Movimento Correnteza denuncia que a atual direção (UJS/PCdoB, PT e Levante), tem sufocado a democracia interna da União Nacional dos Estudantes (UNE) com fraudes, arbitrariedades e manobras regimentais que impedem a participação ampla nos congressos.
Thaís Rachel Zacharia | Vice-presidente da UNE
JUVENTUDE – O movimento estudantil (ME) brasileiro sempre foi protagonista na defesa da democracia, enfrentando períodos de repressão e autoritarismo, como durante a ditadura militar. Estudantes resistiram bravamente, mesmo diante de perseguições, prisões e assassinatos, como Edson Luís, Honestino Guimarães, Manoel Lisboa e Helenira Resende, que deram a sua vida pela liberdade do Brasil.
Esse histórico de mobilização e construção coletiva, no entanto, contrasta com o que ocorre atualmente dentro da maior entidade estudantil universitária do Brasil, a União Nacional dos Estudantes (UNE). A democracia interna da entidade tem sido sistematicamente suprimida, a partir da atuação de sua direção imobilista, comandada pelo grupo político composto por UJS/PCdoB, PT e Levante, que adota práticas antidemocráticas para garantir uma maioria artificial nos congressos e fóruns da entidade.
Democracia na UNE!
Desde fevereiro, o Movimento Correnteza e diversos outros coletivos de oposição dentro da UNE organizaram a campanha por mais democracia na entidade, denunciando o imobilismo das organizações políticas da direção majoritária e que impõe um verdadeiro freio às mobilizações estudantis. No Conselho Nacional de Entidade Gerais da UNE (Coneg), e na edição nº 309 do jornal A Verdade, denunciamos as práticas antidemocráticas desse setor, como as fraudes nas eleições em universidades privadas e de ensino à distância, voto do cabresto no congresso para eleição da diretoria, arbitrariedade nas decisões da Comissão Nacional de Eleição, Credenciamento e Organização do Congresso da UNE (CNECO) e critérios absurdos para inscrição de chapas que só são exigidos da oposição.
Pois bem. Apesar da tentativa desesperada da UJS e companhia de provarem a todo custo que a UNE é democrática, o processo das eleições de delegados para o Congresso da UNE (ConUNE) começou com uma série de absurdos que comprovam que a direção imobilista da entidade segue ignorando o seu lema “A UNE somos nós!” e usando de todo tipo de manobra para manter os estudantes bem distantes da entidade. A democracia da UNE só existe nos posts de Instagram e nos textões da UJS que, de maneira oportunista, precisa tentar dar uma resposta para as organizações políticas e para os estudantes ao verem a verdade sendo escancarada!
Provando mais uma vez que estão dispostos a tudo para tentar manter seu poder sobre a UNE, em pouco mais de um mês de eleições já vimos de tudo: Critérios absurdos muito acima do regimento aprovado no Coneg foram estabelecidos para impedir a participação nas universidades, estudantes sendo perseguidos e assediados para se retirarem de chapas da oposição numa grande campanha de fake news, diversas impugnações impostas de maneira arbitrária sem direito a recurso e a completa submissão da CNECO aos interesses da direção majoritária da UNE, que delibera arbitrariamente e unicamente em favor desse setor. Até as eleições do novo Papa foram mais democráticas…
E na luta, cadê a UNE?
Muito após nossa denúncia na matéria “Crise Orçamentária na educação expõe contradições do Governo Lula” (A Verdade, nº 313) e com as diversas manifestações públicas das universidades, se tornou impossível esconder os impactos do decreto nº 12.448/2025, que cortava das universidades mais de 30% do orçamento mensal previsto pela Lei Orçamentária Anual aprovada em março, que já era insuficiente. Através da nossa pressão interna na diretoria da UNE, a executiva foi obrigada a se reunir (a terceira reunião em quase 2 anos de gestão) e convocar ações para o dia 29 de maio em defesa da educação pública e contra os cortes.
Apesar das tentativas de esvaziamento da mobilização por parte do setor imobilista em diversos estados, o dia 29 foi um recado de que os estudantes não irão se submeter à política econômica do governo que segue priorizando o pagamento da dívida pública e volumosos aportes ao agronegócio ao invés de cumprir com a promessa de campanha de valorizar e fortalecer a educação. Apesar da vitória parcial de recomposição orçamentária (apenas 400 milhões dos 2,5 bilhões necessários), conquistada pela pressão estudantil, a educação segue mobilizada para conquistar mais verbas que garantam a sobrevivência das nossas universidades.
O setor imobilista da UNE é tão submisso ao capital que agora defende que devemos nos contentar com a retirada da educação dos limites orçamentários impostos pelo arcabouço fiscal, demonstrando que, na verdade, são defensores da austeridade contra todo o povo. Ou seja, mantém-se os cortes nas áreas sociais para continuar entregando os cofres públicos aos banqueiros e bilionários de toda ordem. Não queremos apenas a “educação fora do arcabouço”, queremos o fim do arcabouço fiscal que segue submetendo os trabalhadores e a juventude no nosso país a condições precárias de vida!
A quem interessa o enfraquecimento do ME?
O Congresso da UNE deveria ser um importante momento de mobilização estudantil, de profundo debate de ideias e de apresentação das lutas como alternativa para a solução dos nossos problemas, inclusive em universidades onde a tradição de mobilizações ainda não está tão estabelecida.
Entretanto, enquanto a direção imobilista da UNE continuar perpetuando os mesmos atos antidemocráticos e golpistas, impedindo os estudantes e a oposição de participarem do processo, rasgando o regimento do Congresso e arbitrando sempre em seu favor, o resultado vai ser a desmobilização e o afastamento das lideranças das entidades de base dos espaços da UNE.
Enquanto isso, a direção real do movimento estudantil brasileiro se apresenta concretamente em eleições de Norte a Sul: vitória das chapas da oposição nas principais universidades públicas que são centros políticos do movimento estudantil; vitórias nas universidades pagas onde foi possível, através de muita pressão, ter chapas homologadas; expansão do trabalho e eleição de delegados mesmo onde perdemos as votações; núcleos organizados pelo Correnteza em novas Universidades toda semana; milhares de jornais A Verdade chegando na mão dos estudantes; novas lideranças do movimento estudantil sendo forjadas; e muito mais.
Além disso, temos vivenciado a verdadeira democracia em diversos processos conduzidos por nosso movimento: Garantia de voto secreto aos estudantes; possibilidade de acompanhamento dos trabalhos das comissões eleitorais por todas as chapas; critérios justos e igualitários para inscrição das chapas; campanhas construídas no debate político; etc. A prática é o critério da verdade, e o Correnteza, através da atuação nas entidades que constrói, tem dado provas mais do que suficientes de que é possível e urgente transformar a democracia da UNE!
A UNE precisa mudar!
Queremos que o estatuto e a história da UNE sejam respeitados! A direção imobilista rasgou o regimento da entidade ao aprovar eleições online, realizadas em sistemas que ferem a autonomia do ME já que, via de regra, são geridos pelas reitorias, para a votação dos delegados para este Congresso. Além disso, a proposta de reforma eleitoral apresentada para ser votada no ConUNE propõe a redução da proporção de delegados, atualmente um delegado para cada mil estudantes, para um delegado a cada dois mil estudantes. Essa mudança só pretende favorecer a artificialidade do Congresso já que diminui a representatividade de Universidades onde o movimento estudantil é pujante e ativo ao mesmo tempo em que não resolve o problema das mega universidades privadas que elegem centenas de estudantes em processos unilaterais sem participação da oposição da entidade.
Sabemos que essas não são batalhas fáceis, mas como a nossa tese já diz, quem vem com tudo não cansa, e a UNE de Honestino Guimarães, Helenira Resende e Sarah Domingues vale a luta!
Matéria publicada na edição impressa nº314 do jornal A Verdade