O presidente Nicolás Maduro vence eleições na Venezuela com mais de 51% dos votos. Oposição financiada pelos EUA não reconhece resultado e ameaça novo movimento golpista.
Redação
INTERNACIONAL – Após uma disputada campanha eleitoral, o presidente venezuelano Nicolás Maduro foi reeleito com 51,2% dos votos, derrotando o candidato da oposição de extrema-direita Edmundo González, que obteve 44,2%.
Num processo marcado por uma intensa campanha de descrédito do sistema eleitoral venezuelano por parte da mídia burguesa internacional e ataques do governo dos EUA, com apoio de governos latino-americanos, Maduro conseguiu vencer no primeiro turno por uma margem bem apertada.
Como era esperado, governos de direita e alinhados ao imperialismo estadunidense não reconheceram o resultado da eleição. O Brasil ainda não se posicionou claramente e disse acompanhar a situação.
Desde a semana passada, o presidente Lula tem feito declarações criticando Maduro, apesar de reconhecer a importância da vitória do venezuelano para impedir o avanço da extrema-direita no país. As críticas de Lula geraram reações na Venezuela.
Campanha disputada e tensa
Ao contrário do que a grande mídia burguesa apresentou, a campanha eleitoral foi marcada por grandes atos do campo chavista, assim como manifestações da oposição de direita. Nesses atos, ficou muito claro que enquanto Maduro tinha forte apoio nas comunidades populares, favelas e nos setores mais pobres da sociedade venezuelana, o candidato da oposição tinha forte apoio das elites econômicas e dos setores mais conservadores e reacionários da classe média.
Ao mesmo tempo que a grande mídia burguesa no Brasil fala em uma suposta falta de democracia na Venezuela, se cala diante das injustiças do sistema eleitoral brasileiro, onde apenas alguns partidos são autorizados a terem programas eleitorais de TV e o Fundo Eleitoral é distribuído de forma desigual. Exemplo: enquanto o PL de Bolsonaro receberá nas eleições de 2024 mais de 880 milhões de reais, a Unidade Popular, partido de esquerda, receberá apenas 0,07% do total do fundo e não terá direito a tempo de TV e rádio, nem de participar dos debates.
Ameaça golpista
Por todo o processo de eleições, a ameaça de ingerência externa levou as Forças Armadas a fecharem a fronteira da Venezuela ao longo do fim de semana. Na manhã desta segunda (29), o Conselho Nacional Eleitoral (CNE) anunciou que seu sistema de totalização sofreu ataques externos. Na Venezuela, assim como no Brasil, o sistema de votação é eletrônico.
Após o anúncio dos resultados das eleições, a líder de extrema-direita da Venezuela, Maria Corina Machado, correu para a imprensa para acusar “fraude” no processo eleitoral e fez uma ameaça de que a chamada Mesa de Unidade Democrática poderá repetir o movimento golpista realizado nas eleições de 2018.
Na ocasião, os oposicionistas fizeram com que o presidente da Assembleia, o fascista Juan Guaidó, se autoproclamasse “presidente interino”, seguido de um processo de reconhecimento internacional liderado pelas potências imperialistas. No entanto, na época o movimento não deu certo e Guaidó fugiu do país com medo de enfrentar a justiça.
Agora, a pressão do imperialismo para que não se reconheça a eleição continua. Alguns poucos países, governados pela extrema-direita, não reconheceram o resultado. Por outro lado, países como Cuba e Bolívia reconheceram a reeleição do presidente venezuelano.
O Brasil, por sua vez, está numa posição em cima do muro, exigindo que Maduro apresente as atas de votação que comprovam que ele teve mais votos. Ocorre que este tipo de exigência o Brasil não faz em nenhum outro país quando ocorre eleições. Por que só com a Venezuela?
Em resposta aos ataques à estabilidade política no país, o governo Maduro expulsou diplomatas da Argentina, Peru, Uruguai, Panamá, Costa Rica e República Dominicana.
Mais uma vez, o povo venezuelano se vê na possibilidade de sofrer uma ampliação do bloqueio econômico pelo qual o país já passa, resultado do imperialismo não aceitar que os trabalhadores da Venezuela tomem suas próprias decisões. Manifestações violentas e atos de vandalismo já começaram a ser registrados em algumas cidades.
De toda forma, a divisão dos países da América Latina na defesa dos resultados eleitorais venezuelanos cria um cenário de vantagem para o imperialismo, que irá aproveitar este tipo de divisão para estimular na nossa região as disputas geopolíticas e econômicas que hoje travam em outras partes do mundo.