A primeira edição do jornal A Verdade foi lançada em dezembro de 1999, com a manchete “FHC: o professor que virou um grande fazendeiro”. Foram 1.500 exemplares que circularam em cinco estados. Desde então, as ideias defendidas por A Verdade vêm obtendo cada vez mais apoio. O número de leitores cresceu a cada mês e hoje o jornal circula em 20 estados. A tiragem foi crescendo ano a ano e atingiu, em abril, 18.500 exemplares.
Este crescimento permitiu que, após 22 anos, o jornal A Verdade passasse a ser quinzenal. A partir de agora, serão duas edições por mês.
E há mais novidades: A Verdade ganhou um novo projeto gráfico e seu site www.averdade.org.br, após sofrer ataques dos inimigos da democracia, tem novo visual para facilitar a leitura. Em junho, terá ainda um aplicativo para baixar no celular.
Pode parecer pouco para alguns. Mas não é. Enquanto jornais da burguesia deixam de circular e passam a existir somente na internet, A Verdade lança agora duas edições impressas por mês no Brasil. Ademais, A Verdade é um jornal a serviço da classe explorada e oprimida, a imensa classe operária, as massas trabalhadoras. Suas páginas não são vendidas às grandes corporações internacionais e nacionais nem defendem os interesses do capital financeiro, das mineradoras ou do agronegócio. É um jornal dos trabalhadores que luta pela emancipação dos pobres, pelos direitos das mulheres, pela justiça social, democracia popular e socialismo.
Ergue sua voz contra o racismo e em defesa dos povos indígenas e denuncia todos os crimes cometidos pelo Estado burguês. Os princípios de A Verdade são baseados no marxismo-leninismo, no fim da exploração de classes, na solidariedade e fraternidade entre os irmãos trabalhadores e os povos de todo o mundo.
A Verdade é um jornal que se sente honrado em desafiar e lutar contra os poderosos interesses da classe capitalista e pelo fim da escravidão assalariada. É um jornal socialista no seu conteúdo e na sua forma, pois é feito com base na cooperação de centenas de companheiros e companheiras. Leva à prática os princípios definidos pelo grande revolucionário e criador do socialismo científico, Karl Marx: “A função da imprensa é ser o denunciador incansável dos opressores. (…) O dever da imprensa é tomar a palavra em favor dos oprimidos a sua volta. O primeiro dever da imprensa é minar todas as bases do sistema político existente”.
Mas a vitória de A Verdade se transformar num jornal quinzenal não caiu do céu. Foi fruto de um trabalho coletivo e planejado. Um importante Ativo Nacional de Agitação e Propaganda foi realizado no mês passado com dezenas de militantes, além dos ativos estaduais que se seguiram. Semanalmente, a Redação Nacional se reúne, debate as matérias, distribui entre os editores e prepara a próxima edição.
Como tem apoio entusiasta de seus leitores, A Verdade conta ainda com diversos colaboradores que escrevem textos e mandam fotos. Além disso, A Verdade dispõe de centenas de brigadistas, militantes do PCR, da UP e dos movimentos sociais que garantem que ele chegue às mãos do povo.
A Verdade quinzenal é uma vitória da imprensa popular e socialista, uma vitória de todos que nessa caminhada trabalharam para que este sonho se tornasse realidade, uma vitória principalmente para os oprimidos e explorados que terão um jornal ainda mais incansável na denúncia dos opressores, sempre erguendo a bandeira da revolução e do socialismo.
Com A Verdade quinzenal, semearemos mais e organizaremos mais operários e operárias no exército que construirá uma nova sociedade, na qual não haverá pobreza, nem corrupção, fascismo ou exploração. Apesar do fascista e dos generais, A Verdade quinzenal triunfou. Avante, camaradas!
Trabalhadores na audiência de julgamento do registro da UP no TSE, em outubro de 2019 – Foto: Jorge Ferreira / Jornal a Verdade
Jorge Ferreira
Era manhã de uma quinta-feira de outubro de 2019 quando os servidores do Tribunal Superior Eleitoral tiveram que lidar com com uma situação incomum: algumas dezenas de trabalhadores desejavam assistir uma audiência de julgamento. A lotação do plenário com cerca de duzentas confortáveis cadeiras não era o problema, mas os visitantes não estavam com “vestimentas adequadas” que os permitisse estar diante dos ministros.
Naquele dia, homens e mulheres que diariamente acordam cedo e utilizam transporte público lotado para trabalhar, que pegam no pesado para sobreviver, colocaram suas melhores roupas, seus melhores sapatos, alguns cortaram o cabelo, outros usaram o melhor perfume. Era dia de festa. Após dois longos anos e um milhão e duzentas mil assinaturas recolhidas nos trens, nos bairros populares, nas portas de fábrica, e, apesar das dificuldades, registradas em cartórios de vários estados em todas as regiões do país, havia chegado o dia que iniciaria o julgamento do registro da Unidade Popular pelo Socialismo na mais alta corte eleitoral do Brasil.
Com a emoção transbordando em sorrisos largos, representando todos aqueles abnegados trabalhadores que entregaram suas poucas horas livres para cumprir a tarefa histórica de constituir o partido dos pobres, do povo trabalhador, entraram no prédio do TSE para assistir a audiência que reconheceria a legitimidade de todo o processo. Entretanto, a poucos metros do plenário principal do Tribunal, a chefe dos seguranças alerta que não será possível que os visitantes adentrem no local por não estarem vestidos adequadamente. “Onde está escrito isso?”, foi o primeiro questionamento do advogado Thiago Santos.
Thiago Santo, advogado da Unidade Popular, intervindo para garantir o acesso dos trabalhadores ao plenário – Foto Jorge Ferreira / Jornal a Verdade
Daí em diante iniciou-se uma luta contra o tempo. Há poucos minutos de iniciar o julgamento, nem mesmo o presidente do partido, Leonardo Péricles, morador de ocupação, havia conseguido entrar no plenário justamente por estar somente com camisa social, mas sem terno e gravata. “Veja bem, argumentava Thiago Santos, essas pessoas estão justamente com suas melhores roupas, não há ninguém vestido de forma inadequada”. As mulheres que estavam de calça jeans, ao ver o tempo passando e a recusa da chefe dos seguranças, começaram a improvisar saias com cachecóis. Os homens já não mostravam os dentes, uma pequena angústia tomava conta.
Em meio ao embate jurídico da legalidade da exigência de terno e gravata entre o advogado do partido e os servidores, alguns seguranças sensibilizados prometeram irem até o vestiário verificar se tinham terno reserva para emprestarem ao visitantes, mas já alertaram que não haveria para todos. Pouco antes de iniciar a sessão, o advogado do partido conseguiu que a questão fosse levada até a presidente da Casa, à época ministra Rosa Weber. Alguns instantes antes de iniciar o julgamento a entrada foi autorizada.
Foto Jorge Ferreira / Jornal a Verdade
Nesse dia, o procurador eleitoral Humberto Jacques apresentou parecer favorável, e o relator do processo, ministro Jorge Mussi, proferiu votou favorável ao registro alegando que “não poderia ser diferente, já que o partido cumpriu todas as exigências normativas”, entretanto o julgamento foi suspenso por um pedido de vista de um dos ministros, só sendo retomado, aprovado e registrado em dezembro do mesmo ano.
Mas foi exatamente naquele dia, 24 de outubro de 2019, que pela primeira vez o plenário do Superior Tribunal Eleitoral foi ocupado por pessoas sem terno e que, como retrata um grande filme, também não usam “Black Tie”.
Talvez tenha sido duro para os ministros da burguesia olharem de frente homens e mulheres que vivem do próprio suor. Para a Unidade Popular foi um dia histórico, mais um capítulo da emocionante luta pela libertação de milhões de trabalhadores brasileiros.
Fazia frio na tarde dessa quarta-feira, dia 12 de agosto, quando Movimento de Luta nos Bairros, Vilas e Favelas (MLB) organizou na cidade de São Bernardo do Campo um ato contra os despejos de famílias pobres durante a pandemia e em defesa do direito à moradia digna. O ato fez parte de uma agenda nacional de mobilizações que levou às ruas centenas de famílias, em diversas cidades brasileiras, levantando a bandeira do Despejo Zero, uma campanha nacional que unifica movimentos sociais e outros apoiadores na luta pelo fim dos despejos durante a crise da Covid-19.
A manifestação reuniu famílias de vários bairros de São Bernardo do Campo, cidade que sofre com uma política sistemática de despejos por parte do Prefeito Orlando Morando (PSDB), de Diadema, Santo André, Mauá, Francisco Morato, São Matheus e de várias regiões da Capital, além de outros movimentos que se somaram à essa luta, como o Projeto Meninos e Meninas de Rua (PMMR), o Coletivo Democracia Corinthiana, a Torcida Guerreiros do Tigre do São Bernardo F.C., o Movimento de Mulheres Olga Benário, etc. Para Gabriela Mousse, da Democracia Corinthiana: “Eles agem assim [despejos e repressão ao povo pobre] porque se sentem livres para fazer o que querem, não há motivo nenhum para ações desse tipo. Claro, o governo já é fascista e tá rolando uma pandemia, para eles fica mais fácil, por isso temos que ocupar as ruas com mais frequência”.
Foto: Manuelle Coelho / Jornal a Verdade
Alguns trabalhadores vieram de longe, é o caso de Cirilo Conceição, que viajou cerca de 80 quilômetros para poder participar do ato: “Sou de Francisco Morato, uma cidade abandonada pelos governantes. Governantes corruptos e omissos que permitiram que meu filho viesse a falecer. Quem me apoiou não foi nenhum governante, foi o povo, foi o MLB. Convidamos vocês a abraçarem essa causa porque essa é a causa de todos nós trabalhadores, estudantes, que pagamos aluguel, que somos despejados. O governo é o culpado disso, o governo não tá nem aí pra nós, eles querem é matar nossos filhos. Eles abandonam nossos bairros, na minha rua um carro não foi capaz de entrar pra prestar socorro ao meu filho. Eu abracei e vou continuar abraçando o MLB, essa ferramenta dos trabalhadores para lutar por uma moradia digna”.
Foto: Jorge Ferreira / Jornal a Verdade
A marcha, que contou com mais de cem pessoas, ocorreu no fim da tarde e foi da Igreja Matriz, no centro da cidade, até o Paço Municipal, em uma caminhada pacífica de mais de uma hora, mantendo o distanciamento social, o uso de máscaras e todos os cuidados relativos à pandemia da Covid-19 e sem qualquer tipo de conflito, sendo inclusive apoiada pela maior parte da população que transitava pela cidade, de carro, de ônibus ou a pé. Segundo Daniela, que constrói o MLB no bairro Detroit, em São Bernardo: “Essa manifestação é muito importante, estou aqui não só por mim, mas pelas minhas filhas e pela minha comunidade. Aprendi com o MLB que nós precisamos lutar, assim como fizeram os escravos, que se revoltaram e hoje são libertos. Mas ainda existe uma escravidão pra gente vencer e por isso estamos na luta”.
A organização do ato realizou um acordo com a Guarda Civil Municipal (GCM) e com a Polícia Militar, para que a manifestação fosse encerrada no Paço Municipal com uma assembleia das famílias que cobravam o seus direitos. No entanto assim que os primeiros militantes do movimento entraram no Paço, carregando uma faixa com os dizeres “Despejo Zero, Morar é um Direito”, a GCM descumpriu o acordo e atacou covardemente três Coordenadoras do MLB que carregavam a faixa, desferindo empurrões, socos e utilizando spray de pimenta sobre as mulheres; rapidamente um conjunto de famílias se aproximou, afastou os políciais e organizou um cordão de isolamento para impedir novas agressões.
Ao todo foram mobilizadas cerca de 30 viaturas entre GCM e Polícia Militar com o objetivo de impedir a continuação do ato através de uma ação agressiva e completamente desproporcional, descumprindo um acordo feito minutos antes, alegando que o movimento estava proibido de adentrar o Paço Municipal carregando qualquer tipo de bandeira ou faixa e demonstrando o caráter repressivo do Estado contra os trabalhadores, os pobres e os lutadores sociais que cada dia fica mais intenso no Brasil. As famílias conseguiram assegurar o direito de realizar sua assembleia no local e em alguns minutos de diálogo e de muita agitação política contra as injustiças do sistema capitalista, o sistema dos ricos que durante a pandemia promove o crescimento do patrimônio dos bilionários exploradores e o empobrecimento geral daqueles que vivem do próprio trabalho, decidiram encerrar a manifestação, prometendo que voltarão às suas cidades e bairros e organizarão ainda mais pessoas para lutar pela Reforma Urbana e pelo Socialismo. Segundo Thais Gasparini, uma das Coordenadoras Estaduais do MLB agredidas pela GCM: “Essa repressão, esse uso da violência para calar quem se manifesta é um espelho do que acontece na periferia, em que essa mesma GCM é utilizada pra derrubar as casas do povo pobre. Isso precisa acabar, por isso nos manteremos firmes na luta, cada dia maiores, combatendo a exploração, a especulação imobiliária e a política dos ricos, dos latifundiários e dos banqueiros”.
Para Arnor, membro do MLB do bairro do Divinéia, em São Bernardo: “O ato foi muito bom, muito bonito, temos que seguir lutando. Já precisamos marcar a próxima passeata”.
No capitalismo, as guerras são fruto da concorrência entre as classes dominantes de diferentes nações pelo domínio do planeta. Na Primeira Guerra Mundial, formaram-se dois blocos imperialistas opostos: Tríplice Aliança (Impérios Alemão, Austro-Húngaro e Turco-Otomano) e a Tríplice Entente (Impérios Inglês, Francês e Russo).
O sol nasce vermelho
Algo novo, entretanto, surgiu durante a Primeira Guerra Mundial: a revolução socialista de outubro de 1917, na Rússia; nova cisão ocorria no mundo, agora dividido em dois sistemas adversos: o capitalismo e o socialismo.
Os dois blocos capitalistas passaram a ter um objetivo comum: a destruição do primeiro Estado operário-camponês da história, em vista da restauração do capitalismo em escala global. Foi com este propósito que o bloco vencedor investiu na economia alemã 15 bilhões de marcos em seis anos (1924-1929).
Quando o nazismo se apossa da Alemanha e explicita seu intento de domínio mundial, as potências capitalistas dominantes não tratam de combatê-lo. Ao contrário, fecham os olhos às suas agressões e até incentivam o monstro nazista a direcionar seu ataque contra a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS).
Em 1939, a URSS propôs à Inglaterra e França um pacto para ações militares conjuntas se os países do Eixo (Alemanha, Itália e Japão), bloco nazifascista, iniciassem a guerra na Europa. Não houve rejeição formal, mas nenhum passo foi dado por parte dos países capitalistas para concretizar o pacto. Ao contrário, França e Inglaterra firmaram com Alemanha e Japão acordos de não-agressão. Deixada sozinha, em agosto de 1939, a URSS assinou com a Alemanha um tratado de não-agressão. Os dirigentes sabiam que, mais cedo ou mais, tarde Hitler romperia o acordo, mas conseguiram ganhar um tempo valioso para transferir parte de suas indústrias para o leste do grande território soviético, bem como reforçar sua capacidade de defesa militar.
De 1938 a 1941, Hitler ocupou Áustria, Checoslováquia, Polônia, Bélgica, Holanda, Dinamarca, Noruega, Grécia, Iugoslávia e finalmente a própria França. Na Europa central e oriental, a Alemanha adquiriu imensa quantidade de material de combate, meios de transporte, matérias-primas, materiais estratégicos e força de trabalho, tornando-se forte o suficiente para atacar a URSS.
Hitler, no livro MeinKampf(Minha Luta), proclamou: “…tratando-se de obter novos territórios na Europa, deve-se adquiri-los principalmente à custa da Rússia”.
A invasão hitlerista foi impiedosa. “Fuzilavam em massa as pessoas (mulheres, crianças, idosos, montavam campos de morte, deportavam para trabalho forçado na Alemanha. Por onde passavam, não deixavam pedra sobre pedra”. Era a política do extermínio. “Eu tenho o direito de destruir milhões de homens de raça inferior que se multiplicam como vermes” (Hitler).
Em resposta, o governo, o Partido Bolchevique e o povo soviético lançaram a palavra de ordem: “Morte aos invasores fascistas, tudo para a frente! Tudo para a vitória!”. Às fileiras do Exército Vermelho se integraram milhões de homens. Criaram-se também inúmeros regimentos de milícia popular, contando com dois milhões de combatentes.
Formou-se ainda na retaguarda uma força guerrilheira massiva. A dedicação e bravura do povo soviético comoveram o mundo e foram decisivas para quebrar a resistência capitalista (EUA, Inglaterra, França). Formou-se finalmente o bloco aliado, antifascista, a frente única dos povos pela democracia.
Caíra por terra a ideia de Hitler de que a ocupação da URSS seria um passeio uma “guerra relâmpago”. Os nazistas não imaginavam a resistência que encontrariam nas principais cidades: Leningrado, Stalingrado, Kiev e Moscou, entre tantas. Homens, mulheres, idosos e crianças se ergueram como muralha inexpugnável.
Os feitos do povo soviético repercutiram no mundo inteiro, levando um jornal burguês como o STAR, de Washington, a publicar: “Os sucessos da Rússia na luta contra a Alemanha hitleriana revestem-se de grande importância não só para Moscou e o povo russo, como também para Washington, para o futuro dos Estados Unidos. A história renderá homenagens aos russos por terem suspendido a guerra relâmpago, pondo em fuga o adversário”.
Em junho de 1942, os invasores avançam, mas encontram uma barreira instransponível em Stalingrado. Durante sete meses de combate, os invasores perderam 700.000 soldados e oficiais, mais de mil tanques, dois mil canhões e morteiros, 1.400 aviões. Os invasores eram tecnicamente superiores, mas, em novembro de 1942, os números já se invertiam em favor dos soviéticos. Os alemães estavam com 6.200.000 soldados, os soviéticos com 6.600.000; 5.000 tanques invasores contra 7.000 soviéticos; 51.000 peças e morteiros contra 77.000.
Na derrota do Stalingrado, os nazistas perderam 1,5 milhões de soldados e oficiais. “… Do ponto de vista moral, a catástrofe que o exército alemão sofreu nos acessos de Stalingrado teve um efeito sob o peso do qual ele não pôde mais reerguer-se”. (A segunda guerra mundial, B.Lideel Hart)
Depois, ocorreu a vitória do Cáucaso e se iniciou processo de expulsão em massa dos ocupantes nazistas. “A União Soviética pode orgulhar-se das suas heroicas vitórias”, escreveu o presidente dos EUA, Franklin Roosevelt, acrescentando: “…os russos matam mais soldados inimigos e destroem mais armamentos do que os outros 25 estados das Nações Unidas no conjunto”.
O final de 1943 marca a virada na frente soviética e na Segunda Guerra em geral. O movimento contra o nazifascismo se consolidou e se ampliou em todo o planeta.
Em junho de 1944, com o exército alemão batido em todas as regiões da URSS, as tropas anglo-americanas desembarcaram no Norte da França, dando início à frente ocidental proposta pelo governo soviético desde o início da invasão.
Pode-se dizer que a essa altura a guerra estava decidida, diante da derrota alemã na Rússia. O próprio Winston Churchil, primeiro-ministro britânico, reconhece o papel fundamental dos soviéticos, no discurso pronunciado na Câmara dos Comuns, em julho de 1944: “….Considero meu dever reconhecer que a Rússia mobiliza e bate forças muitíssimas maiores que as enfrentadas pelos aliados no Ocidente, que, há longos anos, ao preço de imensas perdas, ela suporta o principal fardo da luta em terra”.
Um exército libertador
Apesar de imensas perdas, o Exército Vermelho avançou no encalço dos alemães pela Europa Oriental adentro, fustigando os nazistas e auxiliando as forças populares da resistência a derrotarem os ocupantes e seus colaboradores internos. Repúblicas democrático-populares foram instaladas com os partidos comunistas à frente na Polônia, Hungria, Iugoslávia, Checoslováquia, Romênia e Bulgária.
“Para Berlim!” era a palavra de ordem do exército libertador. Não foi um passeio. A resistência nazista, embora enfraquecida, produzia encarniçados e sangrentos combates. Os russos vitoriosos não mataram, não pilharam, não se vingaram dos crimes cometidos pelo exército alemão no solo soviético. Ao contrário, alimentaram os famintos, organizaram a assistência médica, o funcionamento dos transportes, a distribuição de água e de energia elétrica. A 2 de maio de 1945, o Comando Supremo alemão assinou o ato de capitulação incondicional das forças armadas, com a bandeira da URSS tremulando no alto do parlamento alemão, em Berlim. No dia 09 de maio, houve um imenso ato em Moscou em comemoração ao fim da Grande Guerra Patriótica (como os soviéticos denominaram sua participação na Segunda Guerra Mundial) e, desde então, até hoje, celebra-se na Rússia esta data como o Dia da Vitória.
Sob novos céus
Terminada a guerra na Europa, era preciso voltar-se para a Ásia. O Japão, aliado dos nazistas dominava milhões de pessoas na China, na Coreia, nas Filipinas. Apesar de as forças armadas dos EUA e da Inglaterra virem imprimindo sucessivas derrotas, as forças japonesas ainda eram numerosas e fortes. De vez em quando, elas atacavam as fronteiras da URSS e torpedeavam navios soviéticos em alto-mar.
No dia 8 de agosto de 1945, a União Soviética declarou guerra ao Japão e começou a ofensiva. Nesse mesmo dia, o primeiro-ministro japonês, Teiichi Suzuki afirmou: “…A entrada da URSS na guerra hoje de manhã põe-nos definitivamente numa situação sem saída e torna impossível continuar a guerra” . Estava certo. No final do mês, o Exército nipônico havia perdido 677 mil soldados e oficiais: 84 mil mortos e 593 mil prisioneiros.
Ao contrário do que muitos pensam, e a historiografia burguesa busca difundir, não foram as bombas estadunidenses lançadas no início de agosto contra Hiroshima e Nagasaki que provocaram a capitulação japonesa. A guerra continuou normalmente depois do ataque bárbaro e covarde. A rendição resultou do destroçamento do exército nipônico pelas tropas soviéticas.
Se alguém duvida, leia o testemunho do general Chenault, que chefiou as forças dos EUA na China: “…A entrada da URSS na guerra contra o Japão foi o fator decisivo para o fim da guerra no Pacífico, o que sucederia mesmo sem o emprego de bombas atômicas. O rápido golpe desferido pelo Exército Vermelho sobre o Japão fechou o cerco que pôs finalmente o Japão de joelhos”.
O Exército Vermelho contribuiu ainda para a expulsão dos nazistas da China e da Coreia. O sacrifício do povo soviético foi inestimável. Mas valeu a pena porque livrou a Humanidade da besta nazista. Foi também a vitória do socialismo que saiu da Segunda Guerra triunfante em toda a Europa Oriental e na China.
Por todos, valeu a carta de agradecimento enviada pelo povo coreano a Josef Stalin, comandante supremo das forças soviéticas: “… Os combatentes soviéticos chegaram não como conquistadores, mas como libertadores. Emancipada da escravidão, a nossa pátria respirou livremente. O céu apareceu-nos radioso. A nossa terra floresceu. Jorraram canções de liberdade e felicidade…”.
José Levino, historiador
Fonte de pesquisa: O Grande Feito do Povo Soviético e do Seu Exército. VassiliRiábov, Edições Progresso, Moscou,1983.
Enquanto milhões de brasileiros estão em isolamento ou distanciamento social devido à pandemia da Covid-19, o capitão reformado Jair Bolsonaro e seus puxa-sacos vivem um imenso isolamento político. A reprovação a seu governo já alcança quase 70%, suas Medidas Provisórias, sem apoio, caducam no Congresso Nacional e o Supremo Tribunal Federal (STF) decidiu que não é função do presidente desrespeitar governadores e prefeitos. Nos embates que travou com o ex-ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, ficou em minoria nas reuniões do seu Ministério. Teve que levar um de seus filhos para dentro do Palácio Planalto para poder conseguir ouvir diariamente: “Pai, você é o rei”.
E os fatos mostram uma dura realidade: após quase um ano e meio no governo, o capitão reformado, apesar de controlar um Orçamento Federal de R$ 4 trilhões, não construiu nenhum hospital público nem universidade. Tampouco ampliou o acesso da população ao saneamento ou construiu casas populares. O desemprego e o número de famílias vivendo na extrema pobreza cresceram enormemente no seu desgoverno. Usou todo o dinheiro público para enriquecer os especuladores, os banqueiros e permitir a remessa de bilhões de dólares do Brasil para os EUA.
O povo brasileiro, vendo que o capitão reformado é incompetente, antidemocrático e totalmente subserviente ao EUA, passou a reprovar seu governo em todas as regiões. Segundo o Instituto Datafolha, 17% de seus eleitores se arrependeram de ter votado nele.
Diante dessa crescente rejeição da população, o capitão reformado e seus filhos resolveram apelar para a velha política: recorrer às Forças Armadas, em particular ao Exército, para impor um regime ditatorial no país.
Assim, foram marcadas as carreatas e atos para o dia 19 de abril, dia que é considerado Dia do Exército. O Exército, seu comandante geral e o Alto Comando sabiam do ato e deram total permissão para que Bolsonaro e seus puxa-sacos o realizassem com dezenas de faixas encomendadas e com dezenas de assessores de deputados e de pessoas que ocupam cargos de confiança no governo, os conhecidos “aspones”.
No entanto, os atos foram um fracasso. Em São Paulo, dezenas de carros luxuosos, acompanhados de várias motos, algumas delas que custam mais de R$ 50 mil reais, foram verdadeiramente “ovacionadas”, isto é, receberam ovos e tomates dos prédios por onde passavam. Em Brasília, apenas algumas centenas de pessoas atenderam ao chamado de Bolsonaro e, se retirarmos os assessores da conta, fica uma ridícula minoria. Pior: após o ato, nove pessoas deram entrada em hospitais de Brasília com suspeita de Covid-19.
Pois bem, com o repúdio nacional à fala de Bolsonaro em frente ao Quartel General do Exército em Brasília, os generais passaram a dizer em off a jornalistas que não concordavam com aquele discurso defendendo um golpe militar e a volta do AI-5 e pediram ao capitão para “baixar o tom”. Na manhã desta segunda-feira, 20 de abril, um irritado e nervoso presidente, com suas mãos trêmulas (lembrando Hitler no filme A Queda), tentou desdizer o que tinha dito. Mas, revelando sua natureza fascista, parafraseou o rei Luís XIV, e declarou: “Eu sou a Constituição”.
Os fascistas e a grande a burguesia nacional e internacional olham a história do Brasil, observam os inúmeros golpes militares que aconteceram e acham que é fácil dar um golpe militar em nosso país e impor a censura à imprensa, torturar os que discordam, assassinar e esconder os corpos dos patriotas e democratas ou jogá-los no mar. Pensam que assim terão a paz dos cemitérios dizendo que o “Brasil vai pra frente, ame-o ou deixe-o” e que a ditadura militar é o melhor regime para governar um povo rebelde, como é o brasileiro.
Mas, senhores e senhoras fascistas, ensina a filosofia dialética que, se houve tantos golpes militares assim no Brasil é porque nenhum conseguiu se manter eternamente. Ou melhor, todos foram derrotados nas ruas pelos trabalhadores, pelas mulheres, pelos jovens, pelo povo brasileiro. Duvidam? Então terão que ouvir novamente nosso povo nas ruas desfilando e cantando: “Amanhã vai ser outro dia!” ou “Você não gosta de mim, mas sua filha gosta!”.
Passeata em São Paulo contra a Reforma da Previdência. Foto: A Verdade
Por Wanderson Pinheiro e Leonardo Péricles
1 – O Brasil e a questão internacional
O chamado neoliberalismo se aprofundou no Brasil nos anos 1990, primeiro no Governo Collor e depois durante os dois governos de Fernando Henrique Cardoso. Na verdade, tratou-se de uma maior submissão das economias nacionais com abertura dos mercados, iniciada no Chile e na Argentina, diante de um crescimento da exportação de capitais e maior domínio do capital financeiro internacional sobre as economias nacionais latino-americanas. Foi um período de ampla hegemonia dos EUA, encoberto sob o discurso da globalização.
A queda brusca dos impostos de importação e exportação, o fim do controle de capital e a isenção de impostos para a sua movimentação, a adoção de uma política cambial ancorada no dólar, o achatamento salarial dos trabalhadores e a privatização das principais empresas estatais foram as medidas centrais que tiveram consequências estruturais perversas para a economia nacional.
No entanto, o que se desenvolve de fato são as características do imperialismo capitalista, com o aprofundamento da financeirização do capital monopolista e uma gigantesca exportação de capitais por diversas vias. O capital se expande permanentemente, destruindo as economias nacionais, promovendo o desemprego e a redução salarial, para extrair mais-valia extraordinária e, assim, buscar manter sua taxa de lucro. Neste sentido, falar apenas contra o neoliberalismo e aceitar o capitalismo é propor aceitar a exploração dos trabalhadores, a manutenção da escravidão assalariada e sua expressão política, a democracia burguesa.
Além da política neoliberal praticada pelo imperialismo dos EUA, sofremos uma ação neocolonialista brutal, com a “elite nacional” sendo subornada e praticando a corrupção. Este fato foi evidenciado no processo de privatização, tendo boa parte dos recursos sido desviada para o “caixa 2” das campanhas eleitorais de 1998, mantendo FHC no governo.
Outro objeto de controle da nação foi a dívida pública. Com o aumento dos juros para conter a inflação, os novos financiamentos recebidos do FMI aumentaram em muito as dívidas externa e interna, ampliando a dependência do Brasil ao capital financeiro dos EUA. A abertura financeira ocasionou ainda o aumento da dívida interna, pois era extremamente favorável para o capital financeiro especular com a alta de juros (a taxa Selic atingiu 45,67% ao ano, em 1997), com controle do câmbio e livre movimentação de capitais.
Resumindo: ocorria uma espoliação financeira terrível devido à política de total submissão às ordens do dito “Consenso de Washington” praticada pelo governo brasileiro.
Essa abertura gerou também a quebra de milhares de empresas nacionais. As pequenas e médias empresas foram as mais atingidas, mas também grandes empresas foram à falência, iniciando o processo de desindustrialização nacional. Porém, um setor com maior acúmulo de capital, a grande burguesia interna, que fez o acordo com a burguesia estadunidense, teve lucros crescentes e caminhou para expandir seus negócios para o exterior. Setores como o do agronegócio, da construção civil e dos frigoríficos, tornaram-se grandes empresas internacionais e, a partir desse acordo, passaram a expandir-se para a região do Mercosul.
Outros setores foram se associando ao capital estrangeiro, seja na aquisição das importantes empresas estatais que foram privatizadas (setores de minério, siderúrgico, energia, etc.) ou de indústrias e serviços privados para o investimento dos capitais internacionais. Tornaram-se, assim, um setor submisso ao capital internacional e aos ditames da Organização Mundial do Comércio (OMC).
Entre os anos de 2003 a 2010, vivenciamos o Governo Lula e, de 2011 a meados de 2016, o Governo Dilma. Foi um período de hegemonia petista, considerado por alguns como desenvolvimentista ou neodesenvolvimentista, mas teve como base a diversificação da dependência nacional, principalmente em relação ao crescimento das exportações para a China, pautado também pelo investimento público feito nas empresas públicas e privadas, e pela ampliação do consumo da população com base numa grande oferta de crédito.
Esse processo de consumo levou a um relativo desenvolvimento da indústria naval, da construção civil, do agronegócio e da pecuária, propiciando o crescimento do lucro da grande burguesia e do capital financeiro. Porém, sendo um desenvolvimento com base no crescente endividamento e submetido aos interesses da grande burguesia nacional e mundial, terminou por esgotar-se com o aprofundamento da crise do capitalismo mundial.
Na verdade, o governo praticou uma política neodesenvolvimentista, mas manteve a hegemonia do capital financeiro, aprovando leis em seu benefício, como a lei de garantia de empréstimos com descontos em folha. A “Carta aos Brasileiros”, no início do primeiro mandato de Lula, foi, no fundamental, uma mensagem ao mercado financeiro internacional em que o presidente se comprometia a manter todos os acordos anteriores, não mexer no processo das privatizações, manter o controle da inflação, garantir o pagamento da dívida pública com altos juros e ampliar seus benefícios. Isso significou, na prática, a manutenção da política neoliberal.
Além de não ter revogado nenhuma das corruptas privatizações do Governo FHC, o PT realizou novas: privatizou portos, aeroportos e rodovias, além de fazer leilões de campos de petróleo para empresas estrangeiras. Porém, com o pré-sal (considerado o bilhete premiado), alterou o regime de exploração, mantendo os leilões em outros termos. Assim, a Petrobras foi um poderoso instrumento para desenvolver a política neodesenvolvimentista, promovendo investimentos em refinarias e alavancando a indústria naval brasileira e a construção civil. No entanto, o PT não reverteu a abertura de capital da Petrobras e esta permaneceu influenciada pesadamente pelos acionistas internacionais e pelo mercado.
A crise da era petista se iniciou em 2014, no final do primeiro Governo Dilma. A crise econômica chegou ao Brasil e ficou evidente que a política neodesenvolvimentista não conseguiu resolver os problemas estruturais do país, principalmente por não suspender o pagamento dos juros da dívida pública e manter a espoliação do capital financeiro e a dependência em relação ao agronegócio. Por outro lado, a relação com a China, que trouxe a ampliação da venda de commodities a níveis altos e a abertura para importação de produtos de toda ordem, gerou uma maior desindustrialização e dependência do setor externo. Essa troca desigual trouxe enormes benefícios para a grande burguesia do agronegócio, da mineração, da pecuária, da construção civil, etc., mas, como sempre, bastou uma oscilação do mercado internacional para tudo ir abaixo.
Realmente, a crise mundial se aprofundou com reduções seguidas de crescimento da economia chinesa. A China, mesmo possuindo enormes monopólios e rivalizando o comércio internacional com os EUA, não ficou de fora da nova crise de superprodução relativa que dificultou a realização de seu capital mundialmente. É importante notar que essa crise e a disputa de mercados continuam a se desenvolver, ameaçando agora entrar num período mais profundo, como afirmou recentemente a OMC. Sem ter como exportar mais mercadorias e com o superacúmulo de capital, a China avança a financeirização da sua economia.
Vejamos o que se sucedeu de 2007 a 2015. A China chegou a crescer 13%, em 2007, e o mercado de commodities brasileiro teve uma alta considerável. Em 2010, a China teve mais uma queda no seu PIB para 10,4%. Em 2015, relatório do FMI dizia que a China diminuiria o crescimento para 6,8%, a menor taxa anual do país dos últimos 25 anos. A queda da economia brasileira foi quase automática. Dilma Rousseff, que tomou posse para o segundo mandato no dia 1º de janeiro de 2015, permaneceu no posto apenas um ano e meio.
A crise ocasionada pela redução da produção da China fez cair enormemente o preço das commodities e reduziu os lucros da grande burguesia. Sendo pragmática, a burguesia, que há pouco havia colocado o gorro “comunista” na cabeça para adular o imperialismo chinês, pulou do barco e abandonou Dilma, definitivamente afastada do cargo em agosto de 2016.
O impeachment de Dilma teve ainda um elemento geopolítico. Os EUA usaram todo o seu poder para manter o país como sua área de influência, pois, mesmo sabendo que o PT atendia ao capital financeiro e pagava religiosamente a dívida pública, o avanço da crise do capitalismo mundial exigia ainda mais submissão. Vale salientar que a UP, ao mesmo tempo em que estava em processo de construção, esteve nas ruas lutando e denunciando este golpe.
Da mesma maneira, resistindo à quebra da sua hegemonia em nível internacional, os EUA lançaram o Tratado Transpacífico (TPP), que tinha como objetivo enfraquecer a China. Porém, após a eleição de Trump, os EUA se retiraram do TPP e adotaram como tática acordos bilaterais. Depois, abriram uma guerra comercial direta com a China, levantando barreiras às mercadorias chinesas, o que dura até hoje.
Assim, os EUA intervieram no Brasil com o objetivo de retirar o PT do governo para garantirem no poder um aliado subserviente. Financiaram e corromperam o judiciário brasileiro, apoiaram a fabricação da “Operação Lava-Jato”, que levou Lula à cadeia e promoveu a eleição de Bolsonaro. Da mesma maneira, os EUA disputam a Venezuela, com ações de bloqueio econômico e ameaça de invasão, e a Bolívia, onde promoveram um golpe fascista. Aparentemente, existe uma disputa entre forças reformistas liberais e o neoliberalismo fascista no continente, que tem como pano de fundo as disputas entre as duas propostas para conduzir o mundo capitalista.
Também era importante para os EUA ter o Brasil, principal país da América do Sul, como sua área de influência estratégica. Tendo como objetivo central na América Latina a derrubada do Governo Maduro e não obtendo sucesso pela via “pacífica”, intensificou o bloqueio econômico e buscou envolver o Brasil e a Colômbia numa aventura imperialista contra a Venezuela. Trata-se claramente de uma estratégia neocolonialista, que visa a usar tropas de outros países, mas mantendo o objetivo de conquista e ainda lucrando com a guerra.
A China é hoje a segunda potência econômica mundial e busca acumular forças na disputa pela hegemonia no planeta, fato que leva ao acirramento de contradições interimperialistas. Antes apenas exportadora de manufaturas, a China está alcançando o mais elevado grau de tecnologia, uma enorme acumulação de capital e intensificando a fase de exportação de capitais. No momento, essa exportação ocorre por meio do financiamento de infraestrutura nos países em desenvolvimento, investimentos financeiros, compra de títulos do Tesouro estadunidense, empréstimos e investimento direto.
O processo de exportação de capitais parece ser a ponte para uma defesa militar das áreas de influência econômica. Por isso, a China tem hoje o segundo maior gasto militar do planeta e já instala bases militares internacionais, sendo que a primeira foi estabelecida na África. Na América Latina, a China tem grandes investimentos, sendo o principal parceiro comercial de diversos países, inclusive do Brasil. Por isso, investem pesadamente em grandes porta-aviões, jatos, armas nucleares, e já superam os Estados Unidos em alguns aspectos tecnológicos.
Para termos uma noção, o país asiático investiu no Brasil, do ano de 2007 a 2018, US$ 57,9 bilhões em 145 projetos voltados principalmente para o setor de geração, transmissão e distribuição de energia elétrica. Os investimentos, no último ano, foram especialmente diretos, sendo 50% realizados em empresas construídas a partir do zero. Mas 42% foram investimentos em fusões e aquisições. Segundo o embaixador da China no Brasil, Yang Wanming, a China está aumentando a abertura do setor financeiro, de serviços, da agricultura, mineração e manufatura. Estima-se que o investimento chinês no próximo ano ultrapasse os US$ 10 bilhões.
A China mantém os investimentos mesmo no Governo Bolsonaro e, embora reaja às declarações do filho dele de forma dura, o pragmatismo do capitalismo chinês projeta grandes investimentos nas áreas de a) energia, da ordem de R$ 24,7 bilhões em quatro projetos (hidroelétrica, termonuclear e transmissão); b) ferrovias, R$ 29,1 bilhões em quatro projetos (2.800 km); c) óleo e gás, R$ 117,5 bilhões em quatro projetos; d) portos, com R$ 5,9 bilhões em 16 projetos; e) aeroportos, R$ 2,1 bilhões em dois projetos.
Por outro lado, embora Trump afirme que apoia Bolsonaro e ambos troquem elogios ideológicos em público, os EUA não fazem nada do ponto de vista financeiro para apoiar o governo brasileiro. O investimento dos EUA no Brasil foi pequeno em 2019: o valor foi de US$ 2,2 bilhões, menor que o de 2017, quando o montante correspondeu a US$ 2,9 bilhões. Os compromissos firmados se restringiram a acordos antinacionais e militares, como a entrega da Base Espacial de Alcântara, no Maranhão, e um acordo que transforma o Brasil numa força auxiliar do Comando Sul dos EUA, tornando-se um aliado extrarregional da OTAN. Ou seja, um acordo militar subserviente, que coloca o Brasil como mais uma base de operação militar dos EUA na região.
Como vemos, Bolsonaro segue cegamente o imperialismo norte-americano, pois, como fascista que é, em um país de economia altamente dependente e submissa como é o Brasil, seguirá a linha fascista de Trump para apoiar-se internacionalmente no império dos EUA. Bolsonaro é um representante da grande burguesia[1] e dos militares fascistas, que se declaram abertamente submissos ao capital estadunidense, não possuindo sequer um verniz de nacionalismo.
2 – Desenvolver a consciência das massas populares, aumentar o isolamento de Bolsonaro e criar as condições para derrubar o governo
O 8 de março foi a última grande manifestação nacional antes da pandemia. Foto: A Verdade
Diante da crise do coronavírus e da projeção de uma crise econômica mais profunda nos próximos meses, setores da própria burguesia (como evidenciou editorial recente do Financial Times) falam que os governos devem ajudar a economia promovendo investimentos e renda para os mais pobres, ou seja, praticar uma política antiliberal para ajudar a cobrir os prejuízos da própria burguesia. Bolsonaro, no entanto, insiste em manter o arrocho salarial, cortar salário dos servidores e seguir a retirada de direitos a ferro e fogo. Assim, quer ser mais realista que o rei e promover a política neoliberal dos banqueiros e do capital financeiro estadunidense a todo custo.
Por tudo que fez desde o início do governo, como retirada de direitos dos trabalhadores, congelamento dos salários, desemprego e venda do patrimônio público, Bolsonaro tem um enorme desgaste, que tende a crescer com o aprofundamento da crise do coronavírus e a demissão de Luiz Henrique Mandetta do Ministério da Saúde. As mortes que se multiplicam evidenciam que a retirada dos recursos públicos da saúde foi um crime de lesa-humanidade. Também a insistência de Bolsonaro contra o isolamento social e de que a Covid-19 é apenas um “resfriadinho” trarão consequências desastrosas para a população. Hoje já temos quase 70% da população contra esse governo.
Porém, não vivemos em uma democracia popular, em que a maioria do povo é que decide. Vivemos debaixo de um governo de fascistas que tem como principais ministros generais da ativa e da reserva. Também é um governo que representa os interesses da grande burguesia, que é uma ínfima minoria da sociedade e, por isso, teme o movimento operário e popular e tende ao fascismo, principalmente em momentos de crise.
Portanto, não devemos subestimar a possibilidade de o atual governo, sob o pretexto de o país viver uma calamidade pública, promover um golpe e decretar um estado de sítio. Para isso, os fascistas não precisam de apoio da maioria da população, basta contar com apoio das Forças Armadas e de uma parcela reduzida da população disposta a ir às ruas nos seus luxuosos carros. Lembremos ainda que o governo dos EUA, aliado de Bolsonaro, pratica uma política fascista que impulsiona correntes desta natureza na Europa e na América Latina.
Em almoço realizado na sede da FIESP, no último dia 03 de fevereiro, para os 250 maiores industriais de São Paulo, com a presença de Bolsonaro, o presidente da entidade, Paulo Skaf, afirmou que “O Brasil não está dando certo. O Brasil já deu certo”, declarando, assim, o apoio da grande burguesia ao fascista. Este apoio é firmado especialmente na política de Paulo Guedes, que promoveu a reforma trabalhista, a reforma da Previdência e dá continuidade, em meio à crise do coronavírus, a propostas como a Carteira de Trabalho Verde e Amarela e a retirada de direitos dos servidores públicos. Assim, o apoio ao fascista está condicionado à agenda de retirada de direitos que assegure a maior extração de mais-valia dos trabalhadores.
O fascista também tem o apoio da Confederação Nacional da Agricultura e Pecuária (CNA), representada por João Martins, que também é parte da minoria dos exploradores e representa a grande burguesia agrária. Em setembro de 2019, momento em que Bolsonaro fez um ridículo discurso na ONU exaltando a ditadura militar de 1964, Martins afirmou que Bolsonaro o representou, fazendo excelente discurso: “Defendeu a soberania nacional, esclareceu equívocos sobre a Amazônia e ressaltou o importante papel do Brasil na produção mundial de alimentos e na preservação do meio ambiente. Também afastou a tese de que o governo está colocando o mundo contra o agro brasileiro, defendendo não apenas o setor, mas toda a nação”.
Vale lembrar que esse foi o momento em que a Amazônia estava em chamas e que o agronegócio foi um dos principais responsáveis por este crime contra a natureza. Mas vejamos que, apesar da reafirmação do apoio da grande burguesia, os meses vão se passando e fica evidente a cada dia que o governo Bolsonaro vem se enfraquecendo e perdendo apoio popular. Porém, será defendido para que fique no poder por essa minoria enquanto for útil para a grande burguesia.
Nesse momento, apresentam-se algumas propostas políticas para retirada de Bolsonaro da presidência. O impeachment é uma delas. No entanto, com um Congresso Nacional altamente reacionário e antipopular como o atual, a única forma de forçar o impeachment seria a realização de grandes manifestações nas ruas. Mas, no momento, devido ao crescimento do número de mortes pela Covid-19, esta possibilidade não é viável. Desse modo, apostar que um Congresso Nacional que aprova leis contra os trabalhadores vai aprovar o impeachment sem o povo nas ruas é ignorar o papel das massas na luta política e propagar ilusões parlamentaristas.
Outra proposta apresentada é apelar para que Bolsonaro, que faz planos para governar 20 anos, renuncie. É como pedir para o diabo virar anjo. Alguns desses setores chegam até mesmo a afirmar que o general Mourão seria um “mal menor”. Esse é o caso do governador do Maranhão, Flávio Dino, do PCdoB: “Claro que Mourão não é do meu campo ideológico. Mas, se Bolsonaro entregar o governo para ele, o Brasil chegará em 2022 em melhores condições”.
Trata-se de um ledo engano e demonstra uma gigantesca ilusão de classes, uma total traição ao povo e sua história. Mourão é um general, representante ainda mais direto dos interesses do setor ultraconservador e fascista das Forças Armadas. Como Bolsonaro, Mourão defende a tortura, tenta falsificar a história escondendo os crimes cometidos pelas Forças Armadas e pela grande burguesia durante a Ditadura Militar, sendo, portanto, um defensor do aumento da repressão contra o povo e a classe trabalhadora.
Dessa maneira, nossa tática de aprofundar o desgaste deste governo, manter e impulsionar a palavra de ordem “FORA BOLSONARO! POR UM GOVERNO POPULAR!” é, sem dúvida, a mais correta. Primeiro, porque é a palavra de ordem que está na boca do povo. Foi gritada por milhares de mulheres de todas as correntes políticas no 8 de março, sendo esta a última manifestação nacional contra o fascismo. Segundo, taticamente, no momento de avanço da pandemia do coronavírus em que nos encontramos, devemos ter como principal atuação a solidariedade aos trabalhadores e trabalhadoras para enfrentar essa barbárie nas periferias e denunciar o caráter antidemocrático e antipopular do governo. Terceiro, devemos ampliar os panelaços nas periferias, sendo esta uma forma de protesto importante, criada no fogo da batalha e capaz de desgastar o governo, dialogando com a consciência da classe trabalhadora, dizendo que o governo com sua política aumenta a fome e a miséria e só governa em prol da classe rica e dos EUA.
Assim, prepararemos o terreno para derrubar o Governo Bolsonaro pelas mãos do povo e fortaleceremos uma alternativa popular para o desfecho dessa crise, qual seja, a construção de um poder popular e do socialismo, única saída verdadeira para termos um país livre e independente. Da mesma forma, romperemos com as ilusões do reformismo e da pequena burguesia de que derrotarão o fascismo no âmbito institucional promovendo um impeachment ou mesmo pedindo, por favor, para que Bolsonaro renuncie.
3 – Derrotar o imperialismo capitalista é uma tarefa fundamental
Solidariedade internacionalista a Cuba e à Venezuela. Foto: G1
Precisamos ter a consciência de que enfrentamos o fascismo internacionalmente. Por isso, a classe trabalhadora, em nível mundial, é nossa principal aliada na luta contra os imperialismos e pelo socialismo. Não basta levantar a bandeira contra a política neoliberal e passar a defender o neodesenvolvimentismo, pois o capitalismo é brutal em todas suas formas e tem como único objetivo despejar a crise nas costas da classe trabalhadora.
O capitalismo desenvolvimentista não é alternativa ao neoliberalismo, pois ambos são exploradores da mais-valia dos trabalhadores. Nosso objetivo deve ser destruir o capitalismo, e não apenas a política neoliberal dos EUA. Os neodesenvolvimentistas cumprem o papel de abrir caminho ao fascismo e são a outra face da moeda do capitalismo.
Prova disso foi o que ocorreu na Segunda Guerra Mundial, quando os EUA e a Inglaterra, tidos como democratas naquele período, deixaram a chama nazifascista bater-se contra a pátria socialista, só dando apoio na Frente Oriental depois de perceberem que a URSS sairia vitoriosa, e com grande chance de que seriam também vítimas do nazismo.
Quem é socialista e comunista tem como principal obrigação defender a classe trabalhadora e defender seus interesses presentes e futuros. Portanto, devemos trabalhar em nível internacional para que a classe trabalhadora não seja levada a uma luta interimperialista, mas que lute por sua libertação, pois, como internacionalistas que somos, fazemos parte do mesmo exército do mundial do proletariado.
Os trabalhadores e o povo da Venezuela estão na linha de tiro do imperialismo estadunidense, portanto, nossa solidariedade aos venezuelanos e nossas ações principais devem ser no sentido de derrotar esse imperialismo fascista e expulsá-lo da América Latina. Apoiamos, como internacionalistas, a classe trabalhadora que luta contra o imperialismo, mas que também luta pelo socialismo. Defendemos que esta classe possa, no processo revolucionário em curso, tomar consciência e declarar o caráter socialista da revolução. Não podemos aceitar sermos instrumento nem do imperialismo dos EUA, nem do imperialismo chinês e russo, uma vez que estes investem financeiramente na Venezuela, visando a mantê-la como área de influência econômica e geopolítica, gerando, de fato, igual dependência e exploração para os trabalhadores.
A revolução socialista é a única forma de derrotar definitivamente o imperialismo e a exploração dos trabalhadores. Essa luta é a luta do presente, atual e estratégica para a classe trabalhadora. Quem pensa o contrário, não faz mais que defender a manutenção da exploração do homem ou considerar este objetivo algo utópico. Para que os trabalhadores possam decidir seu destino e sua autodeterminação é fundamental fazer uma revolução proletária.
Trabalhadores e trabalhadoras de todo o mundo, uni-vos!
Wanderson Pinheiro e Leonardo Péricles, membros do Diretório Nacional da Unidade Popular (UP)
[1] Apesar das visíveis disputas políticas de Bolsonaro com outros representantes da grande burguesia, como Dória e a Globo, no fundamental, não divergem quando se trata de aumentar a exploração sobre a classe trabalhadora e a retirada de direitos – como vimos no caso da Reforma da Previdência, da PEC dos Gastos e no Pagamento da Dívida Pública, dentre outras medidas antipopulares.
São Mateus tem colagem lembrando nomes e referências na luta do Povo Negro no Brasil e no Mundo
Foi realizado no bairro do Vila Flávia, São Mateus, Zona Leste de São Paulo, na semana do 20 de Novembro uma ação de colagem de nomes e referências negras na história da luta do povo negro e referências da periferia. Jovens do bairro espalharam nomes de homens e mulheres da luta antiracista como Luis Gama, Marielle Franco, Luisa Mahin, da luta anticapitalista como Angela Davis, Carlos Marighella, além de muitas referências como Emicida, Negotinho, Mano Brown, Mestre Moa, e homenagem a crianças mortas pelo Estado como a menina Ágatha Félix, de 8 anos, morta pela PM do RJ, e do menino Lucas Eduardo, de 14 anos, morto em Santo André pela PM de SP.
O mês de Novembro é um mês de agitação e propaganda sobre a luta do povo negro mas também de reforçar a importância da organização para enfrentar um sistema e um governo que tem aprovado medidas para aumentar o genocídio diretamente, autorizando ainda mais a impunidade da PM, ou indiretamente, privatizando o SUS, que atende em maior parte a população negra, precarizando o trabalho, feito em maior parte pela população negra. Esses e outros fatores que fortalecem ainda mais o racismo estrutural, ferramenta de submissão econômica e cultural do sistema capitalista. Para fazer frente de forma efetiva a quem nos mata e proteger nossa população e juventude negra de forma efetiva, precisamos lembrar nesse mês de Novembro de nos organizar em um movimento popular de porte nacional, mantida pelas forças e recursos do povo e movido pelos interesses da luta da classe trabalhadora no Brasil.
Lucas Nascimento Coordenador Nacional do Movimento de Luta nos Bairros, Vilas e Favelas / MLB SP
Durante a manhã dessa sexta-feira (22), Mauá, município do ABC paulista, amanheceu com os ônibus na garagem, e manifestações no terminal central: trabalhadores da Suzantur, transportadora turística privada responsável pelas linhas de ônibus da cidade, declararam greve contra a revogação contínua de direitos.
P. O.*, trabalhador da Suzantur e integrante do turno da tarde, alegou que a mobilização entre os trabalhadores começou quando um motorista não recebeu o depósito do vale salarial, benefício garantido pelo contrato. Contudo, esse fato foi apenas o estopim: os motoristas da Suzantur sofrem com a falta de pagamento dos salários, assédio moral, horas extras compulsórias e expedientes sem pausa para o banheiro no cumprimento das dezenas linhas que a cidade de Mauá possui.
Além da falta de pagamento de salários, recusa do depósito de benefícios, M. Q.*, trabalhador do turno da manhã, declarou ao Jornal A Verdade que as condições de trabalho pioram diante das jornadas extensas. “Cheguei a trabalhar durante vinte dias seguidos. Aqui não tem respeito”.
Apesar do posicionamento da empresa, que caracterizou a paralisação como “indevida”, a greve foi vitoriosa, e garantiu que o depósito do vale salarial ocorresse. Os ônibus voltaram a circular a partir das 14h.
*Os nomes dos trabalhadores que concederam depoimentos ao Jornal A Verdade foram alterados.
Gabriela Torres – Movimento de Mulheres Olga Benário
SÃO PAULO – Neste domingo, 17, milhares de pessoas foram à avenida Paulista, no centro de São Paulo, em solidariedade ao povo boliviano e contra o golpe de Estado sofrido por Evo Morales. O ato foi chamado pelo Comitê Brasileiro de Solidariedade ao Povo Boliviano Contra o Golpe, e contou com a presença de crianças, estudantes e trabalhadores da comunidade boliviana residente, além do apoio de muitos brasileiros.
As bandeiras boliviana e Whipala, símbolo da plurinacionalidade do país e da cidadania dos povos originários, foram firmemente tremuladas por todo o ato. Palavras de ordem também marcaram a manifestação, destacando o repúdio ao golpe de Estado, a resistência popular pela democracia, e denunciando o fascismo promovido por figuras da extrema direita do país, como a senadora (autoproclamada presidente) Jeanine Áñez e o empresário multimilionário Luis Fernando Camacho.
Através de um manifesto, distribuído no ato, o Comitê Brasileiro de Solidariedade ao Povo Boliviano Contra o Golpe afirma: “A luta do povo boliviano contra o golpe, contra Camacho, contra o fascismo, contra o racismo e a extrema direita, é uma luta que deve receber a solidariedade de todas as pessoas e da classe trabalhadora de todo o mundo que defendem as liberdades democráticas.” O manifesto também pontua: “Não reconhecemos como presidente da Bolívia a autoproclamada Jeanine Áñez, uma fraude, assim como Juan Guaidó, o autoproclamado presidente da Venezuela.”
O golpe na Bolívia representa uma ofensiva de setores extrema direita, aliada do imperialismo dos EUA e de grandes grupos empresariais e especuladores do mercado financeiro. Os diversos povos bolivianos que se erguem em defesa da democracia resistem ao golpe há semanas, como os lutadores do Chile, Equador e Haiti, que rechaçam ataques das elites do poder econômico. Com os últimos acontecimentos, desmancham-se as ilusões com o imperialismo, com a conciliação com grandes ricos e exploradores da classe trabalhadora. A real saída para a América Latina, cada vez mais, aponta para o poder popular.
Na manhã desse sábado, 14, centenas de pessoas tomaram o centro de Santo André para conclamar o Grito dos Excluídos e Excluídas do ABCDMR. O ato começou com um café da manhã coletivo, uma caminhada pela rua principal da cidade terminando com uma homenagem a brasileiros que deram a vida por uma nação mais justa e igualitária. O ato contou com adesão e organização de diversos movimentos sociais, ambientalistas, partidos de esquerda, movimentos populares do campo e da cidade, movimento estudantil, de mulheres, pastorais sociais e religiosas de diferentes matrizes e entidades sindicais.
O Grito dos Excluídos e Excluídas acontece há 25 anos e esse ano ecoou em mais de 200 cidades e em todas as capitais do Brasil. Esse movimento nasceu da necessidade de dar voz ao povo, às minorias e à população historicamente excluída pelo Estado burguês, que segue interesses de banqueiros lucrando com a miséria do nosso povo, deixando em segundo plano direitos básicos como: saúde, moradia, transporte, trabalho, informação e vida digna.
Foto Reinilson Câmara
“A vida em primeiro lugar! Este sistema não vale: LUTAMOS POR JUSTIÇA, DIREITOS E LIBERDADE” foi o lema do 25º grito dos excluídos. A marcha em defesa de direitos sociais e da luta contra o desemprego, levantou vários problemas estruturais como encarceramento em massa, genocidio da população negra, feminicídio, transfobia, lgbtfobia, cortes na educação e a “reforma” da Previdência, promovido pelo governo fascista de Jair Bolsonaro.
Também foi pauta do ato a questão do meio ambiente, por conta do aumento das queimadas, do avanço do desmatamento na Amazônia, dos crimes da Vale em Brumadinho e Mariana, em Minas Gerais. Além disso, foi erguido a bandeira contra o projeto do centro logístico de Paranapiacaba, proposto pelo prefeito de Santo André, Paulo Serra (PSBD), que ameaça uma área de proteção ambiental com importantíssimo valor histórico nacional, turístico, paisagístico e de serviços ambientais como provisão de águas para a Represa Billings.
Por fim, o ato do ABCDMR terminou com homenagens aos verdadeiros heróis da pátria, que lutaram por um país mais justo e igual, por meio de uma intervensão cultural com fotos e palavras de ordem. Nomes como Marielle Franco, índio Galdino , Zumbi dos Palmares, Dandara dos Santos, Milton Santos, Elenira Resende, Carlos Mariguella, Chico Mendes, Carolina Maria de Jesus e Manoel Aleixo foram lembrados e homenageados.
Foto Cadu MachadoFoto Reinilson Câmara
Reinilson Câmara Filho – Unidade Popular pelo Socialismo
Na última quinta-feira (15) cerca de 147 famílias foram despejadas numa ação truculenta e violenta promovida pela Polícia Militar do estado do Rio de Janeiro com ordens do governo estadual em Monte Alto, bairro do segundo distrito de Arraial do Cabo na Região dos Lagos. O Movimento de Luta nos Bairros, Vilas e Favelas – MLB esteve presente no local no dia seguinte junto ao Jornal A Verdade para acompanhar a situação das famílias e prestar solidariedade e apoio. “Foram momentos de terror, eram mais de 40 viaturas, trator, helicóptero, drone, canhão de água, centenas de policiais encapuzados e armados até os dentes. Parecia que estávamos em guerra.” contou uma moradora. Outro morador continuou: “quando os policiais chegaram por volta das 5 horas da manhã, dissemos que tínhamos uma liminar da justiça garantindo que poderíamos ficar ali até que a prefeitura apresentasse uma outra solução de um local decente para essas famílias morarem. O comandante da operação se recusou a ver o nosso documento e tampouco nos deixou ver o documento que ordenava a realização daquela operação. Dali em diante começou o terror, jogaram bomba de gás lacrimogêneo, spray de pimenta, bala de borracha em todos, acertando inclusive grávidas, crianças e idosos sem a menor capacidade de resistência dos moradores. Daí em diante, destruíram nosso sonho. Passaram o trator por cima das 147 casas construídas com muito esforço coletivo por todos nós”.
Foto: Marcela Couri
A justificativa do governo para promover tal barbaridade, é de que aquela área pertence ao Parque Estadual da Costa do Sol e seria área de preservação ambiental. “Aqui só tem trabalhador, não tem bandido não. A gente não invadiu a terra não porque queremos destruir o meio ambiente. Só estamos aqui porque não temos outra opção.” disse uma moradora. Em áreas ao redor do “projeto” (como foi apelidado o local pelas famílias) existe um condomínio enorme, garagem náutica e um outro terreno de milhares de metros quadrados que pertencem à construtora Volendam, que tem carta branca para fazer o que quiser, sem se preocupar com as questões ambientais. “É necessário compatibilizar a preservação ambiental com o direito social do uso da terra. A dignidade da vida humana está prevista na legislação ambiental, e o direito à moradia digna foi reconhecido e implantado como pressuposto para a dignidade da pessoa humana, desde 1948, com a Declaração Universal dos Direitos Humanos e consta na Constituição Federal de 1988”, disse Ana Paula, conselheira do parque e militante da Unidade Popular pelo Socialismo. Essa é a realidade de cerca de 7,7 milhões de famílias em todo o Brasil, que compõe déficit habitacional em nosso país. São milhões de pessoas que moram em situações precárias, de favor, não tem mais condições de pagar aluguel e se encontram em situação desesperadora. Por outro lado, vemos milhões de imóveis e terrenos que não cumprem nenhuma função social, servindo apenas à especulação para gerar lucro para os ricos donos das grandes construtoras. O grande questionamento que ficamos nesse caso é: por que a Volendam pode explorar e degradar o meio ambiente em grandes proporções no terreno ao lado para obter fabulosos lucros, mas quando as famílias buscam um local pra morar são tratadas com violência pelo estado?
Foto: Marcela Couri
O estado do Rio de Janeiro tem a polícia que mais mata e que mais morre, é onde 5 jovens negros e pobres foram assassinados na última semana sem enquanto iam para a escola, para o trabalho ou apenas se divertir com os amigos. Enquanto nosso sangue escorre pelo chão da favela, o governador anda de helicóptero mirando sua arma na gente. Esse caso é reflexo da política genocida promovida pelo Estado Capitalista, de guerra aos pobres, guerra aos negros e negras. No “projeto restinga” os moradores respiram resistência, luta e esperança. Muitos dos que não tem pra onde ir, seguem tentando reerguer as construções e sobrevivendo através da solidariedade dos moradores da região que fornecem abrigo em suas próprias casas, doam roupas, alimentos e ajuda. A decisão dos moradores do projeto é de que só vão sair de lá se a prefeitura apresentar uma alternativa digna, “todos aqui tínhamos a nossa casinha, humilde, mas conquistada com muito suor e luta! Não vamos aceitar menos do que isso!” disse um morador durante assembléia realizada.
Foto: Marcela Couri
O Movimento de Luta nos Bairros, Vilas e Favelas – MLB segue acompanhando e prestando apoio a essas famílias. Acreditamos que morar dignamente é um direito humano e que se o Estado Capitalista prioriza os lucros acima da vida, queremos destruir esse Estado e construir no seu lugar um Estado dos trabalhadores, onde prioridade seja a vida digna, com emprego, moradia, educação, saúde, etc. Enquanto morar for um privilégio, seguiremos lutando pela reforma urbana e o socialismo!
A Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação (CNTE) realizou a 9º Conferência Nacional de Educação Paulo Freire com o tema “Educação Libertária e Democrática: construindo o movimento pedagógico Latino-Americano” entre os dias 26 a 28 de junho em Curitiba. O objetivo do encontro foi debater os desafios e rumos da educação brasileira, sendo estabelecida greve nacional no dia 13 de agosto contra os retrocessos do governo atual.
Dentre as pautas discutidas, os educadores se debruçaram sobre o Plano Nacional da Educação (PNE), sancionado em 2014 e com validade de 10 anos, com o propósito de direcionar esforços e investimentos para a melhoria do quadro educacional brasileiro. O Plano é composto por 20 metas contemplando todos os níveis educacionais que, apesar de muito promissoras, apenas uma foi cumprida de acordo com o Inep.
Destaca-se a meta 1, que diz respeito a universalização e democratização do ensino básico tendo como finalidade atender 100% das crianças de 4 a 5 anos matriculadas na pré-escola até 2016, além de garantir 50% das crianças de 0 a 3 anos em creche até 2024. Segundo dados do Pnad, apenas 90% das crianças de 4 a 5 anos foram atendidas e somente 1/3 estão em situação de creche. Essa defasagem é vivenciada principalmente nas periferias, onde as filas de espera por vaga nas creches podem levar anos colaborando com a desigualdade enfrentada pelas mulheres na participação no mercado de trabalho.
A estagnação e não cumprimento das metas são resultados dos ataques que o sistema educacional brasileiro sofre constantemente. Prova disso é a emenda constitucional nº 95 implementada pelo governo Temer que congela, durante 20 anos, investimentos públicos direcionados a saúde e educação. Além do corte de 30% das verbas destinadas às universidades e institutos federais, anunciado recentemente pelo ministro da educação. As duas ações fazem parte de um projeto que confronta diretamente as diretrizes do PNE, uma vez que a falta de recurso penaliza o avanço das melhorias no ensino público.
Além disso, a militarização das escolas incentivada por Jair Bolsonaro, visa instituir um sistema onde a censura é peça chave, ferindo a efetivação da gestão democrática de educação proposta pela meta 19 do Plano. Na mesma linha, o descumprimento se fez presente quando aprovadas as mudanças no “Novo Ensino Médio” pelo Conselho Nacional de Educação, órgão vinculado ao MEC, que libera o ensino a distância totalizando 20 e 30% de carga horária, respectivamente no período diurno e noturno, acentuando ainda mais a defasagem no ensino público.
Essas ações com embasamentos apenas voltados aos interesses capitalistas, sem considerar a realidade do povo brasileiro, são responsáveis por colocar a situação educacional do país em risco. O desleixo com que se é tratado o ensino público foi demonstrado nos últimos dados coletados pelo IBGE, provando que a educação ainda não é para todos. Cerca de 40% da população com mais de 25 anos não chegaram a concluir o ensino básico, e daqueles que concluíram, o maior percentual está entre os brancos (55,5%) ao passo que entre os negros, o número cai substancialmente (40,4%). Considerando que a maior parte da população brasileira é negra, o acesso a educação no Brasil ainda é limitado e desigual pela negligência do governo em promover políticas públicas que incentivem o acesso à todos.
Analisando todo este quadro, os educadores presentes da 9ª Conferência apresentaram um manifesto repudiando as sucessivas contra-reformas liberais no setor educacional e o desmonte das políticas educacionais e sociais que atacam os direitos da população, especialmente da população mais marginalizada (mulheres, negros, índios e LGBTs). Além disso, também criticaram a proposta da Reforma da Previdência e as conseqüências que irá trazer principalmente para as professoras de rede pública, aumentando 10 anos a idade mínima para aposentadoria. Ao final do manifesto, os profissionais conclamam a luta incessante e o compromisso para com a educação, convocando todas as instituições de ensino para uma grande greve geral no dia 13 de agosto.
Diante dessa conjuntura, se fazem necessárias as críticas, a mobilização e organização dos estudantes, trabalhadores e servidores públicos em defesa do ensino de qualidade no país e contra a destruição da aposentadoria, como foram feito nos dias 15 e 30 de maio pela educação, e no dia 14 de junho na Greve Geral que mobilizou categorias ao redor do país e que foram responsáveis pelo fechamento de diversos pontos estratégicos das cidades.
Foto: Jorge Ferreira/Jornal A Verdade
“Numa palavra, a educação se tornou a grande esperança, a grande promessa da nacionalidade e da democracia. Com espanto, porém, vemos que, no atual governo, ela é apresentada como ameaça.” – afirmam ex-ministros em carta contra as políticas educacionais do governo Bolsonaro.
Inimigo da Educação, o governo Bolsonaro vem promovendo um verdadeiro sucateamento do ensino público no país. Em abril, através de sua conta no twitter o atual presidente fascista insinuou que os cursos de ciências humanas não mereciam investimentos, adiantando a pretensão de seu governo de cortar verbas do ensino superior. Mesmo com a revolta da população diante de tais alegações, pouco tempo depois, o governo através de seu Ministro da Educação, Abraham Weintraub, anunciou o corte de 30% nas verbas das universidades sem diálogo prévio com a comunidade acadêmica, impactando diretamente o funcionamento dos institutos federais. Na ocasião, o governo alegou que os cortes no ensino superior eram necessários para garantir o investimento na educação básica. Contudo, isso se mostrou como mais uma de suas mentiras contra a população mais pobre, ao estender o corte orçamentário para toda a pasta de educação, incluindo os programas de ensino infantil ao médio.
Frente a essa situação de completo desmonte das políticas educacionais do país, seis ex-ministros de governos anteriores se reuniram em um evento promovido pela Universidade Estadual de São Paulo (USP) e redigiram uma carta aberta em oposição às medidas do governo Bolsonaro. Na carta, José Goldemberg (1991-1992), Murílio Hingel (1992-1995), Cristovam Buarque (2003-2004), Fernando Haddad (2005-2012), Aloizio Mercadante (2012-2014) e Renato Janine Ribeiro (2015), expressaram sua preocupação com “as políticas para a educação adotadas na atual administração”, enfatizando que a magnitude dos cortes promovidos no último período “podem ter efeitos irreversíveis e até fatais”.
De acordo com eles, nessa gestão, a educação deixou de ser vista como prioridade nacional e passou a ser tida como uma ameaça, enfatizando a postura do governo em ignorar especialistas da área atuando de “forma sectária, sem se preocupar com a melhoria da qualidade e da equidade do sistema, para assegurar a igualdade de oportunidade”. Em outras palavras, a carta converge com as denúncias realizadas pelos movimentos sociais e estudantis frente aos ataques de Bolsonaro. Para Beatriz Baria, militante do Movimento Correnteza de São Paulo: “cortar investimentos dos institutos federais e da educação básica, determinar o fim das bolsas para pesquisadores, é mais uma forma desse desgoverno vergonhoso de atacar nosso povo. Somos nós, a juventude pobre, que vai ser impedida de ter uma educação de qualidade, pra encher os bolsos dos grandes grupos privados, que fazem da educação mercadoria, como a Kroton Educacional”.
A carta denuncia ainda a perseguição e a censura impostas pelos governos aos docentes, ressaltando a importância do “respeito à profissão docente, que não pode ser submetida a nenhuma perseguição ideológica […] Convidar os alunos a filmarem os professores, para puni-los, é uma medida que apenas piora a educação, submetendo-a a uma censura inaceitável”. Em outro trecho, reforçam: “a autonomia universitária é uma conquista que deve ser mantida para garantir a liberdade e qualidade na pesquisa, formação e extensão”.
Ao fim do texto, os ex-ministros propõem a “formação de uma ampla frente em defesa da educação” e anunciam a criação de um “Observatório da Educação Brasileira dos ex-ministros da Educação, que se coloca à disposição para dialogar com a comunidade acadêmica e científica, sociedade e entidades representativas da educação, com parlamentares e gestores, sempre na perspectiva de aprimorar a qualidade da política educacional”.
Jady Oliveira União da Juventude Rebelião
[1] Kroton Educacional: a maior empresa privada do mundo no ramo da educação, um conglomerado que monopoliza e atua em função da privatização do ensino privado, em detrimento da educação pública, gratuita e acessível.
RIO DE JANEIRO Um ano após a execução da Vereadora Marielle Franco pela milícia, a deputada federal Talíria Petrone (PSOL-RJ) – assim como Marielle uma política negra, de periferia e LGBT – teve a solicitação de escolta negligenciada pela omissão do Governador Wilson Witzel, do Partido Social Cristão, ao negar o pedido de proteção à vida da deputada que foi realizados após receber ameaças de morte.
Talíria recebe ameaças de morte desde 2016 quando foi eleita vereadora em Niterói/RJ. As ameaças vêm pelas redes sociais ou até por telefonemas feitos à deputada ou a sede de seu partido. A pouco mais de dois meses a polícia federal alertou ter encontrado na dark web informações sobre o planejamento de um atentado à vida da deputada.
Graças à investigação da PF, Talíria está sendo escoltada em Brasília, mas nas vezes em que retorna a Niterói, cidade na qual foi eleita e também onde recebeu as ameaças, anda desprotegida pois a solicitação enviada pelo presidente da Câmara dos deputados, Rodrigo Maia (DEM), foi negada pelo Governador Witzel, que nem sequer enviou uma resposta a Câmara.
Em abril deste ano a deputada foi chamada de “verme” pelo líder da bancada ruralista, Alceu Moreira (MDB-RS), durante uma audiência pública após reações da parlamentar às declarações do também deputado. Recentemente, após as denúncias de ameaças de morte, o filho do presidente, o deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), debochou em seu twitter dizendo que Talíria era hipócrita por se declarar desarmamentista e pedir escolta, alegando que a deputada deveria pedir “iluminação”.
A história da Professora Talíria em muito se confunde com a história de Marielle Franco. Ambas ameaçadas de morte e odiadas pelos conservadores, falsos moralistas e pelos milicianos. O que acontece é que em um país que possui cotas para que as mulheres enfim consigam ocupar o espaço político que é ocupado majoritariamente por homens brancos, héteros e ricos, existir duas mulheres negras, periféricas e LGBTs, que foram eleitas como as vereadoras mais votadas em suas respectivas cidades na primeira eleição que concorreram, é inaceitável.
É um atentado à democracia o estado do RJ não exercer seu papel e zelar pela vida de uma deputada que é ameaçada apenas por lutar pelos direitos das mulheres, dos negros, dos pobres e dos LGBTs. Sabemos as causas da omissão do governador reacionário Wilson Witzel, também sabemos de qual lado está o filho do presidente e amigo da milícia, Eduardo Bolsonaro, que ironiza as ameaças contra Taliria assim como ironizava as denúncias feitas por Marielle.
Mas não podemos esperar a morte de ninguém mais, muito menos de alguém que luta para defender o direito à vida de milhões de pessoas abandonadas pelo estado e massacradas pelo sistema capitalista.
Entre as principais mudanças apresentadas pelo governo Jair Bolsonaro para a segurança publica do país, está o projeto de Lei Anticrime divulgado pelo Ministro de Justiça e Segurança Publica Sérgio Moro.
Exército brasileiro assassina jovens negros inocentes na intervenção do RJ
O projeto que prevê alterações de 14 artigos do Código Penal e do Código Eleitoral não demonstra nenhuma novidade sobre as causas dos crimes, muito pelo contrário, coloca no centro da política de segurança pública o método da punição, única e exclusivamente como forma de redução da criminalidade.
Hoje já existe uma diferenciação dos
procedimentos de casos de homicídios envolvendo policiais em serviço. Por
exemplo: quando um policial comete um homicídio e alega legitima defesa, o
crime é juridicamente justificado como “morte por intervenção de agente de Estado”.
Esse procedimento hoje é conhecido como “Autos de Resistência”, e é responsável
por ser o principal argumento legal para justificar os assassinatos produzidos
pela policia, quase sempre sendo o processo arquivado. Porém, caso uma pessoa
comum mate e alegue legítima defesa, haverá um inquérito policial para apuração
do homicídio, que na maior parte dos casos termina em reclusão, ou seja, pena
de seis a vinte anos de prisão.
Nesse sentido, um dos principais eixos do
pacote apresentado está a excludente de ilicitude, nesse caso, mesmo que
o agente policial tenha praticado um homicídio, ele não será considerado um
criminoso, excluindo o ato ilícito. O Código Penal prevê três situações em que
se aplica a excludente de ilicitude: estado
de necessidade, legitima defesa e o estrito cumprimento do dever legal. Uma
das propostas que está no pacote de Sergio Moro é de flexibilização e ampliação
da excludente de ilicitude em favor de policiais.
Em situações em que a polícia precisa
executar uma prisão em flagrante, o ordenamento jurídico brasileiro autoriza o
policial em ação á exercer o estrito cumprimento do dever legal que é prender. Atualmente no Brasil, não
existe o dever legal de matar. Não
se justifica seguir atirando até causar a morte. Com a mudança proposta pelo
pacote, o texto de lei deixa claro: caso os policiais durante o trabalho
estiverem em situações de medo, surpresa
ou violenta emoção, e vierem a matar ou ferir alguém não poderão serem
punidos. Utilizando do pretexto da legitima defesa, o projeto formaliza e
amplia a violência e os assassinatos
praticados pela policia.
Um levantamento feito pelo Núcleo de Estudos da Violência da USP e o Fórum
Brasileiro de Segurança Pública, mostrou que houve um aumento de 18% de pessoas
mortas por policiais de
2017 para 2018 (5.225 para 6.160 mortes ao ano), ressaltando que essas
mortes são as que estão registradas no balanço anual. O ultimo relatório produzido pela Anistia
Internacional demonstrou que as forças policiais brasileiras são as que mais
matam no mundo.
A redução da violência urbana foi
destaque nas eleições de 2018, demonstrando uma enorme preocupação da população
com a segurança publica. Lembrando que essa era uma das principais promessas e
bandeiras das campanhas de candidatos, como Bolsonaro, João Dória, Wilson
Witzel. E com razão o povo, principalmente mais pobre tem clamado por justiça e
segurança. Os princípios constitucionais, em especial a dignidade humana, têm
sido violados e o brasileiro sofre no seu cotidiano.
Herança da ditadura
“Força
auxiliar e reserva do Exército” a Polícia Militar foi criada em 1969 sob
decreto-lei em pleno período de ditadura. Desde então e mesmo após a
democratização do Brasil em 1988, esse braço violento do Estado continua
atuando como há mais de 50 anos. Mesmo sendo hoje uma força à disposição do
Estado, a submissão é ao Exército autoritário brasileiro. Surge uma antinomia,
pois ao mesmo tempo em que polícia vem de polis,
do grego, cidadão, cidadania,militar vem do latim miles, milícia. Entende-se inclusive porque a militarização vê no indivíduo civil
um inimigo. O modo operante despreparado da polícia dá-se através do excesso de
violência, truculência e arbitrariedades. A tortura, por exemplo, é uma prática
cotidiana, comum e normal nas ações policiais na periferia adentro.
Com
o projeto de lei de Moro haverá um aumento de forças paramilitares. Esse
cenário aprofunda a impunidade
policial e é a semente para o nascimento de milícias, que no atualmente é o
grupo que mais oferece risco a segurança e vida do povo brasileiro, inclusive com comprovações já apresentadas pela investigação do envolvimento
direto desse grupo de extermínio com o brutal assassinato da ex vereadora e
militante Marielle Franco.
O Conselho de Direitos Humanos da
ONU solicitou que o Brasil despendesse maiores esforços para combater a
violência e projetar um fim à Polícia Militar, responsável por milhares de assassinatos.
Tudo isso fica muito claro quando vemos policiais formarem grupos de
extermínios e esquadrões da morte (criados no regime militar), carregados
de discurso de ódio, agindo de forma
criminosa, truculenta e autoritária. É urgente e necessário por fim a
militarização da polícia, e pensarmos um outro modelo de segurança pública para
não mais vivermos o cotidiano da barbárie e da escravidão, pois os chicotes de
ontem são as balas dos fuzis dos opressores de hoje!
O fuzilamento de Evaldo dos Santos, músico, num bairro periférico do Rio de Janeiro enquanto passeava com sua família na tarde de um domingo, representa o avanço do estado fascista que já não se importa em manter a aparência de um estado democrático de direito.
Ato na paulista em homenagem a Evaldo, músico assassinado pelo exército com 80 tiros. Foto: Jorge Ferreira
Com indignação o povo assistiu o presidente da república, 6 dias após o assassinato, vir à público se manifestar sobre o caso, limitando-se a defender a instituição que disparou 80 tiros e ceifou não só a vida de Evaldo, mas também de Luciano Macedo, catador de recicláveis, que tentou ajudar a família a sair do veículo no momento da ação criminosa. Segundo o presidente: “O exército não matou ninguém!” Entretanto, é equivocado pensar que essa barbárie é consequência exclusiva da chegada da extrema direita ao Poder, muito menos apenas de resquícios da ditadura militar. Na verdade o estado policialesco nunca deixou de estar presente nas periferias do Brasil.
No mundo, o 1% da população mais rica tem mais riqueza que os outros 99% somados. Os 6 homens mais ricos do mundo tem mais posses do que a metade mais pobre, mais de 3,5 bilhões de pessoas. Esse abismo social é também a realidade do Brasil, que tem uma das maiores desigualdades do mundo. Neese contexto, ao povo negro é reservado apenas os piores postos de trabalho, os piores salários e os barracos das grandes favelas. A imensa maioria da população negra é extremamente pobre e vive sob todas as formas de vulnerabilidade.
O desemprego é enorme e o varejo do tráfico termina sendo um desses postos de trabalho reservados especialmente para a juventude negra das periferias. Mesmo cumprindo uma tarefa desse negócio que gera enormes lucros para a burguesia, que utiliza seus bancospra lavar esse dinheiro, e por estar na ponta, mais visível e sustentando fuzis nas mãos, os jovens negros são vítimas de um discurso de criminalização e de uma política repressiva e genocida que assassina 66 mil pessoas por ano no Brasil, um verdadeiro índice de guerra civil. 78% desses jovens são assassinados por conta da sua cor da pele, por serem negros.
“É que cada tempo histórico tem suas perguntas sobre o passado, pois cada conjuntura produz uma história para justificar o seu presente.” É assim que Marielle Franco começa a demonstrar em sua tese de mestrado a importância de compreendermos nosso passado recente e o processo de implementação do neoliberalismo que o Brasil passou nas últimas décadas. Apesar do estudo da vereadora assassinada se concentrar na política de segurança pública do estado do Rio de Janeiro através das Unidade de Polícia Pacificadora, traz também importantes esclarecimentos sobre as causas do genocídio de negros e negras no país todo.
É verdade que desde a formação do estado brasileiro há uma política de extermínio daqueles que foram escravizados, e desde então diferentes ideologias foram utilizadas para perpetuar o poder na mão de uma minoria enquanto o povo dispõe de uma vida miserável. Mas também é urgente compreender as engrenagens da fase atual do capitalismo para traçarmos estratégias para a sua destruição. Nesse sentido que Marielle desmascara o estado penal vigente nas periferias como estrutura central do neoliberalismo no Brasil.
Nessa fase da crise do capitalismo, onde a elite econômica tenta enfiar goela abaixo reformas para aumentar seus lucros, mesmo que às custas da retirada de direitos trabalhistas e sociais, é necessário uma escalada no estado penal para conter aqueles que se encontram “excluídos” dessa sociedade. É por isso que na medida que os governantes avançam na destruição de direitos sociais, aumenta-se a repressão nas periferias, pois esses são os territórios tidos como inimigos do estado, que serve exclusivamente aos interesses da classe dominante.
A administração pública por sua vez, concentra esforços em passar a impressão que esse modelo de segurança pública, que invade casas, mata e tortura, se legitima em nome da proteção de toda sociedade. Essa é a tática da “guerra às drogas”, justificar o genocídio e o encarceramento em massa como necessário para manter a ordem.
Para tanto, o estado exerce papel crucial na manutenção do projeto de dominação. Se nos bairros ditos “nobres”, o estado se faz presente nas ruas bem asfaltadas, nos parques bem arborizados, e em todo conjunto de políticas que promovem o acesso à cidade, nas periferias esse mesmo estado se faz presente exclusivamente através das forças militares, seja pela polícia, pelo exército, ou mesmo por grupos milicianos.
Essa guerra aos pobres, transvestida de pacificação, não se justifica apenas com o sadismo de uma elite branca, mas sim por interesses econômicos. O estado, representante da burguesia, não contente com as reformas neoliberais, também está comprometido com o lucro dos megatraficantes, dos milicianos, da indústria armamentista, da especulação imobiliária, etc.
Justamente por incomodar aqueles que lucram com o extermínio da população negra e escancarar a as engrenagens desse sistema que Marielle Franco foi brutalmente assassinada.
Um ano depois de sua morte, os 80 tiros disparados pelo exército no carro de Evaldo e sua família nos traz à tona a urgência de apontar as raízes desse projeto genocida. Trata-se do modus operandi de um estado neoliberal, que manteve as mesmas práticas inclusive nos governos ditos progressistas, período em que o encarceramento mais do que dobrou. Se no Brasil o capitalismo é forjado no extermínio da população da periferia, que na sua maioria são negros e negras, o fim desse extermínio também depende da superação desse sistema perverso.
O RACISMO COMO IDEOLOGIA DE DOMINAÇÃO
Segundo Clóvis Moura, “o racismo não é uma conclusão tirada dos dados da ciência, de acordo com pesquisas de laboratório que comprovem a superioridade de um grupo étnico sobre outro. O racismo é uma ideologia deliberadamente montada para justificar a dominação de um grupo sobre outro. É, portanto, uuma ideologia de dominação.
Acontece que após a abolição da escravidão no Brasil, a elite do país determinada a manter seu projeto de domínio, costurou outras roupagens para sustentar o novo regime econômico. Nesse momento ganha destaque a concepção eugênica que correspondia a uma política de embranquecimento da população e a uma teorização sobre características de personalidade inerentes às raças.
Dentre elas, se destaca o papel do direito penal na formação do imaginário popular do negro como figura naturalmente criminosa. Ainda no período da primeira república, o código penal tipificava como crime o que ficou conhecido como lei da vadiagem. Num contexto de séculos de escravidão, foi como prender as pessoas simplesmente por elas serem negras. Essa política foi aprimorada ao longos das décadas, mas sem nunca perder o viés ideológico de dominação sobre os corpos marginalizados.
A Liga de Higiene Mental, por exemplo, braço do nazismo e do arianismo no Brasil, se destacou como defensora “científica” dessa tese e defendia, entre outras bandeiras, salários eugênicos (quanto mais clara a cor da pele, maior deveria ser o salário), recompensa para famílias que procriassem seres “superiores”, punição para os “inferiores”.
O higienismo social presente na segregação territorial até os dias de hoje, é oriundo das políticas da burguesia desde a formação da nação brasileira. A verdade é que esse país foi constituído sob uma ideologia burguesa e racista, que nega ao povo sua própria história, como estratégia política para perpetuar uma estrutura excludente.
Sendo assim, torna-se uma ingenuidade combater o racismo apenas através do viés acadêmico ou estritamente científico, muito embora não possamos de maneira nenhuma, negar o combate também nesse terreno. Mas a verdade é que a boa e velha luta de classes ainda é a forma mais eficiente de enfrentar o racismo no Brasil. Como afirma Clóvis Moura, “a questão racial é essencialmente política e não apenas científica.”
Para superarmos o sistema político existente, o capitalismo, será necessário travarmos as lutas pelos interesses imediatos da classe trabalhadora, composta na sua maioria por mulheres e negros. Mas isso não bastará. Será necessário, e esse é o nosso desafio, apresentar outro modelo de sociedade que seja capaz de substituir a engrenagem capitalista.
Um sistema político e social que dê conta de distribuir toda a riqueza socialmente produzida, pondo fim à propriedade privada dos meios de produção e a todas as desigualdades sociais existentes na atualidade. Esse sistema, essa sociedade, tem nome e chama-se Socialismo.
População venezuelana vai às ruas e impede o golpe orquestrado pelos EUA
Uma tentativa de golpe militar foi realizada na Venezuela na
manhã desta terça feira, 30/04, como o intento de derrubar o governo legítimo
de Nícolas Maduro. Esta ação contou com o apoio incondicional dos EUA que
propicia todo auxílio aos golpistas que são, na verdade, subservientes do
imperialismo e realizam um discurso de apoio à “Liberdade” no país, mas com o
intuito de fazer o roubo das riquezas nacionais.
Logo pela manhã Juan Guaidó, o promotor principal do golpe, realizou pronunciamentos anunciando a tomada de uma base militar localizada na região leste de Caracas, a Base Aérea La Carlota. Também propalava a obtenção de apoio militar das forças armadas, buscando causar um levantamento em outras bases militares. Guaidó pronunciou-se ao lado de Leopoldo Lopez que estava preso desde 6 de agosto de 2017, cumprindo pena de quase 14 anos, por praticar atos violentos. O “Autoproclamado” presidente, com apoio dos EUA, busca usurpar o poder sem possuir o voto democrático do povo, por meio de uma ação violenta contra a maioria dos venezuelanos.
No entanto, oficialmente, o presidente da Assembleia Nacional Constituinte Diosdado Cabello, desmentiu a tomada da Base Aérea e disse que apenas um reduzido grupo militar se sublevou para promover um golpe de Estado. “Não foi vulnerabilizada nenhuma instalação militar no país, eles estão nas ruas no Distribuidor Altamira e nós estamos dirigindo as operações desde a Base Aérea La Carlota”, afirmou.
Maduro também se pronunciou nas redes sociais afirmando que conta com o apoio e lealdade do comando do exército, que diz está comprometido com a constituição e a soberania nacional. Precisa no entanto estar mais preocupado com o apoio popular permanente nesse processo, visto que as ações da direita tentam alterar a correlação de forças também nas massas, mas ao que tudo indica sem sucesso até o presente momento.
Mike Pompeo, o secretário de Estado norte-americano, afirmou em um comunicado “hoje, o presidente [autoproclamado] interino Juan Guaidó anunciou o início da Operação Liberdade. O governo dos Estados Unidos apoia integralmente o povo da Venezuela em sua busca pela liberdade e pela democracia. A democracia não pode ser derrotada”. Destila assim seu apoio incondicional as ações militares para derrubar o governo e mostra disposição de intervir nos assuntos internos da Venezuela.
Ernesto Araújo, ministro de relações exteriores do Brasil, se reuniu em Washington, no dia 29, com Mike Pompeo e demonstrou uma total submissão ao governo dos EUA fazendo coro a politica norte-americana “O Brasil apoia o processo de transição democrática e espera que os militares venezuelanos sejam parte desse processo de transição democrática”, declarou. Logo Bolsonaro também se pronunciou no Twitter “O Brasil está ao lado do povo da Venezuela, do presidente Juan Guaidó e da liberdade dos venezuelanos”. É uma vergonha como copiam a linguagem da farsa americana sem o mínimo de pudor tratando a palavra “liberdade” como um mantra para encobrir a tentativa de um golpe militar absurdo.
As declarações conjuntas do Brasil com os EUA nesse processo devem ser repudiadas pelo povo brasileiro, pois não podemos ser bucha de canhão para o imperialismo. Os interesses do Brasil estão muito mais ligados a uma política de relações internacionais pacíficas, de integração latino americana baseada na colaboração entre os países iguais, na solidariedade e no internacionalismo proletário. O povo brasileiro sempre foi a favou da soberania das nações e o princípio da auto-determinação, onde cabe a cada povo decidir seus destinos.
Todo apoio ao povo venezuelano! Abaixo o imperialismo!
A Unidade Popular (UP), partido político em formação, é fruto da iniciativa de centenas de ativistas dos movimentos populares, militantes comunistas, estudantes e professores e da necessidade de construir uma alternativa de esquerda revolucionária ao atual cenário nacional. Após um ano e meio de muito trabalho, a campanha pela legalização da UP entra em sua reta final. Para falar sobre as novas tarefas da militância, A Verdade entrevistou Leonardo Péricles e Fernanda Lopes, membros da Direção Nacional da UP, que afirmam que para o país sair desta crise, precisa passar por uma profunda transformação econômica e social que dê vida digna para o nosso povo, e, por isso “a UP luta pelo poder popular e pelo socialismo”.
Da Redação
A Verdade – Por que a UP foi criada?
Leonardo Péricles – Houve, nos últimos anos, um verdadeiro esgotamento dos atuais partidos ditos de esquerda. Alguns foram cooptados, tomando o caminho de aliança com as grandes empresas, bancos e empreiteiras. Outros, tentando fazer frente a esta traição, não conseguiram dialogar com a classe trabalhadora. De tão estreitos que são, não conseguem se apresentar como alternativa. O resultado é que, hoje, poucos empunham a bandeira de luta por mudanças estruturais, ou seja, a luta revolucionária contra o capitalismo, que passa pela mobilização de amplos setores populares, de milhões e milhões de trabalhadores, mulheres e homens, negras e negros, LGBTs, jovens, indígenas, comunidades tradicionais, enfim, a luta da imensa maioria do povo brasileiro.
Esta é uma luta por quebrar os enormes privilégios dos super-ricos, da burguesia brasileira. É, portanto, uma luta muito dura e nós, da UP, não consideramos que ela possa ser feita por um iluminado ou de forma isolada, mas sim no campo da luta de massas, na vida política partidária, dos movimentos, e lideranças que se reúnem em torno das ideias populares. Daí o próprio nome Unidade Popular. Acreditamos que, a partir de um chamado decidido e pautado na força do movimento popular, se incorporarão a este projeto milhões de lutadoras e lutadores. Foi para fazer este chamado que nasceu a UP.
Como vocês veem a atual situação do País? Qual a saída para a crise do Brasil?
Fernanda Lopes – O Brasil vive uma grave crise econômica e política que se agrava a cada dia, com vários retrocessos democráticos, perdas de direitos e uma calamidade social. O desemprego já atinge cerca de 24 milhões de pessoas. Hospitais, postos de saúde, escolas e universidades estão abandonados. A violência aumenta e o povo teme por sua vida todos os dias, especialmente as mulheres. O ilegítimo governo de Michel Temer, que só tem olhos para as classes ricas, aprovou a chamada “PEC dos Gastos”, congelando por 20 anos os investimentos públicos em saúde, educação e moradia. Aprovou, em agosto de 2017, a Reforma Trabalhista, que retirou direitos históricos dos trabalhadores conquistados em décadas de luta, e ainda quer aprovar a Reforma da Previdência para que trabalhadores e trabalhadoras não se aposentem mais. Para sair desta crise, o País precisa passar por profundas mudanças. Somente uma profunda transformação econômica e social que dê vida digna para o nosso povo, emprego, saúde e educação de qualidade, moradia, transporte e terra para os camponeses resolverá os problemas atuais vividos pelo povo. Por isso a UP luta pelo poder popular e pelo socialismo.
Leonardo Péricles – Devemos lembrar também que vivemos uma das mais profundas crises econômicas da história do capitalismo, desde 2008, e que se manifestou com mais força no Brasil a partir de 2013. A solução para esta crise é pôr fim a um sistema que protege uma minoria de ricos. E o programa para isso já é conhecido: taxar as grandes fortunas; impedir a especulação imobiliária e garantir a função social do solo; suspender o pagamento da dívida pública, que nos suga quase metade do orçamento federal; exigir o pagamento dos devedores da dívida ativa dos municípios e estados; impedir a sonegação de impostos pelas grandes empresas, inclusive dos devedores da Previdência; reduzir a jornada de trabalho sem redução do salário para gerar mais empregos. Desta forma, bilhões de reais serão arrecadados e serão suficientes para resolver os graves problemas sociais que nosso país vive. Mas, ao lado de todas estas lutas, não devemos deixar de disputar a maioria da população para um projeto ainda mais profundo de transformações sociais, que é a derrubada do capitalismo e a implantação do socialismo, em que os meios de produção das riquezas estejam nas mãos da classe trabalhadora e possam servir para a vida, e não para o lucro.
Nenhum dos atuais partidos defende essas propostas?
Fernanda – A maioria dos atuais partidos está pautada pela institucionalidade, por um respeito sagrado aos limites impostos pela burguesia, ao invés de se pautar pela necessidade de superação do capitalismo. E isso exige muito enfrentamento, rupturas, uma verdadeira revolução política. Um dos papéis que a UP se propõe a fazer é demonstrar que os partidos dos ricos enganam o povo a todo momento. Procuramos demonstrar pelo discurso e pela prática que nem todos os que fazem política são iguais, que há uma política corrupta e burguesa, mas que existem também políticos revolucionários e uma política proletária. Não se trata de moralismo, mas sim de colocar as coisas no seu devido lugar.
Por que o socialismo é superior ao capitalismo?
Leonardo – Em um país riquíssimo como o Brasil, o socialismo daria condições para todas as pessoas se apropriarem dos bens e serviços de que necessitem para viver. Já debaixo do capitalismo, somos um país subdesenvolvido, com uma economia comandada pelos EUA e com uma desigualdade social que aumenta a cada ano. Hoje a realidade é que as cinco pessoas mais ricas do País detêm a mesma riqueza da metade mais pobre da população. O socialismo também permite que a tecnologia desenvolvida seja aplicada para melhorar a vida do conjunto da população, e não para aumentar os lucros dos capitalistas. Só o socialismo garante acesso universal à educação, saúde, moradia, segurança, lazer. Isto já foi provado por décadas na União Soviética e em outras experiências socialistas. Uma nova onda de grandes transformações sociais virá neste século 21, pois são insustentáveis as contradições do capitalismo. Só no ano passado, por exemplo, 82% da riqueza produzida no mundo foi apropriada por apenas 1% das pessoas! A maioria dos trabalhadores ainda não tem a consciência de que este mundo novo de felicidade é possível, mas o socialismo está no sonho de todo trabalhador e trabalhadora consciente. Ao socialismo interessa socializar a riqueza das grandes propriedades, aquela que pode resolver o problema da moradia nas grandes cidades, pois no capitalismo há mais casas e prédios abandonados do que gente sem habitação. Já as grandes fábricas e empresas, as grandes extensões de terra, estarão à disposição do Estado, dirigido pela classe trabalhadora para que esta decida a prioridade e a função social de cada coisa.
Como veem as declarações de membros do Alto Comando do Exército defendendo um golpe militar?
Fernanda – Nessa conjuntura em que a luta de classes se encontra bastante acirrada, vemos manifestações das diferentes classes sociais e agrupamentos sobre as possíveis saídas para a crise. Dentro da falta de perspectivas de parte da população, setores do alto comando do Exército a serviço do setor mais reacionário da burguesia, dos fascistas, tentam também se apresentar como alternativa. Lembremos que todo este espaço para que generais possam se pronunciar sobre golpes de Estado, contrariando a própria Constituição sem sofrerem nenhuma punição, é algo muito grave e que não podemos aceitar. É preciso levar a cabo as recomendações da Comissão Nacional da Verdade para que se punam os torturadores e assassinos da época da ditadura militar. Como disse a grande companheira Amelinha Teles, em entrevista publicada na última edição do Jornal A Verdade: “Não há democracia com corpos insepultos”. Sabemos que a impunidade do passado leva à impunidade do presente, pois hoje milhares de jovens negros e pobres continuam sendo torturados e mortos nas periferias de todo o Brasil nas mãos de agentes estatais, principalmente das polícias militares.
Qual o balanço da campanha pela legalização da UP?
Leonardo – Estamos há 15 meses colocando em prática um ousado plano de legalização de um partido político revolucionário que almeja o poder. Para coletarmos as 600 mil assinaturas que conquistamos neste período, fomos a praças, bairros, vilas, favelas, ruas, empresas, fábricas, escolas, universidades e seguramente falamos para mais de dois milhões de pessoas que foram abordadas ou que escutaram nossas agitações. Nosso discurso, aliás, não é só para pedir uma assinatura, mas para politizar, para denunciar os crimes das elites contra o povo e convocá-lo para a luta.
Neste último período, conseguimos perceber como poucos o sentimento de nosso povo, seu desejo por mudanças no Brasil e, neste sentido, tivemos ainda mais certeza de que nossa decisão de criar a UP foi acertada. E fizemos isso sem depender de um centavo da Odebrecht ou de qualquer outra grande empresa, banco etc. Sem depender também de nenhum figurão da política tradicional burguesa, dependendo apenas de nossa militância e de apoiadoras e apoiadores que têm os mesmos propósitos que nós.
Chegamos agora a um momento decisivo, pois temos pouco mais de seis meses para cumprir nosso objetivo, já que a legislação impõe um prazo máximo de dois anos. Apesar de enfrentarmos regras extremamente antidemocráticas para a legalização de novos partidos, durante este período, que estamos chamando de período especial, nossa militância decidiu se dedicar integralmente à realização desta grandiosa tarefa. Chegaremos até o final de maio com pelo menos 800 mil assinaturas coletadas no total e já demos passos importantes no cadastramento das fichas de apoio no sistema online do TSE e nos cartórios eleitorais. Em três estados a UP já alcançou o número mínimo de apoiamentos exigido e já podemos constituir seus diretórios estaduais provisórios. Estamos trabalhando para que nos próximos meses cheguemos a pelo menos nove diretórios estaduais legalizados, que é outra exigência. Além disso, temos recebido adesões de muitos ex-militantes de outros partidos e organizações políticas, e até de grupos políticos que não se sentiam mais representados pelos demais partidos existentes.
O que falta para a UP conquistar a legalização?
Fernanda – Tudo o que fizemos até aqui, apesar de muito importante, não basta, pois precisamos validar 487 mil assinaturas nos cartórios eleitorais de todo o Brasil. Neste sentido, entramos no sistema do TSE com cerca de 150 mil fichas nestes últimos meses e nossa campanha continua até a legalização. Para termos êxito, estamos fazendo também uma campanha de arrecadação de finanças, pedindo contribuição às pessoas que acreditam em nossa causa para que possamos ter um caixa que permita arcarmos com os gastos desta reta final. Precisamos da ajuda de todas e todos para que possamos concluir esta campanha de dois anos. Estamos muito confiantes de que venceremos!
Evento de lançamento do livro “A vida e luta do comunista Manoel Lisboa” na capital do país reúne cerca de 100 pessoas.
Redação DF
No último dia 3 de dezembro, aconteceu o lançamento da 3ª edição do livro “A vida e a luta do comunista Manoel Lisboa” na capital do país, que contou com a presença de cerca de 100 pessoas.
A programação do evento teve a ilustre participação do camarada Edval Nunes Cajá, um dos organizadores do livro e membro do Comitê Central do Partido Comunista Revolucionário (PCR). Cajá é ex-preso político e integra o Comitê de Memória, Verdade e Justiça de Pernambuco, além de ter sido importante liderança do movimento estudantil universitário, dirigindo os Diretórios Centrais das principais universidades, bem como da União dos Estudantes de Pernambuco (UEP).
A abertura contou com a internacional comunista e a entoação de palavras de ordem que homenageiam os heróis do PCR. Na sequência, a militância teve a oportunidade de ouvir Cajá contando um pouco sobre a história de luta de Manoel Lisboa, fundador e um dos heróis do Partido. Manoel foi um exemplo do novo homem que dedicou os melhores anos de sua vida à construção de uma nova sociedade, livre da exploração do homem pelo homem.
II Encontro Nacional de Mortos e Desaparecidos políticos
Na mesma semana, foi realizado o II Encontro Nacional de Mortos e Desaparecidos políticos no Ministério dos Direitos Humanos, que contou com a entrega de 26 certidões de óbito retificadas de pessoas mortas e desaparecidas políticas. Dentre as certidões, constavam os documentos de Ieda Santos Delgado e Honestino Guimarães, que se somam à lista dos lutadores do povo que tiveram suas vidas ceifadas nesse período. A certidão de Manoel Lisboa será entregue em cerimônia solene em fevereiro de 2026.
Em dezembro de 2024, fruto de uma decisão do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), foi publicada uma resolução que dispõe sobre o dever de reconhecer e retificar os assentos de óbito de todos os mortos e desaparecidos vítimas da ditadura militar. Com isso, a causa da morte passa a ser: “não natural, violenta, causada pelo Estado brasileiro no contexto da perseguição sistemática à população identificada como dissidente política do regime ditatorial instaurado em 1964.”
Manoel foi uma das vítimas de um dos períodos de maior perseguição aos comunistas na história recente. Mas, mesmo diante das piores torturas, nada informou aos seus torturadores, mantendo sua retidão ao preceito do PCR de que “delação é traição”. Nesse sentido, as retificações são conquistas importantes da luta, porém, não são suficientes. Queremos a prisão dos torturadores e que o Brasil possa ter sua justiça de transição. É urgente curar essa ferida aberta que acomete o povo brasileiro e que coloquemos esse período na lata de lixo da história.
O governo de Romeu Zema intensifica a privatização de Minas Gerais, entregando patrimônios públicos ao capital privado e transformando água e energia em mercadoria. A entrega de serviços essenciais ao mercado corrói a soberania e destrói o patrimônio público. O projeto neoliberal aprofunda o desmonte dos direitos trabalhistas e da previdência. É preciso organizar a resistência para defender o que é do povo.
Carla Batista de Oliveira e Luiz de Paula Bastos Júnior | Belo Horizonte – MG
Desde 2020, na metade do primeiro mandato de Romeu Zema (Novo), a dívida do estado de Minas Gerais cresceu 51,3%, segundo o boletim mensal da dívida pública estadual da Secretaria de Estado da Fazenda (SEF). Embora tenha origem em governos anteriores, a gestão atual agravou a situação: nos seis primeiros anos, não foi quitado nenhum montante significativo.
Em dezembro de 2024, a dívida acumulada ultrapassava R$ 188 bilhões. Para Marco Couto, vice-presidente da Fenafisco, a explosão do saldo está ligada à política de concessão de privilégios e benefícios fiscais a empresários financiadores de campanha.
Minas Gerais e a adesão ao Propag
A Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG) aprovou, em 29 de maio de 2025, a adesão ao Programa de Pleno Pagamento de Dívidas dos Estados (Propag). Criado pela Lei Complementar nº 212/2025, o programa prevê descontos nos juros da dívida das unidades federativas e parcelamento do saldo por até 30 anos. Em contrapartida, os estados que aderirem devem aplicar parte dos valores economizados em áreas prioritárias, como educação e segurança pública.
Para ingressar no Propag, o governo estadual teve prazo até 30 de outubro para indicar quais ativos seriam federalizados (ou vendidos), precisando quitar, no mínimo, 20% da dívida — aproximadamente R$ 40 bilhões — para garantir juros zero nas parcelas ao longo de 30 anos.
Nosso estado entregue à ganância burguesa
No pacote enviado à ALMG constam empresas públicas como Cemig, Copasa e Codemig, além de cerca de 343 imóveis e autarquias, entre elas a Universidade do Estado de Minas Gerais (UEMG) e a Empresa Mineira de Comunicação (EMC).
Matias Bakir Faria, presidente do Sindifisco-MG, critica a forma enganosa com que governo estadual e governo federal têm apresentado o Propag, afirmando que a adesão só seria possível mediante federalização ou venda de ativos, como estatais, imóveis e recebíveis tributários. Segundo ele, Minas poderia participar por meio de aportes ao fundo de equalização e investimentos em serviços essenciais, sem alienar patrimônio.
Estudos do Sindifisco e da Associação dos Funcionários Fiscais do Estado (Affemg) indicam que, usando dividendos das estatais — mais de R$ 3 bilhões anuais — e receitas tributárias recorrentes — acima de R$ 1 bilhão — o estado poderia arcar com os aportes exigidos (cerca de 4% ao ano do saldo da dívida), preservando o patrimônio e garantindo sustentabilidade fiscal.
Emerson Andrada, coordenador do Sindieletro-MG, chama atenção para a possibilidade de refinanciar a dívida mantendo a gestão das estatais. Segundo ele, “a Cemig tem remetido ao governo cerca de R$ 5,5 bilhões por ano. O estado poderia ceder essa verba à União, com carta de crédito, por exemplo, durante os próximos 20 anos. Seria alternativa à privatização ou à federalização. Outras alternativas podem surgir.”
Andrada também critica a proposta do governo estadual por permitir a negociação geral e irrestrita de praticamente todo o patrimônio do estado — sem limite claro — autorizando alienações “agora, depois ou no próximo governo”. João Batista Soares, vice-presidente do Sinfazfisco, resume: “Zema quer superpoderes para vender tudo e fazer um leilão do estado”. Ele destaca a falta de diálogo do governo com a União sobre avaliação dos ativos, o que, na visão dele, demonstra a intenção de obter um “cheque em branco”.
Na prática, o objetivo aparente é entregar as estatais ao capital privado, desmontar o serviço público, gerar demissões e reduzir a qualidade dos serviços, como se observou em processos de privatização na Sabesp, na CPTM e na Cedae. Ao omitir a avaliação real das empresas, Zema busca autorização para transferir ou vender um volume de ativos muito maior do que o estritamente necessário, favorecendo empresários aliados e oferecendo o patrimônio público a preço de banana — exatamente o que consideramos um projeto entreguista e autoritário.
Romeu Zema quer calar a boca do povo mineiro
Parlamentares durante votação da pec 24/23 – Foto:illian Dias/ ALMG
A Copasa é uma empresa de economia mista com o estado como acionista majoritário (50,04%). Sua subsidiária Copanor atende localidades dos vales do Jequitinhonha, Mucuri e São Mateus, com populações entre 200 e 5.000 habitantes. Juntas, Copasa e Copanor atendem cerca de 11,4 milhões de pessoas com abastecimento de água e 8,1 milhões com esgotamento sanitário. Segundo a companhia, a cobertura de água ultrapassa 99% e a de esgoto chega a 75%, índices superiores aos exigidos pelo novo marco do saneamento.
A Copasa operou sem aportes do estado e tem gerado lucro: de 2006 até março de 2020, distribuiu R$ 3,33 bilhões em dividendos; em 2024, foram R$ 752 milhões. Em setembro de 2020, o governo autorizou o BNDES a estudar a desestatização da companhia.
No entanto, a privatização depende de lei específica da ALMG e de referendo popular, conforme o artigo 14 da Constituição Estadual. A PEC 24/23, de autoria do governador, elimina a exigência de consulta popular e o quórum qualificado para autorizar a desestatização ou federalização de estatais — alteração que ficou conhecida como “PEC do cala boca”.
A proposta representa um ataque à democracia: a consulta popular foi incluída na constituição mineira em 2000, após a venda da Vale do Rio Doce, como mecanismo de proteção do patrimônio público. Agora, o governo alega resolver a dívida, mas a privatização da Copasa não soluciona o problema fiscal do estado. Remover o referendo não é uma questão técnica; é uma afronta ao direito da população decidir sobre ativos públicos.
A experiência de estados que privatizaram serviços essenciais mostra quedas na qualidade, precarização, aumento de tarifas, falta de planejamento e redução de investimentos estruturais, além de demissões. Isabella Mendes, economista do Movimento Brasil Popular, lembra que água e energia são monopólios naturais e devem permanecer sob controle público.
Mesmo estimativas otimistas sobre a venda da Copasa não cobririam três meses da folha salarial do estado. O Sindágua-MG denunciou que, entre 2021 e 2024, a empresa perdeu quase mil trabalhadores. “A Copasa poderia resolver os problemas de saneamento em todo o estado, mas está sendo desmontada”, alerta Wagner Xavier, dirigente da entidade.
Para o presidente do sindicato, Eduardo Pereira, “a Copasa cumpre papel social fundamental, especialmente em regiões pobres e de baixa densidade, onde o setor privado não atua. A água é um direito, não uma mercadoria.”
Zema, o entreguista
Em 5 de novembro de 2025, a ALMG teve o plenário ocupado por trabalhadores da Copasa e da Cemig, movimentos populares (como a UP Minas Gerais) e sindicatos. Em uma sessão conturbada, a proposta que retira a obrigatoriedade do referendo foi aprovada de forma contestada: a votação obteve 47 votos no tempo regulamentar (um a menos que os 48 necessários) e, segundos depois, o presidente da casa, Tadeu Leite (MDB), aceitou um voto após o encerramento do prazo. Deputados de oposição e manifestantes denunciaram irregularidade e gritaram “vergonha”; o Sindágua-MG anunciou ação judicial para anular a votação.
Traidores do povo
A oposição a esse ataque neoliberal é urgente e necessária. É preciso mobilizar todos que defendem uma sociedade digna e igualitária; enfrentar o autoritarismo e o entreguismo é tarefa coletiva.
A organização popular demonstrou força: milhares de trabalhadores, movimentos e entidades ocuparam o plenário e repudiaram o fim do referendo e as manobras do governo. Enquanto o governo opta pela submissão, escolhemos a luta e a resistência. A privatização sem consulta popular é um passo autoritário que ameaça o acesso universal e igualitário à água e ao saneamento.
A Copasa é do povo e o povo deve decidir seu futuro. Minas não está à venda. Minas resiste — e vai continuar resistindo, com a população nas ruas, defendendo o que é nosso por direito.
A equipe de reportagem do jornal A Verdade esteve na Penha, no Rio de Janeiro, onde aconteceu o maior massacre policial da história recente do Brasil, no dia 28 de outubro, na chamada “Operação Contenção”. Conversamos com as pessoas sobre como a comunidade está reagindo a esta chacina e como vivem os mais de 180 mil moradores das 13 favelas que compõem a região. Por motivos de segurança, alguns entrevistados não quiseram se identificar ou permitir o uso de fotos. As fotografias que ilustram esta edição do jornal são de Bruno Itan, morador de comunidade no Rio que se dedica a registrar o quotidiano das favelas cariocas.
Rafael Freire e Felipe Annunziata, da Redação
“Eu não dormi, estou acordada até agora, porque os corpos estão sendo deixados na praça aqui perto de casa. Não para de chegar gente morta, e os familiares gritando quando alguém é reconhecido. Torturaram muito as pessoas que estavam na mata. Tem gente faltando um pedaço da cabeça, do rosto, os dedos quebrados, perna pendurada. Teve um menino de 11 anos que foi reconhecer o corpo do pai. Quando ele viu o pai todo desfigurado, ele se jogou em cima do corpo e ficou gritando: ‘Meu pai! Meu pai! Meu pai!’. E a irmãzinha dele, de quatro anos, perguntando: ‘É meu pai?’.”
“Eu tô em choque. Até nove horas da noite, a gente escutava tiro. Os policiais passaram na frente da minha casa arrastando um menino já morto. Foi horrível. Ficou um rastro de sangue na rua. De manhã, a vizinhança se juntou para lavar a rua. Uma tristeza.”
Relatos enviados por moradoras da Penha ao jornal A Verdade logo após o massacre.
BRASIL – Na Praça São Lucas, onde mais de 70 corpos ficaram expostos no último dia 29 de outubro, num espetáculo sinistro, chama atenção o letreiro “Creche Comunitária do Parque Proletário da Penha”. Na pequena quadra, em frente, algumas crianças, ainda com uniforme da escola, jogavam bola. A circulação de mototáxis é frenética, pois é o único meio de transporte que chega a certas áreas dos morros.
A região, no coração da Zona Norte carioca, encravada na Serra da Misericórdia, possui a icônica Igreja de N. Sra. da Penha e um comércio agitado, mas sempre foi tratada como quartel general das facções criminosas. É sob este “argumento” que sucessivos governos atacaram aquelas comunidades como se estivessem invadindo um território inimigo.
Mas o chamado “domínio territorial” do tráfico convive lado a lado com o domínio do Estado. O transporte coletivo circulava, os agentes de saúde da família atendiam as pessoas e os agentes de limpeza recolhiam o lixo na caçamba. No acesso para cada um dos lados do morro, barricadas com barras de ferro e pneus mostram que o controle das facções é uma espécie de controle adicional ao que o Estado já exerce sobre as famílias trabalhadoras.
Chacinas há 30 anos
O Massacre da Penha foi o pior já ocorrido, totalizando 121 mortos. Destes, 117 são considerados “suspeitos” pela polícia (todos homens, entre 20 e 30 anos) e quatro eram agentes policiais. Apesar de ter contado com cerca de 2.500 militares, a dita operação não conseguiu prender nenhum líder de facção criminosa. Mesmo assim, o governador fascista Cláudio Castro (PL) classificou o massacre como um “sucesso”, provavelmente comemorando o fato de ter aplicado, na prática, a pena de morte sem qualquer amparo na legislação brasileira.
Mas essa não é uma realidade nova para os moradores dos chamados Complexos da Penha e do Alemão. De longe, as favelas daquela região da capital fluminense são as mais atacadas por forças militares do Estado. Nos últimos 30 anos, foram nove chacinas policiais registradas, e, das 10 maiores chacinas do Rio, seis ocorreram no Alemão ou na Penha.
O governador Cláudio Castro tem nas chacinas sua principal marca. Segundo o Instituto Fogo Cruzado, que recolhe informações sobre tiroteios, domínio de territórios e dados sobre a violência urbana no Brasil, durante seus mais de cinco anos de governo, quase 900 pessoas foram assassinadas em operações policiais.
No Rio, “operação policial” é sinônimo de morte e também de campanha eleitoral. Desde o fim da ditadura militar fascista, a direita e a extrema-direita usam a execução de pessoas como meio para ganhar votos e redesenhar o mapa eleitoral do estado. Não é verdade que os governos não tenham controle desses territórios. Durante as eleições, apenas os candidatos de direita e fascistas podem fazer campanha eleitoral abertamente nas favelas, enquanto que os candidatos de esquerda são expulsos ou têm sua campanha muito limitada.
Ao atacar o Comando Vermelho, um ano antes das eleições, o governador do Rio busca garantir a consolidação de outros grupos criminosos na cidade, mais próximos da sua base política, especialmente as milícias. Não é por acaso que Castro anunciou mais dez operações contra o CV até o fim do ano que vem.
Sobre o massacre
O que chocou no massacre de 28 de outubro foi sua extensão e brutalidade. Cabeças e membros decepados a golpes de facão, corpos pendurados em árvores, sinais de tortura e execuções sumárias. Quando nossa reportagem chegou ao conjunto de favelas, era visível o clima de tensão em meio às atividades do dia a dia.
“O sentimento é de revolta. Eles não tinham direito de matar e penalizar esses jovens sem julgamento. Dá medo também porque eles anunciaram que vão voltar. Você fica como? À noite, ninguém fica sentado na calçada. Não sabemos o que vai acontecer daqui a 5 minutos ou daqui a 5 dias”, afirmou a professora Christiane Germano, 53 anos, conhecida como Tite, nascida e criada no Morro do Serrano, umas das favelas da Penha.
Outro morador, Vilson Luiz, 45 anos, formado em administração, questiona as “pesquisas de opinião” sobre aprovação ou rejeição ao massacre e afirma: “Aquilo não foi operação, foi pra destruir, matar e assaltar. Aqui ninguém foi perguntado se aprovava ou não. Aqui ninguém é a favor disso!”.
“Não esperem de nós enaltecer a violência! Quando o Complexo da Maré é atingido, a gente também sente. Desta vez, foi aqui. Tivemos duas janelas de vidro quebradas. Uma bala perfurou uma delas e atingiu o espelho da sala de balé. A outra janela foi perfurada, atingindo uma televisão”. Quem nos conta é Albert, 49 anos, coordenador da ONG Arte Transformadora, que possui, além do balé, aulas de capoeira e violão, um estúdio para gravação de podcasts e uma biblioteca. “Tivemos que fechar por dois dias e, na volta, recebemos as crianças com rosas. Quando fomos conversar, elas perguntavam: ‘Tio, por que quebraram nosso espelho?’. Elas não entendem ainda, mas favelado já nasce resistente, com o couro grosso”, afirma.
A luta da comunidade
A comunidade possui diversos projetos e, por isso, os moradores também denunciam a abordagem preconceituosa da grande mídia. “Na TV, eles afirmam que a Serra da Misericórdia é um lugar de desova de corpos, mas quem fez isso agora foi a Operação. Aqui não é lugar de desova, de morte, é local de vida, de semear, de plantação, de colheita e de acolhimento. Temos um projeto de agroecologia que mobiliza cerca de cem mães, com seus filhos. Além de consumir os alimentos que elas mesmo cultivam, fazem refeições para vender e gerar renda”, relata Tite. E destaca: “As mulheres é que tomaram à frente nos protestos, no cuidado umas com as outras, porque sobra para quem é mãe, esposa ou filha desses meninos que foram mortos”.
Nossa equipe subiu o morro e foi até o projeto de agroecologia acompanhada por Vilson, que atua como guia turístico dentro das favelas no Rio. “Eu sou o garoto que, há 30 anos, nunca pegou em armas”, ele afirma. “A favela é um infinito de possibilidades, mas eles só querem mostrar o lado ruim. A Rede Globo exibiu uma reportagem no Fantástico onde eu apareço associado só ao massacre. Mas eu dei uma entrevista de mais de duas horas para a repórter, falando de tudo que tem aqui. Porque o Estado não fez nada para melhorar a favela depois da operação de 2010, então somos nós, os próprios moradores, que temos que nos organizar para resolver nossos problemas”.
De fato, apesar do apoio do governo e dos grandes meios de comunicação da burguesia à violência policial e à repressão contra o povo, já está provado que essa política não leva à diminuição da criminalidade. Ao contrário.
Porém, o que existe hoje é uma política institucionalizada de violência e racismo contra os trabalhadores, a juventude negra e o povo pobre. Essa política atende aos interesses das classes ricas e dos verdadeiros senhores do crime, que não estão nas favelas, mas nos bairros nobres, nos condomínios de luxo e nos espaços de poder do Estado.
Cabe ao povo organizado pôr fim à violência policial e à exploração dos patrões. Somente um governo que seja expressão do poder popular e do socialismo, que coloque a economia e todas as riquezas do país sob controle da classe trabalhadora porá um ponto final a essa rotina de morte e violência contra os moradores das favelas brasileiras.
Matéria publicada na edição nº325 do Jornal A Verdade.
Hoje, no Brasil, apenas seis pessoas detêm a mesma riqueza que metade da população, 100 milhões de pessoas. Enquanto a realidade dos trabalhadores é de endividamento e salários que não suprem as necessidades básicas.
Indira Xavier | Redação
EDITORIAL – No último mês de novembro, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgou dados sobre o desemprego no país. Considerando os índices do mês de setembro, 5,4% da população brasileira está desempregada. Mas a questão é: qual a condição dos 94,6% da população que é considerada empregada, segundo a pesquisa?
De acordo com o mesmo IBGE, 40% dos trabalhadores brasileiros não têm direito a férias, 13º salário, licença-maternidade, creche e trabalham sem registro em carteira. Mais: 16% trabalham de modo intermitente, ou seja, estão subocupados ou subutilizados, pois seus trabalhos são irregulares e, por isso, trabalham menos horas do que necessitam para sobreviver.
Há, ainda, 4,3 milhões de trabalhadoras domésticas sem carteira assinada, condição igual a de 2,8 milhões de trabalhadores do setor público, além dos mais de 3 milhões que trabalham para aplicativos de entrega ou para plataformas digitais. Não podemos esquecer dos milhões de trabalhadores que sobrevivem como MEI, autônomos, por conta-própria, diaristas, fazendo bico, etc.
Ao analisar os dados disponibilizados pelo Ministério do Trabalho sobre os empregos formais gerados no ano de 2024, a realidade é que 72,5% estavam na faixa salarial de até 1,5 salário mínimo. Quando falamos de horas semanais trabalhadas, 47% dos trabalhadores têm jornadas superiores a 40h e 13,5% trabalham 48h ou mais por semana.
Essa realidade impõe à imensa maioria da classe trabalhadora brasileira condições degradantes de trabalho, marcadas por extensas jornadas e baixos salários. O desemprego e as péssimas condições de trabalho são uma condição própria do sistema capitalista, que não tem o menor interesse em desenvolver a sociedade e dar plenas condições de vida aos que tudo produzem, os trabalhadores.
Demissões e baixos salários
A concentração de riqueza é uma característica da fase imperialista do sistema capitalista e é marcada por um aumento da exploração da classe trabalhadora. No Brasil, 60% da população vive com até um salário mínimo, R$ 1.518, quando o necessário para suprir as necessidades básicas seria, segundo o Dieese, R$ 7.116,83, ou seja, quatro vezes mais. De fato, como comer, pagar aluguel, transporte, água e luz recebendo tão pouco?
Dados do Caged, do Ministério do Trabalho, apontam que, em setembro, 213 mil postos de trabalho formal foram abertos, no entanto, esse número é 15,8% inferior ao do mesmo período de 2024, ou seja, menos empregos sendo gerados e mais demissões sendo realizadas para atender aos interesses dos capitalistas. Só o Itaú, o maior banco privado do país, que teve um lucro de mais de R$ 34 bilhões nos nove primeiros meses deste ano, demitiu mil trabalhadores no mês de setembro. Já a Nissan, importante montadora japonesa, que possui fábrica no Brasil, anunciou que demitirá 20 mil funcionários e fechará sete de suas 17 fábricas.
No setor público, muitos serviços e empresas foram privatizados nos últimos anos, o que, além de gerar um aumento nas tarifas cobradas, precarização e piora nos serviços ofertados à população, também foram responsáveis pela demissão de milhões de trabalhadores. A Eletrobras, por exemplo, uma das maiores empresas elétricas da América Latina (privatizada, em 2022, pelo criminoso Bolsonaro), já demitiu mais de 20 mil trabalhadores.
Economia dependente dos países imperialistas
O século 21 também marca uma profunda dependência da economia brasileira (embora seja a décima maior do mundo) ao capital estrangeiro. Quem dita as regras da produção e do consumo são os bilionários, e não as necessidades do povo trabalhador. Prova disso é que apenas quatro trades, conhecidas como ABCD,financiam, compram, armazenam, transportam, vendem e especulam, ou seja, controlam todos os alimentos no mundo.
Logo, mesmo havendo produção de alimentos suficiente para matar a fome, que ainda atinge milhões de lares no Brasil, é a especulação financeira que determina o que será produzido. Por isso, os economistas burgueses estão mais preocupados em pressionar o governo para que ceda aos EUA e a Trump na chamada guerra tarifária, do que em mostrar que se o governo baixasse as tarifas e subsidiasse os pequenos agricultores (visto que 70% da comida que se consome aqui vem da agricultura familiar), não faltaria comida na mesa do brasileiro.
Para piorar, o Brasil mantém em bancos estadunidenses reservas de R$ 2 trilhões do dinheiro público brasileiro, mesmo recebendo juros mais baixos por essas reservas. Os governos daqui fazem isso para manter a economia dos EUA, em detrimento das necessidades do povo brasileiro. Se usássemos esse montante para construir moradias populares, seria possível construir mais de 13 milhões de casas, ou seja, daríamos fim ao déficit habitacional que é, segundo a Fundação João Pinheiro, de cerca de 6 milhões de moradias, além de gerar milhões de empregos.
Além disso, sucessivos governos vêm impondo um teto nos investimentos públicos e, com isso, ano após ano, o orçamento para áreas essenciais, como saúde, educação e moradia, é reduzido. Porém, nenhum deles deixa de pagar a dívida pública brasileira, que hoje consome 44% do orçamento, ou seja, quase R$ 2 trilhões por ano. Tudo isso é feito para atender aos interesses dos bancos “nacionais” e internacionais, à custa do endividamento de mais de 78 milhões de brasileiros devido aos juros abusivos.
Por isso, cresce a concentração de renda no Brasil: atualmente, apenas seis indivíduos detêm a mesma riqueza que metade da população, 100 milhões de pessoas. Mas a burguesia nunca vai dizer que ela mesma é a responsável por tanta desigualdade. Sempre vai jogar sobre as costas da classe trabalhadora a responsabilidade.
Os ricos concentram mais capital em suas mãos à medida em que os diversos ramos da produção industrial se incrementam com novas máquinas para produzir mais mercadorias em menos tempo. Isso aumenta a mais-valia (o lucro dos capitalistas) e, ao mesmo tempo, a exploração dos trabalhadores. Contraditoriamente, como já vimos, a realidade da classe trabalhadora é apertar o cinto mês a mês, pois os salários são insuficientes, o endividamento é enorme e os produtos estão cada vez mais caros.
Um Programa para libertar o povo da exploração
Ao perceber os reais motivos da vida ser tão difícil, o povo, a classe trabalhadora, não tem outra alternativa a não ser construir as bases de sua libertação, desenvolvendo lutas que desmascarem os interesses dos ricos e seus governos.
Assim, lutas contra a escala 6×1, as greves dos servidores e estudantes por mais verbas no orçamento público, as lutas pelo direito à moradia e à comida no prato, a defesa da natureza, etc., têm sido cada vez maiores em nosso país e no mundo. Da mesma forma, as lutas contra o racismo e a xenofobia e contra as guerras imperialistas e o genocídio do povo palestino.
No entanto, para serem efetivas, tais lutas, além de mobilizar a classe trabalhadora, precisam apresentar um Programa verdadeiramente revolucionário e que se proponha às políticas neoliberais, ou seja, um Programa com medidas para pôr fim ao sistema de fome, miséria e guerras que é o capitalismo e que, em seu lugar, apresente a construção de um governo revolucionário da classe trabalhadora: o socialismo
Nesse sentido, medidas como a socialização de todos os monopólios e consórcios capitalistas são fundamentais para que haja a planificação da economia. Também a nacionalização das terras e uma efetiva reforma agrária para atender às necessidades dos camponeses pobres e de toda a classe trabalhadora.
Não podemos deixar de defender a nacionalização dos bancos, pois, só assim, será possível assegurar que as riquezas nacionais fiquem no nosso país e estejam a serviço do povo, bem como a efetiva implementação dos impostos progressivos (quem ganha mais, paga mais).
Para não sermos alvos dos ataques e da reação dos burgueses destronados, é necessário ainda democratizar os meios de comunicação, colocando-os sob o comando público, e não privado. Por fim, reestatizar todas as empresas públicas brasileiras que foram vendidas a preço de banana.
Essas e outras medidas são essenciais para defendermos a efetiva soberania nacional e a independência econômica desta Nação, que é tão rica, e proporcionar ao povo brasileiro uma vida de paz e prosperidade, em vez de colocar todo o seu potencial a serviço de uma minoria de parasitas capitalistas.
É urgente uma revolução das classes exploradas para pôr abaixo o capitalismo e, em seu lugar, construir o socialismo!
Editorial publicado na edição nº326 do Jornal A Verdade.
O ex-presidente Jair Bolsonaro e os generais golpistas foram presos pela tentativa de golpe de 8 de janeiro de 2023.
Heron Barroso | Redação
BRASIL – No último dia 22 de novembro, o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes determinou a prisão preventiva do ex-presidente Jair Bolsonaro, anteriormente condenado por chefiar a quadrilha que tentou dar um golpe de Estado no Brasil, anular o resultado das Eleições de 2022 e impor uma nova ditadura militar fascista no país.
A decisão foi tomada após a violação da tornozeleira eletrônica usada pelo ex-capitão, que cumpria prisão domiciliar em sua mansão de luxo em Brasília. Cinicamente, a defesa de Bolsonaro alegou um “surto psicótico”, supostamente causado pelo uso de remédios, para tentar encobrir que, na verdade, tratava-se de uma tentativa de fuga para evitar o cumprimento da pena de 27 anos de cadeia. Típico de um covarde.
Dias depois, em 25 de novembro, os generais Augusto Heleno, ex-ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), e Paulo Sérgio Nogueira, ex-ministro da Defesa, o almirante Almir Garnier, ex-comandante da Marinha, e Anderson Torres, ex-ministro da Justiça, também foram presos pela Polícia Federal após o fim do prazo para apresentação de recursos ao julgamento do chamado “núcleo crucial” da tentativa de golpe de 8 de janeiro de 2023. Eles se juntarão ao general Braga Netto, que está preso desde dezembro de 2024, no Rio de Janeiro. O ex-diretor da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) e atual deputado federal, Alexandre Ramagem (PL), também teve sua prisão decretada, mas fugiu para os Estados Unidos como um rato e é considerado foragido pela Justiça.
Essa é a primeira vez, no Brasil, que golpistas – entre eles membros da cúpula das Forças Armadas – são presos por atentarem contra as liberdades democráticas. Essa vitória só foi possível graças às denúncias, manifestações, protestos e lutas travadas nos últimos anos pelo povo brasileiro e é uma prova de que as massas podem derrotar o fascismo.
Sem mordomias para criminosos
Apesar de condenados pelo STF, os militares envolvidos na trama golpista ainda devem passar por julgamento na Justiça Militar, que decidirá se perderão – ou não – seus postos e patentes.
Entretanto, mesmo que isso aconteça, Bolsonaro e os generais presos seguirão recebendo fartas pensões, que, somadas, chegam a R$ 2 milhões por ano. O general Augusto Heleno, por exemplo, recebe mais de R$ 38 mil por mês, enquanto Bolsonaro acumula duas pensões: uma de R$ 12.861,61, do Exército, e outra de R$ 30.265,00 como ex-deputado, além de um salário de cerca de R$ 40 mil do seu partido, o PL, pago com recursos do Fundo Partidário.
Ou seja, apesar de todos os crimes que cometeu, o ex-capitão vive uma vida de marajá paga com recursos públicos, além de ficar numa cela especial, com TV, ar-condicionado e frigobar, enquanto o trabalhador brasileiro sofre para pagar aluguel, recebe um salário mínimo de apenas R$ 1.518,00 e, desde a reforma da Previdência, em 2019, é proibido de acumular integralmente pensões e aposentadorias.
Prisão para todos os fascistas
A luta contra o fascismo continua.
Além de pagarem todos os anos de cadeia a que foram condenados e deixarem de receber um tratamento de luxo, é preciso que os cúmplices do ex-capitão no Centrão, entre a grande burguesia e nas Forças Armadas também respondam – um por um – por todo o mal que fizeram ao povo e à Nação.
Jamais iremos esquecer, anistiar ou perdoar a morte dos mais de 700 mil brasileiros durante a pandemia de Covid-19, as centenas de crianças indígenas que perderam suas vidas abandonadas pelo governo fascista, a corrupção, o orçamento secreto, os direitos sociais retirados, a humilhação da fome e do desemprego.
Por tudo isso, seguiremos em busca de justiça!
Matéria publicada na edição nº326 do Jornal A Verdade.
O racismo promovido pelo capitalismo custa bilhões ao povo negro todos os anos, valor que deixam de receber por não terem a mesma remuneração que pessoas brancas exercendo as mesmas funções.
Rafael Figueira | Rio de Janeiro
BRASIL – O Brasil figura entre as dez maiores economias do planeta. É o sétimo país mais rico do mundo e o único entre os dez com maioria de população negra. No entanto, essa riqueza contrasta com uma realidade brutal: o país ocupa o posto de segunda nação mais desigual do planeta, dividindo o topo do ranking com países muito mais pobres, a maioria deles africanos.
Nosso país foi invadido por colonizadores portugueses em 1500 e viveu mais de 350 anos de escravidão legalizada. Isso significa que, de cada dez anos da nossa história, sete foram marcados pela escravização de pessoas negras.
As consequências desse período ainda determinam as oportunidades, a renda e a presença da população negra em diversas áreas sociais e profissionais.
Racismo custa bilhões ao povo negro
No fim de março de 2025, um relatório do Centro de Estudos e Dados sobre Desigualdades Raciais (CEDRA) trouxe novos números que ajudam a entender os impactos de séculos de violência e discriminação sobre a população negra.
Segundo o levantamento, a desigualdade racial promovida pelo sistema capitalista custou aos trabalhadores negros cerca de R$ 103 bilhões em 2025, valor que deixaram de receber por não terem a mesma remuneração que pessoas brancas exercendo funções idênticas. Um exemplo gritante está no trabalho doméstico: uma trabalhadora negra recebe, em média, 86% do salário pago a uma trabalhadora branca na mesma função.
O relatório destaca que a política pública mais importante para reduzir desigualdades foi a Lei de Cotas, de 2012. Em 2025, pela primeira vez, as universidades públicas terão metade dos seus estudantes negros e pardos.
Apesar do avanço, o impacto na renda ainda é tímido. Em 2012, a renda média de uma pessoa negra correspondia a 57,8% da renda de uma pessoa branca. Em 2020, mesmo com 13 anos de cotas, esse número subiu para apenas 59%. Mantido esse ritmo, a equiparação salarial só acontecerá em 2365.
Além disso, a presença negra ainda é majoritária em profissões como carpintaria, serviços domésticos, limpeza e mineração, enquanto cargos como juízes, arquitetos, médicos, engenheiros e economistas continuam predominantemente brancos.
Mesmo assim, as políticas de ação afirmativa seguem sendo alvo constante de ataques da extrema direita e das elites econômicas – os mesmos setores que sempre apoiaram a chegada de imigrantes europeus e asiáticos ao país, inclusive com políticas públicas, com o objetivo de embranquecer a população brasileira.
Mulheres negras chefiam lares
Em 2012, a maioria dos lares brasileiros era chefiada por homens. Em 2025, o cenário mudou: 51% das casas são chefiadas por mulheres, sendo 29,6% por mulheres negras e 21% por mulheres brancas.
Os lares liderados por mulheres negras, porém, enfrentam os maiores desafios: maior índice de gravidez na adolescência, moradias em áreas de risco e maior vulnerabilidade à mortalidade infanto-juvenil causada pela violência. Essas mulheres também lideram as estatísticas de desemprego: 15% estão desempregadas, em contraste com 7% dos homens brancos.
Outro dado relevante é a queda no número de lares interraciais. Atualmente, 42% das casas são compostas apenas por pessoas pretas e pardas, e 34% apenas por pessoas brancas. Pesquisadores levantam duas hipóteses para isso: pode haver uma maior consciência racial entre pessoas negras, estimulando relacionamentos dentro do grupo, ou um avanço do racismo e do higienismo na sociedade brasileira.
Só a luta pode vencer o racismo
O relatório do CEDRA aponta importantes propostas para enfrentar a desigualdade racial no Brasil. A desmilitarização das polícias militares aparece como uma das principais medidas estruturais, apontando a necessidade de transformar um dos instrumentos históricos de violência contra a população negra.
Também defende o fim da escala de trabalho 6×1, herança da lógica escravocrata, além da ampliação das políticas afirmativas, tanto no acesso ao ensino superior quanto nos concursos públicos. Outro ponto fundamental é a expansão de programas de moradia popular, com foco especial em garantir condições dignas para as famílias negras que vivem nas periferias.
Essas medidas, segundo o relatório, confirmam a importância da luta popular organizada, a exemplo das ocupações do Movimento de Luta nos Bairros, Vilas e Favelas (MLB), das ações da Unidade Popular (UP), da Frente Negra Revolucionária (FNR) e do Movimento Luta de Classes (MLC) nas ruas, favelas, shoppings e mercados contra a exploração capitalista.
A história mostra que nenhuma conquista do povo negro veio sem luta. Foi a organização popular que derrotou a escravidão legalizada, que resistiu à ditadura militar, que derrotou o governo Bolsonaro e que enfrentou inúmeras políticas racistas ao longo dos séculos. Será com luta que conquistaremos uma sociedade sem racismo e capitalismo, a sociedade socialista.
Matéria publicada na edição nº325 do Jornal A Verdade.
Diversas categorias de trabalhadores e segmentos da sociedade tem se mobilizado contra as medidas antipopulares de prefeita de Campo Grande (MS) Adriane Lopes (PP).
Douglas Soares | Campo Grande (MS)
BRASIL – Em mais um episódio que expõe o descaso com a população e a repressão aos movimentos sociais, a Prefeitura de Campo Grande (MS) recorre à violência da Guarda Civil Metropolitana para tentar se blindar de protestos. No dia 29 de novembro, uma manifestação pacífica organizada por servidores, entregadores e pela comissão de mães atípicas, denunciava o abandono da gestão de extrema-direita de Adriane Lopes (PP) em relação à infraestrutura da cidade, à saúde e à falta de insumos essenciais para pessoas com deficiência. Mesmo assim, as mães foram recebidas com truculência e violência por agentes da Guarda Civil Metropolitana.
Imagens que circulam nas redes mostram Elisângela Silva de Souza, de 43 anos, mãe atípica, sendo empurrada por guardas da GCM. Ela foi derrubada covardemente e registrou boletim de ocorrência. Elisângela relatou escoriações e dores provocadas pela queda.
Como se a agressão física não bastasse, os ataques da prefeitura continuaram após o ato, desta vez de forma difamatória. Em coletiva de imprensa, a prefeita Adriane Lopes classificou a população que protestava como “bandidos”, afirmando que “ninguém estava preparado para um ataque de bandidos em um evento de crianças. Mas aconteceu.” Já em uma entrevista a uma rádio local, a prefeita voltou a difamar as famílias, dizendo que as mães atípicas seriam “bandidos armados com mais de 50 passagens pela polícia”.
Blindagem política e mentiras
Por diversas vezes, Adriane Lopes recorre a notícias fabricadas por veículos da mídia tradicional sul-mato-grossense para tentar deslegitimar demandas populares. No dia 27 de novembro, um jornal tradicional de Campo Grande estampou a manchete: “Mais da metade dos campo-grandenses aprovam a administração Adriane Lopes”. A matéria é mais um exemplo de como a mídia dos ricos tenta manipular dados e distorcer a realidade, acreditando que a população não é consciente das condições em que vive.
No entanto, a mesma pesquisa mostra que 40,93% dos entrevistados consideram a administração “péssima”, enquanto apenas 22,93% a avaliam como “ótima”. Seria interessante que o veículo explicasse qual seria essa suposta “capacidade de diálogo” atribuída a alguém que acumula mais de 40% de desaprovação e que tenta criminalizar movimentos populares.
No fim, a mídia burguesa tenta vender a imagem de que “está tudo bem”. E talvez esteja, ao menos para os donos do Consórcio Guaicurus, para as empreiteiras, e para as empresas que receberam aditivos milionários. Para esse grupo, de fato, a situação é excelente. E a mídia, como sempre, tem lado, o de quem a financia ou a controla diretamente.
Porém fora das máscaras da mídia burguesa, a gestão de Adriane Lopes tem prestado um “serviço exemplar” apenas em um quesito: acumular insatisfação popular mês após mês, vinda dos mais diversos setores da sociedade. A cada novo período, surge um ato de revolta denunciando o caos que se espalha pela capital sul-mato-grossense.
Na saúde, faltam medicamentos básicos, insumos essenciais para pessoas com deficiência e remédios controlados para uso psiquiátrico, seguindo com a política não declarada de transformar o atendimento em uma verdadeira prova de paciência.
Nas obras públicas, o cenário é semelhante. Dezenas de obras paradas, pistas que desabaram e seguem “em obras” desde a gestão passada, quando Adriane era vice-prefeita. Buracos que se multiplicam por toda a cidade, gerando prejuízos para a população, e acidentes a diversos entregadores. Árvores caídas desde as chuvas de novembro ainda bloqueiam calçadas, algumas removidas pela própria população, entre outros absurdos que se tornaram rotina.
Governo de extrema-direita
A gestão que se vendeu como “técnica” nas eleições, no fim aparelha secretarias com líderes de extrema-direita ou ligados ao chamado Centrão. Alguns dos exemplos são o de figuras como Viviane Tobias (PL), conhecida por campanhas antivacina e discursos contra os direitos das mulheres, que hoje ocupa um cargo na Secretaria Executiva da Mulher e o de Juliana Gaioso (PP), investigada por participação no golpe de 2022-23, hoje ocupando a Secretaria da Casa Civil do município.
Em outubro, durante um ato na prefeitura, puxado pelas Mães Atípicas, Viviane e Juliana chegaram a hostilizar as mães que protestavam. Confrontadas, com o fato de que a falta de assistência representa uma política de morte para pessoas com deficiência, surgiu a fala que representa muito bem a indiferença da extrema-direita: “Morrem pessoas todos os dias”.
Enquanto cargos públicos com altos salários são ocupados pela extrema-direita, a prefeitura desmonta direitos e desvaloriza os servidores. Mais de mil trabalhadores foram demitidos só este ano, salários de contratados foram reduzidos. E houve tentativas de retirada de direitos, como a redução de bônus de risco e insalubridade, cortes de plantões, entre outras medidas.
A justificativa da prefeitura é o “caixa zerado”. Mas trata-se de opção política. Empresas contratadas pelo município receberam aumentos milionários, como a responsável pela iluminação pública, cujo valor passou de R$ 6,2 milhões, em 2021, para R$ 18,8 milhões em 2024, e segue na casa do R$ 11,7 milhões em 2025. Esse é apenas um recorte de uma série de contratos que receberam aditivos milionários e condições vantajosas.
Já o arrocho atinge somente a base do funcionalismo. O alto escalão, incluindo a própria prefeita, segue com salários que chegaram a superar até os cargos do Governo do Estado. Não por acaso, o município ultrapassou o limite de gastos com pessoal previsto na Lei de Responsabilidade Fiscal. Diante desse cenário, Adriane recorre a mentiras e agressões, afinal, a verdade costuma ser inconveniente para quem governa contra o povo.
O ministro fascista da segurança israelense, Itamar Ben Gvir, defendeu abertamente a pena de morte contra os palestinos, ilustrando a brutalidade do regime sionista.
Felipe Annunziata | Redação
INTERNACIONAL – Foi com um rosto sorridente enquanto mostrava prisioneiros palestinos ajoelhados e com as mãos para trás que o ministro da segurança israelense, o fascista Itamar Ben Gvir, falou: “Veja, todo mundo no chão, o mínimo de condições. Olhe para a cela, tire fotos, nós tiramos tudo que eles tinham, mas precisamos de uma coisa: pena de morte para os terroristas!”.
A humilhação pública é apenas uma das táticas do regime sionista em relação ao povo palestino. À medida que os combates paralisaram com a trégua de 10 de outubro, Israel libertou cerca de 2 mil palestinos e entregou os corpos de cerca de 250. Todos traziam consigo sinais físicos e relatos de tortura e maus tratos. Nas masmorras sionistas permanecem presos 9 mil palestinos, sendo centenas de crianças.
“Eles nos atacaram e começaram a nos espancar, me arrastaram e jogaram no capô do veículo. Um deles me disse: “você vai morrer”. Eles nos levaram para uma base militar e começaram a derramar energético e cerveja em nós, jogaram água gelada e apontavam o ventilador. Continuaram a nos espancar, a cada minuto um soldado vinha nos bater. Um deles vinha com um objeto afiado. Eles nos despiram todos”, afirmou Fida Salameh, jovem palestino do campo de refugiados de Jenin, na Cisjordânia.
Israel rompe cessar-fogo
Enquanto mais provas dos campos de tortura do sionismo continuam a aparecer, Israel quebra diariamente o chamado cessar-fogo em Gaza. No último dia 19 de outubro, um bombardeio israelense assassinou 11 pessoas da mesma família, sendo 7 delas crianças.
A ajuda humanitária ainda entra de forma insuficiente. Apesar de tudo isso, os palestinos continuam a resistir e a tentar retornar para suas casas. O povo de Gaza, determinado a não deixar ocorrer uma nova limpeza étnica, como a que ocorreu em 1948, volta para os escombros e tenta reorganizar a vida.
De acordo com a Organização Mundial da Saúde, mais de 15 mil palestinos estão gravemente doentes e precisam de tratamento urgente fora da Faixa de Gaza. Dos 36 hospitais que existiam, apenas 14 ainda funcionam, todos de forma parcial e sem condições de atender essas pessoas.
Matéria publicada na edição nº324 do Jornal A Verdade.
O jornal A Verdade entrevistou Silvio Rodríguez, cantor e compositor cubano nascido em 1946, um dos maiores nomes da música latino-americana e fundador da Nueva Trova Cubana. Suas canções, que traduzem com sensibilidade os sentimentos, lutas e esperanças dos povos da América Latina e da Revolução Cubana, foram interpretadas por outros grandes artistas como Mercedes Sosa, Pablo Milanés, Chico Buarque, Milton Nascimento e Fito Páez.
Júlia Andrade Ew e Helena Andrade Ew
A Verdade – A primeira pergunta é sobre a arte e a luta internacionalista. Você tem usado uma Keffiyeh palestina nas apresentações, simbolizando a resistência de um povo que sofre hoje um genocídio. Ainda muito jovem, você se somou à luta de libertação em Angola e à luta anti-imperialista é presente em suas composições. Fale um pouco para nós sobre as experiências de solidariedade internacional e como elas te influenciam como artista e, ao mesmo tempo, de que maneiras a arte pode ser uma ferramenta contra as guerras.
Silvio Rodríguez – Embora a experiência do Che na Bolívia tenha fracassado na iniciativa de libertação, deixou, do ponto de vista do altruísmo, uma marca muito positiva na minha geração. Por isso, quando, em 1975, a África do Sul invadiu Angola, muitos milhares de cubanos se inscreveram nos comitês militares para defender aquela nação. Cuba é um país que tem sido vítima de invasões, sabotagens e poderosas campanhas de difamação. Um país que ainda sofre a guerra econômica mais longa da história: um bloqueio econômico ao qual se somam cada vez mais medidas de asfixia, apesar de que, todos os anos, na ONU, a maioria dos países vote contra.
Uma parte da humanidade percebe que o futuro da espécie humana deve estar baseado na empatia, na solidariedade, na cooperação, naquilo que os antigos chamavam de compaixão e misericórdia. Outra parte ignora completamente esses sentimentos e razões, e faz uso da impiedade e da força para obter o que ambiciona. É alarmante que, cada vez mais, predominem o egoísmo e a lei do mais forte. É vergonhoso e extremamente negativo para o destino da nossa espécie e até mesmo do planeta.
Desde 2003, em meus concertos, venho lendo o poema Halt!*, de Luis Rogelio Nogueras. Comecei a fazê-lo na época da invasão do Iraque. Agora, o faço como denúncia da impunidade do genocídio contra o povo palestino.
Você foi um dos jovens que, em 1961, construiu as Brigadas de Alfabetização Conrado Benítez, em meio a um momento duro de ataques e violências contra Cuba. Che, quando ministro da Indústria, também incentivou muito o trabalho voluntário entre a juventude e o povo. Qual a importância dessas campanhas na sua vida? Como elas serviram para aproximar o povo da Revolução?
Venho de famílias que, por razões econômicas, não tiveram a possibilidade de formar profissionais, famílias que foram beneficiadas em muitos aspectos pela Revolução de 1959. Aquele processo deu ênfase à solidariedade humana, decretou que as moradias pertenciam a quem as habitava e que o direito à vida, à saúde e à educação eram universais. Aos jovens, nos ofereceu a oportunidade de sacrificar um ano de nossos estudos para dedicá-lo a alfabetizar a parte do povo que não sabia ler. Tarefas como essas, junto à necessidade de nos prepararmos para defender aqueles direitos nossos como povo, foram criando uma consciência solidária em todo o país e, naturalmente, também entre os mais jovens.
Inspirados no exemplo da Revolução Cubana, hoje no Brasil a União da Juventude Rebelião constrói jornadas de trabalho voluntário nas periferias. O Movimento de Luta nos Bairros Vilas e Favelas constrói uma escola popular que alfabetiza jovens e adultos no país inteiro. Qual o recado que você deixa para os jovens alfabetizadores e para os trabalhadores que estão aprendendo a ler nesse projeto?
Sempre disse que, primeiro, vem a pessoa, depois, a vocação que se consiga desenvolver. Ou seja, de forma orgânica e consequente com a vida que nos cabe viver, quando conseguimos desempenhar uma função social, um trabalho, é natural fazê-lo a partir das convicções que a própria vida nos ensinou… E, com isso, não pretendo excluir a possibilidade de aprender a ser solidário: sempre é possível aprender a ser melhor.
A arte vincula sentimentalmente as pessoas. Às vezes, aqueles que pensam de forma muito diferente podem se colocar no lugar do outro por meio da influência do cinema, do teatro, da dança, das artes plásticas. Pessoalmente, pude comprovar que a música tem um poder empático altíssimo.
Por tudo isso, acredito que pode ser muito útil e, ao mesmo tempo, bonito, promover, com os recursos disponíveis, o desenvolvimento de uma cultura artística paralelamente a qualquer tipo de aprendizado, inclusive a alfabetização.
Assim, que avancem o saber e as artes!
Por fim, Silvio, a pergunta é sobre a vida. Você começou sua atividade política na adolescência e, hoje, com 78 anos, não abriu mão de seus princípios, da defesa da humanidade. Como você, na sua prática cotidiana, alimenta a esperança na mudança da sociedade?
Foi a realidade que me politizou, mais do que uma vocação. Fui parte de um povo que precisou adquirir consciência para compreender quem éramos, de onde vínhamos e o quão justo era aspirar a uma vida melhor. O mundo, o Universo, a natureza nunca estão em repouso; tudo está sempre em movimento – infelizmente, nem sempre na melhor direção.
Existe uma velha cultura do abuso e da resignação que vai assumindo diferentes formas ao longo dos tempos. Há uma estrutura propagandística muito antiga que favorece essa maneira de pensar. Por outro lado, acredito que, embora seja necessário nos defendermos e sermos firmes, não é bom que o ódio ou o rancor ditem nossos passos. O sentido de justiça e o amor ao próximo devem ser o que nos guia. Que odeiem os egoístas, os desumanos, os incapazes de sentir piedade.
Como disse José Martí a seu filho: “Só o amor engendra melodias”.
* O poema Halt! (Detenham-se!) foi escrito em 1979, pelo poeta e escritor cubano Luis Rogelio Rodríguez Nogueras após visita ao campo de concentração de Auschwitz, na Polônia.
Halt! (Detenham-se!)
Percorro o caminho que percorreram quatro milhões de espectros.
Sob minhas botas, na tarde melancólica e gelada de outono,
o cascalho estala dolorosamente.
É Auschwitz, a fábrica do horror
que a loucura humana ergueu em glória à morte,
é Auschwitz, estigma no rosto sofrido de nossa época.
E diante dos edifícios desertos,
diante das calçadas eletrificadas,
diante dos galpões que guardam toneladas de cabelos humanos,
diante da porta enferrujada do forno onde foram incinerados pais e filhos,
amigos de amigos desconhecidos,
esposas, irmãos,
crianças que, no último instante,
envelheceram milhões de anos.
Penso em vocês, judeus de Jerusalém e Jericó,
penso em vocês, homens da terra de Sião,
que, atônitos, nus, congelando,
cantaram o Hatikvah nas câmaras de gás;
penso em vocês e em seu longo e doloroso caminho
desde as colinas da Judeia
até os campos de concentração do III Reich.
Penso em vocês
e não consigo compreender
como puderam esquecer tão depressa
o bafo do inferno.
Matéria publicada na edição nº324 do Jornal A Verdade.
“O racismo é atualmente uma ideologia de dominação do imperialismo em escala planetária e de dominação de classes em cada país particular.” – Clóvis Moura
Blanca Fernandes e André Molinari | Frente Negra Revolucionária (FNR)
ESCRITORES DO POVO BRASILEIRO – A formação histórica-econômica e o desenvolvimento da luta de classes no Brasil têm como alicerce a violência e a luta racial. A escravidão colonial europeia sequestrou milhões de negros e negras do continente africano e os submeteu a um regime de trabalho explorador, violento, humilhante e mortal, à selvageria. A questão racial marca, assim, toda a história da classe trabalhadora brasileira.
Diversos autores se debruçaram sobre a questão. Entre eles, um se destaca pela sua argumentação científica, atividade comunista e coerência ideológica: o jornalista, historiador, sociólogo e comunista Clóvis Moura.
Ele dedicou a vida a desvendar a formação do Brasil, a origem da exploração e opressão do povo negro brasileiro e seu corajoso legado de luta e rebelião. Neste mês de novembro, mês da Consciência Negra, façamos uma homenagem por seu centenário de nascimento.
Argila da Memória
Nascido no dia 10 de junho de 1925, na cidade de Amarante (PI), Clóvis Steiger de Assis Moura tem entre seus antepassados um barão prussiano, Ferdinando Von Steiger, seu bisavô materno, e, pelo lado paterno, a bisavó Carlota, uma mulher negra escravizada por um português. Essa contradição no seio de sua família foi um dos combustíveis de seu processo de reflexão sobre escravização e miscigenação no Brasil.
Jovem, foi se vinculando aos debates da cultura brasileira, como mostra em seu livro de recordações de infância, Argila da Memória. Aos 14 anos, em Natal (RN), participou do movimento estudantil no grêmio do seu colégio e fundou o jornal O Potiguar, inaugurado com um artigo sobre a Inconfidência Mineira. Iniciava, assim, sua longa lista de escritos a respeito da luta popular.
Em 1941, aos 16, muda-se com sua família para a Bahia, onde estabelece contato com diversos intelectuais com os quais passaria a trocar correspondência constantemente. Essa aproximação com antropólogos, escritores e comunistas iniciou seu processo de radicalização.
Com grande sensibilidade e inquietação frente à desigualdade econômica e social no país, Clóvis, poucos anos depois, passa a compor as fileiras da luta socialista. Debaixo da ditadura de Getúlio Vargas (1937-1945), ingressa no PCB e contribui para a luta com um jornalismo revolucionário, usando de sua profissão para construir jornais com denúncias políticas e propaganda da luta popular. Em meio a suas publicações, desenvolve um profundo estudo da luta de classes no sistema escravagista do Brasil Colonial, apoiado na teoria marxista.
Rebeliões da Senzala
No processo de estudo da formação do Brasil, Clóvis formula a tese marxista de que as rebeliões dos escravizados, a destruição de engenhos e construção dos quilombos eram parte fundamental da luta de classes da sociedade escravagista. As lutas travadas eram a resposta organizada de uma classe superexplorada pela elite colonial, e não uma mera reação ao preconceito racial. A raça seria a aparência de uma luta que era, em essência, de classe.
Com um estudo profundo sobre rebeliões e quilombagem no Brasil, foi mostrando, a partir de exemplos históricos, a capacidade e a determinação do povo negro em resistir de maneira firme contra os colonizadores. Criou uma noção mais completa sobre o quadro geral da luta de classes no Brasil com as diversas formas de luta da população negra.
A partir disso, Clóvis desferiu um golpe decisivo contra as deformações teóricas a respeito da questão racial brasileira. Desmentiu o mito de “democracia racial”, que afirmava que a solução para essa questão seria a miscigenação entre brancos e negros, e que, aos poucos, isso faria desaparecer pacificamente a desigualdade e violência racial. Junto a isso, combateu o mito da “passividade” do negro frente aos senhores de escravizados, concepção defendida em especial por teóricos liberais burgueses, como Gilberto Freyre e Sérgio Buarque de Hollanda.
Clóvis desenvolveu esses estudos tanto em obras sobre o período escravocrata quanto do pós-abolição: “Rebeliões da senzala: quilombos, insurreições, guerrilhas”; “A Encruzilhada dos Orixás: problemas e dilemas do negro brasileiro”; “Sociologia do Negro Brasileiro”; “Dialética Radical do Brasil Negro”; e outras tantas obras e artigos.
Arma ideológica de dominação
Entre textos sobre a Guerra de Canudos, a Comuna de Paris e a Guerrilha do Araguaia, Clóvis escreve um de seus artigos intitulado “O Racismo como Arma Ideológica de Dominação” (1994). Nele elabora que o racismo não é fruto de uma desavença natural entre diferentes “raças” ou um acidente histórico. Do ponto de vista da luta internacional entre nações, a ideologia racista serviu de tática da nascente burguesia europeia para se diferenciar das populações africanas, supor uma superioridade em relação a elas e, assim, justificar sua superexploração escravista, o roubo de suas riquezas e de seus territórios.
“O racismo não é uma conclusão tirada dos dados da ciência, de acordo com pesquisas de laboratório que comprovem a superioridade de um grupo étnico sobre outro, mas uma ideologia deliberadamente montada para justificar a expansão dos grupos de nações dominadoras sobre aquelas áreas por eles dominadas ou a dominar”, nas palavras do autor.
Observando também as relações econômicas internas dos países colonizados, em especial do Brasil, Clóvis mostrou que o racismo assumia o papel de justificar a própria economia escravista. Os senhores de engenho, munidos de teorias a respeito de uma “superioridade branca”, escravizavam e exploravam os trabalhadores negros, os forçavam a um cotidiano brutal de trabalho não pago e humilhações, com os lucros e riquezas por eles produzidos sendo apropriados por essa elite.
Tendo o Brasil passado de um modo de exploração para outro, do colonialismo para o capitalismo, Moura deixa nítido que a miséria, os baixos salários, a superexploração, as humilhações e a violência policial enfrentadas pelo negro hoje são aspectos da divisão de classes brasileira, semelhante ao processo a dominação racista colonial. O racismo seria, então, uma arma de dominação e uma ideologia do colonialismo, apropriado pelos modelos de exploração que vieram depois.
O legado
Um dos grandes feitos desse teórico comunista foi ter nos ajudado a desvendar o processo de formação do Brasil desde a colonização até a consolidação do capitalismo. Colocou em evidência que um dos primeiros formatos da luta de classes nesse país se deu entre brancos donos dos meios de produção e negros trabalhadores. Assim, desatou o nó que envolvia o debate racial, as confusões a respeito da origem e fim do racismo, demonstrando que o racismo não é um elemento paralelo, mas um pilar da configuração das classes econômicas brasileiras.
Sua teoria combateu as ideias racistas de democracia racial, meritocracia, cordialidade do negro e afins, e nos mune contra as atuais teses que defendem a possibilidade de se resolver o racismo sem destruir a estrutura econômica que dele se beneficia, o capitalismo. Nos esclarece o porquê de não ser por meio de reformas pontuais no Estado, ou por um “empreendedorismo negro”, ou uma mera valorização da cultura negra, que se acabará com a desigualdade racial.
“Devemos partir de uma posição crítica radical, através da reformulação política, da modificação dos polos de poder, especialmente das áreas do chamado Terceiro Mundo. É uma situação que ficará sempre inconclusa se não a analisarmos como um dos componentes de um aparelho de dominação econômica, política e cultural”, já nos alertava Moura.
Seus estudos são a prova de que a crítica ao capital e o uso do materialismo dialético e histórico são ferramentas fundamentais para entender o passado colonial brasileiro e o caminho radical a ser percorrido pela luta antirracista. A teoria fundada por Marx e Engels, brilhantemente utilizada por Clóvis Moura, provou seu poder revolucionário contribuindo com os vários processos de libertação e revolução na América Latina, África e Ásia, inspirações para a luta socialista em nosso país.
O comunista Clóvis Moura não se apegou a fórmulas prontas e, por conta desse imenso trabalho, deixou-nos um grande acúmulo para a luta revolucionária e antirracista. Resgatemos a história de resistência de nosso povo – das primeiras confederações indígenas, dos quilombos, da luta no campo, de Canudos, das lutas operárias. Assim, veremos que a luta de classes no Brasil sempre foi intensa.
Se nos armarmos de maneira decidida e viva de uma teoria tão poderosa quanto o marxismo-leninismo, com toda a experiência de luta de nosso povo, seremos imbatíveis e vitoriosos. Que o legado de Clóvis Moura siga nutrindo de conhecimento e rebeldia as atuais e futuras gerações de revolucionários.
Após uma década de mobilização em Brasília, o movimento de mães de crianças com microcefalia reverteu um veto presidencial para conquistar uma vitória histórica.
Joseane Oliveira | Mãe de Kalebh Kaiodê Silva e Presidenta da Amape/Bahia
MULHERES – Há dez anos, o Brasil vivenciava uma epidemia de Zika Vírus, que resultou em muitos casos de crianças nascidas com microcefalia. Nacionalmente, um grupo de mães se organizou para que um projeto de lei fosse criado como forma de assegurar os direitos e as condições necessárias para mães e familiares darem a assistência adequada às crianças.
A proposta que deu origem à Lei 15.156/25 foi apresentada pela então deputada federal Mara Gabrilli, e assegura às crianças que nasceram entre 1º de janeiro de 2015 e 31 de dezembro de 2019, o direito ao Benefício de Prestação Continuada (BPC), recebendo uma pensão mensal vitalícia, no valor de um salário mínimo.
Durante os dez anos que levou para a lei ser aprovada, as mães se mantiveram em luta, o que garantiu não só a aprovação da lei, mas também uma indenização no valor de R$ 50 mil e que, ao invés de um salário mínimo, a garantia de pensão vitalícia no valor do teto pago pelo INSS, pouco mais de R$ 8 mil.
Nada nos impede de lutar
Após anos de lutas e articulações, várias vezes deixando nossos filhos com outros familiares para garantir idas a Brasília a fim de pressionar pela aprovação da lei, conquistamos sua aprovação por unanimidade do conjunto de deputados e senadores. Porém, ao chegar na mesa do presidente Lula, imaginávamos que teria um veto parcial, mas o que aconteceu surpreendeu a todas nós: veto foi total.
Como vetar totalmente sem nunca ter conversado com as mães, nunca ter feito um estudo de como é a situação real das crianças? Nos soa como crueldade, falta de coerência com o que o governo sempre pregou. Por que um governo dito para o povo pobre se comporta como cruel?
Nossas crianças têm comprometimentos severos, não enxergam direito, a maioria tem baixa visão; não ouvem direito; se alimentam com dificuldade, uns por gastrostomia e outros têm traqueostomia; possuem baixa imunidade; a maioria não anda e não fala, não possuem controle de tronco, convulsionam, bronco aspiram e passaram a maior parte da vida (8, 9, 10 anos) em um hospital lutando para sobreviver.
E é exatamente por não querermos nada inconstitucional, não querermos ter mais direitos que outras pessoas com deficiência, que não baixamos a cabeça e fomos à luta.
Nesse sentido, a Associação de Mães e Pais Extraordinários na Bahia (Amape/BA), entidade que acolhe todas as mães, pais e responsáveis de crianças com deficiência, foi uma das principais responsáveis por pressionar o Governo Lula a conceder o benefício para as crianças que foram afetadas pelo Zika Vírus.
Queremos apenas o justo! O direito de cuidar dos nossos filhos com o mínimo de dignidade, a realidade da maioria das mães é de endividamento extremo, vários processos na Justiça para adquirir medicamentos e tratamentos. Nossa realidade é não encontrar nem um neuropediatra no SUS. Terapia, nem se fala!
Então, quando o presidente vetou o projeto de lei que traria qualidade de vida para nossas crianças e propôs uma Medida Provisória “dando” uma indenização de apenas r$ 60 mil, com regras duras, em que a mãe teria que comprovar que foi contaminada pelo vírus na gravidez de quase dez anos atrás, em que o próprio governo não assumia que existia uma epidemia e nem sabíamos que teríamos que fazer sorologia, não aceitamos e seguiremos na luta.
Foram meses de duras batalhas, atos de rua e muitas estratégias de mobilização social. Nós, mães das cerca de 1.800 crianças nascidas com microcefalia, estivemos à frente. Infelizmente, nem todas as crianças seguem vivas. Só nos dois meses que antecederam à promulgação da lei, perdemos mais 18 crianças. Por isso, reafirmamos que vetar integralmente, sem conversar, sem saber das dificuldades que passamos diariamente, sem amparar as mães que lutaram bravamente, mas perderam seus filhos é crueldade sim!
Somos herdeiras das mulheres que bravamente expulsaram os portugueses e conquistaram a Independência do Brasil, não deixaríamos de lutar para conquistar o direito de nossos filhos, assim, sendo a Bahia o segundo estado com maior número de casos em todo o país.
Matéria publicada na edição nº324 do Jornal A Verdade.
Para fornecer as melhores experiências, usamos tecnologias como cookies para armazenar e/ou acessar informações do dispositivo. O consentimento para essas tecnologias nos permitirá processar dados como comportamento de navegação ou IDs exclusivos neste site. Não consentir ou retirar o consentimento pode afetar negativamente certos recursos e funções. Nós repeitamos a LGPD.
Funcional
Sempre ativo
O armazenamento ou acesso técnico é estritamente necessário para a finalidade legítima de permitir a utilização de um serviço específico explicitamente solicitado pelo assinante ou utilizador, ou com a finalidade exclusiva de efetuar a transmissão de uma comunicação através de uma rede de comunicações eletrónicas.
Preferências
O armazenamento ou acesso técnico é necessário para o propósito legítimo de armazenar preferências que não são solicitadas pelo assinante ou usuário.
Estatísticas
O armazenamento ou acesso técnico que é usado exclusivamente para fins estatísticos.O armazenamento técnico ou acesso que é usado exclusivamente para fins estatísticos anônimos. Sem uma intimação, conformidade voluntária por parte de seu provedor de serviços de Internet ou registros adicionais de terceiros, as informações armazenadas ou recuperadas apenas para esse fim geralmente não podem ser usadas para identificá-lo.
Marketing
O armazenamento ou acesso técnico é necessário para criar perfis de usuário para enviar publicidade ou para rastrear o usuário em um site ou em vários sites para fins de marketing semelhantes.