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terça-feira, 11 de fevereiro de 2025

A quem servem os acordos com o Centrão no parlamento?

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Não é novidade a defesa de diversos setores da esquerda, sobre os “necessários” acordos com o Centrão para ocupação dos espaços em mesas legislativas, sejam elas municipais, estaduais ou mesmo na Câmara dos Deputados. Mas qual o custo dessa posição? A troco de que?

Rafael Pires | Diretório Nacional da UP


OPINIÃO – No último dia 1 de fevereiro, com a segunda maior votação da história da eleição para a presidência da Câmara dos Deputados, Hugo Motta (Republicanos-PB), o candidato de Arthur Lira (PP-AL), foi eleito para dirigir durante os próximos dois anos a mais importante casa do parlamento brasileiro.

Com apenas 35 anos, em seu quarto mandato de deputado federal e sem nunca ter trabalhado na vida, Hugo é filho de uma tradicional e oligarca família política na cidade de Patos (PB). Quando Hugo tinha 3 anos, sua avó era vice-prefeita da cidade, e em todas as eleições municipais desde então, sua avó ou pai, atual prefeito, disputaram a eleição para a maior cidade do sertão paraibano.

Ao longo de sua vida na Câmara dos Deputados, Hugo nunca deixou ninguém duvidar de que ele tem lado. Foi tropa de choque do corrupto Eduardo Cunha, ex-presidente da Câmara, apoiou e votou a favor do impeachment de Dilma, compôs a base de Michel Temer e Bolsonaro, sempre se posicionou contra os direitos da classe trabalhadora e a favor dos cortes no orçamento público, e figura ativa na articulação junto a Lira da construção do “orçamento secreto”, aquele que permite aos deputados indicar e desviar verbas sem nenhum controle público ou judicial. 

Foi graças a esse grande currículo e o apoio do governo federal que ele recebeu 444 votos em sua eleição, iniciando em grande estilo uma gestão que, já em seus primeiros dias demonstrou suas intenções, coerente com sua história e compromissos. Hugo declarou que teria imparcialidade e que está pronto para debater com os líderes o projeto de anistia com os golpistas de 8 de janeiro, defendeu ainda discutir proposta de implantação do parlamentarismo, e defendeu com unhas e dentes a continuidade do orçamento secreto!

No Senado, a situação não foi melhor. Os partidos sociais-democratas do governo federal (PT, PDT e PSB) decidiram por apoio David Alcolumbre, que já tinha sido presidente da Casa entre 2019 e 2021. Nesse período, Alcolumbre foi peça central para impedir o impeachment de Bolsonaro e criar o “orçamento secreto”. Além disso, junto com o então presidente da Câmara, Rodrigo Maia, aprovou a Reforma da Previdência, que impede milhões de pessoas de conseguir suas aposentadorias no país.

O que a esquerda ganha apoiando Hugo Motta e David Alcolumbre?

Não é novidade a defesa de diversos setores da esquerda, sobre os “necessários” acordos para ocupação dos espaços em mesas legislativas, sejam elas municipais, estaduais ou mesmo na Câmara dos Deputados. Mas qual o custo dessa posição? A troco de que? Com a eleição de Hugo Mota, algo foi pautado e acordado sobre a votação de projetos em favor da classe trabalhadora e do povo? A votação pelo fim da escala 6×1 foi assegurada com esse apoio? 

Há dois anos, Arthur Lira foi reeleito e se tornou o deputado mais votado da história com 464 votos entre os 513 deputados, com o voto de praticamente toda base do governo Lula. Isso não o impediu de perseguir a atuação da esquerda na Câmara, dando sustentação ao absurdo processo de cassação do Deputado Glauber Braga (PSOL-RJ), por exemplo. A votação da taxação das grandes fortunas ou a ampliação da isenção do Imposto de Renda para R$ 5 mil não saíram do papel com o “aliado” Arthur Lira. 

A ilusão em transformar e mudar a vida da população através de acordos no parlamento, ou mesmo em nome da “estabilidade” do governo é tão grande que ignoram-se os fatos e tentam negar as coisas como elas verdadeiramente são. Arthur Lira e Hugo Mota tem compromissos profundos com a corrupção parlamentar, a troca de favores e as negociações com o dinheiro público para benefício do agronegócio e do capital financeiro, enquanto fecham os olhos para os reais problemas do povo.

Dessa forma, o que a esquerda consegue junto com esses e tantos outros candidatos nas assembleias e câmaras municipais é apenas se igualar aos partidos do Centrão e da direita, apresentando para toda população que, no fim das contas, estarão todos juntos, mais uma vez.

É preciso avançar com radicalidade e consequência a luta popular. Qualquer medida que enfraqueça a autoridade da luta popular frente os acordos parlamentares, deve ser repudiada. Não podemos nos esquecer que a luta contra o fascismo não acabou. Conciliar com vereadores e deputados da extrema direita e seu braço auxiliar, o Centrão, em troca de cargos e espaços em mesas diretoras e comissões parlamentares é negar o único caminho que temos para esmagar o fascismo: aumentar a mobilização popular e o desenvolvimento das lutas de rua.

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