UM JORNAL DOS TRABALHADORES NA LUTA PELO SOCIALISMO

sábado, 13 de setembro de 2025
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Chegou A Verdade quinzenal

Uma vitória da imprensa popular e socialista

EDITORIAL

A primeira edição do jornal A Verdade foi lançada em dezembro de 1999, com a manchete “FHC: o professor que virou um grande fazendeiro”. Foram 1.500 exemplares que circularam em cinco estados. Desde então, as ideias defendidas por A Verdade vêm obtendo cada vez mais apoio. O número de leitores cresceu a cada mês e hoje o jornal circula em 20 estados. A tiragem foi crescendo ano a ano e atingiu, em abril, 18.500 exemplares.

Este crescimento permitiu que, após 22 anos, o jornal A Verdade passasse a ser quinzenal. A partir de agora, serão duas edições por mês.

E há mais novidades: A Verdade ganhou um novo projeto gráfico e seu site www.averdade.org.br, após sofrer ataques dos inimigos da democracia, tem novo visual para facilitar a leitura. Em junho, terá ainda um aplicativo para baixar no celular.

Pode parecer pouco para alguns. Mas não é. Enquanto jornais da burguesia deixam de circular e passam a existir somente na internet, A Verdade lança agora duas edições impressas por mês no Brasil. Ademais, A Verdade é um jornal a serviço da classe explorada e oprimida, a imensa classe operária, as massas trabalhadoras. Suas páginas não são vendidas às grandes corporações internacionais e nacionais nem defendem os interesses do capital financeiro, das mineradoras ou do agronegócio. É um jornal dos trabalhadores que luta pela emancipação dos pobres, pelos direitos das mulheres, pela justiça social, democracia popular e socialismo.

Ergue sua voz contra o racismo e em defesa dos povos indígenas e denuncia todos os crimes cometidos pelo Estado burguês. Os princípios de A Verdade são baseados no marxismo-leninismo, no fim da exploração de classes, na solidariedade e fraternidade entre os irmãos trabalhadores e os povos de todo o mundo.

A Verdade é um jornal que se sente honrado em desafiar e lutar contra os poderosos interesses da classe capitalista e pelo fim da escravidão assalariada. É um jornal socialista no seu conteúdo e na sua forma, pois é feito com base na cooperação de centenas de companheiros e companheiras. Leva à prática os princípios definidos pelo grande revolucionário e criador do socialismo científico, Karl Marx: “A função da imprensa é ser o denunciador incansável dos opressores. (…) O dever da imprensa é tomar a palavra em favor dos oprimidos a sua volta. O primeiro dever da imprensa é minar todas as bases do sistema político existente”.

Mas a vitória de A Verdade se transformar num jornal quinzenal não caiu do céu. Foi fruto de um trabalho coletivo e planejado. Um importante Ativo Nacional de Agitação e Propaganda foi realizado no mês passado com dezenas de militantes, além dos ativos estaduais que se seguiram. Semanalmente, a Redação Nacional se reúne, debate as matérias, distribui entre os editores e prepara a próxima edição.

Como tem apoio entusiasta de seus leitores, A Verdade conta ainda com diversos colaboradores que escrevem textos e mandam fotos. Além disso, A Verdade dispõe de centenas de brigadistas, militantes do PCR, da UP e dos movimentos sociais que garantem que ele chegue às mãos do povo.

A Verdade quinzenal é uma vitória da imprensa popular e socialista, uma vitória de todos que nessa caminhada trabalharam para que este sonho se tornasse realidade, uma vitória principalmente para os oprimidos e explorados que terão um jornal ainda mais incansável na denúncia dos opressores, sempre erguendo a bandeira da revolução e do socialismo.

Com A Verdade quinzenal, semearemos mais e organizaremos mais operários e operárias no exército que construirá uma nova sociedade, na qual não haverá pobreza, nem corrupção, fascismo ou exploração. Apesar do fascista e dos generais, A Verdade quinzenal triunfou. Avante, camaradas!

O dia que o povo vestiu a melhor roupa e ocupou o TSE

Trabalhadores na audiência de julgamento do registro da UP no TSE, em outubro de 2019 – Foto: Jorge Ferreira / Jornal a Verdade

Jorge Ferreira

Era manhã de uma quinta-feira de outubro de 2019 quando os servidores do Tribunal Superior Eleitoral tiveram que lidar com com uma situação incomum: algumas  dezenas de trabalhadores desejavam assistir uma audiência de julgamento. A lotação do plenário  com cerca de duzentas confortáveis cadeiras não era o problema, mas os visitantes não estavam com “vestimentas adequadas” que os permitisse estar diante dos ministros.

Naquele dia, homens e mulheres que diariamente acordam cedo e utilizam transporte público lotado para trabalhar, que pegam no pesado para sobreviver, colocaram suas melhores roupas, seus melhores sapatos, alguns cortaram o cabelo, outros usaram o melhor perfume. Era dia de festa. Após dois longos anos e um milhão e duzentas mil assinaturas recolhidas nos trens, nos bairros populares, nas portas de fábrica, e, apesar das dificuldades, registradas em cartórios de vários estados em todas as regiões do país, havia chegado o dia que iniciaria o julgamento do registro da Unidade Popular pelo Socialismo na mais alta corte eleitoral do Brasil.

Com a emoção transbordando em sorrisos largos, representando todos aqueles abnegados trabalhadores que entregaram suas poucas horas livres para cumprir a tarefa histórica de constituir o partido dos pobres, do povo trabalhador, entraram no prédio do TSE para assistir a audiência que reconheceria  a legitimidade de todo o processo. Entretanto, a poucos metros do plenário principal do Tribunal, a chefe dos seguranças alerta que não será possível que os visitantes adentrem no local por não estarem vestidos adequadamente. “Onde está escrito isso?”, foi o primeiro questionamento do advogado Thiago Santos.

Thiago Santo, advogado da Unidade Popular, intervindo para garantir o acesso dos trabalhadores ao plenário – Foto Jorge Ferreira /  Jornal a Verdade

Daí em diante iniciou-se uma luta contra o tempo. Há poucos minutos de iniciar o julgamento, nem mesmo o presidente do partido, Leonardo Péricles, morador de ocupação, havia conseguido entrar no plenário justamente por estar somente com camisa social, mas sem terno e gravata. “Veja bem, argumentava Thiago Santos, essas pessoas estão justamente com suas melhores roupas, não há ninguém vestido de forma inadequada”. As mulheres que estavam de calça jeans, ao ver o tempo passando e a recusa da chefe dos seguranças, começaram a improvisar saias com cachecóis. Os homens já não mostravam os dentes, uma pequena angústia tomava conta. 

Em meio ao embate jurídico da legalidade da exigência de terno e gravata entre o advogado do partido e os servidores, alguns seguranças sensibilizados prometeram irem até o vestiário verificar se tinham terno reserva para emprestarem ao visitantes, mas já alertaram que não haveria para todos. Pouco antes de iniciar a sessão, o advogado do partido conseguiu que a questão fosse levada até a presidente da Casa, à época ministra Rosa Weber. Alguns instantes antes de iniciar o julgamento a entrada foi autorizada.

Foto Jorge Ferreira / Jornal a Verdade

Nesse dia, o procurador eleitoral Humberto Jacques apresentou parecer favorável, e o relator do processo, ministro Jorge Mussi, proferiu votou favorável ao registro alegando que “não poderia ser diferente, já que o partido cumpriu todas as exigências normativas”, entretanto o julgamento foi suspenso por um pedido de vista de um dos ministros, só sendo retomado, aprovado e registrado em dezembro do mesmo ano. 

Mas foi exatamente naquele dia, 24 de outubro de 2019, que pela primeira vez o plenário do Superior Tribunal Eleitoral foi ocupado por pessoas sem terno e que, como retrata um grande filme, também não usam “Black Tie”.

 Talvez tenha sido duro para os ministros da burguesia olharem de frente homens e mulheres que vivem do próprio suor. Para a Unidade Popular foi um dia histórico, mais um capítulo da emocionante luta pela libertação de milhões de trabalhadores brasileiros.

Foto Jorge Ferreira / Jornal a Verdade


MLB protesta contra despejos e GCM reprime ato em SBC

Foto: Jorge Ferreira / Jornal a Verdade

João Coelho e Jorge Ferreira

MLB São Paulo

Fazia frio na tarde dessa quarta-feira, dia 12 de agosto, quando Movimento de Luta nos Bairros, Vilas e Favelas (MLB) organizou na cidade de São Bernardo do Campo um ato contra os despejos de famílias pobres durante a pandemia e em defesa do direito à moradia digna. O ato fez parte de uma agenda nacional de mobilizações que levou às ruas centenas de famílias, em diversas cidades brasileiras, levantando a bandeira do Despejo Zero, uma campanha nacional que unifica movimentos sociais e outros apoiadores na luta pelo fim dos despejos durante a crise da Covid-19.

 A manifestação reuniu famílias de vários bairros de São Bernardo do Campo, cidade que sofre com uma política sistemática de despejos por parte do Prefeito Orlando Morando (PSDB), de Diadema, Santo André, Mauá, Francisco Morato, São Matheus e de várias regiões da Capital, além de outros movimentos que se somaram à essa luta, como o Projeto Meninos e Meninas de Rua (PMMR), o Coletivo Democracia Corinthiana, a Torcida Guerreiros do Tigre do São Bernardo F.C., o Movimento de Mulheres Olga Benário, etc. Para Gabriela Mousse, da Democracia Corinthiana: “Eles agem assim [despejos e repressão ao povo pobre] porque se sentem livres para fazer o que querem, não há motivo nenhum para ações desse tipo. Claro, o governo já é fascista e tá rolando uma pandemia, para eles fica mais fácil, por isso temos que ocupar as ruas com mais frequência”.

Foto: Manuelle Coelho / Jornal a Verdade

Alguns trabalhadores vieram de longe, é o caso de Cirilo Conceição, que viajou cerca de 80 quilômetros para poder participar do ato: “Sou de Francisco Morato, uma cidade abandonada pelos governantes. Governantes corruptos e omissos que permitiram que meu filho viesse a falecer. Quem me apoiou não foi nenhum governante, foi o povo, foi o MLB. Convidamos vocês a abraçarem essa causa porque essa é a causa de todos nós trabalhadores, estudantes, que pagamos aluguel, que somos despejados. O governo é o culpado disso, o governo não tá nem aí pra nós, eles querem é matar nossos filhos. Eles abandonam nossos bairros, na minha rua um carro não foi capaz de entrar pra prestar socorro ao meu filho. Eu abracei e vou continuar abraçando o MLB, essa ferramenta dos trabalhadores para lutar por uma moradia digna”.

Foto: Jorge Ferreira / Jornal a Verdade

A marcha, que contou com mais de cem pessoas, ocorreu no fim da tarde e foi da Igreja Matriz, no centro da cidade, até o Paço Municipal, em uma caminhada pacífica de mais de uma hora, mantendo o distanciamento social, o uso de máscaras e todos os cuidados relativos à pandemia da Covid-19 e sem qualquer tipo de conflito, sendo inclusive apoiada pela maior parte da população que transitava pela cidade, de carro, de ônibus ou a pé. Segundo Daniela, que constrói o MLB no bairro Detroit, em São Bernardo: “Essa manifestação é muito importante, estou aqui não só por mim, mas pelas minhas filhas e pela minha comunidade. Aprendi com o MLB que nós precisamos lutar, assim como fizeram os escravos, que se revoltaram e hoje são libertos. Mas ainda existe uma escravidão pra gente vencer e por isso estamos na luta”.

A organização do ato realizou um acordo com a Guarda Civil Municipal (GCM) e com a Polícia Militar, para que a manifestação fosse encerrada no Paço Municipal com uma assembleia das famílias que cobravam o seus direitos. No entanto assim que os primeiros militantes do movimento entraram no Paço, carregando uma faixa com os dizeres “Despejo Zero, Morar é um Direito”, a GCM descumpriu o acordo e atacou covardemente três Coordenadoras do MLB que carregavam a faixa, desferindo empurrões, socos e utilizando spray de pimenta sobre as mulheres; rapidamente um conjunto de famílias se aproximou, afastou os políciais e organizou um cordão de isolamento para impedir novas agressões.

Ao todo foram mobilizadas cerca de 30 viaturas entre GCM e Polícia Militar com o objetivo de impedir a continuação do ato através de uma ação agressiva e completamente desproporcional, descumprindo um acordo feito minutos antes, alegando que o movimento estava proibido de adentrar o Paço Municipal carregando qualquer tipo de bandeira ou faixa e demonstrando o caráter repressivo do Estado contra os trabalhadores, os pobres e os lutadores sociais que cada dia fica mais intenso no Brasil. As famílias conseguiram assegurar o direito de realizar sua assembleia no local e em alguns minutos de diálogo e de muita agitação política contra as injustiças do sistema capitalista, o sistema dos ricos que durante a pandemia promove o crescimento do patrimônio dos bilionários exploradores e o empobrecimento geral daqueles que vivem do próprio trabalho, decidiram encerrar a manifestação, prometendo que voltarão às suas cidades e bairros e organizarão ainda mais pessoas para lutar pela Reforma Urbana e pelo Socialismo. Segundo Thais Gasparini, uma das Coordenadoras Estaduais do MLB agredidas pela GCM: “Essa repressão, esse uso da violência para calar quem se manifesta é um espelho do que acontece na periferia, em que essa mesma GCM é utilizada pra derrubar as casas do povo pobre. Isso precisa acabar, por isso nos manteremos firmes na luta, cada dia maiores, combatendo a exploração, a especulação imobiliária e a política dos ricos, dos latifundiários e dos banqueiros”.

Para Arnor, membro do MLB do bairro do Divinéia, em São Bernardo: “O ato foi muito bom, muito bonito, temos que seguir lutando. Já precisamos marcar a próxima passeata”.

Exército Vermelho salvou humanidade do nazismo

bandeira URSS no reichstag

No capitalismo, as guerras são fruto da concorrência entre as classes dominantes de diferentes nações pelo domínio do planeta. Na Primeira Guerra Mundial, formaram-se dois blocos imperialistas opostos: Tríplice Aliança (Impérios Alemão, Austro-Húngaro e Turco-Otomano) e a Tríplice Entente (Impérios Inglês, Francês e Russo).

O sol nasce vermelho

Algo novo, entretanto, surgiu durante a Primeira Guerra Mundial: a revolução socialista de outubro de 1917, na Rússia; nova cisão ocorria no mundo, agora dividido em dois sistemas adversos: o capitalismo e o socialismo.

Os dois blocos capitalistas passaram a ter um objetivo comum: a destruição do primeiro Estado operário-camponês da história, em vista da restauração do capitalismo em escala global. Foi com este propósito que o bloco vencedor investiu na economia alemã 15 bilhões de marcos em seis anos (1924-1929).

Quando o nazismo se apossa da Alemanha e explicita seu intento de domínio mundial, as potências capitalistas dominantes não tratam de combatê-lo. Ao contrário, fecham os olhos às suas agressões e até incentivam o monstro nazista a direcionar seu ataque contra a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS).

Em 1939, a URSS propôs à Inglaterra e França um pacto para ações militares conjuntas se os países do Eixo (Alemanha, Itália e Japão), bloco nazifascista, iniciassem a guerra na Europa. Não houve rejeição formal, mas nenhum passo foi dado por parte dos países capitalistas para concretizar o pacto. Ao contrário, França e Inglaterra firmaram com Alemanha e Japão acordos de não-agressão. Deixada sozinha, em agosto de 1939, a URSS assinou com a Alemanha um tratado de não-agressão. Os dirigentes sabiam que, mais cedo ou mais, tarde Hitler romperia o acordo, mas conseguiram ganhar um tempo valioso para transferir parte de suas indústrias para o leste do grande território soviético, bem como reforçar sua capacidade de defesa militar.

De 1938 a 1941, Hitler ocupou Áustria, Checoslováquia, Polônia, Bélgica, Holanda, Dinamarca, Noruega, Grécia, Iugoslávia e finalmente a própria França. Na Europa central e oriental, a Alemanha adquiriu imensa quantidade de material de combate, meios de transporte, matérias-primas, materiais estratégicos e força de trabalho, tornando-se forte o suficiente para atacar a URSS.

Hitler, no livro MeinKampf(Minha Luta), proclamou: “…tratando-se de obter novos territórios na Europa, deve-se adquiri-los principalmente à custa da Rússia”.

dia da vitória na bulgária 09 05 1945

A invasão hitlerista foi impiedosa. “Fuzilavam em massa as pessoas (mulheres, crianças, idosos, montavam campos de morte, deportavam para trabalho forçado na Alemanha. Por onde passavam, não deixavam pedra sobre pedra”. Era a política do extermínio. “Eu tenho o direito de destruir milhões de homens de raça inferior que se multiplicam como vermes” (Hitler).

Em resposta, o governo, o Partido Bolchevique e o povo soviético lançaram a palavra de ordem: “Morte aos invasores fascistas, tudo para a frente! Tudo para a vitória!”. Às fileiras do Exército Vermelho se integraram milhões de homens. Criaram-se também inúmeros regimentos de milícia popular, contando com dois milhões de combatentes.

Formou-se ainda na retaguarda uma força guerrilheira massiva. A dedicação e bravura do povo soviético comoveram o mundo e foram decisivas para quebrar a resistência capitalista (EUA, Inglaterra, França). Formou-se finalmente o bloco aliado, antifascista, a frente única dos povos pela democracia.

Caíra por terra a ideia de Hitler de que a ocupação da URSS seria um passeio uma “guerra relâmpago”. Os nazistas não imaginavam a resistência que encontrariam nas principais cidades: Leningrado, Stalingrado, Kiev e Moscou, entre tantas. Homens, mulheres, idosos e crianças se ergueram como muralha inexpugnável.

Os feitos do povo soviético repercutiram no mundo inteiro, levando um jornal burguês como o STAR, de Washington, a publicar: “Os sucessos da Rússia na luta contra a Alemanha hitleriana revestem-se de grande importância não só para Moscou e o povo russo, como também para Washington, para o futuro dos Estados Unidos. A história renderá homenagens aos russos por terem suspendido a guerra relâmpago, pondo em fuga o adversário”.

Em junho de 1942, os invasores avançam, mas encontram uma barreira instransponível em Stalingrado. Durante sete meses de combate, os invasores perderam 700.000 soldados e oficiais, mais de mil tanques, dois mil canhões e morteiros, 1.400 aviões. Os invasores eram tecnicamente superiores, mas, em novembro de 1942, os números já se invertiam em favor dos soviéticos. Os alemães estavam com 6.200.000 soldados, os soviéticos com 6.600.000; 5.000 tanques invasores contra 7.000 soviéticos; 51.000 peças e morteiros contra 77.000.

Na derrota do Stalingrado, os nazistas perderam 1,5 milhões de soldados e oficiais. “… Do ponto de vista moral, a catástrofe que o exército alemão sofreu nos acessos de Stalingrado teve um efeito sob o peso do qual ele não pôde mais reerguer-se”. (A segunda guerra mundial, B.Lideel Hart)

Depois, ocorreu a vitória do Cáucaso e se iniciou processo de expulsão em massa dos ocupantes nazistas. “A União Soviética pode orgulhar-se das suas heroicas vitórias”, escreveu o presidente dos EUA, Franklin Roosevelt, acrescentando: “…os russos matam mais soldados inimigos e destroem mais armamentos do que os outros 25 estados das Nações Unidas no conjunto”.

O final de 1943 marca a virada na frente soviética e na Segunda Guerra em geral. O movimento contra o nazifascismo se consolidou e se ampliou em todo o planeta.

Em junho de 1944, com o exército alemão batido em todas as regiões da URSS, as tropas anglo-americanas desembarcaram no Norte da França, dando início à frente ocidental proposta pelo governo soviético desde o início da invasão.

Pode-se dizer que a essa altura a guerra estava decidida, diante da derrota alemã na Rússia. O próprio Winston Churchil, primeiro-ministro britânico, reconhece o papel fundamental dos soviéticos, no discurso pronunciado na Câmara dos Comuns, em julho de 1944: “….Considero meu dever reconhecer que a Rússia mobiliza e bate forças muitíssimas maiores que as enfrentadas pelos aliados no Ocidente, que, há longos anos, ao preço de imensas perdas, ela suporta o principal fardo da luta em terra”.

Um exército libertador

Apesar de imensas perdas, o Exército Vermelho avançou no encalço dos alemães pela Europa Oriental adentro, fustigando os nazistas e auxiliando as forças populares da resistência a derrotarem os ocupantes e seus colaboradores internos. Repúblicas democrático-populares foram instaladas com os partidos comunistas à frente na Polônia, Hungria, Iugoslávia, Checoslováquia, Romênia e Bulgária.

“Para Berlim!” era a palavra de ordem do exército libertador. Não foi um passeio. A resistência nazista, embora enfraquecida, produzia encarniçados e sangrentos combates. Os russos vitoriosos não mataram, não pilharam, não se vingaram dos crimes cometidos pelo exército alemão no solo soviético. Ao contrário, alimentaram os famintos, organizaram a assistência médica, o funcionamento dos transportes, a distribuição de água e de energia elétrica. A 2 de maio de 1945, o Comando Supremo alemão assinou o ato de capitulação incondicional das forças armadas, com a bandeira da URSS tremulando no alto do parlamento alemão, em Berlim. No dia 09 de maio, houve um imenso ato em Moscou em comemoração ao fim da Grande Guerra Patriótica (como os soviéticos denominaram sua participação na Segunda Guerra Mundial) e, desde então, até hoje, celebra-se na Rússia esta data como o Dia da Vitória.

Sob novos céus

Terminada a guerra na Europa, era preciso voltar-se para a Ásia. O Japão, aliado dos nazistas dominava milhões de pessoas na China, na Coreia, nas Filipinas. Apesar de as forças armadas dos EUA e da Inglaterra virem imprimindo sucessivas derrotas, as forças japonesas ainda eram numerosas e fortes. De vez em quando, elas atacavam as fronteiras da URSS e torpedeavam navios soviéticos em alto-mar.

No dia 8 de agosto de 1945, a União Soviética declarou guerra ao Japão e começou a ofensiva. Nesse mesmo dia, o primeiro-ministro japonês, Teiichi Suzuki afirmou: “…A entrada da URSS na guerra hoje de manhã põe-nos definitivamente numa situação sem saída e torna impossível continuar a guerra” . Estava certo. No final do mês, o Exército nipônico havia perdido 677 mil soldados e oficiais: 84 mil mortos e 593 mil prisioneiros.

Ao contrário do que muitos pensam, e a historiografia burguesa busca difundir, não foram as bombas estadunidenses lançadas no início de agosto contra Hiroshima e Nagasaki que provocaram a capitulação japonesa. A guerra continuou normalmente depois do ataque bárbaro e covarde. A rendição resultou do destroçamento do exército nipônico pelas tropas soviéticas.

Se alguém duvida, leia o testemunho do general Chenault, que chefiou as forças dos EUA na China: “…A entrada da URSS na guerra contra o Japão foi o fator decisivo para o fim da guerra no Pacífico, o que sucederia mesmo sem o emprego de bombas atômicas. O rápido golpe desferido pelo Exército Vermelho sobre o Japão fechou o cerco que pôs finalmente o Japão de joelhos”.

O Exército Vermelho contribuiu ainda para a expulsão dos nazistas da China e da Coreia. O sacrifício do povo soviético foi inestimável. Mas valeu a pena porque livrou a Humanidade da besta nazista. Foi também a vitória do socialismo que saiu da Segunda Guerra triunfante em toda a Europa Oriental e na China.

Por todos, valeu a carta de agradecimento enviada pelo povo coreano a Josef Stalin, comandante supremo das forças soviéticas: “… Os combatentes soviéticos chegaram não como conquistadores, mas como libertadores. Emancipada da escravidão, a nossa pátria respirou livremente. O céu apareceu-nos radioso. A nossa terra floresceu. Jorraram canções de liberdade e felicidade…”.

José Levino, historiador

Fonte de pesquisa: O Grande Feito do Povo Soviético e do Seu Exército. VassiliRiábov, Edições Progresso, Moscou,1983.

Bolsonaristas defendem volta da tortura e fim das eleições diretas

Da Redação

Enquanto milhões de brasileiros estão em isolamento ou distanciamento social devido à pandemia da Covid-19, o capitão reformado Jair Bolsonaro e seus puxa-sacos vivem um imenso isolamento político. A reprovação a seu governo já alcança quase 70%, suas Medidas Provisórias, sem apoio, caducam no Congresso Nacional e o Supremo Tribunal Federal (STF) decidiu que não é função do presidente desrespeitar governadores e prefeitos. Nos embates que travou com o ex-ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, ficou em minoria nas reuniões do seu Ministério. Teve que levar um de seus filhos para dentro do Palácio Planalto para poder conseguir ouvir diariamente: “Pai, você é o rei”.

E os fatos mostram uma dura realidade: após quase um ano e meio no governo, o capitão reformado, apesar de controlar um Orçamento Federal de R$ 4 trilhões, não construiu nenhum hospital público nem universidade. Tampouco ampliou o acesso da população ao saneamento ou construiu casas populares. O desemprego e o número de famílias vivendo na extrema pobreza cresceram enormemente no seu desgoverno. Usou todo o dinheiro público para enriquecer os especuladores, os banqueiros e permitir a remessa de bilhões de dólares do Brasil para os EUA.

O povo brasileiro, vendo que o capitão reformado é incompetente, antidemocrático e totalmente subserviente ao EUA, passou a reprovar seu governo em todas as regiões. Segundo o Instituto Datafolha, 17% de seus eleitores se arrependeram de ter votado nele.

Diante dessa crescente rejeição da população, o capitão reformado e seus filhos resolveram apelar para a velha política: recorrer às Forças Armadas, em particular ao Exército, para impor um regime ditatorial no país.

Assim, foram marcadas as carreatas e atos para o dia 19 de abril, dia que é considerado Dia do Exército. O Exército, seu comandante geral e o Alto Comando sabiam do ato e deram total permissão para que Bolsonaro e seus puxa-sacos o realizassem com dezenas de faixas encomendadas e com dezenas de assessores de deputados e de pessoas que ocupam cargos de confiança no governo, os conhecidos “aspones”.

No entanto, os atos foram um fracasso. Em São Paulo, dezenas de carros luxuosos, acompanhados de várias motos, algumas delas que custam mais de R$ 50 mil reais, foram verdadeiramente “ovacionadas”, isto é, receberam ovos e tomates dos prédios por onde passavam. Em Brasília, apenas algumas centenas de pessoas atenderam ao chamado de Bolsonaro e, se retirarmos os assessores da conta, fica uma ridícula minoria. Pior: após o ato, nove pessoas deram entrada em hospitais de Brasília com suspeita de Covid-19.

Pois bem, com o repúdio nacional à fala de Bolsonaro em frente ao Quartel General do Exército em Brasília, os generais passaram a dizer em off a jornalistas que não concordavam com aquele discurso defendendo um golpe militar e a volta do AI-5 e pediram ao capitão para “baixar o tom”. Na manhã desta segunda-feira, 20 de abril, um irritado e nervoso presidente, com suas mãos trêmulas (lembrando Hitler no filme A Queda), tentou desdizer o que tinha dito. Mas, revelando sua natureza fascista, parafraseou o rei Luís XIV, e declarou: “Eu sou a Constituição”.

Os fascistas e a grande a burguesia nacional e internacional olham a história do Brasil, observam os inúmeros golpes militares que aconteceram e acham que é fácil dar um golpe militar em nosso país e impor a censura à imprensa, torturar os que discordam, assassinar e esconder os corpos dos patriotas e democratas ou jogá-los no mar. Pensam que assim terão a paz dos cemitérios dizendo que o “Brasil vai pra frente, ame-o ou deixe-o” e que a ditadura militar é o melhor regime para governar um povo rebelde, como é o brasileiro.

Mas, senhores e senhoras fascistas, ensina a filosofia dialética que, se houve tantos golpes militares assim no Brasil é porque nenhum conseguiu se manter eternamente. Ou melhor, todos foram derrotados nas ruas pelos trabalhadores, pelas mulheres, pelos jovens, pelo povo brasileiro. Duvidam? Então terão que ouvir novamente nosso povo nas ruas desfilando e cantando: “Amanhã vai ser outro dia!” ou “Você não gosta de mim, mas sua filha gosta!”.

Nossa luta para derrotar o governo fascista em meio ao avanço das contradições interimperialistas

Passeata em São Paulo contra a Reforma da Previdência. Foto: A Verdade

Por Wanderson Pinheiro e Leonardo Péricles

1 – O Brasil e a questão internacional

O chamado neoliberalismo se aprofundou no Brasil nos anos 1990, primeiro no Governo Collor e depois durante os dois governos de Fernando Henrique Cardoso. Na verdade, tratou-se de uma maior submissão das economias nacionais com abertura dos mercados, iniciada no Chile e na Argentina, diante de um crescimento da exportação de capitais e maior domínio do capital financeiro internacional sobre as economias nacionais latino-americanas. Foi um período de ampla hegemonia dos EUA, encoberto sob o discurso da globalização.

A queda brusca dos impostos de importação e exportação, o fim do controle de capital e a isenção de impostos para a sua movimentação, a adoção de uma política cambial ancorada no dólar, o achatamento salarial dos trabalhadores e a privatização das principais empresas estatais foram as medidas centrais que tiveram consequências estruturais perversas para a economia nacional.

No entanto, o que se desenvolve de fato são as características do imperialismo capitalista, com o aprofundamento da financeirização do capital monopolista e uma gigantesca exportação de capitais por diversas vias. O capital se expande permanentemente, destruindo as economias nacionais, promovendo o desemprego e a redução salarial, para extrair mais-valia extraordinária e, assim, buscar manter sua taxa de lucro. Neste sentido, falar apenas contra o neoliberalismo e aceitar o capitalismo é propor aceitar a exploração dos trabalhadores, a manutenção da escravidão assalariada e sua expressão política, a democracia burguesa.

Além da política neoliberal praticada pelo imperialismo dos EUA, sofremos uma ação neocolonialista brutal, com a “elite nacional” sendo subornada e praticando a corrupção. Este fato foi evidenciado no processo de privatização, tendo boa parte dos recursos sido desviada para o “caixa 2” das campanhas eleitorais de 1998, mantendo FHC no governo.

Outro objeto de controle da nação foi a dívida pública. Com o aumento dos juros para conter a inflação, os novos financiamentos recebidos do FMI aumentaram em muito as dívidas externa e interna, ampliando a dependência do Brasil ao capital financeiro dos EUA. A abertura financeira ocasionou ainda o aumento da dívida interna, pois era extremamente favorável para o capital financeiro especular com a alta de juros (a taxa Selic atingiu 45,67% ao ano, em 1997), com controle do câmbio e livre movimentação de capitais.

Resumindo: ocorria uma espoliação financeira terrível devido à política de total submissão às ordens do dito “Consenso de Washington” praticada pelo governo brasileiro.

Essa abertura gerou também a quebra de milhares de empresas nacionais. As pequenas e médias empresas foram as mais atingidas, mas também grandes empresas foram à falência, iniciando o processo de desindustrialização nacional. Porém, um setor com maior acúmulo de capital, a grande burguesia interna, que fez o acordo com a burguesia estadunidense, teve lucros crescentes e caminhou para expandir seus negócios para o exterior. Setores como o do agronegócio, da construção civil e dos frigoríficos, tornaram-se grandes empresas internacionais e, a partir desse acordo, passaram a expandir-se para a região do Mercosul.

Outros setores foram se associando ao capital estrangeiro, seja na aquisição das importantes empresas estatais que foram privatizadas (setores de minério, siderúrgico, energia, etc.) ou de indústrias e serviços privados para o investimento dos capitais internacionais. Tornaram-se, assim, um setor submisso ao capital internacional e aos ditames da Organização Mundial do Comércio (OMC).

Entre os anos de 2003 a 2010, vivenciamos o Governo Lula e, de 2011 a meados de 2016, o Governo Dilma. Foi um período de hegemonia petista, considerado por alguns como desenvolvimentista ou neodesenvolvimentista, mas teve como base a diversificação da dependência nacional, principalmente em relação ao crescimento das exportações para a China, pautado também pelo investimento público feito nas empresas públicas e privadas, e pela ampliação do consumo da população com base numa grande oferta de crédito.

Esse processo de consumo levou a um relativo desenvolvimento da indústria naval, da construção civil, do agronegócio e da pecuária, propiciando o crescimento do lucro da grande burguesia e do capital financeiro. Porém, sendo um desenvolvimento com base no crescente endividamento e submetido aos interesses da grande burguesia nacional e mundial, terminou por esgotar-se com o aprofundamento da crise do capitalismo mundial.

Na verdade, o governo praticou uma política neodesenvolvimentista, mas manteve a hegemonia do capital financeiro, aprovando leis em seu benefício, como a lei de garantia de empréstimos com descontos em folha. A “Carta aos Brasileiros”, no início do primeiro mandato de Lula, foi, no fundamental, uma mensagem ao mercado financeiro internacional em que o presidente se comprometia a manter todos os acordos anteriores, não mexer no processo das privatizações, manter o controle da inflação, garantir o pagamento da dívida pública com altos juros e ampliar seus benefícios. Isso significou, na prática, a manutenção da política neoliberal.

Além de não ter revogado nenhuma das corruptas privatizações do Governo FHC, o PT realizou novas: privatizou portos, aeroportos e rodovias, além de fazer leilões de campos de petróleo para empresas estrangeiras. Porém, com o pré-sal (considerado o bilhete premiado), alterou o regime de exploração, mantendo os leilões em outros termos. Assim, a Petrobras foi um poderoso instrumento para desenvolver a política neodesenvolvimentista, promovendo investimentos em refinarias e alavancando a indústria naval brasileira e a construção civil. No entanto, o PT não reverteu a abertura de capital da Petrobras e esta permaneceu influenciada pesadamente pelos acionistas internacionais e pelo mercado.

A crise da era petista se iniciou em 2014, no final do primeiro Governo Dilma. A crise econômica chegou ao Brasil e ficou evidente que a política neodesenvolvimentista não conseguiu resolver os problemas estruturais do país, principalmente por não suspender o pagamento dos juros da dívida pública e manter a espoliação do capital financeiro e a dependência em relação ao agronegócio. Por outro lado, a relação com a China, que trouxe a ampliação da venda de commodities a níveis altos e a abertura para importação de produtos de toda ordem, gerou uma maior desindustrialização e dependência do setor externo. Essa troca desigual trouxe enormes benefícios para a grande burguesia do agronegócio, da mineração, da pecuária, da construção civil, etc., mas, como sempre, bastou uma oscilação do mercado internacional para tudo ir abaixo.

Realmente, a crise mundial se aprofundou com reduções seguidas de crescimento da economia chinesa. A China, mesmo possuindo enormes monopólios e rivalizando o comércio internacional com os EUA, não ficou de fora da nova crise de superprodução relativa que dificultou a realização de seu capital mundialmente. É importante notar que essa crise e a disputa de mercados continuam a se desenvolver, ameaçando agora entrar num período mais profundo, como afirmou recentemente a OMC. Sem ter como exportar mais mercadorias e com o superacúmulo de capital, a China avança a financeirização da sua economia.

Vejamos o que se sucedeu de 2007 a 2015. A China chegou a crescer 13%, em 2007, e o mercado de commodities brasileiro teve uma alta considerável. Em 2010, a China teve mais uma queda no seu PIB para 10,4%. Em 2015, relatório do FMI dizia que a China diminuiria o crescimento para 6,8%, a menor taxa anual do país dos últimos 25 anos. A queda da economia brasileira foi quase automática. Dilma Rousseff, que tomou posse para o segundo mandato no dia 1º de janeiro de 2015, permaneceu no posto apenas um ano e meio.

A crise ocasionada pela redução da produção da China fez cair enormemente o preço das commodities e reduziu os lucros da grande burguesia. Sendo pragmática, a burguesia, que há pouco havia colocado o gorro “comunista” na cabeça para adular o imperialismo chinês, pulou do barco e abandonou Dilma, definitivamente afastada do cargo em agosto de 2016.

O impeachment de Dilma teve ainda um elemento geopolítico. Os EUA usaram todo o seu poder para manter o país como sua área de influência, pois, mesmo sabendo que o PT atendia ao capital financeiro e pagava religiosamente a dívida pública, o avanço da crise do capitalismo mundial exigia ainda mais submissão. Vale salientar que a UP, ao mesmo tempo em que estava em processo de construção, esteve nas ruas lutando e denunciando este golpe.

Da mesma maneira, resistindo à quebra da sua hegemonia em nível internacional, os EUA lançaram o Tratado Transpacífico (TPP), que tinha como objetivo enfraquecer a China. Porém, após a eleição de Trump, os EUA se retiraram do TPP e adotaram como tática acordos bilaterais. Depois, abriram uma guerra comercial direta com a China, levantando barreiras às mercadorias chinesas, o que dura até hoje.

Assim, os EUA intervieram no Brasil com o objetivo de retirar o PT do governo para garantirem no poder um aliado subserviente. Financiaram e corromperam o judiciário brasileiro, apoiaram a fabricação da “Operação Lava-Jato”, que levou Lula à cadeia e promoveu a eleição de Bolsonaro. Da mesma maneira, os EUA disputam a Venezuela, com ações de bloqueio econômico e ameaça de invasão, e a Bolívia, onde promoveram um golpe fascista. Aparentemente, existe uma disputa entre forças reformistas liberais e o neoliberalismo fascista no continente, que tem como pano de fundo as disputas entre as duas propostas para conduzir o mundo capitalista.

Também era importante para os EUA ter o Brasil, principal país da América do Sul, como sua área de influência estratégica. Tendo como objetivo central na América Latina a derrubada do Governo Maduro e não obtendo sucesso pela via “pacífica”, intensificou o bloqueio econômico e buscou envolver o Brasil e a Colômbia numa aventura imperialista contra a Venezuela. Trata-se claramente de uma estratégia neocolonialista, que visa a usar tropas de outros países, mas mantendo o objetivo de conquista e ainda lucrando com a guerra.

A China é hoje a segunda potência econômica mundial e busca acumular forças na disputa pela hegemonia no planeta, fato que leva ao acirramento de contradições interimperialistas. Antes apenas exportadora de manufaturas, a China está alcançando o mais elevado grau de tecnologia, uma enorme acumulação de capital e intensificando a fase de exportação de capitais. No momento, essa exportação ocorre por meio do financiamento de infraestrutura nos países em desenvolvimento, investimentos financeiros, compra de títulos do Tesouro estadunidense, empréstimos e investimento direto.

O processo de exportação de capitais parece ser a ponte para uma defesa militar das áreas de influência econômica. Por isso, a China tem hoje o segundo maior gasto militar do planeta e já instala bases militares internacionais, sendo que a primeira foi estabelecida na África. Na América Latina, a China tem grandes investimentos, sendo o principal parceiro comercial de diversos países, inclusive do Brasil. Por isso, investem pesadamente em grandes porta-aviões, jatos, armas nucleares, e já superam os Estados Unidos em alguns aspectos tecnológicos.

Para termos uma noção, o país asiático investiu no Brasil, do ano de 2007 a 2018, US$ 57,9 bilhões em 145 projetos voltados principalmente para o setor de geração, transmissão e distribuição de energia elétrica. Os investimentos, no último ano, foram especialmente diretos, sendo 50% realizados em empresas construídas a partir do zero. Mas 42% foram investimentos em fusões e aquisições. Segundo o embaixador da China no Brasil, Yang Wanming, a China está aumentando a abertura do setor financeiro, de serviços, da agricultura, mineração e manufatura. Estima-se que o investimento chinês no próximo ano ultrapasse os US$ 10 bilhões.

A China mantém os investimentos mesmo no Governo Bolsonaro e, embora reaja às declarações do filho dele de forma dura, o pragmatismo do capitalismo chinês projeta grandes investimentos nas áreas de a) energia, da ordem de R$ 24,7 bilhões em quatro projetos (hidroelétrica, termonuclear e transmissão); b) ferrovias, R$ 29,1 bilhões em quatro projetos (2.800 km); c) óleo e gás, R$ 117,5 bilhões em quatro projetos; d) portos, com R$ 5,9 bilhões em 16 projetos; e) aeroportos, R$ 2,1 bilhões em dois projetos.

Por outro lado, embora Trump afirme que apoia Bolsonaro e ambos troquem elogios ideológicos em público, os EUA não fazem nada do ponto de vista financeiro para apoiar o governo brasileiro. O investimento dos EUA no Brasil foi pequeno em 2019: o valor foi de US$ 2,2 bilhões, menor que o de 2017, quando o montante correspondeu a US$ 2,9 bilhões. Os compromissos firmados se restringiram a acordos antinacionais e militares, como a entrega da Base Espacial de Alcântara, no Maranhão, e um acordo que transforma o Brasil numa força auxiliar do Comando Sul dos EUA, tornando-se um aliado extrarregional da OTAN. Ou seja, um acordo militar subserviente, que coloca o Brasil como mais uma base de operação militar dos EUA na região.

Como vemos, Bolsonaro segue cegamente o imperialismo norte-americano, pois, como fascista que é, em um país de economia altamente dependente e submissa como é o Brasil, seguirá a linha fascista de Trump para apoiar-se internacionalmente no império dos EUA. Bolsonaro é um representante da grande burguesia[1] e dos militares fascistas, que se declaram abertamente submissos ao capital estadunidense, não possuindo sequer um verniz de nacionalismo.

2 – Desenvolver a consciência das massas populares, aumentar o isolamento de Bolsonaro e criar as condições para derrubar o governo

O 8 de março foi a última grande manifestação nacional antes da pandemia. Foto: A Verdade

Diante da crise do coronavírus e da projeção de uma crise econômica mais profunda nos próximos meses, setores da própria burguesia (como evidenciou editorial recente do Financial Times) falam que os governos devem ajudar a economia promovendo investimentos e renda para os mais pobres, ou seja, praticar uma política antiliberal para ajudar a cobrir os prejuízos da própria burguesia. Bolsonaro, no entanto, insiste em manter o arrocho salarial, cortar salário dos servidores e seguir a retirada de direitos a ferro e fogo. Assim, quer ser mais realista que o rei e promover a política neoliberal dos banqueiros e do capital financeiro estadunidense a todo custo.

Por tudo que fez desde o início do governo, como retirada de direitos dos trabalhadores, congelamento dos salários, desemprego e venda do patrimônio público, Bolsonaro tem um enorme desgaste, que tende a crescer com o aprofundamento da crise do coronavírus e a demissão de Luiz Henrique Mandetta do Ministério da Saúde. As mortes que se multiplicam evidenciam que a retirada dos recursos públicos da saúde foi um crime de lesa-humanidade. Também a insistência de Bolsonaro contra o isolamento social e de que a Covid-19 é apenas um “resfriadinho” trarão consequências desastrosas para a população. Hoje já temos quase 70% da população contra esse governo.

Porém, não vivemos em uma democracia popular, em que a maioria do povo é que decide. Vivemos debaixo de um governo de fascistas que tem como principais ministros generais da ativa e da reserva. Também é um governo que representa os interesses da grande burguesia, que é uma ínfima minoria da sociedade e, por isso, teme o movimento operário e popular e tende ao fascismo, principalmente em momentos de crise.

Portanto, não devemos subestimar a possibilidade de o atual governo, sob o pretexto de o país viver uma calamidade pública, promover um golpe e decretar um estado de sítio. Para isso, os fascistas não precisam de apoio da maioria da população, basta contar com apoio das Forças Armadas e de uma parcela reduzida da população disposta a ir às ruas nos seus luxuosos carros. Lembremos ainda que o governo dos EUA, aliado de Bolsonaro, pratica uma política fascista que impulsiona correntes desta natureza na Europa e na América Latina.

Em almoço realizado na sede da FIESP, no último dia 03 de fevereiro, para os 250 maiores industriais de São Paulo, com a presença de Bolsonaro, o presidente da entidade, Paulo Skaf, afirmou que “O Brasil não está dando certo. O Brasil já deu certo”, declarando, assim, o apoio da grande burguesia ao fascista. Este apoio é firmado especialmente na política de Paulo Guedes, que promoveu a reforma trabalhista, a reforma da Previdência e dá continuidade, em meio à crise do coronavírus, a propostas como a Carteira de Trabalho Verde e Amarela e a retirada de direitos dos servidores públicos. Assim, o apoio ao fascista está condicionado à agenda de retirada de direitos que assegure a maior extração de mais-valia dos trabalhadores.

O fascista também tem o apoio da Confederação Nacional da Agricultura e Pecuária (CNA), representada por João Martins, que também é parte da minoria dos exploradores e representa a grande burguesia agrária. Em setembro de 2019, momento em que Bolsonaro fez um ridículo discurso na ONU exaltando a ditadura militar de 1964, Martins afirmou que Bolsonaro o representou, fazendo excelente discurso: “Defendeu a soberania nacional, esclareceu equívocos sobre a Amazônia e ressaltou o importante papel do Brasil na produção mundial de alimentos e na preservação do meio ambiente. Também afastou a tese de que o governo está colocando o mundo contra o agro brasileiro, defendendo não apenas o setor, mas toda a nação”.

Vale lembrar que esse foi o momento em que a Amazônia estava em chamas e que o agronegócio foi um dos principais responsáveis por este crime contra a natureza. Mas vejamos que, apesar da reafirmação do apoio da grande burguesia, os meses vão se passando e fica evidente a cada dia que o governo Bolsonaro vem se enfraquecendo e perdendo apoio popular. Porém, será defendido para que fique no poder por essa minoria enquanto for útil para a grande burguesia.

Nesse momento, apresentam-se algumas propostas políticas para retirada de Bolsonaro da presidência. O impeachment é uma delas. No entanto, com um Congresso Nacional altamente reacionário e antipopular como o atual, a única forma de forçar o impeachment seria a realização de grandes manifestações nas ruas. Mas, no momento, devido ao crescimento do número de mortes pela Covid-19, esta possibilidade não é viável. Desse modo, apostar que um Congresso Nacional que aprova leis contra os trabalhadores vai aprovar o impeachment sem o povo nas ruas é ignorar o papel das massas na luta política e propagar ilusões parlamentaristas.

Outra proposta apresentada é apelar para que Bolsonaro, que faz planos para governar 20 anos, renuncie. É como pedir para o diabo virar anjo. Alguns desses setores chegam até mesmo a afirmar que o general Mourão seria um “mal menor”. Esse é o caso do governador do Maranhão, Flávio Dino, do PCdoB: “Claro que Mourão não é do meu campo ideológico. Mas, se Bolsonaro entregar o governo para ele, o Brasil chegará em 2022 em melhores condições”.

Trata-se de um ledo engano e demonstra uma gigantesca ilusão de classes, uma total traição ao povo e sua história. Mourão é um general, representante ainda mais direto dos interesses do setor ultraconservador e fascista das Forças Armadas. Como Bolsonaro, Mourão defende a tortura, tenta falsificar a história escondendo os crimes cometidos pelas Forças Armadas e pela grande burguesia durante a Ditadura Militar, sendo, portanto, um defensor do aumento da repressão contra o povo e a classe trabalhadora.

Dessa maneira, nossa tática de aprofundar o desgaste deste governo, manter e impulsionar a palavra de ordem “FORA BOLSONARO! POR UM GOVERNO POPULAR!” é, sem dúvida, a mais correta. Primeiro, porque é a palavra de ordem que está na boca do povo. Foi gritada por milhares de mulheres de todas as correntes políticas no 8 de março, sendo esta a última manifestação nacional contra o fascismo. Segundo, taticamente, no momento de avanço da pandemia do coronavírus em que nos encontramos, devemos ter como principal atuação a solidariedade aos trabalhadores e trabalhadoras para enfrentar essa barbárie nas periferias e denunciar o caráter antidemocrático e antipopular do governo. Terceiro, devemos ampliar os panelaços nas periferias, sendo esta uma forma de protesto importante, criada no fogo da batalha e capaz de desgastar o governo, dialogando com a consciência da classe trabalhadora, dizendo que o governo com sua política aumenta a fome e a miséria e só governa em prol da classe rica e dos EUA.

Assim, prepararemos o terreno para derrubar o Governo Bolsonaro pelas mãos do povo e fortaleceremos uma alternativa popular para o desfecho dessa crise, qual seja, a construção de um poder popular e do socialismo, única saída verdadeira para termos um país livre e independente. Da mesma forma, romperemos com as ilusões do reformismo e da pequena burguesia de que derrotarão o fascismo no âmbito institucional promovendo um impeachment ou mesmo pedindo, por favor, para que Bolsonaro renuncie.

3 – Derrotar o imperialismo capitalista é uma tarefa fundamental

Solidariedade internacionalista a Cuba e à Venezuela. Foto: G1

Precisamos ter a consciência de que enfrentamos o fascismo internacionalmente. Por isso, a classe trabalhadora, em nível mundial, é nossa principal aliada na luta contra os imperialismos e pelo socialismo. Não basta levantar a bandeira contra a política neoliberal e passar a defender o neodesenvolvimentismo, pois o capitalismo é brutal em todas suas formas e tem como único objetivo despejar a crise nas costas da classe trabalhadora.

O capitalismo desenvolvimentista não é alternativa ao neoliberalismo, pois ambos são exploradores da mais-valia dos trabalhadores. Nosso objetivo deve ser destruir o capitalismo, e não apenas a política neoliberal dos EUA. Os neodesenvolvimentistas cumprem o papel de abrir caminho ao fascismo e são a outra face da moeda do capitalismo.

Prova disso foi o que ocorreu na Segunda Guerra Mundial, quando os EUA e a Inglaterra, tidos como democratas naquele período, deixaram a chama nazifascista bater-se contra a pátria socialista, só dando apoio na Frente Oriental depois de perceberem que a URSS sairia vitoriosa, e com grande chance de que seriam também vítimas do nazismo.

Quem é socialista e comunista tem como principal obrigação defender a classe trabalhadora e defender seus interesses presentes e futuros. Portanto, devemos trabalhar em nível internacional para que a classe trabalhadora não seja levada a uma luta interimperialista, mas que lute por sua libertação, pois, como internacionalistas que somos, fazemos parte do mesmo exército do mundial do proletariado.

Os trabalhadores e o povo da Venezuela estão na linha de tiro do imperialismo estadunidense, portanto, nossa solidariedade aos venezuelanos e nossas ações principais devem ser no sentido de derrotar esse imperialismo fascista e expulsá-lo da América Latina. Apoiamos, como internacionalistas, a classe trabalhadora que luta contra o imperialismo, mas que também luta pelo socialismo. Defendemos que esta classe possa, no processo revolucionário em curso, tomar consciência e declarar o caráter socialista da revolução. Não podemos aceitar sermos instrumento nem do imperialismo dos EUA, nem do imperialismo chinês e russo, uma vez que estes investem financeiramente na Venezuela, visando a mantê-la como área de influência econômica e geopolítica, gerando, de fato, igual dependência e exploração para os trabalhadores.

A revolução socialista é a única forma de derrotar definitivamente o imperialismo e a exploração dos trabalhadores. Essa luta é a luta do presente, atual e estratégica para a classe trabalhadora. Quem pensa o contrário, não faz mais que defender a manutenção da exploração do homem ou considerar este objetivo algo utópico. Para que os trabalhadores possam decidir seu destino e sua autodeterminação é fundamental fazer uma revolução proletária.

Trabalhadores e trabalhadoras de todo o mundo, uni-vos!

Wanderson Pinheiro e Leonardo Péricles,
membros do Diretório Nacional da Unidade Popular (UP)


[1] Apesar das visíveis disputas políticas de Bolsonaro com outros representantes da grande burguesia, como Dória e a Globo, no fundamental, não divergem quando se trata de aumentar a exploração sobre a classe trabalhadora e a retirada de direitos – como vimos no caso da Reforma da Previdência, da PEC dos Gastos e no Pagamento da Dívida Pública, dentre outras medidas antipopulares.

AGITAÇÃO E LUTA NO NOVEMBRO NEGRO REVOLUCIONÁRIO

São Mateus tem colagem lembrando nomes e referências na luta do Povo Negro no Brasil e no Mundo

Foi realizado no bairro do Vila Flávia, São Mateus, Zona Leste de São Paulo, na semana do 20 de Novembro uma ação de colagem de nomes e referências negras na história da luta do povo negro e referências da periferia. Jovens do bairro espalharam nomes de homens e mulheres da luta antiracista como Luis Gama, Marielle Franco, Luisa Mahin, da luta anticapitalista como Angela Davis, Carlos Marighella, além de muitas referências como Emicida, Negotinho, Mano Brown, Mestre Moa, e homenagem a crianças mortas pelo Estado como a menina Ágatha Félix, de 8 anos, morta pela PM do RJ, e do menino Lucas Eduardo, de 14 anos, morto em Santo André pela PM de SP.


O mês de Novembro é um mês de agitação e propaganda sobre a luta do povo negro mas também de reforçar a importância da organização para enfrentar um sistema e um governo que tem aprovado medidas para aumentar o genocídio diretamente, autorizando ainda mais a impunidade da PM, ou indiretamente, privatizando o SUS, que atende em maior parte a população negra, precarizando o trabalho, feito em maior parte pela população negra. Esses e outros fatores que fortalecem ainda mais o racismo estrutural, ferramenta de submissão econômica e cultural do sistema capitalista. Para fazer frente de forma efetiva a quem nos mata e proteger nossa população e juventude negra de forma efetiva, precisamos lembrar nesse mês de Novembro de nos organizar em um movimento popular de porte nacional, mantida pelas forças e recursos do povo e movido pelos interesses da luta da classe trabalhadora no Brasil.

Lucas Nascimento Coordenador Nacional do Movimento de Luta nos Bairros, Vilas e Favelas / MLB SP

Trabalhadores do setor de transporte declaram greve na cidade de Mauá

Foto: Bastidor Político

Durante a manhã dessa sexta-feira (22), Mauá, município do ABC paulista, amanheceu com os ônibus na garagem, e manifestações no terminal central: trabalhadores da Suzantur, transportadora turística privada responsável pelas linhas de ônibus da cidade, declararam greve contra a revogação contínua de direitos.

P. O.*, trabalhador da Suzantur e integrante do turno da tarde, alegou que a mobilização entre os trabalhadores começou quando um motorista não recebeu o depósito do vale salarial, benefício garantido pelo contrato. Contudo, esse fato foi apenas o estopim: os motoristas da Suzantur sofrem com a falta de pagamento dos salários, assédio moral, horas extras compulsórias e expedientes sem pausa para o banheiro no cumprimento das dezenas linhas que a cidade de Mauá possui.

Além da falta de pagamento de salários, recusa do depósito de benefícios, M. Q.*, trabalhador do turno da manhã, declarou ao Jornal A Verdade que as condições de trabalho pioram diante das jornadas extensas. “Cheguei a trabalhar durante vinte dias seguidos. Aqui não tem respeito”.

Apesar do posicionamento da empresa, que caracterizou a paralisação como “indevida”, a greve foi vitoriosa, e garantiu que o depósito do vale salarial ocorresse. Os ônibus voltaram a circular a partir das 14h.

*Os nomes dos trabalhadores que concederam depoimentos ao Jornal A Verdade foram alterados.

Gabriela Torres – Movimento de Mulheres Olga Benário

Bolivianos residentes no Brasil rechaçam golpe de Estado

SÃO PAULO – Neste domingo, 17, milhares de pessoas foram à avenida Paulista, no centro de São Paulo, em solidariedade ao povo boliviano e contra o golpe de Estado sofrido por Evo Morales. O ato foi chamado pelo Comitê Brasileiro de Solidariedade ao Povo Boliviano Contra o Golpe, e contou com a presença de crianças, estudantes e trabalhadores da comunidade boliviana residente, além do apoio de muitos brasileiros.

As bandeiras boliviana e Whipala, símbolo da plurinacionalidade do país e da cidadania dos povos originários, foram firmemente tremuladas por todo o ato. Palavras de ordem também marcaram a manifestação, destacando o repúdio ao golpe de Estado, a resistência popular pela democracia, e denunciando o fascismo promovido por figuras da extrema direita do país, como a senadora (autoproclamada presidente) Jeanine Áñez e o empresário multimilionário Luis Fernando Camacho.

Através de um manifesto, distribuído no ato, o Comitê Brasileiro de Solidariedade ao Povo Boliviano Contra o Golpe afirma: “A luta do povo boliviano contra o golpe, contra Camacho, contra o fascismo, contra o racismo e a extrema direita, é uma luta que deve receber a solidariedade de todas as pessoas e da classe trabalhadora de todo o mundo que defendem as liberdades democráticas.” O manifesto também pontua: “Não reconhecemos como presidente da Bolívia a autoproclamada Jeanine Áñez, uma fraude, assim como Juan Guaidó, o autoproclamado presidente da Venezuela.”

O golpe na Bolívia representa uma ofensiva de setores extrema direita, aliada do imperialismo dos EUA e de grandes grupos empresariais e especuladores do mercado financeiro. Os diversos povos bolivianos que se erguem em defesa da democracia resistem ao golpe há semanas, como os lutadores do Chile, Equador e Haiti, que rechaçam ataques das elites do poder econômico. Com os últimos acontecimentos, desmancham-se as ilusões com o imperialismo, com a conciliação com grandes ricos e exploradores da classe trabalhadora. A real saída para a América Latina, cada vez mais, aponta para o poder popular.

Carol Matos – Movimento Luta de Classes

Grito dos Excluídos leva centenas de pessoas às ruas do ABC paulista

Foto Reinilson Câmara

Na manhã desse sábado, 14, centenas de pessoas tomaram o centro de Santo André para conclamar o Grito dos Excluídos e Excluídas do ABCDMR. O ato começou com um café da manhã coletivo, uma caminhada pela rua principal da cidade terminando com uma homenagem a brasileiros que deram a vida por uma nação mais justa e igualitária. O ato contou com adesão e organização de diversos movimentos sociais, ambientalistas, partidos de esquerda, movimentos populares do campo e da cidade, movimento estudantil, de mulheres, pastorais sociais e religiosas de diferentes matrizes e entidades sindicais.

O Grito dos Excluídos e Excluídas acontece há 25 anos e esse ano ecoou em mais de 200 cidades e em todas as capitais do Brasil. Esse movimento nasceu da necessidade de dar voz ao povo, às minorias e à população historicamente excluída pelo Estado burguês, que segue interesses de banqueiros lucrando com a miséria do nosso povo, deixando em segundo plano direitos básicos como:  saúde, moradia, transporte, trabalho, informação e vida digna.  

Foto Reinilson Câmara

“A vida em primeiro lugar! Este sistema não vale: LUTAMOS POR JUSTIÇA, DIREITOS E LIBERDADE” foi o lema do 25º grito dos excluídos. A marcha em defesa de direitos sociais e da luta contra o desemprego, levantou vários problemas estruturais como encarceramento em massa, genocidio da população negra, feminicídio, transfobia,  lgbtfobia, cortes na educação e a “reforma” da Previdência, promovido pelo governo fascista de Jair Bolsonaro.

Também foi pauta do ato a questão do meio ambiente, por conta do aumento das queimadas, do avanço do desmatamento na Amazônia, dos crimes da Vale em Brumadinho e Mariana, em Minas Gerais. Além disso, foi erguido a bandeira contra o projeto do centro logístico de Paranapiacaba, proposto pelo prefeito de Santo André, Paulo Serra (PSBD), que ameaça uma área de proteção ambiental com importantíssimo valor histórico nacional, turístico, paisagístico e de serviços ambientais como provisão de águas para a Represa Billings.

Por fim, o ato do ABCDMR terminou com homenagens aos verdadeiros heróis da pátria, que lutaram por um país mais justo e igual, por meio de uma intervensão cultural com fotos e palavras de ordem. Nomes como Marielle Franco, índio Galdino , Zumbi dos Palmares, Dandara dos Santos, Milton Santos, Elenira Resende, Carlos Mariguella, Chico Mendes, Carolina Maria de Jesus e Manoel Aleixo foram lembrados e homenageados.

Foto Cadu Machado
Foto Reinilson Câmara

Reinilson Câmara Filho – Unidade Popular pelo Socialismo

147 famílias são despejadas com truculência em Arraial do Cabo – RJ

Foto: Marcela Couri

Na última quinta-feira (15) cerca de 147 famílias foram despejadas numa ação truculenta e violenta promovida pela Polícia Militar do estado do Rio de Janeiro com ordens do governo estadual em Monte Alto, bairro do segundo distrito de Arraial do Cabo na Região dos Lagos. O Movimento de Luta nos Bairros, Vilas e Favelas – MLB esteve presente no local no dia seguinte junto ao Jornal A Verdade para acompanhar a situação das famílias e prestar solidariedade e apoio.
“Foram momentos de terror, eram mais de 40 viaturas, trator, helicóptero, drone, canhão de água, centenas de policiais encapuzados e armados até os dentes. Parecia que estávamos em guerra.” contou uma moradora. Outro morador continuou: “quando os policiais chegaram por volta das 5 horas da manhã, dissemos que tínhamos uma liminar da justiça garantindo que poderíamos ficar ali até que a prefeitura apresentasse uma outra solução de um local decente para essas famílias morarem. O comandante da operação se recusou a ver o nosso documento e tampouco nos deixou ver o documento que ordenava a realização daquela operação. Dali em diante começou o terror, jogaram bomba de gás lacrimogêneo, spray de pimenta, bala de borracha em todos, acertando inclusive grávidas, crianças e idosos sem a menor capacidade de resistência dos moradores. Daí em diante, destruíram nosso sonho. Passaram o trator por cima das 147 casas construídas com muito esforço coletivo por todos nós”.

Foto: Marcela Couri

A justificativa do governo para promover tal barbaridade, é de que aquela área pertence ao Parque Estadual da Costa do Sol e seria área de preservação ambiental. “Aqui só tem trabalhador, não tem bandido não. A gente não invadiu a terra não porque queremos destruir o meio ambiente. Só estamos aqui porque não temos outra opção.” disse uma moradora. Em áreas ao redor do “projeto” (como foi apelidado o local pelas famílias) existe um condomínio enorme, garagem náutica e um outro terreno de milhares de metros quadrados que pertencem à construtora Volendam, que tem carta branca para fazer o que quiser, sem se preocupar com as questões ambientais. “É necessário compatibilizar a preservação ambiental com o direito social do uso da terra. A dignidade da vida humana está prevista na legislação ambiental, e o direito à moradia digna foi reconhecido e implantado como pressuposto para a dignidade da pessoa humana, desde 1948, com a Declaração Universal dos Direitos Humanos e consta na Constituição Federal de 1988”, disse Ana Paula, conselheira do parque e militante da Unidade Popular pelo Socialismo.
Essa é a realidade de cerca de 7,7 milhões de famílias em todo o Brasil, que compõe déficit habitacional em nosso país. São milhões de pessoas que moram em situações precárias, de favor, não tem mais condições de pagar aluguel e se encontram em situação desesperadora. Por outro lado, vemos milhões de imóveis e terrenos que não cumprem nenhuma função social, servindo apenas à especulação para gerar lucro para os ricos donos das grandes construtoras. O grande questionamento que ficamos nesse caso é: por que a Volendam pode explorar e degradar o meio ambiente em grandes proporções no terreno ao lado para obter fabulosos lucros, mas quando as famílias buscam um local pra morar são tratadas com violência pelo estado?

Foto: Marcela Couri

O estado do Rio de Janeiro tem a polícia que mais mata e que mais morre, é onde 5 jovens negros e pobres foram assassinados na última semana sem enquanto iam para a escola, para o trabalho ou apenas se divertir com os amigos. Enquanto nosso sangue escorre pelo chão da favela, o governador anda de helicóptero mirando sua arma na gente. Esse caso é reflexo da política genocida promovida pelo Estado Capitalista, de guerra aos pobres, guerra aos negros e negras.
No “projeto restinga” os moradores respiram resistência, luta e esperança. Muitos dos que não tem pra onde ir, seguem tentando reerguer as construções e sobrevivendo através da solidariedade dos moradores da região que fornecem abrigo em suas próprias casas, doam roupas, alimentos e ajuda. A decisão dos moradores do projeto é de que só vão sair de lá se a prefeitura apresentar uma alternativa digna, “todos aqui tínhamos a nossa casinha, humilde, mas conquistada com muito suor e luta! Não vamos aceitar menos do que isso!” disse um morador durante assembléia realizada.

Foto: Marcela Couri

O Movimento de Luta nos Bairros, Vilas e Favelas – MLB segue acompanhando e prestando apoio a essas famílias. Acreditamos que morar dignamente é um direito humano e que se o Estado Capitalista prioriza os lucros acima da vida, queremos destruir esse Estado e construir no seu lugar um Estado dos trabalhadores, onde prioridade seja a vida digna, com emprego, moradia, educação, saúde, etc. Enquanto morar for um privilégio, seguiremos lutando pela reforma urbana e o socialismo!

Fotos: Marcela Couri

Galeria: combatividade e unidade da oposição marcam Conune 2019

Foto: João Marcio Dias
Foto Jorge Ferreira
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Foto Jorge Ferreira
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João Marcio Dias

Trabalhadores da Educação aprovam Greve Nacional

Foto: Jorge Ferreira/Jornal A Verdade


A Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação (CNTE) realizou a 9º Conferência Nacional de Educação Paulo Freire com o tema “Educação Libertária e Democrática: construindo o movimento pedagógico Latino-Americano” entre os dias 26 a 28 de junho em Curitiba. O objetivo do encontro foi debater os desafios e rumos da educação brasileira, sendo estabelecida greve nacional no dia 13 de agosto contra os retrocessos do governo atual.

Dentre as pautas discutidas, os educadores se debruçaram sobre o Plano Nacional da Educação (PNE), sancionado em 2014 e com validade de 10 anos, com o propósito de direcionar esforços e investimentos para a melhoria do quadro educacional brasileiro. O Plano é composto por 20 metas contemplando todos os níveis educacionais que, apesar de muito promissoras, apenas uma foi cumprida de acordo com o Inep.

Destaca-se a meta 1, que diz respeito a universalização e democratização do ensino básico tendo como finalidade atender 100% das crianças de 4 a 5 anos matriculadas na pré-escola até 2016, além de garantir 50% das crianças de 0 a 3 anos em creche até 2024. Segundo dados do Pnad, apenas 90% das crianças de 4 a 5 anos foram atendidas e somente 1/3 estão em situação de creche. Essa defasagem é vivenciada principalmente nas periferias, onde as filas de espera por vaga nas creches podem levar anos colaborando com a desigualdade enfrentada pelas mulheres na participação no mercado de trabalho.

A estagnação e não cumprimento das metas são resultados dos ataques que o sistema educacional brasileiro sofre constantemente. Prova disso é a emenda constitucional nº 95 implementada pelo governo Temer que congela, durante 20 anos, investimentos públicos direcionados a saúde e educação. Além do corte de 30% das verbas destinadas às universidades e institutos federais, anunciado recentemente pelo ministro da educação. As duas ações fazem parte de um projeto que confronta diretamente as diretrizes do PNE, uma vez que a falta de recurso penaliza o avanço das melhorias no ensino público.

Além disso, a militarização das escolas incentivada por Jair Bolsonaro, visa instituir um sistema onde a censura é peça chave, ferindo a efetivação da gestão democrática de educação proposta pela meta 19 do Plano.  Na mesma linha, o descumprimento se fez presente quando aprovadas as mudanças no “Novo Ensino Médio” pelo Conselho Nacional de Educação, órgão vinculado ao MEC, que libera o ensino a distância totalizando 20 e 30% de carga horária, respectivamente no período diurno e noturno, acentuando ainda mais a defasagem no ensino público.

Essas ações com embasamentos apenas voltados aos interesses capitalistas, sem considerar a realidade do povo brasileiro, são responsáveis por colocar a situação educacional do país em risco. O desleixo com que se é tratado o ensino público foi demonstrado nos últimos dados coletados pelo IBGE, provando que a educação ainda não é para todos. Cerca de 40% da população com mais de 25 anos não chegaram a concluir o ensino básico, e daqueles que concluíram, o maior percentual está entre os brancos (55,5%) ao passo que entre os negros, o número cai substancialmente (40,4%). Considerando que a maior parte da população brasileira é negra, o acesso a educação no Brasil ainda é limitado e desigual pela negligência do governo em promover políticas públicas que incentivem o acesso à todos.

Analisando todo este quadro, os educadores presentes da 9ª Conferência apresentaram um manifesto repudiando as sucessivas contra-reformas liberais no setor educacional e o desmonte das políticas educacionais e sociais que atacam os direitos da população, especialmente da população mais marginalizada (mulheres, negros, índios e LGBTs). Além disso, também criticaram a proposta da Reforma da Previdência e as conseqüências que irá trazer principalmente para as professoras de rede pública, aumentando 10 anos a idade mínima para aposentadoria. Ao final do manifesto, os profissionais conclamam a luta incessante e o compromisso para com a educação, convocando todas as instituições de ensino para uma grande greve geral no dia 13 de agosto.

Diante dessa conjuntura, se fazem necessárias as críticas, a mobilização e organização dos estudantes, trabalhadores e servidores públicos em defesa do ensino de qualidade no país e contra a destruição da aposentadoria, como foram feito nos dias 15 e 30 de maio pela educação, e no dia 14 de junho na Greve Geral que mobilizou categorias ao redor do país e que foram responsáveis pelo fechamento de diversos pontos estratégicos das cidades.

Thais Gasparini
Unidade Popular pelo Socialismo


Seis ex-ministros assinam carta em defesa da Educação: “no atual governo, ela é apresentada como ameaça”

Foto: Jorge Ferreira/Jornal A Verdade

Numa palavra, a educação se tornou a grande esperança, a grande promessa da nacionalidade e da democracia. Com espanto, porém, vemos que, no atual governo, ela é apresentada como ameaça.” – afirmam ex-ministros em carta contra as políticas educacionais do governo Bolsonaro.


Inimigo da Educação, o governo Bolsonaro vem promovendo um verdadeiro sucateamento do ensino público no país. Em abril, através de sua conta no twitter o atual presidente fascista insinuou que os cursos de ciências humanas não mereciam investimentos, adiantando a pretensão de seu governo de cortar verbas do ensino superior. Mesmo com a revolta da população diante de tais alegações, pouco tempo depois, o governo através de seu Ministro da Educação, Abraham Weintraub, anunciou o corte de 30% nas verbas das universidades sem diálogo prévio com a comunidade acadêmica, impactando diretamente o funcionamento dos institutos federais. Na ocasião, o governo alegou que os cortes no ensino superior eram necessários para garantir o investimento na educação básica. Contudo, isso se mostrou como mais uma de suas mentiras contra a população mais pobre, ao estender o corte orçamentário para toda a pasta de educação, incluindo os programas de ensino infantil ao médio.

Frente a essa situação de completo desmonte das políticas educacionais do país, seis ex-ministros de governos anteriores se reuniram em um evento promovido pela Universidade Estadual de São Paulo (USP) e redigiram uma carta aberta em oposição às medidas do governo Bolsonaro. Na carta, José Goldemberg (1991-1992), Murílio Hingel (1992-1995), Cristovam Buarque (2003-2004), Fernando Haddad (2005-2012), Aloizio Mercadante (2012-2014) e Renato Janine Ribeiro (2015), expressaram sua preocupação com “as políticas para a educação adotadas na atual administração”, enfatizando que a magnitude dos cortes promovidos no último período “podem ter efeitos irreversíveis e até fatais”.

De acordo com eles, nessa gestão, a educação deixou de ser vista como prioridade nacional e passou a ser tida como uma ameaça, enfatizando a postura do governo em ignorar especialistas da área atuando de “forma sectária, sem se preocupar com a melhoria da qualidade e da equidade do sistema, para assegurar a igualdade de oportunidade”. Em outras palavras, a carta converge com as denúncias realizadas pelos movimentos sociais e estudantis frente aos ataques de Bolsonaro. Para Beatriz Baria, militante do Movimento Correnteza de São Paulo: “cortar investimentos dos institutos federais e da educação básica, determinar o fim das bolsas para pesquisadores, é mais uma forma desse desgoverno vergonhoso de atacar nosso povo. Somos nós, a juventude pobre, que vai ser impedida de ter uma educação de qualidade, pra encher os bolsos dos grandes grupos privados, que fazem da educação mercadoria, como a Kroton Educacional”.

A carta denuncia ainda a perseguição e a censura impostas pelos governos aos docentes, ressaltando a importância do “respeito à profissão docente, que não pode ser submetida a nenhuma perseguição ideológica […] Convidar os alunos a filmarem os professores, para puni-los, é uma medida que apenas piora a educação, submetendo-a a uma censura inaceitável”. Em outro trecho, reforçam: “a autonomia universitária é uma conquista que deve ser mantida para garantir a liberdade e qualidade na pesquisa, formação e extensão”. 

Ao fim do texto, os ex-ministros propõem a “formação de uma ampla frente em defesa da educação” e anunciam a criação de um “Observatório da Educação Brasileira dos ex-ministros da Educação, que se coloca à disposição para dialogar com a comunidade acadêmica e científica, sociedade e entidades representativas da educação, com parlamentares e gestores, sempre na perspectiva de aprimorar a qualidade da política educacional”.

Jady Oliveira
União da Juventude Rebelião


[1] Kroton Educacional: a maior empresa privada do mundo no ramo da educação, um conglomerado que monopoliza e atua em função da privatização do ensino privado, em detrimento da educação pública, gratuita e acessível.

Deputada Talíria Petrone é ameaçada de morte e tem a proteção negada pelo governador do Rio

Foto: Ricardo Albertini


RIO DE JANEIRO Um ano após a execução da Vereadora Marielle Franco pela milícia, a deputada federal Talíria Petrone (PSOL-RJ) – assim como Marielle uma política negra, de periferia e LGBT – teve a solicitação de escolta negligenciada pela omissão do Governador Wilson Witzel, do Partido Social Cristão, ao negar o pedido de proteção à vida da deputada que foi realizados após receber ameaças de morte.

Talíria recebe ameaças de morte desde 2016 quando foi eleita vereadora em Niterói/RJ. As ameaças vêm pelas redes sociais ou até por telefonemas feitos à deputada ou a sede de seu partido. A pouco mais de dois meses a polícia federal alertou ter encontrado na dark web informações sobre o planejamento de um atentado à vida da deputada.

Graças à investigação da PF, Talíria está sendo escoltada em Brasília, mas nas vezes em que retorna a Niterói, cidade na qual foi eleita e também onde recebeu as ameaças, anda desprotegida pois a solicitação enviada pelo presidente da Câmara dos deputados, Rodrigo Maia (DEM), foi negada pelo Governador Witzel, que nem sequer enviou uma resposta a Câmara.

Em abril deste ano a deputada foi chamada de “verme” pelo líder da bancada ruralista, Alceu Moreira (MDB-RS), durante uma audiência pública após reações da parlamentar às declarações do também deputado. Recentemente, após as denúncias de ameaças de morte, o filho do presidente, o deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), debochou em seu twitter dizendo que Talíria era hipócrita por se declarar desarmamentista e pedir escolta, alegando que a deputada deveria pedir “iluminação”.

A história da Professora Talíria em muito se confunde com a história de Marielle Franco. Ambas ameaçadas de morte e odiadas pelos conservadores, falsos moralistas e pelos milicianos. O que acontece é que em um país que possui cotas para que as mulheres enfim consigam ocupar o espaço político que é ocupado majoritariamente por homens brancos, héteros e ricos, existir duas mulheres negras, periféricas e LGBTs, que foram eleitas como as vereadoras mais votadas em suas respectivas cidades na primeira eleição que concorreram, é inaceitável.

É um atentado à democracia o estado do RJ não exercer seu papel e zelar pela vida de uma deputada que é ameaçada apenas por lutar pelos direitos das mulheres, dos negros, dos pobres e dos LGBTs. Sabemos as causas da omissão do governador reacionário Wilson Witzel, também sabemos de qual lado está o filho do presidente e amigo da milícia, Eduardo Bolsonaro, que ironiza as ameaças contra Taliria assim como ironizava as denúncias feitas por Marielle.

Mas não podemos esperar a morte de ninguém mais, muito menos de alguém que luta para defender o direito à vida de milhões de pessoas abandonadas pelo estado e massacradas pelo sistema capitalista.


Michel Castro
União da Juventude Rebelião

Projeto Anticrime de Moro é um tribunal de rua do fascismo

Entre as principais mudanças apresentadas pelo governo Jair Bolsonaro para a segurança publica do país, está o projeto de Lei Anticrime divulgado pelo Ministro de Justiça e Segurança Publica Sérgio Moro.

Exército brasileiro assassina jovens negros inocentes na intervenção do RJ

O projeto que prevê alterações de 14 artigos do Código Penal e do Código Eleitoral não demonstra nenhuma novidade sobre as causas dos crimes, muito pelo contrário, coloca no centro da política de segurança pública o método da punição, única e exclusivamente como forma de redução da criminalidade.

Hoje já existe uma diferenciação dos procedimentos de casos de homicídios envolvendo policiais em serviço. Por exemplo: quando um policial comete um homicídio e alega legitima defesa, o crime é juridicamente justificado como “morte por intervenção de agente de Estado”. Esse procedimento hoje é conhecido como “Autos de Resistência”, e é responsável por ser o principal argumento legal para justificar os assassinatos produzidos pela policia, quase sempre sendo o processo arquivado. Porém, caso uma pessoa comum mate e alegue legítima defesa, haverá um inquérito policial para apuração do homicídio, que na maior parte dos casos termina em reclusão, ou seja, pena de seis a vinte anos de prisão.

Nesse sentido, um dos principais eixos do pacote apresentado está a excludente de ilicitude, nesse caso, mesmo que o agente policial tenha praticado um homicídio, ele não será considerado um criminoso, excluindo o ato ilícito. O Código Penal prevê três situações em que se aplica a excludente de ilicitude: estado de necessidade, legitima defesa e o estrito cumprimento do dever legal. Uma das propostas que está no pacote de Sergio Moro é de flexibilização e ampliação da excludente de ilicitude em favor de policiais.

Em situações em que a polícia precisa executar uma prisão em flagrante, o ordenamento jurídico brasileiro autoriza o policial em ação á exercer o estrito cumprimento do dever legal que é prender. Atualmente no Brasil, não existe o dever legal de matar. Não se justifica seguir atirando até causar a morte. Com a mudança proposta pelo pacote, o texto de lei deixa claro: caso os policiais durante o trabalho estiverem em situações de medo, surpresa ou violenta emoção, e vierem a matar ou ferir alguém não poderão serem punidos. Utilizando do pretexto da legitima defesa, o projeto formaliza e amplia a violência e  os assassinatos praticados pela policia.

Um levantamento feito pelo Núcleo de Estudos da Violência da USP e o Fórum Brasileiro de Segurança Pública, mostrou que houve um aumento de 18% de pessoas mortas por policiais de 2017 para 2018 (5.225 para 6.160 mortes ao ano), ressaltando que essas mortes são as que estão registradas no balanço anual. O ultimo relatório produzido pela Anistia Internacional demonstrou que as forças policiais brasileiras são as que mais matam no mundo.

A redução da violência urbana foi destaque nas eleições de 2018, demonstrando uma enorme preocupação da população com a segurança publica. Lembrando que essa era uma das principais promessas e bandeiras das campanhas de candidatos, como Bolsonaro, João Dória, Wilson Witzel. E com razão o povo, principalmente mais pobre tem clamado por justiça e segurança. Os princípios constitucionais, em especial a dignidade humana, têm sido violados e o brasileiro sofre no seu cotidiano.

Herança da ditadura

“Força auxiliar e reserva do Exército” a Polícia Militar foi criada em 1969 sob decreto-lei em pleno período de ditadura. Desde então e mesmo após a democratização do Brasil em 1988, esse braço violento do Estado continua atuando como há mais de 50 anos. Mesmo sendo hoje uma força à disposição do Estado, a submissão é ao Exército autoritário brasileiro. Surge uma antinomia, pois ao mesmo tempo em que polícia vem de polis, do grego, cidadão, cidadania,militar vem do latim miles, milícia. Entende-se inclusive porque a militarização vê no indivíduo civil um inimigo. O modo operante despreparado da polícia dá-se através do excesso de violência, truculência e arbitrariedades. A tortura, por exemplo, é uma prática cotidiana, comum e normal nas ações policiais na periferia adentro.

Com o projeto de lei de Moro haverá um aumento de forças paramilitares. Esse cenário aprofunda a impunidade policial e é a semente para o nascimento de milícias, que no atualmente é o grupo que mais oferece risco a segurança e vida do povo brasileiro, inclusive com comprovações já apresentadas pela investigação do envolvimento direto desse grupo de extermínio com o brutal assassinato da ex vereadora e militante Marielle Franco. 

            O Conselho de Direitos Humanos da ONU solicitou que o Brasil despendesse maiores esforços para combater a violência e projetar um fim à Polícia Militar, responsável por milhares de assassinatos. Tudo isso fica muito claro quando vemos policiais formarem grupos de extermínios e esquadrões da morte (criados no regime militar), carregados de  discurso de ódio, agindo de forma criminosa, truculenta e autoritária. É urgente e necessário por fim a militarização da polícia, e pensarmos um outro modelo de segurança pública para não mais vivermos o cotidiano da barbárie e da escravidão, pois os chicotes de ontem são as balas dos fuzis dos opressores de hoje!

Lucas J Barbosa, MLB – São Paulo

O racismo como ideologia de dominação e os 80 tiros em nós

O fuzilamento de Evaldo dos Santos, músico, num bairro periférico do Rio de Janeiro enquanto passeava com sua família na tarde de um domingo, representa o avanço do estado fascista que já não se importa em manter a aparência de um estado democrático de direito.

Ato na paulista em homenagem a Evaldo, músico assassinado pelo exército com 80 tiros. Foto: Jorge Ferreira

Com indignação o povo assistiu o presidente da república, 6 dias após o assassinato, vir à público se manifestar sobre o caso, limitando-se a defender a instituição que disparou 80 tiros e ceifou não só a vida de Evaldo, mas também de Luciano Macedo, catador de recicláveis,  que tentou ajudar a família a sair do veículo no momento da ação criminosa. Segundo o presidente: “O exército não matou ninguém!” Entretanto, é equivocado pensar que essa barbárie é consequência exclusiva da chegada da extrema direita ao Poder, muito menos apenas de resquícios da ditadura militar. Na verdade o estado policialesco nunca deixou de estar presente nas periferias do Brasil.

No mundo, o 1% da população mais rica tem mais riqueza que os outros 99% somados. Os 6 homens mais ricos do mundo tem mais posses do que a metade mais pobre, mais de 3,5 bilhões de pessoas. Esse abismo social é também a realidade do Brasil, que tem uma das maiores desigualdades do mundo. Neese contexto, ao povo negro é reservado apenas os piores postos de trabalho, os piores salários e os barracos das grandes favelas. A imensa maioria da população negra é extremamente pobre e vive sob todas as formas de vulnerabilidade.

O desemprego é enorme e o varejo do tráfico termina sendo um desses postos de trabalho reservados especialmente para a juventude negra das periferias. Mesmo cumprindo uma tarefa desse negócio que gera enormes lucros para a burguesia, que utiliza seus bancospra lavar esse dinheiro, e por estar na ponta, mais visível e sustentando fuzis nas mãos, os jovens negros são vítimas de um discurso de criminalização e de uma política repressiva e genocida que assassina 66 mil pessoas por ano no Brasil, um verdadeiro índice de guerra civil. 78% desses jovens são assassinados por conta da sua cor da pele, por serem negros.

É que cada tempo histórico tem suas perguntas sobre o passado, pois cada conjuntura produz uma história para justificar o seu presente.” É assim que Marielle Franco começa a demonstrar em sua tese de mestrado a importância de compreendermos nosso passado recente  e o processo de implementação do neoliberalismo que o Brasil passou nas últimas décadas. Apesar do estudo da vereadora assassinada se concentrar na política de segurança pública do estado do Rio de Janeiro através das Unidade de Polícia Pacificadora, traz também importantes esclarecimentos sobre as causas do genocídio de negros e negras no país todo.

É verdade que desde a formação do estado brasileiro há uma política de extermínio daqueles que foram escravizados,  e desde então diferentes  ideologias foram utilizadas para perpetuar o poder na mão de uma minoria enquanto o povo dispõe de uma vida miserável. Mas também é urgente compreender as engrenagens da fase atual do capitalismo para traçarmos estratégias para a sua destruição. Nesse sentido que Marielle desmascara o estado penal vigente nas periferias como estrutura central do neoliberalismo no Brasil.

Nessa fase da crise do capitalismo, onde a elite econômica tenta enfiar goela abaixo reformas para aumentar seus lucros, mesmo que às custas da retirada de direitos trabalhistas e sociais, é necessário uma escalada no estado penal para conter aqueles que se encontram “excluídos” dessa sociedade. É por isso que na medida que os governantes avançam na destruição de direitos sociais,  aumenta-se a repressão nas periferias, pois esses são os territórios tidos como inimigos do estado, que serve exclusivamente aos interesses da classe dominante.

A administração pública por sua vez, concentra  esforços em passar a impressão  que esse modelo de segurança pública, que invade casas, mata e tortura, se legitima em nome da proteção de toda sociedade. Essa é a tática da “guerra às drogas”, justificar o genocídio e o encarceramento em massa como necessário para manter a ordem.

Para tanto, o estado exerce papel crucial na manutenção do projeto de dominação. Se nos bairros ditos “nobres”, o estado se faz presente nas ruas bem asfaltadas, nos parques bem arborizados, e em todo conjunto de políticas que promovem o acesso à cidade, nas periferias esse mesmo estado se faz presente exclusivamente através das forças militares, seja pela polícia, pelo exército, ou mesmo por grupos milicianos.

Essa guerra aos pobres, transvestida de pacificação,  não se justifica apenas com o sadismo de uma elite branca, mas sim por interesses econômicos. O estado, representante da burguesia, não contente com as reformas neoliberais, também está comprometido com o lucro dos megatraficantes, dos milicianos, da indústria armamentista, da especulação imobiliária, etc.

Justamente por incomodar aqueles que lucram com o extermínio da população negra e escancarar a as engrenagens desse sistema que Marielle Franco foi brutalmente assassinada.

Um ano depois de sua morte, os 80 tiros disparados pelo exército no carro de Evaldo e sua família nos traz à tona a urgência de apontar as raízes desse projeto genocida. Trata-se do modus operandi de um estado neoliberal, que manteve as mesmas práticas inclusive nos governos ditos progressistas,  período em que o encarceramento mais do que dobrou. Se no Brasil o capitalismo é forjado no extermínio da população da periferia, que na sua maioria são negros e negras, o fim desse extermínio também depende da superação desse sistema perverso.

O RACISMO COMO IDEOLOGIA DE DOMINAÇÃO

Segundo Clóvis Moura, “o racismo não é uma conclusão tirada dos dados da ciência, de acordo com pesquisas de laboratório que comprovem a superioridade de um grupo étnico sobre outro. O racismo é uma ideologia deliberadamente montada para justificar a dominação de um grupo sobre outro. É, portanto, uuma ideologia de dominação.

Acontece que após a abolição da escravidão no Brasil, a elite do país determinada a manter seu projeto de domínio, costurou outras roupagens para sustentar o novo regime econômico. Nesse momento ganha destaque a  concepção eugênica que correspondia a uma política de embranquecimento da população e a uma teorização sobre características de personalidade inerentes às raças.

Dentre elas, se destaca o papel do direito penal na formação do imaginário popular do negro como figura naturalmente criminosa. Ainda no período da primeira república, o código penal tipificava como crime o que ficou conhecido como lei da vadiagem. Num contexto de séculos de escravidão, foi como prender as pessoas simplesmente por elas serem negras. Essa política foi aprimorada ao longos das décadas, mas sem nunca perder o viés ideológico de dominação sobre os corpos marginalizados.

A Liga de Higiene Mental, por exemplo, braço do nazismo e do arianismo no Brasil, se destacou como defensora “científica” dessa tese e defendia, entre outras bandeiras, salários eugênicos (quanto mais clara a cor da pele, maior deveria ser o salário), recompensa para famílias que procriassem seres “superiores”, punição para os “inferiores”.

O higienismo social presente na segregação territorial até os dias de hoje, é oriundo das políticas da burguesia desde a formação da nação brasileira. A verdade é que esse país foi constituído sob uma ideologia burguesa e racista, que nega ao povo sua própria história, como estratégia política para perpetuar uma estrutura excludente.

Sendo assim, torna-se uma ingenuidade combater o racismo apenas através do viés acadêmico ou estritamente científico, muito embora não possamos de maneira nenhuma, negar o combate também nesse terreno.  Mas a verdade é que a boa e velha luta de classes ainda é a forma mais eficiente de enfrentar o racismo no Brasil. Como afirma Clóvis Moura, “a questão racial é essencialmente política e não apenas científica.”

Para superarmos o sistema político existente, o capitalismo, será necessário travarmos as lutas pelos interesses imediatos da classe trabalhadora, composta na sua maioria por mulheres e negros. Mas isso não bastará. Será necessário, e esse é o nosso desafio, apresentar outro modelo de sociedade que seja capaz de substituir a engrenagem capitalista.

Um sistema político e social que dê conta de distribuir toda a riqueza socialmente produzida, pondo fim à propriedade privada dos meios de produção e a todas as desigualdades sociais existentes na atualidade. Esse sistema, essa sociedade, tem nome e chama-se Socialismo.

Jorge Ferreira e Queops Damasceno, São Paulo

Tentativa de golpe militar na Venezuela é patrocinado pelos EUA

População venezuelana vai às ruas e impede o golpe orquestrado pelos EUA

Uma tentativa de golpe militar foi realizada na Venezuela na manhã desta terça feira, 30/04, como o intento de derrubar o governo legítimo de Nícolas Maduro. Esta ação contou com o apoio incondicional dos EUA que propicia todo auxílio aos golpistas que são, na verdade, subservientes do imperialismo e realizam um discurso de apoio à “Liberdade” no país, mas com o intuito de fazer o roubo das riquezas nacionais.

Logo pela manhã Juan Guaidó, o promotor principal do golpe, realizou pronunciamentos anunciando a tomada de uma base militar localizada na região leste de Caracas, a Base Aérea La Carlota. Também propalava a obtenção de apoio militar das forças armadas, buscando causar um levantamento em outras bases militares.  Guaidó pronunciou-se ao lado de Leopoldo Lopez que estava preso desde 6 de agosto de 2017, cumprindo pena de quase 14 anos, por praticar atos violentos.  O “Autoproclamado” presidente, com apoio dos EUA, busca usurpar o poder sem possuir o voto democrático do povo, por meio de uma ação violenta contra a maioria dos venezuelanos.

No entanto, oficialmente, o presidente da Assembleia Nacional Constituinte Diosdado Cabello, desmentiu a tomada da Base Aérea e disse que apenas um reduzido grupo militar se sublevou para promover um golpe de Estado. “Não foi vulnerabilizada nenhuma instalação militar no país, eles estão nas ruas no Distribuidor Altamira e nós estamos dirigindo as operações desde a Base Aérea La Carlota”, afirmou.

Maduro também se pronunciou nas redes sociais afirmando que conta com o apoio e lealdade do comando do exército, que diz está comprometido com a constituição e a soberania nacional. Precisa no entanto estar mais preocupado com o apoio popular permanente nesse processo, visto que as ações da direita tentam alterar a correlação de forças também nas massas, mas ao que tudo indica sem sucesso até o presente momento.

Mike Pompeo, o secretário de Estado norte-americano, afirmou em um comunicado “hoje, o presidente [autoproclamado] interino Juan Guaidó anunciou o início da Operação Liberdade. O governo dos Estados Unidos apoia integralmente o povo da Venezuela em sua busca pela liberdade e pela democracia. A democracia não pode ser derrotada”. Destila assim seu apoio incondicional as ações militares para derrubar o governo e mostra disposição de intervir nos assuntos internos da Venezuela.

Ernesto Araújo, ministro de relações exteriores do Brasil, se reuniu em Washington, no dia 29, com Mike Pompeo e demonstrou uma total submissão ao governo dos EUA fazendo coro a politica norte-americana “O Brasil apoia o processo de transição democrática e espera que os militares venezuelanos sejam parte desse processo de transição democrática”, declarou. Logo Bolsonaro também se pronunciou no Twitter “O Brasil está ao lado do povo da Venezuela, do presidente Juan Guaidó e da liberdade dos venezuelanos”. É uma vergonha como copiam a linguagem da farsa americana sem o mínimo de pudor tratando a palavra “liberdade” como um mantra para encobrir a tentativa de um golpe militar absurdo.

As declarações conjuntas do Brasil com os EUA nesse processo devem ser repudiadas pelo povo brasileiro, pois não podemos ser bucha de canhão para o imperialismo. Os interesses do Brasil estão muito mais ligados a uma política de relações internacionais pacíficas, de integração latino americana baseada na colaboração entre os países iguais, na solidariedade e no internacionalismo proletário. O povo brasileiro sempre foi a favou da soberania das nações e o princípio da auto-determinação, onde cabe a cada povo decidir seus destinos.

Todo apoio ao povo venezuelano! Abaixo o imperialismo!

Wanderson Pinheiro, São Paulo

“A Unidade Popular veio para ficar”

A Unidade Popular (UP), partido político em formação, é fruto da iniciativa de centenas de ativistas dos movimentos populares, militantes comunistas, estudantes e professores e da necessidade de construir uma alternativa de esquerda revolucionária ao atual cenário nacional.  Após um ano e meio de muito trabalho, a campanha pela legalização da UP entra em sua reta final. Para falar sobre as novas tarefas da militância, A Verdade entrevistou Leonardo Péricles e Fernanda Lopes, membros da Direção Nacional da UP, que afirmam que para o país sair desta crise, precisa passar por uma profunda transformação econômica e social que dê vida digna para o nosso povo, e, por isso “a UP luta pelo poder popular e pelo socialismo”.

Da Redação

 

A Verdade – Por que a UP foi criada?

Leonardo Péricles – Houve, nos últimos anos, um verdadeiro esgotamento dos atuais partidos ditos de esquerda. Alguns foram cooptados, tomando o caminho de aliança com as grandes empresas, bancos e empreiteiras. Outros, tentando fazer frente a esta traição, não conseguiram dialogar com a classe trabalhadora. De tão estreitos que são, não conseguem se apresentar como alternativa. O resultado é que, hoje, poucos empunham a bandeira de luta por mudanças estruturais, ou seja, a luta revolucionária contra o capitalismo, que passa pela mobilização de amplos setores populares, de milhões e milhões de trabalhadores, mulheres e homens, negras e negros, LGBTs, jovens, indígenas, comunidades tradicionais, enfim, a luta da imensa maioria do povo brasileiro.

Esta é uma luta por quebrar os enormes privilégios dos super-ricos, da burguesia brasileira. É, portanto, uma luta muito dura e nós, da UP, não consideramos que ela possa ser feita por um iluminado ou de forma isolada, mas sim no campo da luta de massas, na vida política partidária, dos movimentos, e lideranças que se reúnem em torno das ideias populares. Daí o próprio nome Unidade Popular. Acreditamos que, a partir de um chamado decidido e pautado na força do movimento popular, se incorporarão a este projeto milhões de lutadoras e lutadores. Foi para fazer este chamado que nasceu a UP.

 

Como vocês veem a atual situação do País? Qual a saída para a crise do Brasil?

Fernanda Lopes – O Brasil vive uma grave crise econômica e política que se agrava a cada dia, com vários retrocessos democráticos, perdas de direitos e uma calamidade social. O desemprego já atinge cerca de 24 milhões de pessoas. Hospitais, postos de saúde, escolas e universidades estão abandonados. A violência aumenta e o povo teme por sua vida todos os dias, especialmente as mulheres. O ilegítimo governo de Michel Temer, que só tem olhos para as classes ricas, aprovou a chamada “PEC dos Gastos”, congelando por 20 anos os investimentos públicos em saúde, educação e moradia. Aprovou, em agosto de 2017, a Reforma Trabalhista, que retirou direitos históricos dos trabalhadores conquistados em décadas de luta, e ainda quer aprovar a Reforma da Previdência para que trabalhadores e trabalhadoras não se aposentem mais. Para sair desta crise, o País precisa passar por profundas mudanças. Somente uma profunda transformação econômica e social que dê vida digna para o nosso povo, emprego, saúde e educação de qualidade, moradia, transporte e terra para os camponeses resolverá os problemas atuais vividos pelo povo. Por isso a UP luta pelo poder popular e pelo socialismo.

Leonardo Péricles – Devemos lembrar também que vivemos uma das mais profundas crises econômicas da história do capitalismo, desde 2008, e que se manifestou com mais força no Brasil a partir de 2013. A solução para esta crise é pôr fim a um sistema que protege uma minoria de ricos. E o programa para isso já é conhecido: taxar as grandes fortunas; impedir a especulação imobiliária e garantir a função social do solo; suspender o pagamento da dívida pública, que nos suga quase metade do orçamento federal; exigir o pagamento dos devedores da dívida ativa dos municípios e estados; impedir a sonegação de impostos pelas grandes empresas, inclusive dos devedores da Previdência; reduzir a jornada de trabalho sem redução do salário para gerar mais empregos. Desta forma, bilhões de reais serão arrecadados e serão suficientes para resolver os graves problemas sociais que nosso país vive. Mas, ao lado de todas estas lutas, não devemos deixar de disputar a maioria da população para um projeto ainda mais profundo de transformações sociais, que é a derrubada do capitalismo e a implantação do socialismo, em que os meios de produção das riquezas estejam nas mãos da classe trabalhadora e possam servir para a vida, e não para o lucro.

Nenhum dos atuais partidos defende essas propostas?

Fernanda – A maioria dos atuais partidos está pautada pela institucionalidade, por um respeito sagrado aos limites impostos pela burguesia, ao invés de se pautar pela necessidade de superação do capitalismo. E isso exige muito enfrentamento, rupturas, uma verdadeira revolução política. Um dos papéis que a UP se propõe a fazer é demonstrar que os partidos dos ricos enganam o povo a todo momento. Procuramos demonstrar pelo discurso e pela prática que nem todos os que fazem política são iguais, que há uma política corrupta e burguesa, mas que existem também políticos revolucionários e uma política proletária. Não se trata de moralismo, mas sim de colocar as coisas no seu devido lugar.

Por que o socialismo é superior ao capitalismo?

Leonardo – Em um país riquíssimo como o Brasil, o socialismo daria condições para todas as pessoas se apropriarem dos bens e serviços de que necessitem para viver. Já debaixo do capitalismo, somos um país subdesenvolvido, com uma economia comandada pelos EUA e com uma desigualdade social que aumenta a cada ano. Hoje a realidade é que as cinco pessoas mais ricas do País detêm a mesma riqueza da metade mais pobre da população. O socialismo também permite que a tecnologia desenvolvida seja aplicada para melhorar a vida do conjunto da população, e não para aumentar os lucros dos capitalistas. Só o socialismo garante acesso universal à educação, saúde, moradia, segurança, lazer. Isto já foi provado por décadas na União Soviética e em outras experiências socialistas. Uma nova onda de grandes transformações sociais virá neste século 21, pois são insustentáveis as contradições do capitalismo. Só no ano passado, por exemplo, 82% da riqueza produzida no mundo foi apropriada por apenas 1% das pessoas! A maioria dos trabalhadores ainda não tem a consciência de que este mundo novo de felicidade é possível, mas o socialismo está no sonho de todo trabalhador e trabalhadora consciente. Ao socialismo interessa socializar a riqueza das grandes propriedades, aquela que pode resolver o problema da moradia nas grandes cidades, pois no capitalismo há mais casas e prédios abandonados do que gente sem habitação. Já as grandes fábricas e empresas, as grandes extensões de terra, estarão à disposição do Estado, dirigido pela classe trabalhadora para que esta decida a prioridade e a função social de cada coisa.

Como veem as declarações de membros do Alto Comando do Exército defendendo um golpe militar?

Fernanda – Nessa conjuntura em que a luta de classes se encontra bastante acirrada, vemos manifestações das diferentes classes sociais e agrupamentos sobre as possíveis saídas para a crise. Dentro da falta de perspectivas de parte da população, setores do alto comando do Exército a serviço do setor mais reacionário da burguesia, dos fascistas, tentam também se apresentar como alternativa. Lembremos que todo este espaço para que generais possam se pronunciar sobre golpes de Estado, contrariando a própria Constituição sem sofrerem nenhuma punição, é algo muito grave e que não podemos aceitar. É preciso levar a cabo as recomendações da Comissão Nacional da Verdade para que se punam os torturadores e assassinos da época da ditadura militar. Como disse a grande companheira Amelinha Teles, em entrevista publicada na última edição do Jornal A Verdade: “Não há democracia com corpos insepultos”. Sabemos que a impunidade do passado leva à impunidade do presente, pois hoje milhares de jovens negros e pobres continuam sendo torturados e mortos nas periferias de todo o Brasil nas mãos de agentes estatais, principalmente das polícias militares.

Qual o balanço da campanha pela legalização da UP?

Leonardo – Estamos há 15 meses colocando em prática um ousado plano de legalização de um partido político revolucionário que almeja o poder. Para coletarmos as 600 mil assinaturas que conquistamos neste período, fomos a praças, bairros, vilas, favelas, ruas, empresas, fábricas, escolas, universidades e seguramente falamos para mais de dois milhões de pessoas que foram abordadas ou que escutaram nossas agitações. Nosso discurso, aliás, não é só para pedir uma assinatura, mas para politizar, para denunciar os crimes das elites contra o povo e convocá-lo para a luta.

Neste último período, conseguimos perceber como poucos o sentimento de nosso povo, seu desejo por mudanças no Brasil e, neste sentido, tivemos ainda mais certeza de que nossa decisão de criar a UP foi acertada. E fizemos isso sem depender de um centavo da Odebrecht ou de qualquer outra grande empresa, banco etc. Sem depender também de nenhum figurão da política tradicional burguesa, dependendo apenas de nossa militância e de apoiadoras e apoiadores que têm os mesmos propósitos que nós.

Chegamos agora a um momento decisivo, pois temos pouco mais de seis meses para cumprir nosso objetivo, já que a legislação impõe um prazo máximo de dois anos. Apesar de enfrentarmos regras extremamente antidemocráticas para a legalização de novos partidos, durante este período, que estamos chamando de período especial, nossa militância decidiu se dedicar integralmente à realização desta grandiosa tarefa. Chegaremos até o final de maio com pelo menos 800 mil assinaturas coletadas no total e já demos passos importantes no cadastramento das fichas de apoio no sistema online do TSE e nos cartórios eleitorais. Em três estados a UP já alcançou o número mínimo de apoiamentos exigido e já podemos constituir seus diretórios estaduais provisórios. Estamos trabalhando para que nos próximos meses cheguemos a pelo menos nove diretórios estaduais legalizados, que é outra exigência. Além disso, temos recebido adesões de muitos ex-militantes de outros partidos e organizações políticas, e até de grupos políticos que não se sentiam mais representados pelos demais partidos existentes.

O que falta para a UP conquistar a legalização?

Fernanda – Tudo o que fizemos até aqui, apesar de muito importante, não basta, pois precisamos validar 487 mil assinaturas nos cartórios eleitorais de todo o Brasil. Neste sentido, entramos no sistema do TSE com cerca de 150 mil fichas nestes últimos meses e nossa campanha continua até a legalização. Para termos êxito, estamos fazendo também uma campanha de arrecadação de finanças, pedindo contribuição às pessoas que acreditam em nossa causa para que possamos ter um caixa que permita arcarmos com os gastos desta reta final. Precisamos da ajuda de todas e todos para que possamos concluir esta campanha de dois anos. Estamos muito confiantes de que venceremos!

O perigo da privatização da água em Pernambuco

Com uma proposta antipopular e contrária a tudo que tem sido feito e debatido no mundo em relação ao uso e o direito à água, a governadora do estado, Raquel Lyra (PSD), segue com o plano de privatizar a água em Pernambuco. Onde se privatizou, o serviço ficou pior e a conta mais cara, mas parece que não é do interesse do poder público, incluindo o governo federal, que apoia essa política que vai penalizar nosso povo, que olha apenas garantir os lucros para os empresários. 

Airton Soares| Redação Pernambuco


Um recente relatório sobre o ano de 2024 da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD), divulgada pelo IBGE em 22/08/2025, ficou constatado o que todos os pernambucanos já sabiam: Pernambuco tem um péssimo sistema de esgoto e distribuição de água. Pernambuco ocupa a 21ª colocação nacional em fornecimento de água e segue entre os estados com maiores fragilidades em saneamento básico. 39,7% dos lares dependem de fontes alternativas, como rios, açudes e caminhões-pipa e apenas 51,4% dos domicílios pernambucanos possuem ligação à rede ou fossa séptica conectada à rede geral.

Os dados assustadores, que provam que praticamente metade dos habitantes de nosso estado não tem ligação de esgoto, mostram o descaso histórico dos governos estaduais em conceder para a população pernambucana um bem básico, além de escancarar as contradições com o processo de privatização que está sendo conduzido pela governadora Raquel Lyra (PSD). A COMPESA é uma empresa milionária, possui um vínculo com o setor privado por meio de uma Parceria Público-Privada (PPP) mas ainda assim, a maioria do povo pernambucano não tem acesso a água encanada e esgoto de qualidade.

 

A mídia burguesa esconde a verdade

Diante desses fatos vem a pergunta: se o serviço hoje que já é privatizado, ainda assim é ruim, qual o argumento para privatizar tudo? Mas não é essa a pergunta feita pela grande imprensa, pertencente a pequenos grupos interessados em defender os empresários. Pouco se fala dos problemas enfrentados pelos mais pobres em relação ao saneamento básico. Em  artigo feito para o Jornal A Verdade, Daniel Albuquerque (técnico ambiental na cidade do Recife), vemos um histórico da COMPESA, suas origens nas lutas da classe trabalhadora e da participação popular para que tal serviço fosse regulamentado. Porém, o que vemos hoje são medidas de corte de investimento intencionais e incentivadas pela pressão internacional, que fizeram com que o serviço só fosse se deteriorando.

Por meio da PPP a empresa BRK Ambiental (canadense), tem feito um péssimo trabalho no saneamento básico, água e esgoto. Em mais de uma década atuando na Região Metropolitana do Recife, a BRK Ambiental aumentou em apenas 8 pontos percentuais a cobertura de esgoto, saindo de 30% para 38% a cobertura do serviço a que foi contratada. Pior: a empesa é uma das mais interessadas no processo de privatização de toda a empresa. Esses fatos a imprensa hegemônica simplesmente não mostra.

 

Privatizar é piorar o serviço e deixar a conta mais cara

A partir de 2013, a Agência Tocantinense de Saneamento (ATS), pública, passou a controlar os serviços de saneamento de 78 dos 139 municípios do estado. Quatro anos depois, em 2017, a chamada Odebrecht Ambiental foi vendida para a Brookfield Business Partners LP, uma empresa líder global em gestão de ativos, que em conjunto com outros investidores, assumiu hoje o controle de 70% da Companhia. Hoje, a empresa chama-se BRK Ambiental. A empresa privada segue responsável por 47 cidades tocantinenses, incluindo a capital Palmas, que, por serem mais populosas, são também as mais rentáveis. Mesmo com o vaivém e com a divisão público-privada, um levantamento feito pelo IBGE apontou que 70% dos tocantinenses vivem sem os serviços de saneamento básico. A mesma política ocorreu no Rio de Janeiro, Ceará, São Paulo, Rio Grande do Sul e até o amazonas, entre outros.

Os dados de saneamento básico e distribuição de água em Pernambuco nos deixa indignados com tamanho descaso. Por isso que as mobilizações e as atividades organizadas pela Unidade Popular, junto aos servidores e o sindicato dos urbanitários contra essa política privatista mostra que só a mobilização é possível de mudar essa realidade. Do mesmo modo que a criação da COMPESA foi uma conquista do povo pernambucano, a sua manutenção, pública, de qualidade e com melhorias para a classe trabalhadora será garantido por meio dessa luta. Privatizar água é um crime contra o povo!

 

 

 

Bolsonaro e generais são condenados por tentativa de golpe de Estado no STF

Bolsonaro e mais 7 acusados são condenados pelo STF por tentativa de golpe de Estado. Entre os condenados se encontram 3 generais, um almirante, um coronel, o ex-chefe da ABIN e o ex-ministro da Justiça, fato inédito na história do Brasil.

Felipe Annunziata | Redação


BRASIL – Depois de anos de luta antifascista, com manifestações de rua, greves e ocupações, o ex-presidente fascista Jair Bolsonaro, os generais Braga Netto, Augusto Heleno e Paulo Sérgio Nogueira, o almirante Almir Garnier, o ten. coronel Mauro Cid, o deputado e ex-chefe da ABIN Alexandre Ramagem e o ex-minsitro da justiça Anderson Torres foram condenados pela maioria dos ministros da Primeira Turma do STF.

“A lembrança do golpe de 64 é curiosa porque tinha menos prova documental do que nesta tentativa. Nessa tentativa, agora só faltou lavrar ata. Na verdade, as provas documentais (do golpe de 64) só emergiram com a abertura dos arquivos do governo dos Estados Unidos”, afirmou o ministro Flávio Dino, durante a sessão desta quinta (11/09).

A quantidade enorme de provas documentais e de testemunhas foi um dos pontos mais ressaltados pelos ministros. Mesmo o ministro Luis Fux, que absolveu quase todos os acusados, reconheceu a quantidade de provas e escolheu ignorá-las para atender os interesses do imperialismo estadunidense e salvar Bolsonaro.

Os ministros também definiram o tamanho das penas dos condenados, que completam 5 crimes: Golpe de Estado, tentativa de abolição do Estado de Direito, dano qualificado, deterioração do patrimônio público tombado e organização criminosa.

Jair Bolsonaro – 27 anos e 3 meses de prisão

General Walter Braga Netto – 26 anos de prisão

Ten. Coronel. Mauro Cid – 2 anos de prisão em regime aberto, por causa do acordo de delação premiada

Anderson Torres – 24 anos de prisão

Almirante. Almir Garnier – 24 anos anos de prisão

General Augusto Heleno – 21 anos de prisão

General Paulo Sérgio Nogueira – 19 anos de prisão

Deputado Federal Alexandre Ramagem (PL-RJ) – 16 anos de prisão

Condenação é resulta da luta popular

O resultado do julgamento de hoje só foi possível por conta mobilização permanente de trabalhadores, mulheres e do povo pobre do nosso país. Não foram poucas as manifestações realizadas desde o início do governo Bolsonaro exigindo a prisão dele e de seus cúmplices.

A condenação da direção da organização criminosa fascista mostra também que é possível garantir a punição a todos os golpistas e fascistas de ontem e de hoje. Até agora o Estado brasileiro se nega a processar e condenar os torturadores e agentes da Ditadura Militar Fascista (1964-1985), mesmo esse período histórico tendo sido lembrado várias vezes como um momento sombrio da história pelos ministros que hoje condenam Bolsonaro.

A luta antifascista no Brasil conquistou hoje uma grande vitória. Pela primeira vez militares e políticos de alta patente são condenados por golpe de Estado. Esta luta, no entanto, não terminou, pois os fascistas ainda estão organizados em nosso país e agora apelam para uma intervenção direta do imperialismo estadunidense aqui e, portanto, a luta contra eles deve continuar.

Despejo violento em São Paulo mostra que não existe soberania para o povo pobre

Centenas de famílias, idosos e crianças da Ocupação Palestina Livre, em São Paulo, organizada na campanha nacional do MLB no dia 7 de setembro, foram violentamente despejadas pela tropa de choque do governador fascista Tarcício

Redação SP


BRASIL – Cerca de 200 famílias, incluindo mães trabalhadoras, idosos e dezenas de crianças, ocuparam um prédio abandonado no bairro Liberdade, centro de São Paulo, no dia 7 de setembro. O local estava abandonado, sem cumprir função social, acumulando poeira e entulho. A ocupação foi parte da campanha nacionalnão há independência e nem soberania sem direito à moradia”, do Movimento de Luta nos Bairros, Vilas e Favelas (MLB).

Desde cedo, centenas de famílias e militantes do movimento se uniram para limpar e tornar o espaço habitável e livre da fome. As crianças estavam brincando na creche coletiva organizada no local. O almoço já estava sendo preparado e o cheiro de feijão já perfumava o ar dentro da ocupação quando a tropa de choque, desproporcionalmente paramentada e com a presença de caveirões, começou a usar bombas de gás lacrimogêneo, balas de borracha e  spray de pimenta nas famílias e  militantes do lado de fora, incluindo os advogados, imprensa e apoiadores.

As janelas de todos os andares do prédio estavam cheias de mulheres, jovens, crianças, trabalhadores e trabalhadoras gritando as palavras de ordem do MLB em defesa da moradia digna, mas o efeito do gás subiu até os últimos andares, onde estavam as crianças, obrigando os militantes a fecharem as janelas.

Durante a ação violenta promovida pela PM, as famílias foram despejadas, duas pessoas ficaram feridas e dezenas passaram mal devido às bombas e gás de pimenta. Uma mulher, trabalhadora e ocupante, que desmaiou, sofreu assédio na ambulância, numa tentativa de deslegitimar a luta por moradia. Além disso, apenas três dias após a Ocupação os pertences das famílias e itens da Ocupação foram devolvidos, com o almoço que estava breve a sair já estragado pelo tempo.

Dona Maria*, uma das famílias que ocupavam o local, reforça que “nós estávamos fazendo uma coisa que o governo não faz. Nós estávamos lá para lutar contra a pobreza, apoiar a população, dar uma vida mais digna. Eles não estão nem aí para quem é pobre, para quem vive em comunidade, quem ganha um salário mínimo, porque eles estão na boa vida deles e é a gente que está sofrendo. Quando nós vamos procurar um jeito de sobreviver, de ter pelo menos uma vida melhorzinha, eles atacam do jeito que atacaram”

E continua

“Eu saí de lá carregada pelos companheiros, porque não aguentava nem ficar de pé. Eles machucaram os companheiros que estavam na linha de frente. Difícil falar (dona Maria se emociona). Eles não respeitaram as crianças e nem os idosos, não respeitaram nada e nem ninguém. Mas nossa luta não vai parar por aqui!”.

Aparato polícial mobilizado pra despejar famílias, mulheres trabalhadoras, idosos e crianças. Foto: Wildally Souza

Campanha nacional por moradia

Campanha nacional do MLB em defesa da moradia digna e do povo palestino. Foto: Wildally Souza.

É por isso que o MLB lançou a campanha “Não há independência nem soberania sem direito à moradia”, realizando 18 ocupações em 15 estados brasileiros e denunciando a condição precária com que milhões de famílias vivem no nosso país, sem acesso à saneamento básico, em áreas de risco ou pagando aluguéis abusivos.

A ação nacional mobilizou cerca de 5 mil pessoas, em todas as regiões do país, e todas as ocupações incluíram o nome Palestina Livre, homenageando a resistência do povo palestino e chamando a atenção para a repressão de estados fascistas contra a população. No Brasil, a PM se utiliza de armas e veículos blindados israelenses também para oprimir o povo pobre e trabalhador.

Nossa resposta é a luta

As famílias organizadas pelo MLB sabem que só a luta transforma, e ninguém abaixou a cabeça para a repressão. Foto: Arthur Lamonier.

A opressão violenta da PM do Estado de SP, comandada pelo fascista Tarcísio (Republicanos), não intimidou as famílias do MLB. Pelo contrário. Saindo do imóvel de cabeça erguida, as famílias realizaram uma passeata pelo centro da cidade, no bairro da Liberdade, e puxaram palavras de ordem que reforçam a justiça da luta por moradia no Brasil e a necessidade de criação de um país socialista.

Ao gritar “esse país, está num abismo, a solução é construir o socialismo” foi possível ver dezenas de pessoas ao redor, que observavam a ação, gritando junto e prestando solidariedade às famílias do movimento. Além disso, vendas do Jornal A Verdade foram realizadas às pessoas que se interessaram, também, em somar forças ao MLB.

Após a reintegração ilegal e a manifestação, as famílias se reimuniram em assembleia para se fortalecer e planejar as próximas lutas.

Para Ivan, família organizada pelo movimento: “Nós não vamos baixar a guarda jamais, e a importância de ocupar o centro, é que quanto mais ocupações estiverem no centro, mais nós estaremos aqui no meio deles incomodando, mostrando nossas caras e aumentando a nossa luta, onde está a riqueza, onde nós possamos estar no meio deles, usufruir de tudo que tem aqui, porque o centro é do povo, o centro foi o povo que construiu e o povo tem direito dele, as famílias do MLB e todo o povo trabalhador”.

“Eu senti medo, muito medo pelas minhas crianças. Mas quando vi todas as famílias, quando vi o Movimento forte enfrentando aquilo tudo, tive certeza de que nada ia acontecer com a gente. To mais certo do que nunca de que nossa luta está certa! Se estamos incomodando então vamos incomodar mais, por que o Centro precisa ser do povo! Não podemos parar por aqui, camaradas!”, relatou Luiz.

Luiza*, imigrante haitiana e moradora da Ocupação dos Imigrantes Jean-Jacques, também do MLB, relatou ao Jornal A Verdade sobre a importância da construção de ocupações, que fazem valer a lei e oferecer moradia digna aos trabalhadores: “para mim é uma coisa incrível fazer ocupações, porque quando conheci o MLB e consegui uma moradia, fez muita diferença na minha vida. Ajudar outras pessoas que não conseguem pagar aluguel, que trabalham, mas não conseguem pagar o aluguel, representa muito para mim. E nessa ocupação percebi como a gente tem uma organização forte! Cada um tem uma função bem organizada.”

Não há dúvidas da força que a classe trabalhadora unida possui. Por isso, seguimos na organização de novas lutas pelo país. Pois, como diz o lema do MLB: quem luta, conquista! E há muito mais para conquistarmos, camaradas. Até a vitória!

*Nomes fictícios

Prefeitura de Porto Alegre ameaça Casa Mirabal de despejo

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A ação de despejo movida pela Prefeitura de Porto Alegre contra a Casa de Referência Mulheres Mirabal expõe a hipocrisia do poder público e como o descaso com a vida das mulheres não é exceção, mas política sistemática da lógica capitalista.

Milene Arruda l Redação RS


MULHERES – A Casa de Referência Mulheres Mirabal foi intimada da ordem judicial de despejo no processo movido pelo Município de Porto Alegre, com previsão de utilização de força policial e sem qualquer destinação às mulheres atualmente abrigadas na Casa.
A Casa Mirabal é a segunda ocupação do Movimento de Mulheres Olga Benario no país e já atendeu mais 700 mulheres em situação de violência desde 2016, entre acolhimentos e abrigamentos.

O espaço desde então se tornou o serviço mais próximo ao modelo da Casa da Mulher Brasileira em toda a Região Sul. A Casa da Mulher Brasileira é uma estrutura federal de enfrentamento à violência contra a mulher prevista na Lei Maria da Penha, e não existe no estado do Rio Grande do Sul. Em vez de expandir políticas públicas voltadas às mulheres, o estado e o município optam pela desocupação de um espaço que cumpre uma função vital e organiza as mulheres contra o descaso sistemático do Poder Público com a vida das mulheres.

O contexto do despejo, entretanto, não poderia ser mais alarmante. Segundo o Anuário Brasileiro de Segurança Pública de 2025, o Rio Grande do Sul é o estado com maior índice de descumprimento de medidas protetivas do país, além de ter registrado 36 feminicídios somente entre janeiro e junho deste ano.

O prefeito Sebastião Melo sancionou, no início de agosto, o Projeto de Lei (PLL) 070/23, que cria um auxílio-aluguel para mulheres vítimas de violência. No entanto, vetou justamente o trecho que estipulava o valor e o tempo do benefício, sob a justificativa da ausência de análise do “impacto orçamentário” do auxílio. Na prática, a medida fica esvaziada, sem qualquer previsão de regulamentação ou implementação concreta. As opções que o governo disponibiliza às mulheres vítimas de violência é clara: morar com seus agressores ou na rua.

Em um momento em que os números de violência contra as mulheres crescem sem parar, vemos verdadeiramente para quem funciona um sistema em que recursos públicos seguem sendo drenados para o pagamento da dívida pública e aos interesses da burguesia.
Assim, o Movimento de Mulheres Olga Benário e a Casa de Referência Mulheres Mirabal reafirmam a luta pela construção de uma sociedade verdadeiramente pautada na dignidade das mulheres e não no lucro, a sociedade socialista, e levantando alto a bandeira da resistência.

Moradores de Joinville se manifestam contra demolição de suas casas

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Prefeitura demole casas de trabalhadores do bairro Ulysses Guimarães, em Joinville, e moradores protestam exigindo direito à moradia digna.

Kauê de Melo de Oliveira l Redação SC


LUTA POPULAR – Uma operação coordenada pela prefeitura de Joinville, em Santa Catarina, demoliu diversas casas no bairro Ulysses Guimarães, no loteamento José Loureiro durante o final de julho. Utilizando de máquinas pesadas, a Secretaria do Meio Ambiente, junto da Guarda Municipal fortemente armada, destruíram as casas enquanto grande parte dos moradores já haviam saído para trabalhar, com móveis e pertences destruídos junto com as construções erguidas com tanto esforço e trabalho. No mesmo dia, trabalhadores organizaram um protesto queimando pneus e lixo na Rua Dilson Funaro, uma rua movimentada do bairro.

O MLB esteve presente no protesto registrando o momento, e nos dias seguintes realizou brigada de casa em casa na região das demolições. Após a mobilização, o MLB conseguiu novos contatos e convocou uma reunião para apresentar a alternativa da luta em coletivo para conquistar uma moradia digna.

Segundo depoimentos, algumas famílias foram ameaçadas a serem soterradas junto aos escombros se não deixassem as casas, e tiveram que sair para que a demolição ocorresse. “As famílias desalojadas ficaram todas debaixo de uma árvore, uma cena muito triste”, disse Maria Zelete moradora antiga do local.
Outros vizinhos relataram que uma mulher se recusou a sair de sua casa e conseguiu defender sua moradia mesmo sob grande perigo, mas recebeu ameaças de que voltariam para demolir sua casa outro dia. Emanuel, imigrante haitiano, assim como outros tantos, estava trabalhando durante a operação, e quando voltou, sua casa já estava destruída. No protesto, ele mostrou as faturas de água e luz que já pagava, pois sua casa já tinha ligação com a rede da Celesc e da Águas de Joinville.

A Secretaria de Habitação disse em reportagens que estaria disponível para auxiliar os moradores “caso fosse necessário” mas não apareceu no local para cumprir sua função de solucionar os problemas de moradia da cidade. A Prefeitura disse em nota que “Os imóveis não estavam ocupados”, mas depoimentos dos moradores e a existência de móveis dentro das residências desmentem essa alegação.

Esse ato de violência causou grande revolta também pela forma que foi planejado e executado. Os ocupantes disseram que os policiais debocharam e provocaram os moradores, perguntando até se ninguém iria revidar para eles poderem reprimir violentamente as pessoas. “Coincidência ou não, a maioria das casas demolidas são dos imigrantes haitianos. Aqui perto todas essas casas eram dos haitianos” disse o morador Fábio, indicando locais de demolição.

“Eles cortaram os fios de internet e de energia e levaram embora, ninguém conseguiu se comunicar. Tenho problemas de pressão alta e ansiedade. Nesse dia eu achei que ia infartar! Fiquei muito mal, com tremores, tive que ficar fortemente medicada. Meu marido teve que voltar do trabalho nesse dia para ficar cuidando de mim” disse Lucia, moradora vizinha de casas demolidas.

A Prefeitura utiliza de lei de proteção ambiental para Área de Proteção Permanente (APP) para justificar as demolições sem aviso prévio. A região já é significativamente modificada pela ação humana com presença de moradias. “Joinville está cheia de buracos. Aí a população faz uma casa improvisada e a derrubam. Por que eles não vêm dar casa para o povo? Olha aqui, por causa da ocupação agora tem farmácia, tem mercado. O que falta aqui é escola mais perto, ônibus, e não destruir o que a gente construiu”, disse a moradora Maria.

O bairro Ulysses Guimarães, assim como muitas áreas de Joinville, historicamente cresceu com ocupações sobre região de mangue. A expansão industrial dos anos 1970 trouxe grande oferta de mão de obra. Pressionadas pela escassez de moradias acessíveis, famílias de baixa renda ocuparam terrenos públicos e privados em áreas periféricas sem infraestrutura básica. “Eles dizem que de um ponto da rua pra lá é mangue, mas é tudo igual! Eu moro aqui desde que nasci, quero que eles me provem por que é diferente o lado de lá” disse um manifestante se referindo às regiões mais antigas já regularizadas.
Recentemente foram aprovadas leis para flexibilização e criação de áreas de expansão urbana (AEU) de Joinville, totalizando 32 km², do tamanho de Bruxelas, capital da Bélgica. Amplamente comemorado como um avanço para o desenvolvimento de Joinville, essas medidas são convenientes para as loteadoras e imobiliárias da cidade para aproveitar o alto preço dos imóveis na cidade, principalmente para a construção de novos condomínios industriais próximo a BR-101, residenciais de luxo, moradias para classe média e para os ricos.

Os impactos ambientais da mudança do tipo de uso da terra envolvem diversos fatores dependendo de suas dimensões e já são alertados por especialistas. Os impactos no aumento da área residencial e industrial necessitam de investimentos e novas instalações para saneamento básico, abastecimento de água potável, lançamentos de efluentes de esgoto, geração de resíduos sólidos, pressão sobre a vegetação, poluição do ar, entre outros. Fatos esses que parecem ser ignorados para gerar lucro para a burguesia da cidade, já que o mercado imobiliário vê nas ocupações clientes perdidos que poderiam estar alugando residências do mercado formal.

“Por que eles vêm aqui demolir tudo, sem antes dar uma moradia para as pessoas?”, questiona o morador Emerson. A capacidade de ação dos políticos locais é diretamente afetada com as doações de campanha e vínculos diretos com o lobby dos setores imobiliários e de construção civil. “Cadê os vereadores, agora não aparece nenhum aqui para resolver o nosso problema” disse a moradora Rosimar, revoltada com a situação.
Nesse momento há grande demagogia dos políticos dos setores mais conservadores, criminalizando as famílias migrantes da cidade. Os ocupantes sofrem com xenofobia e frequentemente são estigmatizados com acusações de baderneiros, desordeiros, vagabundos entre outras calúnias e difamações.

A mobilização dos moradores do bairro Ulysses Guimarães mostra que somente a partir da organização do povo para lutar pelos seus próprios interesses é possível fazer mudanças estruturais em nosso sistema. Agora, é momento de apresentar a alternativa da luta coletiva e organizar as pessoas que querem lutar pela moradia e pela libertação do povo brasileiro no MLB e na Unidade Popular!

XIV Semana de luta pela reinterpretação da Lei da Anistia acontece em Pernambuco

Evento envolve sociedade civil e comunidade acadêmica, e discute a luta por memória, verdade, justiça e reparação, aprofundando a necessidade de se reinterpretar a Lei da Anistia, uma exigência dos movimentos sociais e da sociedade civil organizada desde a redemocratização até nossos dias.

 Evelyn Dionízio| Recife


 

BRASIL- A XIV Semana de Luta pela Reinterpretação da Lei da Anistia é promovida por mais um ano na cidade do Recife, Pernambuco. A Semana é organizada pela Comissão Pernambucana de Luta pela Memória, Verdade e Justiça e se estende pelas cidades de Petrolina e Caruaru, Sertão e Agreste do estado, respectivamente.

No dia 28 de agosto foi realizado o Ato pela Punição dos Golpistas e pela Soberania na Unicap (Universidade Católica de Pernambuco). O ato se iniciou com uma apresentação cultural feita pelo ator Júnior Aguiar, interpretando Dom Hélder Câmara.

Arcebispo emérito de Olinda e Recife, Dom Hélder foi uma referência na luta contra a ditadura militar brasileira, “acusado” de comunista, respondeu “Se dou pão aos pobres, todos me chamam de santo. Se mostro por que os pobres não tem pão, me chamam de comunista”. Ao final, o ator faz uma intervenção pelas crianças palestinas assassinadas pelo estado genocida de Israel.

Na mesa estavam presentes Edival Nunes Cajá, coordenador do Comitê Memória, Verdade e Justiça de Pernambuco, Amparo Araújo, fundadora do movimento Tortura Nunca Mais em Pernambuco, Antonella, vice-diretora da Faculdade de Direito do Recife, Guila Xukuru, Presidente da Câmara de Vereadores de Pesqueira (PE) e Manoel Morais, Coordenador da Cátedra Unesco/Unicap de Direitos Humanos Dom Hélder Câmara.

Para abertura do tema, estiveram presentes Ana Oliveira, Presidente da Comissão de Anistia, e Marlon Weichert, Procurador Federal da República. Marlon ressaltou a importância das reformas institucionais, principalmente no setor da segurança pública, para uma verdadeira justiça de transição. “O Brasil não experimentou reforma institucional, diante de uma abordagem da justiça de transição. As forças armadas seguem as mesmas, as polícias militares seguem as mesmas, senão ainda mais vorazes e mais garantidas por modelos de impunidade”, diz o Procurador. Além disso, a impunidade e o fracasso da discussão do regime ditatorial contribui para que sucessivos golpes militares tomem conta da história do Brasil, inclusive para a tentativa de 8 de janeiro de 2023.

Mesa de debate na Universidade Católica, com Edival Nunes Cajá e Amparo Araújo, Manoel Moraes e Antonella Galindo. Foto: JAV-PE

Ana Oliveira lembra do tempo em que falar de anistia para os perseguidos políticos era motivo de prisão no começo dos anos 80, antes da “redemocratização” e que espaços de debate contribuem para que tais tentativas de golpe não aconteçam no país e que os responsáveis pela violação da democracia e dos direitos humanos sejam punidos. A comunidade, que lotou o auditório com capacidade para 300 pessoas, entoou a palavra de ordem “sem anistia e sem perdão, eu quero ver Bolsonaro na prisão” se fizeram presente no debate.

Cajá trouxe o fato de que a Comissão da Verdade brasileira não possui poder de polícia para que os torturadores fossem obrigados a depor acerca de seus crimes. “Nós precisamos dessas manifestações, de fortalecê-las, nos sindicatos, nas vilas, nos colégios, nas universidades, para que nós tenhamos força para seguir levando aos tribunais os golpistas de 8 de janeiro de 2023, mas também os golpistas de 1964, que assassinaram as esperanças que estavam mobilizadas nas ruas, dos camponeses, dos operários e da juventude”, diz.

Atos também ocorreram no agreste e sertão de Pernambuco

A atividade também ocorreu em Caruaru, com um debate na Cultural Livraria, com a participação de Veridiano Santos, Mestre em história do Brasil e professor e Iany moraes, presidenta da UP em Caruru. Em Petrolina, no sertão, com uma mesa de debate na Universidade do Vale do São Francisco (Univasf), Alysson Monteiro, presidente do DCE da instituição, debateu junto com Hortência Costa, da OAB Petrolina e Orlando Mindelo, ex-presidente do DCE da UFPE em 1977.

Prefeito de Garanhuns aprova vale alimentação de 5 mil para si mesmo

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Ao mesmo tempo que o Prefeito atua em causa própria, buscando abocanhar um auxílio de R$ 5.000,00 mensais – fora o gordo salário que já recebe 25.482,56  (líquido, já com todos os descontos) – a maior parte dos trabalhadores do Brasil tem que se virar com um salário de fome de R$ 1.518,00.

Hilsten de Barros | Garanhuns


BRASIL – Enquanto o valor da cesta básica aumenta significativamente em todo país, principalmente em Pernambuco , o Prefeito de Garanhuns-PE, Sivaldo Albino (PSB), sanciona auxílio-alimentação de R$ 5.000,00 para si mesmo. Além de se presentear com um auxílio-alimentação generoso, também entraram no bojo o Vice-Prefeito, Eraldo Ferreira (PT), os Secretários de pastas e os presidentes das autarquias municipais com auxílios de R$ 2.500,00 mensais.

Ao todo seriam 25 beneficiários, que receberiam um montante de quase R$ 780.000,00 ao longo de um ano. Tentando justificar a medida, o prefeito, por meio de nota da prefeitura, argumentou o seguinte: “A estimativa apresentada pelo impacto financeiro para 2025 permite que tal atualização possa ocorrer sem qualquer prejuízo ao orçamento municipal, e sem ferir qualquer princípio da Lei de Responsabilidade Fiscal”. Quer dizer, segundo ele, o município poderia desprender um recurso exorbitante desses e não comprometeria as contas.

Pois bem, fica a reflexão, se esse recurso existe, porque não desenvolver uma política de combate a fome no município? Uma conta rápida: ao todo, a medida beneficiaria 25 pessoas e consumiria R$ 65.000,00 por mês. Com esse mesmo valor, seria possível comprar e distribuir cestas cestas-básicas para mais de 180 famílias, beneficiando 720% mais pessoas com uma medida simples.

Diga-se de passagem, o Projeto de Lei foi encaminhado à Câmara Municipal em caráter de urgência no dia 13 de agosto, votado e aprovado no dia 14 de agosto por maioria absoluta (14 votos favoráveis, dos 17 possíveis) e sancionado pelo próprio prefeito no dia 15 de agosto. A pressa seria para que o auxílio já entrasse no próximo contracheque. Quem dera o próprio Sivaldo e os demais chefes do executivo tivessem esse mesmo compromisso e celeridade para acabar com o problema da fome da população das cidades do nosso país – e não só com os seus próprios “problemas”.

O de cima sobe e o debaixo desce 

Ao mesmo tempo que o Prefeito Sivaldo atua em causa própria, buscando abocanhar um auxílio de R$ 5.000,00 mensal – fora o gordo salário que já recebe 25.482,56  (líquido, já com todos os descontos) – a maior parte dos trabalhadores do Brasil tem que se virar com um salário de fome de R$ 1.518,00. Na prática, quem hoje recebe um salário mínimo, compromete cerca de metade do orçamento só com os itens essências de alimentação, fora as demais despesas: água, luz, aluguel, etc. Ainda cabe acrescentar que os servidores municipais não receberam nenhum aumento de vale-alimentação esse ano.

Após a grande repercussão dessa tentativa imoral do prefeito, a implementação da medida foi suspensa pela Justiça de Pernambuco, que considerou suspeita a falta de detalhes sobre o impacto financeiro e ausência da fonte de custeio, o que pode ser enquadrado na Lei de Responsabilidade Fiscal.

Com tudo, Sivaldo Albino, insatisfeito, recorreu da suspensão e declarou em nota da prefeitura: “A gestão municipal acredita que em nova instância restará comprovada a normalidade jurídica, assim como já se observa em diversas outras instituições no estado e no país”, ou seja, a única preocupação é se está ou não está dentro da legalidade, não passou pela cabeça do gestor atuar em benefício da população, longe disso.

Esse acontecimento, assim como vários outros, em Garanhuns (PE) e em demais locais, demonstra com clareza a podridão do regime capitalista, gestores corrompidos e preocupados apenas em enriquecer por meio dos cofres públicos, beneficiando aliados e concentrando a renda em um número reduzido de pessoas, pouco preocupados em combater a desigualdade social. O mesmo vale para os empresários, principalmente do ramo alimentício, que lucram cada vez mais com a fome do nosso povo.

Precisamos lutar por uma sociedade livre dessa podridão, sem que haja exploração de uma pessoa sob as outras. Apenas com a luta e a organização dos trabalhadores, dos pobres e oprimidos é que poderemos por fim ao capitalismo e construir uma sociedade justa, que só se conquista no socialismo, com um Governo Revolucionário dos Trabalhadores.

Professores lutam em defesa da educação em São Lourenço da Mata, Pernambuco

Recém-empossados, professoras e professores de São Lourenço da Mata, na região metropolitana do Recife, tem protagonizado uma jornada de luta para garantir um trabalho digno, sobretudo após o Prefeito do município se negar a receber a categoria, além de ter criado mecanismos no Plano de Cargos e carreiras que ataca o trabalhador e dificulta a obtenção de uma educação de qualidade.

Evelyn Dionízio e Eduardo Lira (Pernambuco)


 

TRABALHADOR UNIDO- Em mais uma mobilização e denúncia contra o governo reacionário de Vinícius Labanca (PSB), os professores de São Lourenço da Mata-PE se reuniram no dia 28 de agosto, na Praça do Canhão, localizada no centro da cidade. Antes do concurso, realizado em 2024, e da nomeação dos professores, o município contava com um quadro de 700 professores em regime de contrato extremamente precarizado e sujeito aos desmandos da administração pública. Após a demissão desses professores e a nomeação dos concursados, esperada como um alívio para a precarização do ensino, só foram admitidos 350 dos que foram aprovados, e somente esse quantidade deveria assumir a carga horária de todos os seus antecessores. Ou seja, uma conta que não fecha.

O resultado é a precarização ainda mais intensa da profissão, demonstrada pela mudança no regime de tempo de trabalho, antes contabilizado por hora-aula, e agora como hora corrida, quando no edital, estava descrito 40 horas semanais divididas em 26 horas em sala, mais 14 aulas-atividade – tempo destinado ao preparo das aulas e aperfeiçoamento. Agora, acontece em 52 horas semanais (30% a mais) sem qualquer compensação salarial.

Em um cenário onde apenas este vínculo não garante a subsistência das professoras e dos professores, muitos desses profissionais são forçados a trabalhar nos fins de semana, conciliando jornadas em outras escolas com a nova carga horária arbitrária, como afirma Renata Braga, professora do ensino fundamental do município: “[Os professores] precisam dar aula em 2, 3 escolas pra ter o mínimo de qualidade de vida […]. O salário deveria ser mais de 6 mil [reais] se fosse ajustado pela inflação”.

Renata se refere ao levantamento feito pelo DIEESE (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos), que aponta que para que um trabalhador brasileiro consiga sustentar uma família de 4 pessoas precisaria receber R$ 7.156,15, mais de 4 vezes o valor mínimo atual (R$ 1.518,00).

Esse valor não condiz com o que os professores recém aprovados estão recebendo nas suas salas de aula. Thiago Henrique, professor e doutorando, diz que pela falta de material escolar, têm que tirar do próprio salário para conseguir dar aula. Existem escolas sem quadro branco – fazendo com que os professores de São Lourenço escrevam nas paredes – ou folha ofício. Há ainda denúncias quanto ao não recebimento de vale transporte e vale refeição, situação que também segue sem previsão de resolução.

 

A precarização atinge mais as mulheres

Mariana Alves relatou ao Jornal A Verdade a decepção que sentiu após tomar posse do cargo no município. A carga horária imposta a ela é incompatível com o dia a dia de mulheres que possuem o trabalho de cuidado como mães atípicas.

Além de PCD, a redução da jornada de trabalho deveria ser um direito garantido a Mariana, através da Lei n. 13.370/2016, por equiparação. Porém, o Parecer da Procuradoria Geral do Município lhe nega a redução da jornada alegando que “a norma federal mencionada não tem aplicabilidade automática aos servidores públicos do Município de São Lourenço da Mata, salvo expressa previsão em lei local, a qual, até o momento, não existe.” É traço de um retrocesso o fato de até hoje, desde a promulgação da lei federal, não existir previsão de uma lei municipal que abarque mães atípicas.

Em média, conforme dados do IBGE, por meio do estudo “Estatísticas de gênero: indicadores sociais das mulheres no Brasil”, as mulheres se dedicam mais ao trabalho de cuidado do que os homens. As mulheres nordestinas trabalham mais do que o observado em todas as regiões do Brasil, são 23,5 horas semanais dedicadas ao trabalho de cuidado – doméstico – e os homens 11,8 horas (vide quadro abaixo).

O fato da Procuradoria Geral do Município de São Lourenço dar as costas a esses dados, corrobora que as instituições não estão ao lado das mulheres, principalmente aquelas atípicas e PCD.

 

Histórico de perseguição

Para conter a organização dos professores, os gestores das escolas, aliados de Labanca, estão impedindo a categoria de participar das assembleias e das mobilizações.

Com ameaças de descontos no salário e demissões, os professores não têm alternativa senão ficar nas salas de aula. Apesar disso, seguem decididos que a alternativa é a coletividade e a união entre os trabalhadores. A Unidade Popular segue em apoio, trazendo o Jornal A Verdade e a necessidade da organização. Apenas com denúncias políticas e grandes greves, esse projeto de desmonte da educação será impedido.

 

 

MLB participa de audiência para defender terreno do MCMV em bh

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Famílias do MLB resistem a ataques e defendem moradia popular em BH durante audiência pública.

Coordenação do Movimento de Luta nos Bairros Vilas e Favelas (MG)


 

Há 8 anos, nós do Movimento de Luta nos Bairros, Vilas e Favelas (MLB) realizamos a Ocupação Manoel Aleixo, em Belo Horizonte, na luta para que centenas de famílias pudessem ter acesso a seu direito de moradia digna. Sofremos um despejo truculento, desalojando as famílias e deixando vários feridos. Foi aberta uma mesa de negociação para que houvesse reparação às famílias. Após anos dessa luta, elas fazem parte do projeto Minha Casa Minha Vida – Entidades e, ano passado, recebemos o documento que cedia a posse de um terreno na divisa de Belo Horizonte e Sabará, para a construção das moradias populares.

Ataques da extrema-direita

Enquanto o projeto se encontrava travado nas diversas burocracias federais e de financiamento, um grileiro passou a reivindicar o terreno. Vendo o risco de mais uma vez perdermos nossas casas, iniciamos uma vigília para garantir a segurança do projeto. Como resposta, o criminoso abriu uma campanha de ataque e ameaças às famílias, articulando inclusive manifestações racistas e higienistas.

Como se espalhou a notícia pela comunidade, foi mobilizada uma Audiência Pública pelo Ministério Público, para esclarecer sobre a posse do terreno e o projeto do Minha Casa Minha Vida. Na quadra da EMEI Jardim Vitória se reuniram o Ministério Público, a Companhia Metropolitana de Habitação, a Procuradoria de Direitos Humanos de Belo Horizonte, a Defensoria Pública de Minas Gerais, a Superintendência Executiva da Caixa Econômica e os moradores mobilizados pela extrema direita.

Ao chegar, nos deparamos com pessoas vestidas de branco, algumas com bandeiras de Israel. Era quase um recado: como o povo palestino, assassinado e hostilizado pelo estado sionista de Israel, nós deveríamos ser os sem casa, os sem lugar, os expulsos de nossas terras. O clima de tensão e ameaça por parte dos criminosos grileiros era tanto que, a caminho da audiência, vários moradores nos pararam desejando forças e boa sorte, alegando que não iriam estar presentes porque estavam com medo, e que já recebiam ameaças por nos apoiar.

Mesmo após todos os órgãos públicos afirmarem e reiterarem que o terreno é nossa propriedade, que o empreendimento é regular e legal, Tileléo — vereador do Partido Progressista (PP) — tenta organizar um grupo reacionário para não deixar que seja implantado o programa de moradias populares. Sua postura é de organizar o povo pobre para brigar entre si, de modo a defender seus interesses pessoais.

MLB resiste e luta!

Após a Audiência Pública, Poliana Souza, coordenadora do MLB, disse que “não estamos discutindo uma propriedade de alguém, estamos discutindo a propriedade dessas famílias. Essas famílias cometeram um único crime: nasceram pobres. Não tem outro crime”. Logo após, a companheira Caterine Silva, do MLB, completou: “a gente vai vir, e a gente vai trazer infraestrutura para esse bairro. Eles reclamam do ônibus, que o ônibus anda lotado, quando a gente vier pra cá, vamos parar a avenida, vamos parar a BR se for preciso, para trazer melhorias. A gente veio de luta, e não é de hoje, a gente não vai arredar o pé!”.

Hoje, a luta continua para que as famílias da Manoel Aleixo e Vicentão tenham direito à moradia, mas também pelo fim desse sistema que joga nosso povo nas ruas, para morar de favor ou com o peso do aluguel. A cada luta, ajudamos a enterrar o capitalismo apodrecido e avançamos para um novo mundo socialista, sem mais ricos e pobres, sem exploradores e oprimidos, um mundo de trabalho digno e vida justa, para o povo brasileiro, para o povo palestino e para toda a classe trabalhadora.

Despejo violento e ilegal da Ocupação Pedro Nascimento escancara fascismo em Goiânia (GO)

No último dia 7 de setembro, Goiânia amanheceu com uma nova ocupação urbana na região central, denunciando o déficit habitacional e erguendo a bandeira do socialismo. Em homenagem a Pedro Nascimento, morto há 20 anos no massacre da Ocupação Sonho Real. Novamente, o Estado burguês aponta suas armas para o povo pobre e realiza despejo ilegal.

Igor Collaço e Redação GO


LUTA POPULAR – O dia 7 de setembro marca a data da Independência formal do Brasil, uma data que deveria simbolizar a liberdade política do nosso país. Porém, com um déficit habitacional de mais de 6 milhões de domicílios e com famílias despendendo mais de um terço da renda com aluguel, não podemos afirmar que existe independência e nem soberania a serem comemoradas. Por isso, o Movimento de Lutas nos Bairros, Vilas e Favelas realizou 18 ocupações em 15 estados nesta data, incluindo a sua primeira ocupação em Goiás: a Ocupação Pedro Nascimento – Seu Sonho Continua Real!

Escravidão do aluguel e déficit habitacional

Em junho de 2025, Goiânia registrou um aumento de 1,42% no preço do aluguel residencial, o segundo maior entre as capitais brasileiras, número muito maior do que a inflação do período (0,24%). A situação do déficit habitacional também é alarmante: mais de 27 mil moradias!

De acordo com o relatório de 2022 do Ministério das Cidades, o estado de Goiás atinge um déficit habitacional de 211.743 de moradias, representando 8,13% das moradias no estado. Para além disso, o ônus excessivo (quando o aluguel demanda mais de 30% da renda familiar) atinge cerca de 130 mil moradias. Esses dados ainda estão muito abaixo da situação concreta da realidade, como afirma a porta voz da ONG Habitat Brasil Raquel Luquenir, pois não incluem a população em situação de rua e pessoas ameaçadas de despejo.

Continuando o sonho e a luta de Pedro Nascimento

Partida de futebol na Ocupação Pedro Nascimento, Goiânia (GO). Foto: MLB GO

Em revolta à falta de dignidade e impossibilidade de se ter uma vida digna no capitalismo, cerca de 20 famílias da Ocupação São Marcos, organizadas no MLB, e dezenas de militantes do Movimento Correnteza, Movimento de Mulheres Olga Benario e da União da Juventude Rebelião ocuparam um prédio abandonado há mais de oito anos no Setor Oeste, próximo ao Lago das Rosas, fundando a Ocupação Pedro Nascimento na região central de Goiânia.

O homenageado Pedro Nascimento foi um dos grandes líderes da luta por moradia em Goiânia. No dia 16 de fevereiro de 2005, durante a reintegração de posse da Ocupação Sonho Real, no Parque Oeste Industrial, ele foi brutalmente assassinado pelo Estado brasileiro enquanto erguia uma bandeira branca pedindo paz.

Em poucas horas, os ocupantes realizaram a limpeza do primeiro andar do prédio e dos banheiros, garantindo o local da dormida e da creche para as crianças. Na primeira manhã da Ocupação, já se iniciava o cerco policial. O MLB convocou uma plenária para ler a carta de reivindicações, que incluía os pontos:

  1. Abertura Imediata de Negociação: Requeremos que a Prefeitura de Goiânia e o
    Governo de Goiás iniciem imediatamente um processo de negociação com os
    representantes da Ocupação Pedro Nascimento para encontrar uma solução definitiva
    de moradia para as famílias aqui acampadas, começando pela desapropriação deste
    imóvel por descumprimento de sua função social.
    2. Regularização da Ocupação São Marcos: A suspensão imediata de qualquer ameaça
    ou processo de despejo contra os moradores da Ocupação São Marcos e a
    apresentação de um cronograma definitivo e acelerado para a regularização fundiária
    completa de todas as famílias da comunidade.
    3. Fortalecimento do MCMV Entidades: A destinação prioritária e ampliada de
    recursos do orçamento municipal, estadual e federal para o programa Minha Casa,
    Minha Vida Entidades, garantindo que os movimentos populares tenham acesso aos
    meios para construir suas próprias moradias.

Estado realiza violento despejo ilegal e prisões racistas

Durante todo o período da ocupação, uma equipe de advogados populares mediou as negociações com o Poder Público, impedindo o despejo imediato e buscando um acordo que garantiria moradia digna para as famílias da São Marcos, constantemente assediadas e ameaçadas de despejo pelo Estado.

Já nas primeiras horas do dia 07/09, a Polícia Militar cercou a ocupação com mais de 12 viaturas, bloqueando ruas e impedindo o acesso a alimentos, água e doações. Inicialmente, ainda existia a intenção de negociação, com representantes do MLB e parlamentares municipais participando de uma mesa que poderia resultar em uma desocupação pacífica. No entanto, a situação rapidamente se transformou em uso desproporcional e ilegal da força:

A polícia mobilizou cerca de 50 viaturas, um helicóptero, drone e cerca de 200 policiais fortemente armados ao redor do quarteirão e da ocupação. Tornando uma violência ainda mais desproporcional. Tropas de choque invadiram a ocupação sem ordem judicial, estourando cadeados e expulsando famílias. O aparato utilizado incluía helicópteros, viaturas blindadas, motos do Giro, caminhão de bombeiro e policiais armados com cassetetes e spray de pimenta, uma operação militar que não vemos o Governo Fascista de Ronaldo Caiado aplica sequer contra facções criminosas.

As famílias foram forçadas a entrar em um ônibus, supostamente para retorno à São Marcos, mas foram encaminhadas à central de flagrantes com o claro objetivo de amedrontar e constranger uma vez que não passariam por nenhuma ação naquele local. Lideranças do MLB e da Unidade Popular foram presas arbitrariamente durante a desocupação: Guilherme Darques (coordenador do MLB), Gabryel Henrici (presidente da UP Goiás) e Guilherme Martins (militante da UP).

O truculento despejo mostrou a face de um Estado que protege a propriedade privada e interesses do capital em detrimento do direito à vida e à dignidade humana.

Violação de Direitos e Abusos

O episódio apresentou múltiplas violações de direitos:

• Ausência de ordem judicial para desocupação, tornando o despejo ilegal.
• Violação do direito de negociação, já que a mesa estava em andamento quando a tropa de choque invadiu.
• Restrições ao acesso de advogados populares, impedindo a assistência jurídica às famílias e lideranças.
• Condições desumanas para quem aguardava notícias na delegacia: exposição ao sol, falta de alimentação e água, spray de pimenta e intimidação policial.

Tudo isso evidencia o uso da força estatal como mecanismo de repressão social, protegendo interesses privados e negando direitos básicos, como moradia, segurança e dignidade.

Solidariedade e Resistência

Apesar da repressão, o episódio também evidenciou a força da mobilização social:

• O apoio de entidades estudantis, movimentos sociais e mandatos parlamentares foi fundamental para assegurar a soltura das lideranças presas.

• A solidariedade popular e a articulação política demonstraram que a luta por moradia é também uma luta de classe, envolvendo toda a sociedade civil em defesa de direitos negados.

O despejo da Ocupação Pedro Nascimento não foi apenas um episódio isolado de violência policial, mas um sintoma da crise estrutural habitacional e da criminalização da pobreza no Brasil. Ele expõe como o Estado, alinhado aos interesses do capital, reprime quem luta por direitos básicos enquanto deixa imóveis vazios e famílias sem teto.

A resistência do MLB, das famílias e da sociedade civil demonstra que a luta por moradia é uma luta de dignidade, justiça e vida, e que a solidariedade coletiva é a única arma real contra a arbitrariedade do poder.

Este episódio, registrado com todos os abusos e violações, deve servir como alerta e denúncia contra o Estado que nega o direito à moradia, e como inspiração para continuar a luta por um mundo onde ninguém seja deixado sem teto e sem dignidade.

Agressão da polícia e guarda municipal de ocupação do MLB deixa 18 feridos no Rio

A mando do prefeito Eduardo Paes e do governador Cláudio Castro, às famílias e apoiadores foram espancados e despejados do edifício. Crianças, mulheres e idosos sofreram ataques de cassetete, spray de pimenta e bombas. 

Redação


Na manhã de domingo (07/09), cerca de 100 famílias organizadas no Movimento de Luta nos Bairros, Vilas e Favelas (MLB) ocuparam um edifício abandonado no centro do Rio de Janeiro. As famílias deram o nome para a nova ocupação de  “Luisa Mahin – Palestina Livre”.

A mando do prefeito Eduardo Paes e do governador Cláudio Castro, às famílias e apoiadores foram espancados e despejados do edifício. Crianças, mulheres e idosos sofreram ataques de cassetete, spray de pimenta e bombas. 

O cenário de agressão causou 18 hospitalizações, sendo uma das ocupantes internada no Hospital Souza Aguia por múltiplas fraturas, incluindo uma exposta na mão. A ocupante foi operada nesta segunda e o estado de saúde completo não foi divulgado. Além disso, um outro ocupante teve uma bala de borracha alojada no braço, que depois foi retirada do hospital.

Para piorar, os dois políticos estão usando  ataque brutal contra as famílias do Movimento de Luta nos Bairros, Vilas e Favelas para tentar ganhar eleitoralmente nas redes, com mentiras sobre nosso movimento e escondendo a verdadeira pauta que a defesa de moradia digna para o povo pobre e trabalhador no Centro do Rio. 

Entenda a ocupação Luísa Mahin

A ocupação faz parte de uma campanha do Movimento, que realizou 18 novas ocupações em 15 estados anunciadas hoje, Dia da Independência do Brasil. Sob o lema “Não há independência, nem soberania, sem direito à moradia”, a campanha denuncia as mais de 8 milhões de famílias que hoje vivem no déficit habitacional no país e a insuficiência das políticas de habitação. 

A jornada de lutas também denuncia o genocídio do povo palestino, em que mais de 70 mil pessoas foram assassinadas regime sionista israelense, 150 mil foram feridos e 2 milhões de deslocados em Gaza, de acordo com autoridades palestinas e órgãos das Nações Unidas. Além disso, 80% das edificações da Faixa de Gaza foram destruídas por Israel. 

O prédio ocupado pelo movimento é da Secretaria de Patrimônio da União (SPU) e está localizado na Av. Venezuela, 153, próximo ao Cais do Valongo, local de memória do povo negro e declarado patrimônio histórico pela UNESCO. O edifício encontra-se abandonado há anos, mesmo tendo uma proposta de transformar o espaço no “Centro Cultural Rio-África”, de memória da luta do povo negro no Brasil.

De acordo com uma portaria da SPU de agosto deste ano, o prédio está destacado para servir de moradia popular. Dentro do Movimento a proposta é que o espaço cumpra as duas funções: espaço de memória e de moradia. A maioria das famílias ocupantes são negras e vítimas do processo de gentrificação que joga a população trabalhadora para as periferias.

A ocupação recebeu o nome de Luisa Mahin, heroína da luta contra a escravidão e liderança da Revolta dos Malês, em 1835. Mahin é reconhecida também como a mãe de Luis Gama, advogado popular que liderou o movimento abolicionista na segunda metade do século 19.. Assim, como em outros estados, a ocupação também recebeu o nome de “Palestina Livre”, para denunciar o genocídio contra o povo palestino realizado pelo Estado de Israel há 702 dias.