A primeira edição do jornal A Verdade foi lançada em dezembro de 1999, com a manchete “FHC: o professor que virou um grande fazendeiro”. Foram 1.500 exemplares que circularam em cinco estados. Desde então, as ideias defendidas por A Verdade vêm obtendo cada vez mais apoio. O número de leitores cresceu a cada mês e hoje o jornal circula em 20 estados. A tiragem foi crescendo ano a ano e atingiu, em abril, 18.500 exemplares.
Este crescimento permitiu que, após 22 anos, o jornal A Verdade passasse a ser quinzenal. A partir de agora, serão duas edições por mês.
E há mais novidades: A Verdade ganhou um novo projeto gráfico e seu site www.averdade.org.br, após sofrer ataques dos inimigos da democracia, tem novo visual para facilitar a leitura. Em junho, terá ainda um aplicativo para baixar no celular.
Pode parecer pouco para alguns. Mas não é. Enquanto jornais da burguesia deixam de circular e passam a existir somente na internet, A Verdade lança agora duas edições impressas por mês no Brasil. Ademais, A Verdade é um jornal a serviço da classe explorada e oprimida, a imensa classe operária, as massas trabalhadoras. Suas páginas não são vendidas às grandes corporações internacionais e nacionais nem defendem os interesses do capital financeiro, das mineradoras ou do agronegócio. É um jornal dos trabalhadores que luta pela emancipação dos pobres, pelos direitos das mulheres, pela justiça social, democracia popular e socialismo.
Ergue sua voz contra o racismo e em defesa dos povos indígenas e denuncia todos os crimes cometidos pelo Estado burguês. Os princípios de A Verdade são baseados no marxismo-leninismo, no fim da exploração de classes, na solidariedade e fraternidade entre os irmãos trabalhadores e os povos de todo o mundo.
A Verdade é um jornal que se sente honrado em desafiar e lutar contra os poderosos interesses da classe capitalista e pelo fim da escravidão assalariada. É um jornal socialista no seu conteúdo e na sua forma, pois é feito com base na cooperação de centenas de companheiros e companheiras. Leva à prática os princípios definidos pelo grande revolucionário e criador do socialismo científico, Karl Marx: “A função da imprensa é ser o denunciador incansável dos opressores. (…) O dever da imprensa é tomar a palavra em favor dos oprimidos a sua volta. O primeiro dever da imprensa é minar todas as bases do sistema político existente”.
Mas a vitória de A Verdade se transformar num jornal quinzenal não caiu do céu. Foi fruto de um trabalho coletivo e planejado. Um importante Ativo Nacional de Agitação e Propaganda foi realizado no mês passado com dezenas de militantes, além dos ativos estaduais que se seguiram. Semanalmente, a Redação Nacional se reúne, debate as matérias, distribui entre os editores e prepara a próxima edição.
Como tem apoio entusiasta de seus leitores, A Verdade conta ainda com diversos colaboradores que escrevem textos e mandam fotos. Além disso, A Verdade dispõe de centenas de brigadistas, militantes do PCR, da UP e dos movimentos sociais que garantem que ele chegue às mãos do povo.
A Verdade quinzenal é uma vitória da imprensa popular e socialista, uma vitória de todos que nessa caminhada trabalharam para que este sonho se tornasse realidade, uma vitória principalmente para os oprimidos e explorados que terão um jornal ainda mais incansável na denúncia dos opressores, sempre erguendo a bandeira da revolução e do socialismo.
Com A Verdade quinzenal, semearemos mais e organizaremos mais operários e operárias no exército que construirá uma nova sociedade, na qual não haverá pobreza, nem corrupção, fascismo ou exploração. Apesar do fascista e dos generais, A Verdade quinzenal triunfou. Avante, camaradas!
Trabalhadores na audiência de julgamento do registro da UP no TSE, em outubro de 2019 – Foto: Jorge Ferreira / Jornal a Verdade
Jorge Ferreira
Era manhã de uma quinta-feira de outubro de 2019 quando os servidores do Tribunal Superior Eleitoral tiveram que lidar com com uma situação incomum: algumas dezenas de trabalhadores desejavam assistir uma audiência de julgamento. A lotação do plenário com cerca de duzentas confortáveis cadeiras não era o problema, mas os visitantes não estavam com “vestimentas adequadas” que os permitisse estar diante dos ministros.
Naquele dia, homens e mulheres que diariamente acordam cedo e utilizam transporte público lotado para trabalhar, que pegam no pesado para sobreviver, colocaram suas melhores roupas, seus melhores sapatos, alguns cortaram o cabelo, outros usaram o melhor perfume. Era dia de festa. Após dois longos anos e um milhão e duzentas mil assinaturas recolhidas nos trens, nos bairros populares, nas portas de fábrica, e, apesar das dificuldades, registradas em cartórios de vários estados em todas as regiões do país, havia chegado o dia que iniciaria o julgamento do registro da Unidade Popular pelo Socialismo na mais alta corte eleitoral do Brasil.
Com a emoção transbordando em sorrisos largos, representando todos aqueles abnegados trabalhadores que entregaram suas poucas horas livres para cumprir a tarefa histórica de constituir o partido dos pobres, do povo trabalhador, entraram no prédio do TSE para assistir a audiência que reconheceria a legitimidade de todo o processo. Entretanto, a poucos metros do plenário principal do Tribunal, a chefe dos seguranças alerta que não será possível que os visitantes adentrem no local por não estarem vestidos adequadamente. “Onde está escrito isso?”, foi o primeiro questionamento do advogado Thiago Santos.
Thiago Santo, advogado da Unidade Popular, intervindo para garantir o acesso dos trabalhadores ao plenário – Foto Jorge Ferreira / Jornal a Verdade
Daí em diante iniciou-se uma luta contra o tempo. Há poucos minutos de iniciar o julgamento, nem mesmo o presidente do partido, Leonardo Péricles, morador de ocupação, havia conseguido entrar no plenário justamente por estar somente com camisa social, mas sem terno e gravata. “Veja bem, argumentava Thiago Santos, essas pessoas estão justamente com suas melhores roupas, não há ninguém vestido de forma inadequada”. As mulheres que estavam de calça jeans, ao ver o tempo passando e a recusa da chefe dos seguranças, começaram a improvisar saias com cachecóis. Os homens já não mostravam os dentes, uma pequena angústia tomava conta.
Em meio ao embate jurídico da legalidade da exigência de terno e gravata entre o advogado do partido e os servidores, alguns seguranças sensibilizados prometeram irem até o vestiário verificar se tinham terno reserva para emprestarem ao visitantes, mas já alertaram que não haveria para todos. Pouco antes de iniciar a sessão, o advogado do partido conseguiu que a questão fosse levada até a presidente da Casa, à época ministra Rosa Weber. Alguns instantes antes de iniciar o julgamento a entrada foi autorizada.
Foto Jorge Ferreira / Jornal a Verdade
Nesse dia, o procurador eleitoral Humberto Jacques apresentou parecer favorável, e o relator do processo, ministro Jorge Mussi, proferiu votou favorável ao registro alegando que “não poderia ser diferente, já que o partido cumpriu todas as exigências normativas”, entretanto o julgamento foi suspenso por um pedido de vista de um dos ministros, só sendo retomado, aprovado e registrado em dezembro do mesmo ano.
Mas foi exatamente naquele dia, 24 de outubro de 2019, que pela primeira vez o plenário do Superior Tribunal Eleitoral foi ocupado por pessoas sem terno e que, como retrata um grande filme, também não usam “Black Tie”.
Talvez tenha sido duro para os ministros da burguesia olharem de frente homens e mulheres que vivem do próprio suor. Para a Unidade Popular foi um dia histórico, mais um capítulo da emocionante luta pela libertação de milhões de trabalhadores brasileiros.
Fazia frio na tarde dessa quarta-feira, dia 12 de agosto, quando Movimento de Luta nos Bairros, Vilas e Favelas (MLB) organizou na cidade de São Bernardo do Campo um ato contra os despejos de famílias pobres durante a pandemia e em defesa do direito à moradia digna. O ato fez parte de uma agenda nacional de mobilizações que levou às ruas centenas de famílias, em diversas cidades brasileiras, levantando a bandeira do Despejo Zero, uma campanha nacional que unifica movimentos sociais e outros apoiadores na luta pelo fim dos despejos durante a crise da Covid-19.
A manifestação reuniu famílias de vários bairros de São Bernardo do Campo, cidade que sofre com uma política sistemática de despejos por parte do Prefeito Orlando Morando (PSDB), de Diadema, Santo André, Mauá, Francisco Morato, São Matheus e de várias regiões da Capital, além de outros movimentos que se somaram à essa luta, como o Projeto Meninos e Meninas de Rua (PMMR), o Coletivo Democracia Corinthiana, a Torcida Guerreiros do Tigre do São Bernardo F.C., o Movimento de Mulheres Olga Benário, etc. Para Gabriela Mousse, da Democracia Corinthiana: “Eles agem assim [despejos e repressão ao povo pobre] porque se sentem livres para fazer o que querem, não há motivo nenhum para ações desse tipo. Claro, o governo já é fascista e tá rolando uma pandemia, para eles fica mais fácil, por isso temos que ocupar as ruas com mais frequência”.
Foto: Manuelle Coelho / Jornal a Verdade
Alguns trabalhadores vieram de longe, é o caso de Cirilo Conceição, que viajou cerca de 80 quilômetros para poder participar do ato: “Sou de Francisco Morato, uma cidade abandonada pelos governantes. Governantes corruptos e omissos que permitiram que meu filho viesse a falecer. Quem me apoiou não foi nenhum governante, foi o povo, foi o MLB. Convidamos vocês a abraçarem essa causa porque essa é a causa de todos nós trabalhadores, estudantes, que pagamos aluguel, que somos despejados. O governo é o culpado disso, o governo não tá nem aí pra nós, eles querem é matar nossos filhos. Eles abandonam nossos bairros, na minha rua um carro não foi capaz de entrar pra prestar socorro ao meu filho. Eu abracei e vou continuar abraçando o MLB, essa ferramenta dos trabalhadores para lutar por uma moradia digna”.
Foto: Jorge Ferreira / Jornal a Verdade
A marcha, que contou com mais de cem pessoas, ocorreu no fim da tarde e foi da Igreja Matriz, no centro da cidade, até o Paço Municipal, em uma caminhada pacífica de mais de uma hora, mantendo o distanciamento social, o uso de máscaras e todos os cuidados relativos à pandemia da Covid-19 e sem qualquer tipo de conflito, sendo inclusive apoiada pela maior parte da população que transitava pela cidade, de carro, de ônibus ou a pé. Segundo Daniela, que constrói o MLB no bairro Detroit, em São Bernardo: “Essa manifestação é muito importante, estou aqui não só por mim, mas pelas minhas filhas e pela minha comunidade. Aprendi com o MLB que nós precisamos lutar, assim como fizeram os escravos, que se revoltaram e hoje são libertos. Mas ainda existe uma escravidão pra gente vencer e por isso estamos na luta”.
A organização do ato realizou um acordo com a Guarda Civil Municipal (GCM) e com a Polícia Militar, para que a manifestação fosse encerrada no Paço Municipal com uma assembleia das famílias que cobravam o seus direitos. No entanto assim que os primeiros militantes do movimento entraram no Paço, carregando uma faixa com os dizeres “Despejo Zero, Morar é um Direito”, a GCM descumpriu o acordo e atacou covardemente três Coordenadoras do MLB que carregavam a faixa, desferindo empurrões, socos e utilizando spray de pimenta sobre as mulheres; rapidamente um conjunto de famílias se aproximou, afastou os políciais e organizou um cordão de isolamento para impedir novas agressões.
Ao todo foram mobilizadas cerca de 30 viaturas entre GCM e Polícia Militar com o objetivo de impedir a continuação do ato através de uma ação agressiva e completamente desproporcional, descumprindo um acordo feito minutos antes, alegando que o movimento estava proibido de adentrar o Paço Municipal carregando qualquer tipo de bandeira ou faixa e demonstrando o caráter repressivo do Estado contra os trabalhadores, os pobres e os lutadores sociais que cada dia fica mais intenso no Brasil. As famílias conseguiram assegurar o direito de realizar sua assembleia no local e em alguns minutos de diálogo e de muita agitação política contra as injustiças do sistema capitalista, o sistema dos ricos que durante a pandemia promove o crescimento do patrimônio dos bilionários exploradores e o empobrecimento geral daqueles que vivem do próprio trabalho, decidiram encerrar a manifestação, prometendo que voltarão às suas cidades e bairros e organizarão ainda mais pessoas para lutar pela Reforma Urbana e pelo Socialismo. Segundo Thais Gasparini, uma das Coordenadoras Estaduais do MLB agredidas pela GCM: “Essa repressão, esse uso da violência para calar quem se manifesta é um espelho do que acontece na periferia, em que essa mesma GCM é utilizada pra derrubar as casas do povo pobre. Isso precisa acabar, por isso nos manteremos firmes na luta, cada dia maiores, combatendo a exploração, a especulação imobiliária e a política dos ricos, dos latifundiários e dos banqueiros”.
Para Arnor, membro do MLB do bairro do Divinéia, em São Bernardo: “O ato foi muito bom, muito bonito, temos que seguir lutando. Já precisamos marcar a próxima passeata”.
No capitalismo, as guerras são fruto da concorrência entre as classes dominantes de diferentes nações pelo domínio do planeta. Na Primeira Guerra Mundial, formaram-se dois blocos imperialistas opostos: Tríplice Aliança (Impérios Alemão, Austro-Húngaro e Turco-Otomano) e a Tríplice Entente (Impérios Inglês, Francês e Russo).
O sol nasce vermelho
Algo novo, entretanto, surgiu durante a Primeira Guerra Mundial: a revolução socialista de outubro de 1917, na Rússia; nova cisão ocorria no mundo, agora dividido em dois sistemas adversos: o capitalismo e o socialismo.
Os dois blocos capitalistas passaram a ter um objetivo comum: a destruição do primeiro Estado operário-camponês da história, em vista da restauração do capitalismo em escala global. Foi com este propósito que o bloco vencedor investiu na economia alemã 15 bilhões de marcos em seis anos (1924-1929).
Quando o nazismo se apossa da Alemanha e explicita seu intento de domínio mundial, as potências capitalistas dominantes não tratam de combatê-lo. Ao contrário, fecham os olhos às suas agressões e até incentivam o monstro nazista a direcionar seu ataque contra a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS).
Em 1939, a URSS propôs à Inglaterra e França um pacto para ações militares conjuntas se os países do Eixo (Alemanha, Itália e Japão), bloco nazifascista, iniciassem a guerra na Europa. Não houve rejeição formal, mas nenhum passo foi dado por parte dos países capitalistas para concretizar o pacto. Ao contrário, França e Inglaterra firmaram com Alemanha e Japão acordos de não-agressão. Deixada sozinha, em agosto de 1939, a URSS assinou com a Alemanha um tratado de não-agressão. Os dirigentes sabiam que, mais cedo ou mais, tarde Hitler romperia o acordo, mas conseguiram ganhar um tempo valioso para transferir parte de suas indústrias para o leste do grande território soviético, bem como reforçar sua capacidade de defesa militar.
De 1938 a 1941, Hitler ocupou Áustria, Checoslováquia, Polônia, Bélgica, Holanda, Dinamarca, Noruega, Grécia, Iugoslávia e finalmente a própria França. Na Europa central e oriental, a Alemanha adquiriu imensa quantidade de material de combate, meios de transporte, matérias-primas, materiais estratégicos e força de trabalho, tornando-se forte o suficiente para atacar a URSS.
Hitler, no livro MeinKampf(Minha Luta), proclamou: “…tratando-se de obter novos territórios na Europa, deve-se adquiri-los principalmente à custa da Rússia”.
A invasão hitlerista foi impiedosa. “Fuzilavam em massa as pessoas (mulheres, crianças, idosos, montavam campos de morte, deportavam para trabalho forçado na Alemanha. Por onde passavam, não deixavam pedra sobre pedra”. Era a política do extermínio. “Eu tenho o direito de destruir milhões de homens de raça inferior que se multiplicam como vermes” (Hitler).
Em resposta, o governo, o Partido Bolchevique e o povo soviético lançaram a palavra de ordem: “Morte aos invasores fascistas, tudo para a frente! Tudo para a vitória!”. Às fileiras do Exército Vermelho se integraram milhões de homens. Criaram-se também inúmeros regimentos de milícia popular, contando com dois milhões de combatentes.
Formou-se ainda na retaguarda uma força guerrilheira massiva. A dedicação e bravura do povo soviético comoveram o mundo e foram decisivas para quebrar a resistência capitalista (EUA, Inglaterra, França). Formou-se finalmente o bloco aliado, antifascista, a frente única dos povos pela democracia.
Caíra por terra a ideia de Hitler de que a ocupação da URSS seria um passeio uma “guerra relâmpago”. Os nazistas não imaginavam a resistência que encontrariam nas principais cidades: Leningrado, Stalingrado, Kiev e Moscou, entre tantas. Homens, mulheres, idosos e crianças se ergueram como muralha inexpugnável.
Os feitos do povo soviético repercutiram no mundo inteiro, levando um jornal burguês como o STAR, de Washington, a publicar: “Os sucessos da Rússia na luta contra a Alemanha hitleriana revestem-se de grande importância não só para Moscou e o povo russo, como também para Washington, para o futuro dos Estados Unidos. A história renderá homenagens aos russos por terem suspendido a guerra relâmpago, pondo em fuga o adversário”.
Em junho de 1942, os invasores avançam, mas encontram uma barreira instransponível em Stalingrado. Durante sete meses de combate, os invasores perderam 700.000 soldados e oficiais, mais de mil tanques, dois mil canhões e morteiros, 1.400 aviões. Os invasores eram tecnicamente superiores, mas, em novembro de 1942, os números já se invertiam em favor dos soviéticos. Os alemães estavam com 6.200.000 soldados, os soviéticos com 6.600.000; 5.000 tanques invasores contra 7.000 soviéticos; 51.000 peças e morteiros contra 77.000.
Na derrota do Stalingrado, os nazistas perderam 1,5 milhões de soldados e oficiais. “… Do ponto de vista moral, a catástrofe que o exército alemão sofreu nos acessos de Stalingrado teve um efeito sob o peso do qual ele não pôde mais reerguer-se”. (A segunda guerra mundial, B.Lideel Hart)
Depois, ocorreu a vitória do Cáucaso e se iniciou processo de expulsão em massa dos ocupantes nazistas. “A União Soviética pode orgulhar-se das suas heroicas vitórias”, escreveu o presidente dos EUA, Franklin Roosevelt, acrescentando: “…os russos matam mais soldados inimigos e destroem mais armamentos do que os outros 25 estados das Nações Unidas no conjunto”.
O final de 1943 marca a virada na frente soviética e na Segunda Guerra em geral. O movimento contra o nazifascismo se consolidou e se ampliou em todo o planeta.
Em junho de 1944, com o exército alemão batido em todas as regiões da URSS, as tropas anglo-americanas desembarcaram no Norte da França, dando início à frente ocidental proposta pelo governo soviético desde o início da invasão.
Pode-se dizer que a essa altura a guerra estava decidida, diante da derrota alemã na Rússia. O próprio Winston Churchil, primeiro-ministro britânico, reconhece o papel fundamental dos soviéticos, no discurso pronunciado na Câmara dos Comuns, em julho de 1944: “….Considero meu dever reconhecer que a Rússia mobiliza e bate forças muitíssimas maiores que as enfrentadas pelos aliados no Ocidente, que, há longos anos, ao preço de imensas perdas, ela suporta o principal fardo da luta em terra”.
Um exército libertador
Apesar de imensas perdas, o Exército Vermelho avançou no encalço dos alemães pela Europa Oriental adentro, fustigando os nazistas e auxiliando as forças populares da resistência a derrotarem os ocupantes e seus colaboradores internos. Repúblicas democrático-populares foram instaladas com os partidos comunistas à frente na Polônia, Hungria, Iugoslávia, Checoslováquia, Romênia e Bulgária.
“Para Berlim!” era a palavra de ordem do exército libertador. Não foi um passeio. A resistência nazista, embora enfraquecida, produzia encarniçados e sangrentos combates. Os russos vitoriosos não mataram, não pilharam, não se vingaram dos crimes cometidos pelo exército alemão no solo soviético. Ao contrário, alimentaram os famintos, organizaram a assistência médica, o funcionamento dos transportes, a distribuição de água e de energia elétrica. A 2 de maio de 1945, o Comando Supremo alemão assinou o ato de capitulação incondicional das forças armadas, com a bandeira da URSS tremulando no alto do parlamento alemão, em Berlim. No dia 09 de maio, houve um imenso ato em Moscou em comemoração ao fim da Grande Guerra Patriótica (como os soviéticos denominaram sua participação na Segunda Guerra Mundial) e, desde então, até hoje, celebra-se na Rússia esta data como o Dia da Vitória.
Sob novos céus
Terminada a guerra na Europa, era preciso voltar-se para a Ásia. O Japão, aliado dos nazistas dominava milhões de pessoas na China, na Coreia, nas Filipinas. Apesar de as forças armadas dos EUA e da Inglaterra virem imprimindo sucessivas derrotas, as forças japonesas ainda eram numerosas e fortes. De vez em quando, elas atacavam as fronteiras da URSS e torpedeavam navios soviéticos em alto-mar.
No dia 8 de agosto de 1945, a União Soviética declarou guerra ao Japão e começou a ofensiva. Nesse mesmo dia, o primeiro-ministro japonês, Teiichi Suzuki afirmou: “…A entrada da URSS na guerra hoje de manhã põe-nos definitivamente numa situação sem saída e torna impossível continuar a guerra” . Estava certo. No final do mês, o Exército nipônico havia perdido 677 mil soldados e oficiais: 84 mil mortos e 593 mil prisioneiros.
Ao contrário do que muitos pensam, e a historiografia burguesa busca difundir, não foram as bombas estadunidenses lançadas no início de agosto contra Hiroshima e Nagasaki que provocaram a capitulação japonesa. A guerra continuou normalmente depois do ataque bárbaro e covarde. A rendição resultou do destroçamento do exército nipônico pelas tropas soviéticas.
Se alguém duvida, leia o testemunho do general Chenault, que chefiou as forças dos EUA na China: “…A entrada da URSS na guerra contra o Japão foi o fator decisivo para o fim da guerra no Pacífico, o que sucederia mesmo sem o emprego de bombas atômicas. O rápido golpe desferido pelo Exército Vermelho sobre o Japão fechou o cerco que pôs finalmente o Japão de joelhos”.
O Exército Vermelho contribuiu ainda para a expulsão dos nazistas da China e da Coreia. O sacrifício do povo soviético foi inestimável. Mas valeu a pena porque livrou a Humanidade da besta nazista. Foi também a vitória do socialismo que saiu da Segunda Guerra triunfante em toda a Europa Oriental e na China.
Por todos, valeu a carta de agradecimento enviada pelo povo coreano a Josef Stalin, comandante supremo das forças soviéticas: “… Os combatentes soviéticos chegaram não como conquistadores, mas como libertadores. Emancipada da escravidão, a nossa pátria respirou livremente. O céu apareceu-nos radioso. A nossa terra floresceu. Jorraram canções de liberdade e felicidade…”.
José Levino, historiador
Fonte de pesquisa: O Grande Feito do Povo Soviético e do Seu Exército. VassiliRiábov, Edições Progresso, Moscou,1983.
Enquanto milhões de brasileiros estão em isolamento ou distanciamento social devido à pandemia da Covid-19, o capitão reformado Jair Bolsonaro e seus puxa-sacos vivem um imenso isolamento político. A reprovação a seu governo já alcança quase 70%, suas Medidas Provisórias, sem apoio, caducam no Congresso Nacional e o Supremo Tribunal Federal (STF) decidiu que não é função do presidente desrespeitar governadores e prefeitos. Nos embates que travou com o ex-ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, ficou em minoria nas reuniões do seu Ministério. Teve que levar um de seus filhos para dentro do Palácio Planalto para poder conseguir ouvir diariamente: “Pai, você é o rei”.
E os fatos mostram uma dura realidade: após quase um ano e meio no governo, o capitão reformado, apesar de controlar um Orçamento Federal de R$ 4 trilhões, não construiu nenhum hospital público nem universidade. Tampouco ampliou o acesso da população ao saneamento ou construiu casas populares. O desemprego e o número de famílias vivendo na extrema pobreza cresceram enormemente no seu desgoverno. Usou todo o dinheiro público para enriquecer os especuladores, os banqueiros e permitir a remessa de bilhões de dólares do Brasil para os EUA.
O povo brasileiro, vendo que o capitão reformado é incompetente, antidemocrático e totalmente subserviente ao EUA, passou a reprovar seu governo em todas as regiões. Segundo o Instituto Datafolha, 17% de seus eleitores se arrependeram de ter votado nele.
Diante dessa crescente rejeição da população, o capitão reformado e seus filhos resolveram apelar para a velha política: recorrer às Forças Armadas, em particular ao Exército, para impor um regime ditatorial no país.
Assim, foram marcadas as carreatas e atos para o dia 19 de abril, dia que é considerado Dia do Exército. O Exército, seu comandante geral e o Alto Comando sabiam do ato e deram total permissão para que Bolsonaro e seus puxa-sacos o realizassem com dezenas de faixas encomendadas e com dezenas de assessores de deputados e de pessoas que ocupam cargos de confiança no governo, os conhecidos “aspones”.
No entanto, os atos foram um fracasso. Em São Paulo, dezenas de carros luxuosos, acompanhados de várias motos, algumas delas que custam mais de R$ 50 mil reais, foram verdadeiramente “ovacionadas”, isto é, receberam ovos e tomates dos prédios por onde passavam. Em Brasília, apenas algumas centenas de pessoas atenderam ao chamado de Bolsonaro e, se retirarmos os assessores da conta, fica uma ridícula minoria. Pior: após o ato, nove pessoas deram entrada em hospitais de Brasília com suspeita de Covid-19.
Pois bem, com o repúdio nacional à fala de Bolsonaro em frente ao Quartel General do Exército em Brasília, os generais passaram a dizer em off a jornalistas que não concordavam com aquele discurso defendendo um golpe militar e a volta do AI-5 e pediram ao capitão para “baixar o tom”. Na manhã desta segunda-feira, 20 de abril, um irritado e nervoso presidente, com suas mãos trêmulas (lembrando Hitler no filme A Queda), tentou desdizer o que tinha dito. Mas, revelando sua natureza fascista, parafraseou o rei Luís XIV, e declarou: “Eu sou a Constituição”.
Os fascistas e a grande a burguesia nacional e internacional olham a história do Brasil, observam os inúmeros golpes militares que aconteceram e acham que é fácil dar um golpe militar em nosso país e impor a censura à imprensa, torturar os que discordam, assassinar e esconder os corpos dos patriotas e democratas ou jogá-los no mar. Pensam que assim terão a paz dos cemitérios dizendo que o “Brasil vai pra frente, ame-o ou deixe-o” e que a ditadura militar é o melhor regime para governar um povo rebelde, como é o brasileiro.
Mas, senhores e senhoras fascistas, ensina a filosofia dialética que, se houve tantos golpes militares assim no Brasil é porque nenhum conseguiu se manter eternamente. Ou melhor, todos foram derrotados nas ruas pelos trabalhadores, pelas mulheres, pelos jovens, pelo povo brasileiro. Duvidam? Então terão que ouvir novamente nosso povo nas ruas desfilando e cantando: “Amanhã vai ser outro dia!” ou “Você não gosta de mim, mas sua filha gosta!”.
Passeata em São Paulo contra a Reforma da Previdência. Foto: A Verdade
Por Wanderson Pinheiro e Leonardo Péricles
1 – O Brasil e a questão internacional
O chamado neoliberalismo se aprofundou no Brasil nos anos 1990, primeiro no Governo Collor e depois durante os dois governos de Fernando Henrique Cardoso. Na verdade, tratou-se de uma maior submissão das economias nacionais com abertura dos mercados, iniciada no Chile e na Argentina, diante de um crescimento da exportação de capitais e maior domínio do capital financeiro internacional sobre as economias nacionais latino-americanas. Foi um período de ampla hegemonia dos EUA, encoberto sob o discurso da globalização.
A queda brusca dos impostos de importação e exportação, o fim do controle de capital e a isenção de impostos para a sua movimentação, a adoção de uma política cambial ancorada no dólar, o achatamento salarial dos trabalhadores e a privatização das principais empresas estatais foram as medidas centrais que tiveram consequências estruturais perversas para a economia nacional.
No entanto, o que se desenvolve de fato são as características do imperialismo capitalista, com o aprofundamento da financeirização do capital monopolista e uma gigantesca exportação de capitais por diversas vias. O capital se expande permanentemente, destruindo as economias nacionais, promovendo o desemprego e a redução salarial, para extrair mais-valia extraordinária e, assim, buscar manter sua taxa de lucro. Neste sentido, falar apenas contra o neoliberalismo e aceitar o capitalismo é propor aceitar a exploração dos trabalhadores, a manutenção da escravidão assalariada e sua expressão política, a democracia burguesa.
Além da política neoliberal praticada pelo imperialismo dos EUA, sofremos uma ação neocolonialista brutal, com a “elite nacional” sendo subornada e praticando a corrupção. Este fato foi evidenciado no processo de privatização, tendo boa parte dos recursos sido desviada para o “caixa 2” das campanhas eleitorais de 1998, mantendo FHC no governo.
Outro objeto de controle da nação foi a dívida pública. Com o aumento dos juros para conter a inflação, os novos financiamentos recebidos do FMI aumentaram em muito as dívidas externa e interna, ampliando a dependência do Brasil ao capital financeiro dos EUA. A abertura financeira ocasionou ainda o aumento da dívida interna, pois era extremamente favorável para o capital financeiro especular com a alta de juros (a taxa Selic atingiu 45,67% ao ano, em 1997), com controle do câmbio e livre movimentação de capitais.
Resumindo: ocorria uma espoliação financeira terrível devido à política de total submissão às ordens do dito “Consenso de Washington” praticada pelo governo brasileiro.
Essa abertura gerou também a quebra de milhares de empresas nacionais. As pequenas e médias empresas foram as mais atingidas, mas também grandes empresas foram à falência, iniciando o processo de desindustrialização nacional. Porém, um setor com maior acúmulo de capital, a grande burguesia interna, que fez o acordo com a burguesia estadunidense, teve lucros crescentes e caminhou para expandir seus negócios para o exterior. Setores como o do agronegócio, da construção civil e dos frigoríficos, tornaram-se grandes empresas internacionais e, a partir desse acordo, passaram a expandir-se para a região do Mercosul.
Outros setores foram se associando ao capital estrangeiro, seja na aquisição das importantes empresas estatais que foram privatizadas (setores de minério, siderúrgico, energia, etc.) ou de indústrias e serviços privados para o investimento dos capitais internacionais. Tornaram-se, assim, um setor submisso ao capital internacional e aos ditames da Organização Mundial do Comércio (OMC).
Entre os anos de 2003 a 2010, vivenciamos o Governo Lula e, de 2011 a meados de 2016, o Governo Dilma. Foi um período de hegemonia petista, considerado por alguns como desenvolvimentista ou neodesenvolvimentista, mas teve como base a diversificação da dependência nacional, principalmente em relação ao crescimento das exportações para a China, pautado também pelo investimento público feito nas empresas públicas e privadas, e pela ampliação do consumo da população com base numa grande oferta de crédito.
Esse processo de consumo levou a um relativo desenvolvimento da indústria naval, da construção civil, do agronegócio e da pecuária, propiciando o crescimento do lucro da grande burguesia e do capital financeiro. Porém, sendo um desenvolvimento com base no crescente endividamento e submetido aos interesses da grande burguesia nacional e mundial, terminou por esgotar-se com o aprofundamento da crise do capitalismo mundial.
Na verdade, o governo praticou uma política neodesenvolvimentista, mas manteve a hegemonia do capital financeiro, aprovando leis em seu benefício, como a lei de garantia de empréstimos com descontos em folha. A “Carta aos Brasileiros”, no início do primeiro mandato de Lula, foi, no fundamental, uma mensagem ao mercado financeiro internacional em que o presidente se comprometia a manter todos os acordos anteriores, não mexer no processo das privatizações, manter o controle da inflação, garantir o pagamento da dívida pública com altos juros e ampliar seus benefícios. Isso significou, na prática, a manutenção da política neoliberal.
Além de não ter revogado nenhuma das corruptas privatizações do Governo FHC, o PT realizou novas: privatizou portos, aeroportos e rodovias, além de fazer leilões de campos de petróleo para empresas estrangeiras. Porém, com o pré-sal (considerado o bilhete premiado), alterou o regime de exploração, mantendo os leilões em outros termos. Assim, a Petrobras foi um poderoso instrumento para desenvolver a política neodesenvolvimentista, promovendo investimentos em refinarias e alavancando a indústria naval brasileira e a construção civil. No entanto, o PT não reverteu a abertura de capital da Petrobras e esta permaneceu influenciada pesadamente pelos acionistas internacionais e pelo mercado.
A crise da era petista se iniciou em 2014, no final do primeiro Governo Dilma. A crise econômica chegou ao Brasil e ficou evidente que a política neodesenvolvimentista não conseguiu resolver os problemas estruturais do país, principalmente por não suspender o pagamento dos juros da dívida pública e manter a espoliação do capital financeiro e a dependência em relação ao agronegócio. Por outro lado, a relação com a China, que trouxe a ampliação da venda de commodities a níveis altos e a abertura para importação de produtos de toda ordem, gerou uma maior desindustrialização e dependência do setor externo. Essa troca desigual trouxe enormes benefícios para a grande burguesia do agronegócio, da mineração, da pecuária, da construção civil, etc., mas, como sempre, bastou uma oscilação do mercado internacional para tudo ir abaixo.
Realmente, a crise mundial se aprofundou com reduções seguidas de crescimento da economia chinesa. A China, mesmo possuindo enormes monopólios e rivalizando o comércio internacional com os EUA, não ficou de fora da nova crise de superprodução relativa que dificultou a realização de seu capital mundialmente. É importante notar que essa crise e a disputa de mercados continuam a se desenvolver, ameaçando agora entrar num período mais profundo, como afirmou recentemente a OMC. Sem ter como exportar mais mercadorias e com o superacúmulo de capital, a China avança a financeirização da sua economia.
Vejamos o que se sucedeu de 2007 a 2015. A China chegou a crescer 13%, em 2007, e o mercado de commodities brasileiro teve uma alta considerável. Em 2010, a China teve mais uma queda no seu PIB para 10,4%. Em 2015, relatório do FMI dizia que a China diminuiria o crescimento para 6,8%, a menor taxa anual do país dos últimos 25 anos. A queda da economia brasileira foi quase automática. Dilma Rousseff, que tomou posse para o segundo mandato no dia 1º de janeiro de 2015, permaneceu no posto apenas um ano e meio.
A crise ocasionada pela redução da produção da China fez cair enormemente o preço das commodities e reduziu os lucros da grande burguesia. Sendo pragmática, a burguesia, que há pouco havia colocado o gorro “comunista” na cabeça para adular o imperialismo chinês, pulou do barco e abandonou Dilma, definitivamente afastada do cargo em agosto de 2016.
O impeachment de Dilma teve ainda um elemento geopolítico. Os EUA usaram todo o seu poder para manter o país como sua área de influência, pois, mesmo sabendo que o PT atendia ao capital financeiro e pagava religiosamente a dívida pública, o avanço da crise do capitalismo mundial exigia ainda mais submissão. Vale salientar que a UP, ao mesmo tempo em que estava em processo de construção, esteve nas ruas lutando e denunciando este golpe.
Da mesma maneira, resistindo à quebra da sua hegemonia em nível internacional, os EUA lançaram o Tratado Transpacífico (TPP), que tinha como objetivo enfraquecer a China. Porém, após a eleição de Trump, os EUA se retiraram do TPP e adotaram como tática acordos bilaterais. Depois, abriram uma guerra comercial direta com a China, levantando barreiras às mercadorias chinesas, o que dura até hoje.
Assim, os EUA intervieram no Brasil com o objetivo de retirar o PT do governo para garantirem no poder um aliado subserviente. Financiaram e corromperam o judiciário brasileiro, apoiaram a fabricação da “Operação Lava-Jato”, que levou Lula à cadeia e promoveu a eleição de Bolsonaro. Da mesma maneira, os EUA disputam a Venezuela, com ações de bloqueio econômico e ameaça de invasão, e a Bolívia, onde promoveram um golpe fascista. Aparentemente, existe uma disputa entre forças reformistas liberais e o neoliberalismo fascista no continente, que tem como pano de fundo as disputas entre as duas propostas para conduzir o mundo capitalista.
Também era importante para os EUA ter o Brasil, principal país da América do Sul, como sua área de influência estratégica. Tendo como objetivo central na América Latina a derrubada do Governo Maduro e não obtendo sucesso pela via “pacífica”, intensificou o bloqueio econômico e buscou envolver o Brasil e a Colômbia numa aventura imperialista contra a Venezuela. Trata-se claramente de uma estratégia neocolonialista, que visa a usar tropas de outros países, mas mantendo o objetivo de conquista e ainda lucrando com a guerra.
A China é hoje a segunda potência econômica mundial e busca acumular forças na disputa pela hegemonia no planeta, fato que leva ao acirramento de contradições interimperialistas. Antes apenas exportadora de manufaturas, a China está alcançando o mais elevado grau de tecnologia, uma enorme acumulação de capital e intensificando a fase de exportação de capitais. No momento, essa exportação ocorre por meio do financiamento de infraestrutura nos países em desenvolvimento, investimentos financeiros, compra de títulos do Tesouro estadunidense, empréstimos e investimento direto.
O processo de exportação de capitais parece ser a ponte para uma defesa militar das áreas de influência econômica. Por isso, a China tem hoje o segundo maior gasto militar do planeta e já instala bases militares internacionais, sendo que a primeira foi estabelecida na África. Na América Latina, a China tem grandes investimentos, sendo o principal parceiro comercial de diversos países, inclusive do Brasil. Por isso, investem pesadamente em grandes porta-aviões, jatos, armas nucleares, e já superam os Estados Unidos em alguns aspectos tecnológicos.
Para termos uma noção, o país asiático investiu no Brasil, do ano de 2007 a 2018, US$ 57,9 bilhões em 145 projetos voltados principalmente para o setor de geração, transmissão e distribuição de energia elétrica. Os investimentos, no último ano, foram especialmente diretos, sendo 50% realizados em empresas construídas a partir do zero. Mas 42% foram investimentos em fusões e aquisições. Segundo o embaixador da China no Brasil, Yang Wanming, a China está aumentando a abertura do setor financeiro, de serviços, da agricultura, mineração e manufatura. Estima-se que o investimento chinês no próximo ano ultrapasse os US$ 10 bilhões.
A China mantém os investimentos mesmo no Governo Bolsonaro e, embora reaja às declarações do filho dele de forma dura, o pragmatismo do capitalismo chinês projeta grandes investimentos nas áreas de a) energia, da ordem de R$ 24,7 bilhões em quatro projetos (hidroelétrica, termonuclear e transmissão); b) ferrovias, R$ 29,1 bilhões em quatro projetos (2.800 km); c) óleo e gás, R$ 117,5 bilhões em quatro projetos; d) portos, com R$ 5,9 bilhões em 16 projetos; e) aeroportos, R$ 2,1 bilhões em dois projetos.
Por outro lado, embora Trump afirme que apoia Bolsonaro e ambos troquem elogios ideológicos em público, os EUA não fazem nada do ponto de vista financeiro para apoiar o governo brasileiro. O investimento dos EUA no Brasil foi pequeno em 2019: o valor foi de US$ 2,2 bilhões, menor que o de 2017, quando o montante correspondeu a US$ 2,9 bilhões. Os compromissos firmados se restringiram a acordos antinacionais e militares, como a entrega da Base Espacial de Alcântara, no Maranhão, e um acordo que transforma o Brasil numa força auxiliar do Comando Sul dos EUA, tornando-se um aliado extrarregional da OTAN. Ou seja, um acordo militar subserviente, que coloca o Brasil como mais uma base de operação militar dos EUA na região.
Como vemos, Bolsonaro segue cegamente o imperialismo norte-americano, pois, como fascista que é, em um país de economia altamente dependente e submissa como é o Brasil, seguirá a linha fascista de Trump para apoiar-se internacionalmente no império dos EUA. Bolsonaro é um representante da grande burguesia[1] e dos militares fascistas, que se declaram abertamente submissos ao capital estadunidense, não possuindo sequer um verniz de nacionalismo.
2 – Desenvolver a consciência das massas populares, aumentar o isolamento de Bolsonaro e criar as condições para derrubar o governo
O 8 de março foi a última grande manifestação nacional antes da pandemia. Foto: A Verdade
Diante da crise do coronavírus e da projeção de uma crise econômica mais profunda nos próximos meses, setores da própria burguesia (como evidenciou editorial recente do Financial Times) falam que os governos devem ajudar a economia promovendo investimentos e renda para os mais pobres, ou seja, praticar uma política antiliberal para ajudar a cobrir os prejuízos da própria burguesia. Bolsonaro, no entanto, insiste em manter o arrocho salarial, cortar salário dos servidores e seguir a retirada de direitos a ferro e fogo. Assim, quer ser mais realista que o rei e promover a política neoliberal dos banqueiros e do capital financeiro estadunidense a todo custo.
Por tudo que fez desde o início do governo, como retirada de direitos dos trabalhadores, congelamento dos salários, desemprego e venda do patrimônio público, Bolsonaro tem um enorme desgaste, que tende a crescer com o aprofundamento da crise do coronavírus e a demissão de Luiz Henrique Mandetta do Ministério da Saúde. As mortes que se multiplicam evidenciam que a retirada dos recursos públicos da saúde foi um crime de lesa-humanidade. Também a insistência de Bolsonaro contra o isolamento social e de que a Covid-19 é apenas um “resfriadinho” trarão consequências desastrosas para a população. Hoje já temos quase 70% da população contra esse governo.
Porém, não vivemos em uma democracia popular, em que a maioria do povo é que decide. Vivemos debaixo de um governo de fascistas que tem como principais ministros generais da ativa e da reserva. Também é um governo que representa os interesses da grande burguesia, que é uma ínfima minoria da sociedade e, por isso, teme o movimento operário e popular e tende ao fascismo, principalmente em momentos de crise.
Portanto, não devemos subestimar a possibilidade de o atual governo, sob o pretexto de o país viver uma calamidade pública, promover um golpe e decretar um estado de sítio. Para isso, os fascistas não precisam de apoio da maioria da população, basta contar com apoio das Forças Armadas e de uma parcela reduzida da população disposta a ir às ruas nos seus luxuosos carros. Lembremos ainda que o governo dos EUA, aliado de Bolsonaro, pratica uma política fascista que impulsiona correntes desta natureza na Europa e na América Latina.
Em almoço realizado na sede da FIESP, no último dia 03 de fevereiro, para os 250 maiores industriais de São Paulo, com a presença de Bolsonaro, o presidente da entidade, Paulo Skaf, afirmou que “O Brasil não está dando certo. O Brasil já deu certo”, declarando, assim, o apoio da grande burguesia ao fascista. Este apoio é firmado especialmente na política de Paulo Guedes, que promoveu a reforma trabalhista, a reforma da Previdência e dá continuidade, em meio à crise do coronavírus, a propostas como a Carteira de Trabalho Verde e Amarela e a retirada de direitos dos servidores públicos. Assim, o apoio ao fascista está condicionado à agenda de retirada de direitos que assegure a maior extração de mais-valia dos trabalhadores.
O fascista também tem o apoio da Confederação Nacional da Agricultura e Pecuária (CNA), representada por João Martins, que também é parte da minoria dos exploradores e representa a grande burguesia agrária. Em setembro de 2019, momento em que Bolsonaro fez um ridículo discurso na ONU exaltando a ditadura militar de 1964, Martins afirmou que Bolsonaro o representou, fazendo excelente discurso: “Defendeu a soberania nacional, esclareceu equívocos sobre a Amazônia e ressaltou o importante papel do Brasil na produção mundial de alimentos e na preservação do meio ambiente. Também afastou a tese de que o governo está colocando o mundo contra o agro brasileiro, defendendo não apenas o setor, mas toda a nação”.
Vale lembrar que esse foi o momento em que a Amazônia estava em chamas e que o agronegócio foi um dos principais responsáveis por este crime contra a natureza. Mas vejamos que, apesar da reafirmação do apoio da grande burguesia, os meses vão se passando e fica evidente a cada dia que o governo Bolsonaro vem se enfraquecendo e perdendo apoio popular. Porém, será defendido para que fique no poder por essa minoria enquanto for útil para a grande burguesia.
Nesse momento, apresentam-se algumas propostas políticas para retirada de Bolsonaro da presidência. O impeachment é uma delas. No entanto, com um Congresso Nacional altamente reacionário e antipopular como o atual, a única forma de forçar o impeachment seria a realização de grandes manifestações nas ruas. Mas, no momento, devido ao crescimento do número de mortes pela Covid-19, esta possibilidade não é viável. Desse modo, apostar que um Congresso Nacional que aprova leis contra os trabalhadores vai aprovar o impeachment sem o povo nas ruas é ignorar o papel das massas na luta política e propagar ilusões parlamentaristas.
Outra proposta apresentada é apelar para que Bolsonaro, que faz planos para governar 20 anos, renuncie. É como pedir para o diabo virar anjo. Alguns desses setores chegam até mesmo a afirmar que o general Mourão seria um “mal menor”. Esse é o caso do governador do Maranhão, Flávio Dino, do PCdoB: “Claro que Mourão não é do meu campo ideológico. Mas, se Bolsonaro entregar o governo para ele, o Brasil chegará em 2022 em melhores condições”.
Trata-se de um ledo engano e demonstra uma gigantesca ilusão de classes, uma total traição ao povo e sua história. Mourão é um general, representante ainda mais direto dos interesses do setor ultraconservador e fascista das Forças Armadas. Como Bolsonaro, Mourão defende a tortura, tenta falsificar a história escondendo os crimes cometidos pelas Forças Armadas e pela grande burguesia durante a Ditadura Militar, sendo, portanto, um defensor do aumento da repressão contra o povo e a classe trabalhadora.
Dessa maneira, nossa tática de aprofundar o desgaste deste governo, manter e impulsionar a palavra de ordem “FORA BOLSONARO! POR UM GOVERNO POPULAR!” é, sem dúvida, a mais correta. Primeiro, porque é a palavra de ordem que está na boca do povo. Foi gritada por milhares de mulheres de todas as correntes políticas no 8 de março, sendo esta a última manifestação nacional contra o fascismo. Segundo, taticamente, no momento de avanço da pandemia do coronavírus em que nos encontramos, devemos ter como principal atuação a solidariedade aos trabalhadores e trabalhadoras para enfrentar essa barbárie nas periferias e denunciar o caráter antidemocrático e antipopular do governo. Terceiro, devemos ampliar os panelaços nas periferias, sendo esta uma forma de protesto importante, criada no fogo da batalha e capaz de desgastar o governo, dialogando com a consciência da classe trabalhadora, dizendo que o governo com sua política aumenta a fome e a miséria e só governa em prol da classe rica e dos EUA.
Assim, prepararemos o terreno para derrubar o Governo Bolsonaro pelas mãos do povo e fortaleceremos uma alternativa popular para o desfecho dessa crise, qual seja, a construção de um poder popular e do socialismo, única saída verdadeira para termos um país livre e independente. Da mesma forma, romperemos com as ilusões do reformismo e da pequena burguesia de que derrotarão o fascismo no âmbito institucional promovendo um impeachment ou mesmo pedindo, por favor, para que Bolsonaro renuncie.
3 – Derrotar o imperialismo capitalista é uma tarefa fundamental
Solidariedade internacionalista a Cuba e à Venezuela. Foto: G1
Precisamos ter a consciência de que enfrentamos o fascismo internacionalmente. Por isso, a classe trabalhadora, em nível mundial, é nossa principal aliada na luta contra os imperialismos e pelo socialismo. Não basta levantar a bandeira contra a política neoliberal e passar a defender o neodesenvolvimentismo, pois o capitalismo é brutal em todas suas formas e tem como único objetivo despejar a crise nas costas da classe trabalhadora.
O capitalismo desenvolvimentista não é alternativa ao neoliberalismo, pois ambos são exploradores da mais-valia dos trabalhadores. Nosso objetivo deve ser destruir o capitalismo, e não apenas a política neoliberal dos EUA. Os neodesenvolvimentistas cumprem o papel de abrir caminho ao fascismo e são a outra face da moeda do capitalismo.
Prova disso foi o que ocorreu na Segunda Guerra Mundial, quando os EUA e a Inglaterra, tidos como democratas naquele período, deixaram a chama nazifascista bater-se contra a pátria socialista, só dando apoio na Frente Oriental depois de perceberem que a URSS sairia vitoriosa, e com grande chance de que seriam também vítimas do nazismo.
Quem é socialista e comunista tem como principal obrigação defender a classe trabalhadora e defender seus interesses presentes e futuros. Portanto, devemos trabalhar em nível internacional para que a classe trabalhadora não seja levada a uma luta interimperialista, mas que lute por sua libertação, pois, como internacionalistas que somos, fazemos parte do mesmo exército do mundial do proletariado.
Os trabalhadores e o povo da Venezuela estão na linha de tiro do imperialismo estadunidense, portanto, nossa solidariedade aos venezuelanos e nossas ações principais devem ser no sentido de derrotar esse imperialismo fascista e expulsá-lo da América Latina. Apoiamos, como internacionalistas, a classe trabalhadora que luta contra o imperialismo, mas que também luta pelo socialismo. Defendemos que esta classe possa, no processo revolucionário em curso, tomar consciência e declarar o caráter socialista da revolução. Não podemos aceitar sermos instrumento nem do imperialismo dos EUA, nem do imperialismo chinês e russo, uma vez que estes investem financeiramente na Venezuela, visando a mantê-la como área de influência econômica e geopolítica, gerando, de fato, igual dependência e exploração para os trabalhadores.
A revolução socialista é a única forma de derrotar definitivamente o imperialismo e a exploração dos trabalhadores. Essa luta é a luta do presente, atual e estratégica para a classe trabalhadora. Quem pensa o contrário, não faz mais que defender a manutenção da exploração do homem ou considerar este objetivo algo utópico. Para que os trabalhadores possam decidir seu destino e sua autodeterminação é fundamental fazer uma revolução proletária.
Trabalhadores e trabalhadoras de todo o mundo, uni-vos!
Wanderson Pinheiro e Leonardo Péricles, membros do Diretório Nacional da Unidade Popular (UP)
[1] Apesar das visíveis disputas políticas de Bolsonaro com outros representantes da grande burguesia, como Dória e a Globo, no fundamental, não divergem quando se trata de aumentar a exploração sobre a classe trabalhadora e a retirada de direitos – como vimos no caso da Reforma da Previdência, da PEC dos Gastos e no Pagamento da Dívida Pública, dentre outras medidas antipopulares.
São Mateus tem colagem lembrando nomes e referências na luta do Povo Negro no Brasil e no Mundo
Foi realizado no bairro do Vila Flávia, São Mateus, Zona Leste de São Paulo, na semana do 20 de Novembro uma ação de colagem de nomes e referências negras na história da luta do povo negro e referências da periferia. Jovens do bairro espalharam nomes de homens e mulheres da luta antiracista como Luis Gama, Marielle Franco, Luisa Mahin, da luta anticapitalista como Angela Davis, Carlos Marighella, além de muitas referências como Emicida, Negotinho, Mano Brown, Mestre Moa, e homenagem a crianças mortas pelo Estado como a menina Ágatha Félix, de 8 anos, morta pela PM do RJ, e do menino Lucas Eduardo, de 14 anos, morto em Santo André pela PM de SP.
O mês de Novembro é um mês de agitação e propaganda sobre a luta do povo negro mas também de reforçar a importância da organização para enfrentar um sistema e um governo que tem aprovado medidas para aumentar o genocídio diretamente, autorizando ainda mais a impunidade da PM, ou indiretamente, privatizando o SUS, que atende em maior parte a população negra, precarizando o trabalho, feito em maior parte pela população negra. Esses e outros fatores que fortalecem ainda mais o racismo estrutural, ferramenta de submissão econômica e cultural do sistema capitalista. Para fazer frente de forma efetiva a quem nos mata e proteger nossa população e juventude negra de forma efetiva, precisamos lembrar nesse mês de Novembro de nos organizar em um movimento popular de porte nacional, mantida pelas forças e recursos do povo e movido pelos interesses da luta da classe trabalhadora no Brasil.
Lucas Nascimento Coordenador Nacional do Movimento de Luta nos Bairros, Vilas e Favelas / MLB SP
Durante a manhã dessa sexta-feira (22), Mauá, município do ABC paulista, amanheceu com os ônibus na garagem, e manifestações no terminal central: trabalhadores da Suzantur, transportadora turística privada responsável pelas linhas de ônibus da cidade, declararam greve contra a revogação contínua de direitos.
P. O.*, trabalhador da Suzantur e integrante do turno da tarde, alegou que a mobilização entre os trabalhadores começou quando um motorista não recebeu o depósito do vale salarial, benefício garantido pelo contrato. Contudo, esse fato foi apenas o estopim: os motoristas da Suzantur sofrem com a falta de pagamento dos salários, assédio moral, horas extras compulsórias e expedientes sem pausa para o banheiro no cumprimento das dezenas linhas que a cidade de Mauá possui.
Além da falta de pagamento de salários, recusa do depósito de benefícios, M. Q.*, trabalhador do turno da manhã, declarou ao Jornal A Verdade que as condições de trabalho pioram diante das jornadas extensas. “Cheguei a trabalhar durante vinte dias seguidos. Aqui não tem respeito”.
Apesar do posicionamento da empresa, que caracterizou a paralisação como “indevida”, a greve foi vitoriosa, e garantiu que o depósito do vale salarial ocorresse. Os ônibus voltaram a circular a partir das 14h.
*Os nomes dos trabalhadores que concederam depoimentos ao Jornal A Verdade foram alterados.
Gabriela Torres – Movimento de Mulheres Olga Benário
SÃO PAULO – Neste domingo, 17, milhares de pessoas foram à avenida Paulista, no centro de São Paulo, em solidariedade ao povo boliviano e contra o golpe de Estado sofrido por Evo Morales. O ato foi chamado pelo Comitê Brasileiro de Solidariedade ao Povo Boliviano Contra o Golpe, e contou com a presença de crianças, estudantes e trabalhadores da comunidade boliviana residente, além do apoio de muitos brasileiros.
As bandeiras boliviana e Whipala, símbolo da plurinacionalidade do país e da cidadania dos povos originários, foram firmemente tremuladas por todo o ato. Palavras de ordem também marcaram a manifestação, destacando o repúdio ao golpe de Estado, a resistência popular pela democracia, e denunciando o fascismo promovido por figuras da extrema direita do país, como a senadora (autoproclamada presidente) Jeanine Áñez e o empresário multimilionário Luis Fernando Camacho.
Através de um manifesto, distribuído no ato, o Comitê Brasileiro de Solidariedade ao Povo Boliviano Contra o Golpe afirma: “A luta do povo boliviano contra o golpe, contra Camacho, contra o fascismo, contra o racismo e a extrema direita, é uma luta que deve receber a solidariedade de todas as pessoas e da classe trabalhadora de todo o mundo que defendem as liberdades democráticas.” O manifesto também pontua: “Não reconhecemos como presidente da Bolívia a autoproclamada Jeanine Áñez, uma fraude, assim como Juan Guaidó, o autoproclamado presidente da Venezuela.”
O golpe na Bolívia representa uma ofensiva de setores extrema direita, aliada do imperialismo dos EUA e de grandes grupos empresariais e especuladores do mercado financeiro. Os diversos povos bolivianos que se erguem em defesa da democracia resistem ao golpe há semanas, como os lutadores do Chile, Equador e Haiti, que rechaçam ataques das elites do poder econômico. Com os últimos acontecimentos, desmancham-se as ilusões com o imperialismo, com a conciliação com grandes ricos e exploradores da classe trabalhadora. A real saída para a América Latina, cada vez mais, aponta para o poder popular.
Na manhã desse sábado, 14, centenas de pessoas tomaram o centro de Santo André para conclamar o Grito dos Excluídos e Excluídas do ABCDMR. O ato começou com um café da manhã coletivo, uma caminhada pela rua principal da cidade terminando com uma homenagem a brasileiros que deram a vida por uma nação mais justa e igualitária. O ato contou com adesão e organização de diversos movimentos sociais, ambientalistas, partidos de esquerda, movimentos populares do campo e da cidade, movimento estudantil, de mulheres, pastorais sociais e religiosas de diferentes matrizes e entidades sindicais.
O Grito dos Excluídos e Excluídas acontece há 25 anos e esse ano ecoou em mais de 200 cidades e em todas as capitais do Brasil. Esse movimento nasceu da necessidade de dar voz ao povo, às minorias e à população historicamente excluída pelo Estado burguês, que segue interesses de banqueiros lucrando com a miséria do nosso povo, deixando em segundo plano direitos básicos como: saúde, moradia, transporte, trabalho, informação e vida digna.
Foto Reinilson Câmara
“A vida em primeiro lugar! Este sistema não vale: LUTAMOS POR JUSTIÇA, DIREITOS E LIBERDADE” foi o lema do 25º grito dos excluídos. A marcha em defesa de direitos sociais e da luta contra o desemprego, levantou vários problemas estruturais como encarceramento em massa, genocidio da população negra, feminicídio, transfobia, lgbtfobia, cortes na educação e a “reforma” da Previdência, promovido pelo governo fascista de Jair Bolsonaro.
Também foi pauta do ato a questão do meio ambiente, por conta do aumento das queimadas, do avanço do desmatamento na Amazônia, dos crimes da Vale em Brumadinho e Mariana, em Minas Gerais. Além disso, foi erguido a bandeira contra o projeto do centro logístico de Paranapiacaba, proposto pelo prefeito de Santo André, Paulo Serra (PSBD), que ameaça uma área de proteção ambiental com importantíssimo valor histórico nacional, turístico, paisagístico e de serviços ambientais como provisão de águas para a Represa Billings.
Por fim, o ato do ABCDMR terminou com homenagens aos verdadeiros heróis da pátria, que lutaram por um país mais justo e igual, por meio de uma intervensão cultural com fotos e palavras de ordem. Nomes como Marielle Franco, índio Galdino , Zumbi dos Palmares, Dandara dos Santos, Milton Santos, Elenira Resende, Carlos Mariguella, Chico Mendes, Carolina Maria de Jesus e Manoel Aleixo foram lembrados e homenageados.
Foto Cadu MachadoFoto Reinilson Câmara
Reinilson Câmara Filho – Unidade Popular pelo Socialismo
Na última quinta-feira (15) cerca de 147 famílias foram despejadas numa ação truculenta e violenta promovida pela Polícia Militar do estado do Rio de Janeiro com ordens do governo estadual em Monte Alto, bairro do segundo distrito de Arraial do Cabo na Região dos Lagos. O Movimento de Luta nos Bairros, Vilas e Favelas – MLB esteve presente no local no dia seguinte junto ao Jornal A Verdade para acompanhar a situação das famílias e prestar solidariedade e apoio. “Foram momentos de terror, eram mais de 40 viaturas, trator, helicóptero, drone, canhão de água, centenas de policiais encapuzados e armados até os dentes. Parecia que estávamos em guerra.” contou uma moradora. Outro morador continuou: “quando os policiais chegaram por volta das 5 horas da manhã, dissemos que tínhamos uma liminar da justiça garantindo que poderíamos ficar ali até que a prefeitura apresentasse uma outra solução de um local decente para essas famílias morarem. O comandante da operação se recusou a ver o nosso documento e tampouco nos deixou ver o documento que ordenava a realização daquela operação. Dali em diante começou o terror, jogaram bomba de gás lacrimogêneo, spray de pimenta, bala de borracha em todos, acertando inclusive grávidas, crianças e idosos sem a menor capacidade de resistência dos moradores. Daí em diante, destruíram nosso sonho. Passaram o trator por cima das 147 casas construídas com muito esforço coletivo por todos nós”.
Foto: Marcela Couri
A justificativa do governo para promover tal barbaridade, é de que aquela área pertence ao Parque Estadual da Costa do Sol e seria área de preservação ambiental. “Aqui só tem trabalhador, não tem bandido não. A gente não invadiu a terra não porque queremos destruir o meio ambiente. Só estamos aqui porque não temos outra opção.” disse uma moradora. Em áreas ao redor do “projeto” (como foi apelidado o local pelas famílias) existe um condomínio enorme, garagem náutica e um outro terreno de milhares de metros quadrados que pertencem à construtora Volendam, que tem carta branca para fazer o que quiser, sem se preocupar com as questões ambientais. “É necessário compatibilizar a preservação ambiental com o direito social do uso da terra. A dignidade da vida humana está prevista na legislação ambiental, e o direito à moradia digna foi reconhecido e implantado como pressuposto para a dignidade da pessoa humana, desde 1948, com a Declaração Universal dos Direitos Humanos e consta na Constituição Federal de 1988”, disse Ana Paula, conselheira do parque e militante da Unidade Popular pelo Socialismo. Essa é a realidade de cerca de 7,7 milhões de famílias em todo o Brasil, que compõe déficit habitacional em nosso país. São milhões de pessoas que moram em situações precárias, de favor, não tem mais condições de pagar aluguel e se encontram em situação desesperadora. Por outro lado, vemos milhões de imóveis e terrenos que não cumprem nenhuma função social, servindo apenas à especulação para gerar lucro para os ricos donos das grandes construtoras. O grande questionamento que ficamos nesse caso é: por que a Volendam pode explorar e degradar o meio ambiente em grandes proporções no terreno ao lado para obter fabulosos lucros, mas quando as famílias buscam um local pra morar são tratadas com violência pelo estado?
Foto: Marcela Couri
O estado do Rio de Janeiro tem a polícia que mais mata e que mais morre, é onde 5 jovens negros e pobres foram assassinados na última semana sem enquanto iam para a escola, para o trabalho ou apenas se divertir com os amigos. Enquanto nosso sangue escorre pelo chão da favela, o governador anda de helicóptero mirando sua arma na gente. Esse caso é reflexo da política genocida promovida pelo Estado Capitalista, de guerra aos pobres, guerra aos negros e negras. No “projeto restinga” os moradores respiram resistência, luta e esperança. Muitos dos que não tem pra onde ir, seguem tentando reerguer as construções e sobrevivendo através da solidariedade dos moradores da região que fornecem abrigo em suas próprias casas, doam roupas, alimentos e ajuda. A decisão dos moradores do projeto é de que só vão sair de lá se a prefeitura apresentar uma alternativa digna, “todos aqui tínhamos a nossa casinha, humilde, mas conquistada com muito suor e luta! Não vamos aceitar menos do que isso!” disse um morador durante assembléia realizada.
Foto: Marcela Couri
O Movimento de Luta nos Bairros, Vilas e Favelas – MLB segue acompanhando e prestando apoio a essas famílias. Acreditamos que morar dignamente é um direito humano e que se o Estado Capitalista prioriza os lucros acima da vida, queremos destruir esse Estado e construir no seu lugar um Estado dos trabalhadores, onde prioridade seja a vida digna, com emprego, moradia, educação, saúde, etc. Enquanto morar for um privilégio, seguiremos lutando pela reforma urbana e o socialismo!
A Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação (CNTE) realizou a 9º Conferência Nacional de Educação Paulo Freire com o tema “Educação Libertária e Democrática: construindo o movimento pedagógico Latino-Americano” entre os dias 26 a 28 de junho em Curitiba. O objetivo do encontro foi debater os desafios e rumos da educação brasileira, sendo estabelecida greve nacional no dia 13 de agosto contra os retrocessos do governo atual.
Dentre as pautas discutidas, os educadores se debruçaram sobre o Plano Nacional da Educação (PNE), sancionado em 2014 e com validade de 10 anos, com o propósito de direcionar esforços e investimentos para a melhoria do quadro educacional brasileiro. O Plano é composto por 20 metas contemplando todos os níveis educacionais que, apesar de muito promissoras, apenas uma foi cumprida de acordo com o Inep.
Destaca-se a meta 1, que diz respeito a universalização e democratização do ensino básico tendo como finalidade atender 100% das crianças de 4 a 5 anos matriculadas na pré-escola até 2016, além de garantir 50% das crianças de 0 a 3 anos em creche até 2024. Segundo dados do Pnad, apenas 90% das crianças de 4 a 5 anos foram atendidas e somente 1/3 estão em situação de creche. Essa defasagem é vivenciada principalmente nas periferias, onde as filas de espera por vaga nas creches podem levar anos colaborando com a desigualdade enfrentada pelas mulheres na participação no mercado de trabalho.
A estagnação e não cumprimento das metas são resultados dos ataques que o sistema educacional brasileiro sofre constantemente. Prova disso é a emenda constitucional nº 95 implementada pelo governo Temer que congela, durante 20 anos, investimentos públicos direcionados a saúde e educação. Além do corte de 30% das verbas destinadas às universidades e institutos federais, anunciado recentemente pelo ministro da educação. As duas ações fazem parte de um projeto que confronta diretamente as diretrizes do PNE, uma vez que a falta de recurso penaliza o avanço das melhorias no ensino público.
Além disso, a militarização das escolas incentivada por Jair Bolsonaro, visa instituir um sistema onde a censura é peça chave, ferindo a efetivação da gestão democrática de educação proposta pela meta 19 do Plano. Na mesma linha, o descumprimento se fez presente quando aprovadas as mudanças no “Novo Ensino Médio” pelo Conselho Nacional de Educação, órgão vinculado ao MEC, que libera o ensino a distância totalizando 20 e 30% de carga horária, respectivamente no período diurno e noturno, acentuando ainda mais a defasagem no ensino público.
Essas ações com embasamentos apenas voltados aos interesses capitalistas, sem considerar a realidade do povo brasileiro, são responsáveis por colocar a situação educacional do país em risco. O desleixo com que se é tratado o ensino público foi demonstrado nos últimos dados coletados pelo IBGE, provando que a educação ainda não é para todos. Cerca de 40% da população com mais de 25 anos não chegaram a concluir o ensino básico, e daqueles que concluíram, o maior percentual está entre os brancos (55,5%) ao passo que entre os negros, o número cai substancialmente (40,4%). Considerando que a maior parte da população brasileira é negra, o acesso a educação no Brasil ainda é limitado e desigual pela negligência do governo em promover políticas públicas que incentivem o acesso à todos.
Analisando todo este quadro, os educadores presentes da 9ª Conferência apresentaram um manifesto repudiando as sucessivas contra-reformas liberais no setor educacional e o desmonte das políticas educacionais e sociais que atacam os direitos da população, especialmente da população mais marginalizada (mulheres, negros, índios e LGBTs). Além disso, também criticaram a proposta da Reforma da Previdência e as conseqüências que irá trazer principalmente para as professoras de rede pública, aumentando 10 anos a idade mínima para aposentadoria. Ao final do manifesto, os profissionais conclamam a luta incessante e o compromisso para com a educação, convocando todas as instituições de ensino para uma grande greve geral no dia 13 de agosto.
Diante dessa conjuntura, se fazem necessárias as críticas, a mobilização e organização dos estudantes, trabalhadores e servidores públicos em defesa do ensino de qualidade no país e contra a destruição da aposentadoria, como foram feito nos dias 15 e 30 de maio pela educação, e no dia 14 de junho na Greve Geral que mobilizou categorias ao redor do país e que foram responsáveis pelo fechamento de diversos pontos estratégicos das cidades.
Foto: Jorge Ferreira/Jornal A Verdade
“Numa palavra, a educação se tornou a grande esperança, a grande promessa da nacionalidade e da democracia. Com espanto, porém, vemos que, no atual governo, ela é apresentada como ameaça.” – afirmam ex-ministros em carta contra as políticas educacionais do governo Bolsonaro.
Inimigo da Educação, o governo Bolsonaro vem promovendo um verdadeiro sucateamento do ensino público no país. Em abril, através de sua conta no twitter o atual presidente fascista insinuou que os cursos de ciências humanas não mereciam investimentos, adiantando a pretensão de seu governo de cortar verbas do ensino superior. Mesmo com a revolta da população diante de tais alegações, pouco tempo depois, o governo através de seu Ministro da Educação, Abraham Weintraub, anunciou o corte de 30% nas verbas das universidades sem diálogo prévio com a comunidade acadêmica, impactando diretamente o funcionamento dos institutos federais. Na ocasião, o governo alegou que os cortes no ensino superior eram necessários para garantir o investimento na educação básica. Contudo, isso se mostrou como mais uma de suas mentiras contra a população mais pobre, ao estender o corte orçamentário para toda a pasta de educação, incluindo os programas de ensino infantil ao médio.
Frente a essa situação de completo desmonte das políticas educacionais do país, seis ex-ministros de governos anteriores se reuniram em um evento promovido pela Universidade Estadual de São Paulo (USP) e redigiram uma carta aberta em oposição às medidas do governo Bolsonaro. Na carta, José Goldemberg (1991-1992), Murílio Hingel (1992-1995), Cristovam Buarque (2003-2004), Fernando Haddad (2005-2012), Aloizio Mercadante (2012-2014) e Renato Janine Ribeiro (2015), expressaram sua preocupação com “as políticas para a educação adotadas na atual administração”, enfatizando que a magnitude dos cortes promovidos no último período “podem ter efeitos irreversíveis e até fatais”.
De acordo com eles, nessa gestão, a educação deixou de ser vista como prioridade nacional e passou a ser tida como uma ameaça, enfatizando a postura do governo em ignorar especialistas da área atuando de “forma sectária, sem se preocupar com a melhoria da qualidade e da equidade do sistema, para assegurar a igualdade de oportunidade”. Em outras palavras, a carta converge com as denúncias realizadas pelos movimentos sociais e estudantis frente aos ataques de Bolsonaro. Para Beatriz Baria, militante do Movimento Correnteza de São Paulo: “cortar investimentos dos institutos federais e da educação básica, determinar o fim das bolsas para pesquisadores, é mais uma forma desse desgoverno vergonhoso de atacar nosso povo. Somos nós, a juventude pobre, que vai ser impedida de ter uma educação de qualidade, pra encher os bolsos dos grandes grupos privados, que fazem da educação mercadoria, como a Kroton Educacional”.
A carta denuncia ainda a perseguição e a censura impostas pelos governos aos docentes, ressaltando a importância do “respeito à profissão docente, que não pode ser submetida a nenhuma perseguição ideológica […] Convidar os alunos a filmarem os professores, para puni-los, é uma medida que apenas piora a educação, submetendo-a a uma censura inaceitável”. Em outro trecho, reforçam: “a autonomia universitária é uma conquista que deve ser mantida para garantir a liberdade e qualidade na pesquisa, formação e extensão”.
Ao fim do texto, os ex-ministros propõem a “formação de uma ampla frente em defesa da educação” e anunciam a criação de um “Observatório da Educação Brasileira dos ex-ministros da Educação, que se coloca à disposição para dialogar com a comunidade acadêmica e científica, sociedade e entidades representativas da educação, com parlamentares e gestores, sempre na perspectiva de aprimorar a qualidade da política educacional”.
Jady Oliveira União da Juventude Rebelião
[1] Kroton Educacional: a maior empresa privada do mundo no ramo da educação, um conglomerado que monopoliza e atua em função da privatização do ensino privado, em detrimento da educação pública, gratuita e acessível.
RIO DE JANEIRO Um ano após a execução da Vereadora Marielle Franco pela milícia, a deputada federal Talíria Petrone (PSOL-RJ) – assim como Marielle uma política negra, de periferia e LGBT – teve a solicitação de escolta negligenciada pela omissão do Governador Wilson Witzel, do Partido Social Cristão, ao negar o pedido de proteção à vida da deputada que foi realizados após receber ameaças de morte.
Talíria recebe ameaças de morte desde 2016 quando foi eleita vereadora em Niterói/RJ. As ameaças vêm pelas redes sociais ou até por telefonemas feitos à deputada ou a sede de seu partido. A pouco mais de dois meses a polícia federal alertou ter encontrado na dark web informações sobre o planejamento de um atentado à vida da deputada.
Graças à investigação da PF, Talíria está sendo escoltada em Brasília, mas nas vezes em que retorna a Niterói, cidade na qual foi eleita e também onde recebeu as ameaças, anda desprotegida pois a solicitação enviada pelo presidente da Câmara dos deputados, Rodrigo Maia (DEM), foi negada pelo Governador Witzel, que nem sequer enviou uma resposta a Câmara.
Em abril deste ano a deputada foi chamada de “verme” pelo líder da bancada ruralista, Alceu Moreira (MDB-RS), durante uma audiência pública após reações da parlamentar às declarações do também deputado. Recentemente, após as denúncias de ameaças de morte, o filho do presidente, o deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), debochou em seu twitter dizendo que Talíria era hipócrita por se declarar desarmamentista e pedir escolta, alegando que a deputada deveria pedir “iluminação”.
A história da Professora Talíria em muito se confunde com a história de Marielle Franco. Ambas ameaçadas de morte e odiadas pelos conservadores, falsos moralistas e pelos milicianos. O que acontece é que em um país que possui cotas para que as mulheres enfim consigam ocupar o espaço político que é ocupado majoritariamente por homens brancos, héteros e ricos, existir duas mulheres negras, periféricas e LGBTs, que foram eleitas como as vereadoras mais votadas em suas respectivas cidades na primeira eleição que concorreram, é inaceitável.
É um atentado à democracia o estado do RJ não exercer seu papel e zelar pela vida de uma deputada que é ameaçada apenas por lutar pelos direitos das mulheres, dos negros, dos pobres e dos LGBTs. Sabemos as causas da omissão do governador reacionário Wilson Witzel, também sabemos de qual lado está o filho do presidente e amigo da milícia, Eduardo Bolsonaro, que ironiza as ameaças contra Taliria assim como ironizava as denúncias feitas por Marielle.
Mas não podemos esperar a morte de ninguém mais, muito menos de alguém que luta para defender o direito à vida de milhões de pessoas abandonadas pelo estado e massacradas pelo sistema capitalista.
Entre as principais mudanças apresentadas pelo governo Jair Bolsonaro para a segurança publica do país, está o projeto de Lei Anticrime divulgado pelo Ministro de Justiça e Segurança Publica Sérgio Moro.
Exército brasileiro assassina jovens negros inocentes na intervenção do RJ
O projeto que prevê alterações de 14 artigos do Código Penal e do Código Eleitoral não demonstra nenhuma novidade sobre as causas dos crimes, muito pelo contrário, coloca no centro da política de segurança pública o método da punição, única e exclusivamente como forma de redução da criminalidade.
Hoje já existe uma diferenciação dos
procedimentos de casos de homicídios envolvendo policiais em serviço. Por
exemplo: quando um policial comete um homicídio e alega legitima defesa, o
crime é juridicamente justificado como “morte por intervenção de agente de Estado”.
Esse procedimento hoje é conhecido como “Autos de Resistência”, e é responsável
por ser o principal argumento legal para justificar os assassinatos produzidos
pela policia, quase sempre sendo o processo arquivado. Porém, caso uma pessoa
comum mate e alegue legítima defesa, haverá um inquérito policial para apuração
do homicídio, que na maior parte dos casos termina em reclusão, ou seja, pena
de seis a vinte anos de prisão.
Nesse sentido, um dos principais eixos do
pacote apresentado está a excludente de ilicitude, nesse caso, mesmo que
o agente policial tenha praticado um homicídio, ele não será considerado um
criminoso, excluindo o ato ilícito. O Código Penal prevê três situações em que
se aplica a excludente de ilicitude: estado
de necessidade, legitima defesa e o estrito cumprimento do dever legal. Uma
das propostas que está no pacote de Sergio Moro é de flexibilização e ampliação
da excludente de ilicitude em favor de policiais.
Em situações em que a polícia precisa
executar uma prisão em flagrante, o ordenamento jurídico brasileiro autoriza o
policial em ação á exercer o estrito cumprimento do dever legal que é prender. Atualmente no Brasil, não
existe o dever legal de matar. Não
se justifica seguir atirando até causar a morte. Com a mudança proposta pelo
pacote, o texto de lei deixa claro: caso os policiais durante o trabalho
estiverem em situações de medo, surpresa
ou violenta emoção, e vierem a matar ou ferir alguém não poderão serem
punidos. Utilizando do pretexto da legitima defesa, o projeto formaliza e
amplia a violência e os assassinatos
praticados pela policia.
Um levantamento feito pelo Núcleo de Estudos da Violência da USP e o Fórum
Brasileiro de Segurança Pública, mostrou que houve um aumento de 18% de pessoas
mortas por policiais de
2017 para 2018 (5.225 para 6.160 mortes ao ano), ressaltando que essas
mortes são as que estão registradas no balanço anual. O ultimo relatório produzido pela Anistia
Internacional demonstrou que as forças policiais brasileiras são as que mais
matam no mundo.
A redução da violência urbana foi
destaque nas eleições de 2018, demonstrando uma enorme preocupação da população
com a segurança publica. Lembrando que essa era uma das principais promessas e
bandeiras das campanhas de candidatos, como Bolsonaro, João Dória, Wilson
Witzel. E com razão o povo, principalmente mais pobre tem clamado por justiça e
segurança. Os princípios constitucionais, em especial a dignidade humana, têm
sido violados e o brasileiro sofre no seu cotidiano.
Herança da ditadura
“Força
auxiliar e reserva do Exército” a Polícia Militar foi criada em 1969 sob
decreto-lei em pleno período de ditadura. Desde então e mesmo após a
democratização do Brasil em 1988, esse braço violento do Estado continua
atuando como há mais de 50 anos. Mesmo sendo hoje uma força à disposição do
Estado, a submissão é ao Exército autoritário brasileiro. Surge uma antinomia,
pois ao mesmo tempo em que polícia vem de polis,
do grego, cidadão, cidadania,militar vem do latim miles, milícia. Entende-se inclusive porque a militarização vê no indivíduo civil
um inimigo. O modo operante despreparado da polícia dá-se através do excesso de
violência, truculência e arbitrariedades. A tortura, por exemplo, é uma prática
cotidiana, comum e normal nas ações policiais na periferia adentro.
Com
o projeto de lei de Moro haverá um aumento de forças paramilitares. Esse
cenário aprofunda a impunidade
policial e é a semente para o nascimento de milícias, que no atualmente é o
grupo que mais oferece risco a segurança e vida do povo brasileiro, inclusive com comprovações já apresentadas pela investigação do envolvimento
direto desse grupo de extermínio com o brutal assassinato da ex vereadora e
militante Marielle Franco.
O Conselho de Direitos Humanos da
ONU solicitou que o Brasil despendesse maiores esforços para combater a
violência e projetar um fim à Polícia Militar, responsável por milhares de assassinatos.
Tudo isso fica muito claro quando vemos policiais formarem grupos de
extermínios e esquadrões da morte (criados no regime militar), carregados
de discurso de ódio, agindo de forma
criminosa, truculenta e autoritária. É urgente e necessário por fim a
militarização da polícia, e pensarmos um outro modelo de segurança pública para
não mais vivermos o cotidiano da barbárie e da escravidão, pois os chicotes de
ontem são as balas dos fuzis dos opressores de hoje!
O fuzilamento de Evaldo dos Santos, músico, num bairro periférico do Rio de Janeiro enquanto passeava com sua família na tarde de um domingo, representa o avanço do estado fascista que já não se importa em manter a aparência de um estado democrático de direito.
Ato na paulista em homenagem a Evaldo, músico assassinado pelo exército com 80 tiros. Foto: Jorge Ferreira
Com indignação o povo assistiu o presidente da república, 6 dias após o assassinato, vir à público se manifestar sobre o caso, limitando-se a defender a instituição que disparou 80 tiros e ceifou não só a vida de Evaldo, mas também de Luciano Macedo, catador de recicláveis, que tentou ajudar a família a sair do veículo no momento da ação criminosa. Segundo o presidente: “O exército não matou ninguém!” Entretanto, é equivocado pensar que essa barbárie é consequência exclusiva da chegada da extrema direita ao Poder, muito menos apenas de resquícios da ditadura militar. Na verdade o estado policialesco nunca deixou de estar presente nas periferias do Brasil.
No mundo, o 1% da população mais rica tem mais riqueza que os outros 99% somados. Os 6 homens mais ricos do mundo tem mais posses do que a metade mais pobre, mais de 3,5 bilhões de pessoas. Esse abismo social é também a realidade do Brasil, que tem uma das maiores desigualdades do mundo. Neese contexto, ao povo negro é reservado apenas os piores postos de trabalho, os piores salários e os barracos das grandes favelas. A imensa maioria da população negra é extremamente pobre e vive sob todas as formas de vulnerabilidade.
O desemprego é enorme e o varejo do tráfico termina sendo um desses postos de trabalho reservados especialmente para a juventude negra das periferias. Mesmo cumprindo uma tarefa desse negócio que gera enormes lucros para a burguesia, que utiliza seus bancospra lavar esse dinheiro, e por estar na ponta, mais visível e sustentando fuzis nas mãos, os jovens negros são vítimas de um discurso de criminalização e de uma política repressiva e genocida que assassina 66 mil pessoas por ano no Brasil, um verdadeiro índice de guerra civil. 78% desses jovens são assassinados por conta da sua cor da pele, por serem negros.
“É que cada tempo histórico tem suas perguntas sobre o passado, pois cada conjuntura produz uma história para justificar o seu presente.” É assim que Marielle Franco começa a demonstrar em sua tese de mestrado a importância de compreendermos nosso passado recente e o processo de implementação do neoliberalismo que o Brasil passou nas últimas décadas. Apesar do estudo da vereadora assassinada se concentrar na política de segurança pública do estado do Rio de Janeiro através das Unidade de Polícia Pacificadora, traz também importantes esclarecimentos sobre as causas do genocídio de negros e negras no país todo.
É verdade que desde a formação do estado brasileiro há uma política de extermínio daqueles que foram escravizados, e desde então diferentes ideologias foram utilizadas para perpetuar o poder na mão de uma minoria enquanto o povo dispõe de uma vida miserável. Mas também é urgente compreender as engrenagens da fase atual do capitalismo para traçarmos estratégias para a sua destruição. Nesse sentido que Marielle desmascara o estado penal vigente nas periferias como estrutura central do neoliberalismo no Brasil.
Nessa fase da crise do capitalismo, onde a elite econômica tenta enfiar goela abaixo reformas para aumentar seus lucros, mesmo que às custas da retirada de direitos trabalhistas e sociais, é necessário uma escalada no estado penal para conter aqueles que se encontram “excluídos” dessa sociedade. É por isso que na medida que os governantes avançam na destruição de direitos sociais, aumenta-se a repressão nas periferias, pois esses são os territórios tidos como inimigos do estado, que serve exclusivamente aos interesses da classe dominante.
A administração pública por sua vez, concentra esforços em passar a impressão que esse modelo de segurança pública, que invade casas, mata e tortura, se legitima em nome da proteção de toda sociedade. Essa é a tática da “guerra às drogas”, justificar o genocídio e o encarceramento em massa como necessário para manter a ordem.
Para tanto, o estado exerce papel crucial na manutenção do projeto de dominação. Se nos bairros ditos “nobres”, o estado se faz presente nas ruas bem asfaltadas, nos parques bem arborizados, e em todo conjunto de políticas que promovem o acesso à cidade, nas periferias esse mesmo estado se faz presente exclusivamente através das forças militares, seja pela polícia, pelo exército, ou mesmo por grupos milicianos.
Essa guerra aos pobres, transvestida de pacificação, não se justifica apenas com o sadismo de uma elite branca, mas sim por interesses econômicos. O estado, representante da burguesia, não contente com as reformas neoliberais, também está comprometido com o lucro dos megatraficantes, dos milicianos, da indústria armamentista, da especulação imobiliária, etc.
Justamente por incomodar aqueles que lucram com o extermínio da população negra e escancarar a as engrenagens desse sistema que Marielle Franco foi brutalmente assassinada.
Um ano depois de sua morte, os 80 tiros disparados pelo exército no carro de Evaldo e sua família nos traz à tona a urgência de apontar as raízes desse projeto genocida. Trata-se do modus operandi de um estado neoliberal, que manteve as mesmas práticas inclusive nos governos ditos progressistas, período em que o encarceramento mais do que dobrou. Se no Brasil o capitalismo é forjado no extermínio da população da periferia, que na sua maioria são negros e negras, o fim desse extermínio também depende da superação desse sistema perverso.
O RACISMO COMO IDEOLOGIA DE DOMINAÇÃO
Segundo Clóvis Moura, “o racismo não é uma conclusão tirada dos dados da ciência, de acordo com pesquisas de laboratório que comprovem a superioridade de um grupo étnico sobre outro. O racismo é uma ideologia deliberadamente montada para justificar a dominação de um grupo sobre outro. É, portanto, uuma ideologia de dominação.
Acontece que após a abolição da escravidão no Brasil, a elite do país determinada a manter seu projeto de domínio, costurou outras roupagens para sustentar o novo regime econômico. Nesse momento ganha destaque a concepção eugênica que correspondia a uma política de embranquecimento da população e a uma teorização sobre características de personalidade inerentes às raças.
Dentre elas, se destaca o papel do direito penal na formação do imaginário popular do negro como figura naturalmente criminosa. Ainda no período da primeira república, o código penal tipificava como crime o que ficou conhecido como lei da vadiagem. Num contexto de séculos de escravidão, foi como prender as pessoas simplesmente por elas serem negras. Essa política foi aprimorada ao longos das décadas, mas sem nunca perder o viés ideológico de dominação sobre os corpos marginalizados.
A Liga de Higiene Mental, por exemplo, braço do nazismo e do arianismo no Brasil, se destacou como defensora “científica” dessa tese e defendia, entre outras bandeiras, salários eugênicos (quanto mais clara a cor da pele, maior deveria ser o salário), recompensa para famílias que procriassem seres “superiores”, punição para os “inferiores”.
O higienismo social presente na segregação territorial até os dias de hoje, é oriundo das políticas da burguesia desde a formação da nação brasileira. A verdade é que esse país foi constituído sob uma ideologia burguesa e racista, que nega ao povo sua própria história, como estratégia política para perpetuar uma estrutura excludente.
Sendo assim, torna-se uma ingenuidade combater o racismo apenas através do viés acadêmico ou estritamente científico, muito embora não possamos de maneira nenhuma, negar o combate também nesse terreno. Mas a verdade é que a boa e velha luta de classes ainda é a forma mais eficiente de enfrentar o racismo no Brasil. Como afirma Clóvis Moura, “a questão racial é essencialmente política e não apenas científica.”
Para superarmos o sistema político existente, o capitalismo, será necessário travarmos as lutas pelos interesses imediatos da classe trabalhadora, composta na sua maioria por mulheres e negros. Mas isso não bastará. Será necessário, e esse é o nosso desafio, apresentar outro modelo de sociedade que seja capaz de substituir a engrenagem capitalista.
Um sistema político e social que dê conta de distribuir toda a riqueza socialmente produzida, pondo fim à propriedade privada dos meios de produção e a todas as desigualdades sociais existentes na atualidade. Esse sistema, essa sociedade, tem nome e chama-se Socialismo.
População venezuelana vai às ruas e impede o golpe orquestrado pelos EUA
Uma tentativa de golpe militar foi realizada na Venezuela na
manhã desta terça feira, 30/04, como o intento de derrubar o governo legítimo
de Nícolas Maduro. Esta ação contou com o apoio incondicional dos EUA que
propicia todo auxílio aos golpistas que são, na verdade, subservientes do
imperialismo e realizam um discurso de apoio à “Liberdade” no país, mas com o
intuito de fazer o roubo das riquezas nacionais.
Logo pela manhã Juan Guaidó, o promotor principal do golpe, realizou pronunciamentos anunciando a tomada de uma base militar localizada na região leste de Caracas, a Base Aérea La Carlota. Também propalava a obtenção de apoio militar das forças armadas, buscando causar um levantamento em outras bases militares. Guaidó pronunciou-se ao lado de Leopoldo Lopez que estava preso desde 6 de agosto de 2017, cumprindo pena de quase 14 anos, por praticar atos violentos. O “Autoproclamado” presidente, com apoio dos EUA, busca usurpar o poder sem possuir o voto democrático do povo, por meio de uma ação violenta contra a maioria dos venezuelanos.
No entanto, oficialmente, o presidente da Assembleia Nacional Constituinte Diosdado Cabello, desmentiu a tomada da Base Aérea e disse que apenas um reduzido grupo militar se sublevou para promover um golpe de Estado. “Não foi vulnerabilizada nenhuma instalação militar no país, eles estão nas ruas no Distribuidor Altamira e nós estamos dirigindo as operações desde a Base Aérea La Carlota”, afirmou.
Maduro também se pronunciou nas redes sociais afirmando que conta com o apoio e lealdade do comando do exército, que diz está comprometido com a constituição e a soberania nacional. Precisa no entanto estar mais preocupado com o apoio popular permanente nesse processo, visto que as ações da direita tentam alterar a correlação de forças também nas massas, mas ao que tudo indica sem sucesso até o presente momento.
Mike Pompeo, o secretário de Estado norte-americano, afirmou em um comunicado “hoje, o presidente [autoproclamado] interino Juan Guaidó anunciou o início da Operação Liberdade. O governo dos Estados Unidos apoia integralmente o povo da Venezuela em sua busca pela liberdade e pela democracia. A democracia não pode ser derrotada”. Destila assim seu apoio incondicional as ações militares para derrubar o governo e mostra disposição de intervir nos assuntos internos da Venezuela.
Ernesto Araújo, ministro de relações exteriores do Brasil, se reuniu em Washington, no dia 29, com Mike Pompeo e demonstrou uma total submissão ao governo dos EUA fazendo coro a politica norte-americana “O Brasil apoia o processo de transição democrática e espera que os militares venezuelanos sejam parte desse processo de transição democrática”, declarou. Logo Bolsonaro também se pronunciou no Twitter “O Brasil está ao lado do povo da Venezuela, do presidente Juan Guaidó e da liberdade dos venezuelanos”. É uma vergonha como copiam a linguagem da farsa americana sem o mínimo de pudor tratando a palavra “liberdade” como um mantra para encobrir a tentativa de um golpe militar absurdo.
As declarações conjuntas do Brasil com os EUA nesse processo devem ser repudiadas pelo povo brasileiro, pois não podemos ser bucha de canhão para o imperialismo. Os interesses do Brasil estão muito mais ligados a uma política de relações internacionais pacíficas, de integração latino americana baseada na colaboração entre os países iguais, na solidariedade e no internacionalismo proletário. O povo brasileiro sempre foi a favou da soberania das nações e o princípio da auto-determinação, onde cabe a cada povo decidir seus destinos.
Todo apoio ao povo venezuelano! Abaixo o imperialismo!
A Unidade Popular (UP), partido político em formação, é fruto da iniciativa de centenas de ativistas dos movimentos populares, militantes comunistas, estudantes e professores e da necessidade de construir uma alternativa de esquerda revolucionária ao atual cenário nacional. Após um ano e meio de muito trabalho, a campanha pela legalização da UP entra em sua reta final. Para falar sobre as novas tarefas da militância, A Verdade entrevistou Leonardo Péricles e Fernanda Lopes, membros da Direção Nacional da UP, que afirmam que para o país sair desta crise, precisa passar por uma profunda transformação econômica e social que dê vida digna para o nosso povo, e, por isso “a UP luta pelo poder popular e pelo socialismo”.
Da Redação
A Verdade – Por que a UP foi criada?
Leonardo Péricles – Houve, nos últimos anos, um verdadeiro esgotamento dos atuais partidos ditos de esquerda. Alguns foram cooptados, tomando o caminho de aliança com as grandes empresas, bancos e empreiteiras. Outros, tentando fazer frente a esta traição, não conseguiram dialogar com a classe trabalhadora. De tão estreitos que são, não conseguem se apresentar como alternativa. O resultado é que, hoje, poucos empunham a bandeira de luta por mudanças estruturais, ou seja, a luta revolucionária contra o capitalismo, que passa pela mobilização de amplos setores populares, de milhões e milhões de trabalhadores, mulheres e homens, negras e negros, LGBTs, jovens, indígenas, comunidades tradicionais, enfim, a luta da imensa maioria do povo brasileiro.
Esta é uma luta por quebrar os enormes privilégios dos super-ricos, da burguesia brasileira. É, portanto, uma luta muito dura e nós, da UP, não consideramos que ela possa ser feita por um iluminado ou de forma isolada, mas sim no campo da luta de massas, na vida política partidária, dos movimentos, e lideranças que se reúnem em torno das ideias populares. Daí o próprio nome Unidade Popular. Acreditamos que, a partir de um chamado decidido e pautado na força do movimento popular, se incorporarão a este projeto milhões de lutadoras e lutadores. Foi para fazer este chamado que nasceu a UP.
Como vocês veem a atual situação do País? Qual a saída para a crise do Brasil?
Fernanda Lopes – O Brasil vive uma grave crise econômica e política que se agrava a cada dia, com vários retrocessos democráticos, perdas de direitos e uma calamidade social. O desemprego já atinge cerca de 24 milhões de pessoas. Hospitais, postos de saúde, escolas e universidades estão abandonados. A violência aumenta e o povo teme por sua vida todos os dias, especialmente as mulheres. O ilegítimo governo de Michel Temer, que só tem olhos para as classes ricas, aprovou a chamada “PEC dos Gastos”, congelando por 20 anos os investimentos públicos em saúde, educação e moradia. Aprovou, em agosto de 2017, a Reforma Trabalhista, que retirou direitos históricos dos trabalhadores conquistados em décadas de luta, e ainda quer aprovar a Reforma da Previdência para que trabalhadores e trabalhadoras não se aposentem mais. Para sair desta crise, o País precisa passar por profundas mudanças. Somente uma profunda transformação econômica e social que dê vida digna para o nosso povo, emprego, saúde e educação de qualidade, moradia, transporte e terra para os camponeses resolverá os problemas atuais vividos pelo povo. Por isso a UP luta pelo poder popular e pelo socialismo.
Leonardo Péricles – Devemos lembrar também que vivemos uma das mais profundas crises econômicas da história do capitalismo, desde 2008, e que se manifestou com mais força no Brasil a partir de 2013. A solução para esta crise é pôr fim a um sistema que protege uma minoria de ricos. E o programa para isso já é conhecido: taxar as grandes fortunas; impedir a especulação imobiliária e garantir a função social do solo; suspender o pagamento da dívida pública, que nos suga quase metade do orçamento federal; exigir o pagamento dos devedores da dívida ativa dos municípios e estados; impedir a sonegação de impostos pelas grandes empresas, inclusive dos devedores da Previdência; reduzir a jornada de trabalho sem redução do salário para gerar mais empregos. Desta forma, bilhões de reais serão arrecadados e serão suficientes para resolver os graves problemas sociais que nosso país vive. Mas, ao lado de todas estas lutas, não devemos deixar de disputar a maioria da população para um projeto ainda mais profundo de transformações sociais, que é a derrubada do capitalismo e a implantação do socialismo, em que os meios de produção das riquezas estejam nas mãos da classe trabalhadora e possam servir para a vida, e não para o lucro.
Nenhum dos atuais partidos defende essas propostas?
Fernanda – A maioria dos atuais partidos está pautada pela institucionalidade, por um respeito sagrado aos limites impostos pela burguesia, ao invés de se pautar pela necessidade de superação do capitalismo. E isso exige muito enfrentamento, rupturas, uma verdadeira revolução política. Um dos papéis que a UP se propõe a fazer é demonstrar que os partidos dos ricos enganam o povo a todo momento. Procuramos demonstrar pelo discurso e pela prática que nem todos os que fazem política são iguais, que há uma política corrupta e burguesa, mas que existem também políticos revolucionários e uma política proletária. Não se trata de moralismo, mas sim de colocar as coisas no seu devido lugar.
Por que o socialismo é superior ao capitalismo?
Leonardo – Em um país riquíssimo como o Brasil, o socialismo daria condições para todas as pessoas se apropriarem dos bens e serviços de que necessitem para viver. Já debaixo do capitalismo, somos um país subdesenvolvido, com uma economia comandada pelos EUA e com uma desigualdade social que aumenta a cada ano. Hoje a realidade é que as cinco pessoas mais ricas do País detêm a mesma riqueza da metade mais pobre da população. O socialismo também permite que a tecnologia desenvolvida seja aplicada para melhorar a vida do conjunto da população, e não para aumentar os lucros dos capitalistas. Só o socialismo garante acesso universal à educação, saúde, moradia, segurança, lazer. Isto já foi provado por décadas na União Soviética e em outras experiências socialistas. Uma nova onda de grandes transformações sociais virá neste século 21, pois são insustentáveis as contradições do capitalismo. Só no ano passado, por exemplo, 82% da riqueza produzida no mundo foi apropriada por apenas 1% das pessoas! A maioria dos trabalhadores ainda não tem a consciência de que este mundo novo de felicidade é possível, mas o socialismo está no sonho de todo trabalhador e trabalhadora consciente. Ao socialismo interessa socializar a riqueza das grandes propriedades, aquela que pode resolver o problema da moradia nas grandes cidades, pois no capitalismo há mais casas e prédios abandonados do que gente sem habitação. Já as grandes fábricas e empresas, as grandes extensões de terra, estarão à disposição do Estado, dirigido pela classe trabalhadora para que esta decida a prioridade e a função social de cada coisa.
Como veem as declarações de membros do Alto Comando do Exército defendendo um golpe militar?
Fernanda – Nessa conjuntura em que a luta de classes se encontra bastante acirrada, vemos manifestações das diferentes classes sociais e agrupamentos sobre as possíveis saídas para a crise. Dentro da falta de perspectivas de parte da população, setores do alto comando do Exército a serviço do setor mais reacionário da burguesia, dos fascistas, tentam também se apresentar como alternativa. Lembremos que todo este espaço para que generais possam se pronunciar sobre golpes de Estado, contrariando a própria Constituição sem sofrerem nenhuma punição, é algo muito grave e que não podemos aceitar. É preciso levar a cabo as recomendações da Comissão Nacional da Verdade para que se punam os torturadores e assassinos da época da ditadura militar. Como disse a grande companheira Amelinha Teles, em entrevista publicada na última edição do Jornal A Verdade: “Não há democracia com corpos insepultos”. Sabemos que a impunidade do passado leva à impunidade do presente, pois hoje milhares de jovens negros e pobres continuam sendo torturados e mortos nas periferias de todo o Brasil nas mãos de agentes estatais, principalmente das polícias militares.
Qual o balanço da campanha pela legalização da UP?
Leonardo – Estamos há 15 meses colocando em prática um ousado plano de legalização de um partido político revolucionário que almeja o poder. Para coletarmos as 600 mil assinaturas que conquistamos neste período, fomos a praças, bairros, vilas, favelas, ruas, empresas, fábricas, escolas, universidades e seguramente falamos para mais de dois milhões de pessoas que foram abordadas ou que escutaram nossas agitações. Nosso discurso, aliás, não é só para pedir uma assinatura, mas para politizar, para denunciar os crimes das elites contra o povo e convocá-lo para a luta.
Neste último período, conseguimos perceber como poucos o sentimento de nosso povo, seu desejo por mudanças no Brasil e, neste sentido, tivemos ainda mais certeza de que nossa decisão de criar a UP foi acertada. E fizemos isso sem depender de um centavo da Odebrecht ou de qualquer outra grande empresa, banco etc. Sem depender também de nenhum figurão da política tradicional burguesa, dependendo apenas de nossa militância e de apoiadoras e apoiadores que têm os mesmos propósitos que nós.
Chegamos agora a um momento decisivo, pois temos pouco mais de seis meses para cumprir nosso objetivo, já que a legislação impõe um prazo máximo de dois anos. Apesar de enfrentarmos regras extremamente antidemocráticas para a legalização de novos partidos, durante este período, que estamos chamando de período especial, nossa militância decidiu se dedicar integralmente à realização desta grandiosa tarefa. Chegaremos até o final de maio com pelo menos 800 mil assinaturas coletadas no total e já demos passos importantes no cadastramento das fichas de apoio no sistema online do TSE e nos cartórios eleitorais. Em três estados a UP já alcançou o número mínimo de apoiamentos exigido e já podemos constituir seus diretórios estaduais provisórios. Estamos trabalhando para que nos próximos meses cheguemos a pelo menos nove diretórios estaduais legalizados, que é outra exigência. Além disso, temos recebido adesões de muitos ex-militantes de outros partidos e organizações políticas, e até de grupos políticos que não se sentiam mais representados pelos demais partidos existentes.
O que falta para a UP conquistar a legalização?
Fernanda – Tudo o que fizemos até aqui, apesar de muito importante, não basta, pois precisamos validar 487 mil assinaturas nos cartórios eleitorais de todo o Brasil. Neste sentido, entramos no sistema do TSE com cerca de 150 mil fichas nestes últimos meses e nossa campanha continua até a legalização. Para termos êxito, estamos fazendo também uma campanha de arrecadação de finanças, pedindo contribuição às pessoas que acreditam em nossa causa para que possamos ter um caixa que permita arcarmos com os gastos desta reta final. Precisamos da ajuda de todas e todos para que possamos concluir esta campanha de dois anos. Estamos muito confiantes de que venceremos!
Movimento grevista dos trabalhadores Empresa de Pesquisa Energética mobiliza dezenas de pessoas no Rio de Janeiro. Pauta de reivindicações inclui valorização salarial e melhores condições de trabalho.
Redação RJ
TRABALHADOR UNIDO – Os trabalhadores e trabalhadoras da Empresa de Pesquisa Energética (EPE) estão em estado de greve há um mês, diante da falta de disponibilidade de diálogo por parte da direção da empresa. A decisão foi tomada após a diretoria declarar que não tem agenda para se reunir com os representantes da categoria, mesmo diante de uma série de reivindicações que seguem ignoradas.
A EPE, vinculada ao Ministério de Minas e Energia, é responsável por planejar o futuro energético do Brasil. Criada em 2004, a empresa pública surgiu como resposta às crises e os apagões do início dos anos 2000, com a missão de viabilizar segurança energética, planejar o crescimento da matriz elétrica e pensar o uso sustentável das nossas fontes de energia.
Seus estudos, projeções e diagnósticos ultrapassam o setor elétrico: abarcam petróleo, gás natural, fontes renováveis, eficiência energética e políticas estruturantes que orientam o futuro energético do país. Ao prover ao governo brasileiro de planos decenais e de longo prazo consistentes, e ao sustentar o desenho da matriz energética, a EPE constitui pilar estratégico para garantir segurança, soberania e transição justa no campo energético.
Trabalhadores lutam por direitos
Por trás dos grandes planos e relatórios que orientam o país, há trabalhadoras e trabalhadores precarizados, enfrentando salários defasados, sobrecarga e falta de valorização. Neste cenário, os trabalhadores reivindicam a recomposição integral das perdas salariais acumuladas ao longo dos anos, que, segundo a categoria, ultrapassam 22% desde maio de 2014. A proposta inicial da empresa de reajuste em apenas 4 %, abaixo da inflação do período, foi rejeitada de forma unânime entre os empregados.
A luta não se limita apenas à recomposição salarial. Entre as demais reivindicações, estão: o fortalecimento das cláusulas sociais (auxílio saúde e alimentação), a definição e implementação de novo Plano de Cargos e Salários, a preservação do regime de trabalho híbrido e a rejeição de uma norma interna que permitiria demissões arbitrárias. Denuncia-se também que a lentidão nas negociações, que já somam sete meses entre a entrega da pauta e a primeira proposta, agravam o desgaste institucional.
O impasse nas negociações reflete o caráter liberal e fiscalista do atual governo, que tem orientado suas políticas para o corte de gastos públicos e sociais às custas da desvalorização do trabalho e do trabalhador. A proposta apresentada à categoria, com índice inferior à inflação oficial, representa na prática uma redução salarial, travestida de reajuste.
Enquanto se ampliam benefícios a setores privados e se flexibilizam regras fiscais para o capital financeiro, o governo impõe arrocho e cortes sobre o serviço público. As negociações, conduzidas sem transparência e sem abertura real ao diálogo, revelam a tentativa de impor um modelo de gestão que subordina direitos trabalhistas às metas fiscais, ignorando o papel essencial que os servidores da EPE cumprem na formulação de políticas energéticas estratégicas para o país.
Essa paralisação não pode ser reduzida a uma mera reivindicação corporativa. Ela expressa o desgaste prolongado de profissionais que detêm especialização elevada, dos quais muitos com cursos de mestrado e doutorado conforme tabela abaixo e que sentem, na prática, que seu aporte é subvalorizado. A fuga desses talentos para as empresas privadas ou para outros cargos públicos é apontada como consequência direta do cenário de defasagem e insegurança. Considerando o quadro atual de pouco mais de 400 empregados após o último concurso, mais de 100 evadiram para outras oportunidades.
Por que as reivindicações devem ser atendidas? Porque uma estatal estratégica não se sustenta sem técnicos motivados e remunerados dignamente. Quando se fragiliza a base humana que gera os estudos e diagnósticos, compromete-se a qualidade dos planos energéticos. E isso reverbera sobre a sociedade brasileira: impactos na confiabilidade do sistema, atrasos em projetos, distorções em políticas públicas e aumento na conta de energia.
A atual greve da EPE expõe uma contradição do atual governo, que apresenta um discurso de compromissos climáticos, investimentos em “transição energética” e promover justiça social, mas que mantém segmentos essenciais do setor público precarizados. O movimento grevista da EPE é uma chamada ao Estado para reconhecer e valorizar quem planeja o futuro energético do Brasil é investir na soberania, no fortalecimento institucional e no direito dos servidores de exercer com dignidade sua missão.
Apesar do alto IDH das cidades do ABC paulista, o número de feminicídios e a violência contra as mulheres tem aumentado devido ao descaso das prefeituras da região
Isabella Catarina | Casa da Mulher Trabalhadora Carolina Maria de Jesus
MULHERES – A região do ABC Paulista é uma das mais ricas do estado de São Paulo e do Brasil. A história da região faz parte da história colonial do Brasil, devido sua proximidade à cidades importantes para a exploração das riquezas como Santos e São Vicente, o que desde o início fez ampliar a economia da região.
Com o passar dos anos, o ABC Paulista foi se consolidando como um gigantesco polo fabril, possuindo filiais de multinacionais como Volkswagen, Mercedes-Benz, Scania, Bridgestone e Ford. Todo esse processo contribuiu para o enriquecimento e povoamento das cidades, fruto do trabalho de milhares de homens e mulheres.
As sete cidades que compõem a região apoiam-se em dados estipulados pela burguesia como padrões para medir a qualidade de vida, em especial o IDH, liderado nacionalmente pela cidade de São Caetano do Sul.
Entretanto, mesmo com a manipulação de dados e as políticas de higienismo características das prefeituras das principais cidades (Santo André, São Bernardo do Campo e São Caetano do Sul), não é possível esconder o avanço da violência contra mulheres e crianças na região.
Violência contra a mulher
Apenas no ano de 2025, 7 mulheres foram vítimas de feminicídio no ABC. Santo André lidera o ranking, com 4 feminicídios. Mauá, São Bernardo e Diadema contam com um feminicídio cada.
Sabe-se ainda que os equipamentos públicos de acolhimento às mulheres em situação de violência são completamente insuficientes, já que a região conta apenas com uma Casa Abrigo, alvo de desmontes constantes, e nenhuma Delegacia da Mulher 24 horas e Casa de Passagem.
A situação fica muito pior quando trata-se da violência contra vulneráveis. Pode-se considerar que o ciclo violento inicia desde o momento em que as crianças ficam em estado de subnutrição, já que em 2023, 37% das crianças menores de 5 anos passavam fome.
As merendas oferecidas pelas escolas e creches públicas são fora dos padrões nutricionais estipulados para um bom desenvolvimento infantil, e as creches não possuem nem mesmo insumos básicos para higiene. Situações como essa geram casos como o da criança de 5 anos morta após ser atingida por um tronco de árvore na creche em São Bernardo, após a prefeitura recusar-se a fazer a poda preventiva, seguem sendo relativizados pelas prefeituras.
A violência sexual também é alarmante. De acordo com a Secretaria de Segurança Pública, o crime de estupro de vulnerável cresceu 10,42% no ABC, comparado ao mesmo período do ano passado. Apenas em São Caetano – a cidade com maior IDH no Brasil, o número de casos cresceu 50%, com 15 casos, existindo ainda uma investigação de um estupro dentro de uma creche.
Em Santo André, o aumento foi de 45,4%, e em Mauá 17,7%. Há de se considerar ainda a enorme subnotificação, principalmente por tratarem-se de menores de idade, que muitas vezes não compreendem a violência e contam apenas com os órgãos dos Conselhos Tutelares como meio de denúncia.
Movimento de Mulheres Olga Benário em manifestação exigindo justiça por Gabriela Mariel. Foto: Artur Luz/Jornal A Verdade
Descaso das prefeituras
É inadmissível que diante de tamanho avanço da violência as prefeituras mantenham-se caladas. Calar-se diante da violência contra mulheres e crianças é colaborar para que os números aumentem.
Mas não é de se surpreender que as prefeituras nada façam sobre essas problemáticas, como é o caso da prefeitura de Gilvan (PSDB) em Santo André, que se contentou em pintar uma faixa de pedestres foi pintada de rosa em “homenagem” às mulheres no dia 8 de março.
O desmonte dos equipamentos públicos é um plano meticulosamente articulado. O CAPS Infanto-Juvenil de São Caetano está com agenda lotada e a prefeitura altera a composição do Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente mediante portaria, o que é ilegal, apenas em benefício próprio.
Jornais e portais de notícia da burguesia, fantoches das prefeituras de direita preocupam-se mais em inventar mentiras sobre as ocupações de mulheres, que salvam as vidas que as prefeituras ignoram, do que em denunciar essa situação alarmante e violenta, à exemplo da perseguição política às coordenadoras da Ocupação da Mulher Operária Alceri Maria Gomes da Silva, em São Caetano.
Vereadores das cidades preferem propor projetos inconstitucionais, como o de proibir que qualquer servidor público da cidade fale a palavra aborto, como foi proposto pelo fascista Márcio Colombo (PSDB/Santo André e membro do MBL) do que propor medidas de enfrentamento à violência, um dos fatores principais para o serviço de abortamento ser uma questão de saúde pública.
A realidade é que tanto as mulheres quanto as crianças são vistas como inferiores na sociedade do lucro e da exploração. Não existe uma preocupação por parte dos burgueses e políticos corruptos com o futuro da humanidade, estes preferem ver seus bolsos cheios de dinheiro roubado do povo.
A solução para a violência é a organização popular para a construção de uma sociedade completamente nova, que vê as mulheres como fundamentais para a transformação de tudo que é velho e caduco em novo e justo. Que vê as crianças como aqueles e aquelas que vão viver numa sociedade verdadeiramente livre, a sociedade socialista.
Dados sobre renda centrados numa média podem enganar os desavisados, mas, quando comparados, escancaram as profundas desigualdades socioeconômicas do Brasil. De um lado, uma massa trabalhadora imensa lutando para sobreviver, enquanto uma pequena parcela de super-ricos vive no luxo e propagandeando que o Brasil é “um país de todos”.
Rafael Freire | Redação
EDITORIAL – No último mês de setembro, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgou dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (Pnad Contínua), apontando um crescimento de 3,8% na renda média mensal do brasileiro em comparação a um ano atrás. O valor chegou à casa dos R$ 3.484,00.
Se quase 90 milhões de brasileiros (aposentados, trabalhadores formais e informais) possuem renda de até um salário mínimo por mês (R$ 1.518,00), então fica a pergunta: quem puxa essa média para cima? O percentual de 0,1% mais ricos da população brasileira possuem uma renda média de R$ 95 mil mensais (Fundação Getúlio Vargas), o equivalente a 158 beneficiários da faixa mínima (R$ 600,00) do Bolsa Família.
Dados sobre renda centrados numa média podem enganar os desavisados, mas, quando comparados, escancaram as profundas desigualdades socioeconômicas do Brasil. De um lado, uma massa trabalhadora imensa lutando para sobreviver, enquanto uma pequena parcela de super-ricos vive no luxo e propagandeando que o Brasil é “um país de todos”.
Lucros dos bancos
Vejamos agora quem realmente conseguiu “aumento de renda” (lucros extraordinários) no Brasil nas últimas décadas.
Governo
Lucro inicial
Lucro final
Crescimento anual
Lula
R$ 6,1 bilhões
R$ 39,0 bilhões
26,11%
Dilma
R$ 39,0 bilhões
R$ 54,5 bilhões
5,73%
Temer
R$ 54,5 bilhões
R$ 65,6 bilhões
9,71%
Bolsonaro
R$ 65,6 bilhões
R$ 95,8 bilhões
9,92%
Fonte: Bloomberg
Esses foram os lucros somados apenas dos quatro maiores bancos de capital aberto que atuam no país (Itaú, Bradesco, Banco do Brasil e Santander). Em 2024, eles bateram o recorde e lucraram R$ 114 bilhões.
E sabe como esses bancos lucram tanto? Primeiro, explorando seus funcionários e demitindo-os para explorar ainda mais os que ficam, como denunciou A Verdade, em sua última edição (nº 321), a demissão em massa de mil trabalhadores do Itaú.
Em segundo lugar, cobrando juros extorsivos das famílias trabalhadoras. De fato, mais de 78 milhões de brasileiros estão inadimplentes, segundo o Serasa. Já a Confederação Nacional dos Dirigentes Lojistas (CNDL) aponta que mais de 43% da população adulta do país está com contas atrasadas, e o tempo médio de atraso só cresce. A própria CNDL, entidade que representa os capitalistas do comércio, reconhece que os juros são um dos principais responsáveis por esse cenário. “A gente tem uma taxa de juros que ficou num patamar muito alto [taxa Selic de 15% ao ano]. As famílias têm menos espaço para outras compras ou para poder quitar dívidas que já estavam feitas antes”, afirma a entidade.
Os brasileiros com idades entre 41 e 60 anos representam a maior parcela da população endividada (35,3%). Na sequência, estão as faixas etárias de 26 a 40 anos (34%); acima de 60 anos (19,2%); jovens entre 18 e 25 anos (11,5%).
Levantamento da plataforma Gigu, que auxilia motoristas de aplicativos a calcular a lucratividade de suas corridas, apontou que 92% desses trabalhadores estão endividados, sendo que, em 68% dos casos, as dívidas comprometem as despesas essenciais com alimentação, moradia e as contas de casa. Em São Paulo, maior cidade do país e com alto custo de vida, eles chegam a trabalhar 60 horas por semana, mas sua renda não passa dos R$ 4.000,00 por mês, e, muitas vezes, param de trabalhar por não conseguirem fazer a manutenção dos seus veículos. Em Maceió, capital de Alagoas, a renda média mensal cai drasticamente para R$ 1.800,00.
Portanto, dentro da lógica do sistema capitalista, todo e qualquer aumento na renda da classe trabalhadora brasileira é prontamente corroído pela inflamação dos itens básicos (alimentação, transporte, moradia, saúde, vestuário, etc.) e pela extorsão dos bancos.
Como definiu o revolucionário russo V. I. Lênin, os bancos se fundiram ao capital industrial e se transformaram em imensos monopólios capitalistas:
“A operação fundamental e inicial que os bancos realizam é a de intermediários nos pagamentos. É assim que eles convertem o capital-dinheiro inativo em capital ativo, isto é, em capital que rende lucro; reúnem toda a espécie de rendimentos em dinheiro e colocam-nos à disposição da classe capitalista. À medida que vão aumentando as operações bancárias e se concentram num número reduzido de estabelecimentos, os bancos convertem-se, de modestos intermediários que eram antes, em monopolistas onipotentes, que dispõem de quase todo o capital-dinheiro do conjunto dos capitalistas e pequenos patrões, bem como da maior parte dos meios de produção e das fontes de matérias-primas de um ou de muitos países. Esta transformação dos numerosos modestos intermediários num punhado de monopolistas constitui um dos processos fundamentais da transformação do capitalismo em imperialismo capitalista.” (Imperialismo, Fase Superior do Capitalismo)
É exatamente o caso da família Moreira Salles, que detém um terço das ações do Itaú Unibanco e é dona da Companhia Brasileira de Metalurgia e Mineração (CBMM), com um monopólio de 75% do nióbio mundial. Trata-se de um metal de grande resistência e condutividade, utilizado na produção de um décimo de todo o aço do mundo para a melhoria da qualidade da liga metálica, sendo aplicado no setor automotivo, aeroespacial, de construção, em baterias e em equipamentos de saúde. A família possui ainda vastas plantações de laranja e de cana-de-açúcar, além de ter comprado, em 2017, a Alpargatas, dona da marca de sandálias Havaianas.
Das 12 pessoas mais ricas do Brasil, segundo a revista Forbes, quatro são membros dessa família. A soma das fortunas desses magnatas é de quase US$ 131 bilhões (R$ 693 bilhões). O brasileiro mais rico é Eduardo Saverin, cofundador da rede digital Facebook, com declarados US$ 34,5 bilhões (R$ 183 bilhões).
Solução é a luta
Não há outra maneira de o povo trabalhador sair desse buraco em que os ricos querem nos aprisionar, senão a luta coletiva, organizada, da nossa classe. Foi o que fizeram milhares de pessoas no Brasil no mês de setembro.
No dia 07 (Dia da “Independência”), cerca de 5 mil pessoas atenderam ao chamado do Movimento de Luta nos Bairros, Vilas e Favelas (MLB) (ver pág. 8) e realizaram uma Jornada Nacional de Ocupações em 15 estados. Em Recife (PE), as famílias realizaram a Ocupação Gregório Bezerra num prédio abandonado do INSS.
Maria Aparecida Ferreira, 38 anos, é auxiliar de serviços gerais numa loja de automóveis, trabalhando na escala 6×1, de segunda a sábado. Seu marido trabalha como lavador de carros num lava-jato, e a renda somada é de dois salários mínimos. Moram na casa onze pessoas (além do casal, são cinco filhos, três netos pequenos e a mãe idosa). “Pago aluguel há 18 anos, hoje 650 reais, mais 400 de água e energia, fora as despesas com alimentação e remédios para os bebês e minha mãe doente. É muito difícil viver assim porque, hoje, a gente paga o aluguel e, amanhã, já tá devendo. Depois que conhecemos o MLB e viemos pra Ocupação, temos apoio na alimentação coletiva e estamos lutando por nossa moradia própria. A sociedade nos oprime e não temos direito a se alimentar bem, à saúde, ao lazer, como diz a Constituição”, relata Aparecida.
À luta também foram milhares de brasileiros no dia 21 de setembro no ato nacional contra a PEC da Impunidade e o perdão às penas da organização criminosa encabeça pelo ex-presidente Jair Bolsonaro e seus generais fascistas. Seguramente, foram mais 600 mil pessoas em, pelo menos, 60 cidades. Em São Paulo e no Rio de Janeiro os atos contaram com mais de 100 mil pessoas, cada. No Rio, importantes artistas participaram, como Chico Buarque, Gilberto Gil, Caetano Veloso e Ivan Lins. Belo Horizonte (50 mil); Fortaleza e Recife (40 mil, cada); Brasília, Salvador, Natal e Porto Alegre (20 mil) estiveram entre os maiores atos do país. Na Paraíba, houve atos na capital João Pessoa e em Patos, cidade de origem do presidente da Câmara Hugo Motta, onde, inclusive, seu pai é o atual prefeito.
A PEC da Impunidade previa que deputados, senadores e presidentes de partidos só poderiam ser processados e julgados com autorização do Congresso Nacional. Na prática, era uma forma de impedir que políticos corruptos fossem processados e condenados na Justiça. Fruto dos atos, a Comissão de Constituição e Justiça do Senado rejeitou por unanimidade a PEC uma semana depois que os deputados a aprovaram, junto com o regime de urgência do projeto de perdão aos golpistas de 08 de janeiro de 2023.
Mas engana-se quem pensa que toda essa gente foi às ruas apenas contra dois projetos legislativos, mesmo que de grande importância à nação. As graves contradições vivadas pelo povo brasileiro, fruto da exploração capitalista; as ameaças imperialistas, especial dos EUA; a crescente consciência antifascista; enfim, o acirramento da luta de classes são elementos centrais na realidade nacional e devem ser desenvolvidos para uma correta ação das organizações revolucionárias rumo à construção do poder popular e do socialismo.
Editorial publicado na edição nº322 do Jornal A Verdade.
Desde 28 de outubro, Carmen Villalba, Laura Villalba e Fracisca Andino estão fazendo greve de fome na Penitenciária De Segurança Máxima de Minga Guazú, conhecida como “Guantánamo do Paraguai”. Elas pedem pelo fim das torturas que estão sofrendo na prisão, onde estão numa solitária em um presídio para homens.
Nana Sanches | Porto Alegre – RS
INTERNACIONAL – A família Villalba é conhecida por ser formada por lutadores sociais do campo e tem sofrido uma sistemática perseguição do Estado Paraguaio desde 2012, após uma ação violenta de reintegração de posse, comandada por latifundiários.
Presas injustamente pelo governo do país, as militantes tem denunciado a repressão política nos últimos anos. Em 2024, a Unidade Popular conduziu uma campanha de solidariedade para denunciar os desaparecimentos forçados e as prisões arbitrárias no Paraguai.
Família Villalba perseguida pelo governo paraguaio
Carmen Villalba foi presa em 2002 por suas atividades no Partido Pátria Livre. Ela já cumpriu sua pena, mas segue presa. Ela é irmã de Myrian Villalba (veja Jorna A Verdade , mãe de Lilian Villalba, que em 2020, foi fuzilada junto com sua prima, María Carmen, filha de Laura Villalba. Elas tinham 11 anos.
Laura Villalba foi sentenciada a 31 anos de prisão sob a alegação de abandono da filha, enquanto os assassinos de suas filhas Lilian e Maria Carmen seguem impunes. Não há sequer uma investigação para apurar os assassinatos das meninas Villalba. Carmen Villalba é mãe de Lichita Villalba. Em 2020, Lichita foi sequestrada e está desaparecida desde então.
Em 2022, Osvaldo Villalba, irmão de Carmen e Laura e dirigente do Exército do Povo Paraguaio foi assassinado. Tal Exército é uma organização marxista-leninista que teve início em 2008 e nasceu com o objetivo de lutar pela soberania do povo daquele país. Atualmente, a família Villalba está exilada na Venezuela e busca apoio internacional para libertar suas irmãs e encontrar Lichita.
Os crimes cometidos pelo Estado Paraguaio são condenados por diversas organizações internacionais. O infanticídio e desaparecimento de uma jovem não podem ser naturalizados em nenhum contexto. Nos somamos à luta da família Villalba que, apesar de toda repressão, segue resistindo por um mundo sem latifúndios nem latifundiários.
A ficção científica de Bong Joon Ho, lançada em março deste ano, faz uma sátira bem humorada ao atual cenário político mundial, ironizando sob temas como a desumanização do trabalhador, imperialismo e autoritarismo, além de aprofundar a discussão sobre a questão do trabalho e da sociedade capitalista em seu estágio atual, o imperialismo.
Gabriela Calixto | Recife
CULTURA – O filme conta a história de Mickey Barnes, um homem que se afundou em muitas dívidas, e é forçando a embarcar numa missão de colonização espacial liderada por um político fracassado. Desesperado para fugir das dívidas, Mickey acaba se voluntariando para ser uma espécie de tripulante “descartável”, ou seja, durante a tal expedição exploratória para esse planeta desconhecido, ele será usado das mais diversas formas, passará por todo dia de experiência científica e testes, sendo exposto à morte de diversas maneiras diferentes — e morrendo em todas elas, tendo seu corpo sempre refeito por uma espécie de impressora tecnológica, o fazendo reiniciar o ciclo de morte praticamente todos os dias.
A questão sai do controle quando esse sistema erra, imprimindo Mickey mais de uma vez, fazendo com que sua cópia o desafie para manter sua vida. Bong Joon Ho, diretor roteirista sul-coreano, é conhecido por trazer reflexões e críticas sempre muito inteligentes sobre as particularidades e atuais contradições do sistema capitalista, entre eles Expresso do Amanhã ( Snowpiercer, 2013, inspirada numa HQ francesa), Okja (2017) e Parasita (Gisaengchung, 2019)) ganhador de 4 Oscars em 2020, incluindo o de melhor filme, além de ser o primeiro filme não-americano a ganhar o Oscar de melhor filme, o que projetou ainda mais o nome do diretor na indústria internacional e o permitiu escrever, produzir e dirigir Mickley 17, que é baseado em um romance de Edward Ashton, de 2022. Diferente de seu filme anterior, esse não conseguiu repetir o fenômeno cultural, sobretudo pelas críticas escancaradas à sociedade americana, tendo um grande nome de Hollywood (Robert Pattinsom) na trama.
A precarização do trabalhador nos dias atuais
O filme de Bong Joon Ho não é apenas uma alegoria ou um retrato caricato de uma realidade inexistente. No mundo real, vemos todos os dias a classe trabalhadora sendo cada vez mais precarizada, perdendo direitos e sendo exposta a morte, assim como é retratado no filme. Com o aumento da uberização do trabalho, nossa classe muitas vezes precisa trabalhar até quatorze horas por dia para conseguir obter o mínimo para sobreviver. Não longe disso, o filme traz uma reflexão que também pode ser associada à luta contra a escala 6×1. Pois é de conhecimento geral que, esse regime de escravidão moderna está intimamente ligada à saúde física e mental da classe trabalhadora, que os impede de ter uma vida com qualidade, cuidar da própria saúde, pensar por si mesmo ou passar um tempo mínimo de lazer com seus familiares e amigos.
Além desses temas, o filme também levanta um questionamento interessante: se você é substituível, qual o valor da sua vida? O que de verdade vai libertar a classe mais pobre do fardo da 6×1, dos perigos da uberização do trabalho, do trabalho abusivo e mal remunerado e da desumanização do indivíduo por meio de um processo de mecanização que tira de nós até a nossa sensibilidade? Nas entrelinhas poderíamos dizer que uma revolução. E é exatamente isso que ocorre com esse trabalhador descartável, que tem que morrer cada dia um pouco para um punhado de rico lucrar. E é difícil não assistir ao filme e lincar com nossa realidade, pois, para meia dúzia de empresários, nós somos “descartáveis”. Se morrermos hoje, amanhã terá outro trabalhador para ocupar nossa função.
O imperialismo retratado no filme
No filme, a figura que representa o imperialismo é o personagem Kenneth Marshall, interpretado por Mark Ruffalo. Aqui temos a representação de todo autoritarismo de hoje e de ontem: ele, um político corrupto e empresário sujo, acredita que seu projeto de ocupação do espaço seja justificável e legítima, e que a colonização deve acontecer, não se importando em quantas vidas serão tiradas, desde que ele mesmo não seja colocando em risco. Justificando suas medidas individualistas e desprovidas de razão e até usando o discurso de defesa do “bem coletivo” ele nos aproxima dos atuais “inovadores”, “empreendedores” e milionários de hoje, que enriqueceram com o sangue, suor e lágrimas de milhões de trabalhadoras e trabalhadores.
O caminho é a revolução
Esses problemas expostos no filme vão além do roteiro, eles são dilemas reais, que afetam a vida e o cotidiano da classe mais pobre. No longa, o diretor não esconde a necessidade de se rebelar, de conhecer a sua realidade e fazer de tudo para transformá-la. Em uma das cenas mais interessantes, o personagem, que não se chama Mickey à toa, passa a reivindicar um nome pra si, deixando de ser objetificado. Isso acontece exatamente após ele notar que a realidade da nova natureza em que ele está inserido poder ser transformado por ele.
É assim também em nossa sociedade. Para resolvermos nossas dificuldades e acabar com a exploração, a única saída é se organizar. Quantos milhares de operários precisarão ainda serem mortos para alimentar um único bilionário, que nada produz a não ser mais exploração, banalização da vida e a violência? Mais: com o advento da internet, ficou mais escancarado o quanto é odioso esse mecanismo de alienação. A gente trabalha, não consegue ter direito nem ao descanso ou se quer tem a possibilidade de usufruir daquilo que produz. É como o personagem Mickey, que tem que submeter a diversas situações humilhantes e perigosas, até decidir se revoltar e tomar as rédeas de seu futuro.
Militantes são presos durante manifestação em denúncia a ofensiva da SEDUC contra grêmio estudantil e democracia nas escolas do Piauí.
Nimbus Pinheiro e Redação PI | Teresina (PI)
EDUCAÇÃO — Na tarde desta quinta-feira (30/10), a Secretaria de Estado da Educação do Piauí (SEDUC-PI) convocou uma assembleia para destituir o Grêmio Estudantil Torquato Neto, da Escola Técnica de Teatro Gomes Campos, no centro de Teresina.
A Secretaria, junto da diretoria da escola, isolou o presidente do grêmio, José Augusto, e acionou a Polícia Militar, que cercou a escola e tentou impedir a entrada de diretores da Federação Nacional dos Estudantes em Ensino Técnico (FENET), da Associação Municipal dos Estudantes Secundaristas de Teresina (AMES Teresina), e militantes do Movimento Rebele-se; “não-estudantes”, segundo a PM.
“Já de início, tavam querendo impedir que a gente entrasse em contato com os estudantes, com a diretoria, com a assembleia. Ou seja, mostrando, mais uma vez, que a SEDUC não tinha perspectiva de fazer algo democrático, mas sim de alienar o grêmio do companheiro”, aponta Laura Borges, diretora da FENET.
Sobre a assembleia, a SEDUC justifica a tentativa de destituição do grêmio com o argumento de “questões burocráticas”. Mas, na realidade, trata-se de perseguição a um grêmio combativo na Escola Gomes Campos. Além das inúmeras lutas travadas, e das conquistas de ônibus escolar e melhores condições para o refeitório da instituição, o Grêmio Estudantil Torquato Neto convocava uma greve estudantil para o mês de novembro, atendendo ao chamado da FENET, por melhores condições estruturais nas escolas técnicas do Brasil.
Militantes são presos arbitrariamente
José Augusto, também diretor da FENET, e diretor da AMES Teresina, foi, ainda, agredido, sufocado, e então imobilizado, após tentar se defender. Após algemar, o policial pressionou o joelho no pescoço de Augusto, já no chão. E, ainda, ao levantá-lo, enfiou o dedo no olho do gremista.
Além dele, Caetano Teles, do Movimento Rebele-se, teve o celular roubado, foi jogado ao chão e agredido. “Depois que ele me prendeu, foi me levando pra fora da escola. Me ameaçou, disse que ia descobrir meu nome, meu endereço. Que ia atrás de mim, e me deitar na porrada”, relata Caetano.
Dara Neto, do Movimento de Luta nos Bairros, Vilas e Favelas (MLB), também foi algemada e tratada com truculência.
“Sei nem quem é, porque não se identificou, mas [o policial] tá aqui dizendo que não foi ele quem me prendeu, mas por ele, não tinha problema dar tapa na cara, e que não quer saber qual crime que eu cometi”, denuncia Dara, algemada, em vídeo gravado à tarde da quinta-feira, ainda na escola. “Eu falei que tenho meus direitos, ele disse ‘que direitos? Direitos é o de menos, não tem isso de direitos pra polícia’. Essa é a polícia de Rafael Fonteles”.
Os três foram presos, sem justificativa, e levados à Central de Flagrantes.
Grêmios sofrem perseguição pela SEDUC
A Secretaria, a mando do governo estadual, adota, hoje, uma postura autoritária com relação aos grêmios estudantis do Piauí. É imposto controle e tutela sobre essas entidades, transformando gremistas em funcionários não remunerados da Secretaria, e impedindo sua autonomia. Os grêmios que não se submetem a essa política, a exemplo do Grêmio Estudantil Torquato Neto, eleito democraticamente, são perseguidos; o que fere a Lei nº 7.398/1985, conhecida como “Lei do Grêmio Livre”.
O governador do Piauí, Rafael Fonteles (PT) é fundador e um dos principais acionistas do Grupo Educacional CEV, rede privada de ensino do Piauí. Em sua gestão, o empresário impõe políticas neoliberais, como a privatização de estatais e a precarização de serviços públicos.
Por sua vez, a repressão pela Polícia Militar reflete a criminalização da luta dos estudantes, e surge como fruto do sistema capitalista, que condena as denúncias do abuso sofrido pela classe trabalhadora, ao mesmo tempo que reduz, cada vez mais, os seus direitos.
Após quase seis horas em cárcere, e sob vigília ferrenha de militantes e aliados sindicalistas, Dara, Augusto e Caetano foram soltos. Apesar da truculência e do autoritarismo da PM do estado do Piauí, a pressão popular conquistou a liberdade dos militantes, e reafirmou a importância da luta do movimento estudantil.
Lutar pela educação não é crime! Pela livre atuação dos grêmios estudantis!
Fundada em 1995, com apoio de colaboradores, militantes e ativistas da cultura, o espaço de formação e divulgação da cultura completa 30 anos em atividade e promovendo a leitura e o socialismo como alternativa para transformar a sociedade.
Alberes Simão | Petrolina (PE)
CULTURA – Neste mês de outubro, a Biblioteca dos Trabalhadores Amaro Luiz de Carvalho (ALC), do Centro Cultural Manoel Lisboa do Recife, completa 30 anos de existência, reafirmando seu compromisso com a educação popular, a cultura crítica e a organização da classe trabalhadora. Fundada em 1995, a biblioteca nasceu do esforço coletivo de militantes, estudantes e trabalhadores comprometidos com a construção de um espaço de conhecimento voltado ao povo pernambucano.
Durante três décadas, a Biblioteca Amaro Luiz de Carvalho consolidou-se como um importante ponto de resistência cultural e política na capital pernambucana. Oferecendo acesso gratuito à livros, jornais, panfletos, documentos históricos e produções marxistas que dificilmente encontram espaço nas grandes instituições ou nas prateleiras comerciais, além de organizar diversos eventos ao longo dessas últimas três décadas. O acervo, composto por centenas de obras sobre história, economia, filosofia, política e literatura, foi formado graças a doações solidárias e ao trabalho voluntário de bibliotecários e educadores populares.
Resgate da cultura e difusão do livro
Atuando na difusão e divulgação do marxismo-leninismo, as Edições Manoel Lisboa tem publicado diversos livros clássicos como Às portas de Moscou,A história do Partido Bolchevique ou a biografia de Lênin, todos encontrados esgotados ou publicados há mais de trinta anos. Ao mesmo tempo livros atuais como As ideias Políticas na História: das cavernas às redes sociais, do professor e militante da Unidade Popular Natanael Sarmento, lançado em 2024, tem sido acolhidos pela sociedade como referências para estudo e formação de opinião.
O Centro Cultural também dispõe de um amplo acervo fotográfico e bibliográfico, sendo a única biblioteca pública do Norte/Nordeste a contar com a coleção das obras completas de Lênin, além de textos raros de José Martí, Fidel Castro, Che Guevara, Marx, Engels, Stálin, Ho Chi Minh, Dimitrov, Carlos Marighella, Carlos Mariátegui, entre outros, acervo esse que contribuiu como suporte para trabalhos acadêmicos, artigos científicos, pesquisas para TCCs e etc.
Quem é o patrono da biblioteca do CCML?
Amaro Luiz de Carvalho foi um trabalhador rural que se formou na luta. Nascido em Joaquim Nabuco, em 4 de junho de 1931, Capivara ou Palmeira, como era conhecido, foi um grande leitor, tendo aprendido a ler e escrever com muito esforço, além de ter aprendido sozinho inglês e espanhol, para ajudar na militância internacional contra a ditadura militar (1964-1985). Foi dele a autoria de “As quatro contradições da Zona Canavieira de Pernambuco” (Editorial a Luta, 1967), prova de que a cultura pode ser uma ferramenta de transformação. Como forma de homenagear seu legado e exemplo, a biblioteca do nosso Centro Cultural foi homenageada com o nome desse lutador, assassinado covardemente pelo regime militar em 1971.
A celebração dos 30 anos da Biblioteca Amaro Luiz de Carvalho (ALC) é também um ato de reafirmação da luta pelo direito à educação crítica e transformadora, especialmente em tempos de avanço da desinformação e da mercantilização do saber. Em um país onde o acesso à cultura ainda é um privilégio, a existência de uma biblioteca popular, autônoma e voltada à classe trabalhadora, é um gesto profundamente revolucionário, especialmente na capital pernambucana, que só tem apenas 5 bibliotecas públicas.
Corpos das vítimas do Massacre da Penha se encontram no IML e Defensoria Pública é impedida de fiscalizar perícias. Famílias protestam por justiça e pelo direito de enterrar seus mortos.
Chantal Campello | Redação RJ
BRASIL – A Defensoria Pública do Estado do Rio de Janeiro (DP-RJ) denunciou, nesta quinta-feira (30/10), ter sido impedida de acompanhar a perícia dos corpos das vítimasa da chacina policial nos complexos da Penha e do Alemão, considerada a mais letal da história, com mais de 130 mortos. De acordo com a instituição, seus representantes foram barrados no Instituto Médico-Legal (IML) Afrânio Peixoto, no Centro do Rio, sem autorização para entrar na sala de necropsia ou perícia técnica dos corpos.
“Estamos sendo impedidos de exercer um direito elementar de fiscalização pública. Esses corpos não podem ser tratados como números”, afirmou Rafaela Garcez, coordenadora de Defesa Criminal da DPRJ em entrevista em frente ao local.
A decisão de impedir o acesso da Defensoria ocorre justamente no momento mais crítico de uma operação que mobilizou mais de 2.500 policiais que deixou um rastro de violência, desaparecimentos e execuções sumárias. O órgão afirma que a presença de defensores e peritos independentes é essencial para garantir o respeito à integridade das vítimas e evitar fraudes, manipulação de provas ou destruição de evidências.
“A quem interessa impedir o acesso da Defensoria a esses corpos? Para quem busca transparência e contenção de más práticas, não há motivo para barrar nossa presença.”, questiona Rafaela.
De acordo com o deputado federal Tarcísio Motta (PSOL-RJ), uma comissão de parlamentares descobriu que 100 corpos foram necropsiados (periciados) sem nenhum acompanhamento das famílias ou de órgãos de controle como a Defensoria.
Famílias lutam por justiça e para poder enterrar seus mortos
Essa atitude do governo do Rio de Janeiro, sem a oposição do Ministério Público até agora, mostra que a intenção de Cláudio Castro e seus aliados é esconder provas que surgem de que muitas pessoas assassinadas pela polícia nesta terça são inocentes sem envolvimento com o crime organizado.
Enquanto o Estado se fecha, familiares das vítimas se aglomeram na porta do IML, buscando informações sobre seus parentes. Muitos não sabem sequer se os corpos foram identificados corretamente, ou se ainda estão retidos para exames.
No final da tarde de hoje, dezenas de parentes dos mortos ocuparam a Av. Francisco Bicalho, em frente ao IML, em protesto contra a demora na liberação dos corpos. Até agora, dois dias depois da operação, a maioria das famílias não puderam enterraras vítimas do massacre.
Essa operação é parte de uma escalada de violência estatal no Rio de Janeiro, que, nos últimos anos, tem batido recordes de letalidade. Mesmo após determinações do STF para que o governo estadual restrinja ações em favelas e preserve a vida de civis, o sangue segue correndo nas vielas e o controle civil sobre a polícia segue enfraquecido.
Vivemos em uma sociedade que prega a transfobia e que relega as mulheres trans e travestis a negação de sua existência e a violências diárias. Por isso, é preciso combater e denunciar todos os falsos movimentos feministas que dizem defender a causa das mulheres. Na 5º Conferência Nacional de Políticas para as Mulheres, em Brasília, mais um episódio de transfobia foi registrado. Elas respondem: “Transfobia não!”.
Evelyn Dionízio- PE
MULHERES- A 5º Conferência Nacional de Políticas para as Mulheres, promovida em Brasília entre os dias 29 de setembro e 1 de outubro, reuniu cerca de 4 mil mulheres de todas as regiões do país para ampliar as políticas públicas para as mulheres, conforme o Ministério das Mulheres. A ANTRA (Associação Nacional de Travestis e Transexuais) e a Fonatrans (Fórum Nacional de Travestis e Transexuais Negras e Negros), integrantes do Conselho Nacional dos Direitos da Mulher participaram da Conferência para debater a assistência para as mulheres trans e travestis.
No entanto, no encontro estava presente a Matria (Mulheres Associadas, Mães e Trabalhadoras do Brasil), composta por mulheres transfóbicas – também chamadas de “radfem” ou feministas radicais. A associação repudiou a participação das organizações trans, alegando que o espaço deveria ser “exclusivo para mulheres”, em uma clara demonstração de violência. Essas mulheres se dizem feministas e pregam que “a verdadeira mulher é a biológica” e não é a única organização de extrema-direita que prega o ódio à comunidade LGBT+. O grupo faz parte da Aliança LGB (Lésbicas, Gays e Bissexuais) que, como a sigla indica, nega a existência de pessoas trans, travestis e outras expressões de gênero.
A Matria também se diz suprapartidária (acima de qualquer partido) quando na verdade defende a ideologia fascista e reacionária da extrema-direita. Afirma repudiar a “ideologia de gênero” nas escolas e prega pelo controle dos pais sobre os filhos quanto ao que é ensinado. Na realidade, o que se faz é proibir a educação sexual no ambiente escolar, tão importante para denúncias de abusos e assédios da juventude, grande parte meninas. Ou seja, a organização não defende os direitos das crianças.
Ainda sobre a negação à existência de pessoas trans, o Trans Murder Monitoring (Monitoramento de Assassinatos Trans) de 2024 revelou que 94% dos assassinatos contra pessoas trans no mundo são feminicídios, assim como observado nos anos anteriores. Vítima desse descaso, a modelo Miss Trans Paraíba Maria Clara Azevedo, tinha apenas 32 anos quando foi encontrada sem vida depois de 7 facadas em João Pessoa, Paraíba. Maria Clara só foi achada 3 dias depois da morte, no dia 29 de setembro, já em estado de decomposição, vítima da violência e da falta de segurança enfrentada pela população trans, principalmente pelas mulheres.
A Miss e Mister Trans Paraíba, nas redes sociais, denunciou: “perdemos mais uma vida preta e trans. Não é só luto, é revolta. Seguimos em uma sociedade que insiste em apagar corpos que lutam por existir”.
Também em protesto, as presentes no ato da Conferência Nacional entoaram “Maria Clara, Presente!” e “Transfobia não!” reafirmando seu direito à sociedade. Com isso, a Unidade Popular, através do seu 1º Encontro LGBTI+ no Rio de Janeiro concluiu que a transfobia contra mulheres advém da crescente misoginia e da exploração que elas encaram na sociedade capitalista. Por isso,
As mulheres trans e travestis, que têm a menor expectativa de vida dentro da comunidade LGBTI+ no Brasil (cerca de 35 anos) são tratadas no capitalismo como objetos sexuais e descartáveis. Isso ocorre porque, em uma sociedade patriarcal, a noção de mulher ainda está limitada à função reprodutiva, à subordinação ao homem, ao papel de esposa e mãe.
É por isso que setores reacionários e machistas negam às mulheres trans e travestis o reconhecimento como “mulheres de verdade”. Essa visão, além de desumanizar e excluir as mulheres trans e travestis, também aprisiona as mulheres cis nesse papel submisso, negando-lhes autonomia sobre seus corpos e seus direitos reprodutivos.
Transfobia não se cria em uma sociedade socialista livre de opressões e da exploração. Urge um movimento revolucionário da comunidade LGBT+ que lute por uma nova forma de viver. O Movimento de Mulheres Olga Benario esteve presente no primeiro dia de evento e reafirmou a importância do espaço para reivindicar uma sociedade mais justa e igualitária. Mais do que solidariedade dos Ministérios e da mídia burguesa, é preciso ações concretas que mudem a realidade a que as mulheres trans e travestis estão submetidas.
Saúde mental em tempos de neoliberalismo exige solidariedade e ação coletiva para construir uma sociedade socialista.
Paula Dornelas | Minas Gerais
CARTA – Em tempos neoliberais, em que o indivíduo tem um peso gigante de responsabilidade sobre as coisas, se sobrepondo a qualquer trabalho ou compromisso coletivo, foi um alívio escutar o seguinte lembrete de uma companheira na luta pelo socialismo, “tenhamos a certeza da vitória independente do indivíduo”. Compartilho aqui algumas reflexões que se desdobraram a partir daí.
Um relato pessoal, mas nem tanto
Há algum tempo em tratamento para depressão e transtorno de ansiedade, mais uma em meio à juventude brasileira, tenho sintomas que vão de uma desimportância e impotência frente aos problemas e dores do mundo, a uma vontade forte de pôr abaixo de vez o sistema capitalista, que nos oprime e explora a todo segundo.
Nesse caminho, percebi que a dor, a tristeza, ou angústia que por vezes sentimos, seja desencadeada por problemas financeiros, por questões de um relacionamento, ou pelo luto; em meio às necessidades diárias da vida, nos deixa mais sensíveis ao individualismo. Nos levando a pensar que estamos sozinhos, que devemos prezar por um autocuidado e concentrar nos próprios corres e afazeres. É comum escutarmos de pessoas que se preocupam com a gente frases como: cada um tem as suas batalhas, é momento de pensar em si primeiro, de dedicar para cuidar de você, do seu trabalho, do seu estudo, em lugar de cuidar do outro ou dos outros.
Apesar dessas orientações até virem com uma justa preocupação, elas podem reforçar o individualismo; e de maneira alternada ou mutuamente, aquele misto de importância e desimportância em relação às nossas vidas: com uma separação do “eu” para me cuidar; junto da ideia de que “ninguém se importa comigo ou com o que sinto”, que “por mais que possam ter passado por coisas parecidas, só eu sei da minha vida”, por isso, me distancio para cuidar dela. Por mais que pareçam nada prejudiciais, essas possíveis decisões nos fecham para com o outro e reforçam uma responsabilidade individual frente à vida. E tá aí um problema. Essa responsabilidade é adorada pelo neoliberalismo e para a manutenção do capitalismo que nos quer desunidos, contrapondo uma vida em comunidade.
Outro exemplo aparece quando reforçamos que estando à frente do coletivo, quem dá “a cara a tapa” é um indivíduo e, por isso, somente ele sabe o que passa e sente mais o peso da responsabilidade. Uma situação que exige muita atenção individual-coletiva.
No coletivo construímos responsabilidades e cuidados que vão além de nós
Retomando mais alguns exemplos atuais que reforçam o individualismo: Competimos para conseguir um trabalho que, provavelmente, vai nos adoecer, enquanto uns poucos acumulam riquezas; Competimos por uma vaga na universidade: nossa vida em sociedade acumula importantíssimos conhecimentos, mas há aqueles que poderão aprendê-los e outros que não, mesmo sendo um acúmulo coletivo, social, que no capitalismo é privatizado; Mais um exemplo recente da nossa história: a pandemia da Covid-19 foi um momento que tivemos que nos isolar, mas definitivamente foi preciso contar muito com os outros para a manutenção de nossas vidas. Sejam diretamente os profissionais da saúde, da limpeza, aqueles que cozinhavam, que cuidavam, e que se solidarizavam nas ações de combate à fome.
Retomando o fio da meada, com essas reflexões cheguei a conclusões que me aliviaram e fortaleceram, entendendo que: não é uma responsabilidade só minha as vitórias e derrotas que enfrentamos pelo caminho, tampouco é errado identificar que preciso de algum cuidado mais específico num momento. Entretanto, eu tenho um papel e uma responsabilidade no coletivo e o coletivo também um papel em cada um de nós; pensando e exercendo uma relação dialética entre ambos. Nesse trajeto vivido por mim até aqui, digo que não há uma dor que seja só nossa, que numa conversa não possamos pensar com o outro em formas de diminuir o peso para enfrentá-la ou passar por ela; e, junto disso, não nos ausentar, mas seguir em movimento, entendendo e nos responsabilizando enquanto coletivo e enquanto indivíduos-parte de um todo.
O sistema capitalista é perverso, e provoca mais a destruição do que a manutenção ou melhoria das diferentes formas de viver existentes entre os povos. Então, com essa condição desumana, somada à nossa sensibilidade comunista cheia de revolta e amor, é difícil por vezes não nos entristecermos. E eu compartilho isso pra quebrarmos a ilusão de que virá uma resposta imediata e mágica para acabar com essa angústia. A resposta que temos para isso é trabalhosa, cotidiana, coletiva, organizada e revolucionária, que precisa ser cultivada no coletivo, na luta e nos estudos do marxismo-leninismo.
Foto: Maxwell Vilela/JAV
Permanecer na vida para construir uma vida melhor
Por fim, eu gostaria com esse texto fazer (a mim mesma) e a quem ele chegar um chamado a continuar na luta pela vida. Um chamado que passa necessariamente por estar no coletivo. Aos nossos militantes comunistas, por coletivo digo o nosso Partido, nossos núcleos de base, os espaços de formação política, as ações revolucionárias que nos fazem sentir a coragem carregada e acumulada por esse nosso povo que trabalha.
Frente ao individualismo e a essa forma de “vida” adoecedora, que nos mata, nos rouba o tempo, a criatividade, os amores, a comida, a casa; enfrentando tudo isso e entendendo que essa é uma decisão que precisa ser construída, reconstruída e tomada diariamente. Essa é a nossa única saída para uma garantia segura de viver. Por isso, eu convido aos camaradas a permanecerem, a serem parte desse processo revolucionário que nosso povo trabalhador caminha rumo a ele. Entendendo que nesse trajeto vamos ter encontros e desencontros, vamos sentir dores, caminhar descalço em chão de pedras, vamo subir e descer morro; mas é assim de pé no chão e coletivamente que avançaremos e viveremos numa sociedade socialista.
Encontro acontece a cada dois anos e teve uma participação de mais de 6 mil de pessoas, debatendo agroecologia, agricultura familiar e alternativas para combater o agronegócio e as políticas imperialistas para o meio ambiente.
Marcelo Pessoa- Petrolina (PE)
MEIO AMBIENTE- Aconteceu em Juazeiro da Bahia na Univasf (Universidade do Vale do São Francisco) durante os dias 15 a 18 de outubro o 13° Congresso Brasileiro de Agroecologia com o lema: Agroecologia, Convivência com os Territórios Brasileiros e Justiça Climática. O evento contou com mais de 6 mil participantes e, com o objetivo de promover a agroecologia como solução para a crise a atual climática, debateu a conjuntura global e como a atual fase do sistema capitalista simplesmente não consegue salvar o futuro de nosso planeta.
O CBA é realizado a cada dois anos e tem a participação de estudantes, pesquisadores, entidades da sociedade civil organizada e ativistas em defesa do meio ambiente. A militância da Unidade Popular e do Movimento Correnteza participaram da atividade, que contou com uma brigada do jornal A Verdade e uma banca com os materiais das edições Manoel Lisboa. Com a proximidade da COP 30, em Belém do Pará, as questões ambientais, o combate ao agrotóxico e o combate aos danos à biodiversidade deram o tom do debate.
O encontro também serviu para o governo federal anunciar ações para a agricultura familiar e c contou com a presença do governador da Bahia, Jerônimo Rodrigues e dos ministros Wellington Dias (Desenvolvimento Social e Combate à Fome), Márcio Macedo (Secretário-geral da Presidência que foi substituído por Guilherme Boulos) e Paulo Teixeira (Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar), mas apesar dos anúncios de crédito para projetos da agricultura familiar, é importante lembrar que a prioridade do governo Lula é priorizar o agronegócio, que recebeu de orçamento no Plano Safra 2025/2026 R$516,2 bilhões, apesar de sabermos que quem garante a alimentação do brasileiro é a agricultura familiar, que inclusive vem sofrendo com o tarifaço do Donald Trump.
Ou seja, para além do discurso, é preciso que uma política verdadeiramente voltada para combater a destruição do meio ambiente e a alimentação saudável, mas o capitalismo e seus mantenedores não conseguem garantir essa mudança nos moldes atuais desse sistema. Ou mudamos o atua modo de produção social ou ele irá nos destruir.
Brigadistas do Jornal A Verdade durante o evento. Foto: Madu Silva- JAV (PE)
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