Com participação massiva da Unidade Popular e do Movimento Luta de Classes em uma série de cidades, as manifestações de Primeiro de Maio deste ano tiveram o fim da escala 6×1 como principal bandeira
Felipe Annunziata, Guilherme Arruda e Jesse Lisboa | Redação
Neste Primeiro de Maio, os atos do Dia Internacional do Trabalhador por todo o país reuniram milhares de pessoas em centenas de cidades. Neste ano, as manifestações tiveram como principal bandeira o fim da escala 6×1, símbolo da exploração da classe operária brasileira.
No ato realizado em São Paulo, o presidente nacional da Unidade Popular, Léo Péricles, destacou o papel histórico do Primeiro de Maio para os operários, desde os mártires de Chicago nos EUA (como já explicou o jornal A Verdade, foi em sua homenagem que a data se tornou uma jornada internacional de luta dos trabalhadores) até o Brasil. O dirigente da UP lembrou que, em 1954, a classe trabalhadora do país foi capaz de obrigar o Governo Federal a aumentar em 100% o salário mínimo. O decreto do aumento, antecedido por uma onda de lutas que teve como ponto alto a greve geral de 1953, foi publicado em 1º de maio de 1954. Nos dias de hoje, o partido convoca o povo a se mobilizar por um novo aumento de 100% no salário mínimo – além de pautas como o fim da escala 6×1, a redução do preço dos alimentos e a punição dos fascistas e golpistas.
No mesmo sentido, o metroviário Ricardo Senese afirmou em sua fala que só por meio da luta organizada é que os trabalhadores conseguirão impor novas vitórias históricas. “Para nós, essa data deve servir para aprofundar a nossa combatividade e levantar bem alto as nossas bandeiras e o nosso jornal. Para que fique bem claro aqui na frente da Fiesp e dos patrões: essa escala 6×1 vai cair, porque a classe trabalhadora está preparando uma greve geral nesse país”, convocou o dirigente do Movimento Luta de Classes (MLC).
No último período, multiplicaram-se os protestos em shoppings exigindo o fim da escala 6×1 e convocando os trabalhadores a se organizarem para pôr fim a essa jornada de escravidão. Em 2024, a paralisação de 9 dias dos trabalhadores da Pepsico, que conquistou mais dois sábados de folga nas fábricas da empresa, demonstrou que isso é possível.
É o que contou Roberval Pedrosa, diretor do STILASP, sindicato que teve papel destacado na condução da greve: “Antigamente, a jornada de trabalho era de 14 horas, mas a luta do pessoal lá de trás acabou com isso. Nos nossos dias, precisamos unir os partidos, sindicatos, federações e movimentos populares pelo fim da escala 6×1, porque os patrões estão muito bem organizados. Só assim é que nós vamos fazer história. Nós estamos em uma situação propícia para mudar a vida dos trabalhadores e acabar com essa escala”.
Atos unificados
No Rio, o ato foi unificado entre os sindicatos, partidos de esquerda e movimentos sociais na Praça da Cinelândia, no centro da capital. Organizações como a Unidade Popular e o movimento VAT se fizeram presentes com centenas de militantes. A luta contra a escala 6×1 e contra a exploração também ficou marcada pela presença de trabalhadores de aplicativo, de além das categorias afetadas pela jornada exaustiva de trabalho.
No ato, algumas categorias em greve, como o setor da cultura do serviço público federal estavam bem representadas através da mobilização do Sindisep-RJ. Também chamou a atenção a presença do deputado federal Glauber Braga (PSOL – RJ), vítima de perseguição política por parte de deputados do Centrão e do fascismo na Câmara Federal.
Em Recife, a Unidade Popular pelo Socialismo (UP) e o Movimento Luta de Classes (MLC), junto a centenas de trabalhadoras e trabalhadores das mais diversas categorias que constroem e mantém funcionando diariamente a capital pernambucana, se reuniram em Água Fria, na Zona Norte da cidade, para reivindicar um 1º de maio de lutas e o fim da escala 6×1.
Erguendo cartazes e as bandeiras que representam a luta contra a exploração e o fascismo, os trabalhadores recifenses denunciaram o avanço das políticas neoliberais – ora adotadas por governos de direita, ora por governos social-democratas –, exigiram o fim da escala 6×1, a redução dos preços no alimento, o aumento de 100% de salário mínimo, dentre outras reivindicações.
“O ato foi de extrema importância porque temos visto uma tentativa de retirar o simbolismo das datas históricas da classe trabalhadora, desvirtuando seu significado e menosprezando seu papel. Aconteceu esse ano com o 8 de março que quase sumiu engolido pelo Carnaval e parte dos movimentos sociais jogando pra fazer o ato em outra data. E agora também tivemos atos das centrais no dia 30 de abril. Precisamos erguer alto a bandeira do 1° de maio como dia de luta e não de descanso. E o ato de hoje mostrou isso: o quanto a classe trabalhadora está disposta a ir pro enfrentamento em busca de seus direitos. O apoio massivo ao fim da escala 6×1 aponta o caminho que temos que seguir, que é organizar os trabalhadores sob essa bandeira e arrancar mais vitórias da burguesia”, destaca Ludmila Outtes, presidente do Sindicato dos Enfermeiros do Estado de Pernambuco.
Unificação das lutas no Brasil e no mundo
Nos atos de todo o país, houve relatos das mais recentes lutas dos trabalhadores por condições mais dignas. Em São Paulo, falaram representantes dos servidores públicos da capital paulista, do funcionalismo do município de Santo André e também dos operários da Silgan Dispensing – todos esses, no último período, fizeram importantes greves e mobilizações contra os patrões e governos neoliberais. Em João Pessoa, na Paraíba, houve pronunciamentos de lideranças dos trabalhadores da limpeza urbana, que fizeram uma paralisação de 24 horas no dia 23 de abril, levantando a bandeira do fim da escala 6×1.
A unificação das lutas dos trabalhadores deve inclusive ultrapassar as fronteiras dos países, como demonstra o trabalho dos núcleos internacionais da Unidade Popular, destacado na manifestação em São Paulo, ocorrida na Avenida Paulista. “Em vários países, estamos sendo procurados por brasileiros que trabalham de forma precária. Realizamos recentemente também um encontro com os trabalhadores turcos que moram na Alemanha, mostrando que a língua não é barreira para a solidariedade dos trabalhadores”, explicou Felipe Araújo, membro de um dos núcleos organizados fora do país, lembrando o caráter internacionalista do Primeiro de Maio.
O núcleo internacional da Unidade Popular participou dos atos do Primeiro de Maio no exterior. Em diversas cidades da Europa, a militância da UP levantou as bandeiras das lutas por direitos dos imigrantes e também a necessidade da unidade internacional da classe trabalhadora contra os ataques da burguesia imperialista.
Primeiro de Maio é dia de luta
Em várias partes do mundo, a classe trabalhadora enfrentou os aparelhos de repressão da burguesia para se manifestar neste dia. A defesa dos direitos históricos dos trabalhadores, como a redução da jornada de trabalho, o aumento dos salários e a defesa dos direitos dos povos estiveram na ordem do dia neste Primeiro de Maio.
No Brasil, entretanto, o setor do imobilismo no movimento sindical continuou a insistir na realização de atos sem conteúdo político ou de defesa dos direitos dos trabalhadores – como em São Paulo, onde o ato das centrais sindicais teve como eixo o sorteio de carros. As centrais mostraram mais uma vez sua dificuldade de se mobilizar.
A realidade é que o Primeiro de Maio no Brasil não pode ter um caráter apenas de festa, mas deve ser um dia de luta. O enfrentamento que a UP, MLC e vários outros movimentos sociais e de trabalhadores promoveram nesses últimos dias contra a escala 6×1 mostra que o nosso Primeiro de Maio deve e pode ser sim um dia de luta contra os patrões e os desmandos dos governos.
Em cada cidade, em cada categoria de trabalhadores, em cada local de trabalho, há pessoas exploradas querendo se organizar e se mobilizar para lutar pelos seus direitos. Os atos do Primeiro de Maio que contaram com a participação e organização da Unidade Popular, do Movimento Luta de Classes e de outros setores combativos provam isso. Agora, a luta contra a escala 6×1 e o aumento do salário mínimo continua em todo o país.
*Em São Paulo (SP), Edio Mattos colaborou com a reportagem.