Nesse texto vamos nos debruçar a pensar acerca de um destes elementos, que muitas vezes dificulta nosso crescimento orgânico: a compreensão de nossos militantes enquanto vanguarda dentro do movimento revolucionário no país.
Valesca Rabelo | Belo Horizonte
JUVENTUDE – Sabemos que atualmente construímos uma forte e influente organização política revolucionária em nosso país. Uma organização que mostra sua presença não apenas nas “bandeiras vermelhas do Che” que levanta nas manifestações, mas também nas pautas que agita, nas lutas que constrói e no trabalho cotidiano que se propõe a fazer nas escolas, bairros e universidades. Tal força e influência certamente só é possível devido à acertada linha política.
Mas uma linha política acertada é suficiente para a construção de uma Revolução Socialista no Brasil? A resposta é não. Existem outros elementos que influenciam essa equação e que se mostram, muitas vezes, motivo de estagnação do nosso trabalho: a falta de regularidade das reuniões de núcleo, o espontaneísmo e a construção artesanal do trabalho, o conformismo. Tais elementos, precisam ser combatidos através da crítica e da autocrítica, uma vez que nos distanciam do nosso real objetivo.
Nesse texto vamos nos debruçar a pensar acerca de um destes elementos, que muitas vezes dificulta nosso crescimento orgânico: a compreensão de nossos militantes enquanto vanguarda dentro do movimento revolucionário no país. Muitas vezes nos deparamos com uma necessidade de ampliar nossa organização e trabalho, dificultada por defensivas e resistências de nossos militantes em assumir novas tarefas, seja por conformismo, por insegurança de achar que sua formação ainda é insuficiente, por achar que não é possível desenvolver um trabalho comunista em um determinado território que é mais ou menos “conservador”, por ataques realizados pela oposição ou liberais, entre outros muitos “motivos”.
Pensemos agora no que diz o patrono da nossa organização, Che Guevara. Em seu discurso “O que deve ser um jovem comunista”, Che diz: “O jovem comunista deve propor-se a ser sempre o primeiro em tudo, lutar para ser o primeiro, e sentir-se incomodado quando em alguma coisa ocupa outro lugar. Lutar para melhorar, para ser o primeiro. Claro que nem todos podem ser o primeiro, mas sim estar entre os primeiros, no grupo de vanguarda. Ser um exemplo vivo, ser o espelho onde olhem os companheiros que não pertençam às juventudes comunistas, ser o exemplo onde possam se olhar os homens e as mulheres de idade mais avançada que tenham perdido certo entusiasmo juvenil, que tenham perdido a fé na vida e que diante do estímulo do exemplo sempre reagem bem. Essa é outra tarefa dos jovens comunistas”. O que significa sermos os primeiros? Vamos exemplificar, mais uma vez, com as palavras de nosso patrono: “O companheiro Arnet também se orgulhava de que a sua fábrica, durante meses a fio, não tinha faltas. Além disso, a limpeza, a correção que existe naquela fábrica é exemplar, muito pequena” e ainda “Esse tipo de emulação é que vai fazendo, como um jogo, que se melhore, que se amplie cada vez mais a base dos trabalhadores que participam da construção social consciente” (Trechos do discurso “Uma atitude comunista frente ao trabalho”).
Sermos os primeiros é ser o exemplo, e na UJR todos os militantes compõem a vanguarda revolucionária brasileira. Portanto, devem se enxergar enquanto essa vanguarda, enquanto também dirigentes da revolução em seus lugares de atuação, enquanto “os primeiros” que irão arrastar nosso povo rumo à revolução. Isso significa não encarar como direção apenas os assistentes de nossos núcleos: todos devemos expressar uma direção e referência nos territórios que atuamos. Também significa que, se algo precisa ser feito, seremos nós a fazer: identificando a necessidade, expressando e chamando as pessoas que nos rodeiam para fazer junto de nós, sem esperar que aquilo seja espontaneamente feito. Por isso, não devemos esperar que o assistente cumpra com todas as tarefas que são importantes de serem desenvolvidas, como muitas vezes acontece.
Quantas vezes deixamos de realizar brigadas, cursos marxistas, reuniões do trabalho de massa, passagens em sala, participar de assembleias, esperando a presença de alguma figura de direção de nossa organização? Quantas vezes abrimos mão de sermos de fato a vanguarda, esperando que “fulano de tal”, que nos assiste, faça a tarefa sozinho, pois ele “consegue” ou “dá um jeito” ou “faz melhor”?
Devemos usar nossas dificuldades, inseguranças ou limitações, como nortes para como podemos ser melhores, de onde precisamos aumentar nossa formação. Não podemos utilizá-las, tal qual a qualidade dos outros, como muletas de nossa atuação. Se alguém faz algo melhor que nós, que sirva de exemplo, mas não esperemos que seja sempre essa pessoa a fazer aquilo.
Muitas vezes há a insegurança na elaboração de propostas de ação por parte dos militantes em seus núcleos e, também, uma espera por essas propostas descerem dos órgãos de direção. Além de uma falta de compreensão no papel do militante de vanguarda, isso demonstra uma incompreensão com nosso método de organização, o centralismo democrático.
Os informes, propostas, avaliações, devem subir e descer nas hierarquias de nossa organização. Cabe aos nossos militantes a iniciativa de elaborar essas propostas, cobrar os debates, assim como cobrar suas reuniões, quando elas não acontecem.
Saber avaliar nossos erros e acertos, e mais que isso, caminhar para a solução de nossas debilidades, é essencial, e isso parte também pela compreensão de nossos militantes acerca de seu papel enquanto indivíduo na construção de nossa organização. Façamos essa autocrítica, coletiva e individual, e nos aproximemos cada vez mais do nosso objetivo central: construir a revolução socialista.