Elizeu Magalhães Trigueiro começou a trabalhar na limpeza urbana em 1999. Consciente de que só com a organização e conscientização é possível combater os grandes problemas que vivem os trabalhadores, decidiu ingressar no Movimento Luta de Classes (MLC) e, em seguida, juntamente com outros companheiros, fundou, em setembro de 2010, o Sindicato dos Trabalhadores da Limpeza Urbana (Sindlimp-PA), que, imediatamente, iniciou a mobilização da categoria em defesa do pagamento dos 40% de insalubridade para todos e por um salário digno.
Desesperada com o crescimento da influência do Sindlimp na categoria, a empresa Metrópole Construções e Serviços de Limpeza iniciou uma perseguição aos diretores do sindicato, demitindo os companheiros Éder Rodrigo, Rosinaldo Silva e, em seguida, Eliseu. Perseguiu José Alberto, secretário geral do sindicato, afastando-o de suas funções, e, depois, o demitindo.
Além disso, o Sinelpa, sindicato pelego, entrou na Justiça questionando a fundação do Sindlimp. Mas o tiro saiu pela culatra, pois a Justiça reconheceu o direito de os trabalhadores da limpeza urbana terem seu sindicato. A juíza do Trabalho substituta Amanda Cristhian Mendonça determinou a reintegração de Eliseu na mesma função, garantindo sua estabilidade até 2014.
No início de agosto veio mais uma conquista: a Justiça ordenou a readmissão do companheiro Alberto nas mesmas funções anteriormente ocupadas. E, ainda em agosto, a juíza do Trabalho substitutaElinay de Melo negou pedido de cassação do Sindlimp, entendendo ser perfeitamente aceitável a criação de sindicato através do desmembramento.
Para falar sobre sua luta e essas vitórias, A Verdade entrevistou Elizeu Magalhães Trigueiro, presidente do Sindlimp e militante do Partido Comunista Revolucionário (PCR).
A Verdade – Como você viu sua reintegração à empresa e qual foi a reação dos trabalhadores?
Eliseu – Minha reintegração na empresa foi uma vitória da nossa luta. Eu tinha certeza que a resposta da Justiça seria favorável à categoria. A reação dos trabalhadores também foi positiva, todos ficaram animados e acreditando no trabalho do Sindlimp.
Por que você foi demitido?
Fui demitido por organizar os trabalhadores em um sindicato de luta, para reivindicar os direitos de toda a categoria que, há décadas, é explorada em Belém.
Quais as principais reivindicações e quais os principais problemas dos trabalhadores da limpeza urbana de Belém?
Conquistamos 20% de insalubridade, mas isso não é suficiente; ainda falta muita coisa: equipamentos de IPIs; benefícios como os 40% de insalubridade dos quais estamos correndo atrás; o pagamento das horas extras dos domingos e das horas extras do sábado, que representa 50% da hora extra diurna… em resumo, melhores salários e melhores condições de trabalho.
Que mensagem você deixa para os trabalhadores?
Que acreditem no nosso sindicato, na diretoria, e na certeza de que a vitória vai ser nossa e de que precisamos de apoio deles para que a vitória seja de todos.
Mais nove operários da construção de civil morreram trabalhando. Desta vezas mortes se deram no canteiro de obras do edifício Empresarial Paulo VI, em Salvador. O acidente ocorreu no dia 9 de agosto, quando um elevador despencou do 20º andar da obra, na Avenida ACM, na capital baiana.
Os corpos de Antônio Reis do Carmo, Antônio Elias da Silva, Antônio Luiz Alves dos Reis, Hélio Sampaio, José Roque dos Santos, Jairo de Almeida Correia, Lourival Ferreira, Martinho Fernandes dos Santos e Manuel Bispo Pereira foram encaminhados à perícia da Polícia Técnica. A altura da queda corresponde a cerca de 70 metros, distribuídos ao longo da estrutura, que conta ainda com oito pavimentos de estacionamento.
“Eu já estava lá em cima, junto com mais de dez pessoas. Vi os cabos desenrolando, o pessoal dizia que ele tinha defeito”, conta Damião, operário da obra. Funcionários do canteiro de obras e representantes de sindicatos acreditam que o acidente foi ocasionado por defeito elétrico no elevador. A construtora Segura, responsável pela obra, alegou que “o equipamento estava funcionando dentro dos parâmetros de segurança e em perfeito estado de conservação”. Mas o fato é que, se estivesse em perfeito estado, os nove trabalhadores hoje ainda estariam vivos.
Para a maioria dos operários, o acidente foi decorrente de falta de manutenção. O dispositivo que tem a função de parar o elevador, quando acionado, não o parou; bateu na torre e explodiu. Isso demonstra muita negligência.
Foi um dos piores acidentes ocorridos nos últimos anos na construção civil baiana. O acidente que matou nove operários fez que o setor da construção civil já registrasse um aumento do número de mortes por acidente de trabalho, este ano, na Bahia, com relação ao ano anterior. De janeiro a agosto, foram 70 acidentes, com 15 mortes, ante 108 acidentes, com seis mortes, verificados em 2010.
Em Salvador, em maio, mais dois operários morreram e um teve a perna decepada por vigas metálicas que despencaram de um guindaste na obra de um conjunto residencial. Um trabalhador também morreu em janeiro deste ano quando despencou durante a reforma de pastilhas de um edifício residencial.
Para evitar tantas mortes e acidentes, seria necessário que as empreiteiras investissem mais em segurança; mas, preocupadas em aumentar seus lucros, elas economizam em tudo.
Restam a luta e a organização dos trabalhadores para colocar fim a essa exploração.
Brás Teixeira da Cruz é um dos combatentes revolucionários que enfrentaram as baionetas da ditadura militar que se instalou no Brasil de 1964 a 1985. Iniciou cedo sua militância política em Belo Horizonte, à qual dá continuidade até os dias atuais. Durante os anos de luta sob a ditadura, Camarada Brás sofreu inúmeras torturas, que lhe ocasionaram várias doenças, forçando-o a tomar muitos remédios para aguentar a dor das lembranças. Ainda hoje, Brás luta para que o Estado brasileiro reconheça os crimes que cometeu contra ele; seu processo chegou a Brasília em 31 de março deste ano, data do início do tempo das trevas dos militares e, ao mesmo tempo, de muita resistência do povo brasileiro.
Contudo, Brás nunca baixou a cabeça para a opressão que o capitalismo exerce sobre os trabalhadores, o que o faz hoje, aos 73 anos, ser membro do Partido Comunista Revolucionário. A seguir, a entrevista de Brás da Cruz ao jornal A Verdade, na qual nos conta um pouco de sua história.
A Verdade – Como e quando você iniciou sua militância política?
Brás da Cruz – Eu iniciei minha militância política em 1959, ainda estudante secundário da Escola Visconde de Cairu, que hoje não existe mais, e comecei participando da Ação Popular, a AP. Lá enfrentei muitos problemas pela linha religiosa que a AP tinha; então saí e conheci a Polop através de um amigo. No entanto, logo fui convidado a participar de uma reunião do “Partidão”, como o PCB era conhecido na época pela massa, e ajudar no jornal Novos Rumos. Nessa época, comecei a participar de cursos básicos de marxismo.
Mas aconteceu o XX Congresso do Partido Comunista da União Soviética [PCUS], e vieram as acusações mentirosas de Kruchev a Stálin, o que causou um racha internacional. No ano de 1962, as coisas estavam mais claras e o PCUS se diferenciou da linha política do Partido Comunista Chinês; todos esses acontecimentos fizeram com que nove companheiros, entre eles eu, saíssem do PCB e ingressassem no PCdoB, ainda em formação em Belo Horizonte, a partir do convite de um médico camarada nosso. Nessa época, o PCdoB tinha uma linha revolucionária, muito debate ideológico e formação política. Minhas tarefas no PCdoB eram cuidar da biblioteca do partido e ir até o Rio de Janeiro buscar o periódico Classe Operária. Tudo isso antes do golpe. Participávamos ativamente da luta, e já sentíamos que os tempos estavam ficando mais difíceis. Por exemplo, uma vez fizemos uma manifestação e usamos machados e escudos, inspirados pelo Exército Popular da China, e no meio do ato um grupo da Tradição, Família e Propriedade, a TFP, foi nos agredir; começamos uma batalha campal no centro de Belo Horizonte.
Nesse mesmo ano de 1962, o então ministro Armando Falcão mandou os tanques de guerra pra cima dos estudantes na cidade do Rio de Janeiro, e a sede da UNE foi metralhada. O resultado foi uma greve geral puxada pela UNE, que contou com a participação dos estudantes universitários e secundários. Como disse, começamos a sentir o que poderia vir pela frente.
A Verdade – Onde você estava quando aconteceu o golpe militar?
Brás – Exercia uma militância ativa no PCdoB em Belo Horizonte, fui para a clandestinidade. Começamos a fazer reuniões clandestinas. Nos reuníamos em praças públicas, restaurantes e no Parque Municipal, no centro de BH; eram poucos os companheiros que participavam de cada reunião – assim não chamávamos a atenção. Até que em 1967 fomos convidados para uma reunião que aconteceu num convento, com os frades dominicanos. Nos passamos por seminaristas e lá ficamos dois dias de intenso debate político. Nessa reunião estavam Maurício Grabois, Lincoln West e outros camaradas da direção nacional do PCdoB.
Decidimos por criar a Corrente Revolucionária, que era o nome que assinava os panfletos e aparecia para a massa. Começamos a organizar greves, paralisações em várias fábricas, principalmente na Cidade Industrial, bairro do município de Contagem, e no Bairro das Indústrias, na região do Barreiro, em BH. Alugamos aparelhos nesses locais, camaradas cederam suas casas e partimos para uma luta mais efetiva. Deliberamos também, nesse encontro, o caminho da luta armada.
Debatemos táticas e decidimos seguir a linha do Marighella, da guerrilha urbana, debatemos a Guerra de Guerrilhas, de Che Guevara, mas entendemos que não era o melhor para as condições geográficas do Brasil.
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A Verdade – Como aconteceu a sua prisão?
Brás – Fui preso duas vezes – a primeira no início de 1968, quando panfletava na porta da Vallourec & Mannesmann, uma importante fábrica de Minas Gerais. Estava no ato da panfletagem quando a polícia chegou; fui enquadrado na Lei de Segurança Nacional. Fiquei preso no Dops durante três semanas, e me libertaram. Depois sumi, mudei de setor e fui fazer um trabalho no município de Divinópolis; era um dos responsáveis pela “PC Indústria e Comércio de Conserva”; este PC significava “produto camponês, fizemos uma brincadeira com o nome. Essa pequena fábrica arrecadava fundos para o partido, era importante para nosso trabalho de finanças. Até que chegaram dois caras na fábrica com carteira da Fiesp, se dizendo industriais de São Paulo interessados na nossa marca de conserva. Mas, na verdade, eram policiais e me levaram preso. Durante o tempo em que estava preso, foram até minha casa e bateram em minha esposa, que estava grávida, o que a fez perder o nosso filho. Essas coisas revoltam a gente. Fiquei pulando de prisão em prisão; de Divinópolis, fui para o presídio de Dutra Ladeira, que fica em Ribeirão das Neves, Região Metropolitana de Belo Horizonte. Depois, me levaram para Juiz de Fora. Fui barbaramente torturado em todas as prisões por que passei. Além da tortura psicológica, num desses caminhos de uma prisão a outra, o policial me disse: “Tá vendo este matagal? Este lugar é que é bom pra fuzilar comunista”. Era um terror psicológico muito grande. Cinco meses depois, fui libertado.
A Verdade – Depois da prisão, como foi continuar a militância?
Brás – Quando saí, fui para o Morro das Pedras, uma comunidade de BH, e retomei o contato com o partido. Continuei minha militância política clandestina. Mas fiquei com várias seqüelas. Não podia ouvir fogos de artifício que me lembrava das torturas. Tive de tomar vários remédios pesados, tarja preta. Fui internado várias vezes. Só no Hospital Galba Veloso dei mais de 160 entradas para internação, de 1974 a 1978. Desmaiava na rua e acordava no hospital, tudo na base dos remédios. As lembranças sempre me vinham à cabeça. Em 78, entrei no INSS, mas ainda me sentia muito mal. Só fui ficar melhor em 1995, quando comecei a trabalhar no Colégio Magnum, na varrição. Lá eu me sentia bem, até ajudava os alunos com mais dificuldade, falava da revolução russa e de outros acontecimentos, fiz amizades. Mais tarde me tornei coordenador dos alunos; agora estou afastado pelo auxílio-doença.
A Verdade – Para você, qual será a grande importância da abertura dos arquivos da ditadura?
Brás – Bem, os arquivos devem ser abertos, para conhecimento dos fatos que ocorreram durante a ditadura militar, principalmente os documentos sobre os companheiros desaparecidos, de que os familiares não sabem, até hoje, onde os corpos estão enterrados. Mas tem pessoas ligadas ao imperialismo internacional, EUA, que estão ligados a esses processos. Nós, comunistas revolucionários, devemos lutar para que sejam completamente abertos os arquivos, levar as informações às universidades, escolas, e fazer debates para mostrar que esse famigerado braço armado do Estado foi muito violento, não respeitava ninguém; em nome de uma democracia de que “eles” falavam, assassinaram e torturaram. Nós queremos os arquivos totalmente abertos, para todos saberem. Pois nós lutamos por uma verdadeira democracia, a ditadura do proletariado.
A Verdade – Mesmo depois de todos esses anos, você continua militante comunista. Qual é o recado que você dá aos seus companheiros de combate?
Brás – Gostaria com imenso prazer elogiar os companheiros que foram torturados, perderam seus empregos e continuam na militância revolucionária, como dizia Che Guevara, “O dever do revolucionário é fazer a revolução”, e a revolução está nos nossos corações, que é lutar por uma pátria livre, por um mundo novo.
Durante evento organizado pela FIFA chamado “Festa do 1000 dias” para a Copa de 2014, dezenas de manifestantes ficaram feridos após serem dispersados pela polícia militar. O sindicalista Renato Amaral, do Movimento Luta de Classes, foi atingido na cabeça pela polícia, levando 5 pontos. Os manifestantes reclamavam das condições a que foram submetidos, os mineiros, à construção da Copa. Veja os vídeos.
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