UM JORNAL DOS TRABALHADORES NA LUTA PELO SOCIALISMO

quarta-feira, 4 de junho de 2025
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Chegou A Verdade quinzenal

Uma vitória da imprensa popular e socialista

EDITORIAL

A primeira edição do jornal A Verdade foi lançada em dezembro de 1999, com a manchete “FHC: o professor que virou um grande fazendeiro”. Foram 1.500 exemplares que circularam em cinco estados. Desde então, as ideias defendidas por A Verdade vêm obtendo cada vez mais apoio. O número de leitores cresceu a cada mês e hoje o jornal circula em 20 estados. A tiragem foi crescendo ano a ano e atingiu, em abril, 18.500 exemplares.

Este crescimento permitiu que, após 22 anos, o jornal A Verdade passasse a ser quinzenal. A partir de agora, serão duas edições por mês.

E há mais novidades: A Verdade ganhou um novo projeto gráfico e seu site www.averdade.org.br, após sofrer ataques dos inimigos da democracia, tem novo visual para facilitar a leitura. Em junho, terá ainda um aplicativo para baixar no celular.

Pode parecer pouco para alguns. Mas não é. Enquanto jornais da burguesia deixam de circular e passam a existir somente na internet, A Verdade lança agora duas edições impressas por mês no Brasil. Ademais, A Verdade é um jornal a serviço da classe explorada e oprimida, a imensa classe operária, as massas trabalhadoras. Suas páginas não são vendidas às grandes corporações internacionais e nacionais nem defendem os interesses do capital financeiro, das mineradoras ou do agronegócio. É um jornal dos trabalhadores que luta pela emancipação dos pobres, pelos direitos das mulheres, pela justiça social, democracia popular e socialismo.

Ergue sua voz contra o racismo e em defesa dos povos indígenas e denuncia todos os crimes cometidos pelo Estado burguês. Os princípios de A Verdade são baseados no marxismo-leninismo, no fim da exploração de classes, na solidariedade e fraternidade entre os irmãos trabalhadores e os povos de todo o mundo.

A Verdade é um jornal que se sente honrado em desafiar e lutar contra os poderosos interesses da classe capitalista e pelo fim da escravidão assalariada. É um jornal socialista no seu conteúdo e na sua forma, pois é feito com base na cooperação de centenas de companheiros e companheiras. Leva à prática os princípios definidos pelo grande revolucionário e criador do socialismo científico, Karl Marx: “A função da imprensa é ser o denunciador incansável dos opressores. (…) O dever da imprensa é tomar a palavra em favor dos oprimidos a sua volta. O primeiro dever da imprensa é minar todas as bases do sistema político existente”.

Mas a vitória de A Verdade se transformar num jornal quinzenal não caiu do céu. Foi fruto de um trabalho coletivo e planejado. Um importante Ativo Nacional de Agitação e Propaganda foi realizado no mês passado com dezenas de militantes, além dos ativos estaduais que se seguiram. Semanalmente, a Redação Nacional se reúne, debate as matérias, distribui entre os editores e prepara a próxima edição.

Como tem apoio entusiasta de seus leitores, A Verdade conta ainda com diversos colaboradores que escrevem textos e mandam fotos. Além disso, A Verdade dispõe de centenas de brigadistas, militantes do PCR, da UP e dos movimentos sociais que garantem que ele chegue às mãos do povo.

A Verdade quinzenal é uma vitória da imprensa popular e socialista, uma vitória de todos que nessa caminhada trabalharam para que este sonho se tornasse realidade, uma vitória principalmente para os oprimidos e explorados que terão um jornal ainda mais incansável na denúncia dos opressores, sempre erguendo a bandeira da revolução e do socialismo.

Com A Verdade quinzenal, semearemos mais e organizaremos mais operários e operárias no exército que construirá uma nova sociedade, na qual não haverá pobreza, nem corrupção, fascismo ou exploração. Apesar do fascista e dos generais, A Verdade quinzenal triunfou. Avante, camaradas!

O dia que o povo vestiu a melhor roupa e ocupou o TSE

Trabalhadores na audiência de julgamento do registro da UP no TSE, em outubro de 2019 – Foto: Jorge Ferreira / Jornal a Verdade

Jorge Ferreira

Era manhã de uma quinta-feira de outubro de 2019 quando os servidores do Tribunal Superior Eleitoral tiveram que lidar com com uma situação incomum: algumas  dezenas de trabalhadores desejavam assistir uma audiência de julgamento. A lotação do plenário  com cerca de duzentas confortáveis cadeiras não era o problema, mas os visitantes não estavam com “vestimentas adequadas” que os permitisse estar diante dos ministros.

Naquele dia, homens e mulheres que diariamente acordam cedo e utilizam transporte público lotado para trabalhar, que pegam no pesado para sobreviver, colocaram suas melhores roupas, seus melhores sapatos, alguns cortaram o cabelo, outros usaram o melhor perfume. Era dia de festa. Após dois longos anos e um milhão e duzentas mil assinaturas recolhidas nos trens, nos bairros populares, nas portas de fábrica, e, apesar das dificuldades, registradas em cartórios de vários estados em todas as regiões do país, havia chegado o dia que iniciaria o julgamento do registro da Unidade Popular pelo Socialismo na mais alta corte eleitoral do Brasil.

Com a emoção transbordando em sorrisos largos, representando todos aqueles abnegados trabalhadores que entregaram suas poucas horas livres para cumprir a tarefa histórica de constituir o partido dos pobres, do povo trabalhador, entraram no prédio do TSE para assistir a audiência que reconheceria  a legitimidade de todo o processo. Entretanto, a poucos metros do plenário principal do Tribunal, a chefe dos seguranças alerta que não será possível que os visitantes adentrem no local por não estarem vestidos adequadamente. “Onde está escrito isso?”, foi o primeiro questionamento do advogado Thiago Santos.

Thiago Santo, advogado da Unidade Popular, intervindo para garantir o acesso dos trabalhadores ao plenário – Foto Jorge Ferreira /  Jornal a Verdade

Daí em diante iniciou-se uma luta contra o tempo. Há poucos minutos de iniciar o julgamento, nem mesmo o presidente do partido, Leonardo Péricles, morador de ocupação, havia conseguido entrar no plenário justamente por estar somente com camisa social, mas sem terno e gravata. “Veja bem, argumentava Thiago Santos, essas pessoas estão justamente com suas melhores roupas, não há ninguém vestido de forma inadequada”. As mulheres que estavam de calça jeans, ao ver o tempo passando e a recusa da chefe dos seguranças, começaram a improvisar saias com cachecóis. Os homens já não mostravam os dentes, uma pequena angústia tomava conta. 

Em meio ao embate jurídico da legalidade da exigência de terno e gravata entre o advogado do partido e os servidores, alguns seguranças sensibilizados prometeram irem até o vestiário verificar se tinham terno reserva para emprestarem ao visitantes, mas já alertaram que não haveria para todos. Pouco antes de iniciar a sessão, o advogado do partido conseguiu que a questão fosse levada até a presidente da Casa, à época ministra Rosa Weber. Alguns instantes antes de iniciar o julgamento a entrada foi autorizada.

Foto Jorge Ferreira / Jornal a Verdade

Nesse dia, o procurador eleitoral Humberto Jacques apresentou parecer favorável, e o relator do processo, ministro Jorge Mussi, proferiu votou favorável ao registro alegando que “não poderia ser diferente, já que o partido cumpriu todas as exigências normativas”, entretanto o julgamento foi suspenso por um pedido de vista de um dos ministros, só sendo retomado, aprovado e registrado em dezembro do mesmo ano. 

Mas foi exatamente naquele dia, 24 de outubro de 2019, que pela primeira vez o plenário do Superior Tribunal Eleitoral foi ocupado por pessoas sem terno e que, como retrata um grande filme, também não usam “Black Tie”.

 Talvez tenha sido duro para os ministros da burguesia olharem de frente homens e mulheres que vivem do próprio suor. Para a Unidade Popular foi um dia histórico, mais um capítulo da emocionante luta pela libertação de milhões de trabalhadores brasileiros.

Foto Jorge Ferreira / Jornal a Verdade


MLB protesta contra despejos e GCM reprime ato em SBC

Foto: Jorge Ferreira / Jornal a Verdade

João Coelho e Jorge Ferreira

MLB São Paulo

Fazia frio na tarde dessa quarta-feira, dia 12 de agosto, quando Movimento de Luta nos Bairros, Vilas e Favelas (MLB) organizou na cidade de São Bernardo do Campo um ato contra os despejos de famílias pobres durante a pandemia e em defesa do direito à moradia digna. O ato fez parte de uma agenda nacional de mobilizações que levou às ruas centenas de famílias, em diversas cidades brasileiras, levantando a bandeira do Despejo Zero, uma campanha nacional que unifica movimentos sociais e outros apoiadores na luta pelo fim dos despejos durante a crise da Covid-19.

 A manifestação reuniu famílias de vários bairros de São Bernardo do Campo, cidade que sofre com uma política sistemática de despejos por parte do Prefeito Orlando Morando (PSDB), de Diadema, Santo André, Mauá, Francisco Morato, São Matheus e de várias regiões da Capital, além de outros movimentos que se somaram à essa luta, como o Projeto Meninos e Meninas de Rua (PMMR), o Coletivo Democracia Corinthiana, a Torcida Guerreiros do Tigre do São Bernardo F.C., o Movimento de Mulheres Olga Benário, etc. Para Gabriela Mousse, da Democracia Corinthiana: “Eles agem assim [despejos e repressão ao povo pobre] porque se sentem livres para fazer o que querem, não há motivo nenhum para ações desse tipo. Claro, o governo já é fascista e tá rolando uma pandemia, para eles fica mais fácil, por isso temos que ocupar as ruas com mais frequência”.

Foto: Manuelle Coelho / Jornal a Verdade

Alguns trabalhadores vieram de longe, é o caso de Cirilo Conceição, que viajou cerca de 80 quilômetros para poder participar do ato: “Sou de Francisco Morato, uma cidade abandonada pelos governantes. Governantes corruptos e omissos que permitiram que meu filho viesse a falecer. Quem me apoiou não foi nenhum governante, foi o povo, foi o MLB. Convidamos vocês a abraçarem essa causa porque essa é a causa de todos nós trabalhadores, estudantes, que pagamos aluguel, que somos despejados. O governo é o culpado disso, o governo não tá nem aí pra nós, eles querem é matar nossos filhos. Eles abandonam nossos bairros, na minha rua um carro não foi capaz de entrar pra prestar socorro ao meu filho. Eu abracei e vou continuar abraçando o MLB, essa ferramenta dos trabalhadores para lutar por uma moradia digna”.

Foto: Jorge Ferreira / Jornal a Verdade

A marcha, que contou com mais de cem pessoas, ocorreu no fim da tarde e foi da Igreja Matriz, no centro da cidade, até o Paço Municipal, em uma caminhada pacífica de mais de uma hora, mantendo o distanciamento social, o uso de máscaras e todos os cuidados relativos à pandemia da Covid-19 e sem qualquer tipo de conflito, sendo inclusive apoiada pela maior parte da população que transitava pela cidade, de carro, de ônibus ou a pé. Segundo Daniela, que constrói o MLB no bairro Detroit, em São Bernardo: “Essa manifestação é muito importante, estou aqui não só por mim, mas pelas minhas filhas e pela minha comunidade. Aprendi com o MLB que nós precisamos lutar, assim como fizeram os escravos, que se revoltaram e hoje são libertos. Mas ainda existe uma escravidão pra gente vencer e por isso estamos na luta”.

A organização do ato realizou um acordo com a Guarda Civil Municipal (GCM) e com a Polícia Militar, para que a manifestação fosse encerrada no Paço Municipal com uma assembleia das famílias que cobravam o seus direitos. No entanto assim que os primeiros militantes do movimento entraram no Paço, carregando uma faixa com os dizeres “Despejo Zero, Morar é um Direito”, a GCM descumpriu o acordo e atacou covardemente três Coordenadoras do MLB que carregavam a faixa, desferindo empurrões, socos e utilizando spray de pimenta sobre as mulheres; rapidamente um conjunto de famílias se aproximou, afastou os políciais e organizou um cordão de isolamento para impedir novas agressões.

Ao todo foram mobilizadas cerca de 30 viaturas entre GCM e Polícia Militar com o objetivo de impedir a continuação do ato através de uma ação agressiva e completamente desproporcional, descumprindo um acordo feito minutos antes, alegando que o movimento estava proibido de adentrar o Paço Municipal carregando qualquer tipo de bandeira ou faixa e demonstrando o caráter repressivo do Estado contra os trabalhadores, os pobres e os lutadores sociais que cada dia fica mais intenso no Brasil. As famílias conseguiram assegurar o direito de realizar sua assembleia no local e em alguns minutos de diálogo e de muita agitação política contra as injustiças do sistema capitalista, o sistema dos ricos que durante a pandemia promove o crescimento do patrimônio dos bilionários exploradores e o empobrecimento geral daqueles que vivem do próprio trabalho, decidiram encerrar a manifestação, prometendo que voltarão às suas cidades e bairros e organizarão ainda mais pessoas para lutar pela Reforma Urbana e pelo Socialismo. Segundo Thais Gasparini, uma das Coordenadoras Estaduais do MLB agredidas pela GCM: “Essa repressão, esse uso da violência para calar quem se manifesta é um espelho do que acontece na periferia, em que essa mesma GCM é utilizada pra derrubar as casas do povo pobre. Isso precisa acabar, por isso nos manteremos firmes na luta, cada dia maiores, combatendo a exploração, a especulação imobiliária e a política dos ricos, dos latifundiários e dos banqueiros”.

Para Arnor, membro do MLB do bairro do Divinéia, em São Bernardo: “O ato foi muito bom, muito bonito, temos que seguir lutando. Já precisamos marcar a próxima passeata”.

Exército Vermelho salvou humanidade do nazismo

bandeira URSS no reichstag

No capitalismo, as guerras são fruto da concorrência entre as classes dominantes de diferentes nações pelo domínio do planeta. Na Primeira Guerra Mundial, formaram-se dois blocos imperialistas opostos: Tríplice Aliança (Impérios Alemão, Austro-Húngaro e Turco-Otomano) e a Tríplice Entente (Impérios Inglês, Francês e Russo).

O sol nasce vermelho

Algo novo, entretanto, surgiu durante a Primeira Guerra Mundial: a revolução socialista de outubro de 1917, na Rússia; nova cisão ocorria no mundo, agora dividido em dois sistemas adversos: o capitalismo e o socialismo.

Os dois blocos capitalistas passaram a ter um objetivo comum: a destruição do primeiro Estado operário-camponês da história, em vista da restauração do capitalismo em escala global. Foi com este propósito que o bloco vencedor investiu na economia alemã 15 bilhões de marcos em seis anos (1924-1929).

Quando o nazismo se apossa da Alemanha e explicita seu intento de domínio mundial, as potências capitalistas dominantes não tratam de combatê-lo. Ao contrário, fecham os olhos às suas agressões e até incentivam o monstro nazista a direcionar seu ataque contra a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS).

Em 1939, a URSS propôs à Inglaterra e França um pacto para ações militares conjuntas se os países do Eixo (Alemanha, Itália e Japão), bloco nazifascista, iniciassem a guerra na Europa. Não houve rejeição formal, mas nenhum passo foi dado por parte dos países capitalistas para concretizar o pacto. Ao contrário, França e Inglaterra firmaram com Alemanha e Japão acordos de não-agressão. Deixada sozinha, em agosto de 1939, a URSS assinou com a Alemanha um tratado de não-agressão. Os dirigentes sabiam que, mais cedo ou mais, tarde Hitler romperia o acordo, mas conseguiram ganhar um tempo valioso para transferir parte de suas indústrias para o leste do grande território soviético, bem como reforçar sua capacidade de defesa militar.

De 1938 a 1941, Hitler ocupou Áustria, Checoslováquia, Polônia, Bélgica, Holanda, Dinamarca, Noruega, Grécia, Iugoslávia e finalmente a própria França. Na Europa central e oriental, a Alemanha adquiriu imensa quantidade de material de combate, meios de transporte, matérias-primas, materiais estratégicos e força de trabalho, tornando-se forte o suficiente para atacar a URSS.

Hitler, no livro MeinKampf(Minha Luta), proclamou: “…tratando-se de obter novos territórios na Europa, deve-se adquiri-los principalmente à custa da Rússia”.

dia da vitória na bulgária 09 05 1945

A invasão hitlerista foi impiedosa. “Fuzilavam em massa as pessoas (mulheres, crianças, idosos, montavam campos de morte, deportavam para trabalho forçado na Alemanha. Por onde passavam, não deixavam pedra sobre pedra”. Era a política do extermínio. “Eu tenho o direito de destruir milhões de homens de raça inferior que se multiplicam como vermes” (Hitler).

Em resposta, o governo, o Partido Bolchevique e o povo soviético lançaram a palavra de ordem: “Morte aos invasores fascistas, tudo para a frente! Tudo para a vitória!”. Às fileiras do Exército Vermelho se integraram milhões de homens. Criaram-se também inúmeros regimentos de milícia popular, contando com dois milhões de combatentes.

Formou-se ainda na retaguarda uma força guerrilheira massiva. A dedicação e bravura do povo soviético comoveram o mundo e foram decisivas para quebrar a resistência capitalista (EUA, Inglaterra, França). Formou-se finalmente o bloco aliado, antifascista, a frente única dos povos pela democracia.

Caíra por terra a ideia de Hitler de que a ocupação da URSS seria um passeio uma “guerra relâmpago”. Os nazistas não imaginavam a resistência que encontrariam nas principais cidades: Leningrado, Stalingrado, Kiev e Moscou, entre tantas. Homens, mulheres, idosos e crianças se ergueram como muralha inexpugnável.

Os feitos do povo soviético repercutiram no mundo inteiro, levando um jornal burguês como o STAR, de Washington, a publicar: “Os sucessos da Rússia na luta contra a Alemanha hitleriana revestem-se de grande importância não só para Moscou e o povo russo, como também para Washington, para o futuro dos Estados Unidos. A história renderá homenagens aos russos por terem suspendido a guerra relâmpago, pondo em fuga o adversário”.

Em junho de 1942, os invasores avançam, mas encontram uma barreira instransponível em Stalingrado. Durante sete meses de combate, os invasores perderam 700.000 soldados e oficiais, mais de mil tanques, dois mil canhões e morteiros, 1.400 aviões. Os invasores eram tecnicamente superiores, mas, em novembro de 1942, os números já se invertiam em favor dos soviéticos. Os alemães estavam com 6.200.000 soldados, os soviéticos com 6.600.000; 5.000 tanques invasores contra 7.000 soviéticos; 51.000 peças e morteiros contra 77.000.

Na derrota do Stalingrado, os nazistas perderam 1,5 milhões de soldados e oficiais. “… Do ponto de vista moral, a catástrofe que o exército alemão sofreu nos acessos de Stalingrado teve um efeito sob o peso do qual ele não pôde mais reerguer-se”. (A segunda guerra mundial, B.Lideel Hart)

Depois, ocorreu a vitória do Cáucaso e se iniciou processo de expulsão em massa dos ocupantes nazistas. “A União Soviética pode orgulhar-se das suas heroicas vitórias”, escreveu o presidente dos EUA, Franklin Roosevelt, acrescentando: “…os russos matam mais soldados inimigos e destroem mais armamentos do que os outros 25 estados das Nações Unidas no conjunto”.

O final de 1943 marca a virada na frente soviética e na Segunda Guerra em geral. O movimento contra o nazifascismo se consolidou e se ampliou em todo o planeta.

Em junho de 1944, com o exército alemão batido em todas as regiões da URSS, as tropas anglo-americanas desembarcaram no Norte da França, dando início à frente ocidental proposta pelo governo soviético desde o início da invasão.

Pode-se dizer que a essa altura a guerra estava decidida, diante da derrota alemã na Rússia. O próprio Winston Churchil, primeiro-ministro britânico, reconhece o papel fundamental dos soviéticos, no discurso pronunciado na Câmara dos Comuns, em julho de 1944: “….Considero meu dever reconhecer que a Rússia mobiliza e bate forças muitíssimas maiores que as enfrentadas pelos aliados no Ocidente, que, há longos anos, ao preço de imensas perdas, ela suporta o principal fardo da luta em terra”.

Um exército libertador

Apesar de imensas perdas, o Exército Vermelho avançou no encalço dos alemães pela Europa Oriental adentro, fustigando os nazistas e auxiliando as forças populares da resistência a derrotarem os ocupantes e seus colaboradores internos. Repúblicas democrático-populares foram instaladas com os partidos comunistas à frente na Polônia, Hungria, Iugoslávia, Checoslováquia, Romênia e Bulgária.

“Para Berlim!” era a palavra de ordem do exército libertador. Não foi um passeio. A resistência nazista, embora enfraquecida, produzia encarniçados e sangrentos combates. Os russos vitoriosos não mataram, não pilharam, não se vingaram dos crimes cometidos pelo exército alemão no solo soviético. Ao contrário, alimentaram os famintos, organizaram a assistência médica, o funcionamento dos transportes, a distribuição de água e de energia elétrica. A 2 de maio de 1945, o Comando Supremo alemão assinou o ato de capitulação incondicional das forças armadas, com a bandeira da URSS tremulando no alto do parlamento alemão, em Berlim. No dia 09 de maio, houve um imenso ato em Moscou em comemoração ao fim da Grande Guerra Patriótica (como os soviéticos denominaram sua participação na Segunda Guerra Mundial) e, desde então, até hoje, celebra-se na Rússia esta data como o Dia da Vitória.

Sob novos céus

Terminada a guerra na Europa, era preciso voltar-se para a Ásia. O Japão, aliado dos nazistas dominava milhões de pessoas na China, na Coreia, nas Filipinas. Apesar de as forças armadas dos EUA e da Inglaterra virem imprimindo sucessivas derrotas, as forças japonesas ainda eram numerosas e fortes. De vez em quando, elas atacavam as fronteiras da URSS e torpedeavam navios soviéticos em alto-mar.

No dia 8 de agosto de 1945, a União Soviética declarou guerra ao Japão e começou a ofensiva. Nesse mesmo dia, o primeiro-ministro japonês, Teiichi Suzuki afirmou: “…A entrada da URSS na guerra hoje de manhã põe-nos definitivamente numa situação sem saída e torna impossível continuar a guerra” . Estava certo. No final do mês, o Exército nipônico havia perdido 677 mil soldados e oficiais: 84 mil mortos e 593 mil prisioneiros.

Ao contrário do que muitos pensam, e a historiografia burguesa busca difundir, não foram as bombas estadunidenses lançadas no início de agosto contra Hiroshima e Nagasaki que provocaram a capitulação japonesa. A guerra continuou normalmente depois do ataque bárbaro e covarde. A rendição resultou do destroçamento do exército nipônico pelas tropas soviéticas.

Se alguém duvida, leia o testemunho do general Chenault, que chefiou as forças dos EUA na China: “…A entrada da URSS na guerra contra o Japão foi o fator decisivo para o fim da guerra no Pacífico, o que sucederia mesmo sem o emprego de bombas atômicas. O rápido golpe desferido pelo Exército Vermelho sobre o Japão fechou o cerco que pôs finalmente o Japão de joelhos”.

O Exército Vermelho contribuiu ainda para a expulsão dos nazistas da China e da Coreia. O sacrifício do povo soviético foi inestimável. Mas valeu a pena porque livrou a Humanidade da besta nazista. Foi também a vitória do socialismo que saiu da Segunda Guerra triunfante em toda a Europa Oriental e na China.

Por todos, valeu a carta de agradecimento enviada pelo povo coreano a Josef Stalin, comandante supremo das forças soviéticas: “… Os combatentes soviéticos chegaram não como conquistadores, mas como libertadores. Emancipada da escravidão, a nossa pátria respirou livremente. O céu apareceu-nos radioso. A nossa terra floresceu. Jorraram canções de liberdade e felicidade…”.

José Levino, historiador

Fonte de pesquisa: O Grande Feito do Povo Soviético e do Seu Exército. VassiliRiábov, Edições Progresso, Moscou,1983.

Bolsonaristas defendem volta da tortura e fim das eleições diretas

Da Redação

Enquanto milhões de brasileiros estão em isolamento ou distanciamento social devido à pandemia da Covid-19, o capitão reformado Jair Bolsonaro e seus puxa-sacos vivem um imenso isolamento político. A reprovação a seu governo já alcança quase 70%, suas Medidas Provisórias, sem apoio, caducam no Congresso Nacional e o Supremo Tribunal Federal (STF) decidiu que não é função do presidente desrespeitar governadores e prefeitos. Nos embates que travou com o ex-ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, ficou em minoria nas reuniões do seu Ministério. Teve que levar um de seus filhos para dentro do Palácio Planalto para poder conseguir ouvir diariamente: “Pai, você é o rei”.

E os fatos mostram uma dura realidade: após quase um ano e meio no governo, o capitão reformado, apesar de controlar um Orçamento Federal de R$ 4 trilhões, não construiu nenhum hospital público nem universidade. Tampouco ampliou o acesso da população ao saneamento ou construiu casas populares. O desemprego e o número de famílias vivendo na extrema pobreza cresceram enormemente no seu desgoverno. Usou todo o dinheiro público para enriquecer os especuladores, os banqueiros e permitir a remessa de bilhões de dólares do Brasil para os EUA.

O povo brasileiro, vendo que o capitão reformado é incompetente, antidemocrático e totalmente subserviente ao EUA, passou a reprovar seu governo em todas as regiões. Segundo o Instituto Datafolha, 17% de seus eleitores se arrependeram de ter votado nele.

Diante dessa crescente rejeição da população, o capitão reformado e seus filhos resolveram apelar para a velha política: recorrer às Forças Armadas, em particular ao Exército, para impor um regime ditatorial no país.

Assim, foram marcadas as carreatas e atos para o dia 19 de abril, dia que é considerado Dia do Exército. O Exército, seu comandante geral e o Alto Comando sabiam do ato e deram total permissão para que Bolsonaro e seus puxa-sacos o realizassem com dezenas de faixas encomendadas e com dezenas de assessores de deputados e de pessoas que ocupam cargos de confiança no governo, os conhecidos “aspones”.

No entanto, os atos foram um fracasso. Em São Paulo, dezenas de carros luxuosos, acompanhados de várias motos, algumas delas que custam mais de R$ 50 mil reais, foram verdadeiramente “ovacionadas”, isto é, receberam ovos e tomates dos prédios por onde passavam. Em Brasília, apenas algumas centenas de pessoas atenderam ao chamado de Bolsonaro e, se retirarmos os assessores da conta, fica uma ridícula minoria. Pior: após o ato, nove pessoas deram entrada em hospitais de Brasília com suspeita de Covid-19.

Pois bem, com o repúdio nacional à fala de Bolsonaro em frente ao Quartel General do Exército em Brasília, os generais passaram a dizer em off a jornalistas que não concordavam com aquele discurso defendendo um golpe militar e a volta do AI-5 e pediram ao capitão para “baixar o tom”. Na manhã desta segunda-feira, 20 de abril, um irritado e nervoso presidente, com suas mãos trêmulas (lembrando Hitler no filme A Queda), tentou desdizer o que tinha dito. Mas, revelando sua natureza fascista, parafraseou o rei Luís XIV, e declarou: “Eu sou a Constituição”.

Os fascistas e a grande a burguesia nacional e internacional olham a história do Brasil, observam os inúmeros golpes militares que aconteceram e acham que é fácil dar um golpe militar em nosso país e impor a censura à imprensa, torturar os que discordam, assassinar e esconder os corpos dos patriotas e democratas ou jogá-los no mar. Pensam que assim terão a paz dos cemitérios dizendo que o “Brasil vai pra frente, ame-o ou deixe-o” e que a ditadura militar é o melhor regime para governar um povo rebelde, como é o brasileiro.

Mas, senhores e senhoras fascistas, ensina a filosofia dialética que, se houve tantos golpes militares assim no Brasil é porque nenhum conseguiu se manter eternamente. Ou melhor, todos foram derrotados nas ruas pelos trabalhadores, pelas mulheres, pelos jovens, pelo povo brasileiro. Duvidam? Então terão que ouvir novamente nosso povo nas ruas desfilando e cantando: “Amanhã vai ser outro dia!” ou “Você não gosta de mim, mas sua filha gosta!”.

Nossa luta para derrotar o governo fascista em meio ao avanço das contradições interimperialistas

Passeata em São Paulo contra a Reforma da Previdência. Foto: A Verdade

Por Wanderson Pinheiro e Leonardo Péricles

1 – O Brasil e a questão internacional

O chamado neoliberalismo se aprofundou no Brasil nos anos 1990, primeiro no Governo Collor e depois durante os dois governos de Fernando Henrique Cardoso. Na verdade, tratou-se de uma maior submissão das economias nacionais com abertura dos mercados, iniciada no Chile e na Argentina, diante de um crescimento da exportação de capitais e maior domínio do capital financeiro internacional sobre as economias nacionais latino-americanas. Foi um período de ampla hegemonia dos EUA, encoberto sob o discurso da globalização.

A queda brusca dos impostos de importação e exportação, o fim do controle de capital e a isenção de impostos para a sua movimentação, a adoção de uma política cambial ancorada no dólar, o achatamento salarial dos trabalhadores e a privatização das principais empresas estatais foram as medidas centrais que tiveram consequências estruturais perversas para a economia nacional.

No entanto, o que se desenvolve de fato são as características do imperialismo capitalista, com o aprofundamento da financeirização do capital monopolista e uma gigantesca exportação de capitais por diversas vias. O capital se expande permanentemente, destruindo as economias nacionais, promovendo o desemprego e a redução salarial, para extrair mais-valia extraordinária e, assim, buscar manter sua taxa de lucro. Neste sentido, falar apenas contra o neoliberalismo e aceitar o capitalismo é propor aceitar a exploração dos trabalhadores, a manutenção da escravidão assalariada e sua expressão política, a democracia burguesa.

Além da política neoliberal praticada pelo imperialismo dos EUA, sofremos uma ação neocolonialista brutal, com a “elite nacional” sendo subornada e praticando a corrupção. Este fato foi evidenciado no processo de privatização, tendo boa parte dos recursos sido desviada para o “caixa 2” das campanhas eleitorais de 1998, mantendo FHC no governo.

Outro objeto de controle da nação foi a dívida pública. Com o aumento dos juros para conter a inflação, os novos financiamentos recebidos do FMI aumentaram em muito as dívidas externa e interna, ampliando a dependência do Brasil ao capital financeiro dos EUA. A abertura financeira ocasionou ainda o aumento da dívida interna, pois era extremamente favorável para o capital financeiro especular com a alta de juros (a taxa Selic atingiu 45,67% ao ano, em 1997), com controle do câmbio e livre movimentação de capitais.

Resumindo: ocorria uma espoliação financeira terrível devido à política de total submissão às ordens do dito “Consenso de Washington” praticada pelo governo brasileiro.

Essa abertura gerou também a quebra de milhares de empresas nacionais. As pequenas e médias empresas foram as mais atingidas, mas também grandes empresas foram à falência, iniciando o processo de desindustrialização nacional. Porém, um setor com maior acúmulo de capital, a grande burguesia interna, que fez o acordo com a burguesia estadunidense, teve lucros crescentes e caminhou para expandir seus negócios para o exterior. Setores como o do agronegócio, da construção civil e dos frigoríficos, tornaram-se grandes empresas internacionais e, a partir desse acordo, passaram a expandir-se para a região do Mercosul.

Outros setores foram se associando ao capital estrangeiro, seja na aquisição das importantes empresas estatais que foram privatizadas (setores de minério, siderúrgico, energia, etc.) ou de indústrias e serviços privados para o investimento dos capitais internacionais. Tornaram-se, assim, um setor submisso ao capital internacional e aos ditames da Organização Mundial do Comércio (OMC).

Entre os anos de 2003 a 2010, vivenciamos o Governo Lula e, de 2011 a meados de 2016, o Governo Dilma. Foi um período de hegemonia petista, considerado por alguns como desenvolvimentista ou neodesenvolvimentista, mas teve como base a diversificação da dependência nacional, principalmente em relação ao crescimento das exportações para a China, pautado também pelo investimento público feito nas empresas públicas e privadas, e pela ampliação do consumo da população com base numa grande oferta de crédito.

Esse processo de consumo levou a um relativo desenvolvimento da indústria naval, da construção civil, do agronegócio e da pecuária, propiciando o crescimento do lucro da grande burguesia e do capital financeiro. Porém, sendo um desenvolvimento com base no crescente endividamento e submetido aos interesses da grande burguesia nacional e mundial, terminou por esgotar-se com o aprofundamento da crise do capitalismo mundial.

Na verdade, o governo praticou uma política neodesenvolvimentista, mas manteve a hegemonia do capital financeiro, aprovando leis em seu benefício, como a lei de garantia de empréstimos com descontos em folha. A “Carta aos Brasileiros”, no início do primeiro mandato de Lula, foi, no fundamental, uma mensagem ao mercado financeiro internacional em que o presidente se comprometia a manter todos os acordos anteriores, não mexer no processo das privatizações, manter o controle da inflação, garantir o pagamento da dívida pública com altos juros e ampliar seus benefícios. Isso significou, na prática, a manutenção da política neoliberal.

Além de não ter revogado nenhuma das corruptas privatizações do Governo FHC, o PT realizou novas: privatizou portos, aeroportos e rodovias, além de fazer leilões de campos de petróleo para empresas estrangeiras. Porém, com o pré-sal (considerado o bilhete premiado), alterou o regime de exploração, mantendo os leilões em outros termos. Assim, a Petrobras foi um poderoso instrumento para desenvolver a política neodesenvolvimentista, promovendo investimentos em refinarias e alavancando a indústria naval brasileira e a construção civil. No entanto, o PT não reverteu a abertura de capital da Petrobras e esta permaneceu influenciada pesadamente pelos acionistas internacionais e pelo mercado.

A crise da era petista se iniciou em 2014, no final do primeiro Governo Dilma. A crise econômica chegou ao Brasil e ficou evidente que a política neodesenvolvimentista não conseguiu resolver os problemas estruturais do país, principalmente por não suspender o pagamento dos juros da dívida pública e manter a espoliação do capital financeiro e a dependência em relação ao agronegócio. Por outro lado, a relação com a China, que trouxe a ampliação da venda de commodities a níveis altos e a abertura para importação de produtos de toda ordem, gerou uma maior desindustrialização e dependência do setor externo. Essa troca desigual trouxe enormes benefícios para a grande burguesia do agronegócio, da mineração, da pecuária, da construção civil, etc., mas, como sempre, bastou uma oscilação do mercado internacional para tudo ir abaixo.

Realmente, a crise mundial se aprofundou com reduções seguidas de crescimento da economia chinesa. A China, mesmo possuindo enormes monopólios e rivalizando o comércio internacional com os EUA, não ficou de fora da nova crise de superprodução relativa que dificultou a realização de seu capital mundialmente. É importante notar que essa crise e a disputa de mercados continuam a se desenvolver, ameaçando agora entrar num período mais profundo, como afirmou recentemente a OMC. Sem ter como exportar mais mercadorias e com o superacúmulo de capital, a China avança a financeirização da sua economia.

Vejamos o que se sucedeu de 2007 a 2015. A China chegou a crescer 13%, em 2007, e o mercado de commodities brasileiro teve uma alta considerável. Em 2010, a China teve mais uma queda no seu PIB para 10,4%. Em 2015, relatório do FMI dizia que a China diminuiria o crescimento para 6,8%, a menor taxa anual do país dos últimos 25 anos. A queda da economia brasileira foi quase automática. Dilma Rousseff, que tomou posse para o segundo mandato no dia 1º de janeiro de 2015, permaneceu no posto apenas um ano e meio.

A crise ocasionada pela redução da produção da China fez cair enormemente o preço das commodities e reduziu os lucros da grande burguesia. Sendo pragmática, a burguesia, que há pouco havia colocado o gorro “comunista” na cabeça para adular o imperialismo chinês, pulou do barco e abandonou Dilma, definitivamente afastada do cargo em agosto de 2016.

O impeachment de Dilma teve ainda um elemento geopolítico. Os EUA usaram todo o seu poder para manter o país como sua área de influência, pois, mesmo sabendo que o PT atendia ao capital financeiro e pagava religiosamente a dívida pública, o avanço da crise do capitalismo mundial exigia ainda mais submissão. Vale salientar que a UP, ao mesmo tempo em que estava em processo de construção, esteve nas ruas lutando e denunciando este golpe.

Da mesma maneira, resistindo à quebra da sua hegemonia em nível internacional, os EUA lançaram o Tratado Transpacífico (TPP), que tinha como objetivo enfraquecer a China. Porém, após a eleição de Trump, os EUA se retiraram do TPP e adotaram como tática acordos bilaterais. Depois, abriram uma guerra comercial direta com a China, levantando barreiras às mercadorias chinesas, o que dura até hoje.

Assim, os EUA intervieram no Brasil com o objetivo de retirar o PT do governo para garantirem no poder um aliado subserviente. Financiaram e corromperam o judiciário brasileiro, apoiaram a fabricação da “Operação Lava-Jato”, que levou Lula à cadeia e promoveu a eleição de Bolsonaro. Da mesma maneira, os EUA disputam a Venezuela, com ações de bloqueio econômico e ameaça de invasão, e a Bolívia, onde promoveram um golpe fascista. Aparentemente, existe uma disputa entre forças reformistas liberais e o neoliberalismo fascista no continente, que tem como pano de fundo as disputas entre as duas propostas para conduzir o mundo capitalista.

Também era importante para os EUA ter o Brasil, principal país da América do Sul, como sua área de influência estratégica. Tendo como objetivo central na América Latina a derrubada do Governo Maduro e não obtendo sucesso pela via “pacífica”, intensificou o bloqueio econômico e buscou envolver o Brasil e a Colômbia numa aventura imperialista contra a Venezuela. Trata-se claramente de uma estratégia neocolonialista, que visa a usar tropas de outros países, mas mantendo o objetivo de conquista e ainda lucrando com a guerra.

A China é hoje a segunda potência econômica mundial e busca acumular forças na disputa pela hegemonia no planeta, fato que leva ao acirramento de contradições interimperialistas. Antes apenas exportadora de manufaturas, a China está alcançando o mais elevado grau de tecnologia, uma enorme acumulação de capital e intensificando a fase de exportação de capitais. No momento, essa exportação ocorre por meio do financiamento de infraestrutura nos países em desenvolvimento, investimentos financeiros, compra de títulos do Tesouro estadunidense, empréstimos e investimento direto.

O processo de exportação de capitais parece ser a ponte para uma defesa militar das áreas de influência econômica. Por isso, a China tem hoje o segundo maior gasto militar do planeta e já instala bases militares internacionais, sendo que a primeira foi estabelecida na África. Na América Latina, a China tem grandes investimentos, sendo o principal parceiro comercial de diversos países, inclusive do Brasil. Por isso, investem pesadamente em grandes porta-aviões, jatos, armas nucleares, e já superam os Estados Unidos em alguns aspectos tecnológicos.

Para termos uma noção, o país asiático investiu no Brasil, do ano de 2007 a 2018, US$ 57,9 bilhões em 145 projetos voltados principalmente para o setor de geração, transmissão e distribuição de energia elétrica. Os investimentos, no último ano, foram especialmente diretos, sendo 50% realizados em empresas construídas a partir do zero. Mas 42% foram investimentos em fusões e aquisições. Segundo o embaixador da China no Brasil, Yang Wanming, a China está aumentando a abertura do setor financeiro, de serviços, da agricultura, mineração e manufatura. Estima-se que o investimento chinês no próximo ano ultrapasse os US$ 10 bilhões.

A China mantém os investimentos mesmo no Governo Bolsonaro e, embora reaja às declarações do filho dele de forma dura, o pragmatismo do capitalismo chinês projeta grandes investimentos nas áreas de a) energia, da ordem de R$ 24,7 bilhões em quatro projetos (hidroelétrica, termonuclear e transmissão); b) ferrovias, R$ 29,1 bilhões em quatro projetos (2.800 km); c) óleo e gás, R$ 117,5 bilhões em quatro projetos; d) portos, com R$ 5,9 bilhões em 16 projetos; e) aeroportos, R$ 2,1 bilhões em dois projetos.

Por outro lado, embora Trump afirme que apoia Bolsonaro e ambos troquem elogios ideológicos em público, os EUA não fazem nada do ponto de vista financeiro para apoiar o governo brasileiro. O investimento dos EUA no Brasil foi pequeno em 2019: o valor foi de US$ 2,2 bilhões, menor que o de 2017, quando o montante correspondeu a US$ 2,9 bilhões. Os compromissos firmados se restringiram a acordos antinacionais e militares, como a entrega da Base Espacial de Alcântara, no Maranhão, e um acordo que transforma o Brasil numa força auxiliar do Comando Sul dos EUA, tornando-se um aliado extrarregional da OTAN. Ou seja, um acordo militar subserviente, que coloca o Brasil como mais uma base de operação militar dos EUA na região.

Como vemos, Bolsonaro segue cegamente o imperialismo norte-americano, pois, como fascista que é, em um país de economia altamente dependente e submissa como é o Brasil, seguirá a linha fascista de Trump para apoiar-se internacionalmente no império dos EUA. Bolsonaro é um representante da grande burguesia[1] e dos militares fascistas, que se declaram abertamente submissos ao capital estadunidense, não possuindo sequer um verniz de nacionalismo.

2 – Desenvolver a consciência das massas populares, aumentar o isolamento de Bolsonaro e criar as condições para derrubar o governo

O 8 de março foi a última grande manifestação nacional antes da pandemia. Foto: A Verdade

Diante da crise do coronavírus e da projeção de uma crise econômica mais profunda nos próximos meses, setores da própria burguesia (como evidenciou editorial recente do Financial Times) falam que os governos devem ajudar a economia promovendo investimentos e renda para os mais pobres, ou seja, praticar uma política antiliberal para ajudar a cobrir os prejuízos da própria burguesia. Bolsonaro, no entanto, insiste em manter o arrocho salarial, cortar salário dos servidores e seguir a retirada de direitos a ferro e fogo. Assim, quer ser mais realista que o rei e promover a política neoliberal dos banqueiros e do capital financeiro estadunidense a todo custo.

Por tudo que fez desde o início do governo, como retirada de direitos dos trabalhadores, congelamento dos salários, desemprego e venda do patrimônio público, Bolsonaro tem um enorme desgaste, que tende a crescer com o aprofundamento da crise do coronavírus e a demissão de Luiz Henrique Mandetta do Ministério da Saúde. As mortes que se multiplicam evidenciam que a retirada dos recursos públicos da saúde foi um crime de lesa-humanidade. Também a insistência de Bolsonaro contra o isolamento social e de que a Covid-19 é apenas um “resfriadinho” trarão consequências desastrosas para a população. Hoje já temos quase 70% da população contra esse governo.

Porém, não vivemos em uma democracia popular, em que a maioria do povo é que decide. Vivemos debaixo de um governo de fascistas que tem como principais ministros generais da ativa e da reserva. Também é um governo que representa os interesses da grande burguesia, que é uma ínfima minoria da sociedade e, por isso, teme o movimento operário e popular e tende ao fascismo, principalmente em momentos de crise.

Portanto, não devemos subestimar a possibilidade de o atual governo, sob o pretexto de o país viver uma calamidade pública, promover um golpe e decretar um estado de sítio. Para isso, os fascistas não precisam de apoio da maioria da população, basta contar com apoio das Forças Armadas e de uma parcela reduzida da população disposta a ir às ruas nos seus luxuosos carros. Lembremos ainda que o governo dos EUA, aliado de Bolsonaro, pratica uma política fascista que impulsiona correntes desta natureza na Europa e na América Latina.

Em almoço realizado na sede da FIESP, no último dia 03 de fevereiro, para os 250 maiores industriais de São Paulo, com a presença de Bolsonaro, o presidente da entidade, Paulo Skaf, afirmou que “O Brasil não está dando certo. O Brasil já deu certo”, declarando, assim, o apoio da grande burguesia ao fascista. Este apoio é firmado especialmente na política de Paulo Guedes, que promoveu a reforma trabalhista, a reforma da Previdência e dá continuidade, em meio à crise do coronavírus, a propostas como a Carteira de Trabalho Verde e Amarela e a retirada de direitos dos servidores públicos. Assim, o apoio ao fascista está condicionado à agenda de retirada de direitos que assegure a maior extração de mais-valia dos trabalhadores.

O fascista também tem o apoio da Confederação Nacional da Agricultura e Pecuária (CNA), representada por João Martins, que também é parte da minoria dos exploradores e representa a grande burguesia agrária. Em setembro de 2019, momento em que Bolsonaro fez um ridículo discurso na ONU exaltando a ditadura militar de 1964, Martins afirmou que Bolsonaro o representou, fazendo excelente discurso: “Defendeu a soberania nacional, esclareceu equívocos sobre a Amazônia e ressaltou o importante papel do Brasil na produção mundial de alimentos e na preservação do meio ambiente. Também afastou a tese de que o governo está colocando o mundo contra o agro brasileiro, defendendo não apenas o setor, mas toda a nação”.

Vale lembrar que esse foi o momento em que a Amazônia estava em chamas e que o agronegócio foi um dos principais responsáveis por este crime contra a natureza. Mas vejamos que, apesar da reafirmação do apoio da grande burguesia, os meses vão se passando e fica evidente a cada dia que o governo Bolsonaro vem se enfraquecendo e perdendo apoio popular. Porém, será defendido para que fique no poder por essa minoria enquanto for útil para a grande burguesia.

Nesse momento, apresentam-se algumas propostas políticas para retirada de Bolsonaro da presidência. O impeachment é uma delas. No entanto, com um Congresso Nacional altamente reacionário e antipopular como o atual, a única forma de forçar o impeachment seria a realização de grandes manifestações nas ruas. Mas, no momento, devido ao crescimento do número de mortes pela Covid-19, esta possibilidade não é viável. Desse modo, apostar que um Congresso Nacional que aprova leis contra os trabalhadores vai aprovar o impeachment sem o povo nas ruas é ignorar o papel das massas na luta política e propagar ilusões parlamentaristas.

Outra proposta apresentada é apelar para que Bolsonaro, que faz planos para governar 20 anos, renuncie. É como pedir para o diabo virar anjo. Alguns desses setores chegam até mesmo a afirmar que o general Mourão seria um “mal menor”. Esse é o caso do governador do Maranhão, Flávio Dino, do PCdoB: “Claro que Mourão não é do meu campo ideológico. Mas, se Bolsonaro entregar o governo para ele, o Brasil chegará em 2022 em melhores condições”.

Trata-se de um ledo engano e demonstra uma gigantesca ilusão de classes, uma total traição ao povo e sua história. Mourão é um general, representante ainda mais direto dos interesses do setor ultraconservador e fascista das Forças Armadas. Como Bolsonaro, Mourão defende a tortura, tenta falsificar a história escondendo os crimes cometidos pelas Forças Armadas e pela grande burguesia durante a Ditadura Militar, sendo, portanto, um defensor do aumento da repressão contra o povo e a classe trabalhadora.

Dessa maneira, nossa tática de aprofundar o desgaste deste governo, manter e impulsionar a palavra de ordem “FORA BOLSONARO! POR UM GOVERNO POPULAR!” é, sem dúvida, a mais correta. Primeiro, porque é a palavra de ordem que está na boca do povo. Foi gritada por milhares de mulheres de todas as correntes políticas no 8 de março, sendo esta a última manifestação nacional contra o fascismo. Segundo, taticamente, no momento de avanço da pandemia do coronavírus em que nos encontramos, devemos ter como principal atuação a solidariedade aos trabalhadores e trabalhadoras para enfrentar essa barbárie nas periferias e denunciar o caráter antidemocrático e antipopular do governo. Terceiro, devemos ampliar os panelaços nas periferias, sendo esta uma forma de protesto importante, criada no fogo da batalha e capaz de desgastar o governo, dialogando com a consciência da classe trabalhadora, dizendo que o governo com sua política aumenta a fome e a miséria e só governa em prol da classe rica e dos EUA.

Assim, prepararemos o terreno para derrubar o Governo Bolsonaro pelas mãos do povo e fortaleceremos uma alternativa popular para o desfecho dessa crise, qual seja, a construção de um poder popular e do socialismo, única saída verdadeira para termos um país livre e independente. Da mesma forma, romperemos com as ilusões do reformismo e da pequena burguesia de que derrotarão o fascismo no âmbito institucional promovendo um impeachment ou mesmo pedindo, por favor, para que Bolsonaro renuncie.

3 – Derrotar o imperialismo capitalista é uma tarefa fundamental

Solidariedade internacionalista a Cuba e à Venezuela. Foto: G1

Precisamos ter a consciência de que enfrentamos o fascismo internacionalmente. Por isso, a classe trabalhadora, em nível mundial, é nossa principal aliada na luta contra os imperialismos e pelo socialismo. Não basta levantar a bandeira contra a política neoliberal e passar a defender o neodesenvolvimentismo, pois o capitalismo é brutal em todas suas formas e tem como único objetivo despejar a crise nas costas da classe trabalhadora.

O capitalismo desenvolvimentista não é alternativa ao neoliberalismo, pois ambos são exploradores da mais-valia dos trabalhadores. Nosso objetivo deve ser destruir o capitalismo, e não apenas a política neoliberal dos EUA. Os neodesenvolvimentistas cumprem o papel de abrir caminho ao fascismo e são a outra face da moeda do capitalismo.

Prova disso foi o que ocorreu na Segunda Guerra Mundial, quando os EUA e a Inglaterra, tidos como democratas naquele período, deixaram a chama nazifascista bater-se contra a pátria socialista, só dando apoio na Frente Oriental depois de perceberem que a URSS sairia vitoriosa, e com grande chance de que seriam também vítimas do nazismo.

Quem é socialista e comunista tem como principal obrigação defender a classe trabalhadora e defender seus interesses presentes e futuros. Portanto, devemos trabalhar em nível internacional para que a classe trabalhadora não seja levada a uma luta interimperialista, mas que lute por sua libertação, pois, como internacionalistas que somos, fazemos parte do mesmo exército do mundial do proletariado.

Os trabalhadores e o povo da Venezuela estão na linha de tiro do imperialismo estadunidense, portanto, nossa solidariedade aos venezuelanos e nossas ações principais devem ser no sentido de derrotar esse imperialismo fascista e expulsá-lo da América Latina. Apoiamos, como internacionalistas, a classe trabalhadora que luta contra o imperialismo, mas que também luta pelo socialismo. Defendemos que esta classe possa, no processo revolucionário em curso, tomar consciência e declarar o caráter socialista da revolução. Não podemos aceitar sermos instrumento nem do imperialismo dos EUA, nem do imperialismo chinês e russo, uma vez que estes investem financeiramente na Venezuela, visando a mantê-la como área de influência econômica e geopolítica, gerando, de fato, igual dependência e exploração para os trabalhadores.

A revolução socialista é a única forma de derrotar definitivamente o imperialismo e a exploração dos trabalhadores. Essa luta é a luta do presente, atual e estratégica para a classe trabalhadora. Quem pensa o contrário, não faz mais que defender a manutenção da exploração do homem ou considerar este objetivo algo utópico. Para que os trabalhadores possam decidir seu destino e sua autodeterminação é fundamental fazer uma revolução proletária.

Trabalhadores e trabalhadoras de todo o mundo, uni-vos!

Wanderson Pinheiro e Leonardo Péricles,
membros do Diretório Nacional da Unidade Popular (UP)


[1] Apesar das visíveis disputas políticas de Bolsonaro com outros representantes da grande burguesia, como Dória e a Globo, no fundamental, não divergem quando se trata de aumentar a exploração sobre a classe trabalhadora e a retirada de direitos – como vimos no caso da Reforma da Previdência, da PEC dos Gastos e no Pagamento da Dívida Pública, dentre outras medidas antipopulares.

AGITAÇÃO E LUTA NO NOVEMBRO NEGRO REVOLUCIONÁRIO

São Mateus tem colagem lembrando nomes e referências na luta do Povo Negro no Brasil e no Mundo

Foi realizado no bairro do Vila Flávia, São Mateus, Zona Leste de São Paulo, na semana do 20 de Novembro uma ação de colagem de nomes e referências negras na história da luta do povo negro e referências da periferia. Jovens do bairro espalharam nomes de homens e mulheres da luta antiracista como Luis Gama, Marielle Franco, Luisa Mahin, da luta anticapitalista como Angela Davis, Carlos Marighella, além de muitas referências como Emicida, Negotinho, Mano Brown, Mestre Moa, e homenagem a crianças mortas pelo Estado como a menina Ágatha Félix, de 8 anos, morta pela PM do RJ, e do menino Lucas Eduardo, de 14 anos, morto em Santo André pela PM de SP.


O mês de Novembro é um mês de agitação e propaganda sobre a luta do povo negro mas também de reforçar a importância da organização para enfrentar um sistema e um governo que tem aprovado medidas para aumentar o genocídio diretamente, autorizando ainda mais a impunidade da PM, ou indiretamente, privatizando o SUS, que atende em maior parte a população negra, precarizando o trabalho, feito em maior parte pela população negra. Esses e outros fatores que fortalecem ainda mais o racismo estrutural, ferramenta de submissão econômica e cultural do sistema capitalista. Para fazer frente de forma efetiva a quem nos mata e proteger nossa população e juventude negra de forma efetiva, precisamos lembrar nesse mês de Novembro de nos organizar em um movimento popular de porte nacional, mantida pelas forças e recursos do povo e movido pelos interesses da luta da classe trabalhadora no Brasil.

Lucas Nascimento Coordenador Nacional do Movimento de Luta nos Bairros, Vilas e Favelas / MLB SP

Trabalhadores do setor de transporte declaram greve na cidade de Mauá

Foto: Bastidor Político

Durante a manhã dessa sexta-feira (22), Mauá, município do ABC paulista, amanheceu com os ônibus na garagem, e manifestações no terminal central: trabalhadores da Suzantur, transportadora turística privada responsável pelas linhas de ônibus da cidade, declararam greve contra a revogação contínua de direitos.

P. O.*, trabalhador da Suzantur e integrante do turno da tarde, alegou que a mobilização entre os trabalhadores começou quando um motorista não recebeu o depósito do vale salarial, benefício garantido pelo contrato. Contudo, esse fato foi apenas o estopim: os motoristas da Suzantur sofrem com a falta de pagamento dos salários, assédio moral, horas extras compulsórias e expedientes sem pausa para o banheiro no cumprimento das dezenas linhas que a cidade de Mauá possui.

Além da falta de pagamento de salários, recusa do depósito de benefícios, M. Q.*, trabalhador do turno da manhã, declarou ao Jornal A Verdade que as condições de trabalho pioram diante das jornadas extensas. “Cheguei a trabalhar durante vinte dias seguidos. Aqui não tem respeito”.

Apesar do posicionamento da empresa, que caracterizou a paralisação como “indevida”, a greve foi vitoriosa, e garantiu que o depósito do vale salarial ocorresse. Os ônibus voltaram a circular a partir das 14h.

*Os nomes dos trabalhadores que concederam depoimentos ao Jornal A Verdade foram alterados.

Gabriela Torres – Movimento de Mulheres Olga Benário

Bolivianos residentes no Brasil rechaçam golpe de Estado

SÃO PAULO – Neste domingo, 17, milhares de pessoas foram à avenida Paulista, no centro de São Paulo, em solidariedade ao povo boliviano e contra o golpe de Estado sofrido por Evo Morales. O ato foi chamado pelo Comitê Brasileiro de Solidariedade ao Povo Boliviano Contra o Golpe, e contou com a presença de crianças, estudantes e trabalhadores da comunidade boliviana residente, além do apoio de muitos brasileiros.

As bandeiras boliviana e Whipala, símbolo da plurinacionalidade do país e da cidadania dos povos originários, foram firmemente tremuladas por todo o ato. Palavras de ordem também marcaram a manifestação, destacando o repúdio ao golpe de Estado, a resistência popular pela democracia, e denunciando o fascismo promovido por figuras da extrema direita do país, como a senadora (autoproclamada presidente) Jeanine Áñez e o empresário multimilionário Luis Fernando Camacho.

Através de um manifesto, distribuído no ato, o Comitê Brasileiro de Solidariedade ao Povo Boliviano Contra o Golpe afirma: “A luta do povo boliviano contra o golpe, contra Camacho, contra o fascismo, contra o racismo e a extrema direita, é uma luta que deve receber a solidariedade de todas as pessoas e da classe trabalhadora de todo o mundo que defendem as liberdades democráticas.” O manifesto também pontua: “Não reconhecemos como presidente da Bolívia a autoproclamada Jeanine Áñez, uma fraude, assim como Juan Guaidó, o autoproclamado presidente da Venezuela.”

O golpe na Bolívia representa uma ofensiva de setores extrema direita, aliada do imperialismo dos EUA e de grandes grupos empresariais e especuladores do mercado financeiro. Os diversos povos bolivianos que se erguem em defesa da democracia resistem ao golpe há semanas, como os lutadores do Chile, Equador e Haiti, que rechaçam ataques das elites do poder econômico. Com os últimos acontecimentos, desmancham-se as ilusões com o imperialismo, com a conciliação com grandes ricos e exploradores da classe trabalhadora. A real saída para a América Latina, cada vez mais, aponta para o poder popular.

Carol Matos – Movimento Luta de Classes

Grito dos Excluídos leva centenas de pessoas às ruas do ABC paulista

Foto Reinilson Câmara

Na manhã desse sábado, 14, centenas de pessoas tomaram o centro de Santo André para conclamar o Grito dos Excluídos e Excluídas do ABCDMR. O ato começou com um café da manhã coletivo, uma caminhada pela rua principal da cidade terminando com uma homenagem a brasileiros que deram a vida por uma nação mais justa e igualitária. O ato contou com adesão e organização de diversos movimentos sociais, ambientalistas, partidos de esquerda, movimentos populares do campo e da cidade, movimento estudantil, de mulheres, pastorais sociais e religiosas de diferentes matrizes e entidades sindicais.

O Grito dos Excluídos e Excluídas acontece há 25 anos e esse ano ecoou em mais de 200 cidades e em todas as capitais do Brasil. Esse movimento nasceu da necessidade de dar voz ao povo, às minorias e à população historicamente excluída pelo Estado burguês, que segue interesses de banqueiros lucrando com a miséria do nosso povo, deixando em segundo plano direitos básicos como:  saúde, moradia, transporte, trabalho, informação e vida digna.  

Foto Reinilson Câmara

“A vida em primeiro lugar! Este sistema não vale: LUTAMOS POR JUSTIÇA, DIREITOS E LIBERDADE” foi o lema do 25º grito dos excluídos. A marcha em defesa de direitos sociais e da luta contra o desemprego, levantou vários problemas estruturais como encarceramento em massa, genocidio da população negra, feminicídio, transfobia,  lgbtfobia, cortes na educação e a “reforma” da Previdência, promovido pelo governo fascista de Jair Bolsonaro.

Também foi pauta do ato a questão do meio ambiente, por conta do aumento das queimadas, do avanço do desmatamento na Amazônia, dos crimes da Vale em Brumadinho e Mariana, em Minas Gerais. Além disso, foi erguido a bandeira contra o projeto do centro logístico de Paranapiacaba, proposto pelo prefeito de Santo André, Paulo Serra (PSBD), que ameaça uma área de proteção ambiental com importantíssimo valor histórico nacional, turístico, paisagístico e de serviços ambientais como provisão de águas para a Represa Billings.

Por fim, o ato do ABCDMR terminou com homenagens aos verdadeiros heróis da pátria, que lutaram por um país mais justo e igual, por meio de uma intervensão cultural com fotos e palavras de ordem. Nomes como Marielle Franco, índio Galdino , Zumbi dos Palmares, Dandara dos Santos, Milton Santos, Elenira Resende, Carlos Mariguella, Chico Mendes, Carolina Maria de Jesus e Manoel Aleixo foram lembrados e homenageados.

Foto Cadu Machado
Foto Reinilson Câmara

Reinilson Câmara Filho – Unidade Popular pelo Socialismo

147 famílias são despejadas com truculência em Arraial do Cabo – RJ

Foto: Marcela Couri

Na última quinta-feira (15) cerca de 147 famílias foram despejadas numa ação truculenta e violenta promovida pela Polícia Militar do estado do Rio de Janeiro com ordens do governo estadual em Monte Alto, bairro do segundo distrito de Arraial do Cabo na Região dos Lagos. O Movimento de Luta nos Bairros, Vilas e Favelas – MLB esteve presente no local no dia seguinte junto ao Jornal A Verdade para acompanhar a situação das famílias e prestar solidariedade e apoio.
“Foram momentos de terror, eram mais de 40 viaturas, trator, helicóptero, drone, canhão de água, centenas de policiais encapuzados e armados até os dentes. Parecia que estávamos em guerra.” contou uma moradora. Outro morador continuou: “quando os policiais chegaram por volta das 5 horas da manhã, dissemos que tínhamos uma liminar da justiça garantindo que poderíamos ficar ali até que a prefeitura apresentasse uma outra solução de um local decente para essas famílias morarem. O comandante da operação se recusou a ver o nosso documento e tampouco nos deixou ver o documento que ordenava a realização daquela operação. Dali em diante começou o terror, jogaram bomba de gás lacrimogêneo, spray de pimenta, bala de borracha em todos, acertando inclusive grávidas, crianças e idosos sem a menor capacidade de resistência dos moradores. Daí em diante, destruíram nosso sonho. Passaram o trator por cima das 147 casas construídas com muito esforço coletivo por todos nós”.

Foto: Marcela Couri

A justificativa do governo para promover tal barbaridade, é de que aquela área pertence ao Parque Estadual da Costa do Sol e seria área de preservação ambiental. “Aqui só tem trabalhador, não tem bandido não. A gente não invadiu a terra não porque queremos destruir o meio ambiente. Só estamos aqui porque não temos outra opção.” disse uma moradora. Em áreas ao redor do “projeto” (como foi apelidado o local pelas famílias) existe um condomínio enorme, garagem náutica e um outro terreno de milhares de metros quadrados que pertencem à construtora Volendam, que tem carta branca para fazer o que quiser, sem se preocupar com as questões ambientais. “É necessário compatibilizar a preservação ambiental com o direito social do uso da terra. A dignidade da vida humana está prevista na legislação ambiental, e o direito à moradia digna foi reconhecido e implantado como pressuposto para a dignidade da pessoa humana, desde 1948, com a Declaração Universal dos Direitos Humanos e consta na Constituição Federal de 1988”, disse Ana Paula, conselheira do parque e militante da Unidade Popular pelo Socialismo.
Essa é a realidade de cerca de 7,7 milhões de famílias em todo o Brasil, que compõe déficit habitacional em nosso país. São milhões de pessoas que moram em situações precárias, de favor, não tem mais condições de pagar aluguel e se encontram em situação desesperadora. Por outro lado, vemos milhões de imóveis e terrenos que não cumprem nenhuma função social, servindo apenas à especulação para gerar lucro para os ricos donos das grandes construtoras. O grande questionamento que ficamos nesse caso é: por que a Volendam pode explorar e degradar o meio ambiente em grandes proporções no terreno ao lado para obter fabulosos lucros, mas quando as famílias buscam um local pra morar são tratadas com violência pelo estado?

Foto: Marcela Couri

O estado do Rio de Janeiro tem a polícia que mais mata e que mais morre, é onde 5 jovens negros e pobres foram assassinados na última semana sem enquanto iam para a escola, para o trabalho ou apenas se divertir com os amigos. Enquanto nosso sangue escorre pelo chão da favela, o governador anda de helicóptero mirando sua arma na gente. Esse caso é reflexo da política genocida promovida pelo Estado Capitalista, de guerra aos pobres, guerra aos negros e negras.
No “projeto restinga” os moradores respiram resistência, luta e esperança. Muitos dos que não tem pra onde ir, seguem tentando reerguer as construções e sobrevivendo através da solidariedade dos moradores da região que fornecem abrigo em suas próprias casas, doam roupas, alimentos e ajuda. A decisão dos moradores do projeto é de que só vão sair de lá se a prefeitura apresentar uma alternativa digna, “todos aqui tínhamos a nossa casinha, humilde, mas conquistada com muito suor e luta! Não vamos aceitar menos do que isso!” disse um morador durante assembléia realizada.

Foto: Marcela Couri

O Movimento de Luta nos Bairros, Vilas e Favelas – MLB segue acompanhando e prestando apoio a essas famílias. Acreditamos que morar dignamente é um direito humano e que se o Estado Capitalista prioriza os lucros acima da vida, queremos destruir esse Estado e construir no seu lugar um Estado dos trabalhadores, onde prioridade seja a vida digna, com emprego, moradia, educação, saúde, etc. Enquanto morar for um privilégio, seguiremos lutando pela reforma urbana e o socialismo!

Fotos: Marcela Couri

Galeria: combatividade e unidade da oposição marcam Conune 2019

Foto: João Marcio Dias
Foto Jorge Ferreira
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Foto Jorge Ferreira
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João Marcio Dias

Trabalhadores da Educação aprovam Greve Nacional

Foto: Jorge Ferreira/Jornal A Verdade


A Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação (CNTE) realizou a 9º Conferência Nacional de Educação Paulo Freire com o tema “Educação Libertária e Democrática: construindo o movimento pedagógico Latino-Americano” entre os dias 26 a 28 de junho em Curitiba. O objetivo do encontro foi debater os desafios e rumos da educação brasileira, sendo estabelecida greve nacional no dia 13 de agosto contra os retrocessos do governo atual.

Dentre as pautas discutidas, os educadores se debruçaram sobre o Plano Nacional da Educação (PNE), sancionado em 2014 e com validade de 10 anos, com o propósito de direcionar esforços e investimentos para a melhoria do quadro educacional brasileiro. O Plano é composto por 20 metas contemplando todos os níveis educacionais que, apesar de muito promissoras, apenas uma foi cumprida de acordo com o Inep.

Destaca-se a meta 1, que diz respeito a universalização e democratização do ensino básico tendo como finalidade atender 100% das crianças de 4 a 5 anos matriculadas na pré-escola até 2016, além de garantir 50% das crianças de 0 a 3 anos em creche até 2024. Segundo dados do Pnad, apenas 90% das crianças de 4 a 5 anos foram atendidas e somente 1/3 estão em situação de creche. Essa defasagem é vivenciada principalmente nas periferias, onde as filas de espera por vaga nas creches podem levar anos colaborando com a desigualdade enfrentada pelas mulheres na participação no mercado de trabalho.

A estagnação e não cumprimento das metas são resultados dos ataques que o sistema educacional brasileiro sofre constantemente. Prova disso é a emenda constitucional nº 95 implementada pelo governo Temer que congela, durante 20 anos, investimentos públicos direcionados a saúde e educação. Além do corte de 30% das verbas destinadas às universidades e institutos federais, anunciado recentemente pelo ministro da educação. As duas ações fazem parte de um projeto que confronta diretamente as diretrizes do PNE, uma vez que a falta de recurso penaliza o avanço das melhorias no ensino público.

Além disso, a militarização das escolas incentivada por Jair Bolsonaro, visa instituir um sistema onde a censura é peça chave, ferindo a efetivação da gestão democrática de educação proposta pela meta 19 do Plano.  Na mesma linha, o descumprimento se fez presente quando aprovadas as mudanças no “Novo Ensino Médio” pelo Conselho Nacional de Educação, órgão vinculado ao MEC, que libera o ensino a distância totalizando 20 e 30% de carga horária, respectivamente no período diurno e noturno, acentuando ainda mais a defasagem no ensino público.

Essas ações com embasamentos apenas voltados aos interesses capitalistas, sem considerar a realidade do povo brasileiro, são responsáveis por colocar a situação educacional do país em risco. O desleixo com que se é tratado o ensino público foi demonstrado nos últimos dados coletados pelo IBGE, provando que a educação ainda não é para todos. Cerca de 40% da população com mais de 25 anos não chegaram a concluir o ensino básico, e daqueles que concluíram, o maior percentual está entre os brancos (55,5%) ao passo que entre os negros, o número cai substancialmente (40,4%). Considerando que a maior parte da população brasileira é negra, o acesso a educação no Brasil ainda é limitado e desigual pela negligência do governo em promover políticas públicas que incentivem o acesso à todos.

Analisando todo este quadro, os educadores presentes da 9ª Conferência apresentaram um manifesto repudiando as sucessivas contra-reformas liberais no setor educacional e o desmonte das políticas educacionais e sociais que atacam os direitos da população, especialmente da população mais marginalizada (mulheres, negros, índios e LGBTs). Além disso, também criticaram a proposta da Reforma da Previdência e as conseqüências que irá trazer principalmente para as professoras de rede pública, aumentando 10 anos a idade mínima para aposentadoria. Ao final do manifesto, os profissionais conclamam a luta incessante e o compromisso para com a educação, convocando todas as instituições de ensino para uma grande greve geral no dia 13 de agosto.

Diante dessa conjuntura, se fazem necessárias as críticas, a mobilização e organização dos estudantes, trabalhadores e servidores públicos em defesa do ensino de qualidade no país e contra a destruição da aposentadoria, como foram feito nos dias 15 e 30 de maio pela educação, e no dia 14 de junho na Greve Geral que mobilizou categorias ao redor do país e que foram responsáveis pelo fechamento de diversos pontos estratégicos das cidades.

Thais Gasparini
Unidade Popular pelo Socialismo


Seis ex-ministros assinam carta em defesa da Educação: “no atual governo, ela é apresentada como ameaça”

Foto: Jorge Ferreira/Jornal A Verdade

Numa palavra, a educação se tornou a grande esperança, a grande promessa da nacionalidade e da democracia. Com espanto, porém, vemos que, no atual governo, ela é apresentada como ameaça.” – afirmam ex-ministros em carta contra as políticas educacionais do governo Bolsonaro.


Inimigo da Educação, o governo Bolsonaro vem promovendo um verdadeiro sucateamento do ensino público no país. Em abril, através de sua conta no twitter o atual presidente fascista insinuou que os cursos de ciências humanas não mereciam investimentos, adiantando a pretensão de seu governo de cortar verbas do ensino superior. Mesmo com a revolta da população diante de tais alegações, pouco tempo depois, o governo através de seu Ministro da Educação, Abraham Weintraub, anunciou o corte de 30% nas verbas das universidades sem diálogo prévio com a comunidade acadêmica, impactando diretamente o funcionamento dos institutos federais. Na ocasião, o governo alegou que os cortes no ensino superior eram necessários para garantir o investimento na educação básica. Contudo, isso se mostrou como mais uma de suas mentiras contra a população mais pobre, ao estender o corte orçamentário para toda a pasta de educação, incluindo os programas de ensino infantil ao médio.

Frente a essa situação de completo desmonte das políticas educacionais do país, seis ex-ministros de governos anteriores se reuniram em um evento promovido pela Universidade Estadual de São Paulo (USP) e redigiram uma carta aberta em oposição às medidas do governo Bolsonaro. Na carta, José Goldemberg (1991-1992), Murílio Hingel (1992-1995), Cristovam Buarque (2003-2004), Fernando Haddad (2005-2012), Aloizio Mercadante (2012-2014) e Renato Janine Ribeiro (2015), expressaram sua preocupação com “as políticas para a educação adotadas na atual administração”, enfatizando que a magnitude dos cortes promovidos no último período “podem ter efeitos irreversíveis e até fatais”.

De acordo com eles, nessa gestão, a educação deixou de ser vista como prioridade nacional e passou a ser tida como uma ameaça, enfatizando a postura do governo em ignorar especialistas da área atuando de “forma sectária, sem se preocupar com a melhoria da qualidade e da equidade do sistema, para assegurar a igualdade de oportunidade”. Em outras palavras, a carta converge com as denúncias realizadas pelos movimentos sociais e estudantis frente aos ataques de Bolsonaro. Para Beatriz Baria, militante do Movimento Correnteza de São Paulo: “cortar investimentos dos institutos federais e da educação básica, determinar o fim das bolsas para pesquisadores, é mais uma forma desse desgoverno vergonhoso de atacar nosso povo. Somos nós, a juventude pobre, que vai ser impedida de ter uma educação de qualidade, pra encher os bolsos dos grandes grupos privados, que fazem da educação mercadoria, como a Kroton Educacional”.

A carta denuncia ainda a perseguição e a censura impostas pelos governos aos docentes, ressaltando a importância do “respeito à profissão docente, que não pode ser submetida a nenhuma perseguição ideológica […] Convidar os alunos a filmarem os professores, para puni-los, é uma medida que apenas piora a educação, submetendo-a a uma censura inaceitável”. Em outro trecho, reforçam: “a autonomia universitária é uma conquista que deve ser mantida para garantir a liberdade e qualidade na pesquisa, formação e extensão”. 

Ao fim do texto, os ex-ministros propõem a “formação de uma ampla frente em defesa da educação” e anunciam a criação de um “Observatório da Educação Brasileira dos ex-ministros da Educação, que se coloca à disposição para dialogar com a comunidade acadêmica e científica, sociedade e entidades representativas da educação, com parlamentares e gestores, sempre na perspectiva de aprimorar a qualidade da política educacional”.

Jady Oliveira
União da Juventude Rebelião


[1] Kroton Educacional: a maior empresa privada do mundo no ramo da educação, um conglomerado que monopoliza e atua em função da privatização do ensino privado, em detrimento da educação pública, gratuita e acessível.

Deputada Talíria Petrone é ameaçada de morte e tem a proteção negada pelo governador do Rio

Foto: Ricardo Albertini


RIO DE JANEIRO Um ano após a execução da Vereadora Marielle Franco pela milícia, a deputada federal Talíria Petrone (PSOL-RJ) – assim como Marielle uma política negra, de periferia e LGBT – teve a solicitação de escolta negligenciada pela omissão do Governador Wilson Witzel, do Partido Social Cristão, ao negar o pedido de proteção à vida da deputada que foi realizados após receber ameaças de morte.

Talíria recebe ameaças de morte desde 2016 quando foi eleita vereadora em Niterói/RJ. As ameaças vêm pelas redes sociais ou até por telefonemas feitos à deputada ou a sede de seu partido. A pouco mais de dois meses a polícia federal alertou ter encontrado na dark web informações sobre o planejamento de um atentado à vida da deputada.

Graças à investigação da PF, Talíria está sendo escoltada em Brasília, mas nas vezes em que retorna a Niterói, cidade na qual foi eleita e também onde recebeu as ameaças, anda desprotegida pois a solicitação enviada pelo presidente da Câmara dos deputados, Rodrigo Maia (DEM), foi negada pelo Governador Witzel, que nem sequer enviou uma resposta a Câmara.

Em abril deste ano a deputada foi chamada de “verme” pelo líder da bancada ruralista, Alceu Moreira (MDB-RS), durante uma audiência pública após reações da parlamentar às declarações do também deputado. Recentemente, após as denúncias de ameaças de morte, o filho do presidente, o deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), debochou em seu twitter dizendo que Talíria era hipócrita por se declarar desarmamentista e pedir escolta, alegando que a deputada deveria pedir “iluminação”.

A história da Professora Talíria em muito se confunde com a história de Marielle Franco. Ambas ameaçadas de morte e odiadas pelos conservadores, falsos moralistas e pelos milicianos. O que acontece é que em um país que possui cotas para que as mulheres enfim consigam ocupar o espaço político que é ocupado majoritariamente por homens brancos, héteros e ricos, existir duas mulheres negras, periféricas e LGBTs, que foram eleitas como as vereadoras mais votadas em suas respectivas cidades na primeira eleição que concorreram, é inaceitável.

É um atentado à democracia o estado do RJ não exercer seu papel e zelar pela vida de uma deputada que é ameaçada apenas por lutar pelos direitos das mulheres, dos negros, dos pobres e dos LGBTs. Sabemos as causas da omissão do governador reacionário Wilson Witzel, também sabemos de qual lado está o filho do presidente e amigo da milícia, Eduardo Bolsonaro, que ironiza as ameaças contra Taliria assim como ironizava as denúncias feitas por Marielle.

Mas não podemos esperar a morte de ninguém mais, muito menos de alguém que luta para defender o direito à vida de milhões de pessoas abandonadas pelo estado e massacradas pelo sistema capitalista.


Michel Castro
União da Juventude Rebelião

Projeto Anticrime de Moro é um tribunal de rua do fascismo

Entre as principais mudanças apresentadas pelo governo Jair Bolsonaro para a segurança publica do país, está o projeto de Lei Anticrime divulgado pelo Ministro de Justiça e Segurança Publica Sérgio Moro.

Exército brasileiro assassina jovens negros inocentes na intervenção do RJ

O projeto que prevê alterações de 14 artigos do Código Penal e do Código Eleitoral não demonstra nenhuma novidade sobre as causas dos crimes, muito pelo contrário, coloca no centro da política de segurança pública o método da punição, única e exclusivamente como forma de redução da criminalidade.

Hoje já existe uma diferenciação dos procedimentos de casos de homicídios envolvendo policiais em serviço. Por exemplo: quando um policial comete um homicídio e alega legitima defesa, o crime é juridicamente justificado como “morte por intervenção de agente de Estado”. Esse procedimento hoje é conhecido como “Autos de Resistência”, e é responsável por ser o principal argumento legal para justificar os assassinatos produzidos pela policia, quase sempre sendo o processo arquivado. Porém, caso uma pessoa comum mate e alegue legítima defesa, haverá um inquérito policial para apuração do homicídio, que na maior parte dos casos termina em reclusão, ou seja, pena de seis a vinte anos de prisão.

Nesse sentido, um dos principais eixos do pacote apresentado está a excludente de ilicitude, nesse caso, mesmo que o agente policial tenha praticado um homicídio, ele não será considerado um criminoso, excluindo o ato ilícito. O Código Penal prevê três situações em que se aplica a excludente de ilicitude: estado de necessidade, legitima defesa e o estrito cumprimento do dever legal. Uma das propostas que está no pacote de Sergio Moro é de flexibilização e ampliação da excludente de ilicitude em favor de policiais.

Em situações em que a polícia precisa executar uma prisão em flagrante, o ordenamento jurídico brasileiro autoriza o policial em ação á exercer o estrito cumprimento do dever legal que é prender. Atualmente no Brasil, não existe o dever legal de matar. Não se justifica seguir atirando até causar a morte. Com a mudança proposta pelo pacote, o texto de lei deixa claro: caso os policiais durante o trabalho estiverem em situações de medo, surpresa ou violenta emoção, e vierem a matar ou ferir alguém não poderão serem punidos. Utilizando do pretexto da legitima defesa, o projeto formaliza e amplia a violência e  os assassinatos praticados pela policia.

Um levantamento feito pelo Núcleo de Estudos da Violência da USP e o Fórum Brasileiro de Segurança Pública, mostrou que houve um aumento de 18% de pessoas mortas por policiais de 2017 para 2018 (5.225 para 6.160 mortes ao ano), ressaltando que essas mortes são as que estão registradas no balanço anual. O ultimo relatório produzido pela Anistia Internacional demonstrou que as forças policiais brasileiras são as que mais matam no mundo.

A redução da violência urbana foi destaque nas eleições de 2018, demonstrando uma enorme preocupação da população com a segurança publica. Lembrando que essa era uma das principais promessas e bandeiras das campanhas de candidatos, como Bolsonaro, João Dória, Wilson Witzel. E com razão o povo, principalmente mais pobre tem clamado por justiça e segurança. Os princípios constitucionais, em especial a dignidade humana, têm sido violados e o brasileiro sofre no seu cotidiano.

Herança da ditadura

“Força auxiliar e reserva do Exército” a Polícia Militar foi criada em 1969 sob decreto-lei em pleno período de ditadura. Desde então e mesmo após a democratização do Brasil em 1988, esse braço violento do Estado continua atuando como há mais de 50 anos. Mesmo sendo hoje uma força à disposição do Estado, a submissão é ao Exército autoritário brasileiro. Surge uma antinomia, pois ao mesmo tempo em que polícia vem de polis, do grego, cidadão, cidadania,militar vem do latim miles, milícia. Entende-se inclusive porque a militarização vê no indivíduo civil um inimigo. O modo operante despreparado da polícia dá-se através do excesso de violência, truculência e arbitrariedades. A tortura, por exemplo, é uma prática cotidiana, comum e normal nas ações policiais na periferia adentro.

Com o projeto de lei de Moro haverá um aumento de forças paramilitares. Esse cenário aprofunda a impunidade policial e é a semente para o nascimento de milícias, que no atualmente é o grupo que mais oferece risco a segurança e vida do povo brasileiro, inclusive com comprovações já apresentadas pela investigação do envolvimento direto desse grupo de extermínio com o brutal assassinato da ex vereadora e militante Marielle Franco. 

            O Conselho de Direitos Humanos da ONU solicitou que o Brasil despendesse maiores esforços para combater a violência e projetar um fim à Polícia Militar, responsável por milhares de assassinatos. Tudo isso fica muito claro quando vemos policiais formarem grupos de extermínios e esquadrões da morte (criados no regime militar), carregados de  discurso de ódio, agindo de forma criminosa, truculenta e autoritária. É urgente e necessário por fim a militarização da polícia, e pensarmos um outro modelo de segurança pública para não mais vivermos o cotidiano da barbárie e da escravidão, pois os chicotes de ontem são as balas dos fuzis dos opressores de hoje!

Lucas J Barbosa, MLB – São Paulo

O racismo como ideologia de dominação e os 80 tiros em nós

O fuzilamento de Evaldo dos Santos, músico, num bairro periférico do Rio de Janeiro enquanto passeava com sua família na tarde de um domingo, representa o avanço do estado fascista que já não se importa em manter a aparência de um estado democrático de direito.

Ato na paulista em homenagem a Evaldo, músico assassinado pelo exército com 80 tiros. Foto: Jorge Ferreira

Com indignação o povo assistiu o presidente da república, 6 dias após o assassinato, vir à público se manifestar sobre o caso, limitando-se a defender a instituição que disparou 80 tiros e ceifou não só a vida de Evaldo, mas também de Luciano Macedo, catador de recicláveis,  que tentou ajudar a família a sair do veículo no momento da ação criminosa. Segundo o presidente: “O exército não matou ninguém!” Entretanto, é equivocado pensar que essa barbárie é consequência exclusiva da chegada da extrema direita ao Poder, muito menos apenas de resquícios da ditadura militar. Na verdade o estado policialesco nunca deixou de estar presente nas periferias do Brasil.

No mundo, o 1% da população mais rica tem mais riqueza que os outros 99% somados. Os 6 homens mais ricos do mundo tem mais posses do que a metade mais pobre, mais de 3,5 bilhões de pessoas. Esse abismo social é também a realidade do Brasil, que tem uma das maiores desigualdades do mundo. Neese contexto, ao povo negro é reservado apenas os piores postos de trabalho, os piores salários e os barracos das grandes favelas. A imensa maioria da população negra é extremamente pobre e vive sob todas as formas de vulnerabilidade.

O desemprego é enorme e o varejo do tráfico termina sendo um desses postos de trabalho reservados especialmente para a juventude negra das periferias. Mesmo cumprindo uma tarefa desse negócio que gera enormes lucros para a burguesia, que utiliza seus bancospra lavar esse dinheiro, e por estar na ponta, mais visível e sustentando fuzis nas mãos, os jovens negros são vítimas de um discurso de criminalização e de uma política repressiva e genocida que assassina 66 mil pessoas por ano no Brasil, um verdadeiro índice de guerra civil. 78% desses jovens são assassinados por conta da sua cor da pele, por serem negros.

É que cada tempo histórico tem suas perguntas sobre o passado, pois cada conjuntura produz uma história para justificar o seu presente.” É assim que Marielle Franco começa a demonstrar em sua tese de mestrado a importância de compreendermos nosso passado recente  e o processo de implementação do neoliberalismo que o Brasil passou nas últimas décadas. Apesar do estudo da vereadora assassinada se concentrar na política de segurança pública do estado do Rio de Janeiro através das Unidade de Polícia Pacificadora, traz também importantes esclarecimentos sobre as causas do genocídio de negros e negras no país todo.

É verdade que desde a formação do estado brasileiro há uma política de extermínio daqueles que foram escravizados,  e desde então diferentes  ideologias foram utilizadas para perpetuar o poder na mão de uma minoria enquanto o povo dispõe de uma vida miserável. Mas também é urgente compreender as engrenagens da fase atual do capitalismo para traçarmos estratégias para a sua destruição. Nesse sentido que Marielle desmascara o estado penal vigente nas periferias como estrutura central do neoliberalismo no Brasil.

Nessa fase da crise do capitalismo, onde a elite econômica tenta enfiar goela abaixo reformas para aumentar seus lucros, mesmo que às custas da retirada de direitos trabalhistas e sociais, é necessário uma escalada no estado penal para conter aqueles que se encontram “excluídos” dessa sociedade. É por isso que na medida que os governantes avançam na destruição de direitos sociais,  aumenta-se a repressão nas periferias, pois esses são os territórios tidos como inimigos do estado, que serve exclusivamente aos interesses da classe dominante.

A administração pública por sua vez, concentra  esforços em passar a impressão  que esse modelo de segurança pública, que invade casas, mata e tortura, se legitima em nome da proteção de toda sociedade. Essa é a tática da “guerra às drogas”, justificar o genocídio e o encarceramento em massa como necessário para manter a ordem.

Para tanto, o estado exerce papel crucial na manutenção do projeto de dominação. Se nos bairros ditos “nobres”, o estado se faz presente nas ruas bem asfaltadas, nos parques bem arborizados, e em todo conjunto de políticas que promovem o acesso à cidade, nas periferias esse mesmo estado se faz presente exclusivamente através das forças militares, seja pela polícia, pelo exército, ou mesmo por grupos milicianos.

Essa guerra aos pobres, transvestida de pacificação,  não se justifica apenas com o sadismo de uma elite branca, mas sim por interesses econômicos. O estado, representante da burguesia, não contente com as reformas neoliberais, também está comprometido com o lucro dos megatraficantes, dos milicianos, da indústria armamentista, da especulação imobiliária, etc.

Justamente por incomodar aqueles que lucram com o extermínio da população negra e escancarar a as engrenagens desse sistema que Marielle Franco foi brutalmente assassinada.

Um ano depois de sua morte, os 80 tiros disparados pelo exército no carro de Evaldo e sua família nos traz à tona a urgência de apontar as raízes desse projeto genocida. Trata-se do modus operandi de um estado neoliberal, que manteve as mesmas práticas inclusive nos governos ditos progressistas,  período em que o encarceramento mais do que dobrou. Se no Brasil o capitalismo é forjado no extermínio da população da periferia, que na sua maioria são negros e negras, o fim desse extermínio também depende da superação desse sistema perverso.

O RACISMO COMO IDEOLOGIA DE DOMINAÇÃO

Segundo Clóvis Moura, “o racismo não é uma conclusão tirada dos dados da ciência, de acordo com pesquisas de laboratório que comprovem a superioridade de um grupo étnico sobre outro. O racismo é uma ideologia deliberadamente montada para justificar a dominação de um grupo sobre outro. É, portanto, uuma ideologia de dominação.

Acontece que após a abolição da escravidão no Brasil, a elite do país determinada a manter seu projeto de domínio, costurou outras roupagens para sustentar o novo regime econômico. Nesse momento ganha destaque a  concepção eugênica que correspondia a uma política de embranquecimento da população e a uma teorização sobre características de personalidade inerentes às raças.

Dentre elas, se destaca o papel do direito penal na formação do imaginário popular do negro como figura naturalmente criminosa. Ainda no período da primeira república, o código penal tipificava como crime o que ficou conhecido como lei da vadiagem. Num contexto de séculos de escravidão, foi como prender as pessoas simplesmente por elas serem negras. Essa política foi aprimorada ao longos das décadas, mas sem nunca perder o viés ideológico de dominação sobre os corpos marginalizados.

A Liga de Higiene Mental, por exemplo, braço do nazismo e do arianismo no Brasil, se destacou como defensora “científica” dessa tese e defendia, entre outras bandeiras, salários eugênicos (quanto mais clara a cor da pele, maior deveria ser o salário), recompensa para famílias que procriassem seres “superiores”, punição para os “inferiores”.

O higienismo social presente na segregação territorial até os dias de hoje, é oriundo das políticas da burguesia desde a formação da nação brasileira. A verdade é que esse país foi constituído sob uma ideologia burguesa e racista, que nega ao povo sua própria história, como estratégia política para perpetuar uma estrutura excludente.

Sendo assim, torna-se uma ingenuidade combater o racismo apenas através do viés acadêmico ou estritamente científico, muito embora não possamos de maneira nenhuma, negar o combate também nesse terreno.  Mas a verdade é que a boa e velha luta de classes ainda é a forma mais eficiente de enfrentar o racismo no Brasil. Como afirma Clóvis Moura, “a questão racial é essencialmente política e não apenas científica.”

Para superarmos o sistema político existente, o capitalismo, será necessário travarmos as lutas pelos interesses imediatos da classe trabalhadora, composta na sua maioria por mulheres e negros. Mas isso não bastará. Será necessário, e esse é o nosso desafio, apresentar outro modelo de sociedade que seja capaz de substituir a engrenagem capitalista.

Um sistema político e social que dê conta de distribuir toda a riqueza socialmente produzida, pondo fim à propriedade privada dos meios de produção e a todas as desigualdades sociais existentes na atualidade. Esse sistema, essa sociedade, tem nome e chama-se Socialismo.

Jorge Ferreira e Queops Damasceno, São Paulo

Tentativa de golpe militar na Venezuela é patrocinado pelos EUA

População venezuelana vai às ruas e impede o golpe orquestrado pelos EUA

Uma tentativa de golpe militar foi realizada na Venezuela na manhã desta terça feira, 30/04, como o intento de derrubar o governo legítimo de Nícolas Maduro. Esta ação contou com o apoio incondicional dos EUA que propicia todo auxílio aos golpistas que são, na verdade, subservientes do imperialismo e realizam um discurso de apoio à “Liberdade” no país, mas com o intuito de fazer o roubo das riquezas nacionais.

Logo pela manhã Juan Guaidó, o promotor principal do golpe, realizou pronunciamentos anunciando a tomada de uma base militar localizada na região leste de Caracas, a Base Aérea La Carlota. Também propalava a obtenção de apoio militar das forças armadas, buscando causar um levantamento em outras bases militares.  Guaidó pronunciou-se ao lado de Leopoldo Lopez que estava preso desde 6 de agosto de 2017, cumprindo pena de quase 14 anos, por praticar atos violentos.  O “Autoproclamado” presidente, com apoio dos EUA, busca usurpar o poder sem possuir o voto democrático do povo, por meio de uma ação violenta contra a maioria dos venezuelanos.

No entanto, oficialmente, o presidente da Assembleia Nacional Constituinte Diosdado Cabello, desmentiu a tomada da Base Aérea e disse que apenas um reduzido grupo militar se sublevou para promover um golpe de Estado. “Não foi vulnerabilizada nenhuma instalação militar no país, eles estão nas ruas no Distribuidor Altamira e nós estamos dirigindo as operações desde a Base Aérea La Carlota”, afirmou.

Maduro também se pronunciou nas redes sociais afirmando que conta com o apoio e lealdade do comando do exército, que diz está comprometido com a constituição e a soberania nacional. Precisa no entanto estar mais preocupado com o apoio popular permanente nesse processo, visto que as ações da direita tentam alterar a correlação de forças também nas massas, mas ao que tudo indica sem sucesso até o presente momento.

Mike Pompeo, o secretário de Estado norte-americano, afirmou em um comunicado “hoje, o presidente [autoproclamado] interino Juan Guaidó anunciou o início da Operação Liberdade. O governo dos Estados Unidos apoia integralmente o povo da Venezuela em sua busca pela liberdade e pela democracia. A democracia não pode ser derrotada”. Destila assim seu apoio incondicional as ações militares para derrubar o governo e mostra disposição de intervir nos assuntos internos da Venezuela.

Ernesto Araújo, ministro de relações exteriores do Brasil, se reuniu em Washington, no dia 29, com Mike Pompeo e demonstrou uma total submissão ao governo dos EUA fazendo coro a politica norte-americana “O Brasil apoia o processo de transição democrática e espera que os militares venezuelanos sejam parte desse processo de transição democrática”, declarou. Logo Bolsonaro também se pronunciou no Twitter “O Brasil está ao lado do povo da Venezuela, do presidente Juan Guaidó e da liberdade dos venezuelanos”. É uma vergonha como copiam a linguagem da farsa americana sem o mínimo de pudor tratando a palavra “liberdade” como um mantra para encobrir a tentativa de um golpe militar absurdo.

As declarações conjuntas do Brasil com os EUA nesse processo devem ser repudiadas pelo povo brasileiro, pois não podemos ser bucha de canhão para o imperialismo. Os interesses do Brasil estão muito mais ligados a uma política de relações internacionais pacíficas, de integração latino americana baseada na colaboração entre os países iguais, na solidariedade e no internacionalismo proletário. O povo brasileiro sempre foi a favou da soberania das nações e o princípio da auto-determinação, onde cabe a cada povo decidir seus destinos.

Todo apoio ao povo venezuelano! Abaixo o imperialismo!

Wanderson Pinheiro, São Paulo

“A Unidade Popular veio para ficar”

A Unidade Popular (UP), partido político em formação, é fruto da iniciativa de centenas de ativistas dos movimentos populares, militantes comunistas, estudantes e professores e da necessidade de construir uma alternativa de esquerda revolucionária ao atual cenário nacional.  Após um ano e meio de muito trabalho, a campanha pela legalização da UP entra em sua reta final. Para falar sobre as novas tarefas da militância, A Verdade entrevistou Leonardo Péricles e Fernanda Lopes, membros da Direção Nacional da UP, que afirmam que para o país sair desta crise, precisa passar por uma profunda transformação econômica e social que dê vida digna para o nosso povo, e, por isso “a UP luta pelo poder popular e pelo socialismo”.

Da Redação

 

A Verdade – Por que a UP foi criada?

Leonardo Péricles – Houve, nos últimos anos, um verdadeiro esgotamento dos atuais partidos ditos de esquerda. Alguns foram cooptados, tomando o caminho de aliança com as grandes empresas, bancos e empreiteiras. Outros, tentando fazer frente a esta traição, não conseguiram dialogar com a classe trabalhadora. De tão estreitos que são, não conseguem se apresentar como alternativa. O resultado é que, hoje, poucos empunham a bandeira de luta por mudanças estruturais, ou seja, a luta revolucionária contra o capitalismo, que passa pela mobilização de amplos setores populares, de milhões e milhões de trabalhadores, mulheres e homens, negras e negros, LGBTs, jovens, indígenas, comunidades tradicionais, enfim, a luta da imensa maioria do povo brasileiro.

Esta é uma luta por quebrar os enormes privilégios dos super-ricos, da burguesia brasileira. É, portanto, uma luta muito dura e nós, da UP, não consideramos que ela possa ser feita por um iluminado ou de forma isolada, mas sim no campo da luta de massas, na vida política partidária, dos movimentos, e lideranças que se reúnem em torno das ideias populares. Daí o próprio nome Unidade Popular. Acreditamos que, a partir de um chamado decidido e pautado na força do movimento popular, se incorporarão a este projeto milhões de lutadoras e lutadores. Foi para fazer este chamado que nasceu a UP.

 

Como vocês veem a atual situação do País? Qual a saída para a crise do Brasil?

Fernanda Lopes – O Brasil vive uma grave crise econômica e política que se agrava a cada dia, com vários retrocessos democráticos, perdas de direitos e uma calamidade social. O desemprego já atinge cerca de 24 milhões de pessoas. Hospitais, postos de saúde, escolas e universidades estão abandonados. A violência aumenta e o povo teme por sua vida todos os dias, especialmente as mulheres. O ilegítimo governo de Michel Temer, que só tem olhos para as classes ricas, aprovou a chamada “PEC dos Gastos”, congelando por 20 anos os investimentos públicos em saúde, educação e moradia. Aprovou, em agosto de 2017, a Reforma Trabalhista, que retirou direitos históricos dos trabalhadores conquistados em décadas de luta, e ainda quer aprovar a Reforma da Previdência para que trabalhadores e trabalhadoras não se aposentem mais. Para sair desta crise, o País precisa passar por profundas mudanças. Somente uma profunda transformação econômica e social que dê vida digna para o nosso povo, emprego, saúde e educação de qualidade, moradia, transporte e terra para os camponeses resolverá os problemas atuais vividos pelo povo. Por isso a UP luta pelo poder popular e pelo socialismo.

Leonardo Péricles – Devemos lembrar também que vivemos uma das mais profundas crises econômicas da história do capitalismo, desde 2008, e que se manifestou com mais força no Brasil a partir de 2013. A solução para esta crise é pôr fim a um sistema que protege uma minoria de ricos. E o programa para isso já é conhecido: taxar as grandes fortunas; impedir a especulação imobiliária e garantir a função social do solo; suspender o pagamento da dívida pública, que nos suga quase metade do orçamento federal; exigir o pagamento dos devedores da dívida ativa dos municípios e estados; impedir a sonegação de impostos pelas grandes empresas, inclusive dos devedores da Previdência; reduzir a jornada de trabalho sem redução do salário para gerar mais empregos. Desta forma, bilhões de reais serão arrecadados e serão suficientes para resolver os graves problemas sociais que nosso país vive. Mas, ao lado de todas estas lutas, não devemos deixar de disputar a maioria da população para um projeto ainda mais profundo de transformações sociais, que é a derrubada do capitalismo e a implantação do socialismo, em que os meios de produção das riquezas estejam nas mãos da classe trabalhadora e possam servir para a vida, e não para o lucro.

Nenhum dos atuais partidos defende essas propostas?

Fernanda – A maioria dos atuais partidos está pautada pela institucionalidade, por um respeito sagrado aos limites impostos pela burguesia, ao invés de se pautar pela necessidade de superação do capitalismo. E isso exige muito enfrentamento, rupturas, uma verdadeira revolução política. Um dos papéis que a UP se propõe a fazer é demonstrar que os partidos dos ricos enganam o povo a todo momento. Procuramos demonstrar pelo discurso e pela prática que nem todos os que fazem política são iguais, que há uma política corrupta e burguesa, mas que existem também políticos revolucionários e uma política proletária. Não se trata de moralismo, mas sim de colocar as coisas no seu devido lugar.

Por que o socialismo é superior ao capitalismo?

Leonardo – Em um país riquíssimo como o Brasil, o socialismo daria condições para todas as pessoas se apropriarem dos bens e serviços de que necessitem para viver. Já debaixo do capitalismo, somos um país subdesenvolvido, com uma economia comandada pelos EUA e com uma desigualdade social que aumenta a cada ano. Hoje a realidade é que as cinco pessoas mais ricas do País detêm a mesma riqueza da metade mais pobre da população. O socialismo também permite que a tecnologia desenvolvida seja aplicada para melhorar a vida do conjunto da população, e não para aumentar os lucros dos capitalistas. Só o socialismo garante acesso universal à educação, saúde, moradia, segurança, lazer. Isto já foi provado por décadas na União Soviética e em outras experiências socialistas. Uma nova onda de grandes transformações sociais virá neste século 21, pois são insustentáveis as contradições do capitalismo. Só no ano passado, por exemplo, 82% da riqueza produzida no mundo foi apropriada por apenas 1% das pessoas! A maioria dos trabalhadores ainda não tem a consciência de que este mundo novo de felicidade é possível, mas o socialismo está no sonho de todo trabalhador e trabalhadora consciente. Ao socialismo interessa socializar a riqueza das grandes propriedades, aquela que pode resolver o problema da moradia nas grandes cidades, pois no capitalismo há mais casas e prédios abandonados do que gente sem habitação. Já as grandes fábricas e empresas, as grandes extensões de terra, estarão à disposição do Estado, dirigido pela classe trabalhadora para que esta decida a prioridade e a função social de cada coisa.

Como veem as declarações de membros do Alto Comando do Exército defendendo um golpe militar?

Fernanda – Nessa conjuntura em que a luta de classes se encontra bastante acirrada, vemos manifestações das diferentes classes sociais e agrupamentos sobre as possíveis saídas para a crise. Dentro da falta de perspectivas de parte da população, setores do alto comando do Exército a serviço do setor mais reacionário da burguesia, dos fascistas, tentam também se apresentar como alternativa. Lembremos que todo este espaço para que generais possam se pronunciar sobre golpes de Estado, contrariando a própria Constituição sem sofrerem nenhuma punição, é algo muito grave e que não podemos aceitar. É preciso levar a cabo as recomendações da Comissão Nacional da Verdade para que se punam os torturadores e assassinos da época da ditadura militar. Como disse a grande companheira Amelinha Teles, em entrevista publicada na última edição do Jornal A Verdade: “Não há democracia com corpos insepultos”. Sabemos que a impunidade do passado leva à impunidade do presente, pois hoje milhares de jovens negros e pobres continuam sendo torturados e mortos nas periferias de todo o Brasil nas mãos de agentes estatais, principalmente das polícias militares.

Qual o balanço da campanha pela legalização da UP?

Leonardo – Estamos há 15 meses colocando em prática um ousado plano de legalização de um partido político revolucionário que almeja o poder. Para coletarmos as 600 mil assinaturas que conquistamos neste período, fomos a praças, bairros, vilas, favelas, ruas, empresas, fábricas, escolas, universidades e seguramente falamos para mais de dois milhões de pessoas que foram abordadas ou que escutaram nossas agitações. Nosso discurso, aliás, não é só para pedir uma assinatura, mas para politizar, para denunciar os crimes das elites contra o povo e convocá-lo para a luta.

Neste último período, conseguimos perceber como poucos o sentimento de nosso povo, seu desejo por mudanças no Brasil e, neste sentido, tivemos ainda mais certeza de que nossa decisão de criar a UP foi acertada. E fizemos isso sem depender de um centavo da Odebrecht ou de qualquer outra grande empresa, banco etc. Sem depender também de nenhum figurão da política tradicional burguesa, dependendo apenas de nossa militância e de apoiadoras e apoiadores que têm os mesmos propósitos que nós.

Chegamos agora a um momento decisivo, pois temos pouco mais de seis meses para cumprir nosso objetivo, já que a legislação impõe um prazo máximo de dois anos. Apesar de enfrentarmos regras extremamente antidemocráticas para a legalização de novos partidos, durante este período, que estamos chamando de período especial, nossa militância decidiu se dedicar integralmente à realização desta grandiosa tarefa. Chegaremos até o final de maio com pelo menos 800 mil assinaturas coletadas no total e já demos passos importantes no cadastramento das fichas de apoio no sistema online do TSE e nos cartórios eleitorais. Em três estados a UP já alcançou o número mínimo de apoiamentos exigido e já podemos constituir seus diretórios estaduais provisórios. Estamos trabalhando para que nos próximos meses cheguemos a pelo menos nove diretórios estaduais legalizados, que é outra exigência. Além disso, temos recebido adesões de muitos ex-militantes de outros partidos e organizações políticas, e até de grupos políticos que não se sentiam mais representados pelos demais partidos existentes.

O que falta para a UP conquistar a legalização?

Fernanda – Tudo o que fizemos até aqui, apesar de muito importante, não basta, pois precisamos validar 487 mil assinaturas nos cartórios eleitorais de todo o Brasil. Neste sentido, entramos no sistema do TSE com cerca de 150 mil fichas nestes últimos meses e nossa campanha continua até a legalização. Para termos êxito, estamos fazendo também uma campanha de arrecadação de finanças, pedindo contribuição às pessoas que acreditam em nossa causa para que possamos ter um caixa que permita arcarmos com os gastos desta reta final. Precisamos da ajuda de todas e todos para que possamos concluir esta campanha de dois anos. Estamos muito confiantes de que venceremos!

Trabalhadores organizam ocupação de fábrica em Diadema para garantir seus direitos

Redação SP


Desde o início de 2025, trabalhadores da Movent, empresa metalúrgica localizada na cidade de Diadema (SP), realizam vigílias e acampamentos na porta da fábrica para impedir que os proprietários vendam o maquinário, que deveria ser leiloado para garantir o pagamento dos direitos trabalhistas após suas demissões.

Segundo relatos dos trabalhadores, no início de 2023, a empresa contava com cerca de 440 funcionários. Em abril daquele ano, a diretoria iniciou um processo de demissões em massa de metalúrgicos. Ainda em 2023, mais de 300 trabalhadores foram demitidos sem receber verbas rescisórias ou outros direitos trabalhistas.

Também em 2023, a empresa de autopeças entrou com um pedido de recuperação judicial e paralisou completamente suas atividades no início de 2025, deixando mais de 400 trabalhadores sem qualquer tipo de pagamento ou direito garantido.

Diante dessa situação, os trabalhadores decidiram ocupar a entrada da fábrica para impedir que os donos retirem o pouco maquinário que restou, com a esperança de que os equipamentos possam ser leiloados para quitar os débitos trabalhistas.

O Movimento Luta de Classes e o jornal A Verdade têm acompanhado a luta dos operários nas vigílias e conversado com os companheiros que permanecem diariamente na porta da empresa. Roberto, que trabalha há 20 anos na Movent, relatou: “Dediquei minha vida a essa empresa. Já tive que fazer duas cirurgias por doenças causadas pelo trabalho e, agora, somos tratados assim”. Ele continua: “Apesar da situação difícil, tenho certeza de que, se os trabalhadores se unirem, conseguiremos garantir nossos direitos”.

Outro trabalhador, com mais de 30 anos de casa, que preferiu não se identificar, afirmou: “Na minha opinião, a empresa deveria ser ocupada. Só existe direito para os ricos. O negócio é ocupar para, pelo menos, a gente ficar com as máquinas”.

Matéria publicada na edição 313 do Jornal A Verdade.

Ato do 1º de Maio impulsiona greve em fábrica de SC

Luiza Wolff | Joinville (SC)


TRABALHADOR UNIDO – No 1º de Maio deste ano, o Movimento Luta de Classes (MLC) e a Unidade Popular (UP) organizaram um ato político em frente à metalúrgica Tupy, em Joinville (SC). A empresa, além da unidade catarinense, possui fábricas em Mauá (SP) e em Coahuila, no México, contando com cerca de 13 mil trabalhadores.

Durante o ato, houve panfletagens e denúncias sobre a situação dos operários da fábrica, que enfrentam baixos salários, aumento no custo dos alimentos, alugueis altos e jornadas exaustivas. O protesto mobilizou trabalhadores de outras regiões do estado, resgatou a história de lutas do 1º de Maio e contou com o canto d’A Internacional, hino mundial da classe trabalhadora.

Apesar de ser feriado, os trabalhadores da Tupy teriam expediente normal. No entanto, impactados pela força do ato, pela experiência de luta apresentada e pela indignação com suas condições, os operários decidiram realizar uma paralisação e declararam estado de greve. As principais reivindicações são a valorização salarial e melhores condições de trabalho, em um momento em que a carestia dos alimentos e dos alugueis consome quase todo o salário de uma família trabalhadora.

A mobilização dos operários da Tupy é um exemplo para todo o país. Mostra que os trabalhadores estão, sim, dispostos a lutar, ao contrário do que afirmam setores dos movimentos sociais que abandonaram suas bases e culpam a classe pela falta de mobilização.

Só a luta da classe operária pode conquistar melhores salários, o fim das jornadas exaustivas e abrir caminho para uma nova sociedade, a sociedade socialista.

Todo apoio aos trabalhadores da Tupy!

Retomar o 1º de Maio classista e revolucionário

Enquanto as centrais sindicais se dedicam a fazer shows despolitizados, churrascos, sorteios de carros e afins, tentando frear a luta dos milhões de explorados no Brasil, o MLC apontou para que o Dia Internacional da Classe Trabalhadora fosse marcado como uma data de lutas e reivindicações.

Vanieverton Albuquerque | Coord. Nacional do MLC


TRABALHADOR UNIDO – O 1º de Maio é uma data histórica da classe trabalhadora, arrancada pelos heróis de Chicago assassinados pelo governo dos EUA, em 1886, numa greve pela redução da jornada de trabalho.

O Movimento Luta de Classes (MLC), a Unidade Popular (UP), o Partido Comunista Revolucionário (PCR), a União da Juventude Rebelião (UJR), o Movimento de Luta nos Bairros, Vilas e Favelas (MLB), o Movimento de Mulheres Olga Benario e a Frente Negra Revolucionária (FNR) realizaram atos construindo um 1º de Maio combativo, classista e revolucionário.

Atos em todo país

De Norte a Sul do Brasil, trabalhadores, estudantes, mulheres, moradores dos bairros populares, ocuparam ruas para denunciar o injusto sistema capitalista e chamar a população para lutar pelo fim da escala 6×1, defendendo a imediata redução no preço dos alimentos e o aumento de 100% do salário mínimo. Ergueram bem alto a bandeira do socialismo, fazendo tremular o estandarte da libertação dos oprimidos e oprimidas.

Em Joinville (SC) (ver matéria abaixo), após ato realizado na manhã do dia 1º de maio, os operários metalúrgicos da Tupy decidiram entrar em estado de greve e reivindicar o fim da escala 6×1 e aumento real dos salários. No Rio de Janeiro e em São Paulo, centenas de lutadores e lutadoras ocuparam as ruas em passeata.

Em João Pessoa (PB), trabalhadores da limpeza urbana cruzaram os braços por horas, enquanto debatiam os rumos da sua campanha salarial. Em Recife (PE), ocuparam mercados públicos conclamando os trabalhadores a retomarem seu dia de luta contra os patrões e os governos de plantão que servem aos interesses dos ricos.

Também houve manifestações, panfletagens e agitação em mais de 40 cidades que denunciaram os crimes cometidos pela ditadura militar e os golpistas de ontem e de hoje. 

Agitação socialista

Enquanto as centrais sindicais se dedicam a fazer shows despolitizados, churrascos, sorteios de carros e afins, tentando frear a luta dos milhões de explorados no Brasil, o MLC apontou para que o Dia Internacional da Classe Trabalhadora fosse marcado como uma data de lutas e reivindicações. Em todos os atos, a militância priorizou a agitação socialista, defendendo a necessidade da superação deste sistema baseado na exploração da classe trabalhadora.

Assim tem sido em vários países do mundo, inclusive com enfrentamentos contra as forças de repressão policial. Aqui no Brasil, não nos deteremos enquanto não retomarmos o nosso 1º de Maio com atos por todas cidades, exigindo que toda a riqueza produzida pela classe operária seja usada para garantir o direito a uma vida justa, digna e feliz, que só será plenamente realizada na sociedade socialista.

Matéria publicada na edição 313 do Jornal A Verdade.

Privatização da Sabesp retira direitos dos trabalhadores e amplia regalias dos diretores

Privatização da Sabesp tem gerado ataques aos direitos dos trabalhadores e aos serviços prestados à população.

Mikael Marcondes e Redação SP


BRASIL – Em dezembro de 2023, a Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp) aprovou a privatização da Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp) a partir de uma violenta repressão política contra militantes dos movimentos sociais, sindicatos e partidos de esquerda que se manifestavam contrários. Na “Batalha da Alesp”, militantes da Unidade Popular (UP) foram presos, e a privatização da Sabesp foi aprovada em meio a bombas de gás lacrimogêneo, que transformaram o plenário em uma câmara de gás. Tudo isso porque um plebiscito popular reuniu quase 900 mil votos contrários à privatização e demonstrou que a população não concordava com a privatização.

Atualmente, a empresa está sob controle da Equatorial Energia, que busca maximizar lucros às custas da perda de direitos e do agravamento das condições de trabalho dos funcionários.

Desde então, a privatização tem gerado ataques aos direitos dos trabalhadores e aos serviços prestados à população. De um lado, os funcionários enfrentam o desgaste psicológico da instabilidade, sob o risco constante de demissão. Além disso, sofrem com a redução salarial, piora nos convênios médicos, aumento da jornada de trabalho e cortes no vale-refeição e no pagamento de horas-extras. Por outro lado, os moradores das periferias convivem com a falta d’água, mau cheiro da água e aumentos abusivos nas contas, sem qualquer explicação. A verdade é que a privatização significa lucros para os ricos e sofrimento para o povo.

Cortes de direitos

A Equatorial já demitiu mais de 500 trabalhadores com o mentiroso Plano de Demissão Voluntária (PDV) e mais outros 1.500 estão na fila da demissão. A empresa pressiona os trabalhadores ameaçando com novas demissões, e o clima é de insegurança diante de tanta instabilidade.

A nova gestão da Sabesp também ampliou a exploração dos trabalhadores e os privilégios da diretoria: o número de diretores aumentou de nove para onze, e seus salários saltaram de R$ 50 mil para R$ 200 mil mensais.

O convênio médico, que antes era igual para todos, agora é dividido por hierarquia: os altos cargos têm plano de elite, enquanto a base perdeu até o direito a quarto de internação e ainda paga parte do valor. O vale-refeição, que antes era pago a cada duas horas-extras, também mudou e será administrado por uma empresa aceita em menos lugares, e ainda foi imposto um teto de R$ 1.000 para o pagamento de valores atrasados, deixando os trabalhadores sem receber o que a empresa os deve. As medidas atingem ainda mais os trabalhadores operacionais, que fazem plantões, horas-extras e viajam prestando serviços. Com tantos ataques, muitos funcionários aderiram ao PDV e tentam se aposentar com menos do que o teto do INSS.

Além disso, há um clima de perseguição aos trabalhadores sindicalizados na empresa. Funcionários, que pediram para não serem identificados, falaram como nossa reportagem: “A gente se vê sem valor nenhum, independentemente de realizarmos um bom trabalho. A empresa impõe tudo que ela quer e, a cada dia que passa, temos menos motivação, a gente trabalha desanimado”. Outro funcionário denuncia a sobrecarga de trabalho: “Tenho muito mais serviço agora. O que fazíamos em quatro, agora somos dois”.

Greve pela reestatização

Muitos trabalhadores afirmam que hoje têm o sentimento de que mais poderia ter sido feito para barrar a privatização em 2024. “Se o sindicato tivesse convocado uma greve, haveria ampla adesão”, dizem. Mas a falta de confiança na base para construir a mobilização, que poderia derrotar os planos do governador fascista Tarcísio de Freitas, cobrou um preço alto: hoje, a Equatorial proíbe o sindicato de se reunir com os trabalhadores nos locais de trabalho, e as negociações são restritas à diretoria sindical, em reuniões fechadas com a empresa.

Em diversos países, a privatização da água e do saneamento levou ao aumento das tarifas, piora dos serviços, falta de transparência e retirada de direitos dos trabalhadores. Países como Alemanha, Estados Unidos e França têm reestatizado empresas do setor, diante do fracasso da gestão privada. Segundo o banco de dados “Futuro Público”, do Transnational Institute (TNI), desde o início dos anos 2000, 367 empresas do setor de água, esgoto e gestão hídrica foram reestatizadas.

A reestatização da Sabesp é uma luta central para garantir que a água, um recurso estratégico e fundamental à vida, esteja sob o controle do povo brasileiro. Para que isso aconteça, será necessário um movimento de pressão popular organizado, em articulação com as categorias profissionais envolvidas. Portanto, é de extrema importância fortalecermos o sindicato, disputarmos sua direção política e construirmos verdadeiras trincheiras de luta em cada base.

Somente com muita organização, setoriais fortes, delegados sindicais combativos e liberdade de crítica poderemos corrigir os erros e avançar. Só assim conseguiremos pautar a estabilidade dos contratos; o fim das terceirizações (com a regularização dos trabalhadores terceirizados); a valorização do plano de cargos e salários; entre outras pautas essenciais.

Construir a uma grande greve combativa é nossa tarefa maior para reverteremos a privatização da Sapesp!

Trabalhador, organize-se, crie núcleos do MLC com seus companheiros de trabalho e vamos às ruas em defesa de uma Sabesp pública e de qualidade!

Matéria publicada na edição 313 do Jornal A Verdade.

ViaMobilidade lucra cada vez mais, enquanto povo de SP sofre e morre

Desde a privatização de linhas do metrô de SP população enfrenta atrasos diários, ar-condicionado desligado, obras inacabadas e falhas frequentes.

Ana Clara e Sergio Henrique | São Paulo 


BRASIL – Desde 2018, com a privatização da Linha 5 – Lilás, da Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM), o Governo de São Paulo intensificou a entrega do transporte público à iniciativa privada. Em 2021, as Linhas 8 – Diamante e 9 – Esmeralda também foram concedidas à empresa ViaMobilidade por um valor muito menor do que elas realmente valem.

A ViaMobilidade, do grupo CCR, também administra a futura Linha 17 – Ouro opera a Linha 4 – Amarela por meio da concessionária ViaQuatro. A empresa é um grande monopólio de infraestrutura, com concessões no Brasil e no mundo, incluindo rodovias e aeroportos. Com um patrimônio superior a R$ 7 bilhões, a CCR está ligada à empreiteira Camargo Corrêa, condenada por corrupção e crimes relacionados.

Desde a privatização, a população enfrenta atrasos diários, ar-condicionado desligado, obras inacabadas e falhas frequentes. A Linha 8, por exemplo, tem 14 vezes mais falhas do que todas as linhas operadas pela CPTM, e, até dezembro de 2024, as multas por irregularidades somavam mais de R$ 966 milhões. No entanto, o Governo do Estado abriu mão desse valor, permitindo que a empresa, em troca, realizasse obras sem prazo para conclusão. A realidade é que utilizar essas linhas são uma humilhação diária para a população.

Morte por descaso

Nas últimas semanas, o resultado das privatizações chegou a um ponto ainda mais absurdo, matando um trabalhador na Linha 5 – Lilás. Lourivaldo Nepomuceno, pai de três filhos e que faria 36 anos no dia 11 de maio, morreu tragicamente, no último dia 05, ao ficar preso entre a porta do trem e a plataforma. Este fato só aconteceu porque a concessionária, desde a privatização da linha, em 2018, não realizou os investimentos necessários para garantir a segurança dos passageiros e trabalhadores. Enquanto as estações administradas pelo Metrô São Paulo receberam a instalação de sensores de presença, a Linha 5, que deveria ter recebido a mesma atenção, foi negligenciada, sem qualquer atualização ou melhoria significativa.

No dia seguinte (06/05), manifestantes e movimentos sociais se reuniram na estação do Campo Limpo, onde a morte ocorreu, para denunciar as privatizações. “Quem é cidadão e morador aqui do Capão Redondo e do Campo Limpo não tem como não se indignar com uma situação como essa. O que aconteceu com esse rapaz, que tem família, que é um trabalhador, é um crime. Não pode passar impune”, cobrou Nilton, professor da rede municipal que passava pelo local.

A ViaMobilidade não investiu um centavo na manutenção da Linha 5 desde sua privatização, e a responsabilidade por essa morte é, portanto, da concessionária e de quem entregou a operação da linha a uma empresa privada que só visa ao lucro, e não à segurança e à integridade dos trabalhadores e passageiros.

Por isso, é hora de transformarmos a indignação em mobilização. Só a luta popular pode barrar esse projeto de destruição do transporte público. A reestatização das linhas de trem e metrô em São Paulo é uma necessidade urgente, não apenas uma bandeira.

Matéria publicada na edição 313 do Jornal A Verdade.

Crise orçamentária na educação expõe contradições do Governo Lula

A severa restrição orçamentária imposta às universidades contradiz frontalmente o discurso de valorização da educação que marcou a campanha e o início do terceiro mandato do presidente Lula.

Thaís Rachel Zacharia | Vice-presidente da UNE


EDUCAÇÃO – O ensino superior brasileiro vem enfrentando uma grave crise orçamentária ao longo dos últimos anos. Enquanto universidades suspenderam serviços essenciais e alertam para a impossibilidade de manter seu funcionamento já a partir deste mês de maio, o Governo Federal mantém generosos recursos para o agronegócio e prioriza o pagamento da dívida pública, revelando contradições em sua política econômica.

No dia 30 de abril de 2025, o Governo publicou o Decreto nº 12.448, que estabelece a programação orçamentária e financeira para o exercício de 2025. O documento se tornou o centro de uma crise nas instituições federais de ensino superior. O decreto limita drasticamente os recursos disponíveis para as universidades, permitindo o empenho de apenas 1/18 do valor previsto na Lei Orçamentária Anual (LOA) até novembro deste ano. Na prática, isso representa um contingenciamento superior a 30% no orçamento das instituições federais.

Estado de Emergência

“No momento, não temos limite nenhum de orçamento para funcionar no mês de maio”, declarou a Pró-Reitoria de Planejamento, Desenvolvimento e Finanças (PR-3) da UFRJ durante sessão do Conselho Universitário realizada no dia 8 de maio. A declaração ilustra a gravidade da situação enfrentada pela maior universidade federal do país.

A Administração Central da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ) determinou, em nota oficial no último dia 7, a suspensão imediata, em caráter emergencial, de todas as despesas relacionadas a combustíveis, manutenção da frota veicular e aquisição de material de consumo. Apenas serviços considerados de extrema necessidade, como segurança, saúde e transporte interno dos estudantes, continuam autorizados.

Situação semelhante ocorre na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), que enfrenta um corte de R$ 8 milhões em relação à estimativa inicial de R$ 170 milhões, que já era considerada insuficiente. Segundo o reitor Irineu Manoel de Souza, a universidade acumulou uma dívida de R$ 17 milhões no ano passado e precisou utilizar parte do orçamento de 2025 para quitá-la, agravando ainda mais a situação financeira da instituição.

O presidente da Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior (Andifes), reitor José Daniel Diniz Melo, alertou que “as universidades federais não conseguem fechar as contas já neste mês de maio”.

Já a Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE) contará com menos de 70% dos recursos necessários para funcionar em 2025. O orçamento caiu de R$ 143,1 milhões para R$ 74,6 milhões. A reitora Maria José de Sena alerta que a instituição está em colapso, com dívidas acumuladas e risco de interrupção total dos serviços essenciais até agosto. “Temos um orçamento que está aprovado, sancionado, mas esse orçamento não nos permite trabalhar na universidade até dezembro. Nos primeiros cinco meses deste ano, a gente já usou 41% dos recursos disponíveis para o ano inteiro. O que estamos preocupados é com o abandono orçamentário das universidades. O orçamento só cobre oito meses de despesas da UFRPE. E isso não vai mudar se o governo não mudar as suas prioridades”, declarou.

Prioridades do Governo

A severa restrição orçamentária imposta às universidades contradiz frontalmente o discurso de valorização da educação que marcou a campanha e o início do terceiro mandato do presidente Lula. A priorização do pagamento da dívida pública e dos investimentos no agronegócio, em detrimento das instituições federais de ensino, revela as verdadeiras prioridades da política econômica do governo.

Enquanto as universidades enfrentam um estrangulamento financeiro, o Governo Federal mantém e amplia investimentos bilionários no agronegócio. O Plano Safra 2024/2025 disponibilizou R$ 400 bilhões para a agricultura empresarial, um aumento de 10% em relação à safra anterior. Para o próximo ciclo, a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) já solicitou R$ 594 bilhões em recursos financeiros para o Plano Safra 2025/26, um aumento de 24,64%.

Mais alarmante ainda é a comparação com os recursos destinados ao pagamento da dívida pública. Do orçamento total de R$ 5,7 trilhões para 2025, impressionantes 44,14% (equivalente a R$ 2,5 trilhões) serão destinados ao pagamento de juros e amortização da dívida pública. Este valor é 56% maior que o total combinado destinado à Educação, Saúde, Previdência Social e Bolsa Família, que somam R$ 1,6 trilhão. Especificamente para a educação pública, o orçamento prevê apenas R$226 bilhões, menos de 10% do valor destinado ao serviço da dívida.

Educação de qualidade

Sem uma reversão imediata do contingenciamento orçamentário, as universidades federais enfrentarão dificuldades crescentes para manter seu funcionamento ao longo de 2025. A situação é especialmente grave porque o contingenciamento atinge recursos destinados ao funcionamento básico das instituições, excluindo apenas a folha de pagamento. Isso significa que atividades essenciais de ensino, pesquisa e extensão estão diretamente ameaçadas.

A gestão econômica do Governo Lula tem privilegiado uma política fiscal de austeridade, buscando atender às expectativas do mercado financeiro em detrimento dos investimentos em áreas sociais essenciais, como a educação. O decreto de contingenciamento reflete uma diretriz de “adequar o ritmo de execução de despesas ao avanço do exercício e ciclo de avaliação e gestão fiscal do orçamento”, como justificado pelo próprio governo.

Esta orientação, que coloca o ajuste fiscal e o pagamento da dívida como prioridades absolutas, compromete não apenas o presente das instituições federais de ensino superior, mas também seu futuro e sua capacidade de contribuir para o desenvolvimento científico, tecnológico e social do país.

Diante desse cenário, a mobilização do setor da educação tem sido indispensável. Estudantes e trabalhadores têm se organizado em atos nacionais para denunciar os cortes e exigir recomposição orçamentária. Essas manifestações precisam seguir ocupando as ruas em todo o país denunciando o risco de desmonte das universidades públicas e a importância de defender o ensino superior gratuito e de qualidade.

Sem orçamento, não há educação de qualidade! Somente a mobilização coletiva pode garantir que a educação volte a ser prioridade no orçamento brasileiro!

Matéria publicada na edição 313 do Jornal A Verdade.

Fenet realiza luta por assistência estudantil e convoca Enet 2025

Federação Nacional dos Estudantes em Ensino Técnico convoca ENET em conjuntura marcada por cortes no orçamento e luta em defesa da educação pública.

Diretoria da Fenet


JUVENTUDE – A Federação Nacional dos Estudantes em Ensino Técnico (Fenet) convocou, para os dias 18 a 21 de setembro, em Salvador (BA), seu encontro bianual. Delegações de todos os cantos do Brasil se reunirão para debater as próximas lutas em defesa da rede técnica pública, gratuita e de qualidade. O Enet 2025 foi marcado na Plenária Nacional de Grêmios, realizada em abril, no Rio de Janeiro.

A educação brasileira tem sofrido duramente com as políticas econômicas que beneficiam os empresários e garantem o pagamento dos juros da dívida pública, mas não garantem o básico para as escolas. Isso se reflete na falta de reajuste das bolsas de permanência, pesquisa e extensão para os estudantes da rede técnica, nas obras que nunca terminam e nas centenas de campi que não têm bandejão. Na rede técnica estadual, não é diferente: o avanço do “novo ensino médio” precariza a aprendizagem e faltam estrutura adequada e merenda de qualidade.

“A situação da educação pública não está nada fácil, mas, quando os estudantes se organizam, conseguimos arrancar o que é nosso por direito. Prova disso é a conquista da construção de vários bandejões nos IFs. Esta é uma luta que temos construído desde o Enet 2023, fazendo atos, plenárias e paralisações em vários campi pelo país”, afirma Ana Luiza, coordenadora-geral da Federação.

Por isso, a Fenet tem organizado dias nacionais de luta, a exemplo do Dia Nacional pela Assistência Estudantil, que aconteceu no último 14 de maio, em que a pauta principal foi a construção e implementação dos bandejões nos IFs. Dezenas de grêmios organizaram assembleias e plenárias e realizaram atos nos campi em que atuam.

É com o espírito de luta e combatividade que a Fenet convoca todos os estudantes em ensino técnico do Brasil para mobilizar suas salas de aula e seus grêmios rumo ao Enet 2025 para construirmos uma nova jornada de luta dos estudantes da rede técnica!

Matéria publicada na edição 313 do Jornal A Verdade.

Especial: 50 anos da vitória do Vietnã contra o imperialismo dos EUA

Confira o especial publicado na edição impressa sobre os 50 anos da vitória dos exércitos revolucionários do Vietnã contra o imperialismo norte-americano.


A luta do povo do Vietnã contra o imperialismo

Felipe Annunziata | Redação

No último 30 de abril, completaram-se os 50 anos da vitória do povo vietnamita na guerra contra o imperialismo estadunidense. Em 1975, tropas do então Exército Popular do Vietnã do Norte, junto com as forças guerrilheiras da Frente Nacional de Libertação do Vietnã tomaram a cidade de Saigon, terminando com anos de guerra de resistência ao imperialismo dos EUA. 

Naquela época, Saigon (hoje cidade de Ho Chi Minh) era a capital da República do Vietnã do Sul, com um governo fantoche criado pelo imperialismo francês e norte-americano em 1954. 

Os vietnamitas, com os líderes revolucionários Ho Chi Minh e o general Vo Nguyen Giap, lutaram e venceram três das maiores potências imperialistas da História: o Japão Imperial, os EUA e a França. Tudo isso ao longo de mais de 30 anos de luta armada. 

Durante a Segunda Guerra Mundial, Ho Chi Minh liderou o Partido Comunista do Vietnã na luta contra a ocupação japonesa e garantiram a libertação e a instituição de um governo socialista no Norte vietnamita. No entanto, a antiga potência colonial, a França, não aceitou o resultado e reocupou o país já em 1947. A guerra durou até 1954, quando os vietnamitas, liderados pelo general Giap, derrotaram as forças coloniais francesas na Batalha de Dien Bien Phu e terminaram com 70 anos de colonização.

O fim da luta anticolonial, no entanto, não significou a vitória completa contra o imperialismo. Isto porque franceses, com apoio dos EUA, conseguiram estabelecer um governo fantoche na metade Sul do país. A luta anti-imperialista seria retomada logo em 1955, quando o governo do Vietnã do Sul começou uma onda de repressão contra os comunistas.

Por quase 20 anos, os revolucionários vietnamitas lutaram e venceram as forças reacionárias do Sul e os estadunidenses. Até hoje, esta é considerada a derrota mais humilhante do imperialismo ianque.

O povo do Vietnã não tinha acesso às bombas atômicas, nem aos navios ou tanques de última geração usados pelos norte-americanos. Pior, foi vítima de uma série de crimes de guerra, com o uso de armas químicas contra a população civil. Mesmo assim, conseguiu vencer e expulsar as tropas invasoras com o conhecimento da região e a tática de guerrilha.

Para celebrar esta data, trazemos o texto preparado pelo professor Natanael Sarmento sobre o líder revolucionário vietnamita Ho Chi Minh.

Ho Chi Minh, presente!

“Não há nada mais precioso que a independência e a liberdade” 

Natanael Sarmento | Diretório Nacional da UP

Ho Chi Minh nasceu em 19 de maio de 1890 em Nghe An, morreu em 02 de setembro de 1969, em Hanói. Carinhosamente chamado Tio Ho pelo seu povo, foi um grande herói vietnamita. Fundador do Partido do Trabalho (Comunista) e da Frente Nacional Unida, da República Democrática do Vietnã e das Forças Armadas Populares do país, liderou a luta armada de libertação nacional e da classe operária. Destacado combatente do Movimento Comunista Internacional e da libertação dos povos, um marxista-leninista que consagrou sua vida à libertação da classe operária e dos povos, em defesa da independência, da soberania e do socialismo. Também foi escritor, poeta e jornalista.

Seu exemplo de heroísmo revolucionário, patriotismo, internacionalismo, combatividade, simplicidade, modéstia, retidão e altruísmo é reconhecido pelos compatriotas e revolucionários do mundo. Com o Partido Comunista guiou o seu povo na luta anticolonial de independência do império francês e consolidou as bases para a maior derrota do agressor imperialista Estados Unidos da América, a quem impôs a mais retumbante e humilhante derrota militar da história das guerras.

O Comitê Central do Partido proferiu, em reconhecimento e pesar pela imensa perda do camarada Ho Chi Minh e assim se dirigiu aos quadros, membros e compatriotas em todo país e aos combatentes no estrangeiro: “Para que todos num mesmo espírito, transmudem a sua dor em atos revolucionários, sigam valentemente para a frente, continuem a grandiosa obra do Presidente, realizem com sucesso o seu ideal e as suas aspirações, sigam e executem sem arrefecimento a linha política e as decisões do Comitê Central do Partido e do Governo, esforcem-se por assimilar o pensamento, por seguir seu exemplo de moralidade e de estilo de vida”.

Seguindo o reconhecimento, o povo vietnamita rebatizou com seu nome a cidade de Saigon. O manuscrito feito por Ho Chin Minh, presente na antessala da sua imortalidade, conhecido como seu Testamento, recebeu publicações e traduções em virtude do valor político, ideológico e humano que expressa. Esboçamos um breve resumo das preocupações e apelos desse extraordinário comunista revolucionário, cujas validades são atemporais para todos os combatentes sociais do mundo.

Testamento de Ho Chi Minh

Ao Partido

Devemos à estreita unidade e a total dedicação à classe operária, ao povo e ao país, desde a sua fundação, a efetividade de unirmos, organizarmos, dirigirmos o nosso povo a lutar ardorosamente, de vitória em vitória.

Unidade

A capacidade de unir é extremamente preciosa para o Partido e para o povo. Todos os camaradas, do Comitê Central às células de base, devem preservar a unidade do Partido como a pupila dos seus olhos.

Democracia, autocrítica, crítica e afeição

Efetivar uma ampla democracia interna no Partido, exercendo de maneira séria a autocrítica e a crítica para consolidar e desenvolver a unidade, com afeição fraternal de todos os camaradas entre si.

Moralidade revolucionária

Cada membro do Partido deve impregnar-se profundamente da moral revolucionária. Dar exemplo de integridade, retidão, devoção absoluta ao interesse público, com altruísmo. Salvaguardar a pureza do Partido e tornar-se verdadeiramente digno do papel de dirigente e servidor fiel dos trabalhadores e do povo.

Juventude

A juventude trabalhadora e revolucionária se entrega ardentemente a todas as tarefas, sem dificuldades. Deseja, incessantemente, o progresso. Portanto, formar e educar as gerações futuras é tarefa extremamente importante e absolutamente necessária. Educá-los na alta moralidade revolucionária dos “comunistas experimentados” na luta pela conquista e edificação do socialismo.

Povo trabalhador

O povo de todas as regiões do país tem sofrido, por séculos, exploração, opressão e miséria, jugos coloniais e anos de guerras. Apesar disso, sempre deu provas de heroísmo, coragem e entusiasmo, realizando obras notáveis. Confiou e seguiu o Partido desde a fundação, sendo-lhe sempre fiel. O Partido deve traçar um bom programa para desenvolver a economia e a cultura a fim de elevar, incessantemente, o nível de vida do povo. 

Resistência contra agressão imperialista

A resistência contra a agressão estadunidense pode prolongar-se e os nossos compatriotas podem ter ainda enormes sacrifícios em vidas humanas e bens. Seja como for, estaremos decididos a combater os imperialistas agressores até à vitória final.

Os nossos rios, os nossos montes, os nossos homens ficarão sempre/ Uma vez vencido o ianque, construiremos o país dez vezes mais belo!

Sejam quais forem as dificuldades e privações, o nosso povo vencerá, infalivelmente. Os imperialistas americanos terão que se retirar impreterivelmente. A pátria será reunificada, compatriotas do Norte e Sul sob o mesmo teto. 

A nossa pequena nação terá a insigne honra de, em combates heroicos, haver vencido e dobrado dois grandes imperialismos – o francês e o americano – e dado um digno exemplo de movimento de libertação nacional de um povo.

Movimento Comunista Internacional

Dessa vida consagrada ao serviço da revolução, expresso grande satisfação por ver engrandecer o movimento comunista e operário internacional e mais sofro, com os desentendimentos atuais, dos partidos irmãos.

Desejo que o Partido atue com todas as suas forças e contribua de maneira eficaz para restabelecer a união dos partidos irmãos com base no marxismo-leninismo e no internacionalismo proletário, segundo as exigências da razão e do coração. Estou firmemente convencido que partidos e povos irmãos se unirão, necessariamente, de novo.

Pessoalmente

Durante a minha vida, servi com todas as forças da razão e do coração à pátria, ao Partido, à revolução e ao povo. Agora, se tenho que abandonar esse mundo, só tenho a me censurar por não ter mais tempo para servir ainda mais…

Após a minha morte, evitem organizar grandes funerais para não desperdiçar o dinheiro e o tempo do povo. 

Finalmente 

A todo o nosso povo, todo nosso Partido, trabalhadores, forças armadas, jovens, criancinhas, transmito minha afeição sem limites. Dirijo igualmente a minha saudação fraternal a todos os camaradas, amigos, jovens e criancinhas de todos os países. 

Último desejo

É que todo nosso Partido, todo nosso povo, se unam estreitamente e façam todos os seus esforços para edificar um Vietnã pacífico, reunificado, independente, democrático e próspero, e contribuir dignamente para a revolução mundial.

Hanói, 10/05/1969 – Ho Chin Minh

Fonte: Edições Língua Estrangeira – Hanói, 1975, Cadernos Ulmeiro nº 7

Matérias publicadas na edição 313 do Jornal A Verdade.

As mulheres foram linha de frente na luta contra a ditadura fascista de 1964

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Ao contrário do que propaga a história da burguesia, as mulheres nunca foram passivas diante da realidade da exploração de classe. Conheça a atuação das mulheres na linha de frente contra a ditadura fascista de 1964 no Brasil. 

Catarina Matos | Movimento Olga Benario


BRASIL – Na segunda metade do século XX, o Brasil e diversos países da América Latina sofreram duros golpes militares influenciados e financiados pelos Estados Unidos e grandes países capitalistas, os quais viam nas experiências populares daquele período – a Revolução Cubana como forte exemplo – uma ameaça ao seu controle imperialista. Por isso, na década de 1960, foram consolidadas Ditaduras, nas quais o Estado, dirigido pelas forças armadas, promoveu ações de terrorismo, censura, tortura, assassinato e forte repressão às populações. 

No Brasil, em 1961, em meio à conjuntura mundial polarizada como consequência da Guerra Fria, após imensa pressão popular, tomou posse à presidência do país o democrata João Goulart, o Jango. Esse período é reconhecido pelo intenso desenvolvimento da sociedade brasileira no campo político: um momento de efervescência dos movimentos sociais, dos sindicatos e do movimento estudantil. O povo ansiava por mudanças, e os debates acerca das Reformas de Base passaram a ser uma crescente daquele período. Em março de 1964, o presidente brasileiro convocou o histórico Comício na Central do Brasil – Rio de Janeiro, no qual reuniu mais de 200 mil trabalhadoras, trabalhadores e estudantes. Foi neste ato que Jango apresentou as propostas das Reformas de Base: fim do analfabetismo, Reforma Agrária, Urbana, Bancária e estatização dos setores estratégicos (A Verdade, 2024).

Porém, as forças armadas fascistas brasileiras, asseguradas pelo governo norte-americano imperialista, já tinham um plano arquitetado para impedir a concretização das reformas e tomar o poder do Estado. Em 01 de abril, do mesmo ano, o presidente João Goulart tomou a decisão de não resistir ao aparato bélico colocado nas ruas do Rio de Janeiro, ao reforço que vinha dos EUA e à imprensa nacional golpista e exilou-se no Uruguai. Contudo o povo brasileiro, durante 21 anos, ficou e lutou. Durante esse período, as mulheres tiveram destaque em diversos aspectos da resistência ao Golpe Militar, seja no campo, no Trabalho Operário à luta pela Anistia.

 

O papel da classe operária feminina na resistência ao golpe

O primeiro ataque das forças militares fascistas foi contra as entidades sindicais populares e organizações estudantis. Direções foram cassadas, dirigentes presos e a imprensa sindical e popular amordaçadas. O objetivo era impedir a continuidade das históricas lutas que avançavam a consciência e as condições de vida do povo brasileiro. 

Rapidamente uma parte dos dirigentes sindicais começou a resistir ao governo de forma clandestina, atuando de diversas maneiras como encontrando os trabalhadores nos bairros em que moravam. Em virtude da maior perseguição do movimento, que era majoritariamente masculino, as mulheres se sobressaíram, atuando nos períodos noturnos com visitas políticas, escondendo militantes perseguidos e criando uma rede de informações para manter ativa a luta operária brasileira. Muitas delas também passaram a atuar de forma direta nas portas das fábricas e empresas denunciando os baixos salários, o desemprego, a carestia, a falta de direitos como saúde e educação públicas. Exemplos não faltam. 

Em 03 de março de 1966, operárias e capatazes da fábrica Petropolitana, localizada em Petrópolis, estado do Rio de Janeiro, entraram em conflito quando a fiandeira Maria Rosa, mesmo pressionada, decidiu não retornar ao trabalho, pois estava sem receber salário. A revolta se espalhou quando outros tecelões aderiram ao chamado de uma liderança, Arlinda, ao afirmar: “A fábrica agora vai parar”. Depois de alguns dias, com a intervenção do padre da cidade e com a mediação da Justiça do Trabalho, a empresa decidiu pagar os salários dos trabalhadores. (Jornal Acontece em Petrópolis, 2017).

No dia 16 de abril de 1968, na Cidade de Contagem – estado Minas Gerais, as mulheres foram decisivas na importante greve na zona industrial que mobilizou mais de 1.200 operárias e operários metalúrgicos e siderúrgicos, que reivindicavam 25% de reajustes nos salários e melhores condições de trabalho. O movimento iniciou-se na trefilaria da Companhia Siderúrgica Belgo-Mineira e se espalhou para outras empresas, sendo o primeiro grande movimento grevista pós-golpe. Foi criado um “Comitê de Apoio à Greve” cujas tarefas eram realizadas em sua maioria por mulheres e consistia em arrecadar dinheiro e alimentos para ajudar os grevistas e suas famílias e elaborar boletins denunciando a situação dos operários e o caráter justo do movimento dos trabalhadores, mesmo sendo declarado ilegal pelas autoridades (SCARPELLI e SILVA, 2014). 

E por fim, em 25 de novembro de 1968, as trabalhadoras castanheiras cruzaram os braços e realizaram piquetes na porta da empresa CIONE, localizada em Fortaleza, estado do Ceará. As operárias lutavam pelo pagamento de horas extras e contra os atrasos constantes nos salários, que as deixavam numa situação de imensa miséria. A greve foi dura, com enfrentamento entre as operárias e os seguranças da fábrica. Muitas foram agredidas e precisaram ser atendidas em hospitais da região. Conforme relato de um sindicalista da época “elas não deixaram barato. Pegaram pedaços de madeira para não entrar à força. Eles tentaram duas ou três vezes, mas não conseguiram. Nunca vi uma coisa tão dramática” (Jaime Liberio – diretor do Sindicato do Óleo). O movimento ficou conhecido como A Guerra das Castanheiras, tendo durado sete dias, suas lideranças foram presas no DOPS (Departamento de Ordem Política e Social – órgão de perseguição da Ditadura Militar).  Todas essas mobilizações foram realizadas pelas mulheres contra os patrões, o governo ditatorial e o machismo que prevalecia no movimento sindical.

Iara Ivalberg, militante da VPR

Mulheres na luta armada: coragem e combatividade

Não conseguindo frear o movimento popular e operário, mesmo com intensas perseguições, os militares resolveram dar um golpe dentro do Golpe. Em 1968, fecharam o Congresso Nacional, cassaram parlamentares, partidos políticos foram colocados na ilegalidade, suspenderam direitos e a justiça foi amordaçada. Não havia outro caminho senão enfrentar a violência do regime com a violência revolucionária.

Foi assim que nasceram diversas organizações armadas revolucionárias, inspiradas nas heroicas resistências populares da América, Ásia e África. Destacam-se o Movimento Revolucionário 8 de Outubro – MR8 (homenagem à imortalidade do comandante Ernesto Che Guevara); a Ação Libertadora Nacional – ALN, dirigida por Carlos Mariguella, a Vanguarda Popular Revolucionária – VPR, sob o comando do capitão Carlos Lamarca e a fundação, em 1966, do Partido Comunista Revolucionário – PCR, sob a liderança do camarada Manoel Lisboa de Moura. Embora os principais dirigentes fossem homens, em todas elas, as revolucionárias tiveram importante destaque nos diversos meios de organização, desde arrecadação de recursos e outros materiais, a guarda e o transporte das informações e das armas, a ligação com os movimentos de massas até o comando de muitas ações contra o regime, como justiçamentos, expropriações de bens e valores e regastes dos camaradas presos.  

Dentre elas, Iara Iavelberg, natural de São Paulo-SP, foi uma das mulheres que esteve na vanguarda dessas lutas. Como liderança do MR8 e VPR, participou do sequestro do embaixador suíço Giovanni Buche. Depois de procurada como terrorista pelos agentes da ditadura e tendo sua organização desarticulada, mudou-se para Bahia tornando-se uma das comandantes de diversas ações armadas. Em 1971, foi cercada e encurralada pela polícia, presa e assassinada.

A professora gaúcha Sônia Moraes Angel é também um exemplo de coragem e determinação na resistência ao Golpe Militar de 64. Foi liderança da ALN, cumprindo missões de apoio aos militantes revolucionários, garantindo esconderijo àqueles que estavam sob risco de serem pegos pela repressão. Em 1969, foi presa participando de uma manifestação do 1º de maio contra a Ditadura. Depois de dois exílios, na França e no Chile, retorna ao Brasil para reorganizar a ALN, porém é presa, barbaramente torturada e assassinada em setembro de 1973. 

Outras guerrilheiras não podem deixar de ser lembradas; aquelas que atuaram no campo, como na Guerrilha do Araguaia: Jana Barroso, Helenira Resende e Dinalva Conceição Teixeira. Todas assassinadas após uma expedição e cerco do exército brasileiro. Seus corpos nunca foram encontrados. 

Essas companheiras não se contentaram em viver num sistema ditatorial, patriarcal, misógino que impunha às mulheres uma vida de opressão. Do campo às cidades, elas combateram a ausência de direitos, a fome, o desemprego, a violência, os papeis de gênero e tudo aquilo que explorava nossa classe. Lembremos que na metade da década de 1970, 30% da classe trabalhadora já era composta de mulheres, e com o aumento da violência estatal, dos assassinatos e desaparecimentos forçados, seja na repressão política ou social, a ditadura deixou marcas permanentes em milhares de famílias no Brasil. 

Mulheres Contra a Carestia e pela Anistia

Outros dois movimentos muito importantes nesse período de horror à classe trabalhadora foram as lutas contra o alto custo de vida e pela anistia dos lutadores sociais contra a ditadura.

Foi na periferia de São Paulo, a partir dos clubes de mães organizados nas Comunidades Eclesiais de Base da Igreja Católica, em 1972, que se iniciou um movimento contra o aumento do custo de vida. As mulheres e mães reivindicavam que os “senhores do poder” tomassem uma providência sobre a situação na qual a classe trabalhadora vivia. “…porque o Brasil é uma terra tão rica e as mães choram na hora de pôr a panela no fogo pra fazer a comida pros filhos”. É assim que tem início o documento que deu origem ao movimento intitulado Movimento Contra o Custo de Vida, ou Movimento Contra Carestia (A Verdade, 2021).

Essas mulheres, donas de casa, perceberam que precisavam sair de dentro de seus lares para ser linha de frente na luta pela vida e pela dignidade dos brasileiros mais pobres, e conseguiram organizar um abaixo-assinado, contra a carestia e a política econômica do governo em questão. Com mais de 1 milhão de assinaturas, enfrentaram corajosamente, com seus filhos nos braços, a força policial da época para garantir a entrega do documento popular ao General Geisel, ditador que estava no poder naquele período.

Naquele momento também nascia um forte movimento em defesa dos presos e desaparecidos políticos da Ditadura Militar. Eram filhas, mães, esposas, irmãs que incansavelmente batiam nas portas das delegacias e prisões buscando notícias de seus familiares. O Movimento Feminino Pela Anistia, além de desenvolver intensa campanha em todo o país, conseguiu formar uma rede internacional de denúncia aos crimes políticos, o que pressionou as autoridades brasileiras a aprovar a lei da anistia. Infelizmente, esta passou de forma ampla e irrestrita, inocentando também os militares assassinos e torturadores do período. Um erro que deve ser corrigido, e as mulheres continuam em luta por Memória, Verdade e Justiça no Brasil dos dias atuais. O papel das mulheres na luta pelos direitos dos presos e desaparecidos é inegável, elas foram responsáveis pelo rompimento do silêncio em torno das perseguições, prisões e torturas nos cárceres da ditadura. A utilização do papel tradicional da “mulher de família” e do cuidado maternal das integrantes do MFPA, pode ser entendido também como uma estratégia do movimento para se esquivar da repressão da ditadura, num momento em que as lutas feministas eram alvo de críticas pelo governo e pela opinião pública (Arquivo Nacional – Governo do Brasil).

Apesar da imposição patriarcal da história, que pretende invisibilizar a participação ativa e criadora das mulheres na luta pela libertação dos povos, o legado das mulheres – corajosas e aguerridas – ao enfrentarem em várias frentes toda opressão e exploração na qual são submetidas, deve ser reconhecido como instrumento de ânimo, força e energia para aquelas que hoje continuam nas “trincheiras” de luta pelo fim da sociedade capitalista e pela construção do Socialismo, no Brasil e em todo o mundo. 

274 mil crianças sofreram violência no Brasil

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As crianças ainda são o grupo social que mais sofre violência no Brasil: somente no ano passado, foram registradas 274 mil denúncias. A causa não é outra senão o sistema capitalista de produção.

 Alice Morais | Movimento Olga Benario


SOCIEDADE – Segundo dados do Ministério de Direitos Humanos e da Cidadania, em 2024 foram registradas mais de 274.000 denúncias de casos de violência contra crianças no Brasil. Os principais casos são a violência sexual (abusos, estupro de vulnerável e exploração sexual), a física (agressões, maus-tratos, tortura e homicídios) e a negligência (abandono, falta de cuidados básicos, etc). Muitas das denúncias registradas indicam que a violência, na maioria dos casos, parte de pessoas do convívio da criança, em particular do seio familiar. 

A infância é fase da vida dos 0 aos 12 anos onde o indivíduo ainda está adquirindo experiências e formando sua personalidade. Por isso, as crianças precisam de cuidados e proteção, justamente por estarem mais suscetíveis a violências, pois ainda não entendem exatamente quais são seus direitos, o que caracteriza uma violência e como pedir ajuda. Assim, crescer em um lar violento gera consequências para o resto da vida e é o que aponta dos dados do Disque 100, que evidenciam que 81% das violências contra as crianças acontecem em suas casas.

Estudos apontam que a violência na infância pode alterar o cérebro não apenas no aspecto psicológico, mas também no biológico. “Todas as situações de maus-tratos, desde as mais leves até as mais graves, modificam de forma neurobiológica a maneira que as crianças têm de responder ante situações de estresse”, relata Lourdes Fañanás de Saura, doutora em Biologia e pesquisadora do Centro de Pesquisa Biomédica em Rede de Saúde Mental (CIBERSAM). Além disso, experiências de violência durante os primeiros anos de vida também se relacionam com mais de 35% dos transtornos mentais diagnosticados na idade adulta.

 

A banalização da violência

Este cenário de violência parece ser a realidade para a maioria das crianças no país. Os lares violentos são reflexo da realidade violenta do sistema capitalista: hoje, mais de 60 milhões de brasileiros estão em insegurança alimentar; em 2 anos, a violência da polícia contra crianças e jovens em São Paulo aumentou 120%, e cerca de 5 mil crianças são assassinadas anualmente em nosso país. 

Diante dessa dura realidade, é que se reproduz a violência no seio familiar. Não é incomum os pais se utilizarem de gritos, humilhação, manipulação e castigos, na “intenção de educar” a criança. O mais comum são as agressões disfarçadas de educação, conhecidas como “palmadas”. Ao contrário do que pensam muitos pais, estudos científicos já comprovam que esses métodos não são eficazes e causam danos ao psicológico das crianças. A criança carrega essa marca para o resto da vida. Além disso, é uma forma de banalizar a violência. Uma criança que cresce em um lar violento tende a achar que é natural ser violentada ou violentar outra pessoa. 

Assim, a naturalização da violência às crianças é o reflexo das violências ao qual a classe trabalhadora já é submetida cotidianamente sob o capitalismo, uma vez que a família constitui a sua unidade fundamental para a reprodução deste sistema e de toda a sua dominação. “A família, tal como existe na sociedade burguesa, é ao mesmo tempo o reflexo da ordem econômica e uma de suas bases mais sólidas”¹. Neste modelo familiar, o modelo burguês, o homem é o centro do poder dessa relação social, enquanto a mulher e os filhos tornam-se sua propriedade. “Com a monogamia e a propriedade privada, o homem passou a ver a esposa e os filhos como sua propriedade exclusiva”². Nessa lógica, o homem pode fazer o que quiser com a mulher, já que esta é seu objeto: mandar, bater, até matar; da mesma maneira com as crianças: se são propriedade da família, são seus objetos, por isso os adultos podem decidir tratá-las como bem quiserem. 

 

A causa da violência contra as crianças é o sistema capitalista 

As relações familiares modernas são consequência do modo de produção, no caso, do sistema capitalista, sistema que vivemos hoje. Essa forma de organização da sociedade é pautada na exploração de classes: a burguesia — que é a classe dominante, domina os meios de produção e se apropria de tudo que é produzido pela sociedade — explora a classe trabalhadora — que é a classe que não tem posses, tem apenas sua força de trabalho, e a vende para o burguês em troca de um salário, que fornece o mínimo necessário para a sobrevivência. 

Nesse sentido, para manter o sistema funcionando, é necessário que a burguesia dissemine suas ideias, ou seja, a ideologia, para que as pessoas acreditem que a sociedade em que vivemos é a melhor, a mais correta e a única possível. Daí surge a dominação cultural, através das crenças e costumes da sociedade. A família é, portanto, uma unidade fundamental para continuar a disseminação do sistema capitalista, pois reproduz esta lógica de exploração. 

A educação libertadora, aquela que é defendida pelos comunistas, pretende que as crianças sejam seres individuais e devem ser respeitadas para garantir seu desenvolvimento pleno enquanto pessoa. Portanto bater, gritar, humilhar e qualquer outra forma de violência não contribui para o desenvolvimento infantil, pelo contrário, reforça a violência. Contudo, se a banalização da violência às crianças é resultado do sistema capitalista de produção, a luta pelo direito à infância está, da mesma forma, ligada à luta pelo socialismo. O socialismo é um sistema de produção baseado na colaboração mútua, sem exploração do trabalho de ninguém; por isso, a individualidade e o bem-estar das pessoas são assegurados. 

Assim, na luta pelo socialismo, é fundamental romper com a violência na educação das nossas crianças. Bater, gritar, oprimir e qualquer outra forma de violência não deve ser encorajado. Devemos construir creches coletivas, para assim aliviar a sobrecarga da família — sobretudo as mulheres, que são as principais responsáveis pelo cuidado com os pequenos — e retirar unicamente dela a responsabilidade de educar e cuidar, afinal o bem-estar das crianças é do interesse de toda a sociedade. As creches devem ser espaço de cuidado, proteção e formação das crianças. Criar filhos que acreditam no respeito às diferenças, são solidários e não reproduzem a violência é fundamental para a derrota do capitalismo e a vitória do socialismo. 

 

Notas: (Friederich Engels em A origem da família, da propriedade privada e do Estado)

Professores lutam contra atraso de salário em Petrópolis (RJ)

Professores contratados e estagiários lutam contra o atraso de pagamento e falta de condições de trabalho em Petrópolis-RJ.

Christian Nunes | Petrópolis – RJ


TRABALHADOR UNIDO – Desde o fim do ano passado, centenas de professores e profissionais da educação lutam contra atrasos salariais e corte de direitos patrocinado pela Prefeitura de Petrópolis, na Região Serrana do RJ. Professores temporários, estagiários e de categorias precarizadas convivem com o parcelamento do pagamento ou simplesmente o calote do município.

Esta realidade tem piorado numa das cidades mais ricas do interior do Rio. Isto porque o atual prefeito segue a mesma cartilha do anterior e se recusa a chamar os aprovados no último concurso e a realizar novos. Ao contrário disso, tem imposto uma política de precarização da força de trabalho da educação pública municipal.

Luta pelo salário

No dia 19 de maio, mais uma vez se repetia a mesma história que se arrasta há anos, os estagiários e professores não concursados das escolas da prefeitura de Petrópolis estavam com seus salários atrasados mais uma vez e decidiram partir para a luta. 

Vários professores compareceram e grande parte aderiu a paralisação e não compareceu ao trabalho nas escolas. O Movimento Luta de Classes e a Unidade Popular se somaram a esta luta.

Dentre as reivindicações, estão a demanda de pagar os salários em dia e a criação de um contrato que estabeleça regras para a jornada e o pagamento do salário. 

Até agora, a prefeitura e a Câmara de Petrópolis deram poucas respostas sobre as demandas da categoria, mas cederam à pressão da luta e pagaram os salários referentes à abril. Ainda assim nenhuma resposta foi dada com relação às reivindicações, dentre elas, a necessidade de um Vale-transporte, a remuneração das horas de planejamento das aulas, ausência de um contrato e a falta de uma data de pagamento.

De forma muito injusta, algumas direções das escolas estão fazendo perseguição contra os trabalhadores que aderiram à paralisação. Inclusive, grande parte dos trabalhadores tem medo de aderir e ter seus salários descontados por falta, receberem represálias ou serem demitidos.

Enquanto isso, o prefeito Hingo Hammes (PP) no final do último ano, em uma manobra articulada com a Câmara, aprovou o aumento de 70% do seu salário e dos seus secretários. Aparentemente, o dinheiro só falta quando não é para encher o bolso dele, caso contrário, não hesita em arrancar mais dinheiro dos trabalhadores que buscam viver digna e honestamente.

Somado a essa situação, o Diário de Petrópolis, mídia burguesa local da cidade, publicou uma matéria sobre a paralisação nas redes, mas aparentemente “mudaram de ideia” e retiraram a matéria do ar, numa tentativa de calar a voz dos estagiários e trabalhadores da educação, demonstrando ser uma mídia que tem o rabo preso com os interesses políticos do prefeito.

Entretanto, esta situação de incerteza não desanima os trabalhadores dessa categoria tão precária que possuem uma instabilidade tão grande junto aos RPAs (contratados por demanda da prefeitura), sendo que podem ser mandados embora a qualquer momento. Todos sabem que sem salário em dia não dá pra viver, e quando não há opção, só a luta organizada, com a união de todos, pode melhorar suas condições de vida. Novas paralisações e atos estão sendo organizados para o próximo período, enquanto a prefeitura e a Câmara Municipal se mantiverem omissas.