O principal alvo dos aparelhos ideológicos da burguesia é a juventude. Existem muitas informações de todos os lados e muitas vezes nossos jovens que não estão organizados politicamente não aprofundam a leitura sobre o avanço do fascismo. Em que medida isto está relacionado com a realidade da gente, que é jovem? E mais: como nós podemos entender o que é o fascismo fazer oposição a ele e às guerras imperialistas?
Jessica Fontes | Vitória da Conquista*
JUVENTUDE – É inegável que o principal alvo dos aparelhos ideológicos da burguesia capitalista são os jovens, independentemente do país onde vivem. A nós, jovens, são direcionadas as propagandas que alimentam o consumismo, os padrões estéticos mais cruéis, fruto de uma sociedade baseada no consumo dos corpos como mercadoria, os produtos cinematográficos e toda sua carga simbólica de individualismo; a nós, principalmente, é imposta uma sobrecarga irreal e inconcebível de trabalho, estudo e cuidado do lar. O sistema capitalista promete aos jovens o enriquecimento sob o argumento da meritocracia e entrega os piores empregos, com salários baixos e futuro incerto, favorecendo o desenvolvimento de psicopatologias.
No Brasil, esta realidade piora. Devido à nossa dependência econômica e política, mediada e viabilizada pelo imperialismo estadunidense, sofremos o “processo de influenciação”, denominado pela socióloga Júlia Falivene Alves como “colonialismo cultural” em seu livro A Invasão Cultural Norte-Americana. Desenvolver-se e tornar-se adulto numa sociedade como esta confere à nossa juventude os maiores níveis de ansiedade e depressão do mundo.
Neste contexto, é central o entendimento de que o capitalismo dependente brasileiro se alimenta da superexploração da nossa classe, que historicamente é herdeira da exploração escravagista, sexista e misógina de séculos de monarquia e colonialismo. Quando observamos os dados atuais (Infopen, Ministério da Justiça, 2018), é possível identificar que a maioria das pessoas encarceradas são jovens, negros, homens e sem o ensino fundamental, vítimas de uma socialização marcada para a marginalização – pois é uma escolha política do Estado encontrar este jovem para prendê-lo, e não para educá-lo e formá-lo para uma sociedade que permita que seu trabalho seja a expressão do desenvolvimento de suas melhores habilidades.
Ao mesmo tempo, milhares de jovens mulheres são violentadas de todas as formas em nosso país: o Brasil segue entre os cinco países com maior taxa de feminicídio (sendo 66% das vítimas mulheres negras, segundo o Fórum Brasileiro de Segurança Pública, 2021). Subjetivamente, nossa juventude está sendo formada, comprimida e reprimida para ser submissa e servil.
Rebelar-se é justo!
Consequentemente, as contradições desse sistema de exploração fazem com que os/es e as jovens de todo o mundo se inquietem e busquem formas de emancipar nossa classe de toda e qualquer forma, indicando que o grande revolucionário Che Guevara estava correto ao apontar que “em todos os países, onde a opressão chega a níveis insustentáveis, deve-se erguer a bandeira da Rebelião”.
O tempo histórico no qual nos encontramos é confuso para aqueles não estão organizados politicamente. Ora vivemos o fascismo, depois já não se fala mais disso com tanta frequência disso nas redes; ora falamos de uma guerra que acontece no leste europeu e depois os noticiários já não destacam mais com a centralidade de antes.
Contudo, através do método materialista histórico-dialético, nós conseguimos fazer a perfeita leitura da conjuntura que se desenha há mais de 10 anos. Novamente, fruto da necessidade da expansão territorial e exploração de outros povos pelo imperialismo e o neocolonialismo, o nosso mundo vive guerras imperialistas constantes – ao contrário do que afirmam alguns teóricos revisionistas herdeiros de Kautsky, o imperialismo e a guerra por territórios jamais foram superados.
Mas em que medida isto está relacionado com a realidade da gente, que é jovem? E mais: de que maneira nós podemos entender o que é o fascismo e fazer oposição a ele e às guerras imperialistas?
Lembremos o que disse o dirigente comunista Georgi Dimitrov em seu discurso “A Juventude contra o Fascismo”, em 1935:
“Privando a jovem geração do povo operário de todos os direitos, os governos fascistas militarizam toda a juventude, e tentam treinar de suas fileiras obedientes escravos do capital financeiro tanto na guerra civil quanto na imperialista”.
Ainda, o revolucionário continua:
“Nós podemos e devemos colocar em oposição à tal a união de todas as forças antifascistas e, acima de tudo, a união de todas as forças da jovem geração do povo operário, ao mesmo tempo que reforça mil vezes o papel e a atividade da juventude na luta da classe operária por seus próprios interesses, para sua própria causa”.
Por isso, precisamos entender nossa tarefa histórica, colocar nossa força revolucionária contra o fascismo e as guerras imperialistas e nossa capacidade de organização e propaganda à serviço de nossa classe, a classe trabalhadora. Quando deixamos de lado a perspectiva revolucionária, abandonamos não só a nossa, mas as próximas gerações ao caminho do fascismo.
Dimitrov, em outro texto intitulado “Unidade Operária Contra o Fascismo”, destacou que o fascismo é um movimento de massas, que se apropria politicamente da revolta popular contra o sistema principalmente nos casos em que o trabalho dos comunistas é ainda debilitado.
A organização política dos trabalhadores jamais interessará aos burgueses e ao Estado; pudemos ver um claro exemplo disso durante a trajetória de ascensão de Bolsonaro: mesmo flertando com ideias antidemocráticas e saudando ditadores militares assassinos de nosso povo, foi permitido que ele não só se candidatasse, mas ficasse impune até o ano de 2023. Quando punido, sequer foi preso – ainda. Em contraposição, a candidatura da chapa antirracista e socialista de Léo Péricles e Samara Martins sequer foi considerada nos debates das grandes emissoras de televisão. Isto demonstra o grande esforço da classe dominante e seus aparatos para retirar da juventude o horizonte revolucionário.
Precisamos, como Dimitrov ainda destaca, de um novo tipo de organização de juventude de massas. Uma organização de jovens que “lutarão por todos os interesses da juventude e levantarão a juventude no espírito da luta de classes e do internacionalismo proletário, no espírito do Marxismo-Leninismo”.
Por isso, a União da Juventude Rebelião (UJR) nasceu em 1995, fruto do entendimento acertado do Partido Comunista Revolucionário (PCR) de que, sem a juventude organizada, a luta contra o fascismo – já apontada pela Conferência Internacional de Partidos e Organizações Marxistas Leninistas (CIPO-ML) como uma forte tendência para os anos que se seguiam – não seria possível.
Em tempos de neoliberalismo, o poder do capital financeiro em seus suspiros profundos em meio à mais uma crise cíclica recorre ao fascismo para desmobilizar nossa juventude e a luta da nossa classe na cidade e no campo. Somos bombardeados diariamente com propaganda anticomunista e antirrevolucionária, no intuito de docilizar nossas mentes e endurecer nossos corações, mas a juventude carrega consigo o profundo desejo de mudança, pulsão de vida e a força necessária para construir uma organização revolucionária como a UJR.
O espírito imortal dos comunistas
Por fim, não podemos nos enganar com o que é a luta contra o fascismo e esse sistema capitalista que nos adoece e nos mata. A luta dos comunistas requer compromisso, disciplina e abnegação.
Os jovens comunistas Manoel Lisboa, Emmanuel Bezerra, Helenira Preta, Honestino Guimarães, Che Guevara, Leila Khaled, entre tantos outros deixam um legado: se entregar completamente à luta na medida do possível. Comodismo não é uma palavra que pode estar associada à figura de alguém que luta por um mundo melhor e pelo socialismo.
A “medida do possível” para estes e estas foi não apenas dizer que dariam suas vidas, mas dedicação completa ainda em vida. A exemplo, Manoel Lisboa deixou seu sonho de cursar Medicina e o conforto de suas boas condições de vida para organizar nosso Partido. Emmanuel Bezerra leu os seis tomos de O Capital para levar formação política e fundamentar sua atuação revolucionária em nosso país e em países vizinhos. Frida, mesmo após ser acometida por diversas comorbidades, não deixou seu fogo revolucionário se apagar e continuou propagandeando o marxismo leninismo em suas obras de arte. Che, exemplo de internacionalismo, mesmo após a revolução vitoriosa em Cuba, abriu mão de estar com sua família e amigos para construir a revolução em outros países até sua morte! Leila Khaled, pela libertação de seu povo do julgo do fundamentalismo, pelo poder popular e socialismo chegou a mudar sua fisionomia para despistar agentes do imperialismo.
Ser comunista nunca será algo favorável à ditadura do grande capital. Desta forma, sempre seremos, ideológica e simbolicamente, coagidos e atacados pelo sistema a recuar em nossa jornada de formação enquanto quadros a cada mínimo avanço que temos contra as classes dominantes. Isto é nítido nos momentos em que estamos em meio à luta cotidiana e nos encontramos repensando nossa militância e nos confundindo com coações de agentes da burguesia e seus ideólogos em nossos espaços de atuação.
Não podemos permitir a naturalização das manifestações fascistas na sociedade através das perseguições realizadas contra o poder popular, que fertilizamos em cada brigada do Jornal A Verdade, grêmio, entidade, ocupação e assembleia que fazemos. Qual de nós não conhece ou já fomos esse alguém que sofreu ataques por parte de órgãos do governo, representantes deles ou da relação de poder que perpetua a opressão da juventude ao invés da liberdade dos jovens? Neste sentido, é necessário salientar ainda que a própria social-democracia abre o espaço e terreno fértil para essas medidas repressivas; como já sabemos, ela é a “antessala do fascismo”.
Assim devemos combater toda e qualquer ação fascista, formando frentes antifascistas e antinazistas, promovendo colagens, panfletagens, decorações pelas cidades e, principalmente, plenárias de apresentação em nossos locais de atuação. Devemos nos munir mais da ciência do proletariado, o socialismo, para compartilhar nosso acúmulo teórico com nossas irmãs e irmãos através de cursos de formação. Devemos suprimir de vez os hábitos pequeno burgueses alimentados em nós pela ideologia capitalista, fortalecendo ainda mais as condições nas quais haja a satisfação e o orgulho de ser da UJR. Trabalhar para que cada um de nós se consolide como organizador da revolução brasileira, eliminando de uma vez por todas os vícios ideológicos do capitalismo e instaurando uma nova sociedade e uma nova forma de sociabilidade.
Que a alegria de construir um mundo melhor e a camaradagem, consequente de nosso reconhecimento e amor por aqueles que lutam ao nosso lado, guiem nossa ação organizativa. A partir da eficiência da forma de organizar nosso trabalho, teremos sucesso em nossas lutas travadas contra o avanço do capital financeiro em todas as suas formas, munidos da teoria revolucionária, da disposição em lutar coletivamente e da certeza de que só a luta muda a vida!
*Jéssica Fontes é militante da União da Juventude Rebelião (UJR) em Vitória da Conquista