seguida de apresentação de slides com muitas informações falsas sobre as legislações existentes e propostas, interpretações equivocadas das reivindicações das mulheres e reprodutoras do ideal da tradicional sociedade capitalista-patriarcal-racista, em que pessoas boas são aquelas da “família tradicional brasileira”.

Durante o evento um homem violentou sua própria filha jovem por estar ali na luta, policiais que viram o ocorrido somente prenderam o cara após pressão de representantes do Conselho Tutelar que ali estavam, da Casa das Mulheres de Viçosa e militantes de movimentos sociais que prestavam apoio à menina.

As mulheres organizadas ocuparam o espaço com importantes intervenções: cartazes com dados, reivindicações coletivas dessa luta, lenços verdes representando que a luta latino-americana também estava presente naquele espaço e com forte resistência ao que nos ataca.

Representantes de diferentes movimentos sociais e apoiadores que estavam presentes. Foto: Movimento Olga Benario/Viçosa

Considero que não cabe detalhar aqui as demais atrocidades ditas, falas que saem da boca dos seguidores do ex-presidente fascista, o criminoso Jair Messias Bolsonaro. Daqueles que esquecem que Jesus foi um revolucionário que lutou em defesa do povo pobre, crucificado pelos que defendiam a manutenção da tradição e bons costumes da época. Porém, não vem ao caso debatermos crenças e religiosidades frente ao tema principal da discussão.

Eu, militante do Movimento de Mulheres Olga Benario, reforço que nossa luta não é de uma vida contra a outra, mas por uma sociedade que de verdade tenha a vida do nosso povo, do nosso planeta em primeira instância, na frente de qualquer lucro ou coisa parecida.

A gente luta por uma sociedade em que não haja pessoas, a cada minuto ou segundo, sendo vítimas de feminicídio, de racismo, de exaustão por ser um trabalhador explorado, de fome, de frio, entre tantos outros motivos. Esse é o retrato da sociedade em que a gente vive sob o capitalismo!

Intervenções realizadas pelas militantes do Movimento Olga. Foto: Movimento de Mulheres Olga Benario/Viçosa

Essa audiência pública contra o aborto e a sequência de acontecimentos que se deram no espaço da Câmara e redondezas em menos de 3 horas da noite do dia 28 de setembro reforça o quanto as mulheres são violentadas nessa sociedade capitalista: desde a violência física mais visível, às legislações existentes, aos legisladores e profissionais que ocupam os espaços de poder, à falta de representação política, além do racismo sofrido por diversas companheiras negras que estavam ali na luta pela vida das mulheres.

Importante ressaltar ainda o quanto o último governo de Jair Messias Bolsonaro tem forte influência no recrudescimento dessas violências reproduzidas ali por seus apoiadores. Estejamos atentas que nesse momento em que as contradições desse sistema opressor estão ainda mais visíveis, a burguesia apoia o fascismo pra controle do nosso povo.

Não nos contentamos com migalhas, camaradas, por isso precisamos estar em constante movimento para derrubar o fascismo nas ruas de vez, destruir qualquer vestígio daquilo que nos quer submissas, doentes, deprimidas, violentadas.

Sigamos na luta diária pela vida das mulheres e pela construção da sociedade socialista!