No Mês das Mulheres, o batalhão da força tática da PM preparou a invasão da Ocupação da Mulher Operária Alceri Gomes com bombas de gás, armas e escudos. O Movimento de Mulheres Olga Benario saiu em ato até a Câmara Municipal para cobrar respostas da Prefeitura sobre a violência contra as mulheres na cidade de São Caetano.
Movimento de Mulheres Olga Benario SP
Hoje, 13/03, poucos dias após o 8 de Março, Dia Internacional das Mulheres Trabalhadoras, a Ocupação da Mulher Operária Alceri Maria Gomes da Silva, organizada pelo Movimento de Mulheres Olga Benario na cidade de São Caetano do Sul (SP) sofreu reintegração de posse.
Após a saída do imóvel, as mulheres realizaram um ato até a Câmara Municipal, denunciando o despejo e o alto índice de violência contra as mulheres. O Movimento busca há meses a abertura do diálogo com a prefeitura, para apresentar a situação de violência contra as mulheres da cidade. Apesar das diversas tentativas de serem atendidas pela prefeitura, o Prefeito Tite Campanella (PL) segue ignorando as mulheres.
O despejo ocorreu mesmo com a divulgação do relatório do Fórum de Segurança Pública, indicando que os índices de violência contra as mulheres batem o recorde no Brasil, com mais de um terço das brasileiras já tendo sofrido violência. Este é o maior índice desde 2017, quando passou a ser realizado este levantamento. O estado de São Paulo bateu recordes de casos de femicídio em 2024, com 250 casos registrados; o ABC Paulista, na região metropolitana do estado, registrou um aumento de 22,8% no número de denúncias de violência, com 1.376 casos de janeiro a outubro.
Ocupação salvava vidas
Durante os 6 meses de ocupação, diversos trabalhos de acolhimento de mulheres e crianças em situação de violência foram realizados, oferecendo suporte através de uma equipe de profissionais do Movimento e apoiadoras como psicólogas, advogadas, assistentes sociais, além de realizar atividades de formação, rodas de conversa e palestras.
O despejo estava marcado para o início de fevereiro. A Guarda Civil Municipal tentou realizar a operação, mas foi vencida pela disposição de luta das mulheres, que resistiram mesmo com a presença de forte aparato da ROMU, a tropa de choque da guarda. Depois de dois dias de tentativa de reintegração sem sucesso, a Polícia Militar pediu um prazo de 30 dias para montar a operação, entendendo a complexidade do processo, o que foi acatado pelo juiz.
Na última terça-feira (11/03), a Polícia Militar articulou uma reunião com o Movimento de Mulheres Olga Benario, a Guarda Municipal, o secretário de educação, Fabiano Augusto, o secretário de segurança pública, Lourival dos Santos, e a vereadora Bruna Biondi (PSOL), além da presença da oficial de justiça do processo, Cacilda Cunha, e representantes das partes envolvidas no processo para dialogar. Foi concluído que o melhor encaminhamento para o caso era envolver a prefeitura da cidade, para que ela apresentasse uma proposta que garantisse a continuidade do trabalho do Movimento.
“É semana do 8 de Março, acabamos de bater os recordes de violência contra as mulheres no nosso país e a prefeitura de São Caetano vai permitir uma reintegração de posse contra uma Ocupação que acolhe mulheres em situação de violência?”, questiona Roseli Simão, Coordenadora do Movimento, na reunião com secretários da prefeitura.
Ainda acrescenta: “Não queremos um despejo violento, queremos dialogar, para ter uma alternativa para as mulheres que acolhemos e um local para dar sequência aos trabalhos que realizamos na ocupação hoje”.
Prefeitura de São Caetano se recusa a dialogar
Após uma breve negociação, o batalhão da força tática preparou a invasão do imóvel com bombas de gás, armas e escudos. O Movimento então decidiu sair, para evitar uma maior violência contra as mulheres presentes, caminhando em ato até a Câmara Municipal, onde denunciaram que a prefeitura ainda não recebeu o Movimento para dialogar sobre as reivindicações da Ocupação, mesmo após várias tentativas por parte das coordenadoras da casa.
Isabela Leal, Coordenadora da Ocupação, afirma que “há 6 meses tentamos este diálogo, já enviamos ofício, já reunimos com o chefe de gabinete que se comprometeu a nos receber de novo e até agora nos ignora e não temos respostas para as demandas da Ocupação e das mulheres da cidade”.
Fica evidente o descaso da prefeitura da cidade com a vida das mulheres, que mesmo após a autorização de uso de força policial para realizar a reintegração, segue ignorando as tentativas de diálogo realizadas pelo movimento.
Não podem nos amedrontar!
Porém, as mulheres marcharam em ato, fechando as ruas e puxando palavras de ordem denunciando a violência contra as mulheres, até a Câmara e realizaram uma assembleia afirmando que a Ocupação da Mulher Operária está sendo muito vitoriosa: após a ocupação, o tema da violência contra as mulheres virou debate na cidade; em conjunto com a pressão de outros movimentos, foi conquistado o fim da exigência da carteirinha de morador da cidade para utilizar serviços públicos como o SUS e o retorno da cidade de São Caetano para o Consórcio Intermunicipal do ABC, órgão responsável por financiar as casas de abrigo da região.
Assim, as mulheres seguem mobilizadas, uma vez que o Movimento de Mulheres Olga Benario saiu deste processo com mais apoiadores na cidade de São Caetano do Sul e na região do ABC e mais mulheres organizadas no movimento, com a certeza da justeza da luta de enfrentamento da violência contra as mulheres e a necessidade de mais espaços como a Ocupação Alceri Maria Gomes da Silva para realizar o acolhimento e para organizar mais lutas em defesa da vida das mulheres e pelo socialismo!
Por fim, encerra a assembleia Maria Clara, Coordenadora do Movimento Olga Benario: “Por Alceri Maria Gomes da Silva, por Helenira Preta, por Damaris Lucena e por tantas outras que tombaram para que pudéssemos lutar hoje! Seguiremos em luta contra o fascismo até a construção do socialismo, onde as mulheres serão de fato livres da opressão!”
Moro em São Caetano do Sul e, me sinto envergonhada pelo desprefeito, desumano, desprovido de capacidade, competência, inteligência para administrar, principalmente, as questões humanas e sociais. São Caetano tem uma população diversa com muita gente rica, mas muitas assalariados. A soberba fascista tem destruído o planeta. Governantes monstruosos das trevas incapazes de fazer a diferença, deixando um legado para o mundo. Basta.
Deus é maior e a luta continua. Nós mulheres faremos um mundo de equidade e paz.