UM JORNAL DOS TRABALHADORES NA LUTA PELO SOCIALISMO

segunda-feira, 25 de novembro de 2024

Estivadores de Barcelona interrompem carregamento bélico para Israel e Ucrânia

Outros Artigos

Sindicato dos trabalhadores portuários de Barcelona, após assembleia soberana, interrompe o transporte de carregamento militar às áreas de conflito – além de exigirem posições mais rígidas das organizações internacionais na proteção da população cível e na garantia do direito internacional

Raíssa Araújo Pacheco | São Paulo


TRABALHADOR UNIDO – “Nenhuma razão justifica o assassinato de civis”, é o que os trabalhadores portuários de Barcelona, na Espanha, vêm levantando desde a segunda-feira, dia 6 de novembro.

Em um ato exemplar de bravura e solidariedade, a Organização de Estivadores Portuários de Barcelona (OEPB) está se recusando a transportar armas para Israel e Ucrânia. Foi após assembleia soberana que o sindicato da categoria comunicou a decisão.

Os estivadores também reivindicam, com urgência, a proteção da população civil nas áreas de conflito. A entidade é o único sindicato que representa os pelo menos 1.200 estivadores do porto de Barcelona.

O comunicado da organização, publicado no dia 7 de novembro, assinala que tal posicionamento se deve à contínua violação dos direitos humanos que tem ocorrido tanto na Palestina, como em outras partes do mundo.

No mesmo documento, os trabalhadores também denunciam a atitude permissiva de alguns países que firmaram a própria Declaração Universal dos Direitos Humanos, como é o caso dos Estados Unidos.

Uma outra ferida tocada no escrito é quanto ao papel da ONU e sua atuação recuada e ineficiente perante o conflito – mesmo que nas últimas semanas a relação diplomática da organização com o estado assassino de Israel esteja, por motivos óbvios, bastante tensionada.

Global Days of Action: Nov 9-10. Foto: Reprodução

No comunicado, a organização diz que “reza para que o cessar fogo imediato seja proclamado e que seja prosseguida a busca por soluções pacíficas para o conflito, como também, que a ONU pare com sua posição de cumplicidade através da inação ou negação de suas funções e que recupere o espírito e as razões pelas quais foi fundada”.

A mensagem finaliza ainda com uma lista de funções que a ONU deveria estar cumprindo, tais como: manutenção da paz e da segurança; proteção dos direitos humanos; distribuição de ajuda humanitária, apoio ao desenvolvimento sustentável e ações contra as mudanças climáticas; defesa do direito internacional.

Os estivadores também relatam que perceberam um aumento da demanda dos envios de carga à região de Gaza em velocidade alarmante. Dados oficiais recentes confirmam a percepção dos trabalhadores.

Na primeira metade de 2022, a Espanha exportou 1.3 bilhões de euros em equipamento militar. No entanto, em menos de um mês, as remessas bélicas para Israel já contabilizam 9 milhões de euros.

Na terça-feira, o secretário da OEPB, Josep Maria Deop, contou ao site Reuters que a decisão tem também o intuito de encorajar outros trabalhadores portuários da Espanha a seguirem o exemplo.

Um exemplo que não se limita às fronteiras espanholas e catalãs, mas se alastra e se une a outras manifestações no mundo todo.

O mundo se manifesta contra o genocídio palestino

A decisão acompanha uma séries de outras manifestações que têm ocorrido ao redor do globo reivindicando pautas como o fim do envio de armas à região de Gaza, pelo fim dos acordos com o Estado de Israel e pelo fim definitivo do genocídio do povo palestino.

Além das manifestações que vêm lotando as avenidas de diversas cidades do mundo, outras ações têm feito pressão internacional.

Como é o caso dos trabalhadores do aeroporto de Liège, na Bélgica, que estão recusando trabalhar com voos de carga que transportam armas e munições à Israel ou Palestina, como relata Lenilda Luna em matéria do Jornal A Verdade.

Outro exemplo corajoso tem sido dado pelos trabalhadores das minas de carvão da Colômbia, que estão exigindo o embargo das exportações de carvão, metais e minérios para Israel.

Em seu comunicado, os mineiros colombianos também relembram o treinamento militar oferecido pelo sionismo aos grupos paramilitares de extrema-direita da Colômbia. Tais grupos são responsáveis pela perseguição aos sindicatos e movimentos de esquerda do país, perseguição essa que resultou em milhares de assassinatos, desaparecidos e execuções extrajudiciais. Os números exatos podem ser conferidos aqui.

Nos Estados Unidos, os trabalhadores também têm se manifestado bravamente. Funcionários da Amazon exigem que a empresa pare de oferecer serviços de telecomunicação e de inteligência artificial à Israel.

Ainda em territórios ianques, em Tacoma e Oakland, costa oeste do país,  manifestantes bloquearam as entradas dos portos impedindo o envio de armas por via marítima às forças israelenses. Além disso, a entrada da fabricante aérea Boeing, fornecedora de aviões à Israel,  também foi fechada por dezenas de pessoas.

Já na Itália, a Universidade Oriental de Nápoles foi tomada por estudantes que denunciam “a cumplicidade e o silêncio” do governo e de suas instituições. Eles exigem o fim dos acordos técnicos e de cooperação com universidades israelenses e com o Estado de Israel.

Também denunciam o apoio do governo italiano ao genocido Palestino, além de exigirem a condenação dos dos crimes de guerra e das violações de Direitos Humanos empreendidos por Israel: “Não queremos estudar em uma universidade que é cúmplice daquilo que um governo colonial e criminoso como o de Israel está fazendo”.

Exemplo de solidariedade e internacionalismo

Não é primeira vez que os estivadores de Barcelona adotam boicote semelhante. A primeira vez ocorreu em 2011, durante a Guerra Civil na Líbia. Ademais, nas últimas décadas, eles também participaram de projetos de envio de ajuda humanitária ao Sahara Ocidental e à Nicarágua.

Esse é um grande exemplo de como um sindicato forte e combativo deve se posicionar. Demonstrando como que a solidariedade para com os povos oprimidos e o desejo de lutar contra injustiças pode ser efetivo.

É imperativa a prisão do assassino em série Benjamin Netanyahu, primeiro-ministro de Israel. O boicote e a ruptura imediata das relações diplomáticas, econômicas e militares com esse Estado assassino também é urgente. Órgãos decisivos como a ONU devem ser mais incisivos não só em suas críticas, como também em suas ações.

Por fim, mas não menos categórico, a união na luta pela libertação do povo palestino, pelo retorno dos refugiados às suas terra, pela soberania palestina sobre seus territórios e pelo fim dos conflitos que vêm matando milhares de cidadãos no mundo, principalmente crianças, é um dever e o maior exemplo de internacionalismo proletário que podemos dar.

Conheça os livros das edições Manoel Lisboa

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui

Matérias recentes