Assata Shakur faleceu em 25 de setembro de 2025, uma das maiores militantes da causa antiracista do mundo. Vivendo há mais de 40 anos como exilada em Cuba, foi exemplo de enfrentamento e combatividade diante do país mais violento e racista do mundo, os EUA. Assata viveu uma vida em defesa do socialismo e da revolução.
Clóvis Maia| Redação Pernambuco
Nascida JoAnne Deborah Byron, justamente no Queens, o maior distrito de Nova York, onde pode ver de perto todas as mazelas do capitalismo, sobretudo entre a população negra, em meio a toda segregação racial americana. Criada em Wilmington, Carolina do Norte, teve que deixar a escola ainda no ensino médio para poder trabalhar.
Conheceu o movimento estudantil na universidade, onde aprofundou seus estudos no Marxismo após conseguir entrar no ensino superior em Nova York. É por meio da militância que ela conhece e ingressa no Partido dos Panteras Negras, que fora fundado em 1966, onde desenvolve uma profunda campanha de formação, diversas ações sociais no Harlem, e destaca-se junto a nomes como Angela Davis na direção do partido. No início dos anos 70 ela se afasta dos Panteras Negras e funda o Exército de Libertação Negra (BLA), que tem como tática ações de guerrilha urbana em defesa da revolução e contra o racismo. É nesse período que ela adota o novo nome: Assata (“aquela que luta” ou “guerreira”) Shakur (“grata”).
Enfrentamento e luta
Após as ações organizativas dos Panteras Negras, sobretudo nos bairros mais populares, e temendo um levante revolucionário contra as elites, o governo americano usou de tudo para destruir a organização popular. Se a violência usada para calar Malcolm X (1965) e Martin Luther King (1968) agora encontrava os negros armados e organizados político e ideologicamente, é isso precisava ser enfrentado, como mostra o filme “Os Panteras Negras”, de 1995, adaptação do livro de Melvin Van Peebles, produzida e dirigida por Mario Van Peebles, é uma obra obrigatória para entender a luta política travada naquele período nos EUA.
Assata foi presa após uma ação coordenada da repressão do Estado americano, que a acusou de ter assassinado um policial em Ney Jersey, fato que ela sempre negou. Presa em 1973, ela foi condenada a prisão perpétua em 1979, nesse período, foi torturada, mantida na solitária, inclusive estando também em um presídio de segurança máxima para homens, numa escancarada mostra da violação dos direitos humanos e da política racista do Estado norte-americano. Ela consegue escapar do da Penitenciária em Nova Jersey, prisão de segurança máxima, após seus companheiros entrarem disfarçados de visitantes, uma ação Revolucionária do Exército de Libertação Negra (BLA), e é recebida em Cuba, onde passa a ser exilada com apoio de Fidel Castro, a quem chamou de “herói dos oprimidos”, onde viveu de 1984 até entrar para a imortalidade em 25 de setembro de 2025.
Sempre consequente
“Eu sou uma escrava fugitiva no século XX. Devido à perseguição governamental, não tive escolha a não ser fugir da repressão política, do racismo e da violência que dominam as políticas do governo dos EUA em relação aos negros. Sou prisioneira política e vivo exilada em Cuba desde 1984”, escreveu em uma Carta Aberta publicada na revista Counterpunch em 30 de dezembro de 2014. Em Cuba, Assata continuou sua militância em defesa dos direitos dos negros. Sua autobiografia, escrita em Cuba em 1987, defende o socialismo como única forma de libertação dos oprimidos. Falando sobre a importância da organização ela afirma: “Uma das coisas mais importantes que o Partido fez foi deixar bem claro quem era o inimigo” (…) “não os brancos, mas os opressores capitalistas e imperialistas”. (…) “Somos ensinados desde muito cedo a ser contra os comunistas, mas a maioria de nós não tem a menor ideia do que é o comunismo”.
Uma das pioneiras do feminismo negro, Assata passou a ser procurada pelo FBI e teve seu nome vinculado na lista de terroristas mundiais pelo governo americano em 2013. Várias foram as pressões ao governo de Cuba, exigindo sua deportação.
Em maio desse ano, o secretário de Estado dos Estados Unidos, Marco Rubio, colocou uma foto de Assata nas redes sociais, atacando a ilha socialista por manter Shakur em seu solo. A mesma política foi imposta para Mumia Abu-Jamal, jornalista e militante, o ex-pantera negra continua preso na solitária desde dezembro de 1981, com a mesma acusação de ter assassinado um policial, condenado à morte por esse mesmo sistema judicial fascista, racista e desigual.
Assata faleceu aos 78 anos, morrendo de causas naturais, entrando para a história como uma lutadora incansável e sem renunciar sua luta e sua trajetória. Em um de seus poemas, “Afirmação”, ela diz:
“Eu acredito no viver (…)
Eu acredito na vida.
E eu vi o desfile da morte (…)
Eu vi a destruição da luz do dia,
E vi vermes sedentos de sangue
Sendo adorados e saudados.
Eu vi os dóceis tornarem-se cegos
E os cegos tornarem-se prisioneiros
Num piscar de olhos.
Eu andei sobre cacos de vidro.
Eu admiti meus erros e engoli derrotas
E respirei o fedor da indiferença.
Eu fui trancafiada pelos injustos.
Algemada pelos intolerantes.
(…) Um muro é apenas um muro
E nada além disso.
Ele pode ser posto abaixo.
Eu acredito no viver.
Eu acredito no nascimento.
Eu acredito na doçura do amor
E no fogo da verdade (…)
Assata Shakur, entrou para a imortalidade daquelas que lutam pelo melhor da humanidade. Como costumamos lembrar, Assata presente, agora e sempre!