A demissão de 300 trabalhadores da Agespisa, autorizada pelo governador Rafael Fonteles (PT), expõe os efeitos imediatos da privatização da estatal de saneamento do Piauí.
Celine Albuquerque e Pedro Kardec | Teresina (PI)
BRASIL – A recente demissão em massa de 300 trabalhadores da empresa Águas e Esgotos do Piauí (Agespisa), autorizada pelo governador Rafael Fonteles (PT), marca um novo capítulo sombrio na história do serviço público no estado. A decisão, consequência direta da privatização da companhia estatal de saneamento, concretizada no final de 2024, escancara os impactos da política neoliberal – disfarçada sob o discurso de modernização e eficiência –, que, na prática, destrói direitos, empregos e piora a prestação de serviços à população.
Com um patrimônio estimado de R$ 4 bilhões, segundo levantamento de técnicos da empresa estatal, foi vendida em leilão no dia 30 de outubro de 2024 por R$1 bilhão. A empresa arrematante foi a Aegea, grupo privado que administra a Águas de Teresina desde julho de 2017. Desde o início do processo de privatização, a ameaça de demissões em massa era uma realidade anunciada. O próprio secretário de Administração do Estado do Piauí, Samuel Nascimento, declarou publicamente a intenção do governo de implementar um “robusto Programa de Desligamentos Voluntários”, sinalizando o destino cruel que agora se concretiza para centenas de trabalhadores.
“A demissão arbitrária e sem justa causa destes trabalhadores, muitos com décadas de dedicação ao saneamento básico, é um ato cruel e desumano, que atenta contra os direitos trabalhistas garantidos constitucionalmente e contra o Acordo Coletivo de Trabalho que ainda está vigente”, denunciou a Central Única dos Trabalhadores no Piauí (CUT-PI).
Capital acima da vida
A retórica de progresso usada para justificar a privatização encobre uma realidade já conhecida: empresas privadas operam sob a lógica do lucro. Isso significa menos investimentos em áreas menos lucrativas, tarifas mais altas para a população e precarização das condições de trabalho.
A demissão em massa na Agespisa não é um caso isolado, mas parte de um projeto mais amplo de destruição dos direitos sociais, como mostram os recentes casos de privatização da Sabesp (SP), Cosanpa (PA) e o metrô de Belo Horizonte.
A resposta está na reestatização dessas empresas e no fortalecimento do controle público e popular sobre os setores fundamentais da economia nacional, com valorização do trabalhador e a defesa intransigente dos serviços públicos.
Matéria publicada na edição impressa nº314 do jornal A Verdade