Em carta ao jornal A Verdade, leitora de Minas Gerais traz relato sobre tripla jornada das mães trabalhadoras: responsabilidades dentro e fora de casa, além do cuidado com os filhos, resultam em estresse e exaustão. Luta pelo reconhecimento do trabalho invisível das mulheres é urgente
Marcelle Rodrigues | Itabirito (MG)
Hoje, presenciei uma amiga, mãe de um jovem adulto, em lágrimas, relutando em tirar os dias de folga acumulados no trabalho. A razão? O medo de ser sobrecarregada por uma avalanche de tarefas domésticas: lavar, passar, cozinhar, limpar, cuidar…
Ela expressou um sentimento profundo: passou a vida inteira (44 anos) servindo sua família e não vê propósito nas atividades de dona de casa. Hoje, como trabalhadora de uma empresa terceirizada, mesmo com o trabalho bastante precarizado, sente-se valorizada e útil.
Conversando com outras mães trabalhadoras, e a frustração e o cansaço parecem ser universais. Estamos todas exaustas, à beira de um colapso emocional e físico. Como mãe que acaba de voltar de férias, posso afirmar: nunca me cansei tanto. A sensação é de que “descansamos” mais trabalhando fora do que em casa — e isso em meio a uma rotina repleta de responsabilidades. O trabalho fora é limitado no tempo; as tarefas de casa, não.
A exaustão materna é uma realidade alarmante, revelada por diversas pesquisas. Segundo uma reportagem da BBC, 70% das mães acreditam que assumem a maioria das responsabilidades em casa, gerando estresse e burnout. Infelizmente, por conta disso, muitas mães, em vez de aproveitar suas folgas e férias, optam por trabalhar, buscando escapar da rotina intensa de cuidar da casa e dos filhos, lidando com essa carga sozinhas. Essa escolha reflete a necessidade desesperada de alívio da pressão diária.
Adicionalmente, muitos companheiros não dividem igualmente as tarefas, como revela uma pesquisa da Harvard Business Review: 60% das mulheres afirmaram que seus parceiros não contribuem de forma equitativa nas responsabilidades domésticas. Essa desigualdade prejudica não apenas o bem-estar das mães, mas também a harmonia familiar.
Esse tema se tornou tão relevante que foi abordado no ENEM de 2023: no ano passado, o tema da redação do vestibular foi “Desafios para o enfrentamento da invisibilidade do trabalho de cuidado realizado pela mulher no Brasil”.
Mas precisamos ir além. É urgente promover um debate político mais profundo sobre essa questão e lutar por uma sociedade com uma divisão mais justa das responsabilidades. Juntas, devemos erguer nossas vozes, nos organizar e reivindicar o reconhecimento e a valorização do trabalho invisível que as mães realizam. A transformação precisa começar agora.