UM JORNAL DOS TRABALHADORES NA LUTA PELO SOCIALISMO

quinta-feira, 20 de novembro de 2025
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Chegou A Verdade quinzenal

Uma vitória da imprensa popular e socialista

EDITORIAL

A primeira edição do jornal A Verdade foi lançada em dezembro de 1999, com a manchete “FHC: o professor que virou um grande fazendeiro”. Foram 1.500 exemplares que circularam em cinco estados. Desde então, as ideias defendidas por A Verdade vêm obtendo cada vez mais apoio. O número de leitores cresceu a cada mês e hoje o jornal circula em 20 estados. A tiragem foi crescendo ano a ano e atingiu, em abril, 18.500 exemplares.

Este crescimento permitiu que, após 22 anos, o jornal A Verdade passasse a ser quinzenal. A partir de agora, serão duas edições por mês.

E há mais novidades: A Verdade ganhou um novo projeto gráfico e seu site www.averdade.org.br, após sofrer ataques dos inimigos da democracia, tem novo visual para facilitar a leitura. Em junho, terá ainda um aplicativo para baixar no celular.

Pode parecer pouco para alguns. Mas não é. Enquanto jornais da burguesia deixam de circular e passam a existir somente na internet, A Verdade lança agora duas edições impressas por mês no Brasil. Ademais, A Verdade é um jornal a serviço da classe explorada e oprimida, a imensa classe operária, as massas trabalhadoras. Suas páginas não são vendidas às grandes corporações internacionais e nacionais nem defendem os interesses do capital financeiro, das mineradoras ou do agronegócio. É um jornal dos trabalhadores que luta pela emancipação dos pobres, pelos direitos das mulheres, pela justiça social, democracia popular e socialismo.

Ergue sua voz contra o racismo e em defesa dos povos indígenas e denuncia todos os crimes cometidos pelo Estado burguês. Os princípios de A Verdade são baseados no marxismo-leninismo, no fim da exploração de classes, na solidariedade e fraternidade entre os irmãos trabalhadores e os povos de todo o mundo.

A Verdade é um jornal que se sente honrado em desafiar e lutar contra os poderosos interesses da classe capitalista e pelo fim da escravidão assalariada. É um jornal socialista no seu conteúdo e na sua forma, pois é feito com base na cooperação de centenas de companheiros e companheiras. Leva à prática os princípios definidos pelo grande revolucionário e criador do socialismo científico, Karl Marx: “A função da imprensa é ser o denunciador incansável dos opressores. (…) O dever da imprensa é tomar a palavra em favor dos oprimidos a sua volta. O primeiro dever da imprensa é minar todas as bases do sistema político existente”.

Mas a vitória de A Verdade se transformar num jornal quinzenal não caiu do céu. Foi fruto de um trabalho coletivo e planejado. Um importante Ativo Nacional de Agitação e Propaganda foi realizado no mês passado com dezenas de militantes, além dos ativos estaduais que se seguiram. Semanalmente, a Redação Nacional se reúne, debate as matérias, distribui entre os editores e prepara a próxima edição.

Como tem apoio entusiasta de seus leitores, A Verdade conta ainda com diversos colaboradores que escrevem textos e mandam fotos. Além disso, A Verdade dispõe de centenas de brigadistas, militantes do PCR, da UP e dos movimentos sociais que garantem que ele chegue às mãos do povo.

A Verdade quinzenal é uma vitória da imprensa popular e socialista, uma vitória de todos que nessa caminhada trabalharam para que este sonho se tornasse realidade, uma vitória principalmente para os oprimidos e explorados que terão um jornal ainda mais incansável na denúncia dos opressores, sempre erguendo a bandeira da revolução e do socialismo.

Com A Verdade quinzenal, semearemos mais e organizaremos mais operários e operárias no exército que construirá uma nova sociedade, na qual não haverá pobreza, nem corrupção, fascismo ou exploração. Apesar do fascista e dos generais, A Verdade quinzenal triunfou. Avante, camaradas!

O dia que o povo vestiu a melhor roupa e ocupou o TSE

Trabalhadores na audiência de julgamento do registro da UP no TSE, em outubro de 2019 – Foto: Jorge Ferreira / Jornal a Verdade

Jorge Ferreira

Era manhã de uma quinta-feira de outubro de 2019 quando os servidores do Tribunal Superior Eleitoral tiveram que lidar com com uma situação incomum: algumas  dezenas de trabalhadores desejavam assistir uma audiência de julgamento. A lotação do plenário  com cerca de duzentas confortáveis cadeiras não era o problema, mas os visitantes não estavam com “vestimentas adequadas” que os permitisse estar diante dos ministros.

Naquele dia, homens e mulheres que diariamente acordam cedo e utilizam transporte público lotado para trabalhar, que pegam no pesado para sobreviver, colocaram suas melhores roupas, seus melhores sapatos, alguns cortaram o cabelo, outros usaram o melhor perfume. Era dia de festa. Após dois longos anos e um milhão e duzentas mil assinaturas recolhidas nos trens, nos bairros populares, nas portas de fábrica, e, apesar das dificuldades, registradas em cartórios de vários estados em todas as regiões do país, havia chegado o dia que iniciaria o julgamento do registro da Unidade Popular pelo Socialismo na mais alta corte eleitoral do Brasil.

Com a emoção transbordando em sorrisos largos, representando todos aqueles abnegados trabalhadores que entregaram suas poucas horas livres para cumprir a tarefa histórica de constituir o partido dos pobres, do povo trabalhador, entraram no prédio do TSE para assistir a audiência que reconheceria  a legitimidade de todo o processo. Entretanto, a poucos metros do plenário principal do Tribunal, a chefe dos seguranças alerta que não será possível que os visitantes adentrem no local por não estarem vestidos adequadamente. “Onde está escrito isso?”, foi o primeiro questionamento do advogado Thiago Santos.

Thiago Santo, advogado da Unidade Popular, intervindo para garantir o acesso dos trabalhadores ao plenário – Foto Jorge Ferreira /  Jornal a Verdade

Daí em diante iniciou-se uma luta contra o tempo. Há poucos minutos de iniciar o julgamento, nem mesmo o presidente do partido, Leonardo Péricles, morador de ocupação, havia conseguido entrar no plenário justamente por estar somente com camisa social, mas sem terno e gravata. “Veja bem, argumentava Thiago Santos, essas pessoas estão justamente com suas melhores roupas, não há ninguém vestido de forma inadequada”. As mulheres que estavam de calça jeans, ao ver o tempo passando e a recusa da chefe dos seguranças, começaram a improvisar saias com cachecóis. Os homens já não mostravam os dentes, uma pequena angústia tomava conta. 

Em meio ao embate jurídico da legalidade da exigência de terno e gravata entre o advogado do partido e os servidores, alguns seguranças sensibilizados prometeram irem até o vestiário verificar se tinham terno reserva para emprestarem ao visitantes, mas já alertaram que não haveria para todos. Pouco antes de iniciar a sessão, o advogado do partido conseguiu que a questão fosse levada até a presidente da Casa, à época ministra Rosa Weber. Alguns instantes antes de iniciar o julgamento a entrada foi autorizada.

Foto Jorge Ferreira / Jornal a Verdade

Nesse dia, o procurador eleitoral Humberto Jacques apresentou parecer favorável, e o relator do processo, ministro Jorge Mussi, proferiu votou favorável ao registro alegando que “não poderia ser diferente, já que o partido cumpriu todas as exigências normativas”, entretanto o julgamento foi suspenso por um pedido de vista de um dos ministros, só sendo retomado, aprovado e registrado em dezembro do mesmo ano. 

Mas foi exatamente naquele dia, 24 de outubro de 2019, que pela primeira vez o plenário do Superior Tribunal Eleitoral foi ocupado por pessoas sem terno e que, como retrata um grande filme, também não usam “Black Tie”.

 Talvez tenha sido duro para os ministros da burguesia olharem de frente homens e mulheres que vivem do próprio suor. Para a Unidade Popular foi um dia histórico, mais um capítulo da emocionante luta pela libertação de milhões de trabalhadores brasileiros.

Foto Jorge Ferreira / Jornal a Verdade


MLB protesta contra despejos e GCM reprime ato em SBC

Foto: Jorge Ferreira / Jornal a Verdade

João Coelho e Jorge Ferreira

MLB São Paulo

Fazia frio na tarde dessa quarta-feira, dia 12 de agosto, quando Movimento de Luta nos Bairros, Vilas e Favelas (MLB) organizou na cidade de São Bernardo do Campo um ato contra os despejos de famílias pobres durante a pandemia e em defesa do direito à moradia digna. O ato fez parte de uma agenda nacional de mobilizações que levou às ruas centenas de famílias, em diversas cidades brasileiras, levantando a bandeira do Despejo Zero, uma campanha nacional que unifica movimentos sociais e outros apoiadores na luta pelo fim dos despejos durante a crise da Covid-19.

 A manifestação reuniu famílias de vários bairros de São Bernardo do Campo, cidade que sofre com uma política sistemática de despejos por parte do Prefeito Orlando Morando (PSDB), de Diadema, Santo André, Mauá, Francisco Morato, São Matheus e de várias regiões da Capital, além de outros movimentos que se somaram à essa luta, como o Projeto Meninos e Meninas de Rua (PMMR), o Coletivo Democracia Corinthiana, a Torcida Guerreiros do Tigre do São Bernardo F.C., o Movimento de Mulheres Olga Benário, etc. Para Gabriela Mousse, da Democracia Corinthiana: “Eles agem assim [despejos e repressão ao povo pobre] porque se sentem livres para fazer o que querem, não há motivo nenhum para ações desse tipo. Claro, o governo já é fascista e tá rolando uma pandemia, para eles fica mais fácil, por isso temos que ocupar as ruas com mais frequência”.

Foto: Manuelle Coelho / Jornal a Verdade

Alguns trabalhadores vieram de longe, é o caso de Cirilo Conceição, que viajou cerca de 80 quilômetros para poder participar do ato: “Sou de Francisco Morato, uma cidade abandonada pelos governantes. Governantes corruptos e omissos que permitiram que meu filho viesse a falecer. Quem me apoiou não foi nenhum governante, foi o povo, foi o MLB. Convidamos vocês a abraçarem essa causa porque essa é a causa de todos nós trabalhadores, estudantes, que pagamos aluguel, que somos despejados. O governo é o culpado disso, o governo não tá nem aí pra nós, eles querem é matar nossos filhos. Eles abandonam nossos bairros, na minha rua um carro não foi capaz de entrar pra prestar socorro ao meu filho. Eu abracei e vou continuar abraçando o MLB, essa ferramenta dos trabalhadores para lutar por uma moradia digna”.

Foto: Jorge Ferreira / Jornal a Verdade

A marcha, que contou com mais de cem pessoas, ocorreu no fim da tarde e foi da Igreja Matriz, no centro da cidade, até o Paço Municipal, em uma caminhada pacífica de mais de uma hora, mantendo o distanciamento social, o uso de máscaras e todos os cuidados relativos à pandemia da Covid-19 e sem qualquer tipo de conflito, sendo inclusive apoiada pela maior parte da população que transitava pela cidade, de carro, de ônibus ou a pé. Segundo Daniela, que constrói o MLB no bairro Detroit, em São Bernardo: “Essa manifestação é muito importante, estou aqui não só por mim, mas pelas minhas filhas e pela minha comunidade. Aprendi com o MLB que nós precisamos lutar, assim como fizeram os escravos, que se revoltaram e hoje são libertos. Mas ainda existe uma escravidão pra gente vencer e por isso estamos na luta”.

A organização do ato realizou um acordo com a Guarda Civil Municipal (GCM) e com a Polícia Militar, para que a manifestação fosse encerrada no Paço Municipal com uma assembleia das famílias que cobravam o seus direitos. No entanto assim que os primeiros militantes do movimento entraram no Paço, carregando uma faixa com os dizeres “Despejo Zero, Morar é um Direito”, a GCM descumpriu o acordo e atacou covardemente três Coordenadoras do MLB que carregavam a faixa, desferindo empurrões, socos e utilizando spray de pimenta sobre as mulheres; rapidamente um conjunto de famílias se aproximou, afastou os políciais e organizou um cordão de isolamento para impedir novas agressões.

Ao todo foram mobilizadas cerca de 30 viaturas entre GCM e Polícia Militar com o objetivo de impedir a continuação do ato através de uma ação agressiva e completamente desproporcional, descumprindo um acordo feito minutos antes, alegando que o movimento estava proibido de adentrar o Paço Municipal carregando qualquer tipo de bandeira ou faixa e demonstrando o caráter repressivo do Estado contra os trabalhadores, os pobres e os lutadores sociais que cada dia fica mais intenso no Brasil. As famílias conseguiram assegurar o direito de realizar sua assembleia no local e em alguns minutos de diálogo e de muita agitação política contra as injustiças do sistema capitalista, o sistema dos ricos que durante a pandemia promove o crescimento do patrimônio dos bilionários exploradores e o empobrecimento geral daqueles que vivem do próprio trabalho, decidiram encerrar a manifestação, prometendo que voltarão às suas cidades e bairros e organizarão ainda mais pessoas para lutar pela Reforma Urbana e pelo Socialismo. Segundo Thais Gasparini, uma das Coordenadoras Estaduais do MLB agredidas pela GCM: “Essa repressão, esse uso da violência para calar quem se manifesta é um espelho do que acontece na periferia, em que essa mesma GCM é utilizada pra derrubar as casas do povo pobre. Isso precisa acabar, por isso nos manteremos firmes na luta, cada dia maiores, combatendo a exploração, a especulação imobiliária e a política dos ricos, dos latifundiários e dos banqueiros”.

Para Arnor, membro do MLB do bairro do Divinéia, em São Bernardo: “O ato foi muito bom, muito bonito, temos que seguir lutando. Já precisamos marcar a próxima passeata”.

Exército Vermelho salvou humanidade do nazismo

bandeira URSS no reichstag

No capitalismo, as guerras são fruto da concorrência entre as classes dominantes de diferentes nações pelo domínio do planeta. Na Primeira Guerra Mundial, formaram-se dois blocos imperialistas opostos: Tríplice Aliança (Impérios Alemão, Austro-Húngaro e Turco-Otomano) e a Tríplice Entente (Impérios Inglês, Francês e Russo).

O sol nasce vermelho

Algo novo, entretanto, surgiu durante a Primeira Guerra Mundial: a revolução socialista de outubro de 1917, na Rússia; nova cisão ocorria no mundo, agora dividido em dois sistemas adversos: o capitalismo e o socialismo.

Os dois blocos capitalistas passaram a ter um objetivo comum: a destruição do primeiro Estado operário-camponês da história, em vista da restauração do capitalismo em escala global. Foi com este propósito que o bloco vencedor investiu na economia alemã 15 bilhões de marcos em seis anos (1924-1929).

Quando o nazismo se apossa da Alemanha e explicita seu intento de domínio mundial, as potências capitalistas dominantes não tratam de combatê-lo. Ao contrário, fecham os olhos às suas agressões e até incentivam o monstro nazista a direcionar seu ataque contra a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS).

Em 1939, a URSS propôs à Inglaterra e França um pacto para ações militares conjuntas se os países do Eixo (Alemanha, Itália e Japão), bloco nazifascista, iniciassem a guerra na Europa. Não houve rejeição formal, mas nenhum passo foi dado por parte dos países capitalistas para concretizar o pacto. Ao contrário, França e Inglaterra firmaram com Alemanha e Japão acordos de não-agressão. Deixada sozinha, em agosto de 1939, a URSS assinou com a Alemanha um tratado de não-agressão. Os dirigentes sabiam que, mais cedo ou mais, tarde Hitler romperia o acordo, mas conseguiram ganhar um tempo valioso para transferir parte de suas indústrias para o leste do grande território soviético, bem como reforçar sua capacidade de defesa militar.

De 1938 a 1941, Hitler ocupou Áustria, Checoslováquia, Polônia, Bélgica, Holanda, Dinamarca, Noruega, Grécia, Iugoslávia e finalmente a própria França. Na Europa central e oriental, a Alemanha adquiriu imensa quantidade de material de combate, meios de transporte, matérias-primas, materiais estratégicos e força de trabalho, tornando-se forte o suficiente para atacar a URSS.

Hitler, no livro MeinKampf(Minha Luta), proclamou: “…tratando-se de obter novos territórios na Europa, deve-se adquiri-los principalmente à custa da Rússia”.

dia da vitória na bulgária 09 05 1945

A invasão hitlerista foi impiedosa. “Fuzilavam em massa as pessoas (mulheres, crianças, idosos, montavam campos de morte, deportavam para trabalho forçado na Alemanha. Por onde passavam, não deixavam pedra sobre pedra”. Era a política do extermínio. “Eu tenho o direito de destruir milhões de homens de raça inferior que se multiplicam como vermes” (Hitler).

Em resposta, o governo, o Partido Bolchevique e o povo soviético lançaram a palavra de ordem: “Morte aos invasores fascistas, tudo para a frente! Tudo para a vitória!”. Às fileiras do Exército Vermelho se integraram milhões de homens. Criaram-se também inúmeros regimentos de milícia popular, contando com dois milhões de combatentes.

Formou-se ainda na retaguarda uma força guerrilheira massiva. A dedicação e bravura do povo soviético comoveram o mundo e foram decisivas para quebrar a resistência capitalista (EUA, Inglaterra, França). Formou-se finalmente o bloco aliado, antifascista, a frente única dos povos pela democracia.

Caíra por terra a ideia de Hitler de que a ocupação da URSS seria um passeio uma “guerra relâmpago”. Os nazistas não imaginavam a resistência que encontrariam nas principais cidades: Leningrado, Stalingrado, Kiev e Moscou, entre tantas. Homens, mulheres, idosos e crianças se ergueram como muralha inexpugnável.

Os feitos do povo soviético repercutiram no mundo inteiro, levando um jornal burguês como o STAR, de Washington, a publicar: “Os sucessos da Rússia na luta contra a Alemanha hitleriana revestem-se de grande importância não só para Moscou e o povo russo, como também para Washington, para o futuro dos Estados Unidos. A história renderá homenagens aos russos por terem suspendido a guerra relâmpago, pondo em fuga o adversário”.

Em junho de 1942, os invasores avançam, mas encontram uma barreira instransponível em Stalingrado. Durante sete meses de combate, os invasores perderam 700.000 soldados e oficiais, mais de mil tanques, dois mil canhões e morteiros, 1.400 aviões. Os invasores eram tecnicamente superiores, mas, em novembro de 1942, os números já se invertiam em favor dos soviéticos. Os alemães estavam com 6.200.000 soldados, os soviéticos com 6.600.000; 5.000 tanques invasores contra 7.000 soviéticos; 51.000 peças e morteiros contra 77.000.

Na derrota do Stalingrado, os nazistas perderam 1,5 milhões de soldados e oficiais. “… Do ponto de vista moral, a catástrofe que o exército alemão sofreu nos acessos de Stalingrado teve um efeito sob o peso do qual ele não pôde mais reerguer-se”. (A segunda guerra mundial, B.Lideel Hart)

Depois, ocorreu a vitória do Cáucaso e se iniciou processo de expulsão em massa dos ocupantes nazistas. “A União Soviética pode orgulhar-se das suas heroicas vitórias”, escreveu o presidente dos EUA, Franklin Roosevelt, acrescentando: “…os russos matam mais soldados inimigos e destroem mais armamentos do que os outros 25 estados das Nações Unidas no conjunto”.

O final de 1943 marca a virada na frente soviética e na Segunda Guerra em geral. O movimento contra o nazifascismo se consolidou e se ampliou em todo o planeta.

Em junho de 1944, com o exército alemão batido em todas as regiões da URSS, as tropas anglo-americanas desembarcaram no Norte da França, dando início à frente ocidental proposta pelo governo soviético desde o início da invasão.

Pode-se dizer que a essa altura a guerra estava decidida, diante da derrota alemã na Rússia. O próprio Winston Churchil, primeiro-ministro britânico, reconhece o papel fundamental dos soviéticos, no discurso pronunciado na Câmara dos Comuns, em julho de 1944: “….Considero meu dever reconhecer que a Rússia mobiliza e bate forças muitíssimas maiores que as enfrentadas pelos aliados no Ocidente, que, há longos anos, ao preço de imensas perdas, ela suporta o principal fardo da luta em terra”.

Um exército libertador

Apesar de imensas perdas, o Exército Vermelho avançou no encalço dos alemães pela Europa Oriental adentro, fustigando os nazistas e auxiliando as forças populares da resistência a derrotarem os ocupantes e seus colaboradores internos. Repúblicas democrático-populares foram instaladas com os partidos comunistas à frente na Polônia, Hungria, Iugoslávia, Checoslováquia, Romênia e Bulgária.

“Para Berlim!” era a palavra de ordem do exército libertador. Não foi um passeio. A resistência nazista, embora enfraquecida, produzia encarniçados e sangrentos combates. Os russos vitoriosos não mataram, não pilharam, não se vingaram dos crimes cometidos pelo exército alemão no solo soviético. Ao contrário, alimentaram os famintos, organizaram a assistência médica, o funcionamento dos transportes, a distribuição de água e de energia elétrica. A 2 de maio de 1945, o Comando Supremo alemão assinou o ato de capitulação incondicional das forças armadas, com a bandeira da URSS tremulando no alto do parlamento alemão, em Berlim. No dia 09 de maio, houve um imenso ato em Moscou em comemoração ao fim da Grande Guerra Patriótica (como os soviéticos denominaram sua participação na Segunda Guerra Mundial) e, desde então, até hoje, celebra-se na Rússia esta data como o Dia da Vitória.

Sob novos céus

Terminada a guerra na Europa, era preciso voltar-se para a Ásia. O Japão, aliado dos nazistas dominava milhões de pessoas na China, na Coreia, nas Filipinas. Apesar de as forças armadas dos EUA e da Inglaterra virem imprimindo sucessivas derrotas, as forças japonesas ainda eram numerosas e fortes. De vez em quando, elas atacavam as fronteiras da URSS e torpedeavam navios soviéticos em alto-mar.

No dia 8 de agosto de 1945, a União Soviética declarou guerra ao Japão e começou a ofensiva. Nesse mesmo dia, o primeiro-ministro japonês, Teiichi Suzuki afirmou: “…A entrada da URSS na guerra hoje de manhã põe-nos definitivamente numa situação sem saída e torna impossível continuar a guerra” . Estava certo. No final do mês, o Exército nipônico havia perdido 677 mil soldados e oficiais: 84 mil mortos e 593 mil prisioneiros.

Ao contrário do que muitos pensam, e a historiografia burguesa busca difundir, não foram as bombas estadunidenses lançadas no início de agosto contra Hiroshima e Nagasaki que provocaram a capitulação japonesa. A guerra continuou normalmente depois do ataque bárbaro e covarde. A rendição resultou do destroçamento do exército nipônico pelas tropas soviéticas.

Se alguém duvida, leia o testemunho do general Chenault, que chefiou as forças dos EUA na China: “…A entrada da URSS na guerra contra o Japão foi o fator decisivo para o fim da guerra no Pacífico, o que sucederia mesmo sem o emprego de bombas atômicas. O rápido golpe desferido pelo Exército Vermelho sobre o Japão fechou o cerco que pôs finalmente o Japão de joelhos”.

O Exército Vermelho contribuiu ainda para a expulsão dos nazistas da China e da Coreia. O sacrifício do povo soviético foi inestimável. Mas valeu a pena porque livrou a Humanidade da besta nazista. Foi também a vitória do socialismo que saiu da Segunda Guerra triunfante em toda a Europa Oriental e na China.

Por todos, valeu a carta de agradecimento enviada pelo povo coreano a Josef Stalin, comandante supremo das forças soviéticas: “… Os combatentes soviéticos chegaram não como conquistadores, mas como libertadores. Emancipada da escravidão, a nossa pátria respirou livremente. O céu apareceu-nos radioso. A nossa terra floresceu. Jorraram canções de liberdade e felicidade…”.

José Levino, historiador

Fonte de pesquisa: O Grande Feito do Povo Soviético e do Seu Exército. VassiliRiábov, Edições Progresso, Moscou,1983.

Bolsonaristas defendem volta da tortura e fim das eleições diretas

Da Redação

Enquanto milhões de brasileiros estão em isolamento ou distanciamento social devido à pandemia da Covid-19, o capitão reformado Jair Bolsonaro e seus puxa-sacos vivem um imenso isolamento político. A reprovação a seu governo já alcança quase 70%, suas Medidas Provisórias, sem apoio, caducam no Congresso Nacional e o Supremo Tribunal Federal (STF) decidiu que não é função do presidente desrespeitar governadores e prefeitos. Nos embates que travou com o ex-ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, ficou em minoria nas reuniões do seu Ministério. Teve que levar um de seus filhos para dentro do Palácio Planalto para poder conseguir ouvir diariamente: “Pai, você é o rei”.

E os fatos mostram uma dura realidade: após quase um ano e meio no governo, o capitão reformado, apesar de controlar um Orçamento Federal de R$ 4 trilhões, não construiu nenhum hospital público nem universidade. Tampouco ampliou o acesso da população ao saneamento ou construiu casas populares. O desemprego e o número de famílias vivendo na extrema pobreza cresceram enormemente no seu desgoverno. Usou todo o dinheiro público para enriquecer os especuladores, os banqueiros e permitir a remessa de bilhões de dólares do Brasil para os EUA.

O povo brasileiro, vendo que o capitão reformado é incompetente, antidemocrático e totalmente subserviente ao EUA, passou a reprovar seu governo em todas as regiões. Segundo o Instituto Datafolha, 17% de seus eleitores se arrependeram de ter votado nele.

Diante dessa crescente rejeição da população, o capitão reformado e seus filhos resolveram apelar para a velha política: recorrer às Forças Armadas, em particular ao Exército, para impor um regime ditatorial no país.

Assim, foram marcadas as carreatas e atos para o dia 19 de abril, dia que é considerado Dia do Exército. O Exército, seu comandante geral e o Alto Comando sabiam do ato e deram total permissão para que Bolsonaro e seus puxa-sacos o realizassem com dezenas de faixas encomendadas e com dezenas de assessores de deputados e de pessoas que ocupam cargos de confiança no governo, os conhecidos “aspones”.

No entanto, os atos foram um fracasso. Em São Paulo, dezenas de carros luxuosos, acompanhados de várias motos, algumas delas que custam mais de R$ 50 mil reais, foram verdadeiramente “ovacionadas”, isto é, receberam ovos e tomates dos prédios por onde passavam. Em Brasília, apenas algumas centenas de pessoas atenderam ao chamado de Bolsonaro e, se retirarmos os assessores da conta, fica uma ridícula minoria. Pior: após o ato, nove pessoas deram entrada em hospitais de Brasília com suspeita de Covid-19.

Pois bem, com o repúdio nacional à fala de Bolsonaro em frente ao Quartel General do Exército em Brasília, os generais passaram a dizer em off a jornalistas que não concordavam com aquele discurso defendendo um golpe militar e a volta do AI-5 e pediram ao capitão para “baixar o tom”. Na manhã desta segunda-feira, 20 de abril, um irritado e nervoso presidente, com suas mãos trêmulas (lembrando Hitler no filme A Queda), tentou desdizer o que tinha dito. Mas, revelando sua natureza fascista, parafraseou o rei Luís XIV, e declarou: “Eu sou a Constituição”.

Os fascistas e a grande a burguesia nacional e internacional olham a história do Brasil, observam os inúmeros golpes militares que aconteceram e acham que é fácil dar um golpe militar em nosso país e impor a censura à imprensa, torturar os que discordam, assassinar e esconder os corpos dos patriotas e democratas ou jogá-los no mar. Pensam que assim terão a paz dos cemitérios dizendo que o “Brasil vai pra frente, ame-o ou deixe-o” e que a ditadura militar é o melhor regime para governar um povo rebelde, como é o brasileiro.

Mas, senhores e senhoras fascistas, ensina a filosofia dialética que, se houve tantos golpes militares assim no Brasil é porque nenhum conseguiu se manter eternamente. Ou melhor, todos foram derrotados nas ruas pelos trabalhadores, pelas mulheres, pelos jovens, pelo povo brasileiro. Duvidam? Então terão que ouvir novamente nosso povo nas ruas desfilando e cantando: “Amanhã vai ser outro dia!” ou “Você não gosta de mim, mas sua filha gosta!”.

Nossa luta para derrotar o governo fascista em meio ao avanço das contradições interimperialistas

Passeata em São Paulo contra a Reforma da Previdência. Foto: A Verdade

Por Wanderson Pinheiro e Leonardo Péricles

1 – O Brasil e a questão internacional

O chamado neoliberalismo se aprofundou no Brasil nos anos 1990, primeiro no Governo Collor e depois durante os dois governos de Fernando Henrique Cardoso. Na verdade, tratou-se de uma maior submissão das economias nacionais com abertura dos mercados, iniciada no Chile e na Argentina, diante de um crescimento da exportação de capitais e maior domínio do capital financeiro internacional sobre as economias nacionais latino-americanas. Foi um período de ampla hegemonia dos EUA, encoberto sob o discurso da globalização.

A queda brusca dos impostos de importação e exportação, o fim do controle de capital e a isenção de impostos para a sua movimentação, a adoção de uma política cambial ancorada no dólar, o achatamento salarial dos trabalhadores e a privatização das principais empresas estatais foram as medidas centrais que tiveram consequências estruturais perversas para a economia nacional.

No entanto, o que se desenvolve de fato são as características do imperialismo capitalista, com o aprofundamento da financeirização do capital monopolista e uma gigantesca exportação de capitais por diversas vias. O capital se expande permanentemente, destruindo as economias nacionais, promovendo o desemprego e a redução salarial, para extrair mais-valia extraordinária e, assim, buscar manter sua taxa de lucro. Neste sentido, falar apenas contra o neoliberalismo e aceitar o capitalismo é propor aceitar a exploração dos trabalhadores, a manutenção da escravidão assalariada e sua expressão política, a democracia burguesa.

Além da política neoliberal praticada pelo imperialismo dos EUA, sofremos uma ação neocolonialista brutal, com a “elite nacional” sendo subornada e praticando a corrupção. Este fato foi evidenciado no processo de privatização, tendo boa parte dos recursos sido desviada para o “caixa 2” das campanhas eleitorais de 1998, mantendo FHC no governo.

Outro objeto de controle da nação foi a dívida pública. Com o aumento dos juros para conter a inflação, os novos financiamentos recebidos do FMI aumentaram em muito as dívidas externa e interna, ampliando a dependência do Brasil ao capital financeiro dos EUA. A abertura financeira ocasionou ainda o aumento da dívida interna, pois era extremamente favorável para o capital financeiro especular com a alta de juros (a taxa Selic atingiu 45,67% ao ano, em 1997), com controle do câmbio e livre movimentação de capitais.

Resumindo: ocorria uma espoliação financeira terrível devido à política de total submissão às ordens do dito “Consenso de Washington” praticada pelo governo brasileiro.

Essa abertura gerou também a quebra de milhares de empresas nacionais. As pequenas e médias empresas foram as mais atingidas, mas também grandes empresas foram à falência, iniciando o processo de desindustrialização nacional. Porém, um setor com maior acúmulo de capital, a grande burguesia interna, que fez o acordo com a burguesia estadunidense, teve lucros crescentes e caminhou para expandir seus negócios para o exterior. Setores como o do agronegócio, da construção civil e dos frigoríficos, tornaram-se grandes empresas internacionais e, a partir desse acordo, passaram a expandir-se para a região do Mercosul.

Outros setores foram se associando ao capital estrangeiro, seja na aquisição das importantes empresas estatais que foram privatizadas (setores de minério, siderúrgico, energia, etc.) ou de indústrias e serviços privados para o investimento dos capitais internacionais. Tornaram-se, assim, um setor submisso ao capital internacional e aos ditames da Organização Mundial do Comércio (OMC).

Entre os anos de 2003 a 2010, vivenciamos o Governo Lula e, de 2011 a meados de 2016, o Governo Dilma. Foi um período de hegemonia petista, considerado por alguns como desenvolvimentista ou neodesenvolvimentista, mas teve como base a diversificação da dependência nacional, principalmente em relação ao crescimento das exportações para a China, pautado também pelo investimento público feito nas empresas públicas e privadas, e pela ampliação do consumo da população com base numa grande oferta de crédito.

Esse processo de consumo levou a um relativo desenvolvimento da indústria naval, da construção civil, do agronegócio e da pecuária, propiciando o crescimento do lucro da grande burguesia e do capital financeiro. Porém, sendo um desenvolvimento com base no crescente endividamento e submetido aos interesses da grande burguesia nacional e mundial, terminou por esgotar-se com o aprofundamento da crise do capitalismo mundial.

Na verdade, o governo praticou uma política neodesenvolvimentista, mas manteve a hegemonia do capital financeiro, aprovando leis em seu benefício, como a lei de garantia de empréstimos com descontos em folha. A “Carta aos Brasileiros”, no início do primeiro mandato de Lula, foi, no fundamental, uma mensagem ao mercado financeiro internacional em que o presidente se comprometia a manter todos os acordos anteriores, não mexer no processo das privatizações, manter o controle da inflação, garantir o pagamento da dívida pública com altos juros e ampliar seus benefícios. Isso significou, na prática, a manutenção da política neoliberal.

Além de não ter revogado nenhuma das corruptas privatizações do Governo FHC, o PT realizou novas: privatizou portos, aeroportos e rodovias, além de fazer leilões de campos de petróleo para empresas estrangeiras. Porém, com o pré-sal (considerado o bilhete premiado), alterou o regime de exploração, mantendo os leilões em outros termos. Assim, a Petrobras foi um poderoso instrumento para desenvolver a política neodesenvolvimentista, promovendo investimentos em refinarias e alavancando a indústria naval brasileira e a construção civil. No entanto, o PT não reverteu a abertura de capital da Petrobras e esta permaneceu influenciada pesadamente pelos acionistas internacionais e pelo mercado.

A crise da era petista se iniciou em 2014, no final do primeiro Governo Dilma. A crise econômica chegou ao Brasil e ficou evidente que a política neodesenvolvimentista não conseguiu resolver os problemas estruturais do país, principalmente por não suspender o pagamento dos juros da dívida pública e manter a espoliação do capital financeiro e a dependência em relação ao agronegócio. Por outro lado, a relação com a China, que trouxe a ampliação da venda de commodities a níveis altos e a abertura para importação de produtos de toda ordem, gerou uma maior desindustrialização e dependência do setor externo. Essa troca desigual trouxe enormes benefícios para a grande burguesia do agronegócio, da mineração, da pecuária, da construção civil, etc., mas, como sempre, bastou uma oscilação do mercado internacional para tudo ir abaixo.

Realmente, a crise mundial se aprofundou com reduções seguidas de crescimento da economia chinesa. A China, mesmo possuindo enormes monopólios e rivalizando o comércio internacional com os EUA, não ficou de fora da nova crise de superprodução relativa que dificultou a realização de seu capital mundialmente. É importante notar que essa crise e a disputa de mercados continuam a se desenvolver, ameaçando agora entrar num período mais profundo, como afirmou recentemente a OMC. Sem ter como exportar mais mercadorias e com o superacúmulo de capital, a China avança a financeirização da sua economia.

Vejamos o que se sucedeu de 2007 a 2015. A China chegou a crescer 13%, em 2007, e o mercado de commodities brasileiro teve uma alta considerável. Em 2010, a China teve mais uma queda no seu PIB para 10,4%. Em 2015, relatório do FMI dizia que a China diminuiria o crescimento para 6,8%, a menor taxa anual do país dos últimos 25 anos. A queda da economia brasileira foi quase automática. Dilma Rousseff, que tomou posse para o segundo mandato no dia 1º de janeiro de 2015, permaneceu no posto apenas um ano e meio.

A crise ocasionada pela redução da produção da China fez cair enormemente o preço das commodities e reduziu os lucros da grande burguesia. Sendo pragmática, a burguesia, que há pouco havia colocado o gorro “comunista” na cabeça para adular o imperialismo chinês, pulou do barco e abandonou Dilma, definitivamente afastada do cargo em agosto de 2016.

O impeachment de Dilma teve ainda um elemento geopolítico. Os EUA usaram todo o seu poder para manter o país como sua área de influência, pois, mesmo sabendo que o PT atendia ao capital financeiro e pagava religiosamente a dívida pública, o avanço da crise do capitalismo mundial exigia ainda mais submissão. Vale salientar que a UP, ao mesmo tempo em que estava em processo de construção, esteve nas ruas lutando e denunciando este golpe.

Da mesma maneira, resistindo à quebra da sua hegemonia em nível internacional, os EUA lançaram o Tratado Transpacífico (TPP), que tinha como objetivo enfraquecer a China. Porém, após a eleição de Trump, os EUA se retiraram do TPP e adotaram como tática acordos bilaterais. Depois, abriram uma guerra comercial direta com a China, levantando barreiras às mercadorias chinesas, o que dura até hoje.

Assim, os EUA intervieram no Brasil com o objetivo de retirar o PT do governo para garantirem no poder um aliado subserviente. Financiaram e corromperam o judiciário brasileiro, apoiaram a fabricação da “Operação Lava-Jato”, que levou Lula à cadeia e promoveu a eleição de Bolsonaro. Da mesma maneira, os EUA disputam a Venezuela, com ações de bloqueio econômico e ameaça de invasão, e a Bolívia, onde promoveram um golpe fascista. Aparentemente, existe uma disputa entre forças reformistas liberais e o neoliberalismo fascista no continente, que tem como pano de fundo as disputas entre as duas propostas para conduzir o mundo capitalista.

Também era importante para os EUA ter o Brasil, principal país da América do Sul, como sua área de influência estratégica. Tendo como objetivo central na América Latina a derrubada do Governo Maduro e não obtendo sucesso pela via “pacífica”, intensificou o bloqueio econômico e buscou envolver o Brasil e a Colômbia numa aventura imperialista contra a Venezuela. Trata-se claramente de uma estratégia neocolonialista, que visa a usar tropas de outros países, mas mantendo o objetivo de conquista e ainda lucrando com a guerra.

A China é hoje a segunda potência econômica mundial e busca acumular forças na disputa pela hegemonia no planeta, fato que leva ao acirramento de contradições interimperialistas. Antes apenas exportadora de manufaturas, a China está alcançando o mais elevado grau de tecnologia, uma enorme acumulação de capital e intensificando a fase de exportação de capitais. No momento, essa exportação ocorre por meio do financiamento de infraestrutura nos países em desenvolvimento, investimentos financeiros, compra de títulos do Tesouro estadunidense, empréstimos e investimento direto.

O processo de exportação de capitais parece ser a ponte para uma defesa militar das áreas de influência econômica. Por isso, a China tem hoje o segundo maior gasto militar do planeta e já instala bases militares internacionais, sendo que a primeira foi estabelecida na África. Na América Latina, a China tem grandes investimentos, sendo o principal parceiro comercial de diversos países, inclusive do Brasil. Por isso, investem pesadamente em grandes porta-aviões, jatos, armas nucleares, e já superam os Estados Unidos em alguns aspectos tecnológicos.

Para termos uma noção, o país asiático investiu no Brasil, do ano de 2007 a 2018, US$ 57,9 bilhões em 145 projetos voltados principalmente para o setor de geração, transmissão e distribuição de energia elétrica. Os investimentos, no último ano, foram especialmente diretos, sendo 50% realizados em empresas construídas a partir do zero. Mas 42% foram investimentos em fusões e aquisições. Segundo o embaixador da China no Brasil, Yang Wanming, a China está aumentando a abertura do setor financeiro, de serviços, da agricultura, mineração e manufatura. Estima-se que o investimento chinês no próximo ano ultrapasse os US$ 10 bilhões.

A China mantém os investimentos mesmo no Governo Bolsonaro e, embora reaja às declarações do filho dele de forma dura, o pragmatismo do capitalismo chinês projeta grandes investimentos nas áreas de a) energia, da ordem de R$ 24,7 bilhões em quatro projetos (hidroelétrica, termonuclear e transmissão); b) ferrovias, R$ 29,1 bilhões em quatro projetos (2.800 km); c) óleo e gás, R$ 117,5 bilhões em quatro projetos; d) portos, com R$ 5,9 bilhões em 16 projetos; e) aeroportos, R$ 2,1 bilhões em dois projetos.

Por outro lado, embora Trump afirme que apoia Bolsonaro e ambos troquem elogios ideológicos em público, os EUA não fazem nada do ponto de vista financeiro para apoiar o governo brasileiro. O investimento dos EUA no Brasil foi pequeno em 2019: o valor foi de US$ 2,2 bilhões, menor que o de 2017, quando o montante correspondeu a US$ 2,9 bilhões. Os compromissos firmados se restringiram a acordos antinacionais e militares, como a entrega da Base Espacial de Alcântara, no Maranhão, e um acordo que transforma o Brasil numa força auxiliar do Comando Sul dos EUA, tornando-se um aliado extrarregional da OTAN. Ou seja, um acordo militar subserviente, que coloca o Brasil como mais uma base de operação militar dos EUA na região.

Como vemos, Bolsonaro segue cegamente o imperialismo norte-americano, pois, como fascista que é, em um país de economia altamente dependente e submissa como é o Brasil, seguirá a linha fascista de Trump para apoiar-se internacionalmente no império dos EUA. Bolsonaro é um representante da grande burguesia[1] e dos militares fascistas, que se declaram abertamente submissos ao capital estadunidense, não possuindo sequer um verniz de nacionalismo.

2 – Desenvolver a consciência das massas populares, aumentar o isolamento de Bolsonaro e criar as condições para derrubar o governo

O 8 de março foi a última grande manifestação nacional antes da pandemia. Foto: A Verdade

Diante da crise do coronavírus e da projeção de uma crise econômica mais profunda nos próximos meses, setores da própria burguesia (como evidenciou editorial recente do Financial Times) falam que os governos devem ajudar a economia promovendo investimentos e renda para os mais pobres, ou seja, praticar uma política antiliberal para ajudar a cobrir os prejuízos da própria burguesia. Bolsonaro, no entanto, insiste em manter o arrocho salarial, cortar salário dos servidores e seguir a retirada de direitos a ferro e fogo. Assim, quer ser mais realista que o rei e promover a política neoliberal dos banqueiros e do capital financeiro estadunidense a todo custo.

Por tudo que fez desde o início do governo, como retirada de direitos dos trabalhadores, congelamento dos salários, desemprego e venda do patrimônio público, Bolsonaro tem um enorme desgaste, que tende a crescer com o aprofundamento da crise do coronavírus e a demissão de Luiz Henrique Mandetta do Ministério da Saúde. As mortes que se multiplicam evidenciam que a retirada dos recursos públicos da saúde foi um crime de lesa-humanidade. Também a insistência de Bolsonaro contra o isolamento social e de que a Covid-19 é apenas um “resfriadinho” trarão consequências desastrosas para a população. Hoje já temos quase 70% da população contra esse governo.

Porém, não vivemos em uma democracia popular, em que a maioria do povo é que decide. Vivemos debaixo de um governo de fascistas que tem como principais ministros generais da ativa e da reserva. Também é um governo que representa os interesses da grande burguesia, que é uma ínfima minoria da sociedade e, por isso, teme o movimento operário e popular e tende ao fascismo, principalmente em momentos de crise.

Portanto, não devemos subestimar a possibilidade de o atual governo, sob o pretexto de o país viver uma calamidade pública, promover um golpe e decretar um estado de sítio. Para isso, os fascistas não precisam de apoio da maioria da população, basta contar com apoio das Forças Armadas e de uma parcela reduzida da população disposta a ir às ruas nos seus luxuosos carros. Lembremos ainda que o governo dos EUA, aliado de Bolsonaro, pratica uma política fascista que impulsiona correntes desta natureza na Europa e na América Latina.

Em almoço realizado na sede da FIESP, no último dia 03 de fevereiro, para os 250 maiores industriais de São Paulo, com a presença de Bolsonaro, o presidente da entidade, Paulo Skaf, afirmou que “O Brasil não está dando certo. O Brasil já deu certo”, declarando, assim, o apoio da grande burguesia ao fascista. Este apoio é firmado especialmente na política de Paulo Guedes, que promoveu a reforma trabalhista, a reforma da Previdência e dá continuidade, em meio à crise do coronavírus, a propostas como a Carteira de Trabalho Verde e Amarela e a retirada de direitos dos servidores públicos. Assim, o apoio ao fascista está condicionado à agenda de retirada de direitos que assegure a maior extração de mais-valia dos trabalhadores.

O fascista também tem o apoio da Confederação Nacional da Agricultura e Pecuária (CNA), representada por João Martins, que também é parte da minoria dos exploradores e representa a grande burguesia agrária. Em setembro de 2019, momento em que Bolsonaro fez um ridículo discurso na ONU exaltando a ditadura militar de 1964, Martins afirmou que Bolsonaro o representou, fazendo excelente discurso: “Defendeu a soberania nacional, esclareceu equívocos sobre a Amazônia e ressaltou o importante papel do Brasil na produção mundial de alimentos e na preservação do meio ambiente. Também afastou a tese de que o governo está colocando o mundo contra o agro brasileiro, defendendo não apenas o setor, mas toda a nação”.

Vale lembrar que esse foi o momento em que a Amazônia estava em chamas e que o agronegócio foi um dos principais responsáveis por este crime contra a natureza. Mas vejamos que, apesar da reafirmação do apoio da grande burguesia, os meses vão se passando e fica evidente a cada dia que o governo Bolsonaro vem se enfraquecendo e perdendo apoio popular. Porém, será defendido para que fique no poder por essa minoria enquanto for útil para a grande burguesia.

Nesse momento, apresentam-se algumas propostas políticas para retirada de Bolsonaro da presidência. O impeachment é uma delas. No entanto, com um Congresso Nacional altamente reacionário e antipopular como o atual, a única forma de forçar o impeachment seria a realização de grandes manifestações nas ruas. Mas, no momento, devido ao crescimento do número de mortes pela Covid-19, esta possibilidade não é viável. Desse modo, apostar que um Congresso Nacional que aprova leis contra os trabalhadores vai aprovar o impeachment sem o povo nas ruas é ignorar o papel das massas na luta política e propagar ilusões parlamentaristas.

Outra proposta apresentada é apelar para que Bolsonaro, que faz planos para governar 20 anos, renuncie. É como pedir para o diabo virar anjo. Alguns desses setores chegam até mesmo a afirmar que o general Mourão seria um “mal menor”. Esse é o caso do governador do Maranhão, Flávio Dino, do PCdoB: “Claro que Mourão não é do meu campo ideológico. Mas, se Bolsonaro entregar o governo para ele, o Brasil chegará em 2022 em melhores condições”.

Trata-se de um ledo engano e demonstra uma gigantesca ilusão de classes, uma total traição ao povo e sua história. Mourão é um general, representante ainda mais direto dos interesses do setor ultraconservador e fascista das Forças Armadas. Como Bolsonaro, Mourão defende a tortura, tenta falsificar a história escondendo os crimes cometidos pelas Forças Armadas e pela grande burguesia durante a Ditadura Militar, sendo, portanto, um defensor do aumento da repressão contra o povo e a classe trabalhadora.

Dessa maneira, nossa tática de aprofundar o desgaste deste governo, manter e impulsionar a palavra de ordem “FORA BOLSONARO! POR UM GOVERNO POPULAR!” é, sem dúvida, a mais correta. Primeiro, porque é a palavra de ordem que está na boca do povo. Foi gritada por milhares de mulheres de todas as correntes políticas no 8 de março, sendo esta a última manifestação nacional contra o fascismo. Segundo, taticamente, no momento de avanço da pandemia do coronavírus em que nos encontramos, devemos ter como principal atuação a solidariedade aos trabalhadores e trabalhadoras para enfrentar essa barbárie nas periferias e denunciar o caráter antidemocrático e antipopular do governo. Terceiro, devemos ampliar os panelaços nas periferias, sendo esta uma forma de protesto importante, criada no fogo da batalha e capaz de desgastar o governo, dialogando com a consciência da classe trabalhadora, dizendo que o governo com sua política aumenta a fome e a miséria e só governa em prol da classe rica e dos EUA.

Assim, prepararemos o terreno para derrubar o Governo Bolsonaro pelas mãos do povo e fortaleceremos uma alternativa popular para o desfecho dessa crise, qual seja, a construção de um poder popular e do socialismo, única saída verdadeira para termos um país livre e independente. Da mesma forma, romperemos com as ilusões do reformismo e da pequena burguesia de que derrotarão o fascismo no âmbito institucional promovendo um impeachment ou mesmo pedindo, por favor, para que Bolsonaro renuncie.

3 – Derrotar o imperialismo capitalista é uma tarefa fundamental

Solidariedade internacionalista a Cuba e à Venezuela. Foto: G1

Precisamos ter a consciência de que enfrentamos o fascismo internacionalmente. Por isso, a classe trabalhadora, em nível mundial, é nossa principal aliada na luta contra os imperialismos e pelo socialismo. Não basta levantar a bandeira contra a política neoliberal e passar a defender o neodesenvolvimentismo, pois o capitalismo é brutal em todas suas formas e tem como único objetivo despejar a crise nas costas da classe trabalhadora.

O capitalismo desenvolvimentista não é alternativa ao neoliberalismo, pois ambos são exploradores da mais-valia dos trabalhadores. Nosso objetivo deve ser destruir o capitalismo, e não apenas a política neoliberal dos EUA. Os neodesenvolvimentistas cumprem o papel de abrir caminho ao fascismo e são a outra face da moeda do capitalismo.

Prova disso foi o que ocorreu na Segunda Guerra Mundial, quando os EUA e a Inglaterra, tidos como democratas naquele período, deixaram a chama nazifascista bater-se contra a pátria socialista, só dando apoio na Frente Oriental depois de perceberem que a URSS sairia vitoriosa, e com grande chance de que seriam também vítimas do nazismo.

Quem é socialista e comunista tem como principal obrigação defender a classe trabalhadora e defender seus interesses presentes e futuros. Portanto, devemos trabalhar em nível internacional para que a classe trabalhadora não seja levada a uma luta interimperialista, mas que lute por sua libertação, pois, como internacionalistas que somos, fazemos parte do mesmo exército do mundial do proletariado.

Os trabalhadores e o povo da Venezuela estão na linha de tiro do imperialismo estadunidense, portanto, nossa solidariedade aos venezuelanos e nossas ações principais devem ser no sentido de derrotar esse imperialismo fascista e expulsá-lo da América Latina. Apoiamos, como internacionalistas, a classe trabalhadora que luta contra o imperialismo, mas que também luta pelo socialismo. Defendemos que esta classe possa, no processo revolucionário em curso, tomar consciência e declarar o caráter socialista da revolução. Não podemos aceitar sermos instrumento nem do imperialismo dos EUA, nem do imperialismo chinês e russo, uma vez que estes investem financeiramente na Venezuela, visando a mantê-la como área de influência econômica e geopolítica, gerando, de fato, igual dependência e exploração para os trabalhadores.

A revolução socialista é a única forma de derrotar definitivamente o imperialismo e a exploração dos trabalhadores. Essa luta é a luta do presente, atual e estratégica para a classe trabalhadora. Quem pensa o contrário, não faz mais que defender a manutenção da exploração do homem ou considerar este objetivo algo utópico. Para que os trabalhadores possam decidir seu destino e sua autodeterminação é fundamental fazer uma revolução proletária.

Trabalhadores e trabalhadoras de todo o mundo, uni-vos!

Wanderson Pinheiro e Leonardo Péricles,
membros do Diretório Nacional da Unidade Popular (UP)


[1] Apesar das visíveis disputas políticas de Bolsonaro com outros representantes da grande burguesia, como Dória e a Globo, no fundamental, não divergem quando se trata de aumentar a exploração sobre a classe trabalhadora e a retirada de direitos – como vimos no caso da Reforma da Previdência, da PEC dos Gastos e no Pagamento da Dívida Pública, dentre outras medidas antipopulares.

AGITAÇÃO E LUTA NO NOVEMBRO NEGRO REVOLUCIONÁRIO

São Mateus tem colagem lembrando nomes e referências na luta do Povo Negro no Brasil e no Mundo

Foi realizado no bairro do Vila Flávia, São Mateus, Zona Leste de São Paulo, na semana do 20 de Novembro uma ação de colagem de nomes e referências negras na história da luta do povo negro e referências da periferia. Jovens do bairro espalharam nomes de homens e mulheres da luta antiracista como Luis Gama, Marielle Franco, Luisa Mahin, da luta anticapitalista como Angela Davis, Carlos Marighella, além de muitas referências como Emicida, Negotinho, Mano Brown, Mestre Moa, e homenagem a crianças mortas pelo Estado como a menina Ágatha Félix, de 8 anos, morta pela PM do RJ, e do menino Lucas Eduardo, de 14 anos, morto em Santo André pela PM de SP.


O mês de Novembro é um mês de agitação e propaganda sobre a luta do povo negro mas também de reforçar a importância da organização para enfrentar um sistema e um governo que tem aprovado medidas para aumentar o genocídio diretamente, autorizando ainda mais a impunidade da PM, ou indiretamente, privatizando o SUS, que atende em maior parte a população negra, precarizando o trabalho, feito em maior parte pela população negra. Esses e outros fatores que fortalecem ainda mais o racismo estrutural, ferramenta de submissão econômica e cultural do sistema capitalista. Para fazer frente de forma efetiva a quem nos mata e proteger nossa população e juventude negra de forma efetiva, precisamos lembrar nesse mês de Novembro de nos organizar em um movimento popular de porte nacional, mantida pelas forças e recursos do povo e movido pelos interesses da luta da classe trabalhadora no Brasil.

Lucas Nascimento Coordenador Nacional do Movimento de Luta nos Bairros, Vilas e Favelas / MLB SP

Trabalhadores do setor de transporte declaram greve na cidade de Mauá

Foto: Bastidor Político

Durante a manhã dessa sexta-feira (22), Mauá, município do ABC paulista, amanheceu com os ônibus na garagem, e manifestações no terminal central: trabalhadores da Suzantur, transportadora turística privada responsável pelas linhas de ônibus da cidade, declararam greve contra a revogação contínua de direitos.

P. O.*, trabalhador da Suzantur e integrante do turno da tarde, alegou que a mobilização entre os trabalhadores começou quando um motorista não recebeu o depósito do vale salarial, benefício garantido pelo contrato. Contudo, esse fato foi apenas o estopim: os motoristas da Suzantur sofrem com a falta de pagamento dos salários, assédio moral, horas extras compulsórias e expedientes sem pausa para o banheiro no cumprimento das dezenas linhas que a cidade de Mauá possui.

Além da falta de pagamento de salários, recusa do depósito de benefícios, M. Q.*, trabalhador do turno da manhã, declarou ao Jornal A Verdade que as condições de trabalho pioram diante das jornadas extensas. “Cheguei a trabalhar durante vinte dias seguidos. Aqui não tem respeito”.

Apesar do posicionamento da empresa, que caracterizou a paralisação como “indevida”, a greve foi vitoriosa, e garantiu que o depósito do vale salarial ocorresse. Os ônibus voltaram a circular a partir das 14h.

*Os nomes dos trabalhadores que concederam depoimentos ao Jornal A Verdade foram alterados.

Gabriela Torres – Movimento de Mulheres Olga Benário

Bolivianos residentes no Brasil rechaçam golpe de Estado

SÃO PAULO – Neste domingo, 17, milhares de pessoas foram à avenida Paulista, no centro de São Paulo, em solidariedade ao povo boliviano e contra o golpe de Estado sofrido por Evo Morales. O ato foi chamado pelo Comitê Brasileiro de Solidariedade ao Povo Boliviano Contra o Golpe, e contou com a presença de crianças, estudantes e trabalhadores da comunidade boliviana residente, além do apoio de muitos brasileiros.

As bandeiras boliviana e Whipala, símbolo da plurinacionalidade do país e da cidadania dos povos originários, foram firmemente tremuladas por todo o ato. Palavras de ordem também marcaram a manifestação, destacando o repúdio ao golpe de Estado, a resistência popular pela democracia, e denunciando o fascismo promovido por figuras da extrema direita do país, como a senadora (autoproclamada presidente) Jeanine Áñez e o empresário multimilionário Luis Fernando Camacho.

Através de um manifesto, distribuído no ato, o Comitê Brasileiro de Solidariedade ao Povo Boliviano Contra o Golpe afirma: “A luta do povo boliviano contra o golpe, contra Camacho, contra o fascismo, contra o racismo e a extrema direita, é uma luta que deve receber a solidariedade de todas as pessoas e da classe trabalhadora de todo o mundo que defendem as liberdades democráticas.” O manifesto também pontua: “Não reconhecemos como presidente da Bolívia a autoproclamada Jeanine Áñez, uma fraude, assim como Juan Guaidó, o autoproclamado presidente da Venezuela.”

O golpe na Bolívia representa uma ofensiva de setores extrema direita, aliada do imperialismo dos EUA e de grandes grupos empresariais e especuladores do mercado financeiro. Os diversos povos bolivianos que se erguem em defesa da democracia resistem ao golpe há semanas, como os lutadores do Chile, Equador e Haiti, que rechaçam ataques das elites do poder econômico. Com os últimos acontecimentos, desmancham-se as ilusões com o imperialismo, com a conciliação com grandes ricos e exploradores da classe trabalhadora. A real saída para a América Latina, cada vez mais, aponta para o poder popular.

Carol Matos – Movimento Luta de Classes

Grito dos Excluídos leva centenas de pessoas às ruas do ABC paulista

Foto Reinilson Câmara

Na manhã desse sábado, 14, centenas de pessoas tomaram o centro de Santo André para conclamar o Grito dos Excluídos e Excluídas do ABCDMR. O ato começou com um café da manhã coletivo, uma caminhada pela rua principal da cidade terminando com uma homenagem a brasileiros que deram a vida por uma nação mais justa e igualitária. O ato contou com adesão e organização de diversos movimentos sociais, ambientalistas, partidos de esquerda, movimentos populares do campo e da cidade, movimento estudantil, de mulheres, pastorais sociais e religiosas de diferentes matrizes e entidades sindicais.

O Grito dos Excluídos e Excluídas acontece há 25 anos e esse ano ecoou em mais de 200 cidades e em todas as capitais do Brasil. Esse movimento nasceu da necessidade de dar voz ao povo, às minorias e à população historicamente excluída pelo Estado burguês, que segue interesses de banqueiros lucrando com a miséria do nosso povo, deixando em segundo plano direitos básicos como:  saúde, moradia, transporte, trabalho, informação e vida digna.  

Foto Reinilson Câmara

“A vida em primeiro lugar! Este sistema não vale: LUTAMOS POR JUSTIÇA, DIREITOS E LIBERDADE” foi o lema do 25º grito dos excluídos. A marcha em defesa de direitos sociais e da luta contra o desemprego, levantou vários problemas estruturais como encarceramento em massa, genocidio da população negra, feminicídio, transfobia,  lgbtfobia, cortes na educação e a “reforma” da Previdência, promovido pelo governo fascista de Jair Bolsonaro.

Também foi pauta do ato a questão do meio ambiente, por conta do aumento das queimadas, do avanço do desmatamento na Amazônia, dos crimes da Vale em Brumadinho e Mariana, em Minas Gerais. Além disso, foi erguido a bandeira contra o projeto do centro logístico de Paranapiacaba, proposto pelo prefeito de Santo André, Paulo Serra (PSBD), que ameaça uma área de proteção ambiental com importantíssimo valor histórico nacional, turístico, paisagístico e de serviços ambientais como provisão de águas para a Represa Billings.

Por fim, o ato do ABCDMR terminou com homenagens aos verdadeiros heróis da pátria, que lutaram por um país mais justo e igual, por meio de uma intervensão cultural com fotos e palavras de ordem. Nomes como Marielle Franco, índio Galdino , Zumbi dos Palmares, Dandara dos Santos, Milton Santos, Elenira Resende, Carlos Mariguella, Chico Mendes, Carolina Maria de Jesus e Manoel Aleixo foram lembrados e homenageados.

Foto Cadu Machado
Foto Reinilson Câmara

Reinilson Câmara Filho – Unidade Popular pelo Socialismo

147 famílias são despejadas com truculência em Arraial do Cabo – RJ

Foto: Marcela Couri

Na última quinta-feira (15) cerca de 147 famílias foram despejadas numa ação truculenta e violenta promovida pela Polícia Militar do estado do Rio de Janeiro com ordens do governo estadual em Monte Alto, bairro do segundo distrito de Arraial do Cabo na Região dos Lagos. O Movimento de Luta nos Bairros, Vilas e Favelas – MLB esteve presente no local no dia seguinte junto ao Jornal A Verdade para acompanhar a situação das famílias e prestar solidariedade e apoio.
“Foram momentos de terror, eram mais de 40 viaturas, trator, helicóptero, drone, canhão de água, centenas de policiais encapuzados e armados até os dentes. Parecia que estávamos em guerra.” contou uma moradora. Outro morador continuou: “quando os policiais chegaram por volta das 5 horas da manhã, dissemos que tínhamos uma liminar da justiça garantindo que poderíamos ficar ali até que a prefeitura apresentasse uma outra solução de um local decente para essas famílias morarem. O comandante da operação se recusou a ver o nosso documento e tampouco nos deixou ver o documento que ordenava a realização daquela operação. Dali em diante começou o terror, jogaram bomba de gás lacrimogêneo, spray de pimenta, bala de borracha em todos, acertando inclusive grávidas, crianças e idosos sem a menor capacidade de resistência dos moradores. Daí em diante, destruíram nosso sonho. Passaram o trator por cima das 147 casas construídas com muito esforço coletivo por todos nós”.

Foto: Marcela Couri

A justificativa do governo para promover tal barbaridade, é de que aquela área pertence ao Parque Estadual da Costa do Sol e seria área de preservação ambiental. “Aqui só tem trabalhador, não tem bandido não. A gente não invadiu a terra não porque queremos destruir o meio ambiente. Só estamos aqui porque não temos outra opção.” disse uma moradora. Em áreas ao redor do “projeto” (como foi apelidado o local pelas famílias) existe um condomínio enorme, garagem náutica e um outro terreno de milhares de metros quadrados que pertencem à construtora Volendam, que tem carta branca para fazer o que quiser, sem se preocupar com as questões ambientais. “É necessário compatibilizar a preservação ambiental com o direito social do uso da terra. A dignidade da vida humana está prevista na legislação ambiental, e o direito à moradia digna foi reconhecido e implantado como pressuposto para a dignidade da pessoa humana, desde 1948, com a Declaração Universal dos Direitos Humanos e consta na Constituição Federal de 1988”, disse Ana Paula, conselheira do parque e militante da Unidade Popular pelo Socialismo.
Essa é a realidade de cerca de 7,7 milhões de famílias em todo o Brasil, que compõe déficit habitacional em nosso país. São milhões de pessoas que moram em situações precárias, de favor, não tem mais condições de pagar aluguel e se encontram em situação desesperadora. Por outro lado, vemos milhões de imóveis e terrenos que não cumprem nenhuma função social, servindo apenas à especulação para gerar lucro para os ricos donos das grandes construtoras. O grande questionamento que ficamos nesse caso é: por que a Volendam pode explorar e degradar o meio ambiente em grandes proporções no terreno ao lado para obter fabulosos lucros, mas quando as famílias buscam um local pra morar são tratadas com violência pelo estado?

Foto: Marcela Couri

O estado do Rio de Janeiro tem a polícia que mais mata e que mais morre, é onde 5 jovens negros e pobres foram assassinados na última semana sem enquanto iam para a escola, para o trabalho ou apenas se divertir com os amigos. Enquanto nosso sangue escorre pelo chão da favela, o governador anda de helicóptero mirando sua arma na gente. Esse caso é reflexo da política genocida promovida pelo Estado Capitalista, de guerra aos pobres, guerra aos negros e negras.
No “projeto restinga” os moradores respiram resistência, luta e esperança. Muitos dos que não tem pra onde ir, seguem tentando reerguer as construções e sobrevivendo através da solidariedade dos moradores da região que fornecem abrigo em suas próprias casas, doam roupas, alimentos e ajuda. A decisão dos moradores do projeto é de que só vão sair de lá se a prefeitura apresentar uma alternativa digna, “todos aqui tínhamos a nossa casinha, humilde, mas conquistada com muito suor e luta! Não vamos aceitar menos do que isso!” disse um morador durante assembléia realizada.

Foto: Marcela Couri

O Movimento de Luta nos Bairros, Vilas e Favelas – MLB segue acompanhando e prestando apoio a essas famílias. Acreditamos que morar dignamente é um direito humano e que se o Estado Capitalista prioriza os lucros acima da vida, queremos destruir esse Estado e construir no seu lugar um Estado dos trabalhadores, onde prioridade seja a vida digna, com emprego, moradia, educação, saúde, etc. Enquanto morar for um privilégio, seguiremos lutando pela reforma urbana e o socialismo!

Fotos: Marcela Couri

Galeria: combatividade e unidade da oposição marcam Conune 2019

Foto: João Marcio Dias
Foto Jorge Ferreira
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Foto Jorge Ferreira
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João Marcio Dias

Trabalhadores da Educação aprovam Greve Nacional

Foto: Jorge Ferreira/Jornal A Verdade


A Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação (CNTE) realizou a 9º Conferência Nacional de Educação Paulo Freire com o tema “Educação Libertária e Democrática: construindo o movimento pedagógico Latino-Americano” entre os dias 26 a 28 de junho em Curitiba. O objetivo do encontro foi debater os desafios e rumos da educação brasileira, sendo estabelecida greve nacional no dia 13 de agosto contra os retrocessos do governo atual.

Dentre as pautas discutidas, os educadores se debruçaram sobre o Plano Nacional da Educação (PNE), sancionado em 2014 e com validade de 10 anos, com o propósito de direcionar esforços e investimentos para a melhoria do quadro educacional brasileiro. O Plano é composto por 20 metas contemplando todos os níveis educacionais que, apesar de muito promissoras, apenas uma foi cumprida de acordo com o Inep.

Destaca-se a meta 1, que diz respeito a universalização e democratização do ensino básico tendo como finalidade atender 100% das crianças de 4 a 5 anos matriculadas na pré-escola até 2016, além de garantir 50% das crianças de 0 a 3 anos em creche até 2024. Segundo dados do Pnad, apenas 90% das crianças de 4 a 5 anos foram atendidas e somente 1/3 estão em situação de creche. Essa defasagem é vivenciada principalmente nas periferias, onde as filas de espera por vaga nas creches podem levar anos colaborando com a desigualdade enfrentada pelas mulheres na participação no mercado de trabalho.

A estagnação e não cumprimento das metas são resultados dos ataques que o sistema educacional brasileiro sofre constantemente. Prova disso é a emenda constitucional nº 95 implementada pelo governo Temer que congela, durante 20 anos, investimentos públicos direcionados a saúde e educação. Além do corte de 30% das verbas destinadas às universidades e institutos federais, anunciado recentemente pelo ministro da educação. As duas ações fazem parte de um projeto que confronta diretamente as diretrizes do PNE, uma vez que a falta de recurso penaliza o avanço das melhorias no ensino público.

Além disso, a militarização das escolas incentivada por Jair Bolsonaro, visa instituir um sistema onde a censura é peça chave, ferindo a efetivação da gestão democrática de educação proposta pela meta 19 do Plano.  Na mesma linha, o descumprimento se fez presente quando aprovadas as mudanças no “Novo Ensino Médio” pelo Conselho Nacional de Educação, órgão vinculado ao MEC, que libera o ensino a distância totalizando 20 e 30% de carga horária, respectivamente no período diurno e noturno, acentuando ainda mais a defasagem no ensino público.

Essas ações com embasamentos apenas voltados aos interesses capitalistas, sem considerar a realidade do povo brasileiro, são responsáveis por colocar a situação educacional do país em risco. O desleixo com que se é tratado o ensino público foi demonstrado nos últimos dados coletados pelo IBGE, provando que a educação ainda não é para todos. Cerca de 40% da população com mais de 25 anos não chegaram a concluir o ensino básico, e daqueles que concluíram, o maior percentual está entre os brancos (55,5%) ao passo que entre os negros, o número cai substancialmente (40,4%). Considerando que a maior parte da população brasileira é negra, o acesso a educação no Brasil ainda é limitado e desigual pela negligência do governo em promover políticas públicas que incentivem o acesso à todos.

Analisando todo este quadro, os educadores presentes da 9ª Conferência apresentaram um manifesto repudiando as sucessivas contra-reformas liberais no setor educacional e o desmonte das políticas educacionais e sociais que atacam os direitos da população, especialmente da população mais marginalizada (mulheres, negros, índios e LGBTs). Além disso, também criticaram a proposta da Reforma da Previdência e as conseqüências que irá trazer principalmente para as professoras de rede pública, aumentando 10 anos a idade mínima para aposentadoria. Ao final do manifesto, os profissionais conclamam a luta incessante e o compromisso para com a educação, convocando todas as instituições de ensino para uma grande greve geral no dia 13 de agosto.

Diante dessa conjuntura, se fazem necessárias as críticas, a mobilização e organização dos estudantes, trabalhadores e servidores públicos em defesa do ensino de qualidade no país e contra a destruição da aposentadoria, como foram feito nos dias 15 e 30 de maio pela educação, e no dia 14 de junho na Greve Geral que mobilizou categorias ao redor do país e que foram responsáveis pelo fechamento de diversos pontos estratégicos das cidades.

Thais Gasparini
Unidade Popular pelo Socialismo


Seis ex-ministros assinam carta em defesa da Educação: “no atual governo, ela é apresentada como ameaça”

Foto: Jorge Ferreira/Jornal A Verdade

Numa palavra, a educação se tornou a grande esperança, a grande promessa da nacionalidade e da democracia. Com espanto, porém, vemos que, no atual governo, ela é apresentada como ameaça.” – afirmam ex-ministros em carta contra as políticas educacionais do governo Bolsonaro.


Inimigo da Educação, o governo Bolsonaro vem promovendo um verdadeiro sucateamento do ensino público no país. Em abril, através de sua conta no twitter o atual presidente fascista insinuou que os cursos de ciências humanas não mereciam investimentos, adiantando a pretensão de seu governo de cortar verbas do ensino superior. Mesmo com a revolta da população diante de tais alegações, pouco tempo depois, o governo através de seu Ministro da Educação, Abraham Weintraub, anunciou o corte de 30% nas verbas das universidades sem diálogo prévio com a comunidade acadêmica, impactando diretamente o funcionamento dos institutos federais. Na ocasião, o governo alegou que os cortes no ensino superior eram necessários para garantir o investimento na educação básica. Contudo, isso se mostrou como mais uma de suas mentiras contra a população mais pobre, ao estender o corte orçamentário para toda a pasta de educação, incluindo os programas de ensino infantil ao médio.

Frente a essa situação de completo desmonte das políticas educacionais do país, seis ex-ministros de governos anteriores se reuniram em um evento promovido pela Universidade Estadual de São Paulo (USP) e redigiram uma carta aberta em oposição às medidas do governo Bolsonaro. Na carta, José Goldemberg (1991-1992), Murílio Hingel (1992-1995), Cristovam Buarque (2003-2004), Fernando Haddad (2005-2012), Aloizio Mercadante (2012-2014) e Renato Janine Ribeiro (2015), expressaram sua preocupação com “as políticas para a educação adotadas na atual administração”, enfatizando que a magnitude dos cortes promovidos no último período “podem ter efeitos irreversíveis e até fatais”.

De acordo com eles, nessa gestão, a educação deixou de ser vista como prioridade nacional e passou a ser tida como uma ameaça, enfatizando a postura do governo em ignorar especialistas da área atuando de “forma sectária, sem se preocupar com a melhoria da qualidade e da equidade do sistema, para assegurar a igualdade de oportunidade”. Em outras palavras, a carta converge com as denúncias realizadas pelos movimentos sociais e estudantis frente aos ataques de Bolsonaro. Para Beatriz Baria, militante do Movimento Correnteza de São Paulo: “cortar investimentos dos institutos federais e da educação básica, determinar o fim das bolsas para pesquisadores, é mais uma forma desse desgoverno vergonhoso de atacar nosso povo. Somos nós, a juventude pobre, que vai ser impedida de ter uma educação de qualidade, pra encher os bolsos dos grandes grupos privados, que fazem da educação mercadoria, como a Kroton Educacional”.

A carta denuncia ainda a perseguição e a censura impostas pelos governos aos docentes, ressaltando a importância do “respeito à profissão docente, que não pode ser submetida a nenhuma perseguição ideológica […] Convidar os alunos a filmarem os professores, para puni-los, é uma medida que apenas piora a educação, submetendo-a a uma censura inaceitável”. Em outro trecho, reforçam: “a autonomia universitária é uma conquista que deve ser mantida para garantir a liberdade e qualidade na pesquisa, formação e extensão”. 

Ao fim do texto, os ex-ministros propõem a “formação de uma ampla frente em defesa da educação” e anunciam a criação de um “Observatório da Educação Brasileira dos ex-ministros da Educação, que se coloca à disposição para dialogar com a comunidade acadêmica e científica, sociedade e entidades representativas da educação, com parlamentares e gestores, sempre na perspectiva de aprimorar a qualidade da política educacional”.

Jady Oliveira
União da Juventude Rebelião


[1] Kroton Educacional: a maior empresa privada do mundo no ramo da educação, um conglomerado que monopoliza e atua em função da privatização do ensino privado, em detrimento da educação pública, gratuita e acessível.

Deputada Talíria Petrone é ameaçada de morte e tem a proteção negada pelo governador do Rio

Foto: Ricardo Albertini


RIO DE JANEIRO Um ano após a execução da Vereadora Marielle Franco pela milícia, a deputada federal Talíria Petrone (PSOL-RJ) – assim como Marielle uma política negra, de periferia e LGBT – teve a solicitação de escolta negligenciada pela omissão do Governador Wilson Witzel, do Partido Social Cristão, ao negar o pedido de proteção à vida da deputada que foi realizados após receber ameaças de morte.

Talíria recebe ameaças de morte desde 2016 quando foi eleita vereadora em Niterói/RJ. As ameaças vêm pelas redes sociais ou até por telefonemas feitos à deputada ou a sede de seu partido. A pouco mais de dois meses a polícia federal alertou ter encontrado na dark web informações sobre o planejamento de um atentado à vida da deputada.

Graças à investigação da PF, Talíria está sendo escoltada em Brasília, mas nas vezes em que retorna a Niterói, cidade na qual foi eleita e também onde recebeu as ameaças, anda desprotegida pois a solicitação enviada pelo presidente da Câmara dos deputados, Rodrigo Maia (DEM), foi negada pelo Governador Witzel, que nem sequer enviou uma resposta a Câmara.

Em abril deste ano a deputada foi chamada de “verme” pelo líder da bancada ruralista, Alceu Moreira (MDB-RS), durante uma audiência pública após reações da parlamentar às declarações do também deputado. Recentemente, após as denúncias de ameaças de morte, o filho do presidente, o deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), debochou em seu twitter dizendo que Talíria era hipócrita por se declarar desarmamentista e pedir escolta, alegando que a deputada deveria pedir “iluminação”.

A história da Professora Talíria em muito se confunde com a história de Marielle Franco. Ambas ameaçadas de morte e odiadas pelos conservadores, falsos moralistas e pelos milicianos. O que acontece é que em um país que possui cotas para que as mulheres enfim consigam ocupar o espaço político que é ocupado majoritariamente por homens brancos, héteros e ricos, existir duas mulheres negras, periféricas e LGBTs, que foram eleitas como as vereadoras mais votadas em suas respectivas cidades na primeira eleição que concorreram, é inaceitável.

É um atentado à democracia o estado do RJ não exercer seu papel e zelar pela vida de uma deputada que é ameaçada apenas por lutar pelos direitos das mulheres, dos negros, dos pobres e dos LGBTs. Sabemos as causas da omissão do governador reacionário Wilson Witzel, também sabemos de qual lado está o filho do presidente e amigo da milícia, Eduardo Bolsonaro, que ironiza as ameaças contra Taliria assim como ironizava as denúncias feitas por Marielle.

Mas não podemos esperar a morte de ninguém mais, muito menos de alguém que luta para defender o direito à vida de milhões de pessoas abandonadas pelo estado e massacradas pelo sistema capitalista.


Michel Castro
União da Juventude Rebelião

Projeto Anticrime de Moro é um tribunal de rua do fascismo

Entre as principais mudanças apresentadas pelo governo Jair Bolsonaro para a segurança publica do país, está o projeto de Lei Anticrime divulgado pelo Ministro de Justiça e Segurança Publica Sérgio Moro.

Exército brasileiro assassina jovens negros inocentes na intervenção do RJ

O projeto que prevê alterações de 14 artigos do Código Penal e do Código Eleitoral não demonstra nenhuma novidade sobre as causas dos crimes, muito pelo contrário, coloca no centro da política de segurança pública o método da punição, única e exclusivamente como forma de redução da criminalidade.

Hoje já existe uma diferenciação dos procedimentos de casos de homicídios envolvendo policiais em serviço. Por exemplo: quando um policial comete um homicídio e alega legitima defesa, o crime é juridicamente justificado como “morte por intervenção de agente de Estado”. Esse procedimento hoje é conhecido como “Autos de Resistência”, e é responsável por ser o principal argumento legal para justificar os assassinatos produzidos pela policia, quase sempre sendo o processo arquivado. Porém, caso uma pessoa comum mate e alegue legítima defesa, haverá um inquérito policial para apuração do homicídio, que na maior parte dos casos termina em reclusão, ou seja, pena de seis a vinte anos de prisão.

Nesse sentido, um dos principais eixos do pacote apresentado está a excludente de ilicitude, nesse caso, mesmo que o agente policial tenha praticado um homicídio, ele não será considerado um criminoso, excluindo o ato ilícito. O Código Penal prevê três situações em que se aplica a excludente de ilicitude: estado de necessidade, legitima defesa e o estrito cumprimento do dever legal. Uma das propostas que está no pacote de Sergio Moro é de flexibilização e ampliação da excludente de ilicitude em favor de policiais.

Em situações em que a polícia precisa executar uma prisão em flagrante, o ordenamento jurídico brasileiro autoriza o policial em ação á exercer o estrito cumprimento do dever legal que é prender. Atualmente no Brasil, não existe o dever legal de matar. Não se justifica seguir atirando até causar a morte. Com a mudança proposta pelo pacote, o texto de lei deixa claro: caso os policiais durante o trabalho estiverem em situações de medo, surpresa ou violenta emoção, e vierem a matar ou ferir alguém não poderão serem punidos. Utilizando do pretexto da legitima defesa, o projeto formaliza e amplia a violência e  os assassinatos praticados pela policia.

Um levantamento feito pelo Núcleo de Estudos da Violência da USP e o Fórum Brasileiro de Segurança Pública, mostrou que houve um aumento de 18% de pessoas mortas por policiais de 2017 para 2018 (5.225 para 6.160 mortes ao ano), ressaltando que essas mortes são as que estão registradas no balanço anual. O ultimo relatório produzido pela Anistia Internacional demonstrou que as forças policiais brasileiras são as que mais matam no mundo.

A redução da violência urbana foi destaque nas eleições de 2018, demonstrando uma enorme preocupação da população com a segurança publica. Lembrando que essa era uma das principais promessas e bandeiras das campanhas de candidatos, como Bolsonaro, João Dória, Wilson Witzel. E com razão o povo, principalmente mais pobre tem clamado por justiça e segurança. Os princípios constitucionais, em especial a dignidade humana, têm sido violados e o brasileiro sofre no seu cotidiano.

Herança da ditadura

“Força auxiliar e reserva do Exército” a Polícia Militar foi criada em 1969 sob decreto-lei em pleno período de ditadura. Desde então e mesmo após a democratização do Brasil em 1988, esse braço violento do Estado continua atuando como há mais de 50 anos. Mesmo sendo hoje uma força à disposição do Estado, a submissão é ao Exército autoritário brasileiro. Surge uma antinomia, pois ao mesmo tempo em que polícia vem de polis, do grego, cidadão, cidadania,militar vem do latim miles, milícia. Entende-se inclusive porque a militarização vê no indivíduo civil um inimigo. O modo operante despreparado da polícia dá-se através do excesso de violência, truculência e arbitrariedades. A tortura, por exemplo, é uma prática cotidiana, comum e normal nas ações policiais na periferia adentro.

Com o projeto de lei de Moro haverá um aumento de forças paramilitares. Esse cenário aprofunda a impunidade policial e é a semente para o nascimento de milícias, que no atualmente é o grupo que mais oferece risco a segurança e vida do povo brasileiro, inclusive com comprovações já apresentadas pela investigação do envolvimento direto desse grupo de extermínio com o brutal assassinato da ex vereadora e militante Marielle Franco. 

            O Conselho de Direitos Humanos da ONU solicitou que o Brasil despendesse maiores esforços para combater a violência e projetar um fim à Polícia Militar, responsável por milhares de assassinatos. Tudo isso fica muito claro quando vemos policiais formarem grupos de extermínios e esquadrões da morte (criados no regime militar), carregados de  discurso de ódio, agindo de forma criminosa, truculenta e autoritária. É urgente e necessário por fim a militarização da polícia, e pensarmos um outro modelo de segurança pública para não mais vivermos o cotidiano da barbárie e da escravidão, pois os chicotes de ontem são as balas dos fuzis dos opressores de hoje!

Lucas J Barbosa, MLB – São Paulo

O racismo como ideologia de dominação e os 80 tiros em nós

O fuzilamento de Evaldo dos Santos, músico, num bairro periférico do Rio de Janeiro enquanto passeava com sua família na tarde de um domingo, representa o avanço do estado fascista que já não se importa em manter a aparência de um estado democrático de direito.

Ato na paulista em homenagem a Evaldo, músico assassinado pelo exército com 80 tiros. Foto: Jorge Ferreira

Com indignação o povo assistiu o presidente da república, 6 dias após o assassinato, vir à público se manifestar sobre o caso, limitando-se a defender a instituição que disparou 80 tiros e ceifou não só a vida de Evaldo, mas também de Luciano Macedo, catador de recicláveis,  que tentou ajudar a família a sair do veículo no momento da ação criminosa. Segundo o presidente: “O exército não matou ninguém!” Entretanto, é equivocado pensar que essa barbárie é consequência exclusiva da chegada da extrema direita ao Poder, muito menos apenas de resquícios da ditadura militar. Na verdade o estado policialesco nunca deixou de estar presente nas periferias do Brasil.

No mundo, o 1% da população mais rica tem mais riqueza que os outros 99% somados. Os 6 homens mais ricos do mundo tem mais posses do que a metade mais pobre, mais de 3,5 bilhões de pessoas. Esse abismo social é também a realidade do Brasil, que tem uma das maiores desigualdades do mundo. Neese contexto, ao povo negro é reservado apenas os piores postos de trabalho, os piores salários e os barracos das grandes favelas. A imensa maioria da população negra é extremamente pobre e vive sob todas as formas de vulnerabilidade.

O desemprego é enorme e o varejo do tráfico termina sendo um desses postos de trabalho reservados especialmente para a juventude negra das periferias. Mesmo cumprindo uma tarefa desse negócio que gera enormes lucros para a burguesia, que utiliza seus bancospra lavar esse dinheiro, e por estar na ponta, mais visível e sustentando fuzis nas mãos, os jovens negros são vítimas de um discurso de criminalização e de uma política repressiva e genocida que assassina 66 mil pessoas por ano no Brasil, um verdadeiro índice de guerra civil. 78% desses jovens são assassinados por conta da sua cor da pele, por serem negros.

É que cada tempo histórico tem suas perguntas sobre o passado, pois cada conjuntura produz uma história para justificar o seu presente.” É assim que Marielle Franco começa a demonstrar em sua tese de mestrado a importância de compreendermos nosso passado recente  e o processo de implementação do neoliberalismo que o Brasil passou nas últimas décadas. Apesar do estudo da vereadora assassinada se concentrar na política de segurança pública do estado do Rio de Janeiro através das Unidade de Polícia Pacificadora, traz também importantes esclarecimentos sobre as causas do genocídio de negros e negras no país todo.

É verdade que desde a formação do estado brasileiro há uma política de extermínio daqueles que foram escravizados,  e desde então diferentes  ideologias foram utilizadas para perpetuar o poder na mão de uma minoria enquanto o povo dispõe de uma vida miserável. Mas também é urgente compreender as engrenagens da fase atual do capitalismo para traçarmos estratégias para a sua destruição. Nesse sentido que Marielle desmascara o estado penal vigente nas periferias como estrutura central do neoliberalismo no Brasil.

Nessa fase da crise do capitalismo, onde a elite econômica tenta enfiar goela abaixo reformas para aumentar seus lucros, mesmo que às custas da retirada de direitos trabalhistas e sociais, é necessário uma escalada no estado penal para conter aqueles que se encontram “excluídos” dessa sociedade. É por isso que na medida que os governantes avançam na destruição de direitos sociais,  aumenta-se a repressão nas periferias, pois esses são os territórios tidos como inimigos do estado, que serve exclusivamente aos interesses da classe dominante.

A administração pública por sua vez, concentra  esforços em passar a impressão  que esse modelo de segurança pública, que invade casas, mata e tortura, se legitima em nome da proteção de toda sociedade. Essa é a tática da “guerra às drogas”, justificar o genocídio e o encarceramento em massa como necessário para manter a ordem.

Para tanto, o estado exerce papel crucial na manutenção do projeto de dominação. Se nos bairros ditos “nobres”, o estado se faz presente nas ruas bem asfaltadas, nos parques bem arborizados, e em todo conjunto de políticas que promovem o acesso à cidade, nas periferias esse mesmo estado se faz presente exclusivamente através das forças militares, seja pela polícia, pelo exército, ou mesmo por grupos milicianos.

Essa guerra aos pobres, transvestida de pacificação,  não se justifica apenas com o sadismo de uma elite branca, mas sim por interesses econômicos. O estado, representante da burguesia, não contente com as reformas neoliberais, também está comprometido com o lucro dos megatraficantes, dos milicianos, da indústria armamentista, da especulação imobiliária, etc.

Justamente por incomodar aqueles que lucram com o extermínio da população negra e escancarar a as engrenagens desse sistema que Marielle Franco foi brutalmente assassinada.

Um ano depois de sua morte, os 80 tiros disparados pelo exército no carro de Evaldo e sua família nos traz à tona a urgência de apontar as raízes desse projeto genocida. Trata-se do modus operandi de um estado neoliberal, que manteve as mesmas práticas inclusive nos governos ditos progressistas,  período em que o encarceramento mais do que dobrou. Se no Brasil o capitalismo é forjado no extermínio da população da periferia, que na sua maioria são negros e negras, o fim desse extermínio também depende da superação desse sistema perverso.

O RACISMO COMO IDEOLOGIA DE DOMINAÇÃO

Segundo Clóvis Moura, “o racismo não é uma conclusão tirada dos dados da ciência, de acordo com pesquisas de laboratório que comprovem a superioridade de um grupo étnico sobre outro. O racismo é uma ideologia deliberadamente montada para justificar a dominação de um grupo sobre outro. É, portanto, uuma ideologia de dominação.

Acontece que após a abolição da escravidão no Brasil, a elite do país determinada a manter seu projeto de domínio, costurou outras roupagens para sustentar o novo regime econômico. Nesse momento ganha destaque a  concepção eugênica que correspondia a uma política de embranquecimento da população e a uma teorização sobre características de personalidade inerentes às raças.

Dentre elas, se destaca o papel do direito penal na formação do imaginário popular do negro como figura naturalmente criminosa. Ainda no período da primeira república, o código penal tipificava como crime o que ficou conhecido como lei da vadiagem. Num contexto de séculos de escravidão, foi como prender as pessoas simplesmente por elas serem negras. Essa política foi aprimorada ao longos das décadas, mas sem nunca perder o viés ideológico de dominação sobre os corpos marginalizados.

A Liga de Higiene Mental, por exemplo, braço do nazismo e do arianismo no Brasil, se destacou como defensora “científica” dessa tese e defendia, entre outras bandeiras, salários eugênicos (quanto mais clara a cor da pele, maior deveria ser o salário), recompensa para famílias que procriassem seres “superiores”, punição para os “inferiores”.

O higienismo social presente na segregação territorial até os dias de hoje, é oriundo das políticas da burguesia desde a formação da nação brasileira. A verdade é que esse país foi constituído sob uma ideologia burguesa e racista, que nega ao povo sua própria história, como estratégia política para perpetuar uma estrutura excludente.

Sendo assim, torna-se uma ingenuidade combater o racismo apenas através do viés acadêmico ou estritamente científico, muito embora não possamos de maneira nenhuma, negar o combate também nesse terreno.  Mas a verdade é que a boa e velha luta de classes ainda é a forma mais eficiente de enfrentar o racismo no Brasil. Como afirma Clóvis Moura, “a questão racial é essencialmente política e não apenas científica.”

Para superarmos o sistema político existente, o capitalismo, será necessário travarmos as lutas pelos interesses imediatos da classe trabalhadora, composta na sua maioria por mulheres e negros. Mas isso não bastará. Será necessário, e esse é o nosso desafio, apresentar outro modelo de sociedade que seja capaz de substituir a engrenagem capitalista.

Um sistema político e social que dê conta de distribuir toda a riqueza socialmente produzida, pondo fim à propriedade privada dos meios de produção e a todas as desigualdades sociais existentes na atualidade. Esse sistema, essa sociedade, tem nome e chama-se Socialismo.

Jorge Ferreira e Queops Damasceno, São Paulo

Tentativa de golpe militar na Venezuela é patrocinado pelos EUA

População venezuelana vai às ruas e impede o golpe orquestrado pelos EUA

Uma tentativa de golpe militar foi realizada na Venezuela na manhã desta terça feira, 30/04, como o intento de derrubar o governo legítimo de Nícolas Maduro. Esta ação contou com o apoio incondicional dos EUA que propicia todo auxílio aos golpistas que são, na verdade, subservientes do imperialismo e realizam um discurso de apoio à “Liberdade” no país, mas com o intuito de fazer o roubo das riquezas nacionais.

Logo pela manhã Juan Guaidó, o promotor principal do golpe, realizou pronunciamentos anunciando a tomada de uma base militar localizada na região leste de Caracas, a Base Aérea La Carlota. Também propalava a obtenção de apoio militar das forças armadas, buscando causar um levantamento em outras bases militares.  Guaidó pronunciou-se ao lado de Leopoldo Lopez que estava preso desde 6 de agosto de 2017, cumprindo pena de quase 14 anos, por praticar atos violentos.  O “Autoproclamado” presidente, com apoio dos EUA, busca usurpar o poder sem possuir o voto democrático do povo, por meio de uma ação violenta contra a maioria dos venezuelanos.

No entanto, oficialmente, o presidente da Assembleia Nacional Constituinte Diosdado Cabello, desmentiu a tomada da Base Aérea e disse que apenas um reduzido grupo militar se sublevou para promover um golpe de Estado. “Não foi vulnerabilizada nenhuma instalação militar no país, eles estão nas ruas no Distribuidor Altamira e nós estamos dirigindo as operações desde a Base Aérea La Carlota”, afirmou.

Maduro também se pronunciou nas redes sociais afirmando que conta com o apoio e lealdade do comando do exército, que diz está comprometido com a constituição e a soberania nacional. Precisa no entanto estar mais preocupado com o apoio popular permanente nesse processo, visto que as ações da direita tentam alterar a correlação de forças também nas massas, mas ao que tudo indica sem sucesso até o presente momento.

Mike Pompeo, o secretário de Estado norte-americano, afirmou em um comunicado “hoje, o presidente [autoproclamado] interino Juan Guaidó anunciou o início da Operação Liberdade. O governo dos Estados Unidos apoia integralmente o povo da Venezuela em sua busca pela liberdade e pela democracia. A democracia não pode ser derrotada”. Destila assim seu apoio incondicional as ações militares para derrubar o governo e mostra disposição de intervir nos assuntos internos da Venezuela.

Ernesto Araújo, ministro de relações exteriores do Brasil, se reuniu em Washington, no dia 29, com Mike Pompeo e demonstrou uma total submissão ao governo dos EUA fazendo coro a politica norte-americana “O Brasil apoia o processo de transição democrática e espera que os militares venezuelanos sejam parte desse processo de transição democrática”, declarou. Logo Bolsonaro também se pronunciou no Twitter “O Brasil está ao lado do povo da Venezuela, do presidente Juan Guaidó e da liberdade dos venezuelanos”. É uma vergonha como copiam a linguagem da farsa americana sem o mínimo de pudor tratando a palavra “liberdade” como um mantra para encobrir a tentativa de um golpe militar absurdo.

As declarações conjuntas do Brasil com os EUA nesse processo devem ser repudiadas pelo povo brasileiro, pois não podemos ser bucha de canhão para o imperialismo. Os interesses do Brasil estão muito mais ligados a uma política de relações internacionais pacíficas, de integração latino americana baseada na colaboração entre os países iguais, na solidariedade e no internacionalismo proletário. O povo brasileiro sempre foi a favou da soberania das nações e o princípio da auto-determinação, onde cabe a cada povo decidir seus destinos.

Todo apoio ao povo venezuelano! Abaixo o imperialismo!

Wanderson Pinheiro, São Paulo

“A Unidade Popular veio para ficar”

A Unidade Popular (UP), partido político em formação, é fruto da iniciativa de centenas de ativistas dos movimentos populares, militantes comunistas, estudantes e professores e da necessidade de construir uma alternativa de esquerda revolucionária ao atual cenário nacional.  Após um ano e meio de muito trabalho, a campanha pela legalização da UP entra em sua reta final. Para falar sobre as novas tarefas da militância, A Verdade entrevistou Leonardo Péricles e Fernanda Lopes, membros da Direção Nacional da UP, que afirmam que para o país sair desta crise, precisa passar por uma profunda transformação econômica e social que dê vida digna para o nosso povo, e, por isso “a UP luta pelo poder popular e pelo socialismo”.

Da Redação

 

A Verdade – Por que a UP foi criada?

Leonardo Péricles – Houve, nos últimos anos, um verdadeiro esgotamento dos atuais partidos ditos de esquerda. Alguns foram cooptados, tomando o caminho de aliança com as grandes empresas, bancos e empreiteiras. Outros, tentando fazer frente a esta traição, não conseguiram dialogar com a classe trabalhadora. De tão estreitos que são, não conseguem se apresentar como alternativa. O resultado é que, hoje, poucos empunham a bandeira de luta por mudanças estruturais, ou seja, a luta revolucionária contra o capitalismo, que passa pela mobilização de amplos setores populares, de milhões e milhões de trabalhadores, mulheres e homens, negras e negros, LGBTs, jovens, indígenas, comunidades tradicionais, enfim, a luta da imensa maioria do povo brasileiro.

Esta é uma luta por quebrar os enormes privilégios dos super-ricos, da burguesia brasileira. É, portanto, uma luta muito dura e nós, da UP, não consideramos que ela possa ser feita por um iluminado ou de forma isolada, mas sim no campo da luta de massas, na vida política partidária, dos movimentos, e lideranças que se reúnem em torno das ideias populares. Daí o próprio nome Unidade Popular. Acreditamos que, a partir de um chamado decidido e pautado na força do movimento popular, se incorporarão a este projeto milhões de lutadoras e lutadores. Foi para fazer este chamado que nasceu a UP.

 

Como vocês veem a atual situação do País? Qual a saída para a crise do Brasil?

Fernanda Lopes – O Brasil vive uma grave crise econômica e política que se agrava a cada dia, com vários retrocessos democráticos, perdas de direitos e uma calamidade social. O desemprego já atinge cerca de 24 milhões de pessoas. Hospitais, postos de saúde, escolas e universidades estão abandonados. A violência aumenta e o povo teme por sua vida todos os dias, especialmente as mulheres. O ilegítimo governo de Michel Temer, que só tem olhos para as classes ricas, aprovou a chamada “PEC dos Gastos”, congelando por 20 anos os investimentos públicos em saúde, educação e moradia. Aprovou, em agosto de 2017, a Reforma Trabalhista, que retirou direitos históricos dos trabalhadores conquistados em décadas de luta, e ainda quer aprovar a Reforma da Previdência para que trabalhadores e trabalhadoras não se aposentem mais. Para sair desta crise, o País precisa passar por profundas mudanças. Somente uma profunda transformação econômica e social que dê vida digna para o nosso povo, emprego, saúde e educação de qualidade, moradia, transporte e terra para os camponeses resolverá os problemas atuais vividos pelo povo. Por isso a UP luta pelo poder popular e pelo socialismo.

Leonardo Péricles – Devemos lembrar também que vivemos uma das mais profundas crises econômicas da história do capitalismo, desde 2008, e que se manifestou com mais força no Brasil a partir de 2013. A solução para esta crise é pôr fim a um sistema que protege uma minoria de ricos. E o programa para isso já é conhecido: taxar as grandes fortunas; impedir a especulação imobiliária e garantir a função social do solo; suspender o pagamento da dívida pública, que nos suga quase metade do orçamento federal; exigir o pagamento dos devedores da dívida ativa dos municípios e estados; impedir a sonegação de impostos pelas grandes empresas, inclusive dos devedores da Previdência; reduzir a jornada de trabalho sem redução do salário para gerar mais empregos. Desta forma, bilhões de reais serão arrecadados e serão suficientes para resolver os graves problemas sociais que nosso país vive. Mas, ao lado de todas estas lutas, não devemos deixar de disputar a maioria da população para um projeto ainda mais profundo de transformações sociais, que é a derrubada do capitalismo e a implantação do socialismo, em que os meios de produção das riquezas estejam nas mãos da classe trabalhadora e possam servir para a vida, e não para o lucro.

Nenhum dos atuais partidos defende essas propostas?

Fernanda – A maioria dos atuais partidos está pautada pela institucionalidade, por um respeito sagrado aos limites impostos pela burguesia, ao invés de se pautar pela necessidade de superação do capitalismo. E isso exige muito enfrentamento, rupturas, uma verdadeira revolução política. Um dos papéis que a UP se propõe a fazer é demonstrar que os partidos dos ricos enganam o povo a todo momento. Procuramos demonstrar pelo discurso e pela prática que nem todos os que fazem política são iguais, que há uma política corrupta e burguesa, mas que existem também políticos revolucionários e uma política proletária. Não se trata de moralismo, mas sim de colocar as coisas no seu devido lugar.

Por que o socialismo é superior ao capitalismo?

Leonardo – Em um país riquíssimo como o Brasil, o socialismo daria condições para todas as pessoas se apropriarem dos bens e serviços de que necessitem para viver. Já debaixo do capitalismo, somos um país subdesenvolvido, com uma economia comandada pelos EUA e com uma desigualdade social que aumenta a cada ano. Hoje a realidade é que as cinco pessoas mais ricas do País detêm a mesma riqueza da metade mais pobre da população. O socialismo também permite que a tecnologia desenvolvida seja aplicada para melhorar a vida do conjunto da população, e não para aumentar os lucros dos capitalistas. Só o socialismo garante acesso universal à educação, saúde, moradia, segurança, lazer. Isto já foi provado por décadas na União Soviética e em outras experiências socialistas. Uma nova onda de grandes transformações sociais virá neste século 21, pois são insustentáveis as contradições do capitalismo. Só no ano passado, por exemplo, 82% da riqueza produzida no mundo foi apropriada por apenas 1% das pessoas! A maioria dos trabalhadores ainda não tem a consciência de que este mundo novo de felicidade é possível, mas o socialismo está no sonho de todo trabalhador e trabalhadora consciente. Ao socialismo interessa socializar a riqueza das grandes propriedades, aquela que pode resolver o problema da moradia nas grandes cidades, pois no capitalismo há mais casas e prédios abandonados do que gente sem habitação. Já as grandes fábricas e empresas, as grandes extensões de terra, estarão à disposição do Estado, dirigido pela classe trabalhadora para que esta decida a prioridade e a função social de cada coisa.

Como veem as declarações de membros do Alto Comando do Exército defendendo um golpe militar?

Fernanda – Nessa conjuntura em que a luta de classes se encontra bastante acirrada, vemos manifestações das diferentes classes sociais e agrupamentos sobre as possíveis saídas para a crise. Dentro da falta de perspectivas de parte da população, setores do alto comando do Exército a serviço do setor mais reacionário da burguesia, dos fascistas, tentam também se apresentar como alternativa. Lembremos que todo este espaço para que generais possam se pronunciar sobre golpes de Estado, contrariando a própria Constituição sem sofrerem nenhuma punição, é algo muito grave e que não podemos aceitar. É preciso levar a cabo as recomendações da Comissão Nacional da Verdade para que se punam os torturadores e assassinos da época da ditadura militar. Como disse a grande companheira Amelinha Teles, em entrevista publicada na última edição do Jornal A Verdade: “Não há democracia com corpos insepultos”. Sabemos que a impunidade do passado leva à impunidade do presente, pois hoje milhares de jovens negros e pobres continuam sendo torturados e mortos nas periferias de todo o Brasil nas mãos de agentes estatais, principalmente das polícias militares.

Qual o balanço da campanha pela legalização da UP?

Leonardo – Estamos há 15 meses colocando em prática um ousado plano de legalização de um partido político revolucionário que almeja o poder. Para coletarmos as 600 mil assinaturas que conquistamos neste período, fomos a praças, bairros, vilas, favelas, ruas, empresas, fábricas, escolas, universidades e seguramente falamos para mais de dois milhões de pessoas que foram abordadas ou que escutaram nossas agitações. Nosso discurso, aliás, não é só para pedir uma assinatura, mas para politizar, para denunciar os crimes das elites contra o povo e convocá-lo para a luta.

Neste último período, conseguimos perceber como poucos o sentimento de nosso povo, seu desejo por mudanças no Brasil e, neste sentido, tivemos ainda mais certeza de que nossa decisão de criar a UP foi acertada. E fizemos isso sem depender de um centavo da Odebrecht ou de qualquer outra grande empresa, banco etc. Sem depender também de nenhum figurão da política tradicional burguesa, dependendo apenas de nossa militância e de apoiadoras e apoiadores que têm os mesmos propósitos que nós.

Chegamos agora a um momento decisivo, pois temos pouco mais de seis meses para cumprir nosso objetivo, já que a legislação impõe um prazo máximo de dois anos. Apesar de enfrentarmos regras extremamente antidemocráticas para a legalização de novos partidos, durante este período, que estamos chamando de período especial, nossa militância decidiu se dedicar integralmente à realização desta grandiosa tarefa. Chegaremos até o final de maio com pelo menos 800 mil assinaturas coletadas no total e já demos passos importantes no cadastramento das fichas de apoio no sistema online do TSE e nos cartórios eleitorais. Em três estados a UP já alcançou o número mínimo de apoiamentos exigido e já podemos constituir seus diretórios estaduais provisórios. Estamos trabalhando para que nos próximos meses cheguemos a pelo menos nove diretórios estaduais legalizados, que é outra exigência. Além disso, temos recebido adesões de muitos ex-militantes de outros partidos e organizações políticas, e até de grupos políticos que não se sentiam mais representados pelos demais partidos existentes.

O que falta para a UP conquistar a legalização?

Fernanda – Tudo o que fizemos até aqui, apesar de muito importante, não basta, pois precisamos validar 487 mil assinaturas nos cartórios eleitorais de todo o Brasil. Neste sentido, entramos no sistema do TSE com cerca de 150 mil fichas nestes últimos meses e nossa campanha continua até a legalização. Para termos êxito, estamos fazendo também uma campanha de arrecadação de finanças, pedindo contribuição às pessoas que acreditam em nossa causa para que possamos ter um caixa que permita arcarmos com os gastos desta reta final. Precisamos da ajuda de todas e todos para que possamos concluir esta campanha de dois anos. Estamos muito confiantes de que venceremos!

Crise climática escancara o descaso dos governos e as injustiças do capitalismo

Enquanto o mundo enfrenta uma crise climática, a preparação para a COP 30 em Belém revela um abismo entre o discurso oficial e a realidade da classe trabalhadora.

Lana Borges e Vitória Rodrigues | Belém (PA)


MUNDO – O mundo vive uma emergência climática sem precedentes. Diariamente, os meios de comunicação noticiam sobre o aumento do calor extremo, enchentes, secas, tempestades e furacões que se intensificam ano após ano, afetando milhões de pessoas, especialmente os trabalhadores, moradores das periferias e o povo pobre em geral, forçado a viver nas áreas de risco das grandes cidades.

Sem acesso a saneamento básico, arborização, áreas verdes ou qualquer tipo de plano de contingência, essas populações enfrentam o pior das catástrofes climáticas. E, quando ocorre uma “tragédia”, a culpa costuma cair sobre as próprias vítimas, pois “moravam onde não deviam”, diz a grande mídia, ignorando que a especulação imobiliária, o alto custo dos aluguéis e a lógica excludente do capitalismo expulsam milhares de famílias das regiões centrais e as empurram para as áreas de risco.

Diante desse cenário, a Organização das Nações Unidas (ONU) lançou a Agenda 2030, com os 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), que incluem metas como moradia digna, combate à fome e à miséria, trabalho digno, acesso à saúde e educação e proteção ambiental. Metas que, em tese, deveriam ser prioridade para todos os governos.

Na prática, porém, os compromissos firmados na Agenda 2030 estão longe de serem cumpridos. Enquanto isso, eventos internacionais como a Conferência das Partes (COP), que deveriam debater soluções concretas para a crise climática e impulsionar a tão falada transição energética, transformaram-se em palco para negócios bilionários, acordos de bastidores e campanhas do chamado “marketing verde”.

O espaço da COP é dividido entre Estado (governos e diplomatas), Mercado (grandes empresas) e Sociedade Civil Organizada. Mas quem realmente tomam as decisões são os governos, dirigidos pelos interesses dos capitalistas.

Empresas como Cargill, JBS, ExxonMobil, Vale e Hydro patrocinam a Conferência, ao mesmo passo que exploram os territórios, destroem o meio ambiente e deixam um rastro de poluição, doenças e miséria por onde passam, como fez a Hydro em Barcarena (PA), onde contaminou o solo, os rios e a vida de milhares de pessoas.

Para completar o cenário de contradições, a poucos dias da realização da COP 30 (realizada em Belém do Pará), o Ibama concedeu licença à Petrobras para explorar petróleo na foz do Rio Amazonas, uma das áreas mais sensíveis do ponto de vista ambiental do planeta. A decisão, defendida por toda a cúpula do Governo Federal (incluindo o presidente Lula e ministra do Meio Ambiente Matina Silva), escancara a incoerência de um país que, ao mesmo tempo em que diz defender a Amazônia, abre novas frentes para sua degradação em troca de aumentar os lucros dos grandes monopólios capitalistas (incluindo os que operam por dentro da Petrobras).

As contradições da Capital da COP 30

Desde que Belém foi anunciada como sede da COP 30, uma série de obras de infraestrutura foi iniciada com o objetivo de impressionar os visitantes estrangeiros. No entanto, enquanto cerca de R$ 4,2 bilhões foram destinados à realização do evento – somando recursos do Orçamento Geral da União, BNDES e Itaipu Binacional –, a cidade segue marcada por problemas históricos e estruturais que afetam diretamente a vida do povo trabalhador.

Segundo o Instituto Água e Saneamento, apenas 20% da população tem acesso ao esgotamento sanitário. E, do pouco esgoto que é coletado, menos de 40% recebe tratamento. Nas periferias, milhares de famílias vivem em palafitas à beira dos rios, sem acesso a água encanada, com esgoto correndo a céu aberto, convivendo com o lixo acumulado nas ruas, fruto da lacuna de políticas públicas deixada pelo Estado.

“Muito dinheiro foi destinado para reformar os pontos turísticos da cidade, enquanto na rua da minha casa nunca foi trocado um cano e a água vem tão suja que não dá nem para escovar os dentes”, afirmou Maria de Lourdes, moradora do Guamá e leitora do jornal A Verdade.

Durante o inverno amazônico, a situação se agrava, e casas são frequentemente invadidas pela água da chuva, colocando vidas em risco e destruindo o pouco que essas famílias possuem.

O transporte público é outro retrato do abandono: há décadas, a máfia das empresas de ônibus lucra com a miséria da população. A região metropolitana está repleta de ônibus velhos, sem ar-condicionado, com linhas mal planejadas e uma demora excessiva, sobretudo nas áreas mais afastadas do centro, onde o Estado só aparece para reprimir ou remover, nunca para garantir direitos.

Um projeto para os ricos

Sendo um evento voltado ao debate sobre aquecimento global e justiça climática, o esperado seria um planejamento urbano que considerasse o clima amazônico, o conforto térmico, a preservação das áreas verdes, os rios e os territórios populares de Belém.

Mas, na prática, a oligarquia da família Barbalho, que comanda o Governo do Estado e a Prefeitura da Capital, utiliza a COP como fachada para atender exclusivamente aos interesses do mercado imobiliário e de grandes empresários.

As obras prioritárias do Governo deixam isso claro: a construção do Parque da Cidade (onde será realizado o evento), a reforma das ruas ao redor dessa área e as regiões nobres da cidade, como as avenidas Doca de Souza Franco e Almirante Tamandaré.

A Avenida Doca, que concentra o metro quadrado mais caro de Belém, recebeu uma obra de R$ 310 milhões para a “revitalização” do canal – na verdade, um esgoto a céu aberto. O objetivo não é resolver o problema sanitário da cidade, mas sim valorizar ainda mais a área para a construção de prédios de luxo, que já estão sendo erguidos nos bairros do Reduto e Umarizal.

Para completar o absurdo, o Governo ainda está construindo uma estação de tratamento de esgoto na Vila da Barca, uma das maiores favelas da cidade, mas não para atender os moradores de lá, e sim para receber o esgoto dos ricos que vão morar nos novos empreendimentos da região.

O Jurunas, bairro historicamente operário e periférico, com um dos IDH mais baixos da cidade, vem sofrendo um intenso processo de elitização. Sua localização próxima a áreas nobres, como Batista Campos, atraiu o interesse do capital imobiliário, e projetos como o Portal da Amazônia, apresentados como “revitalizações”, na verdade expulsaram centenas de famílias da região com a promessa de moradias populares serem construídas pelo Programa Minha Casa, Minha Vida, mas não foram entregues até hoje. Enquanto isso, novas reformas e construções de luxo avançam, reforçando a exclusão dos moradores em benefício da elite paraense.

Nas periferias, feirantes são despejados de seus locais de trabalho por conta de obras paradas ou abandonadas, vendedores ambulantes são perseguidos e reprimidos pela Polícia Militar, cada vez mais violenta, e bairros populares, como Tapanã e Pratinha, seguem em total abandono.

A verdade é que a COP 30 pertence ao capital. Os governos fingem se preocupar com o meio ambiente e com a Amazônia para fazer propaganda, mas o povo trabalhador segue sendo o único a pagar a conta.

Povo organizado

Os participantes da COP 30 estão interessados apenas em garantir lucros e ampliar seus negócios. Os países imperialistas se negam a financiar políticas ambientais nos países periféricos; as petroleiras sabotam qualquer transição energética real; o agronegócio continua desmatando e queimando a Amazônia; as mineradoras recorrem ao “marketing verde”; e políticos corruptos recebem propinas para defender os interesses do empresariado. Enquanto isso, o povo sofre com enchentes, ondas de calor, privatização da água, especulação imobiliária, destruição das áreas verdes, alta nos alimentos e queda no poder de compra.

Em resposta a esse cenário de exclusão e farsa política, surge a Cúpula dos Povos, articulação formada por povos indígenas, quilombolas, ribeirinhos, comunidades tradicionais, agricultores, trabalhadores, movimentos populares e juventudes da Amazônia e do mundo, criando um espaço de verdadeira participação popular. Diferente da conferência dos governos e corporações, propõe discutir as causas reais da crise climática (o capitalismo e o modelo de exploração imposto pelos países imperialistas) e apontar caminhos baseados na soberania dos povos, na defesa dos territórios e na construção de um projeto popular para o Brasil e para o mundo.

A crise climática não é apenas ambiental, é política, social e econômica. A solução não virá das elites ou de acordos entre governos corruptos e empresas poluidoras. Mas sim da luta pelo fim do sistema capitalista que nos explora, destrói o planeta e é incompatível com a vida.

Por isso, é urgente lutar pelo socialismo. Ou construímos um novo modelo de sociedade, baseado na justiça social, na igualdade, na soberania dos povos e na recuperação da natureza ou viveremos sob a barbárie imposta pelo capitalismo. A saída real exige a organização dos trabalhadores e o fortalecimento das lutas populares. Só o povo organizado pode salvar o planeta.

Matéria publicada na edição nº324 do Jornal A Verdade.

A COP 30 e a cobiça da Amazônia

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A realização da COP 30 em Belém demonstra um momento decisivo para organizar a resistência contra a destruição ambiental, desmascarando a responsabilidade das  potências capitalistas na crise climática.

Fernando Alves | Redação


BRASIL – Com a realização da Conferência da ONU sobre Mudanças Climáticas (COP 30), em Belém do Pará, abre-se um momento importante para organizar a luta em defesa da natureza, da humanidade, contra a destruição do planeta e desmascarar as corporações e governos capitalistas que são os verdadeiros responsáveis pela crise ambiental.

O desenvolvimento acelerado e desordenado da produção capitalista e a busca incessante do lucro pelos grandes monopólios e países imperialistas traz como consequência o aumento da destruição do planeta. Para garantir seus privilégios, dominar a riqueza das nações e controlar regiões estratégicas do mundo, um punhado de capitalistas lança mão de todas as formas de política e artifícios de exploração. Mas a verdade é que os países dominantes não querem assumir nenhum compromisso com a defesa do meio ambiente o do planeta.

Prova disso é a posição do Governo dos Estados Unidos. Logo no início de seu mandato, Donald Trump anunciou a saída do país do Acordo de Paris e retirou a possibilidade de assinatura de qualquer acordo sobre o clima. Agora, segundo publicação da rede de notícias Bloomberg, procuradores gerais de 17 estados dos EUA solicitaram que o governo estadunidense não envie representantes oficiais para o COP 30. Para eles, a participação dos EUA legitimaria “políticas contrárias” à agenda de Trump.

O fracasso do Acordo de Paris

Também faz parte desse problema o fato de que os países imperialistas não cumpriram os compromissos assumidos na última Conferência do Clima, realizada em Paris, em 2015. A emissão de gases poluentes, que destroem a atmosfera e aceleram o aumento das temperaturas, levando ao aquecimento global, ao derretimento das geleiras, o que, por sua vez, provoca a ocorrência de fenômenos como enchentes, maremotos, terremotos, desertificação, altas temperaturas, são consequências das ações dos países ricos e suas empresas sobre a natureza.

O objetivo principal do Acordo de Paris era impedir que o aquecimento global ultrapassasse o limite de 1,5º C, mas a ONU já reconheceu que este objetivo não foi alcançado.

Entre as consequências, está o derretimento das geleiras, em especial do Polo Ártico, que perdeu 7% de sua superfície, e da Antártida, que vem que vem sofrendo os mesmos impactos. Esse é o sinal mais grave, pois esses polos funcionam como um ar-condicionado para o equilíbrio climático, já que levam correntes marítimas geladas e correntes de ar para os trópicos, que são as partes mais aquecidas do planeta. As cadeias de montanhas também vêm sofrendo esses efeitos, como o Himalaia, os Alpes e os Andes, além dos lagos glaciais.

O Acordo de Paris estabeleceu que os países criassem as condições e se adaptassem às bruscas mudanças climáticas, sem ameaçar a produção de alimentos.

A polêmica criação de uma fonte de financiamento por parte dos países mais ricos para ajudar o chamado grupo de países pobres na transição para o desenvolvimento de baixo carbono – Carbono Zero, não foi efetivado. Nesse caso, os países imperialistas assumiram o compromisso, através das Contribuições Nacionalmente Determinadas (CDNs), de dar um aporte de US$ 100 bilhões por ano para medidas de combate às mudanças climáticas.

Essa política é muito perigosa, pois ela pode interferir na soberania dos países, como é o caso do Brasil. Os países financiadores podem sentir-se no “direito” de exigir a criação de uma área de interesse internacional da Amazônia e, por tabela, uma tutela desses países sobre a região. Isso representaria a desnacionalização da Amazônia, a privatização da floresta e o controle dos países ricos sobre a maior parte do território brasileiro e de mais oito países.

Apesar desse perigoso caminho, o governo brasileiro vem estimulando a financiamento internacional da Amazônia, ignorando as consequências futuras dessa medida.

A Amazônia está ameaçada

Por fim, o governo brasileiro anunciou a liberação para pesquisa de petróleo e gás na Foz do Rio Amazonas. Essa decisão coloca em risco uma região que ainda está preservada e abrange o litoral dos Estados do Amapá e do Pará, onde se encontram florestas nativas, a Ilha de Marajó, santuários de aves, tartarugas e uma infinidade espécie animais e de plantas, uma infinidade de ilhas; do Maranhão, que pode comprometer os Lençóis Maranhenses; do Piauí, que possui a Foz do Rio Parnaíba; dos litorais do Ceará e Rio Grande do Norte. Toda essa região e sua biodiversidade podem ficar comprometidas, apenas para satisfazer os interesses da indústria do petróleo, hoje controlada pelas petrolíferas multinacionais.

A Amazônia é estratégica. A região possui 15% de água potável do planeta, sua biodiversidade é incalculável, é abundante em minerais estratégicos e terras raras, detém grandes reservas de gás e petróleo. Porém, vem sofrendo com décadas de ações predatórias do latifúndio, madeireiras, das mineradoras, do tráfico de ouro e pedras preciosas e da intervenção destruidora do Estado burguês e dos capitalistas. Sofre com a invasão de terras indígenas. Também a questão fundiária representa o maior dos problemas, já que a luta pela terra é uma das mais radicais do mundo, com 36% da região registrada como propriedade privada.

Os povos da Amazônia e todos os brasileiros devem lutar em defesa da nossa soberania e da preservação da natureza, contra as ameaças imperialistas e o entreguismo do nosso território.

Matéria publicada na edição nº324 do Jornal A Verdade.

Rayana: mais uma mulher assassinada por ser mulher no ES

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O feminicídio de Rayana Rios, morta a facadas dentro de casa, expõe a violência patriarcal que segue vitimando mulheres no Espírito Santo.

Ana Thompson | Espírito Santo


 

No dia 9 de novembro (domingo), Rayana Bittencourt de Oliveira Rios da Silva, 36, foi assassinada a facadas dentro de sua própria casa e na frente de dois dos seus quatro filhos — a mais velha, 19, e o mais novo, de apenas cinco anos. Esse crime brutal ocorreu no município da Serra (ES) e se soma aos altos índices de feminicídio que colocam o estado entre os mais violentos do país. Luan dos Santos Braz, 29, foi indicado como o assassino por Khauny, a filha mais velha. Após o crime, o suspeito fugiu de carro e seu veículo foi encontrado abandonado na segunda-feira (10) na mesma cidade. Finalmente, na quarta-feira (12), em uma região de mata, o assassino foi encontrado e preso para investigação do caso. Além disso, é importante pontuar que Luan era namorado da vítima e descrito por familiares como extremamente ciumento e controlador.

Esse tipo de violência contra a vida de uma mulher no Espírito Santo não surpreende. Segundo o Mapa da Segurança Pública 2025, o estado registrou crescimento no número de feminicídios, além de apresentar uma média por número de habitantes acima da média nacional de feminicídio. Esse levantamento confirma a cultura misógina que atravessa diariamente as mulheres aqui presentes.

Reafirmando essa tendência, o Painel de Monitoramento da Violência Contra a Mulher, disponibilizado pela Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social do ES, aponta que, somente em 2025, ocorreram 28 casos de feminicídios e 73 tentativas de feminicídio. Isso significa que, só neste ano, 101 mulheres foram atacadas no ES por agressores com intenção de matá-las, apenas por serem mulheres.

Nos dados exclusivos de feminicídio, o painel aponta que aproximadamente 90% das mulheres foram mortas por parceiros ou ex-parceiros, revelando que a ameaça contra suas vidas está fortemente presente em ambiente íntimo, embora o panorama em questão não exponha oficialmente o local dos feminicídios, isto é, não sabemos por essas informações se o crime aconteceu em via pública ou na residência da vítima. Contudo, os dados mostram que 75% das mulheres assassinadas eram negras, revelando o racismo estrutural que coloca as mulheres negras (pretas ou pardas) como as principais vítimas da violência letal no Espírito Santo.

A respeito das tentativas de feminicídio, o mesmo padrão racial está presente: a maior parte das mulheres atingidas são negras. Essa constante mostra que o quesito raça/cor é determinante e precisa ser central ao pensar políticas de prevenção e proteção contra essa violência. Além disso, mais de 60% das tentativas ocorreram na residência da vítima, o que reforça o abuso presente em espaços íntimos, mesmo que no caso das tentativas não tenhamos exposto em dados a relação do agressor com as mulheres. Esse cenário estabelece que mulheres sequer estão seguras em suas casas e no íntimo que deveria ser refúgio.

Sobre isso, é importante pensarmos que, apesar do avanço na pesquisa e divulgação de dados, há lacunas severas nesse painel. As estatísticas não detalham o local dos feminicídios consumados nem a relação das vítimas com os agressores

nas tentativas do crime, o que dificulta a realização de análises completas, como também a formulação adequada de políticas de prevenção mais específicas para a população atingida. Lamentavelmente, essa omissão é parte da realidade de um estado historicamente patriarcal e racista, como é o caso do ES.

Mesmo com essa limitação, os números em conjunto delimitam uma norma concreta: majoritariamente mulheres negras são vítimas de parceiros ou ex-parceiros dentro das próprias casas no ES. Essa circunstância aponta para a necessidade urgente de ampliação de mecanismos de prevenção e políticas de proteção voltadas à violência contra a mulher no estado. Mas o Espírito Santo está muito ocupado debatendo com o STF a (in)constitucionalidade da Lei nº12.479/2025, que garante aos pais e responsáveis o direito de veto à participação de seus filhos e filhas em atividades pedagógicas que abordem temáticas de gênero, identidade de gênero, orientação sexual e diversidade sexual. Lembrando que essa foi uma lei sancionada pela Assembléia Legislativa do Espírito Santo após o governador Renato Casagrande (PSB) não se manifestar a respeito, em outras palavras, um retrocesso educacional aprovado sem oposição por parte do governador. Assim, o estado investe tempo e recursos pensando se determinados retrocessos são constitucionais ou não em vez de avançar com políticas concretas que protejam as mulheres.

Enquanto Movimento de Mulheres Olga Benário do ES, pensamos que a defesa da vida das mulheres trabalhadoras é prioridade e, por isso, estamos construindo a Rede Araceli de Enfrentamento à Violência contra Mulheres e Meninas com o propósito de criar um espaço que, além de acolher e apoiar, fortaleça politicamente essas mulheres ampliando a compreensão das estruturas patriarcais, racistas e capitalistas que nos atravessam e nos querem mortas. Assim, lutamos para erguer uma sociedade socialista, antipatriarcal e antirracista.

Chega de casos de mulheres violentadas e mortas!

 

Greve dos servidores em Campina Grande (PB) denuncia descaso com a saúde

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Apesar do caos na saúde pública em Campina Grande, Paraíba, o governo local prefere atacar os servidores e o sindicato da  categoria, que dando exemplo de luta e combatividade, organizou uma greve histórica na região. 

Redação Paraíba


 

ENTREVISTA- Como foi denunciado pelo Jornal A Verdade em outubro, a saúde da cidade de Campina Grande na Paraíba enfrenta, já a um ano, atrasos de salários dos servidores e contratados, falta de materiais de trabalho, insumos e medicamentos. No último dia 13/11 o Sindicato dos Trabalhadores Públicos Municipais do Agreste da Borborema (SINTAB) deflagrou greve em 16 categorias de trabalhadores da saúde e realizou uma manifestação no centro da cidade pelo pagamento dos salários atrasados. A militância da Unidade Popular esteve presente e entrevistou Franklin Barbosa de Brito, presidente do SINTAB.

O que motivou a decisão da greve, que foi aceita por ampla maioria da assembleia?

 Nós temos aqui em Campina Grande uma crise sem precedentes da saúde: servidores e a população não aguentam mais tanto sofrimento. Os Servidores não têm mais um calendário de pagamento e todos os meses vivem a incerteza em relação a seus salários, se vão receber ou não. Além disso, a população tem muita dificuldade de acesso ao básico. Nas unidades de saúde falta quase tudo, faltam insumos, faltam instrumentos de trabalho, falta material de expediente, falta remédio. A população é testemunha, não preciso convencer ninguém disso, a população sabe disso.

E o pior de tudo é que o prefeito tem ignorado essa situação. Ele sequer explica o que está acontecendo, não justifica nada, ele sumiu e é como se Campina Grande não tivesse prefeito. É como se ele tivesse desistido de governar a cidade, estivesse como Prefeito só pro status, só pra ser chamado de prefeito. Se ele não tem condições de governar a cidade, se chegou numa situação de governabilidade, por ingerência, por incapacidade de gestão então que ele renuncie e o próximo possa sentar com a gente e resolver os problemas da saúde de Campina Grande

Jornal A Verdade – A greve foi deflagrada às 10h, às 11h a justiça declarou ela ilegal a pedido da Prefeitura. A Prefeitura teve a mesma agilidade para resolver os problemas dos trabalhadores?

 A justiça sendo sempre injusta. A justiça não ouviu os trabalhadores para poder tomar uma decisão. Nem terminamos o ato e a justiça tinha declarado ilegalidade. Não deu nem tempo de concluir uma única atividade: a greve começou e antes do fim do primeiro ato a justiça declara ilegalidade. Mas não vamos desistir da luta, a luta dos trabalhadores é permanente e continuaremos convocando. Já temos outra assembleia na segunda e os servidores vão decidir o que querem que a gente faça, qual luta querem que a gente encaminha pra garantir o direito dos trabalhadores.

Vale destacar que, poucos dias antes da greve, os médicos do Hospital Dom Pedro I haviam declarado paralisação motivada pelo não pagamento dos salários. Porém, eles são trabalhadores contratados via CNPJ (pejotizados) e, após serem ameaçados pela Prefeitura, tiveram que encerrar o movimento para não serem demitidos.

A saúde pública de Campina Grande está sendo propositadamente sucateada para justificar o avanço da privatização desse setor na cidade. A Prefeitura da cidade cumpre o papel de defensora dos interesses dos grandes empresários da saúde e se dedica a destruir o sistema de saúde pública da cidade. Só a luta dos trabalhadores pode garantir dignidade para os servidores e para a população!

Obra de Jackson do Pandeiro se torna Patrimônio Cultural Imaterial da Paraíba

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Um dos maiores artistas da música brasileira, Jackson do Pandeiro tornou-se patrimônio imaterial da Paraíba, estado natal do artista, um reconhecimento que serve para reafirmar a cultura popular e levantar o debate em torno de como esse sistema trata seus artistas e suas obras.

Redação Paraíba


CULTURA- José Gomes Filho, filho do coco e do batuque, inventou uma forma de tocar o Nordeste que virou clássico da música popular brasileira. Nascido em Alagoa Grande, Paraíba, em 31 de agosto de 1919, filho de Flora Mourão, cantadora de coco e de um oleiro, José Gomes. Teve uma infância muito pobre e nunca frequentou uma escola. Já em Campina Grande trabalhou como engraxate e auxiliar de padeiro para sustentar a família após a morte do pai.

Seu ritmo, sua percussão e sua voz nasceram da periferia, trabalhada nas feiras e nas festas. As músicas de Jackson mostram a cultura do povo, suas tradições, seu cotidiano, além de retratarem seus sentimentos e suas origens. Por isso que valorizar Jackson é também valorizar a raiz afro-brasileira que sustenta o forró, o coco e tantos modos de viver nordestinos.

A verdade é que a arte popular sempre foi uma das formas mais poderosas de resistência do povo trabalhador. Jackson mostrou isso quando cantou “Chiclete com banana”, ironizando a influência americana na música brasileira, e quando exaltou o cotidiano do Nordeste em “Forró em Campina”.

“Eu só boto bebop no meu samba quando Tio Sam tocar um tamborim

Quando ele pegar no pandeiro e no zabumba

Quando ele aprender que o samba não é rumba.”

 

Reconhecimento tardio

A Paraíba deu um passo importante ao reconhecer a obra de Jackson do Pandeiro como Patrimônio Cultural Imaterial do Estado. O reconhecimento veio próximo ao dia da Consciência Negra, data que marca a morte do herói Zumbi dos Palmares e a luta contra a escravidão e o racismo.

Porém o que o Estado chama hoje de “tesouro cultural” é o mesmo que por décadas foi ignorado, desvalorizado e até ridicularizado pela indústria e pela elite. E agora? Esse reconhecimento simbólico vai virar compromisso real com sua memória e com os artistas que fazem cultura popular?

Um povo que cria, um sistema que apaga

A história da música brasileira tem muitos casos parecidos, mas sem a devida atenção. O cantor e compositor Cassiano é um caso emblemático: Também paraibano, foi um dos maiores nomes da Black Music nacional. Mesmo assim, morreu em 2021 sem o reconhecimento que merecia, esquecido pela mídia e abandonado pela indústria. Cassiano, Jackson, Cartola, Clementina de Jesus, todos sofreram em algum nível com o mesmo sistema que lucra com a cultura negra, mas não devolve o que deve a seus artistas.

No capitalismo, o talento só é valorizado quando dá lucro e não escancara a pobreza e a fome do nosso povo. A arte, nesse modelo, é tratada como produto e não como expressão de vida e identidade. Por isso que nossa crítica precisa ser direta e clara: arte não é luxo, é direito. Enquanto o povo cria, a elite lucra. Enquanto o batuque e o pandeiro ecoam nas ruas, a concentração de renda cala vozes, fecha espaços e destrói sonhos de jovens paraibanos. A liberdade da arte popular depende da libertação do próprio povo trabalhador. Os artistas comprometidos com a cultura popular continuam fazendo sua arte, tendo em Jackson do Pandeiro uma referência de resistência. Tornar sua obra patrimônio imaterial é prova disso. Prova de que não deixaremos a memória dos nossos ser esquecidas.

Viva Jackson do Pandeiro! Viva a cultura popular que resiste!

 

Fraude no Enem escancara falha do vestibular

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A anulação de questões e os sucessivos erros na aplicação do Enem revelam que o filtro do acesso à universidade não é apenas injusto, mas estruturalmente falho.

Jesse Lisboa | Redação


EDUCAÇÃO – O projeto burguês de sucateamento da educação pública e investimento na educação privada trata milhões de jovens, que sonham ingressar no ensino superior, com descaso. A recente anulação de questões do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) 2025, após um estudante antecipar perguntas em uma transmissão ao vivo, não é um caso isolado, mas a ponta do iceberg de um sistema que exclui os trabalhadores e trata a educação como mercadoria.

Enquanto o Ministério da Educação (MEC) tenta minimizar o escândalo afirmando que “protocolos foram seguidos”, a realidade mostra a falha no processo seletivo. O estudante, que afirmou ter “decorado o padrão” do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep) após participar de pré-testes, expôs a lógica mecânica e repetitiva de uma prova que não avalia conhecimento, mas sim a capacidade de adestramento para um teste.

Um histórico de incompetência e exclusão

Não é a primeira vez que os estudantes brasileiros são prejudicados por falhas graves na aplicação do Enem. Relembrar o histórico do exame é ver um filme de terror repetido, onde quem paga o ingresso é a juventude pobre.

Em 2009, o exame foi cancelado após o vazamento da prova, furtada de dentro da gráfica, gerando um prejuízo milionário aos cofres públicos e um desgaste emocional para os estudantes. No ano seguinte, em 2010, erros de impressão em cadernos amarelos e a inversão de cabeçalhos no gabarito forçaram a suspensão da prova pela Justiça Federal.

A lista de absurdos continua:

  • 2011: Questões do Enem vazaram em um simulado de um colégio particular de Fortaleza dias antes da prova oficial, privilegiando alunos que já tinham acesso a um ensino de elite.
  • 2014: O roubo de um caminhão dos Correios no Rio de Janeiro levou cartões de resposta embora, obrigando estudantes de Pernambuco a refazerem o exame pela terceira vez.
  • 2019: Sob o governo Bolsonaro, fotos da prova vazaram durante a aplicação, circulando em grupos de WhatsApp enquanto os estudantes ainda estavam em sala. O ministro da época minimizou o caso, culpando aplicadores individuais e ignorando a falha sistêmica de segurança.

O vestibular é uma barreira

A recente fraude de 2025, somada ao golpe dos sites falsos de inscrição que lesou 35 mil estudantes em 2024, prova que o Enem é um terreno fértil para oportunistas e para o lucro. O modelo de vestibular no Brasil serve para filtrar quem entra e quem fica de fora, garantindo que as vagas nas universidades públicas continuem sendo ocupadas majoritariamente por quem pode pagar cursinhos caros e escolas privadas.

Para o estudante da escola pública, que muitas vezes precisa trabalhar para ajudar no sustento da casa, o Enem é um obstáculo quase insuperável. Estes estudantes sofrem com a falta de infraestrutura, de professores, de recursos pedagógicos e de políticas públicas que garantam uma educação de qualidade.

Pelo fim do vestibular

A solução não é apenas “melhorar a segurança” da prova, mas questionar a própria existência dela. A educação é um direito universal, não um prêmio para quem sobrevive a uma maratona de falhas e ansiedade. É preciso lutar pelo fim do vestibular e pelo livre acesso à universidade pública, gratuita e de qualidade para todos. Enquanto o ensino for tratado como privilégio e o acesso for mediado por provas falhas e excludentes, a juventude trabalhadora continuará pagando a conta.

Rompendo o silêncio: pesquisadores concluem a 2ª etapa de escavações no DOI-CODI/SP

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Grupos da UFMG, Unicamp e Unifesp realizaram escavações que tem por objetivo restaurar os espaços e romper o silêncio sobre o passado do prédio onde há 50 anos foi assassinado e forjado o suícidio do jornalista Vladimir Herzog

Wildally Souza | São Paulo​


Entre os dias 27 de outubro e 8 de novembro de 2025, equipes de Arqueologia da UFMG, Arqueologia Pública da Unicamp e Arqueologia Forense da Unifesp e Arquitetura e Patrimônio que fazem parte do Grupo de Trabalho do DOI-CODI, retomaram as escavações no antigo DOI-CODI de São Paulo, localizado na Rua Tutóia, 921,Vila Mariana, atual sede da 36ª Delegacia de Polícia Civil.​

A segunda parte da ação que busca vestígios dos anos da ditadura militar faz parte das investigações iniciadas em agosto de 2023, com o objetivo de compreender a materialidade e as transformações do espaço que funcionou como um dos principais e o mais notório centro de repressão da ditadura militar brasileira, entre 1969 e 1983. ​

O que significam as escavações no DOI-CODI/SP

O Destacamento de Operações de Informação — Centro de Operações de Defesa Interna (DOI-CODI) foi o principal órgão da ditadura militar encarregado de reprimir opositores do regime. Estima-se que cerca de 7.000 pessoas tenham sido presas e interrogadas – frequentemente sob tortura — no prédio que, apesar de poucas, foi desfigurado e sofreu transformações de suas estruturas após o fim da ditadura. ​

Os prédios do antigo DOI-CODI/SP são considerados como marcos físicos, que documentam o período em que vigorou a ditadura. As escavações e as pesquisas no local possibilitam materializar vestigios da repressão, tortura e desaparecimentos forçados.

As escavações também permitem que os relatos orais dos que passaram pelos centro de torturas se transformem em provas físicas que rompam o silêncio de histórias abafadas ou silenciadas por inteiro, fortaleçam a necessidade da preservação da memória para que tais atrocidades não se repitam, além de contrapor as narrativas oficiais do Estado brasileiro sobre esses crimes contra o povo.

Deborah Neves, pesquisadora de pós-doutorado e coordenadora do Grupo de Trabalho Memorial DOI-CODI, explica a importância do trabalho arqueológico nos centros de repressão: “Todo esse processo detalhado que temos feito e que materializa a história, contribui para que outros lugares que também estão sendo reivindicados para serem transformados em centros de memória, tenham uma ideia de qual o percurso mais interessante a se seguir”, afirma. ​

A equipe de escavações contou com pesquisadores da UFMG, UNICAMP e UNFESP. Foto: Wildally Souza/JAVSP

A pesquisadora ainda explica ao jornal A Verdade  o porquê do levantamento arqueológico e físico do local ser importante para a luta por Memória, Verdade, Justiça e Reparação. “Pra gente entender o que esse prédio tinha para nos contar, era importante que a gente fizesse essa pesquisa arqueológica, justamente para tratar ele como um espaço de cena de crime efetivamente. Então, por isso o trabalho da arqueologia foi muito importante para revelar esses aspectos de espaço criminal. Isso contribui efetivamente para que a reparação dos crimes venham junto com a luta por memória e verdade”, explica a pesquisadora. ​

Já a mestranda em Arqueologia Pública pela Unicamp, Beatriz Mazim, explicou como foi realizado o processo de abertura das sondagens arqueológicas — intervenções em profundidade no solo que permitem a avaliação da história, natureza e da estratigrafia de um determinado local.

“Aqui em 2023 foram abertas cinco sondagens de 1×1 m. Essas sondagens são para verificar o potencial arqueológico do lugar. E aqui, verificaram que tinha um potencial arqueológico bom. E nessa etapa, foi decidido abrir uma única sondagem em formato de trincheira de três metros quadrados e aberta na área externa, que é uma sondagem um pouco mais comprida. Assim, as escavações vão acontecendo aos poucos, procurando detalhadamente os vestígios daquele período. E a expectativa é sempre de chegar no nível zero, uma espécie de um solo virgem da época, o que será determinante para reconstruir a história, colocar pingos no ‘i’s e determinar em diversos aspectos o que de fato aconteceu aqui, juntando com as histórias orais e os relatos diversos que contemplam esse local”, explica Mazim. ​

O que foi encontrado no local?

Na primeira etapa das escavações, ocorridas em 2023, entre os indícios preliminares de tortura encontrados no local, estão escritos nas paredes feitos pelos prisioneiros, artefatos que indicam o processo de sequestro e fichamento dos prisioneiros e resíduos de um material que indicava a presença de sangue. ​

Já na segunda etapa, nas escavações, coordenadas pelo Professor Andrés Zarankin (UFMG), foram encontrados diversos vestígios arqueológicos, tais como materiais construtivos associados às mudanças físicas na arquitetura do prédio ao longo do tempo e objetos que podem estar relacionados ao funcionamento cotidiano do complexo: louças, vidro, metais, etiquetas de produtos, etc. ​

Estes materiais são oriundos da trincheira na entrada do edifício onde ocorriam grande parte dos interrogatórios e torturas e onde foi capturada a foto que simula o suicídio de Vladimir Herzog — até o momento única imagem interna do edifício durante o funcionamento do DOI-CODI. O artefato que mais chamou a atenção da equipe é uma prótese dentária, que será analisada em laboratório para identificar, por exemplo, o material de que foi feita, a técnica de produção empregada e, a partir
desses elementos, a época na qual foi utilizada.

Prótese dentária encontrada durante as escavações. Foto: Wildally Souza/JAVSP

A equipe de Arqueologia Forense, coordenada pela professora Cláudia Plens (Unifesp) em colaboração com a Dra. Maryah Haertel (UFSC), ampliou as análises no segundo andar do edifício, com o objetivo de identificar possíveis vestígios orgânicos humanos, como a presença de sangue, por meio da aplicação de técnicas forenses que incluem o uso de luminol — reagente químico que, em contato com o ferro da hemoglobina, emite uma luz azulada — e de luzes forenses.​

Nesta etapa, ainda foi iniciado um importante trabalho de levantamento arquitetônico coordenado pelo arquiteto Alessandro Sbampato (Rebrapesc) em colaboração com Deborah Neves (Unifesp). A partir dele, tem sido possível analisar materiais construtivos recuperados nas escavações de 2023 em confronto com plantas originais localizadas em 2021 e identificar técnicas construtivas.

Sobretudo, tem sido possível identificar causas, mecanismos e efeitos de anos de desuso e má conservação do edifício 2-A, desde alterações nos materiais provocadas por infiltrações de água até a presença de agentes biológicos de degradação, como cupins e pombos.​

O Grupo de Trabalho Memorial DOI-CODI destaca que dessa etapa resultará tanto um diagnóstico conclusivo com previsão de custo para realizar os reparos necessários quanto “diretrizes detalhadas de intervenção neste importante e singular patrimônio cultural edificado do Estado de São Paulo, com relevância nacional”​.

Trabalho de memória com as crianças e documentário “Arqueologia da tortura”

Sob a coordenação da professora Aline Carvalho (Unicamp) e da Dra. Fernanda Lima (UFMG), a equipe de Arqueologia Pública ainda promoveu visitas mediadas ao espaço. O local também recebeu diversos ex-presos políticos que passaram pelo DOI-CODI e filhos (as) de sobreviventes. Além disso, o grupo desenvolveu oficinas educativas para professores e estudantes, com foco na história da repressão no
Brasil e a luta por direitos humanos. ​

Para Deborah essa é a parte mais bonita do trabalho. “É poder mudar a história do futuro. Como eles são muito jovens, não têm medo de fazer perguntas e não têm medo de errar. Então, eles trazem questionamentos pra gente que às vezes a gente nunca nem tinha pensado. E eu acho que trazê-los para essa visita também permite que eles tenham contato com a realidade que às vezes é muito distante. Às vezes, eles têm contato só por meio de livros ou de séries e parece que é uma coisa que
nunca existiu. Então, trazê-los aqui permite que eles conheçam de perto a história do Brasil passada a limpo “, explica. ​

O professor Andrés Zarankin também acredita que o projeto terá um papel pedagógico relevante sobre a sociedade. “Considero que haverá uma contribuição importante para a conscientização sobre o que significa realmente um governo de exceção, no qual as pessoas são tratadas como inimigas apenas por pensarem diferente”, conclui.​

Durante toda semana, os trabalhos puderam ser contemplados pelos alunos de escolas públicas e instituições de ensino, que assistiram relatos dos presos políticos ainda vivos, tiveram contato com os materiais encontrados durante as escavações de 2023 e puderam perguntar e comentar sobre o que aprenderam sobre o prédio, a repressão contra o povo e a luta por memória, verdade e justiça no Brasil e no mundo. A criançada curiosa e envolta em conhecer essa parte dolorosa da história do Brasil declararam que no futuro tal coisa não acontecerá mais, porque “agora sabemos da verdadeira história e não vamos repeti-la”.​

O projeto ainda contempla um documentário dirigido e roteirizado por Carla Gallo e com produção da Ouro de Tolo Filmes. Intitulado “Arqueologia da tortura”, a produção audivisual tem o obejtivo de documentar todo o processo de luta para que o local se transforme em um Memorial, além de acessiblizar as informações sobre o que aconteceu no prédio para além do que está nos livros e depoimentos, mas considerando também o que está no solo, nas paredes e nos objetos que passamos por cima diariamente e não temos noção do poder arqueologico. ​

Para Carla esse documentário é uma missão de cobrar uma dívida do passado. “O documentário é um veículo de informação, é um veículo de emoção, e a gente vê a reação das pessoas quando assistem. E é uma reação de emoção e de tomada de consciência sobre a importância do que está sendo feito aqui. É também fazer cumprir efetivamente esse processo de verdade e justiça. A gente tem, no filme, o
acompanhamento da primeira etapa, com o encontro dos ex-presos políticos, a análise da arquitetura, a história do prédio, e a arqueologia forense também, que busca vestígios de sangue E foi muito emocionante, porque a gente viu as coisas acontecendo. A persistência,a esperança deles e as vitórias que eles vão tendo nesse processo, que é muito lento, muito burocrático e muito difícil, também está
documentada por completo”, declara a diretora. ​

Indígena Guarani Kaiowá é morto por pistoleiros no Mato Grosso do Sul

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Segundo o Conselho Indigenista Missionário, testemunhas relataram que os agressores tentaram remover o corpo da vítima do local.

Verônica Serpa 


BRASIL – Um homem indígena da etnia Guarani e Kaiowá foi assassinado na madrugada do último domingo (16) durante um ataque de pistoleiros em área de retomada da Terra Indígena (TI) Iguatemipeguá, na cidade de Iguatemi, no Mato Grosso do Sul.

Em nota à imprensa, o Conselho Indigenista Missionário (Cimi) informou que homens fortemente armados invadiram o território e assassinaram Vicente Fernandes Vilhalva Kaiowá e Guarani, de 36 anos, com um tiro na cabeça. Segundo relatos, os atiradores tentaram recolher o corpo da vítima, mas foram impedidos pelos indígenas.

O ataque começou por volta das quatro horas da manhã e durou cerca de duas horas. O comunicado da organização destaca que um cerco foi realizado contra a aldeia e uma ponte foi destruída para impedir o acesso ao local, o que dificultou a chegada da Força Nacional de Segurança Pública (FNSP)

Outras quatro pessoas foram atingidas por disparos, entre elas dois adolescentes e uma mulher. Um adolescente foi alvejado com arma de fogo e os demais foram atingidos com balas de borracha. O Cimi recorda que esse tipo de armamento não letal é restrito ao uso das forças de segurança.

“Compondo a agromilícia, tratores derrubaram os barracos da retomada e abriram buracos para enterrar os pertences dos Kaiowá e Guarani, como panelas, roupas, mantimentos, lonas e objetos ligados à espiritualidade e cultura do povo. Alguns barracos e utensílios foram incendiados”, diz trecho do comunicado.

Desde outubro, a etnia iniciou a retomada que ocupa uma área de 100 hectares da Fazenda Cachoeira sobreposta à TI e fronteiriça à aldeia Pyelito Kue. O local abriga mais de 200 pessoas em apenas um dos 761 hectares da fazenda. Neste intervalo, a comunidade já sofreu quatro ataques. 

Em 2007, o Ministério Público Federal (MPF) e a Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai) assinaram um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) que definia o prazo de três anos para a publicação dos estudos do conjunto de TIs Guarani e Kaiowá no estado. O relatório, que só foi publicado em 2013, delimitou o território com 41,5 mil hectares.

A Funai, também em nota, manifestou pesar pela morte de Vicente Fernandes e reforçou a necessidade de uma ação rigorosa para investigar o caso. A autarquia solicitou ações conjuntas para combater os grupos de pistoleiros que atuam na região.

“É inaceitável que indígenas continuem perdendo suas vidas por defender seus territórios. A morte de mais um indígena Guarani Kaiowá acontece ao mesmo tempo em que o mundo discute e visualiza a importância dos povos indígenas para a mitigação climática debatida na COP30, infelizmente evidenciando que não existe trégua na perseguição aos corpos dos defensores do clima”.

Reproduzido na íntegra de Alma Preta

Rios, Pontes e Overdrives: O Pensamento de Josué de Castro Introduzido no Movimento Manguebeat

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O movimento Manguebeat foi muito além da  música. Inspirado nos estudos e contribuições de Josué de Castro, a cena musical brasileira foi inundada de uma arte politizada, contestadora e muito atual. 

Alberes Simão| Petrolina (PE)


CULTURA- No cruzamento emblemático entre os rios do Capibaribe, as pontes do Recife e os cabos elétricos das guitarras, nasceu nos anos 1990 o Manguebeat, movimento que uniu som, meio ambiente, política e identidade. Mas por trás dos tambores e dos overdrives, pulsava também um pensamento profundamente socialista e humanista — o pensamento de Josué de Castro, médico, geógrafo e militante comunista que revelou ao mundo o mapa da fome e denunciou a miséria como produto da exploração capitalista.

“Uma antena enfiada na lama, sintonizada com o mundo.” Assim Chico Science definiu o Manguebeat. E essa imagem — lama e antena — poderia muito bem sintetizar o método de Josué de Castro: compreender o local sem perder de vista o global; entender o Recife, sua fome e sua cultura, como um microcosmo dentro de uma estrutura internacional de dominação.

O Manguebeat surgiu num contexto de crise urbana e cultural, quando o Recife dos anos 1990 sofria com desemprego, exclusão e o avanço da lógica neoliberal. Os jovens artistas, vindos das periferias, dos mocambos e das zonas alagadas, reagiram com música e crítica social. A batida eletrônica misturada ao maracatu era também uma denúncia da desigualdade e uma afirmação da vida popular — outra prática estética e política que dialogava diretamente com a obra de Josué de Castro.

O pensamento de Josué de Castro e sua contribuição social

Em Geografia da Fome (1946) e Homens e Caranguejos (1967), Josué mostrou como a fome não é um fenômeno natural, mas resultado histórico da concentração da terra, da renda e do poder. Essa análise estrutural inspirou gerações de intelectuais e militantes, e encontrou eco no Manguebeat, que via na cultura popular o terreno da resistência. O som do mangue não era apenas mistura: era método. Um modo de recompor o tecido social rasgado pela lógica da exclusão.

A ponte entre Josué e o Mangue está justamente na ideia de que a cultura é também campo de luta de classes. Ambos partiram da lama — um, para denunciar a fome; outro, para transformá-la em ritmo. Ambos acreditavam que a transformação social começa pela consciência: “O primeiro passo para matar a fome é entender a fome”, dizia Josué; “A lama é o nosso chão fértil”, dizia Chico.

O movimento Manguebeat, ao introduzir o pensamento de Josué de Castro em sua pulsação estética, reconectou o Marxismo com a cultura popular — não pela teoria abstrata, mas pela vivência concreta das ruas, dos manguezais, da cidade partida. A crítica ao colonialismo cultural e à dependência econômica, tão presentes em Josué, tornaram-se beats, rimas e metáforas urbanas.

O escritor e militante do Partido Comunista Revolucionário Luiz Falcão, em sua obra As Maravilhas do Capitalismo, desmonta com ironia e contundência o discurso ideológico da burguesia. Ele escreve:

“O capitalismo é o único sistema capaz de transformar a miséria em espetáculo e o sofrimento humano em mercadoria.”

 

A frase sintetiza com precisão o caráter desumano do capital. Tudo o que toca, da cultura à natureza, do corpo ao afeto, é convertido em valor de troca. A pobreza, em vez de ser combatida, é transformada em produto midiático, e a solidariedade, em campanha publicitária.

Hoje, diante do avanço do capitalismo cultural e da banalização das expressões populares, revisitar esse encontro é um ato político. Rios, pontes e overdrives não são apenas paisagens recifenses: são metáforas de resistência. O rio que corta a cidade é o mesmo que alimenta o povo; a ponte é o elo entre o saber popular e a ciência crítica; o overdrive é a distorção necessária para que a voz do oprimido seja ouvida.

“Josué de Castro plantou a semente. O Manguebeat fez essa semente pulsar no corpo da cidade”.

Ao conectar ciência e arte, fome e som, luta e estética, o Manguebeat fez ecoar, em batidas eletrificadas, a velha lição marxista de Josué de Castro: enquanto houver fome, haverá luta; enquanto houver povo, haverá cultura.

 

Petrolina: uma cidade rica que vive da exploração de seu povo!

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Há muitos anos a elite local tem vendido a imagem de “California do Sertão” para Petrolina, mas, apesar de ser a 5ª cidade mais rica de Pernambuco e a terceira mais populosa, a realidade para o povo trabalhador é bem diferente da propaganda, e não é nada fácil. 

Alberes Simão| Petrolina


LUTA POPULAR- Petrolina é frequentemente chamada de “Califórnia do Sertão”, um suposto símbolo de modernização, prosperidade e progresso no coração do Nordeste. Mas basta sair dos cartões-postais e caminhar pelos bairros operários, pelas vilas e pelas periferias da cidade para enxergar o outro lado da moeda: o povo pobre e trabalhador que constrói essa riqueza com o suor do seu rosto e recebe, em troca, apenas migalhas.

O agronegócio exportador, alardeado como motor do desenvolvimento regional, ergueu um verdadeiro império às margens do São Francisco: Uvas, mangas e outras frutas finas viajam para a Europa e os Estados Unidos, rendendo lucros milionários para os grandes empresários e latifundiários. Mas enquanto os caminhões e aviões saem carregados de riqueza, o trabalhador rural segue vivendo em barracos, recebendo salários miseráveis e enfrentando condições degradantes de trabalho.

Nas fazendas irrigadas, os relatos são conhecidos: jornadas exaustivas, assédio, falta de direitos, terceirização, e até trabalho análogo à escravidão. É o preço da “Califórnia do Sertão”: um oásis para os patrões, um deserto para o povo. Falta de moradia, transporte precário, violência policial e abandono do poder público. O mesmo Estado que garante energia, estradas e crédito barato para o agronegócio, nega o básico para quem realmente faz a cidade funcionar. Não tem como não lembrar dos versos da canção “A Novidade”, de Gilberto Gil e Herbert Vianna.

Quem mantém essa riqueza toda?

Os bairros periféricos, erguidos pela força das mãos trabalhadoras, continuam sem saneamento, escolas decentes e postos de saúde adequados. A juventude pobre, sem oportunidades, é tratada como inimiga e não como futuro. Esse mês de outubro foi marcado pela falta d’água na cidade. Alguns bairros passaram mais de 15 dias sem água nas torneiras. Mas, pergunta se faltou água para garantir a exportação das uvas para a Europa, Oriente Médio e EUA? Achando pouco, a governadora segue com seu plano de privatizar a COMPESA. O povo pobre não é socorrido. Para os ricos, tudo.

O discurso da elite local, política, empresarial e midiática tenta vender a imagem de uma cidade moderna, empreendedora e “inserida no mercado global”. Mas o que realmente está globalizado é o modelo de exploração capitalista, que transforma a terra, a água e a força de trabalho em mercadorias para enriquecer uns poucos e condenar a maioria à pobreza.

Por trás da fachada de progresso, a desigualdade cresce, e o povo trabalhador segue sem participar dos frutos da riqueza que produz. Petrolina é a “Califórnia do Sertão” apenas para os grandes exportadores e seus aliados. Para o povo, continua sendo um território de resistência e luta. Pois é apenas o que resta para a classe trabalhadora sertaneja. Por isso que tem crescido ao longo dessa ano de 2025 a referência na Unidade Popular e dos movimentos que compõem nosso partido na cidade. Cada vez mais surgem pessoas querendo se organizar para mudar sua realidade.

A Petrolina que queremos não é a do lucro estrangeiro, mas a da terra repartida, da água pública, do trabalho digno e do poder popular. Somente assim o sertão deixará de ser a “Califórnia dos ricos” para se tornar o território livre e socialista do povo trabalhador!

 

Viva a luta do povo de Petrolina!

Viva a bravura sertaneja!

Abaixo o agronegócio explorador!

Terra, moradia e poder para o povo!

 

 

Minha homenagem ao MLB

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Graças ao exemplo do Movimento de Luta nos Bairros, Vilas e Favelas, o MLB, nós podemos ver que é possível construir realmente um novo mundo. Essa é a minha homenagem ao MLB e a todas as famílias que compõem essa verdadeira trincheira de luta.

Alberes Simão | Petrolina


CARTA – Em meio à crescente crise econômica e social que castiga o povo trabalhador, o Movimento de Luta nos Bairros, Vilas e Favelas (MLB) tem se consolidado como uma das principais expressões da organização popular nas periferias urbanas do Brasil. Nascido das entranhas do povo pobre e explorado, o MLB mostra, na prática, que só a luta organizada pode arrancar conquistas e enfrentar o poder dos ricos e dos governos que os servem.

Desde sua fundação, o movimento tem demonstrado uma combatividade incansável na defesa do direito à moradia digna, à terra urbana e à cidade para quem nela vive e trabalha. Em cada ocupação, em cada assembleia e em cada ato de rua, o MLB reafirma sua posição de independência de classe, recusando-se a se curvar diante dos interesses da burguesia ou das falsas promessas eleitorais.

Nas ocupações urbanas que florescem em dezenas de cidades, o MLB transforma o abandono e a miséria impostos pelo capitalismo em espaços de resistência e solidariedade. Onde antes havia terrenos ociosos e prédios abandonados, hoje brotam comunidades cheias de vida, esperança e consciência política. Ali, o povo aprende, na prática, o verdadeiro sentido da organização popular e do poder coletivo.

Mais do que lutar por moradia, o MLB constrói poder popular. Em suas fileiras, homens e mulheres do povo tomam nas mãos o destino de suas vidas, discutem política, decidem coletivamente, enfrentam despejos e repressões, e seguem firmes na luta por uma nova sociedade, livre da exploração do homem pelo homem.

Num país em que o desemprego, a fome e o despejo são armas de controle social, o MLB se ergue como símbolo de resistência e de esperança. Sua força está na unidade e na combatividade do povo pobre, que não aceita mais viver de migalhas.

Enquanto os ricos concentram terras e lucros, o povo organizado mostra que a cidade pertence a quem nela trabalha e luta. O MLB é a expressão viva dessa verdade e segue marchando ao lado de outros movimentos populares e forças revolucionárias, construindo no presente os alicerces de um futuro socialista.

Um momento inesquecível para nossa luta

O 7 de setembro desse ano vai ficar para sempre em minha memória, e deveria estar na mente de todos lutadores, especialmente aqueles que tiveram a honra de construí-lo. Foi uma poderosa e verdadeira jornada de lutas, o Movimento de Luta nos Bairros, Vilas e Favelas (MLB) realizou, neste mês, a ocupação de mais de 15 prédios e terrenos abandonados em diversas cidades do país. Os imóveis, sem função social há anos, foram transformados em espaços de moradia, dignidade e resistência popular, reafirmando a máxima de que “onde não há justiça, o povo organiza e constrói o poder popular.”

As ações, realizadas de forma coordenada, mobilizaram milhares de famílias trabalhadoras, que sofrem com o aumento do aluguel, o desemprego e a falta de políticas habitacionais. De norte a sul, as ocupações se tornaram símbolo da luta pelo direito constitucional à moradia e denúncia viva do abandono do Estado e da especulação imobiliária que domina as grandes cidades brasileiras.

“Enquanto milhares dormem nas ruas, há prédios inteiros vazios nas mãos de especuladores. O povo não aceita mais ser invisível. O que o capitalismo nega, o povo conquista com organização e coragem”, afirmou um coordenador nacional do MLB.

Os empreendimentos ocupados, muitos pertencentes a bancos, grandes construtoras e ao próprio poder público, estavam anos sem cumprir sua função social, servindo apenas ao lucro e à especulação. Com as ocupações, o MLB devolve sentido social ao espaço urbano, transformando o abandono em vida coletiva, e o concreto frio em esperança.

“O 7 de setembro do povo não é o dos generais nem dos empresários. É o 7 de setembro das mães que lutam por creche, dos jovens sem oportunidade, dos trabalhadores sem teto e sem terra”, declarou uma das lideranças do movimento.”

O MLB transformou o dia, historicamente usado pela elite para reafirmar seus privilégios, em um ato de resistência popular. Em várias cidades, o movimento articulou ações conjuntas com sindicatos, movimentos de juventude, coletivos culturais e frentes de esquerda.

As falas dos manifestantes lembraram que não há independência com fome, nem liberdade com desigualdade. A pauta central foi a defesa de políticas públicas para as favelas, moradia digna, transporte acessível, educação pública e direito à cidade.

Em Recife, Belo Horizonte, Salvador e Fortaleza, os atos ganharam caráter de festa e luta: artistas locais se apresentaram, crianças leram poesias, e militantes lembraram o legado dos que tombaram na luta por um Brasil verdadeiramente popular.

“O Brasil que queremos não é o das armas, mas o do pão, do livro e da dignidade”, afirmou um dos participantes, em meio aos aplausos.

O Movimento de Bairros, Vilas e Favelas, fundado em meio às lutas contra a carestia e o desemprego, reafirma sua posição como expressão viva da classe trabalhadora urbana, organizada nos territórios mais esquecidos pelo Estado.

Neste 7 de setembro, o povo mostrou que a verdadeira independência ainda está por vir, e que será conquistada nas ruas, nas comunidades e nas lutas coletivas.

“O povo unido e organizado é invencível!”

Essa é a bandeira que tremula em cada ocupação, em cada protesto, em cada gesto solidário do Movimento de Luta nos Bairros, Vilas e Favelas.

E enquanto houver injustiça, o MLB seguirá em pé, combativo e consciente, lutando por um Brasil verdadeiramente do povo.