Sindicato dos trabalhadores portuários de Barcelona, após assembleia soberana, interrompe o transporte de carregamento militar às áreas de conflito – além de exigirem posições mais rígidas das organizações internacionais na proteção da população cível e na garantia do direito internacional
Raíssa Araújo Pacheco | São Paulo
TRABALHADOR UNIDO – “Nenhuma razão justifica o assassinato de civis”, é o que os trabalhadores portuários de Barcelona, na Espanha, vêm levantando desde a segunda-feira, dia 6 de novembro.
Em um ato exemplar de bravura e solidariedade, a Organização de Estivadores Portuários de Barcelona (OEPB) está se recusando a transportar armas para Israel e Ucrânia. Foi após assembleia soberana que o sindicato da categoria comunicou a decisão.
Os estivadores também reivindicam, com urgência, a proteção da população civil nas áreas de conflito. A entidade é o único sindicato que representa os pelo menos 1.200 estivadores do porto de Barcelona.
O comunicado da organização, publicado no dia 7 de novembro, assinala que tal posicionamento se deve à contínua violação dos direitos humanos que tem ocorrido tanto na Palestina, como em outras partes do mundo.
No mesmo documento, os trabalhadores também denunciam a atitude permissiva de alguns países que firmaram a própria Declaração Universal dos Direitos Humanos, como é o caso dos Estados Unidos.
Uma outra ferida tocada no escrito é quanto ao papel da ONU e sua atuação recuada e ineficiente perante o conflito – mesmo que nas últimas semanas a relação diplomática da organização com o estado assassino de Israel esteja, por motivos óbvios, bastante tensionada.
No comunicado, a organização diz que “reza para que o cessar fogo imediato seja proclamado e que seja prosseguida a busca por soluções pacíficas para o conflito, como também, que a ONU pare com sua posição de cumplicidade através da inação ou negação de suas funções e que recupere o espírito e as razões pelas quais foi fundada”.
A mensagem finaliza ainda com uma lista de funções que a ONU deveria estar cumprindo, tais como: manutenção da paz e da segurança; proteção dos direitos humanos; distribuição de ajuda humanitária, apoio ao desenvolvimento sustentável e ações contra as mudanças climáticas; defesa do direito internacional.
Os estivadores também relatam que perceberam um aumento da demanda dos envios de carga à região de Gaza em velocidade alarmante. Dados oficiais recentes confirmam a percepção dos trabalhadores.
Na primeira metade de 2022, a Espanha exportou 1.3 bilhões de euros em equipamento militar. No entanto, em menos de um mês, as remessas bélicas para Israel já contabilizam 9 milhões de euros.
Na terça-feira, o secretário da OEPB, Josep Maria Deop, contou ao site Reuters que a decisão tem também o intuito de encorajar outros trabalhadores portuários da Espanha a seguirem o exemplo.
Um exemplo que não se limita às fronteiras espanholas e catalãs, mas se alastra e se une a outras manifestações no mundo todo.
O mundo se manifesta contra o genocídio palestino
A decisão acompanha uma séries de outras manifestações que têm ocorrido ao redor do globo reivindicando pautas como o fim do envio de armas à região de Gaza, pelo fim dos acordos com o Estado de Israel e pelo fim definitivo do genocídio do povo palestino.
Além das manifestações que vêm lotando as avenidas de diversas cidades do mundo, outras ações têm feito pressão internacional.
Como é o caso dos trabalhadores do aeroporto de Liège, na Bélgica, que estão recusando trabalhar com voos de carga que transportam armas e munições à Israel ou Palestina, como relata Lenilda Luna em matéria do Jornal A Verdade.
Outro exemplo corajoso tem sido dado pelos trabalhadores das minas de carvão da Colômbia, que estão exigindo o embargo das exportações de carvão, metais e minérios para Israel.
Em seu comunicado, os mineiros colombianos também relembram o treinamento militar oferecido pelo sionismo aos grupos paramilitares de extrema-direita da Colômbia. Tais grupos são responsáveis pela perseguição aos sindicatos e movimentos de esquerda do país, perseguição essa que resultou em milhares de assassinatos, desaparecidos e execuções extrajudiciais. Os números exatos podem ser conferidos aqui.
Nos Estados Unidos, os trabalhadores também têm se manifestado bravamente. Funcionários da Amazon exigem que a empresa pare de oferecer serviços de telecomunicação e de inteligência artificial à Israel.
Ainda em territórios ianques, em Tacoma e Oakland, costa oeste do país, manifestantes bloquearam as entradas dos portos impedindo o envio de armas por via marítima às forças israelenses. Além disso, a entrada da fabricante aérea Boeing, fornecedora de aviões à Israel, também foi fechada por dezenas de pessoas.
Já na Itália, a Universidade Oriental de Nápoles foi tomada por estudantes que denunciam “a cumplicidade e o silêncio” do governo e de suas instituições. Eles exigem o fim dos acordos técnicos e de cooperação com universidades israelenses e com o Estado de Israel.
Também denunciam o apoio do governo italiano ao genocido Palestino, além de exigirem a condenação dos dos crimes de guerra e das violações de Direitos Humanos empreendidos por Israel: “Não queremos estudar em uma universidade que é cúmplice daquilo que um governo colonial e criminoso como o de Israel está fazendo”.
Exemplo de solidariedade e internacionalismo
Não é primeira vez que os estivadores de Barcelona adotam boicote semelhante. A primeira vez ocorreu em 2011, durante a Guerra Civil na Líbia. Ademais, nas últimas décadas, eles também participaram de projetos de envio de ajuda humanitária ao Sahara Ocidental e à Nicarágua.
Esse é um grande exemplo de como um sindicato forte e combativo deve se posicionar. Demonstrando como que a solidariedade para com os povos oprimidos e o desejo de lutar contra injustiças pode ser efetivo.
É imperativa a prisão do assassino em série Benjamin Netanyahu, primeiro-ministro de Israel. O boicote e a ruptura imediata das relações diplomáticas, econômicas e militares com esse Estado assassino também é urgente. Órgãos decisivos como a ONU devem ser mais incisivos não só em suas críticas, como também em suas ações.
Por fim, mas não menos categórico, a união na luta pela libertação do povo palestino, pelo retorno dos refugiados às suas terra, pela soberania palestina sobre seus territórios e pelo fim dos conflitos que vêm matando milhares de cidadãos no mundo, principalmente crianças, é um dever e o maior exemplo de internacionalismo proletário que podemos dar.