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segunda-feira, 18 de agosto de 2025

A luta pela soberania deve ser uma luta pelo socialismo

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Entrou em vigor no dia 6 de agosto a ordem executiva assinada por Donald Trump, que elevou para 50% a tarifa de importação sobre produtos brasileiros. A inflação dos alimentos no Brasil é uma consequência da busca incessante por lucros dos capitalistas. Para, de fato, defender a soberania nacional é preciso romper completamente com a ideologia burguesa e com os ditames dos países imperialistas. Toda e qualquer tentativa de governar o Brasil de fora para dentro deve ser rechaçada.

Rafael Freire | Redação


EDITORIAL – Passou a valer, a partir do dia 06 de agosto, a Ordem Executiva assinada pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, que eleva a tarifa de importação de produtos brasileiros para 50%. Inicialmente, ele planejava seu tarifaço para toda e qualquer exportação do Brasil. Após enorme rechaço do povo brasileiro (e de setores da própria população norte-americana), ele recuou e abriu uma lista com cerca de 700 exceções, entre elas: suco e polpa de laranja, castanha, combustíveis, minérios, fertilizantes, aeronaves civis e suas peças, carros, smartphones, madeira, celulose, metais preciosos, energia, etc.

Por outro lado, café, cacau, frutas e carnes vão sofrer com a sobretaxa. Em 2024, o Brasil exportou para os EUA um total de US$ 43,2 bilhões em produtos. Tomando isso como base, o novo decreto taxaria em 50% o montante de US$ 24,8 bilhões, o equivalente a 58% das exportações realizadas no ano passado.

Segundo o texto do documento, os EUA consideram o Brasil uma ameaça “incomum e extraordinária à segurança nacional”, classificação semelhante à adotada contra países hipocritamente considerados terroristas pela Casa Branca, como Cuba, Venezuela e Irã. Diz ainda que a lista pode ser alterada caso o Brasil “tome medidas significativas para lidar com a emergência nacional [livrar a barra de Jair Bolsonaro] e se alinhe suficientemente aos Estados Unidos em questões de segurança nacional, economia e política externa [apoiar o genocídio do povo palestino]”.

Caso curioso aconteceu com a grande mídia capitalista. Devido ao ódio com que a maioria dos brasileiros passou a se referir ao presidente estadunidense e ao ex-presidente vende-pátria Jair Bolsonaro, e à pressão da burguesia latifundiária, que tem muito a perder com as sobretaxas, viu-se obrigada a reconhecer que o tarifaço de Trump levou à queda no preço da carne, do café e da laranja no Brasil. Com a dificuldade de vender esses produtos no mercado norte-americano, parte deles foram redirecionados para outros mercados, incluindo o próprio mercado interno.

Isso confirma o que o jornal A Verdade e outras organizações sempre denunciaram: que a inflação dos alimentos no Brasil é uma consequência da busca incessante por lucros, que é a razão de viver dos capitalistas. Para estes, nada importa se as classes trabalhadoras do campo e da cidade passem fome, que não consigam pagar o alto custo para se alimentar com os produtos que elas mesmas produzem.

O Banco Central do Brasil, aliás, alega a tese absurda de que existe em nosso país uma “demanda aquecida” da população por alimentos para justificar as sucessivas elevações da taxa básica de juros (Selic). O esquema da dívida, na verdade, é uma espécie de “corrupção legalizada”, que só serve para desviar recursos dos cofres públicos para pagar os juros da dívida pública, que, atualmente, representam 43% do Orçamento Federal ou 76% do Produto Interno Bruto (PIB). Isso nada mais é do que a riqueza produzida pelos trabalhadores indo direto para os cofres dos bilionários.

Soberania

Em seu livro “Soberania e Política Econômica na América Latina” (1999), o professor da Unicamp Wilson Cano aponta que, a partir da década de 1980, “os EUA, secundados pelos demais imperialismos, retomaram as ações mediante as quais nos impuseram o chamado ‘Consenso de Washington’, centrado pela dominação da finança internacional. Isso reduziu fortemente nossa soberania nacional e nos impôs – com a aceitação de nossas elites – a falsa ideia da ‘ida ao primeiro mundo’”.

As últimas quatro décadas de hegemonia estadunidense só foram possíveis devido ao enfraquecimento da União Soviética e sua posterior dissolução, resultado do total abandono da construção do socialismo por parte de seus dirigentes revisionistas. Mas tal hegemonia vem sendo disputada pela China capitalista, já superior em vários setores da economia. Desde 2008, os norte-americanos perdem espaço na indústria global: de 23% da produção manufatureira mundial, em 2005, caíram para 15%, em 2023. Já a China detém 20% desse setor.

O Brasil está no centro da disputa entre essas duas principais potências imperialistas. As exportações para os EUA representam 12% do total nacional, enquanto para a China já chega a 29%. Cerca de 75% do que o país exportou para a China no ano passado se resume a petróleo, minério de ferro e soja (quase dois terços de toda a soja produzida aqui vai para lá).

A demanda chinesa pelo grão fez as lavouras crescerem em quatro vezes nos últimos 30 anos, ocupando áreas que antes eram para cultivo de arroz, feijão e outros alimentos, além de imensas áreas de preservação ambiental. O alto custo dos alimentos no Brasil e as graves mudanças climáticas são consequências desse processo predatório do capitalismo.

Portanto, não podemos cair na conversa barata de que “é necessário defender nossa soberania acabando com a dependência do Brasil em relação aos EUA” ou “é preciso diversificar nossos parceiros comercias, fortalecer os Brics e o Sul Global, etc., etc.”. O Brasil continuará dependente dos EUA e se torna cada vez mais dependente da China.

Romper com o imperialismo

Atualmente na moda, o termo “Sul Global” se refere aos países que, historicamente, foram explorados pelas nações colonialistas e imperialistas, mesmo que hoje ocupem papel central no sistema capitalista mundial, a exemplo da China.

Antes, falava-se em “Países em Desenvolvimento”, que sucedeu “Países Subdesenvolvidos”, considerado pejorativo. Mais atrás ainda, “Terceiro Mundo”, como na citação acima. Enquanto esses termos, de alguma forma, traziam consigo a ideia de que existem países ricos e países pobres, o conceito de “Sul Global” busca encobrir este fato.

É assim que procedem os ideólogos burgueses e sociais-democratas: modificam termos, deturpam conceitos, usam palavras bonitas e tapinhas nas costas para tentar enganar a classe operária.

Para, de fato, defender a soberania nacional é preciso romper completamente com a ideologia burguesa e com os ditames dos países imperialistas. Toda e qualquer tentativa de governar o Brasil de fora para dentro deve ser rechaçada. Toda e qualquer sabotagem da economia, tentativa de golpe militar ou propaganda fascista deve ser contraposta por um programa revolucionário.

Apenas com uma profunda organização da classe operária e das demais classes trabalhadoras, da juventude e das mulheres em direção à Revolução Socialista faremos frente às nações imperialistas, à burguesia internacional e aos seus colaboradores internos, que devemos chama-los por seus verdadeiros nomes de traidores da pátria e lambe-botas.

Justiça social

Recentemente, muito se ouviu falar pela propaganda do Governo Federal e dos grandes meios de comunicação que o “Brasil saiu do mapa da fome”. Infelizmente, a fome ainda não acabou entre nosso povo. A ONU assim classifica o país que atinge menos de 2,5% de sua população em situação de subnutrição.⁠

⁠Segundo o relatório da ONU, entre 2022 e 2024, 28,5 milhões de pessoas estavam em condição de insegurança alimentar no Brasil, sendo 21,4 milhões em situação moderada e 7,1 milhões em nível grave. O país havia voltado para o chamado “mapa da fome” em 2021 em decorrência do aprofundamento das contradições durante a pandemia de Covid-19, em especial, pelas políticas genocidas do Governo Bolsonaro, que atacou programas sociais como o Plano de Aquisição de Alimentos.⁠

Acontece que o Brasil possui mais de 212 milhões de habitantes, segundo o IBGE. Portanto, o índice de 2,5% significa, para nosso país, mais de 5 milhões de pessoas oficialmente subnutridas.

E os outros milhões de brasileiros que estão logo acima desse limiar, por acaso não passam fome?! E aquelas famílias que só sobrevivem de bicos, sem renda fixa, deixaram de ser pobres?!

São 60 milhões de trabalhadores e mais de 28 milhões de aposentados que recebem até um salário mínimo por mês.

Somente neste ano, 225 trabalhadores foram resgatados em condições análogas à escravidão na Paraíba, 94% deles em obras da construção civil, dormindo em alojamentos sem condições mínimas, em colchões velhos no chão e sem sair do local de trabalho por semanas. A maioria dos casos se deu na Região Metropolitana de João Pessoa, capital do estado e tida como nova rota do turismo nacional e internacional. Ou seja, tudo bem debaixo das barbas das “autoridades”.

Segundo o Ministério Público do Trabalho (MPT), foi um crescimento de 263% nos últimos três anos. “O tráfico de pessoas para fins de trabalho escravo é uma realidade e não podemos, de forma alguma, fechar os olhos para esse crime”, apontou a procuradora do Trabalho Marcela Asfora.

Esta é a realidade do povo brasileiro, da classe trabalhadora.

Para os socialistas e comunistas, a plena soberania só pode existir se houver justiça social. E esta só se conquista no socialismo, com um Governo Revolucionário dos Trabalhadores.

Matéria publicada na edição impressa  nº318 do jornal A Verdade

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