A primeira edição do jornal A Verdade foi lançada em dezembro de 1999, com a manchete “FHC: o professor que virou um grande fazendeiro”. Foram 1.500 exemplares que circularam em cinco estados. Desde então, as ideias defendidas por A Verdade vêm obtendo cada vez mais apoio. O número de leitores cresceu a cada mês e hoje o jornal circula em 20 estados. A tiragem foi crescendo ano a ano e atingiu, em abril, 18.500 exemplares.
Este crescimento permitiu que, após 22 anos, o jornal A Verdade passasse a ser quinzenal. A partir de agora, serão duas edições por mês.
E há mais novidades: A Verdade ganhou um novo projeto gráfico e seu site www.averdade.org.br, após sofrer ataques dos inimigos da democracia, tem novo visual para facilitar a leitura. Em junho, terá ainda um aplicativo para baixar no celular.
Pode parecer pouco para alguns. Mas não é. Enquanto jornais da burguesia deixam de circular e passam a existir somente na internet, A Verdade lança agora duas edições impressas por mês no Brasil. Ademais, A Verdade é um jornal a serviço da classe explorada e oprimida, a imensa classe operária, as massas trabalhadoras. Suas páginas não são vendidas às grandes corporações internacionais e nacionais nem defendem os interesses do capital financeiro, das mineradoras ou do agronegócio. É um jornal dos trabalhadores que luta pela emancipação dos pobres, pelos direitos das mulheres, pela justiça social, democracia popular e socialismo.
Ergue sua voz contra o racismo e em defesa dos povos indígenas e denuncia todos os crimes cometidos pelo Estado burguês. Os princípios de A Verdade são baseados no marxismo-leninismo, no fim da exploração de classes, na solidariedade e fraternidade entre os irmãos trabalhadores e os povos de todo o mundo.
A Verdade é um jornal que se sente honrado em desafiar e lutar contra os poderosos interesses da classe capitalista e pelo fim da escravidão assalariada. É um jornal socialista no seu conteúdo e na sua forma, pois é feito com base na cooperação de centenas de companheiros e companheiras. Leva à prática os princípios definidos pelo grande revolucionário e criador do socialismo científico, Karl Marx: “A função da imprensa é ser o denunciador incansável dos opressores. (…) O dever da imprensa é tomar a palavra em favor dos oprimidos a sua volta. O primeiro dever da imprensa é minar todas as bases do sistema político existente”.
Mas a vitória de A Verdade se transformar num jornal quinzenal não caiu do céu. Foi fruto de um trabalho coletivo e planejado. Um importante Ativo Nacional de Agitação e Propaganda foi realizado no mês passado com dezenas de militantes, além dos ativos estaduais que se seguiram. Semanalmente, a Redação Nacional se reúne, debate as matérias, distribui entre os editores e prepara a próxima edição.
Como tem apoio entusiasta de seus leitores, A Verdade conta ainda com diversos colaboradores que escrevem textos e mandam fotos. Além disso, A Verdade dispõe de centenas de brigadistas, militantes do PCR, da UP e dos movimentos sociais que garantem que ele chegue às mãos do povo.
A Verdade quinzenal é uma vitória da imprensa popular e socialista, uma vitória de todos que nessa caminhada trabalharam para que este sonho se tornasse realidade, uma vitória principalmente para os oprimidos e explorados que terão um jornal ainda mais incansável na denúncia dos opressores, sempre erguendo a bandeira da revolução e do socialismo.
Com A Verdade quinzenal, semearemos mais e organizaremos mais operários e operárias no exército que construirá uma nova sociedade, na qual não haverá pobreza, nem corrupção, fascismo ou exploração. Apesar do fascista e dos generais, A Verdade quinzenal triunfou. Avante, camaradas!
Era manhã de uma quinta-feira de outubro de 2019 quando os servidores do Tribunal Superior Eleitoral tiveram que lidar com com uma situação incomum: algumas dezenas de trabalhadores desejavam assistir uma audiência de julgamento. A lotação do plenário com cerca de duzentas confortáveis cadeiras não era o problema, mas os visitantes não estavam com “vestimentas adequadas” que os permitisse estar diante dos ministros.
Naquele dia, homens e mulheres que diariamente acordam cedo e utilizam transporte público lotado para trabalhar, que pegam no pesado para sobreviver, colocaram suas melhores roupas, seus melhores sapatos, alguns cortaram o cabelo, outros usaram o melhor perfume. Era dia de festa. Após dois longos anos e um milhão e duzentas mil assinaturas recolhidas nos trens, nos bairros populares, nas portas de fábrica, e, apesar das dificuldades, registradas em cartórios de vários estados em todas as regiões do país, havia chegado o dia que iniciaria o julgamento do registro da Unidade Popular pelo Socialismo na mais alta corte eleitoral do Brasil.
Com a emoção transbordando em sorrisos largos, representando todos aqueles abnegados trabalhadores que entregaram suas poucas horas livres para cumprir a tarefa histórica de constituir o partido dos pobres, do povo trabalhador, entraram no prédio do TSE para assistir a audiência que reconheceria a legitimidade de todo o processo. Entretanto, a poucos metros do plenário principal do Tribunal, a chefe dos seguranças alerta que não será possível que os visitantes adentrem no local por não estarem vestidos adequadamente. “Onde está escrito isso?”, foi o primeiro questionamento do advogado Thiago Santos.
Daí em diante iniciou-se uma luta contra o tempo. Há poucos minutos de iniciar o julgamento, nem mesmo o presidente do partido, Leonardo Péricles, morador de ocupação, havia conseguido entrar no plenário justamente por estar somente com camisa social, mas sem terno e gravata. “Veja bem, argumentava Thiago Santos, essas pessoas estão justamente com suas melhores roupas, não há ninguém vestido de forma inadequada”. As mulheres que estavam de calça jeans, ao ver o tempo passando e a recusa da chefe dos seguranças, começaram a improvisar saias com cachecóis. Os homens já não mostravam os dentes, uma pequena angústia tomava conta.
Em meio ao embate jurídico da legalidade da exigência de terno e gravata entre o advogado do partido e os servidores, alguns seguranças sensibilizados prometeram irem até o vestiário verificar se tinham terno reserva para emprestarem ao visitantes, mas já alertaram que não haveria para todos. Pouco antes de iniciar a sessão, o advogado do partido conseguiu que a questão fosse levada até a presidente da Casa, à época ministra Rosa Weber. Alguns instantes antes de iniciar o julgamento a entrada foi autorizada.
Nesse dia, o procurador eleitoral Humberto Jacques apresentou parecer favorável, e o relator do processo, ministro Jorge Mussi, proferiu votou favorável ao registro alegando que “não poderia ser diferente, já que o partido cumpriu todas as exigências normativas”, entretanto o julgamento foi suspenso por um pedido de vista de um dos ministros, só sendo retomado, aprovado e registrado em dezembro do mesmo ano.
Mas foi exatamente naquele dia, 24 de outubro de 2019, que pela primeira vez o plenário do Superior Tribunal Eleitoral foi ocupado por pessoas sem terno e que, como retrata um grande filme, também não usam “Black Tie”.
Talvez tenha sido duro para os ministros da burguesia olharem de frente homens e mulheres que vivem do próprio suor. Para a Unidade Popular foi um dia histórico, mais um capítulo da emocionante luta pela libertação de milhões de trabalhadores brasileiros.
Fazia frio na tarde dessa quarta-feira, dia 12 de agosto, quando Movimento de Luta nos Bairros, Vilas e Favelas (MLB) organizou na cidade de São Bernardo do Campo um ato contra os despejos de famílias pobres durante a pandemia e em defesa do direito à moradia digna. O ato fez parte de uma agenda nacional de mobilizações que levou às ruas centenas de famílias, em diversas cidades brasileiras, levantando a bandeira do Despejo Zero, uma campanha nacional que unifica movimentos sociais e outros apoiadores na luta pelo fim dos despejos durante a crise da Covid-19.
A manifestação reuniu famílias de vários bairros de São Bernardo do Campo, cidade que sofre com uma política sistemática de despejos por parte do Prefeito Orlando Morando (PSDB), de Diadema, Santo André, Mauá, Francisco Morato, São Matheus e de várias regiões da Capital, além de outros movimentos que se somaram à essa luta, como o Projeto Meninos e Meninas de Rua (PMMR), o Coletivo Democracia Corinthiana, a Torcida Guerreiros do Tigre do São Bernardo F.C., o Movimento de Mulheres Olga Benário, etc. Para Gabriela Mousse, da Democracia Corinthiana: “Eles agem assim [despejos e repressão ao povo pobre] porque se sentem livres para fazer o que querem, não há motivo nenhum para ações desse tipo. Claro, o governo já é fascista e tá rolando uma pandemia, para eles fica mais fácil, por isso temos que ocupar as ruas com mais frequência”.
Alguns trabalhadores vieram de longe, é o caso de Cirilo Conceição, que viajou cerca de 80 quilômetros para poder participar do ato: “Sou de Francisco Morato, uma cidade abandonada pelos governantes. Governantes corruptos e omissos que permitiram que meu filho viesse a falecer. Quem me apoiou não foi nenhum governante, foi o povo, foi o MLB. Convidamos vocês a abraçarem essa causa porque essa é a causa de todos nós trabalhadores, estudantes, que pagamos aluguel, que somos despejados. O governo é o culpado disso, o governo não tá nem aí pra nós, eles querem é matar nossos filhos. Eles abandonam nossos bairros, na minha rua um carro não foi capaz de entrar pra prestar socorro ao meu filho. Eu abracei e vou continuar abraçando o MLB, essa ferramenta dos trabalhadores para lutar por uma moradia digna”.
A marcha, que contou com mais de cem pessoas, ocorreu no fim da tarde e foi da Igreja Matriz, no centro da cidade, até o Paço Municipal, em uma caminhada pacífica de mais de uma hora, mantendo o distanciamento social, o uso de máscaras e todos os cuidados relativos à pandemia da Covid-19 e sem qualquer tipo de conflito, sendo inclusive apoiada pela maior parte da população que transitava pela cidade, de carro, de ônibus ou a pé. Segundo Daniela, que constrói o MLB no bairro Detroit, em São Bernardo: “Essa manifestação é muito importante, estou aqui não só por mim, mas pelas minhas filhas e pela minha comunidade. Aprendi com o MLB que nós precisamos lutar, assim como fizeram os escravos, que se revoltaram e hoje são libertos. Mas ainda existe uma escravidão pra gente vencer e por isso estamos na luta”.
A organização do ato realizou um acordo com a Guarda Civil Municipal (GCM) e com a Polícia Militar, para que a manifestação fosse encerrada no Paço Municipal com uma assembleia das famílias que cobravam o seus direitos. No entanto assim que os primeiros militantes do movimento entraram no Paço, carregando uma faixa com os dizeres “Despejo Zero, Morar é um Direito”, a GCM descumpriu o acordo e atacou covardemente três Coordenadoras do MLB que carregavam a faixa, desferindo empurrões, socos e utilizando spray de pimenta sobre as mulheres; rapidamente um conjunto de famílias se aproximou, afastou os políciais e organizou um cordão de isolamento para impedir novas agressões.
Ao todo foram mobilizadas cerca de 30 viaturas entre GCM e Polícia Militar com o objetivo de impedir a continuação do ato através de uma ação agressiva e completamente desproporcional, descumprindo um acordo feito minutos antes, alegando que o movimento estava proibido de adentrar o Paço Municipal carregando qualquer tipo de bandeira ou faixa e demonstrando o caráter repressivo do Estado contra os trabalhadores, os pobres e os lutadores sociais que cada dia fica mais intenso no Brasil. As famílias conseguiram assegurar o direito de realizar sua assembleia no local e em alguns minutos de diálogo e de muita agitação política contra as injustiças do sistema capitalista, o sistema dos ricos que durante a pandemia promove o crescimento do patrimônio dos bilionários exploradores e o empobrecimento geral daqueles que vivem do próprio trabalho, decidiram encerrar a manifestação, prometendo que voltarão às suas cidades e bairros e organizarão ainda mais pessoas para lutar pela Reforma Urbana e pelo Socialismo. Segundo Thais Gasparini, uma das Coordenadoras Estaduais do MLB agredidas pela GCM: “Essa repressão, esse uso da violência para calar quem se manifesta é um espelho do que acontece na periferia, em que essa mesma GCM é utilizada pra derrubar as casas do povo pobre. Isso precisa acabar, por isso nos manteremos firmes na luta, cada dia maiores, combatendo a exploração, a especulação imobiliária e a política dos ricos, dos latifundiários e dos banqueiros”.
Para Arnor, membro do MLB do bairro do Divinéia, em São Bernardo: “O ato foi muito bom, muito bonito, temos que seguir lutando. Já precisamos marcar a próxima passeata”.
No capitalismo, as guerras são fruto da concorrência entre as classes dominantes de diferentes nações pelo domínio do planeta. Na Primeira Guerra Mundial, formaram-se dois blocos imperialistas opostos: Tríplice Aliança (Impérios Alemão, Austro-Húngaro e Turco-Otomano) e a Tríplice Entente (Impérios Inglês, Francês e Russo).
O sol nasce vermelho
Algo novo, entretanto, surgiu durante a Primeira Guerra Mundial: a revolução socialista de outubro de 1917, na Rússia; nova cisão ocorria no mundo, agora dividido em dois sistemas adversos: o capitalismo e o socialismo.
Os dois blocos capitalistas passaram a ter um objetivo comum: a destruição do primeiro Estado operário-camponês da história, em vista da restauração do capitalismo em escala global. Foi com este propósito que o bloco vencedor investiu na economia alemã 15 bilhões de marcos em seis anos (1924-1929).
Quando o nazismo se apossa da Alemanha e explicita seu intento de domínio mundial, as potências capitalistas dominantes não tratam de combatê-lo. Ao contrário, fecham os olhos às suas agressões e até incentivam o monstro nazista a direcionar seu ataque contra a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS).
Em 1939, a URSS propôs à Inglaterra e França um pacto para ações militares conjuntas se os países do Eixo (Alemanha, Itália e Japão), bloco nazifascista, iniciassem a guerra na Europa. Não houve rejeição formal, mas nenhum passo foi dado por parte dos países capitalistas para concretizar o pacto. Ao contrário, França e Inglaterra firmaram com Alemanha e Japão acordos de não-agressão. Deixada sozinha, em agosto de 1939, a URSS assinou com a Alemanha um tratado de não-agressão. Os dirigentes sabiam que, mais cedo ou mais, tarde Hitler romperia o acordo, mas conseguiram ganhar um tempo valioso para transferir parte de suas indústrias para o leste do grande território soviético, bem como reforçar sua capacidade de defesa militar.
De 1938 a 1941, Hitler ocupou Áustria, Checoslováquia, Polônia, Bélgica, Holanda, Dinamarca, Noruega, Grécia, Iugoslávia e finalmente a própria França. Na Europa central e oriental, a Alemanha adquiriu imensa quantidade de material de combate, meios de transporte, matérias-primas, materiais estratégicos e força de trabalho, tornando-se forte o suficiente para atacar a URSS.
Hitler, no livro MeinKampf(Minha Luta), proclamou: “…tratando-se de obter novos territórios na Europa, deve-se adquiri-los principalmente à custa da Rússia”.
A invasão hitlerista foi impiedosa. “Fuzilavam em massa as pessoas (mulheres, crianças, idosos, montavam campos de morte, deportavam para trabalho forçado na Alemanha. Por onde passavam, não deixavam pedra sobre pedra”. Era a política do extermínio. “Eu tenho o direito de destruir milhões de homens de raça inferior que se multiplicam como vermes” (Hitler).
Em resposta, o governo, o Partido Bolchevique e o povo soviético lançaram a palavra de ordem: “Morte aos invasores fascistas, tudo para a frente! Tudo para a vitória!”. Às fileiras do Exército Vermelho se integraram milhões de homens. Criaram-se também inúmeros regimentos de milícia popular, contando com dois milhões de combatentes.
Formou-se ainda na retaguarda uma força guerrilheira massiva. A dedicação e bravura do povo soviético comoveram o mundo e foram decisivas para quebrar a resistência capitalista (EUA, Inglaterra, França). Formou-se finalmente o bloco aliado, antifascista, a frente única dos povos pela democracia.
Caíra por terra a ideia de Hitler de que a ocupação da URSS seria um passeio uma “guerra relâmpago”. Os nazistas não imaginavam a resistência que encontrariam nas principais cidades: Leningrado, Stalingrado, Kiev e Moscou, entre tantas. Homens, mulheres, idosos e crianças se ergueram como muralha inexpugnável.
Os feitos do povo soviético repercutiram no mundo inteiro, levando um jornal burguês como o STAR, de Washington, a publicar: “Os sucessos da Rússia na luta contra a Alemanha hitleriana revestem-se de grande importância não só para Moscou e o povo russo, como também para Washington, para o futuro dos Estados Unidos. A história renderá homenagens aos russos por terem suspendido a guerra relâmpago, pondo em fuga o adversário”.
Em junho de 1942, os invasores avançam, mas encontram uma barreira instransponível em Stalingrado. Durante sete meses de combate, os invasores perderam 700.000 soldados e oficiais, mais de mil tanques, dois mil canhões e morteiros, 1.400 aviões. Os invasores eram tecnicamente superiores, mas, em novembro de 1942, os números já se invertiam em favor dos soviéticos. Os alemães estavam com 6.200.000 soldados, os soviéticos com 6.600.000; 5.000 tanques invasores contra 7.000 soviéticos; 51.000 peças e morteiros contra 77.000.
Na derrota do Stalingrado, os nazistas perderam 1,5 milhões de soldados e oficiais. “… Do ponto de vista moral, a catástrofe que o exército alemão sofreu nos acessos de Stalingrado teve um efeito sob o peso do qual ele não pôde mais reerguer-se”. (A segunda guerra mundial, B.Lideel Hart)
Depois, ocorreu a vitória do Cáucaso e se iniciou processo de expulsão em massa dos ocupantes nazistas. “A União Soviética pode orgulhar-se das suas heroicas vitórias”, escreveu o presidente dos EUA, Franklin Roosevelt, acrescentando: “…os russos matam mais soldados inimigos e destroem mais armamentos do que os outros 25 estados das Nações Unidas no conjunto”.
O final de 1943 marca a virada na frente soviética e na Segunda Guerra em geral. O movimento contra o nazifascismo se consolidou e se ampliou em todo o planeta.
Em junho de 1944, com o exército alemão batido em todas as regiões da URSS, as tropas anglo-americanas desembarcaram no Norte da França, dando início à frente ocidental proposta pelo governo soviético desde o início da invasão.
Pode-se dizer que a essa altura a guerra estava decidida, diante da derrota alemã na Rússia. O próprio Winston Churchil, primeiro-ministro britânico, reconhece o papel fundamental dos soviéticos, no discurso pronunciado na Câmara dos Comuns, em julho de 1944: “….Considero meu dever reconhecer que a Rússia mobiliza e bate forças muitíssimas maiores que as enfrentadas pelos aliados no Ocidente, que, há longos anos, ao preço de imensas perdas, ela suporta o principal fardo da luta em terra”.
Um exército libertador
Apesar de imensas perdas, o Exército Vermelho avançou no encalço dos alemães pela Europa Oriental adentro, fustigando os nazistas e auxiliando as forças populares da resistência a derrotarem os ocupantes e seus colaboradores internos. Repúblicas democrático-populares foram instaladas com os partidos comunistas à frente na Polônia, Hungria, Iugoslávia, Checoslováquia, Romênia e Bulgária.
“Para Berlim!” era a palavra de ordem do exército libertador. Não foi um passeio. A resistência nazista, embora enfraquecida, produzia encarniçados e sangrentos combates. Os russos vitoriosos não mataram, não pilharam, não se vingaram dos crimes cometidos pelo exército alemão no solo soviético. Ao contrário, alimentaram os famintos, organizaram a assistência médica, o funcionamento dos transportes, a distribuição de água e de energia elétrica. A 2 de maio de 1945, o Comando Supremo alemão assinou o ato de capitulação incondicional das forças armadas, com a bandeira da URSS tremulando no alto do parlamento alemão, em Berlim. No dia 09 de maio, houve um imenso ato em Moscou em comemoração ao fim da Grande Guerra Patriótica (como os soviéticos denominaram sua participação na Segunda Guerra Mundial) e, desde então, até hoje, celebra-se na Rússia esta data como o Dia da Vitória.
Sob novos céus
Terminada a guerra na Europa, era preciso voltar-se para a Ásia. O Japão, aliado dos nazistas dominava milhões de pessoas na China, na Coreia, nas Filipinas. Apesar de as forças armadas dos EUA e da Inglaterra virem imprimindo sucessivas derrotas, as forças japonesas ainda eram numerosas e fortes. De vez em quando, elas atacavam as fronteiras da URSS e torpedeavam navios soviéticos em alto-mar.
No dia 8 de agosto de 1945, a União Soviética declarou guerra ao Japão e começou a ofensiva. Nesse mesmo dia, o primeiro-ministro japonês, Teiichi Suzuki afirmou: “…A entrada da URSS na guerra hoje de manhã põe-nos definitivamente numa situação sem saída e torna impossível continuar a guerra” . Estava certo. No final do mês, o Exército nipônico havia perdido 677 mil soldados e oficiais: 84 mil mortos e 593 mil prisioneiros.
Ao contrário do que muitos pensam, e a historiografia burguesa busca difundir, não foram as bombas estadunidenses lançadas no início de agosto contra Hiroshima e Nagasaki que provocaram a capitulação japonesa. A guerra continuou normalmente depois do ataque bárbaro e covarde. A rendição resultou do destroçamento do exército nipônico pelas tropas soviéticas.
Se alguém duvida, leia o testemunho do general Chenault, que chefiou as forças dos EUA na China: “…A entrada da URSS na guerra contra o Japão foi o fator decisivo para o fim da guerra no Pacífico, o que sucederia mesmo sem o emprego de bombas atômicas. O rápido golpe desferido pelo Exército Vermelho sobre o Japão fechou o cerco que pôs finalmente o Japão de joelhos”.
O Exército Vermelho contribuiu ainda para a expulsão dos nazistas da China e da Coreia. O sacrifício do povo soviético foi inestimável. Mas valeu a pena porque livrou a Humanidade da besta nazista. Foi também a vitória do socialismo que saiu da Segunda Guerra triunfante em toda a Europa Oriental e na China.
Por todos, valeu a carta de agradecimento enviada pelo povo coreano a Josef Stalin, comandante supremo das forças soviéticas: “… Os combatentes soviéticos chegaram não como conquistadores, mas como libertadores. Emancipada da escravidão, a nossa pátria respirou livremente. O céu apareceu-nos radioso. A nossa terra floresceu. Jorraram canções de liberdade e felicidade…”.
José Levino, historiador
Fonte de pesquisa: O Grande Feito do Povo Soviético e do Seu Exército. VassiliRiábov, Edições Progresso, Moscou,1983.
Enquanto milhões de brasileiros estão em isolamento ou distanciamento social devido à pandemia da Covid-19, o capitão reformado Jair Bolsonaro e seus puxa-sacos vivem um imenso isolamento político. A reprovação a seu governo já alcança quase 70%, suas Medidas Provisórias, sem apoio, caducam no Congresso Nacional e o Supremo Tribunal Federal (STF) decidiu que não é função do presidente desrespeitar governadores e prefeitos. Nos embates que travou com o ex-ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, ficou em minoria nas reuniões do seu Ministério. Teve que levar um de seus filhos para dentro do Palácio Planalto para poder conseguir ouvir diariamente: “Pai, você é o rei”.
E os fatos mostram uma dura realidade: após quase um ano e meio no governo, o capitão reformado, apesar de controlar um Orçamento Federal de R$ 4 trilhões, não construiu nenhum hospital público nem universidade. Tampouco ampliou o acesso da população ao saneamento ou construiu casas populares. O desemprego e o número de famílias vivendo na extrema pobreza cresceram enormemente no seu desgoverno. Usou todo o dinheiro público para enriquecer os especuladores, os banqueiros e permitir a remessa de bilhões de dólares do Brasil para os EUA.
O povo brasileiro, vendo que o capitão reformado é incompetente, antidemocrático e totalmente subserviente ao EUA, passou a reprovar seu governo em todas as regiões. Segundo o Instituto Datafolha, 17% de seus eleitores se arrependeram de ter votado nele.
Diante dessa crescente rejeição da população, o capitão reformado e seus filhos resolveram apelar para a velha política: recorrer às Forças Armadas, em particular ao Exército, para impor um regime ditatorial no país.
Assim, foram marcadas as carreatas e atos para o dia 19 de abril, dia que é considerado Dia do Exército. O Exército, seu comandante geral e o Alto Comando sabiam do ato e deram total permissão para que Bolsonaro e seus puxa-sacos o realizassem com dezenas de faixas encomendadas e com dezenas de assessores de deputados e de pessoas que ocupam cargos de confiança no governo, os conhecidos “aspones”.
No entanto, os atos foram um fracasso. Em São Paulo, dezenas de carros luxuosos, acompanhados de várias motos, algumas delas que custam mais de R$ 50 mil reais, foram verdadeiramente “ovacionadas”, isto é, receberam ovos e tomates dos prédios por onde passavam. Em Brasília, apenas algumas centenas de pessoas atenderam ao chamado de Bolsonaro e, se retirarmos os assessores da conta, fica uma ridícula minoria. Pior: após o ato, nove pessoas deram entrada em hospitais de Brasília com suspeita de Covid-19.
Pois bem, com o repúdio nacional à fala de Bolsonaro em frente ao Quartel General do Exército em Brasília, os generais passaram a dizer em off a jornalistas que não concordavam com aquele discurso defendendo um golpe militar e a volta do AI-5 e pediram ao capitão para “baixar o tom”. Na manhã desta segunda-feira, 20 de abril, um irritado e nervoso presidente, com suas mãos trêmulas (lembrando Hitler no filme A Queda), tentou desdizer o que tinha dito. Mas, revelando sua natureza fascista, parafraseou o rei Luís XIV, e declarou: “Eu sou a Constituição”.
Os fascistas e a grande a burguesia nacional e internacional olham a história do Brasil, observam os inúmeros golpes militares que aconteceram e acham que é fácil dar um golpe militar em nosso país e impor a censura à imprensa, torturar os que discordam, assassinar e esconder os corpos dos patriotas e democratas ou jogá-los no mar. Pensam que assim terão a paz dos cemitérios dizendo que o “Brasil vai pra frente, ame-o ou deixe-o” e que a ditadura militar é o melhor regime para governar um povo rebelde, como é o brasileiro.
Mas, senhores e senhoras fascistas, ensina a filosofia dialética que, se houve tantos golpes militares assim no Brasil é porque nenhum conseguiu se manter eternamente. Ou melhor, todos foram derrotados nas ruas pelos trabalhadores, pelas mulheres, pelos jovens, pelo povo brasileiro. Duvidam? Então terão que ouvir novamente nosso povo nas ruas desfilando e cantando: “Amanhã vai ser outro dia!” ou “Você não gosta de mim, mas sua filha gosta!”.
O chamado neoliberalismo se aprofundou no Brasil nos anos 1990, primeiro no Governo Collor e depois durante os dois governos de Fernando Henrique Cardoso. Na verdade, tratou-se de uma maior submissão das economias nacionais com abertura dos mercados, iniciada no Chile e na Argentina, diante de um crescimento da exportação de capitais e maior domínio do capital financeiro internacional sobre as economias nacionais latino-americanas. Foi um período de ampla hegemonia dos EUA, encoberto sob o discurso da globalização.
A queda brusca dos impostos de importação e exportação, o fim do controle de capital e a isenção de impostos para a sua movimentação, a adoção de uma política cambial ancorada no dólar, o achatamento salarial dos trabalhadores e a privatização das principais empresas estatais foram as medidas centrais que tiveram consequências estruturais perversas para a economia nacional.
No entanto, o que se desenvolve de fato são as características do imperialismo capitalista, com o aprofundamento da financeirização do capital monopolista e uma gigantesca exportação de capitais por diversas vias. O capital se expande permanentemente, destruindo as economias nacionais, promovendo o desemprego e a redução salarial, para extrair mais-valia extraordinária e, assim, buscar manter sua taxa de lucro. Neste sentido, falar apenas contra o neoliberalismo e aceitar o capitalismo é propor aceitar a exploração dos trabalhadores, a manutenção da escravidão assalariada e sua expressão política, a democracia burguesa.
Além da política neoliberal praticada pelo imperialismo dos EUA, sofremos uma ação neocolonialista brutal, com a “elite nacional” sendo subornada e praticando a corrupção. Este fato foi evidenciado no processo de privatização, tendo boa parte dos recursos sido desviada para o “caixa 2” das campanhas eleitorais de 1998, mantendo FHC no governo.
Outro objeto de controle da nação foi a dívida pública. Com o aumento dos juros para conter a inflação, os novos financiamentos recebidos do FMI aumentaram em muito as dívidas externa e interna, ampliando a dependência do Brasil ao capital financeiro dos EUA. A abertura financeira ocasionou ainda o aumento da dívida interna, pois era extremamente favorável para o capital financeiro especular com a alta de juros (a taxa Selic atingiu 45,67% ao ano, em 1997), com controle do câmbio e livre movimentação de capitais.
Resumindo: ocorria uma espoliação financeira terrível devido à política de total submissão às ordens do dito “Consenso de Washington” praticada pelo governo brasileiro.
Essa abertura gerou também a quebra de milhares de empresas nacionais. As pequenas e médias empresas foram as mais atingidas, mas também grandes empresas foram à falência, iniciando o processo de desindustrialização nacional. Porém, um setor com maior acúmulo de capital, a grande burguesia interna, que fez o acordo com a burguesia estadunidense, teve lucros crescentes e caminhou para expandir seus negócios para o exterior. Setores como o do agronegócio, da construção civil e dos frigoríficos, tornaram-se grandes empresas internacionais e, a partir desse acordo, passaram a expandir-se para a região do Mercosul.
Outros setores foram se associando ao capital estrangeiro, seja na aquisição das importantes empresas estatais que foram privatizadas (setores de minério, siderúrgico, energia, etc.) ou de indústrias e serviços privados para o investimento dos capitais internacionais. Tornaram-se, assim, um setor submisso ao capital internacional e aos ditames da Organização Mundial do Comércio (OMC).
Entre os anos de 2003 a 2010, vivenciamos o Governo Lula e, de 2011 a meados de 2016, o Governo Dilma. Foi um período de hegemonia petista, considerado por alguns como desenvolvimentista ou neodesenvolvimentista, mas teve como base a diversificação da dependência nacional, principalmente em relação ao crescimento das exportações para a China, pautado também pelo investimento público feito nas empresas públicas e privadas, e pela ampliação do consumo da população com base numa grande oferta de crédito.
Esse processo de consumo levou a um relativo desenvolvimento da indústria naval, da construção civil, do agronegócio e da pecuária, propiciando o crescimento do lucro da grande burguesia e do capital financeiro. Porém, sendo um desenvolvimento com base no crescente endividamento e submetido aos interesses da grande burguesia nacional e mundial, terminou por esgotar-se com o aprofundamento da crise do capitalismo mundial.
Na verdade, o governo praticou uma política neodesenvolvimentista, mas manteve a hegemonia do capital financeiro, aprovando leis em seu benefício, como a lei de garantia de empréstimos com descontos em folha. A “Carta aos Brasileiros”, no início do primeiro mandato de Lula, foi, no fundamental, uma mensagem ao mercado financeiro internacional em que o presidente se comprometia a manter todos os acordos anteriores, não mexer no processo das privatizações, manter o controle da inflação, garantir o pagamento da dívida pública com altos juros e ampliar seus benefícios. Isso significou, na prática, a manutenção da política neoliberal.
Além de não ter revogado nenhuma das corruptas privatizações do Governo FHC, o PT realizou novas: privatizou portos, aeroportos e rodovias, além de fazer leilões de campos de petróleo para empresas estrangeiras. Porém, com o pré-sal (considerado o bilhete premiado), alterou o regime de exploração, mantendo os leilões em outros termos. Assim, a Petrobras foi um poderoso instrumento para desenvolver a política neodesenvolvimentista, promovendo investimentos em refinarias e alavancando a indústria naval brasileira e a construção civil. No entanto, o PT não reverteu a abertura de capital da Petrobras e esta permaneceu influenciada pesadamente pelos acionistas internacionais e pelo mercado.
A crise da era petista se iniciou em 2014, no final do primeiro Governo Dilma. A crise econômica chegou ao Brasil e ficou evidente que a política neodesenvolvimentista não conseguiu resolver os problemas estruturais do país, principalmente por não suspender o pagamento dos juros da dívida pública e manter a espoliação do capital financeiro e a dependência em relação ao agronegócio. Por outro lado, a relação com a China, que trouxe a ampliação da venda de commodities a níveis altos e a abertura para importação de produtos de toda ordem, gerou uma maior desindustrialização e dependência do setor externo. Essa troca desigual trouxe enormes benefícios para a grande burguesia do agronegócio, da mineração, da pecuária, da construção civil, etc., mas, como sempre, bastou uma oscilação do mercado internacional para tudo ir abaixo.
Realmente, a crise mundial se aprofundou com reduções seguidas de crescimento da economia chinesa. A China, mesmo possuindo enormes monopólios e rivalizando o comércio internacional com os EUA, não ficou de fora da nova crise de superprodução relativa que dificultou a realização de seu capital mundialmente. É importante notar que essa crise e a disputa de mercados continuam a se desenvolver, ameaçando agora entrar num período mais profundo, como afirmou recentemente a OMC. Sem ter como exportar mais mercadorias e com o superacúmulo de capital, a China avança a financeirização da sua economia.
Vejamos o que se sucedeu de 2007 a 2015. A China chegou a crescer 13%, em 2007, e o mercado de commodities brasileiro teve uma alta considerável. Em 2010, a China teve mais uma queda no seu PIB para 10,4%. Em 2015, relatório do FMI dizia que a China diminuiria o crescimento para 6,8%, a menor taxa anual do país dos últimos 25 anos. A queda da economia brasileira foi quase automática. Dilma Rousseff, que tomou posse para o segundo mandato no dia 1º de janeiro de 2015, permaneceu no posto apenas um ano e meio.
A crise ocasionada pela redução da produção da China fez cair enormemente o preço das commodities e reduziu os lucros da grande burguesia. Sendo pragmática, a burguesia, que há pouco havia colocado o gorro “comunista” na cabeça para adular o imperialismo chinês, pulou do barco e abandonou Dilma, definitivamente afastada do cargo em agosto de 2016.
O impeachment de Dilma teve ainda um elemento geopolítico. Os EUA usaram todo o seu poder para manter o país como sua área de influência, pois, mesmo sabendo que o PT atendia ao capital financeiro e pagava religiosamente a dívida pública, o avanço da crise do capitalismo mundial exigia ainda mais submissão. Vale salientar que a UP, ao mesmo tempo em que estava em processo de construção, esteve nas ruas lutando e denunciando este golpe.
Da mesma maneira, resistindo à quebra da sua hegemonia em nível internacional, os EUA lançaram o Tratado Transpacífico (TPP), que tinha como objetivo enfraquecer a China. Porém, após a eleição de Trump, os EUA se retiraram do TPP e adotaram como tática acordos bilaterais. Depois, abriram uma guerra comercial direta com a China, levantando barreiras às mercadorias chinesas, o que dura até hoje.
Assim, os EUA intervieram no Brasil com o objetivo de retirar o PT do governo para garantirem no poder um aliado subserviente. Financiaram e corromperam o judiciário brasileiro, apoiaram a fabricação da “Operação Lava-Jato”, que levou Lula à cadeia e promoveu a eleição de Bolsonaro. Da mesma maneira, os EUA disputam a Venezuela, com ações de bloqueio econômico e ameaça de invasão, e a Bolívia, onde promoveram um golpe fascista. Aparentemente, existe uma disputa entre forças reformistas liberais e o neoliberalismo fascista no continente, que tem como pano de fundo as disputas entre as duas propostas para conduzir o mundo capitalista.
Também era importante para os EUA ter o Brasil, principal país da América do Sul, como sua área de influência estratégica. Tendo como objetivo central na América Latina a derrubada do Governo Maduro e não obtendo sucesso pela via “pacífica”, intensificou o bloqueio econômico e buscou envolver o Brasil e a Colômbia numa aventura imperialista contra a Venezuela. Trata-se claramente de uma estratégia neocolonialista, que visa a usar tropas de outros países, mas mantendo o objetivo de conquista e ainda lucrando com a guerra.
A China é hoje a segunda potência econômica mundial e busca acumular forças na disputa pela hegemonia no planeta, fato que leva ao acirramento de contradições interimperialistas. Antes apenas exportadora de manufaturas, a China está alcançando o mais elevado grau de tecnologia, uma enorme acumulação de capital e intensificando a fase de exportação de capitais. No momento, essa exportação ocorre por meio do financiamento de infraestrutura nos países em desenvolvimento, investimentos financeiros, compra de títulos do Tesouro estadunidense, empréstimos e investimento direto.
O processo de exportação de capitais parece ser a ponte para uma defesa militar das áreas de influência econômica. Por isso, a China tem hoje o segundo maior gasto militar do planeta e já instala bases militares internacionais, sendo que a primeira foi estabelecida na África. Na América Latina, a China tem grandes investimentos, sendo o principal parceiro comercial de diversos países, inclusive do Brasil. Por isso, investem pesadamente em grandes porta-aviões, jatos, armas nucleares, e já superam os Estados Unidos em alguns aspectos tecnológicos.
Para termos uma noção, o país asiático investiu no Brasil, do ano de 2007 a 2018, US$ 57,9 bilhões em 145 projetos voltados principalmente para o setor de geração, transmissão e distribuição de energia elétrica. Os investimentos, no último ano, foram especialmente diretos, sendo 50% realizados em empresas construídas a partir do zero. Mas 42% foram investimentos em fusões e aquisições. Segundo o embaixador da China no Brasil, Yang Wanming, a China está aumentando a abertura do setor financeiro, de serviços, da agricultura, mineração e manufatura. Estima-se que o investimento chinês no próximo ano ultrapasse os US$ 10 bilhões.
A China mantém os investimentos mesmo no Governo Bolsonaro e, embora reaja às declarações do filho dele de forma dura, o pragmatismo do capitalismo chinês projeta grandes investimentos nas áreas de a) energia, da ordem de R$ 24,7 bilhões em quatro projetos (hidroelétrica, termonuclear e transmissão); b) ferrovias, R$ 29,1 bilhões em quatro projetos (2.800 km); c) óleo e gás, R$ 117,5 bilhões em quatro projetos; d) portos, com R$ 5,9 bilhões em 16 projetos; e) aeroportos, R$ 2,1 bilhões em dois projetos.
Por outro lado, embora Trump afirme que apoia Bolsonaro e ambos troquem elogios ideológicos em público, os EUA não fazem nada do ponto de vista financeiro para apoiar o governo brasileiro. O investimento dos EUA no Brasil foi pequeno em 2019: o valor foi de US$ 2,2 bilhões, menor que o de 2017, quando o montante correspondeu a US$ 2,9 bilhões. Os compromissos firmados se restringiram a acordos antinacionais e militares, como a entrega da Base Espacial de Alcântara, no Maranhão, e um acordo que transforma o Brasil numa força auxiliar do Comando Sul dos EUA, tornando-se um aliado extrarregional da OTAN. Ou seja, um acordo militar subserviente, que coloca o Brasil como mais uma base de operação militar dos EUA na região.
Como vemos, Bolsonaro segue cegamente o imperialismo norte-americano, pois, como fascista que é, em um país de economia altamente dependente e submissa como é o Brasil, seguirá a linha fascista de Trump para apoiar-se internacionalmente no império dos EUA. Bolsonaro é um representante da grande burguesia[1] e dos militares fascistas, que se declaram abertamente submissos ao capital estadunidense, não possuindo sequer um verniz de nacionalismo.
2 – Desenvolver a consciência das massas populares, aumentar o isolamento de Bolsonaro e criar as condições para derrubar o governo
Diante da crise do coronavírus e da projeção de uma crise econômica mais profunda nos próximos meses, setores da própria burguesia (como evidenciou editorial recente do Financial Times) falam que os governos devem ajudar a economia promovendo investimentos e renda para os mais pobres, ou seja, praticar uma política antiliberal para ajudar a cobrir os prejuízos da própria burguesia. Bolsonaro, no entanto, insiste em manter o arrocho salarial, cortar salário dos servidores e seguir a retirada de direitos a ferro e fogo. Assim, quer ser mais realista que o rei e promover a política neoliberal dos banqueiros e do capital financeiro estadunidense a todo custo.
Por tudo que fez desde o início do governo, como retirada de direitos dos trabalhadores, congelamento dos salários, desemprego e venda do patrimônio público, Bolsonaro tem um enorme desgaste, que tende a crescer com o aprofundamento da crise do coronavírus e a demissão de Luiz Henrique Mandetta do Ministério da Saúde. As mortes que se multiplicam evidenciam que a retirada dos recursos públicos da saúde foi um crime de lesa-humanidade. Também a insistência de Bolsonaro contra o isolamento social e de que a Covid-19 é apenas um “resfriadinho” trarão consequências desastrosas para a população. Hoje já temos quase 70% da população contra esse governo.
Porém, não vivemos em uma democracia popular, em que a maioria do povo é que decide. Vivemos debaixo de um governo de fascistas que tem como principais ministros generais da ativa e da reserva. Também é um governo que representa os interesses da grande burguesia, que é uma ínfima minoria da sociedade e, por isso, teme o movimento operário e popular e tende ao fascismo, principalmente em momentos de crise.
Portanto, não devemos subestimar a possibilidade de o atual governo, sob o pretexto de o país viver uma calamidade pública, promover um golpe e decretar um estado de sítio. Para isso, os fascistas não precisam de apoio da maioria da população, basta contar com apoio das Forças Armadas e de uma parcela reduzida da população disposta a ir às ruas nos seus luxuosos carros. Lembremos ainda que o governo dos EUA, aliado de Bolsonaro, pratica uma política fascista que impulsiona correntes desta natureza na Europa e na América Latina.
Em almoço realizado na sede da FIESP, no último dia 03 de fevereiro, para os 250 maiores industriais de São Paulo, com a presença de Bolsonaro, o presidente da entidade, Paulo Skaf, afirmou que “O Brasil não está dando certo. O Brasil já deu certo”, declarando, assim, o apoio da grande burguesia ao fascista. Este apoio é firmado especialmente na política de Paulo Guedes, que promoveu a reforma trabalhista, a reforma da Previdência e dá continuidade, em meio à crise do coronavírus, a propostas como a Carteira de Trabalho Verde e Amarela e a retirada de direitos dos servidores públicos. Assim, o apoio ao fascista está condicionado à agenda de retirada de direitos que assegure a maior extração de mais-valia dos trabalhadores.
O fascista também tem o apoio da Confederação Nacional da Agricultura e Pecuária (CNA), representada por João Martins, que também é parte da minoria dos exploradores e representa a grande burguesia agrária. Em setembro de 2019, momento em que Bolsonaro fez um ridículo discurso na ONU exaltando a ditadura militar de 1964, Martins afirmou que Bolsonaro o representou, fazendo excelente discurso: “Defendeu a soberania nacional, esclareceu equívocos sobre a Amazônia e ressaltou o importante papel do Brasil na produção mundial de alimentos e na preservação do meio ambiente. Também afastou a tese de que o governo está colocando o mundo contra o agro brasileiro, defendendo não apenas o setor, mas toda a nação”.
Vale lembrar que esse foi o momento em que a Amazônia estava em chamas e que o agronegócio foi um dos principais responsáveis por este crime contra a natureza. Mas vejamos que, apesar da reafirmação do apoio da grande burguesia, os meses vão se passando e fica evidente a cada dia que o governo Bolsonaro vem se enfraquecendo e perdendo apoio popular. Porém, será defendido para que fique no poder por essa minoria enquanto for útil para a grande burguesia.
Nesse momento, apresentam-se algumas propostas políticas para retirada de Bolsonaro da presidência. O impeachment é uma delas. No entanto, com um Congresso Nacional altamente reacionário e antipopular como o atual, a única forma de forçar o impeachment seria a realização de grandes manifestações nas ruas. Mas, no momento, devido ao crescimento do número de mortes pela Covid-19, esta possibilidade não é viável. Desse modo, apostar que um Congresso Nacional que aprova leis contra os trabalhadores vai aprovar o impeachment sem o povo nas ruas é ignorar o papel das massas na luta política e propagar ilusões parlamentaristas.
Outra proposta apresentada é apelar para que Bolsonaro, que faz planos para governar 20 anos, renuncie. É como pedir para o diabo virar anjo. Alguns desses setores chegam até mesmo a afirmar que o general Mourão seria um “mal menor”. Esse é o caso do governador do Maranhão, Flávio Dino, do PCdoB: “Claro que Mourão não é do meu campo ideológico. Mas, se Bolsonaro entregar o governo para ele, o Brasil chegará em 2022 em melhores condições”.
Trata-se de um ledo engano e demonstra uma gigantesca ilusão de classes, uma total traição ao povo e sua história. Mourão é um general, representante ainda mais direto dos interesses do setor ultraconservador e fascista das Forças Armadas. Como Bolsonaro, Mourão defende a tortura, tenta falsificar a história escondendo os crimes cometidos pelas Forças Armadas e pela grande burguesia durante a Ditadura Militar, sendo, portanto, um defensor do aumento da repressão contra o povo e a classe trabalhadora.
Dessa maneira, nossa tática de aprofundar o desgaste deste governo, manter e impulsionar a palavra de ordem “FORA BOLSONARO! POR UM GOVERNO POPULAR!” é, sem dúvida, a mais correta. Primeiro, porque é a palavra de ordem que está na boca do povo. Foi gritada por milhares de mulheres de todas as correntes políticas no 8 de março, sendo esta a última manifestação nacional contra o fascismo. Segundo, taticamente, no momento de avanço da pandemia do coronavírus em que nos encontramos, devemos ter como principal atuação a solidariedade aos trabalhadores e trabalhadoras para enfrentar essa barbárie nas periferias e denunciar o caráter antidemocrático e antipopular do governo. Terceiro, devemos ampliar os panelaços nas periferias, sendo esta uma forma de protesto importante, criada no fogo da batalha e capaz de desgastar o governo, dialogando com a consciência da classe trabalhadora, dizendo que o governo com sua política aumenta a fome e a miséria e só governa em prol da classe rica e dos EUA.
Assim, prepararemos o terreno para derrubar o Governo Bolsonaro pelas mãos do povo e fortaleceremos uma alternativa popular para o desfecho dessa crise, qual seja, a construção de um poder popular e do socialismo, única saída verdadeira para termos um país livre e independente. Da mesma forma, romperemos com as ilusões do reformismo e da pequena burguesia de que derrotarão o fascismo no âmbito institucional promovendo um impeachment ou mesmo pedindo, por favor, para que Bolsonaro renuncie.
3 – Derrotar o imperialismo capitalista é uma tarefa fundamental
Precisamos ter a consciência de que enfrentamos o fascismo internacionalmente. Por isso, a classe trabalhadora, em nível mundial, é nossa principal aliada na luta contra os imperialismos e pelo socialismo. Não basta levantar a bandeira contra a política neoliberal e passar a defender o neodesenvolvimentismo, pois o capitalismo é brutal em todas suas formas e tem como único objetivo despejar a crise nas costas da classe trabalhadora.
O capitalismo desenvolvimentista não é alternativa ao neoliberalismo, pois ambos são exploradores da mais-valia dos trabalhadores. Nosso objetivo deve ser destruir o capitalismo, e não apenas a política neoliberal dos EUA. Os neodesenvolvimentistas cumprem o papel de abrir caminho ao fascismo e são a outra face da moeda do capitalismo.
Prova disso foi o que ocorreu na Segunda Guerra Mundial, quando os EUA e a Inglaterra, tidos como democratas naquele período, deixaram a chama nazifascista bater-se contra a pátria socialista, só dando apoio na Frente Oriental depois de perceberem que a URSS sairia vitoriosa, e com grande chance de que seriam também vítimas do nazismo.
Quem é socialista e comunista tem como principal obrigação defender a classe trabalhadora e defender seus interesses presentes e futuros. Portanto, devemos trabalhar em nível internacional para que a classe trabalhadora não seja levada a uma luta interimperialista, mas que lute por sua libertação, pois, como internacionalistas que somos, fazemos parte do mesmo exército do mundial do proletariado.
Os trabalhadores e o povo da Venezuela estão na linha de tiro do imperialismo estadunidense, portanto, nossa solidariedade aos venezuelanos e nossas ações principais devem ser no sentido de derrotar esse imperialismo fascista e expulsá-lo da América Latina. Apoiamos, como internacionalistas, a classe trabalhadora que luta contra o imperialismo, mas que também luta pelo socialismo. Defendemos que esta classe possa, no processo revolucionário em curso, tomar consciência e declarar o caráter socialista da revolução. Não podemos aceitar sermos instrumento nem do imperialismo dos EUA, nem do imperialismo chinês e russo, uma vez que estes investem financeiramente na Venezuela, visando a mantê-la como área de influência econômica e geopolítica, gerando, de fato, igual dependência e exploração para os trabalhadores.
A revolução socialista é a única forma de derrotar definitivamente o imperialismo e a exploração dos trabalhadores. Essa luta é a luta do presente, atual e estratégica para a classe trabalhadora. Quem pensa o contrário, não faz mais que defender a manutenção da exploração do homem ou considerar este objetivo algo utópico. Para que os trabalhadores possam decidir seu destino e sua autodeterminação é fundamental fazer uma revolução proletária.
Trabalhadores e trabalhadoras de todo o mundo, uni-vos!
Wanderson Pinheiro e Leonardo Péricles, membros do Diretório Nacional da Unidade Popular (UP)
[1] Apesar das visíveis disputas políticas de Bolsonaro com outros representantes da grande burguesia, como Dória e a Globo, no fundamental, não divergem quando se trata de aumentar a exploração sobre a classe trabalhadora e a retirada de direitos – como vimos no caso da Reforma da Previdência, da PEC dos Gastos e no Pagamento da Dívida Pública, dentre outras medidas antipopulares.
São Mateus tem colagem lembrando nomes e referências na luta do Povo Negro no Brasil e no Mundo
Foi realizado no bairro do Vila Flávia, São Mateus, Zona Leste de São Paulo, na semana do 20 de Novembro uma ação de colagem de nomes e referências negras na história da luta do povo negro e referências da periferia. Jovens do bairro espalharam nomes de homens e mulheres da luta antiracista como Luis Gama, Marielle Franco, Luisa Mahin, da luta anticapitalista como Angela Davis, Carlos Marighella, além de muitas referências como Emicida, Negotinho, Mano Brown, Mestre Moa, e homenagem a crianças mortas pelo Estado como a menina Ágatha Félix, de 8 anos, morta pela PM do RJ, e do menino Lucas Eduardo, de 14 anos, morto em Santo André pela PM de SP.
O mês de Novembro é um mês de agitação e propaganda sobre a luta do povo negro mas também de reforçar a importância da organização para enfrentar um sistema e um governo que tem aprovado medidas para aumentar o genocídio diretamente, autorizando ainda mais a impunidade da PM, ou indiretamente, privatizando o SUS, que atende em maior parte a população negra, precarizando o trabalho, feito em maior parte pela população negra. Esses e outros fatores que fortalecem ainda mais o racismo estrutural, ferramenta de submissão econômica e cultural do sistema capitalista. Para fazer frente de forma efetiva a quem nos mata e proteger nossa população e juventude negra de forma efetiva, precisamos lembrar nesse mês de Novembro de nos organizar em um movimento popular de porte nacional, mantida pelas forças e recursos do povo e movido pelos interesses da luta da classe trabalhadora no Brasil.
Lucas Nascimento Coordenador Nacional do Movimento de Luta nos Bairros, Vilas e Favelas / MLB SP
Durante a manhã dessa sexta-feira (22), Mauá, município do ABC paulista, amanheceu com os ônibus na garagem, e manifestações no terminal central: trabalhadores da Suzantur, transportadora turística privada responsável pelas linhas de ônibus da cidade, declararam greve contra a revogação contínua de direitos.
P. O.*, trabalhador da Suzantur e integrante do turno da tarde, alegou que a mobilização entre os trabalhadores começou quando um motorista não recebeu o depósito do vale salarial, benefício garantido pelo contrato. Contudo, esse fato foi apenas o estopim: os motoristas da Suzantur sofrem com a falta de pagamento dos salários, assédio moral, horas extras compulsórias e expedientes sem pausa para o banheiro no cumprimento das dezenas linhas que a cidade de Mauá possui.
Além da falta de pagamento de salários, recusa do depósito de benefícios, M. Q.*, trabalhador do turno da manhã, declarou ao Jornal A Verdade que as condições de trabalho pioram diante das jornadas extensas. “Cheguei a trabalhar durante vinte dias seguidos. Aqui não tem respeito”.
Apesar do posicionamento da empresa, que caracterizou a paralisação como “indevida”, a greve foi vitoriosa, e garantiu que o depósito do vale salarial ocorresse. Os ônibus voltaram a circular a partir das 14h.
*Os nomes dos trabalhadores que concederam depoimentos ao Jornal A Verdade foram alterados.
Gabriela Torres – Movimento de Mulheres Olga Benário
SÃO PAULO – Neste domingo, 17, milhares de pessoas foram à avenida Paulista, no centro de São Paulo, em solidariedade ao povo boliviano e contra o golpe de Estado sofrido por Evo Morales. O ato foi chamado pelo Comitê Brasileiro de Solidariedade ao Povo Boliviano Contra o Golpe, e contou com a presença de crianças, estudantes e trabalhadores da comunidade boliviana residente, além do apoio de muitos brasileiros.
As bandeiras boliviana e Whipala, símbolo da plurinacionalidade do país e da cidadania dos povos originários, foram firmemente tremuladas por todo o ato. Palavras de ordem também marcaram a manifestação, destacando o repúdio ao golpe de Estado, a resistência popular pela democracia, e denunciando o fascismo promovido por figuras da extrema direita do país, como a senadora (autoproclamada presidente) Jeanine Áñez e o empresário multimilionário Luis Fernando Camacho.
Através de um manifesto, distribuído no ato, o Comitê Brasileiro de Solidariedade ao Povo Boliviano Contra o Golpe afirma: “A luta do povo boliviano contra o golpe, contra Camacho, contra o fascismo, contra o racismo e a extrema direita, é uma luta que deve receber a solidariedade de todas as pessoas e da classe trabalhadora de todo o mundo que defendem as liberdades democráticas.” O manifesto também pontua: “Não reconhecemos como presidente da Bolívia a autoproclamada Jeanine Áñez, uma fraude, assim como Juan Guaidó, o autoproclamado presidente da Venezuela.”
O golpe na Bolívia representa uma ofensiva de setores extrema direita, aliada do imperialismo dos EUA e de grandes grupos empresariais e especuladores do mercado financeiro. Os diversos povos bolivianos que se erguem em defesa da democracia resistem ao golpe há semanas, como os lutadores do Chile, Equador e Haiti, que rechaçam ataques das elites do poder econômico. Com os últimos acontecimentos, desmancham-se as ilusões com o imperialismo, com a conciliação com grandes ricos e exploradores da classe trabalhadora. A real saída para a América Latina, cada vez mais, aponta para o poder popular.
Na manhã desse sábado, 14, centenas de pessoas tomaram o centro de Santo André para conclamar o Grito dos Excluídos e Excluídas do ABCDMR. O ato começou com um café da manhã coletivo, uma caminhada pela rua principal da cidade terminando com uma homenagem a brasileiros que deram a vida por uma nação mais justa e igualitária. O ato contou com adesão e organização de diversos movimentos sociais, ambientalistas, partidos de esquerda, movimentos populares do campo e da cidade, movimento estudantil, de mulheres, pastorais sociais e religiosas de diferentes matrizes e entidades sindicais.
O Grito dos Excluídos e Excluídas acontece há 25 anos e esse ano ecoou em mais de 200 cidades e em todas as capitais do Brasil. Esse movimento nasceu da necessidade de dar voz ao povo, às minorias e à população historicamente excluída pelo Estado burguês, que segue interesses de banqueiros lucrando com a miséria do nosso povo, deixando em segundo plano direitos básicos como: saúde, moradia, transporte, trabalho, informação e vida digna.
“A vida em primeiro lugar! Este sistema não vale: LUTAMOS POR JUSTIÇA, DIREITOS E LIBERDADE” foi o lema do 25º grito dos excluídos. A marcha em defesa de direitos sociais e da luta contra o desemprego, levantou vários problemas estruturais como encarceramento em massa, genocidio da população negra, feminicídio, transfobia, lgbtfobia, cortes na educação e a “reforma” da Previdência, promovido pelo governo fascista de Jair Bolsonaro.
Também foi pauta do ato a questão do meio ambiente, por conta do aumento das queimadas, do avanço do desmatamento na Amazônia, dos crimes da Vale em Brumadinho e Mariana, em Minas Gerais. Além disso, foi erguido a bandeira contra o projeto do centro logístico de Paranapiacaba, proposto pelo prefeito de Santo André, Paulo Serra (PSBD), que ameaça uma área de proteção ambiental com importantíssimo valor histórico nacional, turístico, paisagístico e de serviços ambientais como provisão de águas para a Represa Billings.
Por fim, o ato do ABCDMR terminou com homenagens aos verdadeiros heróis da pátria, que lutaram por um país mais justo e igual, por meio de uma intervensão cultural com fotos e palavras de ordem. Nomes como Marielle Franco, índio Galdino , Zumbi dos Palmares, Dandara dos Santos, Milton Santos, Elenira Resende, Carlos Mariguella, Chico Mendes, Carolina Maria de Jesus e Manoel Aleixo foram lembrados e homenageados.
Reinilson Câmara Filho – Unidade Popular pelo Socialismo
Na última quinta-feira (15) cerca de 147 famílias foram despejadas numa ação truculenta e violenta promovida pela Polícia Militar do estado do Rio de Janeiro com ordens do governo estadual em Monte Alto, bairro do segundo distrito de Arraial do Cabo na Região dos Lagos. O Movimento de Luta nos Bairros, Vilas e Favelas – MLB esteve presente no local no dia seguinte junto ao Jornal A Verdade para acompanhar a situação das famílias e prestar solidariedade e apoio. “Foram momentos de terror, eram mais de 40 viaturas, trator, helicóptero, drone, canhão de água, centenas de policiais encapuzados e armados até os dentes. Parecia que estávamos em guerra.” contou uma moradora. Outro morador continuou: “quando os policiais chegaram por volta das 5 horas da manhã, dissemos que tínhamos uma liminar da justiça garantindo que poderíamos ficar ali até que a prefeitura apresentasse uma outra solução de um local decente para essas famílias morarem. O comandante da operação se recusou a ver o nosso documento e tampouco nos deixou ver o documento que ordenava a realização daquela operação. Dali em diante começou o terror, jogaram bomba de gás lacrimogêneo, spray de pimenta, bala de borracha em todos, acertando inclusive grávidas, crianças e idosos sem a menor capacidade de resistência dos moradores. Daí em diante, destruíram nosso sonho. Passaram o trator por cima das 147 casas construídas com muito esforço coletivo por todos nós”.
A justificativa do governo para promover tal barbaridade, é de que aquela área pertence ao Parque Estadual da Costa do Sol e seria área de preservação ambiental. “Aqui só tem trabalhador, não tem bandido não. A gente não invadiu a terra não porque queremos destruir o meio ambiente. Só estamos aqui porque não temos outra opção.” disse uma moradora. Em áreas ao redor do “projeto” (como foi apelidado o local pelas famílias) existe um condomínio enorme, garagem náutica e um outro terreno de milhares de metros quadrados que pertencem à construtora Volendam, que tem carta branca para fazer o que quiser, sem se preocupar com as questões ambientais. “É necessário compatibilizar a preservação ambiental com o direito social do uso da terra. A dignidade da vida humana está prevista na legislação ambiental, e o direito à moradia digna foi reconhecido e implantado como pressuposto para a dignidade da pessoa humana, desde 1948, com a Declaração Universal dos Direitos Humanos e consta na Constituição Federal de 1988”, disse Ana Paula, conselheira do parque e militante da Unidade Popular pelo Socialismo. Essa é a realidade de cerca de 7,7 milhões de famílias em todo o Brasil, que compõe déficit habitacional em nosso país. São milhões de pessoas que moram em situações precárias, de favor, não tem mais condições de pagar aluguel e se encontram em situação desesperadora. Por outro lado, vemos milhões de imóveis e terrenos que não cumprem nenhuma função social, servindo apenas à especulação para gerar lucro para os ricos donos das grandes construtoras. O grande questionamento que ficamos nesse caso é: por que a Volendam pode explorar e degradar o meio ambiente em grandes proporções no terreno ao lado para obter fabulosos lucros, mas quando as famílias buscam um local pra morar são tratadas com violência pelo estado?
O estado do Rio de Janeiro tem a polícia que mais mata e que mais morre, é onde 5 jovens negros e pobres foram assassinados na última semana sem enquanto iam para a escola, para o trabalho ou apenas se divertir com os amigos. Enquanto nosso sangue escorre pelo chão da favela, o governador anda de helicóptero mirando sua arma na gente. Esse caso é reflexo da política genocida promovida pelo Estado Capitalista, de guerra aos pobres, guerra aos negros e negras. No “projeto restinga” os moradores respiram resistência, luta e esperança. Muitos dos que não tem pra onde ir, seguem tentando reerguer as construções e sobrevivendo através da solidariedade dos moradores da região que fornecem abrigo em suas próprias casas, doam roupas, alimentos e ajuda. A decisão dos moradores do projeto é de que só vão sair de lá se a prefeitura apresentar uma alternativa digna, “todos aqui tínhamos a nossa casinha, humilde, mas conquistada com muito suor e luta! Não vamos aceitar menos do que isso!” disse um morador durante assembléia realizada.
O Movimento de Luta nos Bairros, Vilas e Favelas – MLB segue acompanhando e prestando apoio a essas famílias. Acreditamos que morar dignamente é um direito humano e que se o Estado Capitalista prioriza os lucros acima da vida, queremos destruir esse Estado e construir no seu lugar um Estado dos trabalhadores, onde prioridade seja a vida digna, com emprego, moradia, educação, saúde, etc. Enquanto morar for um privilégio, seguiremos lutando pela reforma urbana e o socialismo!
A Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação (CNTE) realizou a 9º Conferência Nacional de Educação Paulo Freire com o tema “Educação Libertária e Democrática: construindo o movimento pedagógico Latino-Americano” entre os dias 26 a 28 de junho em Curitiba. O objetivo do encontro foi debater os desafios e rumos da educação brasileira, sendo estabelecida greve nacional no dia 13 de agosto contra os retrocessos do governo atual.
Dentre as pautas discutidas, os educadores se debruçaram sobre o Plano Nacional da Educação (PNE), sancionado em 2014 e com validade de 10 anos, com o propósito de direcionar esforços e investimentos para a melhoria do quadro educacional brasileiro. O Plano é composto por 20 metas contemplando todos os níveis educacionais que, apesar de muito promissoras, apenas uma foi cumprida de acordo com o Inep.
Destaca-se a meta 1, que diz respeito a universalização e democratização do ensino básico tendo como finalidade atender 100% das crianças de 4 a 5 anos matriculadas na pré-escola até 2016, além de garantir 50% das crianças de 0 a 3 anos em creche até 2024. Segundo dados do Pnad, apenas 90% das crianças de 4 a 5 anos foram atendidas e somente 1/3 estão em situação de creche. Essa defasagem é vivenciada principalmente nas periferias, onde as filas de espera por vaga nas creches podem levar anos colaborando com a desigualdade enfrentada pelas mulheres na participação no mercado de trabalho.
A estagnação e não cumprimento das metas são resultados dos ataques que o sistema educacional brasileiro sofre constantemente. Prova disso é a emenda constitucional nº 95 implementada pelo governo Temer que congela, durante 20 anos, investimentos públicos direcionados a saúde e educação. Além do corte de 30% das verbas destinadas às universidades e institutos federais, anunciado recentemente pelo ministro da educação. As duas ações fazem parte de um projeto que confronta diretamente as diretrizes do PNE, uma vez que a falta de recurso penaliza o avanço das melhorias no ensino público.
Além disso, a militarização das escolas incentivada por Jair Bolsonaro, visa instituir um sistema onde a censura é peça chave, ferindo a efetivação da gestão democrática de educação proposta pela meta 19 do Plano. Na mesma linha, o descumprimento se fez presente quando aprovadas as mudanças no “Novo Ensino Médio” pelo Conselho Nacional de Educação, órgão vinculado ao MEC, que libera o ensino a distância totalizando 20 e 30% de carga horária, respectivamente no período diurno e noturno, acentuando ainda mais a defasagem no ensino público.
Essas ações com embasamentos apenas voltados aos interesses capitalistas, sem considerar a realidade do povo brasileiro, são responsáveis por colocar a situação educacional do país em risco. O desleixo com que se é tratado o ensino público foi demonstrado nos últimos dados coletados pelo IBGE, provando que a educação ainda não é para todos. Cerca de 40% da população com mais de 25 anos não chegaram a concluir o ensino básico, e daqueles que concluíram, o maior percentual está entre os brancos (55,5%) ao passo que entre os negros, o número cai substancialmente (40,4%). Considerando que a maior parte da população brasileira é negra, o acesso a educação no Brasil ainda é limitado e desigual pela negligência do governo em promover políticas públicas que incentivem o acesso à todos.
Analisando todo este quadro, os educadores presentes da 9ª Conferência apresentaram um manifesto repudiando as sucessivas contra-reformas liberais no setor educacional e o desmonte das políticas educacionais e sociais que atacam os direitos da população, especialmente da população mais marginalizada (mulheres, negros, índios e LGBTs). Além disso, também criticaram a proposta da Reforma da Previdência e as conseqüências que irá trazer principalmente para as professoras de rede pública, aumentando 10 anos a idade mínima para aposentadoria. Ao final do manifesto, os profissionais conclamam a luta incessante e o compromisso para com a educação, convocando todas as instituições de ensino para uma grande greve geral no dia 13 de agosto.
Diante dessa conjuntura, se fazem necessárias as críticas, a mobilização e organização dos estudantes, trabalhadores e servidores públicos em defesa do ensino de qualidade no país e contra a destruição da aposentadoria, como foram feito nos dias 15 e 30 de maio pela educação, e no dia 14 de junho na Greve Geral que mobilizou categorias ao redor do país e que foram responsáveis pelo fechamento de diversos pontos estratégicos das cidades.
“Numa palavra, a educação se tornou a grande esperança, a grande promessa da nacionalidade e da democracia. Com espanto, porém, vemos que, no atual governo, ela é apresentada como ameaça.” – afirmam ex-ministros em carta contra as políticas educacionais do governo Bolsonaro.
Inimigo da Educação, o governo Bolsonaro vem promovendo um verdadeiro sucateamento do ensino público no país. Em abril, através de sua conta no twitter o atual presidente fascista insinuou que os cursos de ciências humanas não mereciam investimentos, adiantando a pretensão de seu governo de cortar verbas do ensino superior. Mesmo com a revolta da população diante de tais alegações, pouco tempo depois, o governo através de seu Ministro da Educação, Abraham Weintraub, anunciou o corte de 30% nas verbas das universidades sem diálogo prévio com a comunidade acadêmica, impactando diretamente o funcionamento dos institutos federais. Na ocasião, o governo alegou que os cortes no ensino superior eram necessários para garantir o investimento na educação básica. Contudo, isso se mostrou como mais uma de suas mentiras contra a população mais pobre, ao estender o corte orçamentário para toda a pasta de educação, incluindo os programas de ensino infantil ao médio.
Frente a essa situação de completo desmonte das políticas educacionais do país, seis ex-ministros de governos anteriores se reuniram em um evento promovido pela Universidade Estadual de São Paulo (USP) e redigiram uma carta aberta em oposição às medidas do governo Bolsonaro. Na carta, José Goldemberg (1991-1992), Murílio Hingel (1992-1995), Cristovam Buarque (2003-2004), Fernando Haddad (2005-2012), Aloizio Mercadante (2012-2014) e Renato Janine Ribeiro (2015), expressaram sua preocupação com “as políticas para a educação adotadas na atual administração”, enfatizando que a magnitude dos cortes promovidos no último período “podem ter efeitos irreversíveis e até fatais”.
De acordo com eles, nessa gestão, a educação deixou de ser vista como prioridade nacional e passou a ser tida como uma ameaça, enfatizando a postura do governo em ignorar especialistas da área atuando de “forma sectária, sem se preocupar com a melhoria da qualidade e da equidade do sistema, para assegurar a igualdade de oportunidade”. Em outras palavras, a carta converge com as denúncias realizadas pelos movimentos sociais e estudantis frente aos ataques de Bolsonaro. Para Beatriz Baria, militante do Movimento Correnteza de São Paulo: “cortar investimentos dos institutos federais e da educação básica, determinar o fim das bolsas para pesquisadores, é mais uma forma desse desgoverno vergonhoso de atacar nosso povo. Somos nós, a juventude pobre, que vai ser impedida de ter uma educação de qualidade, pra encher os bolsos dos grandes grupos privados, que fazem da educação mercadoria, como a Kroton Educacional”.
A carta denuncia ainda a perseguição e a censura impostas pelos governos aos docentes, ressaltando a importância do “respeito à profissão docente, que não pode ser submetida a nenhuma perseguição ideológica […] Convidar os alunos a filmarem os professores, para puni-los, é uma medida que apenas piora a educação, submetendo-a a uma censura inaceitável”. Em outro trecho, reforçam: “a autonomia universitária é uma conquista que deve ser mantida para garantir a liberdade e qualidade na pesquisa, formação e extensão”.
Ao fim do texto, os ex-ministros propõem a “formação de uma ampla frente em defesa da educação” e anunciam a criação de um “Observatório da Educação Brasileira dos ex-ministros da Educação, que se coloca à disposição para dialogar com a comunidade acadêmica e científica, sociedade e entidades representativas da educação, com parlamentares e gestores, sempre na perspectiva de aprimorar a qualidade da política educacional”.
Jady Oliveira União da Juventude Rebelião
[1] Kroton Educacional: a maior empresa privada do mundo no ramo da educação, um conglomerado que monopoliza e atua em função da privatização do ensino privado, em detrimento da educação pública, gratuita e acessível.
RIO DE JANEIRO Um ano após a execução da Vereadora Marielle Franco pela milícia, a deputada federal Talíria Petrone (PSOL-RJ) – assim como Marielle uma política negra, de periferia e LGBT – teve a solicitação de escolta negligenciada pela omissão do Governador Wilson Witzel, do Partido Social Cristão, ao negar o pedido de proteção à vida da deputada que foi realizados após receber ameaças de morte.
Talíria recebe ameaças de morte desde 2016 quando foi eleita vereadora em Niterói/RJ. As ameaças vêm pelas redes sociais ou até por telefonemas feitos à deputada ou a sede de seu partido. A pouco mais de dois meses a polícia federal alertou ter encontrado na dark web informações sobre o planejamento de um atentado à vida da deputada.
Graças à investigação da PF, Talíria está sendo escoltada em Brasília, mas nas vezes em que retorna a Niterói, cidade na qual foi eleita e também onde recebeu as ameaças, anda desprotegida pois a solicitação enviada pelo presidente da Câmara dos deputados, Rodrigo Maia (DEM), foi negada pelo Governador Witzel, que nem sequer enviou uma resposta a Câmara.
Em abril deste ano a deputada foi chamada de “verme” pelo líder da bancada ruralista, Alceu Moreira (MDB-RS), durante uma audiência pública após reações da parlamentar às declarações do também deputado. Recentemente, após as denúncias de ameaças de morte, o filho do presidente, o deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), debochou em seu twitter dizendo que Talíria era hipócrita por se declarar desarmamentista e pedir escolta, alegando que a deputada deveria pedir “iluminação”.
A história da Professora Talíria em muito se confunde com a história de Marielle Franco. Ambas ameaçadas de morte e odiadas pelos conservadores, falsos moralistas e pelos milicianos. O que acontece é que em um país que possui cotas para que as mulheres enfim consigam ocupar o espaço político que é ocupado majoritariamente por homens brancos, héteros e ricos, existir duas mulheres negras, periféricas e LGBTs, que foram eleitas como as vereadoras mais votadas em suas respectivas cidades na primeira eleição que concorreram, é inaceitável.
É um atentado à democracia o estado do RJ não exercer seu papel e zelar pela vida de uma deputada que é ameaçada apenas por lutar pelos direitos das mulheres, dos negros, dos pobres e dos LGBTs. Sabemos as causas da omissão do governador reacionário Wilson Witzel, também sabemos de qual lado está o filho do presidente e amigo da milícia, Eduardo Bolsonaro, que ironiza as ameaças contra Taliria assim como ironizava as denúncias feitas por Marielle.
Mas não podemos esperar a morte de ninguém mais, muito menos de alguém que luta para defender o direito à vida de milhões de pessoas abandonadas pelo estado e massacradas pelo sistema capitalista.
Entre as principais mudanças apresentadas pelo governo Jair Bolsonaro para a segurança publica do país, está o projeto de Lei Anticrime divulgado pelo Ministro de Justiça e Segurança Publica Sérgio Moro.
O projeto que prevê alterações de 14 artigos do Código Penal e do Código Eleitoral não demonstra nenhuma novidade sobre as causas dos crimes, muito pelo contrário, coloca no centro da política de segurança pública o método da punição, única e exclusivamente como forma de redução da criminalidade.
Hoje já existe uma diferenciação dos
procedimentos de casos de homicídios envolvendo policiais em serviço. Por
exemplo: quando um policial comete um homicídio e alega legitima defesa, o
crime é juridicamente justificado como “morte por intervenção de agente de Estado”.
Esse procedimento hoje é conhecido como “Autos de Resistência”, e é responsável
por ser o principal argumento legal para justificar os assassinatos produzidos
pela policia, quase sempre sendo o processo arquivado. Porém, caso uma pessoa
comum mate e alegue legítima defesa, haverá um inquérito policial para apuração
do homicídio, que na maior parte dos casos termina em reclusão, ou seja, pena
de seis a vinte anos de prisão.
Nesse sentido, um dos principais eixos do
pacote apresentado está a excludente de ilicitude, nesse caso, mesmo que
o agente policial tenha praticado um homicídio, ele não será considerado um
criminoso, excluindo o ato ilícito. O Código Penal prevê três situações em que
se aplica a excludente de ilicitude: estado
de necessidade, legitima defesa e o estrito cumprimento do dever legal. Uma
das propostas que está no pacote de Sergio Moro é de flexibilização e ampliação
da excludente de ilicitude em favor de policiais.
Em situações em que a polícia precisa
executar uma prisão em flagrante, o ordenamento jurídico brasileiro autoriza o
policial em ação á exercer o estrito cumprimento do dever legal que é prender. Atualmente no Brasil, não
existe o dever legal de matar. Não
se justifica seguir atirando até causar a morte. Com a mudança proposta pelo
pacote, o texto de lei deixa claro: caso os policiais durante o trabalho
estiverem em situações de medo, surpresa
ou violenta emoção, e vierem a matar ou ferir alguém não poderão serem
punidos. Utilizando do pretexto da legitima defesa, o projeto formaliza e
amplia a violência e os assassinatos
praticados pela policia.
Um levantamento feito pelo Núcleo de Estudos da Violência da USP e o Fórum
Brasileiro de Segurança Pública, mostrou que houve um aumento de 18% de pessoas
mortas por policiais de
2017 para 2018 (5.225 para 6.160 mortes ao ano), ressaltando que essas
mortes são as que estão registradas no balanço anual. O ultimo relatório produzido pela Anistia
Internacional demonstrou que as forças policiais brasileiras são as que mais
matam no mundo.
A redução da violência urbana foi
destaque nas eleições de 2018, demonstrando uma enorme preocupação da população
com a segurança publica. Lembrando que essa era uma das principais promessas e
bandeiras das campanhas de candidatos, como Bolsonaro, João Dória, Wilson
Witzel. E com razão o povo, principalmente mais pobre tem clamado por justiça e
segurança. Os princípios constitucionais, em especial a dignidade humana, têm
sido violados e o brasileiro sofre no seu cotidiano.
Herança da ditadura
“Força
auxiliar e reserva do Exército” a Polícia Militar foi criada em 1969 sob
decreto-lei em pleno período de ditadura. Desde então e mesmo após a
democratização do Brasil em 1988, esse braço violento do Estado continua
atuando como há mais de 50 anos. Mesmo sendo hoje uma força à disposição do
Estado, a submissão é ao Exército autoritário brasileiro. Surge uma antinomia,
pois ao mesmo tempo em que polícia vem de polis,
do grego, cidadão, cidadania,militar vem do latim miles, milícia. Entende-se inclusive porque a militarização vê no indivíduo civil
um inimigo. O modo operante despreparado da polícia dá-se através do excesso de
violência, truculência e arbitrariedades. A tortura, por exemplo, é uma prática
cotidiana, comum e normal nas ações policiais na periferia adentro.
Com
o projeto de lei de Moro haverá um aumento de forças paramilitares. Esse
cenário aprofunda a impunidade
policial e é a semente para o nascimento de milícias, que no atualmente é o
grupo que mais oferece risco a segurança e vida do povo brasileiro, inclusive com comprovações já apresentadas pela investigação do envolvimento
direto desse grupo de extermínio com o brutal assassinato da ex vereadora e
militante Marielle Franco.
O Conselho de Direitos Humanos da
ONU solicitou que o Brasil despendesse maiores esforços para combater a
violência e projetar um fim à Polícia Militar, responsável por milhares de assassinatos.
Tudo isso fica muito claro quando vemos policiais formarem grupos de
extermínios e esquadrões da morte (criados no regime militar), carregados
de discurso de ódio, agindo de forma
criminosa, truculenta e autoritária. É urgente e necessário por fim a
militarização da polícia, e pensarmos um outro modelo de segurança pública para
não mais vivermos o cotidiano da barbárie e da escravidão, pois os chicotes de
ontem são as balas dos fuzis dos opressores de hoje!
O fuzilamento de Evaldo dos Santos, músico, num bairro periférico do Rio de Janeiro enquanto passeava com sua família na tarde de um domingo, representa o avanço do estado fascista que já não se importa em manter a aparência de um estado democrático de direito.
Com indignação o povo assistiu o presidente da república, 6 dias após o assassinato, vir à público se manifestar sobre o caso, limitando-se a defender a instituição que disparou 80 tiros e ceifou não só a vida de Evaldo, mas também de Luciano Macedo, catador de recicláveis, que tentou ajudar a família a sair do veículo no momento da ação criminosa. Segundo o presidente: “O exército não matou ninguém!” Entretanto, é equivocado pensar que essa barbárie é consequência exclusiva da chegada da extrema direita ao Poder, muito menos apenas de resquícios da ditadura militar. Na verdade o estado policialesco nunca deixou de estar presente nas periferias do Brasil.
No mundo, o 1% da população mais rica tem mais riqueza que os outros 99% somados. Os 6 homens mais ricos do mundo tem mais posses do que a metade mais pobre, mais de 3,5 bilhões de pessoas. Esse abismo social é também a realidade do Brasil, que tem uma das maiores desigualdades do mundo. Neese contexto, ao povo negro é reservado apenas os piores postos de trabalho, os piores salários e os barracos das grandes favelas. A imensa maioria da população negra é extremamente pobre e vive sob todas as formas de vulnerabilidade.
O desemprego é enorme e o varejo do tráfico termina sendo um desses postos de trabalho reservados especialmente para a juventude negra das periferias. Mesmo cumprindo uma tarefa desse negócio que gera enormes lucros para a burguesia, que utiliza seus bancospra lavar esse dinheiro, e por estar na ponta, mais visível e sustentando fuzis nas mãos, os jovens negros são vítimas de um discurso de criminalização e de uma política repressiva e genocida que assassina 66 mil pessoas por ano no Brasil, um verdadeiro índice de guerra civil. 78% desses jovens são assassinados por conta da sua cor da pele, por serem negros.
“É que cada tempo histórico tem suas perguntas sobre o passado, pois cada conjuntura produz uma história para justificar o seu presente.” É assim que Marielle Franco começa a demonstrar em sua tese de mestrado a importância de compreendermos nosso passado recente e o processo de implementação do neoliberalismo que o Brasil passou nas últimas décadas. Apesar do estudo da vereadora assassinada se concentrar na política de segurança pública do estado do Rio de Janeiro através das Unidade de Polícia Pacificadora, traz também importantes esclarecimentos sobre as causas do genocídio de negros e negras no país todo.
É verdade que desde a formação do estado brasileiro há uma política de extermínio daqueles que foram escravizados, e desde então diferentes ideologias foram utilizadas para perpetuar o poder na mão de uma minoria enquanto o povo dispõe de uma vida miserável. Mas também é urgente compreender as engrenagens da fase atual do capitalismo para traçarmos estratégias para a sua destruição. Nesse sentido que Marielle desmascara o estado penal vigente nas periferias como estrutura central do neoliberalismo no Brasil.
Nessa fase da crise do capitalismo, onde a elite econômica tenta enfiar goela abaixo reformas para aumentar seus lucros, mesmo que às custas da retirada de direitos trabalhistas e sociais, é necessário uma escalada no estado penal para conter aqueles que se encontram “excluídos” dessa sociedade. É por isso que na medida que os governantes avançam na destruição de direitos sociais, aumenta-se a repressão nas periferias, pois esses são os territórios tidos como inimigos do estado, que serve exclusivamente aos interesses da classe dominante.
A administração pública por sua vez, concentra esforços em passar a impressão que esse modelo de segurança pública, que invade casas, mata e tortura, se legitima em nome da proteção de toda sociedade. Essa é a tática da “guerra às drogas”, justificar o genocídio e o encarceramento em massa como necessário para manter a ordem.
Para tanto, o estado exerce papel crucial na manutenção do projeto de dominação. Se nos bairros ditos “nobres”, o estado se faz presente nas ruas bem asfaltadas, nos parques bem arborizados, e em todo conjunto de políticas que promovem o acesso à cidade, nas periferias esse mesmo estado se faz presente exclusivamente através das forças militares, seja pela polícia, pelo exército, ou mesmo por grupos milicianos.
Essa guerra aos pobres, transvestida de pacificação, não se justifica apenas com o sadismo de uma elite branca, mas sim por interesses econômicos. O estado, representante da burguesia, não contente com as reformas neoliberais, também está comprometido com o lucro dos megatraficantes, dos milicianos, da indústria armamentista, da especulação imobiliária, etc.
Justamente por incomodar aqueles que lucram com o extermínio da população negra e escancarar a as engrenagens desse sistema que Marielle Franco foi brutalmente assassinada.
Um ano depois de sua morte, os 80 tiros disparados pelo exército no carro de Evaldo e sua família nos traz à tona a urgência de apontar as raízes desse projeto genocida. Trata-se do modus operandi de um estado neoliberal, que manteve as mesmas práticas inclusive nos governos ditos progressistas, período em que o encarceramento mais do que dobrou. Se no Brasil o capitalismo é forjado no extermínio da população da periferia, que na sua maioria são negros e negras, o fim desse extermínio também depende da superação desse sistema perverso.
O RACISMO COMO IDEOLOGIA DE DOMINAÇÃO
Segundo Clóvis Moura, “o racismo não é uma conclusão tirada dos dados da ciência, de acordo com pesquisas de laboratório que comprovem a superioridade de um grupo étnico sobre outro. O racismo é uma ideologia deliberadamente montada para justificar a dominação de um grupo sobre outro. É, portanto, uuma ideologia de dominação.
Acontece que após a abolição da escravidão no Brasil, a elite do país determinada a manter seu projeto de domínio, costurou outras roupagens para sustentar o novo regime econômico. Nesse momento ganha destaque a concepção eugênica que correspondia a uma política de embranquecimento da população e a uma teorização sobre características de personalidade inerentes às raças.
Dentre elas, se destaca o papel do direito penal na formação do imaginário popular do negro como figura naturalmente criminosa. Ainda no período da primeira república, o código penal tipificava como crime o que ficou conhecido como lei da vadiagem. Num contexto de séculos de escravidão, foi como prender as pessoas simplesmente por elas serem negras. Essa política foi aprimorada ao longos das décadas, mas sem nunca perder o viés ideológico de dominação sobre os corpos marginalizados.
A Liga de Higiene Mental, por exemplo, braço do nazismo e do arianismo no Brasil, se destacou como defensora “científica” dessa tese e defendia, entre outras bandeiras, salários eugênicos (quanto mais clara a cor da pele, maior deveria ser o salário), recompensa para famílias que procriassem seres “superiores”, punição para os “inferiores”.
O higienismo social presente na segregação territorial até os dias de hoje, é oriundo das políticas da burguesia desde a formação da nação brasileira. A verdade é que esse país foi constituído sob uma ideologia burguesa e racista, que nega ao povo sua própria história, como estratégia política para perpetuar uma estrutura excludente.
Sendo assim, torna-se uma ingenuidade combater o racismo apenas através do viés acadêmico ou estritamente científico, muito embora não possamos de maneira nenhuma, negar o combate também nesse terreno. Mas a verdade é que a boa e velha luta de classes ainda é a forma mais eficiente de enfrentar o racismo no Brasil. Como afirma Clóvis Moura, “a questão racial é essencialmente política e não apenas científica.”
Para superarmos o sistema político existente, o capitalismo, será necessário travarmos as lutas pelos interesses imediatos da classe trabalhadora, composta na sua maioria por mulheres e negros. Mas isso não bastará. Será necessário, e esse é o nosso desafio, apresentar outro modelo de sociedade que seja capaz de substituir a engrenagem capitalista.
Um sistema político e social que dê conta de distribuir toda a riqueza socialmente produzida, pondo fim à propriedade privada dos meios de produção e a todas as desigualdades sociais existentes na atualidade. Esse sistema, essa sociedade, tem nome e chama-se Socialismo.
Uma tentativa de golpe militar foi realizada na Venezuela na
manhã desta terça feira, 30/04, como o intento de derrubar o governo legítimo
de Nícolas Maduro. Esta ação contou com o apoio incondicional dos EUA que
propicia todo auxílio aos golpistas que são, na verdade, subservientes do
imperialismo e realizam um discurso de apoio à “Liberdade” no país, mas com o
intuito de fazer o roubo das riquezas nacionais.
Logo pela manhã Juan Guaidó, o promotor principal do golpe, realizou pronunciamentos anunciando a tomada de uma base militar localizada na região leste de Caracas, a Base Aérea La Carlota. Também propalava a obtenção de apoio militar das forças armadas, buscando causar um levantamento em outras bases militares. Guaidó pronunciou-se ao lado de Leopoldo Lopez que estava preso desde 6 de agosto de 2017, cumprindo pena de quase 14 anos, por praticar atos violentos. O “Autoproclamado” presidente, com apoio dos EUA, busca usurpar o poder sem possuir o voto democrático do povo, por meio de uma ação violenta contra a maioria dos venezuelanos.
No entanto, oficialmente, o presidente da Assembleia Nacional Constituinte Diosdado Cabello, desmentiu a tomada da Base Aérea e disse que apenas um reduzido grupo militar se sublevou para promover um golpe de Estado. “Não foi vulnerabilizada nenhuma instalação militar no país, eles estão nas ruas no Distribuidor Altamira e nós estamos dirigindo as operações desde a Base Aérea La Carlota”, afirmou.
Maduro também se pronunciou nas redes sociais afirmando que conta com o apoio e lealdade do comando do exército, que diz está comprometido com a constituição e a soberania nacional. Precisa no entanto estar mais preocupado com o apoio popular permanente nesse processo, visto que as ações da direita tentam alterar a correlação de forças também nas massas, mas ao que tudo indica sem sucesso até o presente momento.
Mike Pompeo, o secretário de Estado norte-americano, afirmou em um comunicado “hoje, o presidente [autoproclamado] interino Juan Guaidó anunciou o início da Operação Liberdade. O governo dos Estados Unidos apoia integralmente o povo da Venezuela em sua busca pela liberdade e pela democracia. A democracia não pode ser derrotada”. Destila assim seu apoio incondicional as ações militares para derrubar o governo e mostra disposição de intervir nos assuntos internos da Venezuela.
Ernesto Araújo, ministro de relações exteriores do Brasil, se reuniu em Washington, no dia 29, com Mike Pompeo e demonstrou uma total submissão ao governo dos EUA fazendo coro a politica norte-americana “O Brasil apoia o processo de transição democrática e espera que os militares venezuelanos sejam parte desse processo de transição democrática”, declarou. Logo Bolsonaro também se pronunciou no Twitter “O Brasil está ao lado do povo da Venezuela, do presidente Juan Guaidó e da liberdade dos venezuelanos”. É uma vergonha como copiam a linguagem da farsa americana sem o mínimo de pudor tratando a palavra “liberdade” como um mantra para encobrir a tentativa de um golpe militar absurdo.
As declarações conjuntas do Brasil com os EUA nesse processo devem ser repudiadas pelo povo brasileiro, pois não podemos ser bucha de canhão para o imperialismo. Os interesses do Brasil estão muito mais ligados a uma política de relações internacionais pacíficas, de integração latino americana baseada na colaboração entre os países iguais, na solidariedade e no internacionalismo proletário. O povo brasileiro sempre foi a favou da soberania das nações e o princípio da auto-determinação, onde cabe a cada povo decidir seus destinos.
Todo apoio ao povo venezuelano! Abaixo o imperialismo!
A Unidade Popular (UP), partido político em formação, é fruto da iniciativa de centenas de ativistas dos movimentos populares, militantes comunistas, estudantes e professores e da necessidade de construir uma alternativa de esquerda revolucionária ao atual cenário nacional. Após um ano e meio de muito trabalho, a campanha pela legalização da UP entra em sua reta final. Para falar sobre as novas tarefas da militância, A Verdade entrevistou Leonardo Péricles e Fernanda Lopes, membros da Direção Nacional da UP, que afirmam que para o país sair desta crise, precisa passar por uma profunda transformação econômica e social que dê vida digna para o nosso povo, e, por isso “a UP luta pelo poder popular e pelo socialismo”.
Da Redação
A Verdade – Por que a UP foi criada?
Leonardo Péricles – Houve, nos últimos anos, um verdadeiro esgotamento dos atuais partidos ditos de esquerda. Alguns foram cooptados, tomando o caminho de aliança com as grandes empresas, bancos e empreiteiras. Outros, tentando fazer frente a esta traição, não conseguiram dialogar com a classe trabalhadora. De tão estreitos que são, não conseguem se apresentar como alternativa. O resultado é que, hoje, poucos empunham a bandeira de luta por mudanças estruturais, ou seja, a luta revolucionária contra o capitalismo, que passa pela mobilização de amplos setores populares, de milhões e milhões de trabalhadores, mulheres e homens, negras e negros, LGBTs, jovens, indígenas, comunidades tradicionais, enfim, a luta da imensa maioria do povo brasileiro.
Esta é uma luta por quebrar os enormes privilégios dos super-ricos, da burguesia brasileira. É, portanto, uma luta muito dura e nós, da UP, não consideramos que ela possa ser feita por um iluminado ou de forma isolada, mas sim no campo da luta de massas, na vida política partidária, dos movimentos, e lideranças que se reúnem em torno das ideias populares. Daí o próprio nome Unidade Popular. Acreditamos que, a partir de um chamado decidido e pautado na força do movimento popular, se incorporarão a este projeto milhões de lutadoras e lutadores. Foi para fazer este chamado que nasceu a UP.
Como vocês veem a atual situação do País? Qual a saída para a crise do Brasil?
Fernanda Lopes – O Brasil vive uma grave crise econômica e política que se agrava a cada dia, com vários retrocessos democráticos, perdas de direitos e uma calamidade social. O desemprego já atinge cerca de 24 milhões de pessoas. Hospitais, postos de saúde, escolas e universidades estão abandonados. A violência aumenta e o povo teme por sua vida todos os dias, especialmente as mulheres. O ilegítimo governo de Michel Temer, que só tem olhos para as classes ricas, aprovou a chamada “PEC dos Gastos”, congelando por 20 anos os investimentos públicos em saúde, educação e moradia. Aprovou, em agosto de 2017, a Reforma Trabalhista, que retirou direitos históricos dos trabalhadores conquistados em décadas de luta, e ainda quer aprovar a Reforma da Previdência para que trabalhadores e trabalhadoras não se aposentem mais. Para sair desta crise, o País precisa passar por profundas mudanças. Somente uma profunda transformação econômica e social que dê vida digna para o nosso povo, emprego, saúde e educação de qualidade, moradia, transporte e terra para os camponeses resolverá os problemas atuais vividos pelo povo. Por isso a UP luta pelo poder popular e pelo socialismo.
Leonardo Péricles – Devemos lembrar também que vivemos uma das mais profundas crises econômicas da história do capitalismo, desde 2008, e que se manifestou com mais força no Brasil a partir de 2013. A solução para esta crise é pôr fim a um sistema que protege uma minoria de ricos. E o programa para isso já é conhecido: taxar as grandes fortunas; impedir a especulação imobiliária e garantir a função social do solo; suspender o pagamento da dívida pública, que nos suga quase metade do orçamento federal; exigir o pagamento dos devedores da dívida ativa dos municípios e estados; impedir a sonegação de impostos pelas grandes empresas, inclusive dos devedores da Previdência; reduzir a jornada de trabalho sem redução do salário para gerar mais empregos. Desta forma, bilhões de reais serão arrecadados e serão suficientes para resolver os graves problemas sociais que nosso país vive. Mas, ao lado de todas estas lutas, não devemos deixar de disputar a maioria da população para um projeto ainda mais profundo de transformações sociais, que é a derrubada do capitalismo e a implantação do socialismo, em que os meios de produção das riquezas estejam nas mãos da classe trabalhadora e possam servir para a vida, e não para o lucro.
Nenhum dos atuais partidos defende essas propostas?
Fernanda – A maioria dos atuais partidos está pautada pela institucionalidade, por um respeito sagrado aos limites impostos pela burguesia, ao invés de se pautar pela necessidade de superação do capitalismo. E isso exige muito enfrentamento, rupturas, uma verdadeira revolução política. Um dos papéis que a UP se propõe a fazer é demonstrar que os partidos dos ricos enganam o povo a todo momento. Procuramos demonstrar pelo discurso e pela prática que nem todos os que fazem política são iguais, que há uma política corrupta e burguesa, mas que existem também políticos revolucionários e uma política proletária. Não se trata de moralismo, mas sim de colocar as coisas no seu devido lugar.
Por que o socialismo é superior ao capitalismo?
Leonardo – Em um país riquíssimo como o Brasil, o socialismo daria condições para todas as pessoas se apropriarem dos bens e serviços de que necessitem para viver. Já debaixo do capitalismo, somos um país subdesenvolvido, com uma economia comandada pelos EUA e com uma desigualdade social que aumenta a cada ano. Hoje a realidade é que as cinco pessoas mais ricas do País detêm a mesma riqueza da metade mais pobre da população. O socialismo também permite que a tecnologia desenvolvida seja aplicada para melhorar a vida do conjunto da população, e não para aumentar os lucros dos capitalistas. Só o socialismo garante acesso universal à educação, saúde, moradia, segurança, lazer. Isto já foi provado por décadas na União Soviética e em outras experiências socialistas. Uma nova onda de grandes transformações sociais virá neste século 21, pois são insustentáveis as contradições do capitalismo. Só no ano passado, por exemplo, 82% da riqueza produzida no mundo foi apropriada por apenas 1% das pessoas! A maioria dos trabalhadores ainda não tem a consciência de que este mundo novo de felicidade é possível, mas o socialismo está no sonho de todo trabalhador e trabalhadora consciente. Ao socialismo interessa socializar a riqueza das grandes propriedades, aquela que pode resolver o problema da moradia nas grandes cidades, pois no capitalismo há mais casas e prédios abandonados do que gente sem habitação. Já as grandes fábricas e empresas, as grandes extensões de terra, estarão à disposição do Estado, dirigido pela classe trabalhadora para que esta decida a prioridade e a função social de cada coisa.
Como veem as declarações de membros do Alto Comando do Exército defendendo um golpe militar?
Fernanda – Nessa conjuntura em que a luta de classes se encontra bastante acirrada, vemos manifestações das diferentes classes sociais e agrupamentos sobre as possíveis saídas para a crise. Dentro da falta de perspectivas de parte da população, setores do alto comando do Exército a serviço do setor mais reacionário da burguesia, dos fascistas, tentam também se apresentar como alternativa. Lembremos que todo este espaço para que generais possam se pronunciar sobre golpes de Estado, contrariando a própria Constituição sem sofrerem nenhuma punição, é algo muito grave e que não podemos aceitar. É preciso levar a cabo as recomendações da Comissão Nacional da Verdade para que se punam os torturadores e assassinos da época da ditadura militar. Como disse a grande companheira Amelinha Teles, em entrevista publicada na última edição do Jornal A Verdade: “Não há democracia com corpos insepultos”. Sabemos que a impunidade do passado leva à impunidade do presente, pois hoje milhares de jovens negros e pobres continuam sendo torturados e mortos nas periferias de todo o Brasil nas mãos de agentes estatais, principalmente das polícias militares.
Qual o balanço da campanha pela legalização da UP?
Leonardo – Estamos há 15 meses colocando em prática um ousado plano de legalização de um partido político revolucionário que almeja o poder. Para coletarmos as 600 mil assinaturas que conquistamos neste período, fomos a praças, bairros, vilas, favelas, ruas, empresas, fábricas, escolas, universidades e seguramente falamos para mais de dois milhões de pessoas que foram abordadas ou que escutaram nossas agitações. Nosso discurso, aliás, não é só para pedir uma assinatura, mas para politizar, para denunciar os crimes das elites contra o povo e convocá-lo para a luta.
Neste último período, conseguimos perceber como poucos o sentimento de nosso povo, seu desejo por mudanças no Brasil e, neste sentido, tivemos ainda mais certeza de que nossa decisão de criar a UP foi acertada. E fizemos isso sem depender de um centavo da Odebrecht ou de qualquer outra grande empresa, banco etc. Sem depender também de nenhum figurão da política tradicional burguesa, dependendo apenas de nossa militância e de apoiadoras e apoiadores que têm os mesmos propósitos que nós.
Chegamos agora a um momento decisivo, pois temos pouco mais de seis meses para cumprir nosso objetivo, já que a legislação impõe um prazo máximo de dois anos. Apesar de enfrentarmos regras extremamente antidemocráticas para a legalização de novos partidos, durante este período, que estamos chamando de período especial, nossa militância decidiu se dedicar integralmente à realização desta grandiosa tarefa. Chegaremos até o final de maio com pelo menos 800 mil assinaturas coletadas no total e já demos passos importantes no cadastramento das fichas de apoio no sistema online do TSE e nos cartórios eleitorais. Em três estados a UP já alcançou o número mínimo de apoiamentos exigido e já podemos constituir seus diretórios estaduais provisórios. Estamos trabalhando para que nos próximos meses cheguemos a pelo menos nove diretórios estaduais legalizados, que é outra exigência. Além disso, temos recebido adesões de muitos ex-militantes de outros partidos e organizações políticas, e até de grupos políticos que não se sentiam mais representados pelos demais partidos existentes.
O que falta para a UP conquistar a legalização?
Fernanda – Tudo o que fizemos até aqui, apesar de muito importante, não basta, pois precisamos validar 487 mil assinaturas nos cartórios eleitorais de todo o Brasil. Neste sentido, entramos no sistema do TSE com cerca de 150 mil fichas nestes últimos meses e nossa campanha continua até a legalização. Para termos êxito, estamos fazendo também uma campanha de arrecadação de finanças, pedindo contribuição às pessoas que acreditam em nossa causa para que possamos ter um caixa que permita arcarmos com os gastos desta reta final. Precisamos da ajuda de todas e todos para que possamos concluir esta campanha de dois anos. Estamos muito confiantes de que venceremos!
BRASIL – Cabo Frio é uma cidade turística na Região dos Lagos, no interior do Rio, conhecida por suas belas praias e também pela sua grande desigualdade social. Estima-se que durante o verão, a população em Cabo Frio triplica de tamanho, saindo dos cerca de 200 mil habitantes para 600 mil.
Para atender o lobby da indústria do turismo e das grandes construtoras, a Câmara Municipal quer mudar as regras de construção na cidade, autorizando prédios de até 8 andares próximo a orla.
Defensores do projeto afirmaram que a construção de prédios mais altos aumentaria o número de moradias e permitiria que mais pessoas morassem próximas ao centro da cidade. No entanto, essas justificativas foram duramente criticadas por especialistas e membros da sociedade civil, que as classificaram como manobras para beneficiar grandes construtoras.
Hoje, a cidade sofre, ano após anos, com enchentes, falta de abastecimento de água e despejo irregular de esgoto na Lagoa de Araruama. A empresa que controla o abastecimento de água e saneamento básico da cidade, PROLAGOS, é alvo de diversas denúncias por conta da precariedade dos serviços. O povo pobre sofre cotidianamente com a falta de obras estruturais para garantir o mínimo de dignidade e projetos de Lei como esse apenas pensam na população mais rica e nos turistas, deixando a cidade cada vez mais cheia no verão, dificultando ainda mais a vida da população mais pobre.
Ou seja, o objetivo é claro, é ampliar a especulação imobiliária tornando os apartamentos ainda mais caros nas áreas próximas a orla e assim continuar o processo de afastar a população pobre desses locais.
A especulação imobiliária promovendo a desigualdade social
Vinícius Seguraço, morador da Favela do Manoel Corrêa e Coordenador do MLB na região, denunciou a distorção dos argumentos, afirmando que os reais problemas, como a falta de moradias dignas e saneamento básico, estão sendo ignorados, tendo como base as problemáticas já relatadas nos bairros da periferia da cidade. Segundo ele, “a construção de prédios altos em Cabo Frio não resolverá os alagamentos, mas aumentará a segregação social”, levando os mais pobres a serem empurrados para as periferias, como já ocorre em São Paulo e em diversas regiões do país. Ele também sinalizou que o projeto tende a favorecer a especulação imobiliária,e enriquecer ainda mais os empreiteiros e os ricos empresários da cidade.
Chantal Campello, coordenadora da Ocupação de Mulheres Inês Etienne Romeu, criticou a falta de participação popular no processo e destacou os problemas enfrentados pelas comunidades periféricas, como a falta de saneamento básico. “A prefeitura precisa visitar os bairros, entender a realidade material das pessoas. O problema prioritário não é verticalizar, mas resolver questões básicas, como o esgoto a céu aberto, que é uma questão de Saúde Pública”, disse ela. Chantal ainda questionou: “Essa cidade que está sendo projetada é para quem? Para o turista? Para a especulação imobiliária? Ou para as construtoras?”.
Chantal ainda levanta a pauta de que antes de pensar em regulamentar a Praia do Forte, praia mais famosa da cidade e onde estão as moradias mais caras, é preciso pensar nas condições precárias dos trabalhadores que atuam de forma autônoma no setor de turismo ” a gente precisa também falar sobre a regulamentação trabalho autônomo, porque são essas pessoas que sustentam o verão, são essas pessoas que sustentam economia da nossa cidade, não são os turistas que sustentam, são nosso povo que trabalha e trabalha muito”.
Ela também alerta para os riscos ambientais do projeto. Segundo Chantal, durante audiência pública, o secretário de planejamento, Matheus Monica, admitiu ter esquecido de incluir garantias ambientais no plano.
Uma cidade para os trabalhadores
A desconfiança da população em relação ao projeto só aumentou e a mobilização continuará para denunciar os interesses de poucos que poderá piorar a vida de milhares de habitantes da cidade. Hoje, os movimentos sociais de Cabo Frio chamam a população a se manifestar contra o projeto que vai encarecer ainda mais o aluguel e a moradia na cidade com a construção de prédios mais altos e mais caros.
Os movimentos e organizações políticas, como a Unidade Popular, chamam a todos aqueles que quiserem se somar na luta por uma cidade que priorize os trabalhadores e trabalhadoras, as pessoas que realmente entendem as contradições da nossa cidade. A defesa é de uma reforma urbana que garanta saneamento básico, acesso a moradia de qualidade, regulamentação digna do trabalho e que não favoreça meia dúzia de empreiteiras que só pensam em seu próprio lucro desrespeitando a vontade popular e os princípios de sustentabilidade ambiental.
Com greve no ABC Paulista, operários denunciam prática abusiva da Braskem. A petroquímica terceiriza funções essenciais para empresas que pagam salários diferentes pelo mesmo serviço, gerando desigualdades entre os trabalhadores
Larissa Mayumi e Júlia Campos | Santo André (SP)
Na quinta-feira (14/11), trabalhadores das empresas terceirizadas que prestam serviço à unidade do ABC Paulista da Braskem, em São Paulo, realizaram uma forte paralisação em defesa de um piso salarial, denunciando as duras condições de trabalho na petroquímica. Entrevistado pelo jornal A Verdade, um trabalhador da manutenção que preferiu não se identificar explica as razões da nova greve, que vem na sequência de outras paralisações na empresa: “Somos contratados por uma empresa para prestar serviço para a Braskem. Aí, quando entra outra empresa para prestar o mesmo serviço por um custo menor, essa empresa quer contratar a gente com salário mais baixo”.
De acordo com uma recente reportagem da Folha de São Paulo, a Braskem lidera o ranking de empresas que mais receberam incentivos fiscais do governo. De janeiro a agosto deste ano, a empresa declarou que recebeu R$2,27 bilhões em dinheiro público. Apesar disso, trabalhadores terceirizados por empresas como Tecnosonda, CascaDura, Primer, Chiarelli, Tenente e Manserv são contratados pela Braskem com salários baixos e vínculos trabalhistas precários para realizar serviços fundamentais para o funcionamento da produção, como sonda, manutenção de máquinas, montagem de caldeiras, andaimes e vários outros trabalhos. Seus contratos podem ser quebrados a qualquer momento e, exatamente por conta desse regime de trabalho, os salários estão sempre diminuindo e a exploração aumentando.
Em sua paralisação, os trabalhadores defenderam que sejam instituídos salários iguais para quem faz a mesma função não só entre os funcionários diretos da Braskem, mas também para os terceirizados que prestam serviço para a empresa. “Aqui, cada um ganha diferente do outro, mesmo tendo o mesmo trabalho”, denunciou um trabalhador que exerce a função de torneiro mecânico e que também preferiu não se identificar. Ele acrescenta: “Além disso, ainda somos obrigados a fazer hora extra. Se não fizer, corre o risco de ser mandado embora”.
Outra denúncia realizada pelos trabalhadores é o excesso de trabalho que as empresas têm cobrado, conforme relata um trabalhador da CascaDura: “Eles mudam nosso horário, querem cortar as horas extras e custos, fazer a gente trabalhar no sábado e domingo. É o único dia que temos para ficar com a família, é o dia que tenho para ficar com meu filho”.
Apesar da exploração, os trabalhadores da Braskem têm sido firmes em apontar a greve como o caminho para enfrentar seus problemas no local de trabalho. Nos últimos meses, a categoria realizou diversas paralisações no ABC Paulista. Na semana passada, a paralisação contou com mais de 600 pessoas, denunciando o aumento de acidentes no trabalho e lembrando a morte de um trabalhador na explosão de um tanque no ano passado. O operário morto havia acabado de se tornar pai. As mobilizações também denunciam o crime ambiental promovido pela empresa em Alagoas, que deixou mais de 60 mil pessoas desalojadas.
Condições insalubres
O piso salarial não é a única bandeira levantada pelos trabalhadores da Braskem nas recentes paralisações: eles também denunciam a falta de reajustes, os riscos do trabalho insalubre, as restrições às greves e a dificuldade de aposentar.
Enquanto os políticos da burguesia recebem rios de dinheiro dos grandes bilionários para seguir aprovando medidas neoliberais e contrárias aos interesses dos trabalhadores, como denunciou a edição nº 302 do jornal A Verdade, amplos setores do povo vivem sem nenhum reajuste em seus salários desde a Reforma Trabalhista e a Reforma da Previdência. “Essa nossa luta pelo reajuste salarial já tem 5 anos, e as coisas aumentaram muito nesse último período. O quilo do contrafilé tá 60 reais, ninguém mais consegue comprar carne vermelha com o salário que a gente ganha de 2 mil reais”, diz um trabalhador da manutenção. E complementa: “Queria ver o patrão viver com o salário que ele paga para gente, só assim ele vai entender o que é passar nosso sufoco”.
A insalubridade do trabalho também torna ainda mais duras as condições na Braskem. “A gente aceita trabalhar aqui porque tem um Vale Alimentação bom e um salário que fica mais aceitável porque pagam a insalubridade. Mesmo assim, estamos vendendo a nossa saúde e quase nada retorna para nós”, aponta um trabalhador das caldeiras. “Até para a gente se aposentar aqui é difícil, você já sai com sequelas do trabalho e ainda tem que contratar um advogado para conseguir dar entrada na aposentadoria, porque se não, não sai”, ele adiciona.
Frente a esse cenário de precarização, os trabalhadores denunciam que a reivindicação de seus direitos se torna mais difícil devido às limitações da legislação sindical, de que as empresas se aproveitam. “Se a gente fizer a greve agora, vamos ter que pagar as horas nas nossas férias de fim de ano”, aponta um funcionário da Manserv. “Para não acumular no banco de horas, a greve precisa passar por um juiz para que ela decida se é legal ou não”, complementa um operário da manutenção.
A despeito das dificuldades, a combatividade dos operários da petroquímica Braskem é um exemplo para os trabalhadores do ABC Paulista e de todo o país. Como vem agitando o Movimento Luta de Classes em suas ações de solidariedade à luta na empresa, as greves continuam sendo a melhor arma dos trabalhadores para conquistar melhores salários, derrubar as terceirizações, revogar a Reforma Trabalhista e a Reforma da Previdência, acabar com a escala 6×1 e conquistar uma sociedade socialista.
No estado de São Paulo, mais de 736 mil mulheres são operárias. Apesar da presença expressiva na indústria, elas ainda recebem salários 14,7% menores que os homens e sofrem com maior insegurança em seus empregos
Larissa Mayumi
Em São Paulo, o estado mais populoso do Brasil, as mulheres são 51% da população de 44 milhões de habitantes, chegando a 23 milhões de pessoas, de acordo com dados da Fundação Seade de 2023. Além disso, São Paulo conta com 3 milhões de operários, a maior concentração do país. Entre eles, 1 a cada 4 é mulher, representando 736 mil operárias, segundo a Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (FIESP). A força dessas mulheres foi provada ao longo da história, sendo determinantes em inúmeras greves e protestos que conquistaram direitos para toda a classe trabalhadora.
Nas fábricas, a maior parte do que é produzido vai para o bolso dos ricos, enquanto a classe operária sofre com os baixos salários e o aumento da exploração e miséria. Em média, o salário de operárias é 14,7% menor que o salário dos homens na indústria, também de acordo com a FIESP. Essa situação só se sustenta a partir das ameaça de demissão e assédios constantes impostos pelos patrões contra as mulheres.
A operária da costura Paula atua em um ramo da indústria onde estão a maioria das operárias mulheres e denuncia: “Meu salário não é compatível com o desempenho do meu trabalho. Não só eu, mas todas as costureiras não são bem remuneradas, é quase um trabalho escravo! É um trabalho árduo”. A situação piora ao se considerar que a capital paulista apresenta a cesta básica mais cara do Brasil, com um custo médio de R$ 786, de acordo com o Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Socioeconômicos (DIEESE).
Além da exploração que vivem nas fábricas, com longas jornadas de trabalho mal remuneradas, 11,3 milhões de mães em todo o país têm de cuidar de seus filhos sozinhas e passam seus poucos dias de folga também trabalhando. “Quando não estou no emprego, ainda cuido de casa e fico com meu filho”, afirma Luzia*, também do ramo da indústria têxtil. Ainda acrescenta Paula: “Nas minhas folgas fico dentro de casa, é o que dá.”
Os sindicatos deveriam ser espaços fundamentais para organizar a luta das operárias em defesa de seus direitos. Apesar disso, não é assim que muitos sindicatos tem atuado. “Se a gente quiser lutar por um salário maior e pelos nossos benefícios adquiridos, nós sofremos pressão, porque a maioria fica com medo de reivindicar os direitos e ser mandada embora”, afirma Paula.
Além disso, ainda há muitos desafios para as mulheres em várias categorias. Conforme indica Clara*, metalúrgica e diretora de seu sindicato: “A luta organizada das mulheres trabalhadoras está avançando, mas ainda temos muitos desafios. Mesmo com os avanços, as mulheres ainda ganham menos que os homens, tem menos chances de ocupar cargos de liderança e enfrentam dificuldades para conciliar o trabalho fora de casa com as tarefas domésticas e os cuidados com a saúde”.
Apesar dos desafios, não faltam exemplos de lutas das mulheres operárias na nossa história. A primeira greve geral do Brasil, em 1917, foi desencadeada pelas mulheres de uma fábrica têxtil em São Paulo. Historicamente, as operárias do ABC Paulista também foram vanguarda na construção de mobilizações por creches para suas crianças.
No mundo, a luta das operárias já conquistou uma sociedade onde havia lavanderias coletivas, creches nas fábricas e escritórios, intervalos no trabalho para as mães irem à creche amamentar e uma jornadade trabalho reduzida para 6 horas: a sociedade socialista. Era, principalmente, uma sociedade onde as mulheres operárias, junto aos demais operários, tomavam as decisões sobre a produção e onde ela servia para o bem-estar dos trabalhadores, e não para o lucro de uma minoria. Os exemplos demonstram que só lutando por uma sociedade socialista as mulheres, especialmente as operárias, poderão conquistar seus direitos e sua libertação.
*Nomes fictícios para preservar a identidade das entrevistadas
Inspirado no livro homônimo de Marcelo Rubens Paiva, filho de Rubens Paiva, deputado assassinado pela ditadura militar nos anos 70, “Ainda Estou Aqui”, de Walter Salles retrata a luta da família para garantir de justiça em pleno regime militar.
Helô Francisca e Clóvis Maia | Recife – PE
CULTURA – “Ainda Estou Aqui”, filme do diretor Walter Salles se passa no Rio de Janeiro da década de 1970, no auge da ditadura militar, e através das lentes nos conta a história da família Paiva, sete pessoas que moravam na orla carioca, mas que tiveram suas vidas drasticamente mudadas quando militares, invadem a casa, armados e sem um mandato se quer, e sequestram o pai da família com a justificativa de que ele precisaria prestar um depoimento de rotina.
O pai em questão se tratava de Rubens Paiva, deputado federal por São Paulo, eleito em 1962 e que teria sido cassado pelo Ato Institucional Número 1 em abril de 1964 após o parlamentar ter feito um discurso incisivo na Rádio Nacional denunciando o caráter golpista dos militares. Rubens Paiva nunca mais foi visto novamente depois daquela noite.
Uma denúncia atual
“Ainda Estou Aqui” foi inspirado no livro de mesmo nome do escritor Marcelo Rubens Paiva lançado em 2015, filho do ex-deputado e engenheiro brasileiro Rubens Paiva e da advogada Eunice Paiva, retratando a luta dessa mãe, que decide voltar aos estudos e se formar em Direito para descobrir o paradeiro do marido e cobrar justiça.
O longa retrata não só a dor da família Paiva, mas também reflete a dor de milhares de famílias brasileiras que tiveram seus entes queridos sequestrados e mortos pelos militares e seus corpos desovados em valas comuns.
Eunice, interpretada brilhantemente em dois momentos da vida da personagem pelas atrizes Fernanda Torres e Fernanda Montenegro, é também uma mostra da força das mulheres que ousaram enfrentar o regime, além de mostrar como os militares eram cruéis, não apenas com os presos políticos, através de tortura e assassinato, mas também com seus familiares, ao perpetuarem sistematicamente a violência psicológica, perseguição, negação e falsificação da lei, da ordem e da justiça, passando desde a promoção de mentiras na imprensa até pelo acesso a um simples pedaço de papel, como um atestado de óbito, coisa que só veio acontecer com Marcelo Rubens Paiva 40 anos depois de ser torturado, assassinado no 1° Exército do RJ e enterrado posteriormente, tendo seus restos mortais desenterrados pelos milicos e jogados ao mar em 1973 numa queima de arquivo.
Infelizmente todos os envolvidos diretamente no sequestro e morte do ex-deputado não foram condenados, muitos se quer foram denunciados, como o Brigadeiro João Paulo Burnier, golpista daquele primeiro de abril de 1964, que comandava a Base Aérea do Galeão no RJ e que também foi acusado pelos assassinatos de Stuart Angel e Anísio Teixeira, ambos em 1971, mas que morreu na reserva, em 2000 aos 80 anos, homenageado pelo exército pelos serviços prestados.
O importante papel da Comissão Nacional da Verdade
O autor do livro Marcelo Rubens Paiva fez questão de agradecer nas redes sociais a ex-presidente Dilma Rousseff pela criação e a importância da Comissão da Verdade. Segundo ele, nem o livro nem o filme existiriam sem a atuação da comissão e da presidente:
“Tenha dito! Por conta da Comissão da Verdade, tive elementos para escrever o livro “Ainda Estou Aqui”, e agora temos esse filme deslumbrante. E Dilma pagou um preço alto pelo necessário resgate da memória.”
Criada pela Lei 12528/2011 e instituída em 16 de maio de 2012, a Comissão Nacional da Verdade foi um marco histórico em nosso país, tendo finalizado seus trabalhos com um relatório final contendo 29 recomendações para as autoridades nacionais e apesar de ter sido muito tímida se comparada ao que ocorreu na Argentina, retratada também num filme (“Argentina, 1985” de 2022), o trabalho e a criação da CNV foi fundamental para o país revisitar seu passado recente, inclusive sendo esses um dos motivos principais para o golpe de 2016 sofrido por Dilma Rousseff, tendo no caso Rubens Paiva um dos mais emblemáticos.
Um filme necessário
Dirigido por Walter Salles, que tem em seu currículo obras como Central do Brasil(1998), Abril Despedaçado (2001) e “Diários de Motocicleta” (2004) o filme Ainda Estou Aqui foi anunciado como concorrente ao Óscar em 2025, além de ter sido premiado no Festival de Veneza desse ano pelo melhor roteiro. A extrema-direita, claro, tratou de fazer uma campanha de boicote nas redes sociais, que se reverteu em mais de R$8,6 milhões de bilheteria no Brasil nos 4 primeiros dias e exibição, o que é por si só uma marca histórica no cinema nacional, tão inviabilizado dentro do circuito comercial de cinema no país.
Quando esse artigo foi fechado, mais de meio milhão de brasileiros já tinham ido ver o filme nos cinemas, que contou com momentos marcantes como a reabertura do histórico Cine São Luiz, no Recife, que reabriu suas portas depois de dois anos fechado e contou uma exibição gratuita do filme com a presença do diretor no início de novembro.
Mais do que reforçar a trilha sonora impecável, a boa montagem do Rio de Janeiro dos anos 70, a direção minimalista e delicada do diretor e uma fotografia e edição que garante uma imersão nesse drama realístico de nosso passado recente, o filme Ainda Estou Aqui coloca o dedo na ferida de quem insiste em não querer acertar as contas com o passado, exige a reparação histórica aos indivíduos atingidos pelas duas décadas de uma ditadura sanguinária e violenta e acende também o alerta para o perigo que ronda nossa sociedade por parte daqueles que, pela impunidade, ainda alimentam projetos golpistas como vimos recentemente no 8 de janeiro de 2023 e suas consequências. Por exemplo, o episódio recente do terrorista que se explodiu em Brasília no último 13 de novembro.
Como um lembrete para todos nós, o título do filme ressoa quando saímos do cinema e nos impele para luta: ainda estamos aqui.
Polícia Federal (PF) finalizou o inquérito das tentativas de golpe estado de 2022 e indiciou 37 pessoas, entre elas Bolsonaro e vários generais.
Redação
BRASIL – A Polícia Federal anunciou, na tarde desta quinta (21), a finalização do inquérito que investigava a organização criminosa que tentou dar um golpe de estado no Brasil em 2022. Ao todo, a polícia indiciou 37 pessoas, incluindo o ex-presidente fascista Bolsonaro e o general Walter Braga Netto.
O anúncio ocorre dois dias depois da operação da PF que desarticulou o grupo de militares e policiais que organizaram um plano para assassinar o presidente Lula, o vice Geraldo Alckmin e o ministro Alexandre de Moraes.
Em nota, a Polícia afirma que a quadrilha de Bolsonaro se organizou em 6 núcleos operacionais que desempenharam diferentes tarefas.
De acordo com a PF, “As investigações apontaram que os investigados se estruturaram por meio de divisão de tarefas, o que permitiu a individualização das condutas e a constatação da existência dos seguintes grupos:
a) Núcleo de Desinformação e Ataques ao Sistema Eleitoral;
b) Núcleo Responsável por Incitar Militares à Aderirem ao Golpe de Estado;
c) Núcleo Jurídico;
d) Núcleo Operacional de Apoio às Ações Golpistas;
e) Núcleo de Inteligência Paralela;
f) Núcleo Operacional para Cumprimento de Medidas Coercitivas”
Entre os indiciados estão também o general fascista Augusto Heleno, o ex-chefe da Abin Alexandre Ramagem, o presidente do Partido Liberal (partido de Bolsonaro) Valdemar da Costa Neto e o ex-ministro da defesa, o general Paulo Sergio Nogueira.
Todos os indiciados são acusados de três crimes: abolição violenta do Estado Democrático de Direito, golpe de estado e formação de quadrilha. As penas máximas desses crimes pode chegar a 28 anos de prisão.
Agora caberá à Procuradoria Geral da República apresentar ou não uma denúncia ao Supremo Tribunal Federal para que os criminosos possam ir a julgamento.
O indiciamento dos criminosos fascistas é mais um passo adiante na luta pela prisão de Bolsonaro e seus comparsas. No entanto, o inquérito da PF até agora aparenta estar incompleto, já que não indicia nenhum dos filhos de Bolsonaro, cujo envolvimento com a máquina de fake news é bastante conhecido. Além disso, não consta da lista de indiciados diversos ministros de Bolsonaro que sabiam e foram coniventes com o golpe.
Esse cenário coloca a luta pela prisão do bando golpista fascista como uma das mais importantes da atual conjuntura nacional e impõe a necessidade de se continuar a pressão para que todos os fascistas sejam presos.
Ao todo temos um almirante, 7 generais, 13 coronéis e tenentes-coronéis, um subtenente, um major e um capitão. Já o núcleo civil era composto de 12 pessoas, sendo um deputado federal e dois policiais federais.
Confira abaixo a lista dos indiciados:
AILTON GONÇALVES MORAES BARROS, capitão expulso por envolvimento com tráfico
ALEXANDRE CASTILHO BITENCOURT DA SILVA, coronel
ALEXANDRE RODRIGUES RAMAGEM, deputado federal e ex-chefe da Agência Brasileira de Inteligência
ALMIR GARNIER SANTOS, almirante e ex-comandante da Marinha
AMAURI FERES SAAD, advogado envolvido com a minuta do golpe
ANDERSON GUSTAVO TORRES, ex-ministro da justiça
ANDERSON LIMA DE MOURA, coronel
ANGELO MARTINS DENICOLI, major que fez parte do governo de SP
AUGUSTO HELENO RIBEIRO PEREIRA, general e ex-chefe do GSI
BERNARDO ROMAO CORREA NETTO, coronel
CARLOS CESAR MORETZSOHN ROCHA, engenheiro que participou da tentativa de desacreditar as urnas eletrônicas
CARLOS GIOVANI DELEVATI PASINI, coronel
CLEVERSON NEY MAGALHÃES, coronel
ESTEVAM CALS THEOPHILO GASPAR DE OLIVEIRA, general ex-membro do Alto Comando do Exército
FABRÍCIO MOREIRA DE BASTOS, coronel
FILIPE GARCIA MARTINS, ex-assessor de Bolsonaro
FERNANDO CERIMEDO, argentino e divulgador de fake news sobre as eleições brasileiras
GIANCARLO GOMES RODRIGUES, subtenente do exército
GUILHERME MARQUES DE ALMEIDA, tenente-coronel
HÉLIO FERREIRA LIMA, tenente-coronel
JAIR MESSIAS BOLSONARO, militar expulso do exército nos anos 80 por atos terroristas e ex-presidente responsável pela morte de 700 mil pessoas durante a pandemia de COVID
JOSÉ EDUARDO DE OLIVEIRA E SILVA, padre que participou de reuniões golpistas
LAERCIO VERGILIO, general do exército
MARCELO BORMEVET, policial federal
MARCELO COSTA CÂMARA, coronel
MARIO FERNANDES, general preso por causa do plano do assassinato do presidente Lula
MAURO CESAR BARBOSA CID, coronel, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro e delator
NILTON DINIZ RODRIGUES, general de brigada
PAULO RENATO DE OLIVEIRA FIGUEIREDO FILHO, jornalista e neto do ditador João Figueiredo
PAULO SÉRGIO NOGUEIRA DE OLIVEIRA, general e ex-ministro da defesa
RAFAEL MARTINS DE OLIVEIRA, tenente-coronel
RONALD FERREIRA DE ARAUJO JUNIOR, tenente-coronel
SERGIO RICARDO CAVALIERE DE MEDEIROS, tenente-coronel
TÉRCIO ARNAUD TOMAZ, ex-assessor de Bolsonaro
VALDEMAR COSTA NETO, presidente do Partido Liberal
WALTER SOUZA BRAGA NETTO, general, ex-ministro da Casa Civil e ex-candidato a vice-presidente
WLADIMIR MATOS SOARES, policial federal acusado de participar do plano do assassinato de Lula
Reunião do G20 termina com declaração cínica das maiores potências capitalistas do mundo sobre a pobreza e as guerras.
Redação
INTERNACIONAL – Nos dias 18 e 19 de novembro, o Rio de Janeiro foi palco de uma das principais reuniões das maiores potências capitalistas e imperialistas do mundo, o chamado G20. O grupo com as 19 maiores economias capitalistas do mundo, mais a União Europeia e a União Africana.
Pela primeira vez, o G20 foi presidido e realizado pelo Brasil. A presidência do governo brasileiro colocou como centro da pauta desta reunião o debate sobre a fome, desigualdade e a crise climática.
Os dois dias de conferência foram tomados por falas bonitas dos líderes mundiais e de chefes dos bancos da burguesia, como o FMI e Banco Mundial. Como todo espaço da burguesia internacional, o G20 mostrou a hipocrisia do sistema capitalista e do imperialismo no mundo.
Reunião do G20 e a hipocrisia capitalista
“Nós permanecemos resolutos em nosso compromisso de combater a fome, a pobreza e a desigualdade, promover o desenvolvimento sustentável em suas dimensões econômica, social e ambiental e reformar a governança global”, assim termina a declaração final do G20. Ou seja, os mesmos países que hoje promovem as principais guerras no mundo, como EUA, Rússia, França, Reino Unido e Alemanha dizem que vão combater a pobreza.
Em outro trecho do comunicado, os países afirmam que “nós reconhecemos que a desigualdade dentro e entre os países está na raiz da maioria dos desafios globais que enfrentamos e é agravada por eles”. O reconhecimento dos chefes políticos do capitalismo impressiona, já que presidem alguns dos países que lucram com a desigualdade no mundo.
O tom hipócrita foi a marca desta conferência do G20, o que já vem sendo a tônica nestes encontros todos os anos. O tema principal imposto pelo governo brasileiro, a luta contra a fome, foi abordado por todos os líderes.
O próprio presidente Lula lembrou que os países capitalistas gastam mais com guerras do que com o combate a pobreza. “Em um mundo que produz quase 6 bilhões de toneladas de alimentos por ano, isso é inadmissível. Em um mundo cujos gastos militares chegam a 2,4 trilhões de dólares, isso é inaceitável. A fome e a pobreza não são resultado da escassez ou de fenômenos naturais”, afirmou na abertura do encontro.
Ou seja, a reunião do G20 deixa claro que os países imperialistas e a maiores economias capitalistas sabem muito bem a origem da pobreza e da miséria do mundo. O que torna as posições sobre a luta contra as desigualdades apenas discursos vazios.
Conivência com o genocídio em Gaza e as guerras no mundo
Outro ponto que foi tratado com hipocrisia pela reunião do G20 foi o genocídio contra o povo palestino. Os países apenas se limitaram a apresentar preocupação com a destruição humana e material em Gaza, não condenando nem aprovando nenhum tipo de sanção contra Israel.
Essa posição cínica foi denunciada por movimentos sociais e organizações políticas no dia 16/11, quando 10 mil pessoas se mobilizaram debaixo de chuva intensa denunciando o genocídio palestino e exigindo o boicote à Israel. Confira a cobertura completa do Jornal A Verdade deste ato neste link.
Os mesmos países que estão no G20 são responsáveis pela maior parte do comércio com Israel. As potências imperialistas da Europa e os EUA são os principais financiadores e fornecedores de armas para o Estado sionista. China e Rússia, até agora, não romperam relações comerciais e diplomáticas com Israel, mesmo caso do Brasil.
A posição do Brasil, inclusive, foi evitar ao máximo tratar do genocídio no G20, com medo de criar divergências que impedissem uma declaração final. Ou seja, em troca de uma declaração que nada resolve, o governo optou por não pressionar nem denunciar o papel das potências imperialistas no genocídio de Gaza.
Países imperialistas do G20 são responsáveis pela fome e a guerra
O resultado da reunião do G20 foi a continuidade deste espaço em que os líderes mundiais aproveitam apenas para continuarem suas negociatas em nome da burguesia mundial. Para os povos do mundo, os líderes não apresentaram nenhuma alternativa a não ser a continuação da exploração capitalista e o domínio do imperialismo sobre a vida dos povos do mundo.
Nesse cenário, o que se coloca para os trabalhadores do mundo é a necessidade de continuar a luta contra a burguesia imperialista, representada pelos seus blocos. Seja no enfrentamento ao genocídio palestino ou na luta contra a exploração capitalista, raiz do problema da fome no mundo.
Na madrugada do Dia da Consciência Negra, dois homens invadiram a Casa da Mulher Trabalhadora Carolina Maria de Jesus, em Santo André (SP). Em resposta, o Movimento de Mulheres Olga Benario convoca um ato às 14h na Prefeitura da cidade para a quinta-feira (21/11)
Guilherme Arruda, Felipe Gomes e Michi | Santo André (SP)
Na madrugada da quarta-feira (20/11), a Casa da Mulher Trabalhadora Carolina Maria de Jesus sofreu um ataque em sua sede, em Santo André (SP). O crime, perpetrado no Dia da Consciência Negra, foi denunciado pelo Movimento de Mulheres Olga Benario como uma agressão fascista contra uma casa que acolhe mulheres vítimas de violência desde 2021 e contra a atuação dos movimentos sociais na cidade.
Em imagens capturadas por uma câmera de segurança, dois homens investiram de ré com um carro contra a entrada da Casa Carolina, arrombando o portão e quebrando um relógio de água. No vídeo, disponível nas redes do jornal A Verdade, é possível ver o momento em que o carro invadiu o imóvel. Poucos segundos depois, um dos invasores sai de dentro da casa, o que demonstra que a intenção era forçar a entrada na Casa Carolina.
“O que aconteceu hoje foi uma violência política! Em pleno Dia da Consciência Negra e na mesma semana do Dia Internacional Pelo Fim da Violência Contra as Mulheres, que será no dia 25/11, um agressor de mulheres foi para cima do nosso portão com um carro, com a intenção de nos atacar”, denuncia Sofia Del Fiol, que é coordenadora da Casa Carolina.
A Casa acolhe mulheres em situação de violência. Por isso, uma das principais hipóteses do Movimento é que a invasão foi promovida por um dos agressores de mulheres atendidas.
Insuficiência da ação do Estado
A polícia foi acionada ainda na madrugada para atender à denúncia, e as coordenadoras da Casa foram à Delegacia de Santo André na tarde do dia 20/11 para fazer um boletim de ocorrência. Porém, para o Movimento, o decorrer desse processo demonstra a insufiência da atuação do poder público.
“O Estado não atende adequadamente as vítimas de violência contra as mulheres. Nós levamos à Delegacia todas as informações do caso, imagens, placa e documento do carro, e mesmo assim eles disseram que não poderiam fazer nada, por ser feriado. As mulheres só sofrem violência em horário comercial?”, questiona Larissa Mayumi, da Coordenação Nacional do Movimento de Mulheres Olga Benário.
Solidariedade à Casa Carolina
Na mesma tarde, o Movimento de Mulheres Olga Benario convocou uma plenária em defesa da Casa da Mulher Trabalhadora Carolina Maria de Jesus. Dezenas de pessoas compareceram, entre apoiadores, moradores do bairro e militantes. No evento, as coordenadoras do Movimento expuseram o que aconteceu e foi feito um debate que culminou com a convocação de uma manifestação para o dia seguinte.
A concentração da manifestação será a partir das 14h desta quinta-feira (21/11), na frente da Prefeitura de Santo André, e já conta com a participação do Movimento de Mulheres Olga Benario, da União da Juventude Rebelião (UJR), Movimento Luta de Classes (MLC) e do Movimento de Luta nos Bairros, Vilas e Favelas (MLB).
O ato foi marcado na Prefeitura de Santo André porque o espaço onde a Casa Carolina funciona foi cedido pelo Poder Municipal, e o Movimento de Mulheres Olga Benario destaca que é obrigação do Estado garantir as condições para que o serviço de atendimento às mulheres funcione e siga salvando vidas.
“A Casa é uma parceria do movimento com a Prefeitura, e, portanto, ela também precisa se responsabilizar pela segurança e manutenção da Casa. Hoje, nós desenvolvemos o trabalho apenas com voluntárias da equipe técnica e apoiadoras da luta”, explica Natália Pires, coordenadora da Casa Carolina.
A luta das mulheres da Casa Carolina
A Casa Carolina Maria de Jesus é uma das 23 ocupações do Movimento de Mulheres Olga Benario no Brasil, que acolhe pessoas em situação de violência doméstica e luta pela defesa dos direitos das mulheres, da juventude e dos trabalhadores. Fruto da extensa luta das mulheres do ABC Paulista, a ocupação é um dos primeiros centros de acolhimento da região e organiza oficinas e palestras, além de apoio direto às vítimas, ajudando na denúncia e acompanhando seu processo. A existência da Casa é de extrema importância para a mobilização feminista na cidade e para a denúncia da sociedade patriarcal no país.
Em vídeo publicado na página oficial da Casa Carolina Maria de Jesus, a coordenadora Natália Pires pede apoio financeiro: “A nossa casa precisa ter o seu portão de volta no lugar, precisamos reforçar a nossa segurança. Precisamos consertar o nosso portão e colocar câmeras aqui.” Para contribuir na manutenção do espaço, doações são aceitas na chave Pix: [email protected].
Além disso, apesar de ser uma casa cedida pela Prefeitura, as ações da Casa Carolina são organizadas de forma completamente independente, e ela resiste sem financiamento público e empresarial. A contribuição periódica para o trabalho de acolhimento pode ser realizado pelo link do Apoia-se: apoia.se/pelavidadasmulheres.
SERVIÇO
Ato em defesa da Casa da Mulher Trabalhadora Carolina Maria de Jesus
Quando: Quinta-feira, 21/11, às 14h
Onde: Praça IV Centenário, s/n, Centro, Santo André/SP
No Brasil, a escravidão negra foi decisiva para a formação do capitalismo e a continuidade desse sistema de exploração depende do racismo. Por isso, a luta coletiva e organizada do povo negro por sua emancipação é uma luta revolucionária
Kleber Santos e Bento Xavier*
Através da cultura popular, o povo negro tem transmitido a sua história passada e sua realidade presente para o conjunto da população. Ela tem sido um meio para expor a realidade que o povo negro vive, mas também uma forma de enfrentar a história contada pelos meios da classe dominante. O grupo paulista de rap Racionais MCs é um dos principais exemplos dessa forma de expressão.
Na música “A Vida É Desafio”, o vocalista Mano Brown começa uma de suas interpretações com a seguinte fala: “Desde cedo, nossas mães falam assim: ‘Filho, por você ser preto, tem que ser 2 vezes melhor’. Aí eu pensei: ‘Como ser 2 vezes melhor se você tá pelo menos 100 vezes atrasado pela escravidão, pela história, pelo preconceito, pelos traumas, pelas psicoses, por tudo que aconteceu? Duas vezes melhor como?’”.
A realidade dos negros é cruel. Foram quase 400 anos de escravidão no Brasil, sendo ele o último país das Américas a fazer a abolição da escravatura. E pior: por ter mantido a estrutura de desigualdade entre as raças, ela ficou conhecida como “falsa abolição”.
Com a invasão colonial ao nosso país, a busca desenfreada de Portugal por novos territórios para saquear as riquezas e manter a abundância da nobreza levou à implementação de um dos regimes escravistas mais violentos e opressores do continente.
Como os povos originários não se submeteram ao trabalho forçado que os portugueses queriam impôr, a tentativa de dominação desses povos e o roubo de seus territórios provocou a morte de mais de 2 milhões e 500 mil indígenas. Decidida a explorar essa terra abundante, a Coroa Portuguesa sequestrou da África mais de 5 milhões de negros e negras, submetendo-os a todo tipo de humilhação, açoite e perversidade. Muitos morreram de doenças, maus tratos e torturas nos navios negreiros que os traziam de outro continente.
Escravismo foi base do desenvolvimento do capitalismo no Brasil
O escravismo foi essencial para o surgimento e desenvolvimento do capitalismo no Brasil, com a passagem dos meios de produção das mãos do senhor de escravos para a burguesia. Em alguns casos, senhores de escravos e burgueses eram até mesmo representantes das mesmas famílias, que mudaram sua relação de trabalho com a mão de obra utilizada.
No escravismo, nós, negras e negros, éramos tratados como coisas, sem nenhum direito à saúde, moradia, educação, trabalho digno, lazer e cultura. Hoje, vivendo em um dos países mais desiguais do mundo, ainda temos muitas barreiras que impedem uma vida digna.
Somos a décima maior economia do mundo, o terceiro maior produtor de grãos, o maior produtor de frango e o sétimo país com mais bilionários. Por outro lado, também somos o décimo quarto país mais desigual, com 64,2 milhões que passam fome, temos a quarta maior taxa de desemprego e mais de 11 milhões de pessoas não sabem ler nem escrever. Nessa contradição, 1% dos ricos concentram mais da metade da riqueza.
São muitas as contradições provocadas pelo capitalismo e nós, população negra, somos a parcela mais atingida: 70% dos que passam fome, 71% dos desempregados, 90% dos assassinados pela polícia. Entre os analfabetos, há duas vezes mais negros que brancos.
Como se garante a justiça social em um sistema social, político e econômico como esse? A grande burguesia e a elite branca descendente de europeus, privilegiadas com essas mazelas sociais, defendem que isso é possível. Para isso, mobilizam as ideias da extrema-direita e do fascismo.
O capitalismo depende do racismo
Pretos e pardos, apesar de sermos mais de 55% da população do Brasil e estarmos no centro da exploração, vivem às margens da estrutura social. As instituições como o Parlamento, o Poder Executivo, o Poder Judiciário, os partidos (nesse caso, com a honrosa exceção da Unidade Popular, a UP), os meios de comunicação, todos são majoritariamente compostos e controlados por brancos burgueses.
Apesar de tantas barbaridades e crimes provocados pelos ricos contra nós, a nossa história é baseada também em várias revoltas e rebeliões organizados por revolucionários como Dandara e Zumbi dos Palmares. A coragem e altivez do nosso povo são refletidas nas lutas do Quilombo dos Palmares, da Conjuração Baiana, da Revolta dos Malês, da Balaiada, da Revolta da Chibata e da Revolta de Queimado.
No Brasil, nem sempre os negros tiveram o direito ao voto, ou seja, o reconhecimento do Estado do nosso direito político no meio institucional. Mesmo assim, o desprezo que as classes dominantes do país tem pelo povo e a necessidade de empregar a violência para impor tamanha exploração, fizeram com que vivêssemos longos períodos de ditadura que invalidaram esse direito ao voto. A militarização dos espaços políticos e educativos representa maior risco à nós, negros e negras, que somos as principais vítimas da violência de Estado. É preciso ampliar as lutas para acabar com a exploração e o racismo.
Temos que combater a ideologia individualista que nos cerca e propagandeia que “a favela venceu” pelo enriquecimento financeiro de alguns, enquanto a realidade de exploração se mantém. Devemos seguir os exemplos históricos de luta coletiva e organizada do nosso povo, fortalecendo e impulsionando a luta de classes para quebrar as correntes que nos oprimem. Só isso será, de fato, a vitória do povo negro e trabalhador.
*Kleber Santos é coordenador nacional do Movimento de Luta nos Bairros, Vilas e Favelas (MLB) e militante da Unidade Popular. Bento Xavier é militante da Unidade Popular.
Operação prendeu 4 militares e um agente da Polícia Federal, entre eles o general fascista Mário Fernandes, acusados de terem planejado o assassinato do presidente Lula, Geraldo Alckmin e o ministro Alexandre de Moraes.
Redação
BRASIL – A operação da Polícia Federal de hoje denunciou uma nova frente da ação golpista realizada no país durante os meses finais do governo do fascista Bolsonaro. O plano dos militares golpistas seria dar um golpe de estado no dia 15 de dezembro de 2022, com o sequestro e assassinato do presidente Lula, o vice Geraldo Alckmin e o ministro do STF Alexandre de Moraes.
A ideia dos militares era cortar a linha de sucessão presidencial três dias após a diplomação da chapa de Lula e impedir qualquer reação do TSE. Após o assassinato das três autoridades, o plano golpista previa a criação de um “gabinete de crise” composto pelos generais fascistas que compunham o governo Bolsonaro, como Walter Braga Netto e Augusto Heleno.
O plano golpista, segundo a PF, foi organizado em uma reunião na casa de Braga Netto, em Brasília, no dia 12 de dezembro de 2022. Neste dia, gangues fascistas atacaram a sede da Polícia Federal em Brasília e incendiaram vários carros e ônibus, num ato contra a diplomação de Lula e Alckmin.
De acordo com o inquérito, os militares cogitaram várias formas de realizar o assassinato do presidente Lula, incluindo o envenenamento, mesmo método que agentes da Ditadura Militar teriam usado para assassinar o ex-presidente João Goulart, em 1976.
Líderes golpistas ainda não foram presos
A realização da operação de hoje é mais uma prova de que Bolsonaro tentou por todos os meios dar um golpe e acabar com a democracia no Brasil. Os ataques fascistas de 8 de janeiro foi a continuação do plano golpista desenvolvido ao longo dos 4 anos do governo do ex-capitão.
A tentativa de assassinato entra, agora, na lista de projetos golpistas descobertos pelas investigações. Desde 2022, já foram revelados uma série de planos golpistas: a tentativa de usar a Polícia Rodoviária Federal para atrapalhar a realização do 2º turno das eleições, uma proposta de decreto de intervenção no TSE e instauração do Estado de Defesa, uma bomba instalada no Aeroporto de Brasília no natal de 2022, os acampamentos fascistas nas portas dos quartéis (financiados por empresários aliados de Bolsonaro) e os atos de 8 de janeiro.
Na sexta-feira passada, um homem-bomba tentou invadir o plenário do STF para assassinar os ministros. Sem sucesso na ação, ele cometeu suicídio. O terrorista era filiado ao partido de Bolsonaro, o PL, e foi candidato nas últimas eleições.
Todas essas ações mostram a amplitude do movimento golpista de Bolsonaro no Brasil. Envolvendo empresários milionários, generais fascistas e membros do antigo governo. O que falta, então, para a prisão definitiva de Bolsonaro, Braga Netto, Augusto Heleno e outros chefes golpistas?
2 anos após as 4 tentativas de golpe de Bolsonaro, ele e seus cúmplices continuam soltos e tendo liberdade de continuar organizando o campo fascista no país. O receio que muitos membros do atual governo e da social-democracia de fazer uma ação mais contundente contra os golpistas mostra que a demora na prisão desses criminosos pode ter um custo alto para a defesa das liberdades democráticas em nosso país.
Após o atentado no STF e a revelação do plano para assassinar o presidente Lula, fica evidente que qualquer conciliação para realizar uma “anistia” em favor dos fascistas só servirá para entregar de bandeja nossos direitos e liberdades para Bolsonaro e sua gangue.
Pressionada pela mobilização, Secretaria de Educação assinou termo de compromisso para atender parte das reivindicações dos estudantes. Ocupação da Escola Estadual Dr. Ablas Filho, em Santos (SP), exigiu melhorias na infraestrutura escolar e fim do Novo Ensino Médio
Rebele-se Baixada Santista e Redação SP | Santos (SP)
Nesta terça-feira (19/11), a Escola Estadual Dr. Ablas Filho, em Santos (SP), foi ocupada por seus estudantes, que levantam a bandeira da defesa da educação pública e de melhorias na infraestrutura da escola. A mobilização conta com a participação do grêmio estudantil. Em sua carta de reivindicações, os estudantes exigem a instalação de ar-condicionado, a reforma da quadra poliesportiva, a contratação de mais inspetores, a construção de uma gestão democrática da escola em diálogo com os estudantes, o respeito à autonomia do grêmio e a não-perseguição dos estudantes que estão construindo essa justa luta.
“A gente vem fazendo essas reivindicações há muito tempo, especialmente desde que a atual gestão do grêmio assumiu. A gente mandou três abaixo-assinados para a Secretaria de Educação e não obteve resposta para nenhum deles”, denuncia a estudante Carol, entrevistada pelo jornal A Verdade.
Os estudantes que constroem a ocupação da escola em Santos denunciam que a precarização do ensino público é parte da estratégia do governo fascista de Tarcísio de Freitas e dos empresários da educação para empurrar a proposta “salvadora” de privatização das escolas, garantindo lucros fabulosos para os ricos com mensalidades e taxas para os serviços de escolares.
Entendendo a ligação do cenário de sua escola com a conjuntura de ataques à educação, os estudantes da E. E. Dr. Ablas Filho ressaltam que sua luta também é pela revogação do Novo Ensino Médio, o fim da militarização e plataformização das escolas, o fim dos leilões das escolas para o setor privado e a rejeição da criminosa PEC 9/2024 do governador Tarcísio de Freitas, que busca cortar R$10 bilhões do orçamento da Educação em São Paulo.
“A gente não tá fazendo só pelo Ablas, mas por todas as escolas”, continua a estudante Carol.
PM reprime a luta
Logo pela manhã, em vez de se dispor ao diálogo com os estudantes, o governo de São Paulo enviou diversas viaturas da Polícia Militar para reprimir a mobilização pacífica. Estudantes foram levados à delegacia e spray de pimenta foi lançado contra o rosto dos jovens que estavam presentes. Apesar disso, sob a palavra de ordem “educação não é caso de polícia”, os estudantes seguiram de cabeça erguida e mantiveram a ocupação.
Horas depois, ainda no período da tarde, a opção pela tática combativa de luta se mostrou vitoriosa. Pressionada pela ocupação e pela denúncia da truculência policial, a Secretaria de Educação assinou um termo de compromisso em que se dispõe a atender mais da metade das reivindicações apresentadas pelos estudantes.
Desde o início da jornada de luta, a União da Juventude Rebelião (UJR) e o Movimento Rebele-se na Baixada Santista estiveram presentes na E. E. Dr. Ablas Filho para apoiar a mobilização e denunciar o papel repressor da PM. “Convidamos todo mundo a apoiar a ocupação dos estudantes em defesa dos seus direitos. Lutar não é crime”, afirmou Giovana, militante da UJR.
Com suas ações, os estudantes da Baixada Santista demonstraram na prática que só a luta é capaz de garantir que os interesses da juventude e do povo sejam atendidos e, principalmente, que a Secretaria de Educação pode se dobrar frente às ocupações estudantis. Por isso, a UJR e o Movimento Rebele-se convocam os estudantes a construírem novas ocupações e dar um novo impulso à luta por uma educação democrática e pelo socialismo.
A vida de Vladimir Carvalho foi marcada por grandes contribuições para o cinema brasileiro, pela resistência à ditadura militar e por sua atuação como professor de cinema e preservador dessa arte.
Redação Paraíba
ENTREVISTA – Faleceu, aos 89 anos, no dia 24 de outubro, o cineasta e documentarista paraibano Vladimir Carvalho. Sua vida foi marcada por grandes contribuições para o cinema brasileiro, pela resistência à ditadura militar e por sua atuação como professor de cinema e preservador dessa arte.
Sua primeira grande contribuição cinematográfica se deu por seu trabalho como auxiliar de direção no filme Cabra Marcado Para Morrer, de Eduardo Coutinho. Filme cuja produção começou às vésperas do golpe militar de abril de 1964, e que só teve a produção finalizada em 1984, por causa da perseguição política sofrida. O filme conta a história de João Pedro Teixeira, dirigente das Ligas Camponesas na Paraíba, assassinado por latifundiários em 1962.
Vladimir dirigiu diversos filmes durante as décadas de 1960 e 1970 e se consolidou como um dos nomes influentes do que viria a ser chamado de Cinema Novo, movimento cinematográfico marcado pela denúncia da desigualdade social no Brasil, que trouxe ao cinema brasileiro uma identidade única, sem ser apenas mais uma cópia latino-americana do estilo de produção de cinema de Hollywood.
Um de seus filmes de destaque dentro desse movimento foi o documentário O País de São Saruê, de 1971. O filme relata a vida dura, marcada pela pobreza e pelas secas, dos trabalhadores do sertão paraibano. Mais uma vez, a produção do filme sofreu perseguição política por parte da ditadura militar, sendo mantido sob censura por oito anos.
Para falar mais sobre Vladimir, o jornal A Verdade entrevistou João de Lima, professor de cinema da Universidade Federal da Paraíba.
A Verdade – Como documentarista, qual o lugar de Vladimir Carvalho para o cinema brasileiro?
João de Lima – Vladimir Carvalho está no nascedouro do Cinema Novo, pois fez parte de uma geração muito comprometida com o desenvolvimento de uma cinematografia crítica e, ao mesmo tempo, inventiva em relação aos preceitos estéticos da obra cinematográfica. Fez jornalismo e crítica cinematográfica antes de iniciar sua carreira como cineasta. Está em constante evolução de seu pensamento estético, mesmo que, em algum momento, tenha afirmado que não tinha uma estética definida. Foi amigo, na Bahia, de praticamente todos os artistas que despontaram em diversas áreas da cultura. Glauber Rocha o chamava de “Vertov das caatingas”, em alusão ao mais inquieto e importante dos cineastas da então URSS, que influenciou o mundo inteiro com suas ideias. É, portanto, contemporâneo e atual, pois renovava muito sua obra.
Quais os desafios de fazer cinema no Brasil durante a ditadura militar? Como Vladimir lidou com isso?
Fui assistente de montagem no filme Conterrâneos Velhos de Guerra e pude ver como ele lidava com problemas crônicos do cinema brasileiro, especialmente a falta de políticas estabilizadoras de produção contínua para autores brasileiros. Durante a ditadura civil-militar, muitas vezes circulavam nos festivais listas pedindo a liberação dos filmes que mofavam nas prateleiras da censura, como aconteceu com o filme O País de São Saruê. Vladimir lidava contra a censura acionando as formas de articulação coletiva, como a ABD, da qual foi um dos fundadores, em Brasília, onde estava radicado há anos.
Ele estava animado com o projeto de criação de um Museu do Cinema em Brasília. Como esse novo equipamento público pode impulsionar a produção cinematográfica brasileira?
O Iphan está acolhendo os materiais que Vladimir Carvalho juntou por décadas, e a Cinemateca Brasileira foi depositária, por exemplo, dos negativos do filme Conterrâneos, entre outras obras. Aliás, partes não usadas neste filme serviram a outros projetos, como o filme sobre a invasão da UnB e sobre o movimento de rock na capital federal.
Saudamos todos resistem e lutam pela preservação, semeação e germinação do cinema brasileiro. Viva o Cinema Novo! Viva Vladimir Carvalho!
Matéria publicada na edição 302 do Jornal A Verdade.