O ataque foi direcionado a uma tenda que abrigava jornalistas na entrada do Hospital Al-Shifa, na cidade de Gaza. Anas al-Sharif, Mohammed Qreiqeh, Ibrahim Zaher, Mohammed Noufal e Moamen Aliwa foram mortos.
Wildally Souza – São Paulo (SP)
INTERNACIONAL – Na noite de domingo (10), Israel protagonizou mais um ataque feroz contra a imprensa que documenta os crimes do estado sionista cometidos em Gaza.
Em um ataque com bomba, Israel ceifou a vida de pelo menos sete pessoas, incluindo Anas Al-Sharif, correspondente da Al Jazeera Média Netwoork, e Mohamed Qreiqea, outro dos poucos jornalistas que ainda resistem na Faixa de Gaza. O ataque foi direcionado a uma tenda que abrigava jornalistas na entrada do Hospital Al-Shifa, na cidade de Gaza.
A tenda era usada como local de trabalho, uma vez que nesses 22 meses de genocídio, os jornalistas em Gaza se reúnem em hospitais para buscar melhores conexões de eletricidade e internet.
Quem são os jornalistas mortos por Israel?
Anas al-Sharif – correspondente da Al Jazeera: Al-Sharif tinha 28 anos, foi um dos rostos mais reconhecidos entre os jornalistas que resistem em Gaza. Por 22 meses, documentou de forma recorrente o genocídio do povo palestino e foi o responsável por evidenciar e mudar o tom em que a mídia ocidental estava noticiando o genocídio do povo palestino. Nasceu no campo de refugiados de Jabalia e se formou em comunicação e jornalismo na Universidade de Al-Aqsa. Seu pai foi morto por Israel em um ataque aéreo na casa da família em dezembro de 2023. Anas al-Sharif deixa dois filhos.
Mohammed Qreiqeh – correspondente da Al Jazeera: 33 anos, fez sua última reportagem ao vivo no ar apenas pouco antes de seu assassinato, denunciando emocionado, os crimes de Israel contra o povo palestino. Qreiqeh nasceu na cidade de Gaza em 1992 e viveu no bairro de Shujayea. Ele se formou em jornalismo e mídia na Universidade Islâmica de Gaza. Israel matou seu irmão, Karim, em março em um ataque aéreo na cidade de Gaza.
Ibrahim Zaher – cinegrafista da Al Jazeera: 25 anos, era do campo de refugiados de Jabalia, no norte de Gaza.
Mohammed Noufal – assistente de câmera da Al Jazeera: 29 anos, também era de Jabalia. Ele perdeu sua mãe e um irmão em ataques israelenses no começo de 2025. Era irmão de Ibrahim Zaher, assassinado no mesmo ataque.
Moamem Aliwa – Fotojornalista: 23 anos, palestino que esteve na linha de frente em Gaza, documentando o genocídio com suas lentes e ajudando a mostrar ao mundo a verdade que Israel quis silenciar com esse ataque.
Um sexto jornalista, Mohammad al-Khaldi, um repórter freelancer local, também foi morto no ataque aéreo. Repórteres Sem Fronteiras disse que mais três jornalistas foram feridos no mesmo ataque.
Ataque direcionado
Israel não só admitiu o assassinato dos 5 jornalistas, como justificou, que foi direcionado para Anas al-Sharif. Israel ainda alegou falsamente e sem evidências, que o jornalista era um comandante armado do Hamas que se fingia de jornalista. Minutos antes de sua morte, o jornalista publicou em suas redes: “Bombardeios ininterruptos… se intensifica a agressão israelense contra a cidade de Gaza”.
Al-Sharif foi o rosto da Al Jazeera em Gaza e liderança dos jornalistas que denunciam diariamente o genocídio de Israel contra o povo palestino. Além disso, o jornalista noticiou momentos importantes enquanto relatava as atrocidades de Israel no enclave sitiado e bombardeado.
De acordo com a equipe da Al Jazeera, por meses, autoridades israelenses o ameaçaram, exigindo que ele parasse de denunciar, mas ele recusou, prometendo permanecer no norte de Gaza e continuar sua cobertura. Numerosos grupos de direitos humanos e grupos de liberdade de imprensa pediram a proteção de al-Sharif depois que ele foi diretamente ameaçado por Israel.
Israel aumentou uma campanha de difamação em al-Sharif nos últimos meses, com o porta-voz do exército Avichay Adraee chamando al-Sharif pelo nome em um vídeo no X no mês passado, acusando-o falsamente de fazer parte da ala militar do Hamas.
Com a morte de al-Sharif, Israel tentou silenciar a denuncia dos seus crimes contra o povo palestino, financiado pelo imperialismo norte-americano, mas evidenciou sua sede de sangue e expansão de seus territórios custe o que custar.
Coletes de imprensa são alvos de Israel
De acordo com dados da ONU, desse o começo do genocídio, em outubro de 2023, pelo menos 270 jornalistas morreram na Faixa, e mais de 400 ficaram feridos. Gaza se tornou o lugar mais perigoso do mundo para os jornalistas. Os coletes de imprensa, longe de proteger, parecem se tornar alvos.“ Nossos coletes estão nos transformando em alvos. É uma sentença de morte”, denunciou a repórter libanesa Christina Assi, que perdeu uma perna em um ataque semelhante em outubro de 2023.
Os jornalistas ainda denunciam que além dos ataques com balas e bombas, são submetidos a extrema fome e miséria, assim como os civis palestinos. E compartilham a angústia de ter que documentar esse que é o maior genocídio televisionado da história moderna.
A comunidade internacional emitiu notas de repúdio contra a morte dos 5 jornalistas do Al Jazerra, mas não falaram em interromper ou fazer algo concreto sobre os ataques. Países como Grã-Bretanha, França e Grécia e até mesmo o Brasil, em Nota à Imprensa, emitida pelo Ministério das Relações Exteriores nesta segunda-feira (11), criticaram a expansão da ofensiva israelense, mas sem sanções reais ao estado de Israel e sua máquina de morte.
Confira na íntegra, a nota da Al Jazeera Média Netwoork sobre a morte de seus jornalistas:
A Al Jazeera Media Network condena veementemente o assassinato seletivo de seus correspondentes Anas Al Sharif e Mohammed Qraiqea, juntamente com os fotógrafos Ibrahim Al Thaher e Mohamed Nofal, pelas forças de ocupação israelenses, em mais um ataque flagrante e premeditado à liberdade de imprensa.
Em um comunicado da força de ocupação israelense, admitindo seus crimes, os jornalistas foram alvo de um ataque direcionado à tenda onde estavam alocados em frente ao Complexo Médico Al-Shifa, em Gaza, onde foram martirizados.
Este ataque ocorre em meio às consequências catastróficas do genocídio israelense em curso em Gaza, que resultou no massacre implacável de civis, na fome forçada e na destruição de comunidades inteiras.
A ordem para assassinar Anas Al Sharif, um dos jornalistas mais corajosos de Gaza, e seus colegas é uma tentativa desesperada de silenciar as vozes que expõem a iminente tomada e ocupação de Gaza [pelos israelenses].
Ao se despedir de mais um grupo de seus melhores jornalistas, que com ousadia e coragem documentaram a difícil situação de Gaza e de seu povo desde o início do genocídio, a Al Jazeera Media Network responsabiliza as forças de ocupação israelenses e o governo por alvejarem e assassinarem deliberadamente seus jornalistas.
Isso ocorre após repetidas incitações e apelos de diversas autoridades e porta-vozes israelenses para que o destemido jornalista Anas Al Sharif e seus colegas fossem alvos. Anas e seus colegas estavam entre as últimas vozes remanescentes de Gaza, oferecendo ao mundo uma cobertura local e sem filtros das realidades devastadoras sofridas por seu povo.
Enquanto a mídia internacional foi impedida de entrar, jornalistas da Al Jazeera permaneceram na Faixa de Gaza sitiada, vivenciando a fome e o sofrimento que documentaram através de suas lentes.
Por meio de uma cobertura ao vivo contínua e corajosa, eles forneceram relatos contundentes de testemunhas oculares dos horrores desencadeados ao longo de 22 meses de bombardeios e destruição implacáveis.
Apesar de perder vários jornalistas para ataques deliberados e trabalhar sob constante ameaça, Anas Al Sharif, Mohammed Qaiqea e seus colegas persistiram na Faixa para garantir que o mundo visse a verdade angustiante vivenciada pela população de Gaza.
Ao condenar veementemente esses crimes hediondos e as contínuas tentativas das autoridades israelenses de silenciar a verdade, a Al Jazeera Media Network apela à comunidade internacional e a todas as organizações relevantes para que tomem medidas decisivas para deter esse genocídio em curso e pôr fim aos ataques deliberados a jornalistas. A Al Jazeera enfatiza que a imunidade dos perpetradores e a falta de responsabilização encorajam as ações de Israel e incentivam ainda mais a opressão contra testemunhas da verdade.
(Nota do Al Jazeera Media Netwoork publicada na manhã desta segunda-feira (11), e traduzida de forma livre pela equipe do jornal A Verdade)