A primeira edição do jornal A Verdade foi lançada em dezembro de 1999, com a manchete “FHC: o professor que virou um grande fazendeiro”. Foram 1.500 exemplares que circularam em cinco estados. Desde então, as ideias defendidas por A Verdade vêm obtendo cada vez mais apoio. O número de leitores cresceu a cada mês e hoje o jornal circula em 20 estados. A tiragem foi crescendo ano a ano e atingiu, em abril, 18.500 exemplares.
Este crescimento permitiu que, após 22 anos, o jornal A Verdade passasse a ser quinzenal. A partir de agora, serão duas edições por mês.
E há mais novidades: A Verdade ganhou um novo projeto gráfico e seu site www.averdade.org.br, após sofrer ataques dos inimigos da democracia, tem novo visual para facilitar a leitura. Em junho, terá ainda um aplicativo para baixar no celular.
Pode parecer pouco para alguns. Mas não é. Enquanto jornais da burguesia deixam de circular e passam a existir somente na internet, A Verdade lança agora duas edições impressas por mês no Brasil. Ademais, A Verdade é um jornal a serviço da classe explorada e oprimida, a imensa classe operária, as massas trabalhadoras. Suas páginas não são vendidas às grandes corporações internacionais e nacionais nem defendem os interesses do capital financeiro, das mineradoras ou do agronegócio. É um jornal dos trabalhadores que luta pela emancipação dos pobres, pelos direitos das mulheres, pela justiça social, democracia popular e socialismo.
Ergue sua voz contra o racismo e em defesa dos povos indígenas e denuncia todos os crimes cometidos pelo Estado burguês. Os princípios de A Verdade são baseados no marxismo-leninismo, no fim da exploração de classes, na solidariedade e fraternidade entre os irmãos trabalhadores e os povos de todo o mundo.
A Verdade é um jornal que se sente honrado em desafiar e lutar contra os poderosos interesses da classe capitalista e pelo fim da escravidão assalariada. É um jornal socialista no seu conteúdo e na sua forma, pois é feito com base na cooperação de centenas de companheiros e companheiras. Leva à prática os princípios definidos pelo grande revolucionário e criador do socialismo científico, Karl Marx: “A função da imprensa é ser o denunciador incansável dos opressores. (…) O dever da imprensa é tomar a palavra em favor dos oprimidos a sua volta. O primeiro dever da imprensa é minar todas as bases do sistema político existente”.
Mas a vitória de A Verdade se transformar num jornal quinzenal não caiu do céu. Foi fruto de um trabalho coletivo e planejado. Um importante Ativo Nacional de Agitação e Propaganda foi realizado no mês passado com dezenas de militantes, além dos ativos estaduais que se seguiram. Semanalmente, a Redação Nacional se reúne, debate as matérias, distribui entre os editores e prepara a próxima edição.
Como tem apoio entusiasta de seus leitores, A Verdade conta ainda com diversos colaboradores que escrevem textos e mandam fotos. Além disso, A Verdade dispõe de centenas de brigadistas, militantes do PCR, da UP e dos movimentos sociais que garantem que ele chegue às mãos do povo.
A Verdade quinzenal é uma vitória da imprensa popular e socialista, uma vitória de todos que nessa caminhada trabalharam para que este sonho se tornasse realidade, uma vitória principalmente para os oprimidos e explorados que terão um jornal ainda mais incansável na denúncia dos opressores, sempre erguendo a bandeira da revolução e do socialismo.
Com A Verdade quinzenal, semearemos mais e organizaremos mais operários e operárias no exército que construirá uma nova sociedade, na qual não haverá pobreza, nem corrupção, fascismo ou exploração. Apesar do fascista e dos generais, A Verdade quinzenal triunfou. Avante, camaradas!
Trabalhadores na audiência de julgamento do registro da UP no TSE, em outubro de 2019 – Foto: Jorge Ferreira / Jornal a Verdade
Jorge Ferreira
Era manhã de uma quinta-feira de outubro de 2019 quando os servidores do Tribunal Superior Eleitoral tiveram que lidar com com uma situação incomum: algumas dezenas de trabalhadores desejavam assistir uma audiência de julgamento. A lotação do plenário com cerca de duzentas confortáveis cadeiras não era o problema, mas os visitantes não estavam com “vestimentas adequadas” que os permitisse estar diante dos ministros.
Naquele dia, homens e mulheres que diariamente acordam cedo e utilizam transporte público lotado para trabalhar, que pegam no pesado para sobreviver, colocaram suas melhores roupas, seus melhores sapatos, alguns cortaram o cabelo, outros usaram o melhor perfume. Era dia de festa. Após dois longos anos e um milhão e duzentas mil assinaturas recolhidas nos trens, nos bairros populares, nas portas de fábrica, e, apesar das dificuldades, registradas em cartórios de vários estados em todas as regiões do país, havia chegado o dia que iniciaria o julgamento do registro da Unidade Popular pelo Socialismo na mais alta corte eleitoral do Brasil.
Com a emoção transbordando em sorrisos largos, representando todos aqueles abnegados trabalhadores que entregaram suas poucas horas livres para cumprir a tarefa histórica de constituir o partido dos pobres, do povo trabalhador, entraram no prédio do TSE para assistir a audiência que reconheceria a legitimidade de todo o processo. Entretanto, a poucos metros do plenário principal do Tribunal, a chefe dos seguranças alerta que não será possível que os visitantes adentrem no local por não estarem vestidos adequadamente. “Onde está escrito isso?”, foi o primeiro questionamento do advogado Thiago Santos.
Thiago Santo, advogado da Unidade Popular, intervindo para garantir o acesso dos trabalhadores ao plenário – Foto Jorge Ferreira / Jornal a Verdade
Daí em diante iniciou-se uma luta contra o tempo. Há poucos minutos de iniciar o julgamento, nem mesmo o presidente do partido, Leonardo Péricles, morador de ocupação, havia conseguido entrar no plenário justamente por estar somente com camisa social, mas sem terno e gravata. “Veja bem, argumentava Thiago Santos, essas pessoas estão justamente com suas melhores roupas, não há ninguém vestido de forma inadequada”. As mulheres que estavam de calça jeans, ao ver o tempo passando e a recusa da chefe dos seguranças, começaram a improvisar saias com cachecóis. Os homens já não mostravam os dentes, uma pequena angústia tomava conta.
Em meio ao embate jurídico da legalidade da exigência de terno e gravata entre o advogado do partido e os servidores, alguns seguranças sensibilizados prometeram irem até o vestiário verificar se tinham terno reserva para emprestarem ao visitantes, mas já alertaram que não haveria para todos. Pouco antes de iniciar a sessão, o advogado do partido conseguiu que a questão fosse levada até a presidente da Casa, à época ministra Rosa Weber. Alguns instantes antes de iniciar o julgamento a entrada foi autorizada.
Foto Jorge Ferreira / Jornal a Verdade
Nesse dia, o procurador eleitoral Humberto Jacques apresentou parecer favorável, e o relator do processo, ministro Jorge Mussi, proferiu votou favorável ao registro alegando que “não poderia ser diferente, já que o partido cumpriu todas as exigências normativas”, entretanto o julgamento foi suspenso por um pedido de vista de um dos ministros, só sendo retomado, aprovado e registrado em dezembro do mesmo ano.
Mas foi exatamente naquele dia, 24 de outubro de 2019, que pela primeira vez o plenário do Superior Tribunal Eleitoral foi ocupado por pessoas sem terno e que, como retrata um grande filme, também não usam “Black Tie”.
Talvez tenha sido duro para os ministros da burguesia olharem de frente homens e mulheres que vivem do próprio suor. Para a Unidade Popular foi um dia histórico, mais um capítulo da emocionante luta pela libertação de milhões de trabalhadores brasileiros.
Fazia frio na tarde dessa quarta-feira, dia 12 de agosto, quando Movimento de Luta nos Bairros, Vilas e Favelas (MLB) organizou na cidade de São Bernardo do Campo um ato contra os despejos de famílias pobres durante a pandemia e em defesa do direito à moradia digna. O ato fez parte de uma agenda nacional de mobilizações que levou às ruas centenas de famílias, em diversas cidades brasileiras, levantando a bandeira do Despejo Zero, uma campanha nacional que unifica movimentos sociais e outros apoiadores na luta pelo fim dos despejos durante a crise da Covid-19.
A manifestação reuniu famílias de vários bairros de São Bernardo do Campo, cidade que sofre com uma política sistemática de despejos por parte do Prefeito Orlando Morando (PSDB), de Diadema, Santo André, Mauá, Francisco Morato, São Matheus e de várias regiões da Capital, além de outros movimentos que se somaram à essa luta, como o Projeto Meninos e Meninas de Rua (PMMR), o Coletivo Democracia Corinthiana, a Torcida Guerreiros do Tigre do São Bernardo F.C., o Movimento de Mulheres Olga Benário, etc. Para Gabriela Mousse, da Democracia Corinthiana: “Eles agem assim [despejos e repressão ao povo pobre] porque se sentem livres para fazer o que querem, não há motivo nenhum para ações desse tipo. Claro, o governo já é fascista e tá rolando uma pandemia, para eles fica mais fácil, por isso temos que ocupar as ruas com mais frequência”.
Foto: Manuelle Coelho / Jornal a Verdade
Alguns trabalhadores vieram de longe, é o caso de Cirilo Conceição, que viajou cerca de 80 quilômetros para poder participar do ato: “Sou de Francisco Morato, uma cidade abandonada pelos governantes. Governantes corruptos e omissos que permitiram que meu filho viesse a falecer. Quem me apoiou não foi nenhum governante, foi o povo, foi o MLB. Convidamos vocês a abraçarem essa causa porque essa é a causa de todos nós trabalhadores, estudantes, que pagamos aluguel, que somos despejados. O governo é o culpado disso, o governo não tá nem aí pra nós, eles querem é matar nossos filhos. Eles abandonam nossos bairros, na minha rua um carro não foi capaz de entrar pra prestar socorro ao meu filho. Eu abracei e vou continuar abraçando o MLB, essa ferramenta dos trabalhadores para lutar por uma moradia digna”.
Foto: Jorge Ferreira / Jornal a Verdade
A marcha, que contou com mais de cem pessoas, ocorreu no fim da tarde e foi da Igreja Matriz, no centro da cidade, até o Paço Municipal, em uma caminhada pacífica de mais de uma hora, mantendo o distanciamento social, o uso de máscaras e todos os cuidados relativos à pandemia da Covid-19 e sem qualquer tipo de conflito, sendo inclusive apoiada pela maior parte da população que transitava pela cidade, de carro, de ônibus ou a pé. Segundo Daniela, que constrói o MLB no bairro Detroit, em São Bernardo: “Essa manifestação é muito importante, estou aqui não só por mim, mas pelas minhas filhas e pela minha comunidade. Aprendi com o MLB que nós precisamos lutar, assim como fizeram os escravos, que se revoltaram e hoje são libertos. Mas ainda existe uma escravidão pra gente vencer e por isso estamos na luta”.
A organização do ato realizou um acordo com a Guarda Civil Municipal (GCM) e com a Polícia Militar, para que a manifestação fosse encerrada no Paço Municipal com uma assembleia das famílias que cobravam o seus direitos. No entanto assim que os primeiros militantes do movimento entraram no Paço, carregando uma faixa com os dizeres “Despejo Zero, Morar é um Direito”, a GCM descumpriu o acordo e atacou covardemente três Coordenadoras do MLB que carregavam a faixa, desferindo empurrões, socos e utilizando spray de pimenta sobre as mulheres; rapidamente um conjunto de famílias se aproximou, afastou os políciais e organizou um cordão de isolamento para impedir novas agressões.
Ao todo foram mobilizadas cerca de 30 viaturas entre GCM e Polícia Militar com o objetivo de impedir a continuação do ato através de uma ação agressiva e completamente desproporcional, descumprindo um acordo feito minutos antes, alegando que o movimento estava proibido de adentrar o Paço Municipal carregando qualquer tipo de bandeira ou faixa e demonstrando o caráter repressivo do Estado contra os trabalhadores, os pobres e os lutadores sociais que cada dia fica mais intenso no Brasil. As famílias conseguiram assegurar o direito de realizar sua assembleia no local e em alguns minutos de diálogo e de muita agitação política contra as injustiças do sistema capitalista, o sistema dos ricos que durante a pandemia promove o crescimento do patrimônio dos bilionários exploradores e o empobrecimento geral daqueles que vivem do próprio trabalho, decidiram encerrar a manifestação, prometendo que voltarão às suas cidades e bairros e organizarão ainda mais pessoas para lutar pela Reforma Urbana e pelo Socialismo. Segundo Thais Gasparini, uma das Coordenadoras Estaduais do MLB agredidas pela GCM: “Essa repressão, esse uso da violência para calar quem se manifesta é um espelho do que acontece na periferia, em que essa mesma GCM é utilizada pra derrubar as casas do povo pobre. Isso precisa acabar, por isso nos manteremos firmes na luta, cada dia maiores, combatendo a exploração, a especulação imobiliária e a política dos ricos, dos latifundiários e dos banqueiros”.
Para Arnor, membro do MLB do bairro do Divinéia, em São Bernardo: “O ato foi muito bom, muito bonito, temos que seguir lutando. Já precisamos marcar a próxima passeata”.
No capitalismo, as guerras são fruto da concorrência entre as classes dominantes de diferentes nações pelo domínio do planeta. Na Primeira Guerra Mundial, formaram-se dois blocos imperialistas opostos: Tríplice Aliança (Impérios Alemão, Austro-Húngaro e Turco-Otomano) e a Tríplice Entente (Impérios Inglês, Francês e Russo).
O sol nasce vermelho
Algo novo, entretanto, surgiu durante a Primeira Guerra Mundial: a revolução socialista de outubro de 1917, na Rússia; nova cisão ocorria no mundo, agora dividido em dois sistemas adversos: o capitalismo e o socialismo.
Os dois blocos capitalistas passaram a ter um objetivo comum: a destruição do primeiro Estado operário-camponês da história, em vista da restauração do capitalismo em escala global. Foi com este propósito que o bloco vencedor investiu na economia alemã 15 bilhões de marcos em seis anos (1924-1929).
Quando o nazismo se apossa da Alemanha e explicita seu intento de domínio mundial, as potências capitalistas dominantes não tratam de combatê-lo. Ao contrário, fecham os olhos às suas agressões e até incentivam o monstro nazista a direcionar seu ataque contra a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS).
Em 1939, a URSS propôs à Inglaterra e França um pacto para ações militares conjuntas se os países do Eixo (Alemanha, Itália e Japão), bloco nazifascista, iniciassem a guerra na Europa. Não houve rejeição formal, mas nenhum passo foi dado por parte dos países capitalistas para concretizar o pacto. Ao contrário, França e Inglaterra firmaram com Alemanha e Japão acordos de não-agressão. Deixada sozinha, em agosto de 1939, a URSS assinou com a Alemanha um tratado de não-agressão. Os dirigentes sabiam que, mais cedo ou mais, tarde Hitler romperia o acordo, mas conseguiram ganhar um tempo valioso para transferir parte de suas indústrias para o leste do grande território soviético, bem como reforçar sua capacidade de defesa militar.
De 1938 a 1941, Hitler ocupou Áustria, Checoslováquia, Polônia, Bélgica, Holanda, Dinamarca, Noruega, Grécia, Iugoslávia e finalmente a própria França. Na Europa central e oriental, a Alemanha adquiriu imensa quantidade de material de combate, meios de transporte, matérias-primas, materiais estratégicos e força de trabalho, tornando-se forte o suficiente para atacar a URSS.
Hitler, no livro MeinKampf(Minha Luta), proclamou: “…tratando-se de obter novos territórios na Europa, deve-se adquiri-los principalmente à custa da Rússia”.
A invasão hitlerista foi impiedosa. “Fuzilavam em massa as pessoas (mulheres, crianças, idosos, montavam campos de morte, deportavam para trabalho forçado na Alemanha. Por onde passavam, não deixavam pedra sobre pedra”. Era a política do extermínio. “Eu tenho o direito de destruir milhões de homens de raça inferior que se multiplicam como vermes” (Hitler).
Em resposta, o governo, o Partido Bolchevique e o povo soviético lançaram a palavra de ordem: “Morte aos invasores fascistas, tudo para a frente! Tudo para a vitória!”. Às fileiras do Exército Vermelho se integraram milhões de homens. Criaram-se também inúmeros regimentos de milícia popular, contando com dois milhões de combatentes.
Formou-se ainda na retaguarda uma força guerrilheira massiva. A dedicação e bravura do povo soviético comoveram o mundo e foram decisivas para quebrar a resistência capitalista (EUA, Inglaterra, França). Formou-se finalmente o bloco aliado, antifascista, a frente única dos povos pela democracia.
Caíra por terra a ideia de Hitler de que a ocupação da URSS seria um passeio uma “guerra relâmpago”. Os nazistas não imaginavam a resistência que encontrariam nas principais cidades: Leningrado, Stalingrado, Kiev e Moscou, entre tantas. Homens, mulheres, idosos e crianças se ergueram como muralha inexpugnável.
Os feitos do povo soviético repercutiram no mundo inteiro, levando um jornal burguês como o STAR, de Washington, a publicar: “Os sucessos da Rússia na luta contra a Alemanha hitleriana revestem-se de grande importância não só para Moscou e o povo russo, como também para Washington, para o futuro dos Estados Unidos. A história renderá homenagens aos russos por terem suspendido a guerra relâmpago, pondo em fuga o adversário”.
Em junho de 1942, os invasores avançam, mas encontram uma barreira instransponível em Stalingrado. Durante sete meses de combate, os invasores perderam 700.000 soldados e oficiais, mais de mil tanques, dois mil canhões e morteiros, 1.400 aviões. Os invasores eram tecnicamente superiores, mas, em novembro de 1942, os números já se invertiam em favor dos soviéticos. Os alemães estavam com 6.200.000 soldados, os soviéticos com 6.600.000; 5.000 tanques invasores contra 7.000 soviéticos; 51.000 peças e morteiros contra 77.000.
Na derrota do Stalingrado, os nazistas perderam 1,5 milhões de soldados e oficiais. “… Do ponto de vista moral, a catástrofe que o exército alemão sofreu nos acessos de Stalingrado teve um efeito sob o peso do qual ele não pôde mais reerguer-se”. (A segunda guerra mundial, B.Lideel Hart)
Depois, ocorreu a vitória do Cáucaso e se iniciou processo de expulsão em massa dos ocupantes nazistas. “A União Soviética pode orgulhar-se das suas heroicas vitórias”, escreveu o presidente dos EUA, Franklin Roosevelt, acrescentando: “…os russos matam mais soldados inimigos e destroem mais armamentos do que os outros 25 estados das Nações Unidas no conjunto”.
O final de 1943 marca a virada na frente soviética e na Segunda Guerra em geral. O movimento contra o nazifascismo se consolidou e se ampliou em todo o planeta.
Em junho de 1944, com o exército alemão batido em todas as regiões da URSS, as tropas anglo-americanas desembarcaram no Norte da França, dando início à frente ocidental proposta pelo governo soviético desde o início da invasão.
Pode-se dizer que a essa altura a guerra estava decidida, diante da derrota alemã na Rússia. O próprio Winston Churchil, primeiro-ministro britânico, reconhece o papel fundamental dos soviéticos, no discurso pronunciado na Câmara dos Comuns, em julho de 1944: “….Considero meu dever reconhecer que a Rússia mobiliza e bate forças muitíssimas maiores que as enfrentadas pelos aliados no Ocidente, que, há longos anos, ao preço de imensas perdas, ela suporta o principal fardo da luta em terra”.
Um exército libertador
Apesar de imensas perdas, o Exército Vermelho avançou no encalço dos alemães pela Europa Oriental adentro, fustigando os nazistas e auxiliando as forças populares da resistência a derrotarem os ocupantes e seus colaboradores internos. Repúblicas democrático-populares foram instaladas com os partidos comunistas à frente na Polônia, Hungria, Iugoslávia, Checoslováquia, Romênia e Bulgária.
“Para Berlim!” era a palavra de ordem do exército libertador. Não foi um passeio. A resistência nazista, embora enfraquecida, produzia encarniçados e sangrentos combates. Os russos vitoriosos não mataram, não pilharam, não se vingaram dos crimes cometidos pelo exército alemão no solo soviético. Ao contrário, alimentaram os famintos, organizaram a assistência médica, o funcionamento dos transportes, a distribuição de água e de energia elétrica. A 2 de maio de 1945, o Comando Supremo alemão assinou o ato de capitulação incondicional das forças armadas, com a bandeira da URSS tremulando no alto do parlamento alemão, em Berlim. No dia 09 de maio, houve um imenso ato em Moscou em comemoração ao fim da Grande Guerra Patriótica (como os soviéticos denominaram sua participação na Segunda Guerra Mundial) e, desde então, até hoje, celebra-se na Rússia esta data como o Dia da Vitória.
Sob novos céus
Terminada a guerra na Europa, era preciso voltar-se para a Ásia. O Japão, aliado dos nazistas dominava milhões de pessoas na China, na Coreia, nas Filipinas. Apesar de as forças armadas dos EUA e da Inglaterra virem imprimindo sucessivas derrotas, as forças japonesas ainda eram numerosas e fortes. De vez em quando, elas atacavam as fronteiras da URSS e torpedeavam navios soviéticos em alto-mar.
No dia 8 de agosto de 1945, a União Soviética declarou guerra ao Japão e começou a ofensiva. Nesse mesmo dia, o primeiro-ministro japonês, Teiichi Suzuki afirmou: “…A entrada da URSS na guerra hoje de manhã põe-nos definitivamente numa situação sem saída e torna impossível continuar a guerra” . Estava certo. No final do mês, o Exército nipônico havia perdido 677 mil soldados e oficiais: 84 mil mortos e 593 mil prisioneiros.
Ao contrário do que muitos pensam, e a historiografia burguesa busca difundir, não foram as bombas estadunidenses lançadas no início de agosto contra Hiroshima e Nagasaki que provocaram a capitulação japonesa. A guerra continuou normalmente depois do ataque bárbaro e covarde. A rendição resultou do destroçamento do exército nipônico pelas tropas soviéticas.
Se alguém duvida, leia o testemunho do general Chenault, que chefiou as forças dos EUA na China: “…A entrada da URSS na guerra contra o Japão foi o fator decisivo para o fim da guerra no Pacífico, o que sucederia mesmo sem o emprego de bombas atômicas. O rápido golpe desferido pelo Exército Vermelho sobre o Japão fechou o cerco que pôs finalmente o Japão de joelhos”.
O Exército Vermelho contribuiu ainda para a expulsão dos nazistas da China e da Coreia. O sacrifício do povo soviético foi inestimável. Mas valeu a pena porque livrou a Humanidade da besta nazista. Foi também a vitória do socialismo que saiu da Segunda Guerra triunfante em toda a Europa Oriental e na China.
Por todos, valeu a carta de agradecimento enviada pelo povo coreano a Josef Stalin, comandante supremo das forças soviéticas: “… Os combatentes soviéticos chegaram não como conquistadores, mas como libertadores. Emancipada da escravidão, a nossa pátria respirou livremente. O céu apareceu-nos radioso. A nossa terra floresceu. Jorraram canções de liberdade e felicidade…”.
José Levino, historiador
Fonte de pesquisa: O Grande Feito do Povo Soviético e do Seu Exército. VassiliRiábov, Edições Progresso, Moscou,1983.
Enquanto milhões de brasileiros estão em isolamento ou distanciamento social devido à pandemia da Covid-19, o capitão reformado Jair Bolsonaro e seus puxa-sacos vivem um imenso isolamento político. A reprovação a seu governo já alcança quase 70%, suas Medidas Provisórias, sem apoio, caducam no Congresso Nacional e o Supremo Tribunal Federal (STF) decidiu que não é função do presidente desrespeitar governadores e prefeitos. Nos embates que travou com o ex-ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, ficou em minoria nas reuniões do seu Ministério. Teve que levar um de seus filhos para dentro do Palácio Planalto para poder conseguir ouvir diariamente: “Pai, você é o rei”.
E os fatos mostram uma dura realidade: após quase um ano e meio no governo, o capitão reformado, apesar de controlar um Orçamento Federal de R$ 4 trilhões, não construiu nenhum hospital público nem universidade. Tampouco ampliou o acesso da população ao saneamento ou construiu casas populares. O desemprego e o número de famílias vivendo na extrema pobreza cresceram enormemente no seu desgoverno. Usou todo o dinheiro público para enriquecer os especuladores, os banqueiros e permitir a remessa de bilhões de dólares do Brasil para os EUA.
O povo brasileiro, vendo que o capitão reformado é incompetente, antidemocrático e totalmente subserviente ao EUA, passou a reprovar seu governo em todas as regiões. Segundo o Instituto Datafolha, 17% de seus eleitores se arrependeram de ter votado nele.
Diante dessa crescente rejeição da população, o capitão reformado e seus filhos resolveram apelar para a velha política: recorrer às Forças Armadas, em particular ao Exército, para impor um regime ditatorial no país.
Assim, foram marcadas as carreatas e atos para o dia 19 de abril, dia que é considerado Dia do Exército. O Exército, seu comandante geral e o Alto Comando sabiam do ato e deram total permissão para que Bolsonaro e seus puxa-sacos o realizassem com dezenas de faixas encomendadas e com dezenas de assessores de deputados e de pessoas que ocupam cargos de confiança no governo, os conhecidos “aspones”.
No entanto, os atos foram um fracasso. Em São Paulo, dezenas de carros luxuosos, acompanhados de várias motos, algumas delas que custam mais de R$ 50 mil reais, foram verdadeiramente “ovacionadas”, isto é, receberam ovos e tomates dos prédios por onde passavam. Em Brasília, apenas algumas centenas de pessoas atenderam ao chamado de Bolsonaro e, se retirarmos os assessores da conta, fica uma ridícula minoria. Pior: após o ato, nove pessoas deram entrada em hospitais de Brasília com suspeita de Covid-19.
Pois bem, com o repúdio nacional à fala de Bolsonaro em frente ao Quartel General do Exército em Brasília, os generais passaram a dizer em off a jornalistas que não concordavam com aquele discurso defendendo um golpe militar e a volta do AI-5 e pediram ao capitão para “baixar o tom”. Na manhã desta segunda-feira, 20 de abril, um irritado e nervoso presidente, com suas mãos trêmulas (lembrando Hitler no filme A Queda), tentou desdizer o que tinha dito. Mas, revelando sua natureza fascista, parafraseou o rei Luís XIV, e declarou: “Eu sou a Constituição”.
Os fascistas e a grande a burguesia nacional e internacional olham a história do Brasil, observam os inúmeros golpes militares que aconteceram e acham que é fácil dar um golpe militar em nosso país e impor a censura à imprensa, torturar os que discordam, assassinar e esconder os corpos dos patriotas e democratas ou jogá-los no mar. Pensam que assim terão a paz dos cemitérios dizendo que o “Brasil vai pra frente, ame-o ou deixe-o” e que a ditadura militar é o melhor regime para governar um povo rebelde, como é o brasileiro.
Mas, senhores e senhoras fascistas, ensina a filosofia dialética que, se houve tantos golpes militares assim no Brasil é porque nenhum conseguiu se manter eternamente. Ou melhor, todos foram derrotados nas ruas pelos trabalhadores, pelas mulheres, pelos jovens, pelo povo brasileiro. Duvidam? Então terão que ouvir novamente nosso povo nas ruas desfilando e cantando: “Amanhã vai ser outro dia!” ou “Você não gosta de mim, mas sua filha gosta!”.
Passeata em São Paulo contra a Reforma da Previdência. Foto: A Verdade
Por Wanderson Pinheiro e Leonardo Péricles
1 – O Brasil e a questão internacional
O chamado neoliberalismo se aprofundou no Brasil nos anos 1990, primeiro no Governo Collor e depois durante os dois governos de Fernando Henrique Cardoso. Na verdade, tratou-se de uma maior submissão das economias nacionais com abertura dos mercados, iniciada no Chile e na Argentina, diante de um crescimento da exportação de capitais e maior domínio do capital financeiro internacional sobre as economias nacionais latino-americanas. Foi um período de ampla hegemonia dos EUA, encoberto sob o discurso da globalização.
A queda brusca dos impostos de importação e exportação, o fim do controle de capital e a isenção de impostos para a sua movimentação, a adoção de uma política cambial ancorada no dólar, o achatamento salarial dos trabalhadores e a privatização das principais empresas estatais foram as medidas centrais que tiveram consequências estruturais perversas para a economia nacional.
No entanto, o que se desenvolve de fato são as características do imperialismo capitalista, com o aprofundamento da financeirização do capital monopolista e uma gigantesca exportação de capitais por diversas vias. O capital se expande permanentemente, destruindo as economias nacionais, promovendo o desemprego e a redução salarial, para extrair mais-valia extraordinária e, assim, buscar manter sua taxa de lucro. Neste sentido, falar apenas contra o neoliberalismo e aceitar o capitalismo é propor aceitar a exploração dos trabalhadores, a manutenção da escravidão assalariada e sua expressão política, a democracia burguesa.
Além da política neoliberal praticada pelo imperialismo dos EUA, sofremos uma ação neocolonialista brutal, com a “elite nacional” sendo subornada e praticando a corrupção. Este fato foi evidenciado no processo de privatização, tendo boa parte dos recursos sido desviada para o “caixa 2” das campanhas eleitorais de 1998, mantendo FHC no governo.
Outro objeto de controle da nação foi a dívida pública. Com o aumento dos juros para conter a inflação, os novos financiamentos recebidos do FMI aumentaram em muito as dívidas externa e interna, ampliando a dependência do Brasil ao capital financeiro dos EUA. A abertura financeira ocasionou ainda o aumento da dívida interna, pois era extremamente favorável para o capital financeiro especular com a alta de juros (a taxa Selic atingiu 45,67% ao ano, em 1997), com controle do câmbio e livre movimentação de capitais.
Resumindo: ocorria uma espoliação financeira terrível devido à política de total submissão às ordens do dito “Consenso de Washington” praticada pelo governo brasileiro.
Essa abertura gerou também a quebra de milhares de empresas nacionais. As pequenas e médias empresas foram as mais atingidas, mas também grandes empresas foram à falência, iniciando o processo de desindustrialização nacional. Porém, um setor com maior acúmulo de capital, a grande burguesia interna, que fez o acordo com a burguesia estadunidense, teve lucros crescentes e caminhou para expandir seus negócios para o exterior. Setores como o do agronegócio, da construção civil e dos frigoríficos, tornaram-se grandes empresas internacionais e, a partir desse acordo, passaram a expandir-se para a região do Mercosul.
Outros setores foram se associando ao capital estrangeiro, seja na aquisição das importantes empresas estatais que foram privatizadas (setores de minério, siderúrgico, energia, etc.) ou de indústrias e serviços privados para o investimento dos capitais internacionais. Tornaram-se, assim, um setor submisso ao capital internacional e aos ditames da Organização Mundial do Comércio (OMC).
Entre os anos de 2003 a 2010, vivenciamos o Governo Lula e, de 2011 a meados de 2016, o Governo Dilma. Foi um período de hegemonia petista, considerado por alguns como desenvolvimentista ou neodesenvolvimentista, mas teve como base a diversificação da dependência nacional, principalmente em relação ao crescimento das exportações para a China, pautado também pelo investimento público feito nas empresas públicas e privadas, e pela ampliação do consumo da população com base numa grande oferta de crédito.
Esse processo de consumo levou a um relativo desenvolvimento da indústria naval, da construção civil, do agronegócio e da pecuária, propiciando o crescimento do lucro da grande burguesia e do capital financeiro. Porém, sendo um desenvolvimento com base no crescente endividamento e submetido aos interesses da grande burguesia nacional e mundial, terminou por esgotar-se com o aprofundamento da crise do capitalismo mundial.
Na verdade, o governo praticou uma política neodesenvolvimentista, mas manteve a hegemonia do capital financeiro, aprovando leis em seu benefício, como a lei de garantia de empréstimos com descontos em folha. A “Carta aos Brasileiros”, no início do primeiro mandato de Lula, foi, no fundamental, uma mensagem ao mercado financeiro internacional em que o presidente se comprometia a manter todos os acordos anteriores, não mexer no processo das privatizações, manter o controle da inflação, garantir o pagamento da dívida pública com altos juros e ampliar seus benefícios. Isso significou, na prática, a manutenção da política neoliberal.
Além de não ter revogado nenhuma das corruptas privatizações do Governo FHC, o PT realizou novas: privatizou portos, aeroportos e rodovias, além de fazer leilões de campos de petróleo para empresas estrangeiras. Porém, com o pré-sal (considerado o bilhete premiado), alterou o regime de exploração, mantendo os leilões em outros termos. Assim, a Petrobras foi um poderoso instrumento para desenvolver a política neodesenvolvimentista, promovendo investimentos em refinarias e alavancando a indústria naval brasileira e a construção civil. No entanto, o PT não reverteu a abertura de capital da Petrobras e esta permaneceu influenciada pesadamente pelos acionistas internacionais e pelo mercado.
A crise da era petista se iniciou em 2014, no final do primeiro Governo Dilma. A crise econômica chegou ao Brasil e ficou evidente que a política neodesenvolvimentista não conseguiu resolver os problemas estruturais do país, principalmente por não suspender o pagamento dos juros da dívida pública e manter a espoliação do capital financeiro e a dependência em relação ao agronegócio. Por outro lado, a relação com a China, que trouxe a ampliação da venda de commodities a níveis altos e a abertura para importação de produtos de toda ordem, gerou uma maior desindustrialização e dependência do setor externo. Essa troca desigual trouxe enormes benefícios para a grande burguesia do agronegócio, da mineração, da pecuária, da construção civil, etc., mas, como sempre, bastou uma oscilação do mercado internacional para tudo ir abaixo.
Realmente, a crise mundial se aprofundou com reduções seguidas de crescimento da economia chinesa. A China, mesmo possuindo enormes monopólios e rivalizando o comércio internacional com os EUA, não ficou de fora da nova crise de superprodução relativa que dificultou a realização de seu capital mundialmente. É importante notar que essa crise e a disputa de mercados continuam a se desenvolver, ameaçando agora entrar num período mais profundo, como afirmou recentemente a OMC. Sem ter como exportar mais mercadorias e com o superacúmulo de capital, a China avança a financeirização da sua economia.
Vejamos o que se sucedeu de 2007 a 2015. A China chegou a crescer 13%, em 2007, e o mercado de commodities brasileiro teve uma alta considerável. Em 2010, a China teve mais uma queda no seu PIB para 10,4%. Em 2015, relatório do FMI dizia que a China diminuiria o crescimento para 6,8%, a menor taxa anual do país dos últimos 25 anos. A queda da economia brasileira foi quase automática. Dilma Rousseff, que tomou posse para o segundo mandato no dia 1º de janeiro de 2015, permaneceu no posto apenas um ano e meio.
A crise ocasionada pela redução da produção da China fez cair enormemente o preço das commodities e reduziu os lucros da grande burguesia. Sendo pragmática, a burguesia, que há pouco havia colocado o gorro “comunista” na cabeça para adular o imperialismo chinês, pulou do barco e abandonou Dilma, definitivamente afastada do cargo em agosto de 2016.
O impeachment de Dilma teve ainda um elemento geopolítico. Os EUA usaram todo o seu poder para manter o país como sua área de influência, pois, mesmo sabendo que o PT atendia ao capital financeiro e pagava religiosamente a dívida pública, o avanço da crise do capitalismo mundial exigia ainda mais submissão. Vale salientar que a UP, ao mesmo tempo em que estava em processo de construção, esteve nas ruas lutando e denunciando este golpe.
Da mesma maneira, resistindo à quebra da sua hegemonia em nível internacional, os EUA lançaram o Tratado Transpacífico (TPP), que tinha como objetivo enfraquecer a China. Porém, após a eleição de Trump, os EUA se retiraram do TPP e adotaram como tática acordos bilaterais. Depois, abriram uma guerra comercial direta com a China, levantando barreiras às mercadorias chinesas, o que dura até hoje.
Assim, os EUA intervieram no Brasil com o objetivo de retirar o PT do governo para garantirem no poder um aliado subserviente. Financiaram e corromperam o judiciário brasileiro, apoiaram a fabricação da “Operação Lava-Jato”, que levou Lula à cadeia e promoveu a eleição de Bolsonaro. Da mesma maneira, os EUA disputam a Venezuela, com ações de bloqueio econômico e ameaça de invasão, e a Bolívia, onde promoveram um golpe fascista. Aparentemente, existe uma disputa entre forças reformistas liberais e o neoliberalismo fascista no continente, que tem como pano de fundo as disputas entre as duas propostas para conduzir o mundo capitalista.
Também era importante para os EUA ter o Brasil, principal país da América do Sul, como sua área de influência estratégica. Tendo como objetivo central na América Latina a derrubada do Governo Maduro e não obtendo sucesso pela via “pacífica”, intensificou o bloqueio econômico e buscou envolver o Brasil e a Colômbia numa aventura imperialista contra a Venezuela. Trata-se claramente de uma estratégia neocolonialista, que visa a usar tropas de outros países, mas mantendo o objetivo de conquista e ainda lucrando com a guerra.
A China é hoje a segunda potência econômica mundial e busca acumular forças na disputa pela hegemonia no planeta, fato que leva ao acirramento de contradições interimperialistas. Antes apenas exportadora de manufaturas, a China está alcançando o mais elevado grau de tecnologia, uma enorme acumulação de capital e intensificando a fase de exportação de capitais. No momento, essa exportação ocorre por meio do financiamento de infraestrutura nos países em desenvolvimento, investimentos financeiros, compra de títulos do Tesouro estadunidense, empréstimos e investimento direto.
O processo de exportação de capitais parece ser a ponte para uma defesa militar das áreas de influência econômica. Por isso, a China tem hoje o segundo maior gasto militar do planeta e já instala bases militares internacionais, sendo que a primeira foi estabelecida na África. Na América Latina, a China tem grandes investimentos, sendo o principal parceiro comercial de diversos países, inclusive do Brasil. Por isso, investem pesadamente em grandes porta-aviões, jatos, armas nucleares, e já superam os Estados Unidos em alguns aspectos tecnológicos.
Para termos uma noção, o país asiático investiu no Brasil, do ano de 2007 a 2018, US$ 57,9 bilhões em 145 projetos voltados principalmente para o setor de geração, transmissão e distribuição de energia elétrica. Os investimentos, no último ano, foram especialmente diretos, sendo 50% realizados em empresas construídas a partir do zero. Mas 42% foram investimentos em fusões e aquisições. Segundo o embaixador da China no Brasil, Yang Wanming, a China está aumentando a abertura do setor financeiro, de serviços, da agricultura, mineração e manufatura. Estima-se que o investimento chinês no próximo ano ultrapasse os US$ 10 bilhões.
A China mantém os investimentos mesmo no Governo Bolsonaro e, embora reaja às declarações do filho dele de forma dura, o pragmatismo do capitalismo chinês projeta grandes investimentos nas áreas de a) energia, da ordem de R$ 24,7 bilhões em quatro projetos (hidroelétrica, termonuclear e transmissão); b) ferrovias, R$ 29,1 bilhões em quatro projetos (2.800 km); c) óleo e gás, R$ 117,5 bilhões em quatro projetos; d) portos, com R$ 5,9 bilhões em 16 projetos; e) aeroportos, R$ 2,1 bilhões em dois projetos.
Por outro lado, embora Trump afirme que apoia Bolsonaro e ambos troquem elogios ideológicos em público, os EUA não fazem nada do ponto de vista financeiro para apoiar o governo brasileiro. O investimento dos EUA no Brasil foi pequeno em 2019: o valor foi de US$ 2,2 bilhões, menor que o de 2017, quando o montante correspondeu a US$ 2,9 bilhões. Os compromissos firmados se restringiram a acordos antinacionais e militares, como a entrega da Base Espacial de Alcântara, no Maranhão, e um acordo que transforma o Brasil numa força auxiliar do Comando Sul dos EUA, tornando-se um aliado extrarregional da OTAN. Ou seja, um acordo militar subserviente, que coloca o Brasil como mais uma base de operação militar dos EUA na região.
Como vemos, Bolsonaro segue cegamente o imperialismo norte-americano, pois, como fascista que é, em um país de economia altamente dependente e submissa como é o Brasil, seguirá a linha fascista de Trump para apoiar-se internacionalmente no império dos EUA. Bolsonaro é um representante da grande burguesia[1] e dos militares fascistas, que se declaram abertamente submissos ao capital estadunidense, não possuindo sequer um verniz de nacionalismo.
2 – Desenvolver a consciência das massas populares, aumentar o isolamento de Bolsonaro e criar as condições para derrubar o governo
O 8 de março foi a última grande manifestação nacional antes da pandemia. Foto: A Verdade
Diante da crise do coronavírus e da projeção de uma crise econômica mais profunda nos próximos meses, setores da própria burguesia (como evidenciou editorial recente do Financial Times) falam que os governos devem ajudar a economia promovendo investimentos e renda para os mais pobres, ou seja, praticar uma política antiliberal para ajudar a cobrir os prejuízos da própria burguesia. Bolsonaro, no entanto, insiste em manter o arrocho salarial, cortar salário dos servidores e seguir a retirada de direitos a ferro e fogo. Assim, quer ser mais realista que o rei e promover a política neoliberal dos banqueiros e do capital financeiro estadunidense a todo custo.
Por tudo que fez desde o início do governo, como retirada de direitos dos trabalhadores, congelamento dos salários, desemprego e venda do patrimônio público, Bolsonaro tem um enorme desgaste, que tende a crescer com o aprofundamento da crise do coronavírus e a demissão de Luiz Henrique Mandetta do Ministério da Saúde. As mortes que se multiplicam evidenciam que a retirada dos recursos públicos da saúde foi um crime de lesa-humanidade. Também a insistência de Bolsonaro contra o isolamento social e de que a Covid-19 é apenas um “resfriadinho” trarão consequências desastrosas para a população. Hoje já temos quase 70% da população contra esse governo.
Porém, não vivemos em uma democracia popular, em que a maioria do povo é que decide. Vivemos debaixo de um governo de fascistas que tem como principais ministros generais da ativa e da reserva. Também é um governo que representa os interesses da grande burguesia, que é uma ínfima minoria da sociedade e, por isso, teme o movimento operário e popular e tende ao fascismo, principalmente em momentos de crise.
Portanto, não devemos subestimar a possibilidade de o atual governo, sob o pretexto de o país viver uma calamidade pública, promover um golpe e decretar um estado de sítio. Para isso, os fascistas não precisam de apoio da maioria da população, basta contar com apoio das Forças Armadas e de uma parcela reduzida da população disposta a ir às ruas nos seus luxuosos carros. Lembremos ainda que o governo dos EUA, aliado de Bolsonaro, pratica uma política fascista que impulsiona correntes desta natureza na Europa e na América Latina.
Em almoço realizado na sede da FIESP, no último dia 03 de fevereiro, para os 250 maiores industriais de São Paulo, com a presença de Bolsonaro, o presidente da entidade, Paulo Skaf, afirmou que “O Brasil não está dando certo. O Brasil já deu certo”, declarando, assim, o apoio da grande burguesia ao fascista. Este apoio é firmado especialmente na política de Paulo Guedes, que promoveu a reforma trabalhista, a reforma da Previdência e dá continuidade, em meio à crise do coronavírus, a propostas como a Carteira de Trabalho Verde e Amarela e a retirada de direitos dos servidores públicos. Assim, o apoio ao fascista está condicionado à agenda de retirada de direitos que assegure a maior extração de mais-valia dos trabalhadores.
O fascista também tem o apoio da Confederação Nacional da Agricultura e Pecuária (CNA), representada por João Martins, que também é parte da minoria dos exploradores e representa a grande burguesia agrária. Em setembro de 2019, momento em que Bolsonaro fez um ridículo discurso na ONU exaltando a ditadura militar de 1964, Martins afirmou que Bolsonaro o representou, fazendo excelente discurso: “Defendeu a soberania nacional, esclareceu equívocos sobre a Amazônia e ressaltou o importante papel do Brasil na produção mundial de alimentos e na preservação do meio ambiente. Também afastou a tese de que o governo está colocando o mundo contra o agro brasileiro, defendendo não apenas o setor, mas toda a nação”.
Vale lembrar que esse foi o momento em que a Amazônia estava em chamas e que o agronegócio foi um dos principais responsáveis por este crime contra a natureza. Mas vejamos que, apesar da reafirmação do apoio da grande burguesia, os meses vão se passando e fica evidente a cada dia que o governo Bolsonaro vem se enfraquecendo e perdendo apoio popular. Porém, será defendido para que fique no poder por essa minoria enquanto for útil para a grande burguesia.
Nesse momento, apresentam-se algumas propostas políticas para retirada de Bolsonaro da presidência. O impeachment é uma delas. No entanto, com um Congresso Nacional altamente reacionário e antipopular como o atual, a única forma de forçar o impeachment seria a realização de grandes manifestações nas ruas. Mas, no momento, devido ao crescimento do número de mortes pela Covid-19, esta possibilidade não é viável. Desse modo, apostar que um Congresso Nacional que aprova leis contra os trabalhadores vai aprovar o impeachment sem o povo nas ruas é ignorar o papel das massas na luta política e propagar ilusões parlamentaristas.
Outra proposta apresentada é apelar para que Bolsonaro, que faz planos para governar 20 anos, renuncie. É como pedir para o diabo virar anjo. Alguns desses setores chegam até mesmo a afirmar que o general Mourão seria um “mal menor”. Esse é o caso do governador do Maranhão, Flávio Dino, do PCdoB: “Claro que Mourão não é do meu campo ideológico. Mas, se Bolsonaro entregar o governo para ele, o Brasil chegará em 2022 em melhores condições”.
Trata-se de um ledo engano e demonstra uma gigantesca ilusão de classes, uma total traição ao povo e sua história. Mourão é um general, representante ainda mais direto dos interesses do setor ultraconservador e fascista das Forças Armadas. Como Bolsonaro, Mourão defende a tortura, tenta falsificar a história escondendo os crimes cometidos pelas Forças Armadas e pela grande burguesia durante a Ditadura Militar, sendo, portanto, um defensor do aumento da repressão contra o povo e a classe trabalhadora.
Dessa maneira, nossa tática de aprofundar o desgaste deste governo, manter e impulsionar a palavra de ordem “FORA BOLSONARO! POR UM GOVERNO POPULAR!” é, sem dúvida, a mais correta. Primeiro, porque é a palavra de ordem que está na boca do povo. Foi gritada por milhares de mulheres de todas as correntes políticas no 8 de março, sendo esta a última manifestação nacional contra o fascismo. Segundo, taticamente, no momento de avanço da pandemia do coronavírus em que nos encontramos, devemos ter como principal atuação a solidariedade aos trabalhadores e trabalhadoras para enfrentar essa barbárie nas periferias e denunciar o caráter antidemocrático e antipopular do governo. Terceiro, devemos ampliar os panelaços nas periferias, sendo esta uma forma de protesto importante, criada no fogo da batalha e capaz de desgastar o governo, dialogando com a consciência da classe trabalhadora, dizendo que o governo com sua política aumenta a fome e a miséria e só governa em prol da classe rica e dos EUA.
Assim, prepararemos o terreno para derrubar o Governo Bolsonaro pelas mãos do povo e fortaleceremos uma alternativa popular para o desfecho dessa crise, qual seja, a construção de um poder popular e do socialismo, única saída verdadeira para termos um país livre e independente. Da mesma forma, romperemos com as ilusões do reformismo e da pequena burguesia de que derrotarão o fascismo no âmbito institucional promovendo um impeachment ou mesmo pedindo, por favor, para que Bolsonaro renuncie.
3 – Derrotar o imperialismo capitalista é uma tarefa fundamental
Solidariedade internacionalista a Cuba e à Venezuela. Foto: G1
Precisamos ter a consciência de que enfrentamos o fascismo internacionalmente. Por isso, a classe trabalhadora, em nível mundial, é nossa principal aliada na luta contra os imperialismos e pelo socialismo. Não basta levantar a bandeira contra a política neoliberal e passar a defender o neodesenvolvimentismo, pois o capitalismo é brutal em todas suas formas e tem como único objetivo despejar a crise nas costas da classe trabalhadora.
O capitalismo desenvolvimentista não é alternativa ao neoliberalismo, pois ambos são exploradores da mais-valia dos trabalhadores. Nosso objetivo deve ser destruir o capitalismo, e não apenas a política neoliberal dos EUA. Os neodesenvolvimentistas cumprem o papel de abrir caminho ao fascismo e são a outra face da moeda do capitalismo.
Prova disso foi o que ocorreu na Segunda Guerra Mundial, quando os EUA e a Inglaterra, tidos como democratas naquele período, deixaram a chama nazifascista bater-se contra a pátria socialista, só dando apoio na Frente Oriental depois de perceberem que a URSS sairia vitoriosa, e com grande chance de que seriam também vítimas do nazismo.
Quem é socialista e comunista tem como principal obrigação defender a classe trabalhadora e defender seus interesses presentes e futuros. Portanto, devemos trabalhar em nível internacional para que a classe trabalhadora não seja levada a uma luta interimperialista, mas que lute por sua libertação, pois, como internacionalistas que somos, fazemos parte do mesmo exército do mundial do proletariado.
Os trabalhadores e o povo da Venezuela estão na linha de tiro do imperialismo estadunidense, portanto, nossa solidariedade aos venezuelanos e nossas ações principais devem ser no sentido de derrotar esse imperialismo fascista e expulsá-lo da América Latina. Apoiamos, como internacionalistas, a classe trabalhadora que luta contra o imperialismo, mas que também luta pelo socialismo. Defendemos que esta classe possa, no processo revolucionário em curso, tomar consciência e declarar o caráter socialista da revolução. Não podemos aceitar sermos instrumento nem do imperialismo dos EUA, nem do imperialismo chinês e russo, uma vez que estes investem financeiramente na Venezuela, visando a mantê-la como área de influência econômica e geopolítica, gerando, de fato, igual dependência e exploração para os trabalhadores.
A revolução socialista é a única forma de derrotar definitivamente o imperialismo e a exploração dos trabalhadores. Essa luta é a luta do presente, atual e estratégica para a classe trabalhadora. Quem pensa o contrário, não faz mais que defender a manutenção da exploração do homem ou considerar este objetivo algo utópico. Para que os trabalhadores possam decidir seu destino e sua autodeterminação é fundamental fazer uma revolução proletária.
Trabalhadores e trabalhadoras de todo o mundo, uni-vos!
Wanderson Pinheiro e Leonardo Péricles, membros do Diretório Nacional da Unidade Popular (UP)
[1] Apesar das visíveis disputas políticas de Bolsonaro com outros representantes da grande burguesia, como Dória e a Globo, no fundamental, não divergem quando se trata de aumentar a exploração sobre a classe trabalhadora e a retirada de direitos – como vimos no caso da Reforma da Previdência, da PEC dos Gastos e no Pagamento da Dívida Pública, dentre outras medidas antipopulares.
São Mateus tem colagem lembrando nomes e referências na luta do Povo Negro no Brasil e no Mundo
Foi realizado no bairro do Vila Flávia, São Mateus, Zona Leste de São Paulo, na semana do 20 de Novembro uma ação de colagem de nomes e referências negras na história da luta do povo negro e referências da periferia. Jovens do bairro espalharam nomes de homens e mulheres da luta antiracista como Luis Gama, Marielle Franco, Luisa Mahin, da luta anticapitalista como Angela Davis, Carlos Marighella, além de muitas referências como Emicida, Negotinho, Mano Brown, Mestre Moa, e homenagem a crianças mortas pelo Estado como a menina Ágatha Félix, de 8 anos, morta pela PM do RJ, e do menino Lucas Eduardo, de 14 anos, morto em Santo André pela PM de SP.
O mês de Novembro é um mês de agitação e propaganda sobre a luta do povo negro mas também de reforçar a importância da organização para enfrentar um sistema e um governo que tem aprovado medidas para aumentar o genocídio diretamente, autorizando ainda mais a impunidade da PM, ou indiretamente, privatizando o SUS, que atende em maior parte a população negra, precarizando o trabalho, feito em maior parte pela população negra. Esses e outros fatores que fortalecem ainda mais o racismo estrutural, ferramenta de submissão econômica e cultural do sistema capitalista. Para fazer frente de forma efetiva a quem nos mata e proteger nossa população e juventude negra de forma efetiva, precisamos lembrar nesse mês de Novembro de nos organizar em um movimento popular de porte nacional, mantida pelas forças e recursos do povo e movido pelos interesses da luta da classe trabalhadora no Brasil.
Lucas Nascimento Coordenador Nacional do Movimento de Luta nos Bairros, Vilas e Favelas / MLB SP
Durante a manhã dessa sexta-feira (22), Mauá, município do ABC paulista, amanheceu com os ônibus na garagem, e manifestações no terminal central: trabalhadores da Suzantur, transportadora turística privada responsável pelas linhas de ônibus da cidade, declararam greve contra a revogação contínua de direitos.
P. O.*, trabalhador da Suzantur e integrante do turno da tarde, alegou que a mobilização entre os trabalhadores começou quando um motorista não recebeu o depósito do vale salarial, benefício garantido pelo contrato. Contudo, esse fato foi apenas o estopim: os motoristas da Suzantur sofrem com a falta de pagamento dos salários, assédio moral, horas extras compulsórias e expedientes sem pausa para o banheiro no cumprimento das dezenas linhas que a cidade de Mauá possui.
Além da falta de pagamento de salários, recusa do depósito de benefícios, M. Q.*, trabalhador do turno da manhã, declarou ao Jornal A Verdade que as condições de trabalho pioram diante das jornadas extensas. “Cheguei a trabalhar durante vinte dias seguidos. Aqui não tem respeito”.
Apesar do posicionamento da empresa, que caracterizou a paralisação como “indevida”, a greve foi vitoriosa, e garantiu que o depósito do vale salarial ocorresse. Os ônibus voltaram a circular a partir das 14h.
*Os nomes dos trabalhadores que concederam depoimentos ao Jornal A Verdade foram alterados.
Gabriela Torres – Movimento de Mulheres Olga Benário
SÃO PAULO – Neste domingo, 17, milhares de pessoas foram à avenida Paulista, no centro de São Paulo, em solidariedade ao povo boliviano e contra o golpe de Estado sofrido por Evo Morales. O ato foi chamado pelo Comitê Brasileiro de Solidariedade ao Povo Boliviano Contra o Golpe, e contou com a presença de crianças, estudantes e trabalhadores da comunidade boliviana residente, além do apoio de muitos brasileiros.
As bandeiras boliviana e Whipala, símbolo da plurinacionalidade do país e da cidadania dos povos originários, foram firmemente tremuladas por todo o ato. Palavras de ordem também marcaram a manifestação, destacando o repúdio ao golpe de Estado, a resistência popular pela democracia, e denunciando o fascismo promovido por figuras da extrema direita do país, como a senadora (autoproclamada presidente) Jeanine Áñez e o empresário multimilionário Luis Fernando Camacho.
Através de um manifesto, distribuído no ato, o Comitê Brasileiro de Solidariedade ao Povo Boliviano Contra o Golpe afirma: “A luta do povo boliviano contra o golpe, contra Camacho, contra o fascismo, contra o racismo e a extrema direita, é uma luta que deve receber a solidariedade de todas as pessoas e da classe trabalhadora de todo o mundo que defendem as liberdades democráticas.” O manifesto também pontua: “Não reconhecemos como presidente da Bolívia a autoproclamada Jeanine Áñez, uma fraude, assim como Juan Guaidó, o autoproclamado presidente da Venezuela.”
O golpe na Bolívia representa uma ofensiva de setores extrema direita, aliada do imperialismo dos EUA e de grandes grupos empresariais e especuladores do mercado financeiro. Os diversos povos bolivianos que se erguem em defesa da democracia resistem ao golpe há semanas, como os lutadores do Chile, Equador e Haiti, que rechaçam ataques das elites do poder econômico. Com os últimos acontecimentos, desmancham-se as ilusões com o imperialismo, com a conciliação com grandes ricos e exploradores da classe trabalhadora. A real saída para a América Latina, cada vez mais, aponta para o poder popular.
Na manhã desse sábado, 14, centenas de pessoas tomaram o centro de Santo André para conclamar o Grito dos Excluídos e Excluídas do ABCDMR. O ato começou com um café da manhã coletivo, uma caminhada pela rua principal da cidade terminando com uma homenagem a brasileiros que deram a vida por uma nação mais justa e igualitária. O ato contou com adesão e organização de diversos movimentos sociais, ambientalistas, partidos de esquerda, movimentos populares do campo e da cidade, movimento estudantil, de mulheres, pastorais sociais e religiosas de diferentes matrizes e entidades sindicais.
O Grito dos Excluídos e Excluídas acontece há 25 anos e esse ano ecoou em mais de 200 cidades e em todas as capitais do Brasil. Esse movimento nasceu da necessidade de dar voz ao povo, às minorias e à população historicamente excluída pelo Estado burguês, que segue interesses de banqueiros lucrando com a miséria do nosso povo, deixando em segundo plano direitos básicos como: saúde, moradia, transporte, trabalho, informação e vida digna.
Foto Reinilson Câmara
“A vida em primeiro lugar! Este sistema não vale: LUTAMOS POR JUSTIÇA, DIREITOS E LIBERDADE” foi o lema do 25º grito dos excluídos. A marcha em defesa de direitos sociais e da luta contra o desemprego, levantou vários problemas estruturais como encarceramento em massa, genocidio da população negra, feminicídio, transfobia, lgbtfobia, cortes na educação e a “reforma” da Previdência, promovido pelo governo fascista de Jair Bolsonaro.
Também foi pauta do ato a questão do meio ambiente, por conta do aumento das queimadas, do avanço do desmatamento na Amazônia, dos crimes da Vale em Brumadinho e Mariana, em Minas Gerais. Além disso, foi erguido a bandeira contra o projeto do centro logístico de Paranapiacaba, proposto pelo prefeito de Santo André, Paulo Serra (PSBD), que ameaça uma área de proteção ambiental com importantíssimo valor histórico nacional, turístico, paisagístico e de serviços ambientais como provisão de águas para a Represa Billings.
Por fim, o ato do ABCDMR terminou com homenagens aos verdadeiros heróis da pátria, que lutaram por um país mais justo e igual, por meio de uma intervensão cultural com fotos e palavras de ordem. Nomes como Marielle Franco, índio Galdino , Zumbi dos Palmares, Dandara dos Santos, Milton Santos, Elenira Resende, Carlos Mariguella, Chico Mendes, Carolina Maria de Jesus e Manoel Aleixo foram lembrados e homenageados.
Foto Cadu MachadoFoto Reinilson Câmara
Reinilson Câmara Filho – Unidade Popular pelo Socialismo
Na última quinta-feira (15) cerca de 147 famílias foram despejadas numa ação truculenta e violenta promovida pela Polícia Militar do estado do Rio de Janeiro com ordens do governo estadual em Monte Alto, bairro do segundo distrito de Arraial do Cabo na Região dos Lagos. O Movimento de Luta nos Bairros, Vilas e Favelas – MLB esteve presente no local no dia seguinte junto ao Jornal A Verdade para acompanhar a situação das famílias e prestar solidariedade e apoio. “Foram momentos de terror, eram mais de 40 viaturas, trator, helicóptero, drone, canhão de água, centenas de policiais encapuzados e armados até os dentes. Parecia que estávamos em guerra.” contou uma moradora. Outro morador continuou: “quando os policiais chegaram por volta das 5 horas da manhã, dissemos que tínhamos uma liminar da justiça garantindo que poderíamos ficar ali até que a prefeitura apresentasse uma outra solução de um local decente para essas famílias morarem. O comandante da operação se recusou a ver o nosso documento e tampouco nos deixou ver o documento que ordenava a realização daquela operação. Dali em diante começou o terror, jogaram bomba de gás lacrimogêneo, spray de pimenta, bala de borracha em todos, acertando inclusive grávidas, crianças e idosos sem a menor capacidade de resistência dos moradores. Daí em diante, destruíram nosso sonho. Passaram o trator por cima das 147 casas construídas com muito esforço coletivo por todos nós”.
Foto: Marcela Couri
A justificativa do governo para promover tal barbaridade, é de que aquela área pertence ao Parque Estadual da Costa do Sol e seria área de preservação ambiental. “Aqui só tem trabalhador, não tem bandido não. A gente não invadiu a terra não porque queremos destruir o meio ambiente. Só estamos aqui porque não temos outra opção.” disse uma moradora. Em áreas ao redor do “projeto” (como foi apelidado o local pelas famílias) existe um condomínio enorme, garagem náutica e um outro terreno de milhares de metros quadrados que pertencem à construtora Volendam, que tem carta branca para fazer o que quiser, sem se preocupar com as questões ambientais. “É necessário compatibilizar a preservação ambiental com o direito social do uso da terra. A dignidade da vida humana está prevista na legislação ambiental, e o direito à moradia digna foi reconhecido e implantado como pressuposto para a dignidade da pessoa humana, desde 1948, com a Declaração Universal dos Direitos Humanos e consta na Constituição Federal de 1988”, disse Ana Paula, conselheira do parque e militante da Unidade Popular pelo Socialismo. Essa é a realidade de cerca de 7,7 milhões de famílias em todo o Brasil, que compõe déficit habitacional em nosso país. São milhões de pessoas que moram em situações precárias, de favor, não tem mais condições de pagar aluguel e se encontram em situação desesperadora. Por outro lado, vemos milhões de imóveis e terrenos que não cumprem nenhuma função social, servindo apenas à especulação para gerar lucro para os ricos donos das grandes construtoras. O grande questionamento que ficamos nesse caso é: por que a Volendam pode explorar e degradar o meio ambiente em grandes proporções no terreno ao lado para obter fabulosos lucros, mas quando as famílias buscam um local pra morar são tratadas com violência pelo estado?
Foto: Marcela Couri
O estado do Rio de Janeiro tem a polícia que mais mata e que mais morre, é onde 5 jovens negros e pobres foram assassinados na última semana sem enquanto iam para a escola, para o trabalho ou apenas se divertir com os amigos. Enquanto nosso sangue escorre pelo chão da favela, o governador anda de helicóptero mirando sua arma na gente. Esse caso é reflexo da política genocida promovida pelo Estado Capitalista, de guerra aos pobres, guerra aos negros e negras. No “projeto restinga” os moradores respiram resistência, luta e esperança. Muitos dos que não tem pra onde ir, seguem tentando reerguer as construções e sobrevivendo através da solidariedade dos moradores da região que fornecem abrigo em suas próprias casas, doam roupas, alimentos e ajuda. A decisão dos moradores do projeto é de que só vão sair de lá se a prefeitura apresentar uma alternativa digna, “todos aqui tínhamos a nossa casinha, humilde, mas conquistada com muito suor e luta! Não vamos aceitar menos do que isso!” disse um morador durante assembléia realizada.
Foto: Marcela Couri
O Movimento de Luta nos Bairros, Vilas e Favelas – MLB segue acompanhando e prestando apoio a essas famílias. Acreditamos que morar dignamente é um direito humano e que se o Estado Capitalista prioriza os lucros acima da vida, queremos destruir esse Estado e construir no seu lugar um Estado dos trabalhadores, onde prioridade seja a vida digna, com emprego, moradia, educação, saúde, etc. Enquanto morar for um privilégio, seguiremos lutando pela reforma urbana e o socialismo!
A Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação (CNTE) realizou a 9º Conferência Nacional de Educação Paulo Freire com o tema “Educação Libertária e Democrática: construindo o movimento pedagógico Latino-Americano” entre os dias 26 a 28 de junho em Curitiba. O objetivo do encontro foi debater os desafios e rumos da educação brasileira, sendo estabelecida greve nacional no dia 13 de agosto contra os retrocessos do governo atual.
Dentre as pautas discutidas, os educadores se debruçaram sobre o Plano Nacional da Educação (PNE), sancionado em 2014 e com validade de 10 anos, com o propósito de direcionar esforços e investimentos para a melhoria do quadro educacional brasileiro. O Plano é composto por 20 metas contemplando todos os níveis educacionais que, apesar de muito promissoras, apenas uma foi cumprida de acordo com o Inep.
Destaca-se a meta 1, que diz respeito a universalização e democratização do ensino básico tendo como finalidade atender 100% das crianças de 4 a 5 anos matriculadas na pré-escola até 2016, além de garantir 50% das crianças de 0 a 3 anos em creche até 2024. Segundo dados do Pnad, apenas 90% das crianças de 4 a 5 anos foram atendidas e somente 1/3 estão em situação de creche. Essa defasagem é vivenciada principalmente nas periferias, onde as filas de espera por vaga nas creches podem levar anos colaborando com a desigualdade enfrentada pelas mulheres na participação no mercado de trabalho.
A estagnação e não cumprimento das metas são resultados dos ataques que o sistema educacional brasileiro sofre constantemente. Prova disso é a emenda constitucional nº 95 implementada pelo governo Temer que congela, durante 20 anos, investimentos públicos direcionados a saúde e educação. Além do corte de 30% das verbas destinadas às universidades e institutos federais, anunciado recentemente pelo ministro da educação. As duas ações fazem parte de um projeto que confronta diretamente as diretrizes do PNE, uma vez que a falta de recurso penaliza o avanço das melhorias no ensino público.
Além disso, a militarização das escolas incentivada por Jair Bolsonaro, visa instituir um sistema onde a censura é peça chave, ferindo a efetivação da gestão democrática de educação proposta pela meta 19 do Plano. Na mesma linha, o descumprimento se fez presente quando aprovadas as mudanças no “Novo Ensino Médio” pelo Conselho Nacional de Educação, órgão vinculado ao MEC, que libera o ensino a distância totalizando 20 e 30% de carga horária, respectivamente no período diurno e noturno, acentuando ainda mais a defasagem no ensino público.
Essas ações com embasamentos apenas voltados aos interesses capitalistas, sem considerar a realidade do povo brasileiro, são responsáveis por colocar a situação educacional do país em risco. O desleixo com que se é tratado o ensino público foi demonstrado nos últimos dados coletados pelo IBGE, provando que a educação ainda não é para todos. Cerca de 40% da população com mais de 25 anos não chegaram a concluir o ensino básico, e daqueles que concluíram, o maior percentual está entre os brancos (55,5%) ao passo que entre os negros, o número cai substancialmente (40,4%). Considerando que a maior parte da população brasileira é negra, o acesso a educação no Brasil ainda é limitado e desigual pela negligência do governo em promover políticas públicas que incentivem o acesso à todos.
Analisando todo este quadro, os educadores presentes da 9ª Conferência apresentaram um manifesto repudiando as sucessivas contra-reformas liberais no setor educacional e o desmonte das políticas educacionais e sociais que atacam os direitos da população, especialmente da população mais marginalizada (mulheres, negros, índios e LGBTs). Além disso, também criticaram a proposta da Reforma da Previdência e as conseqüências que irá trazer principalmente para as professoras de rede pública, aumentando 10 anos a idade mínima para aposentadoria. Ao final do manifesto, os profissionais conclamam a luta incessante e o compromisso para com a educação, convocando todas as instituições de ensino para uma grande greve geral no dia 13 de agosto.
Diante dessa conjuntura, se fazem necessárias as críticas, a mobilização e organização dos estudantes, trabalhadores e servidores públicos em defesa do ensino de qualidade no país e contra a destruição da aposentadoria, como foram feito nos dias 15 e 30 de maio pela educação, e no dia 14 de junho na Greve Geral que mobilizou categorias ao redor do país e que foram responsáveis pelo fechamento de diversos pontos estratégicos das cidades.
Foto: Jorge Ferreira/Jornal A Verdade
“Numa palavra, a educação se tornou a grande esperança, a grande promessa da nacionalidade e da democracia. Com espanto, porém, vemos que, no atual governo, ela é apresentada como ameaça.” – afirmam ex-ministros em carta contra as políticas educacionais do governo Bolsonaro.
Inimigo da Educação, o governo Bolsonaro vem promovendo um verdadeiro sucateamento do ensino público no país. Em abril, através de sua conta no twitter o atual presidente fascista insinuou que os cursos de ciências humanas não mereciam investimentos, adiantando a pretensão de seu governo de cortar verbas do ensino superior. Mesmo com a revolta da população diante de tais alegações, pouco tempo depois, o governo através de seu Ministro da Educação, Abraham Weintraub, anunciou o corte de 30% nas verbas das universidades sem diálogo prévio com a comunidade acadêmica, impactando diretamente o funcionamento dos institutos federais. Na ocasião, o governo alegou que os cortes no ensino superior eram necessários para garantir o investimento na educação básica. Contudo, isso se mostrou como mais uma de suas mentiras contra a população mais pobre, ao estender o corte orçamentário para toda a pasta de educação, incluindo os programas de ensino infantil ao médio.
Frente a essa situação de completo desmonte das políticas educacionais do país, seis ex-ministros de governos anteriores se reuniram em um evento promovido pela Universidade Estadual de São Paulo (USP) e redigiram uma carta aberta em oposição às medidas do governo Bolsonaro. Na carta, José Goldemberg (1991-1992), Murílio Hingel (1992-1995), Cristovam Buarque (2003-2004), Fernando Haddad (2005-2012), Aloizio Mercadante (2012-2014) e Renato Janine Ribeiro (2015), expressaram sua preocupação com “as políticas para a educação adotadas na atual administração”, enfatizando que a magnitude dos cortes promovidos no último período “podem ter efeitos irreversíveis e até fatais”.
De acordo com eles, nessa gestão, a educação deixou de ser vista como prioridade nacional e passou a ser tida como uma ameaça, enfatizando a postura do governo em ignorar especialistas da área atuando de “forma sectária, sem se preocupar com a melhoria da qualidade e da equidade do sistema, para assegurar a igualdade de oportunidade”. Em outras palavras, a carta converge com as denúncias realizadas pelos movimentos sociais e estudantis frente aos ataques de Bolsonaro. Para Beatriz Baria, militante do Movimento Correnteza de São Paulo: “cortar investimentos dos institutos federais e da educação básica, determinar o fim das bolsas para pesquisadores, é mais uma forma desse desgoverno vergonhoso de atacar nosso povo. Somos nós, a juventude pobre, que vai ser impedida de ter uma educação de qualidade, pra encher os bolsos dos grandes grupos privados, que fazem da educação mercadoria, como a Kroton Educacional”.
A carta denuncia ainda a perseguição e a censura impostas pelos governos aos docentes, ressaltando a importância do “respeito à profissão docente, que não pode ser submetida a nenhuma perseguição ideológica […] Convidar os alunos a filmarem os professores, para puni-los, é uma medida que apenas piora a educação, submetendo-a a uma censura inaceitável”. Em outro trecho, reforçam: “a autonomia universitária é uma conquista que deve ser mantida para garantir a liberdade e qualidade na pesquisa, formação e extensão”.
Ao fim do texto, os ex-ministros propõem a “formação de uma ampla frente em defesa da educação” e anunciam a criação de um “Observatório da Educação Brasileira dos ex-ministros da Educação, que se coloca à disposição para dialogar com a comunidade acadêmica e científica, sociedade e entidades representativas da educação, com parlamentares e gestores, sempre na perspectiva de aprimorar a qualidade da política educacional”.
Jady Oliveira União da Juventude Rebelião
[1] Kroton Educacional: a maior empresa privada do mundo no ramo da educação, um conglomerado que monopoliza e atua em função da privatização do ensino privado, em detrimento da educação pública, gratuita e acessível.
RIO DE JANEIRO Um ano após a execução da Vereadora Marielle Franco pela milícia, a deputada federal Talíria Petrone (PSOL-RJ) – assim como Marielle uma política negra, de periferia e LGBT – teve a solicitação de escolta negligenciada pela omissão do Governador Wilson Witzel, do Partido Social Cristão, ao negar o pedido de proteção à vida da deputada que foi realizados após receber ameaças de morte.
Talíria recebe ameaças de morte desde 2016 quando foi eleita vereadora em Niterói/RJ. As ameaças vêm pelas redes sociais ou até por telefonemas feitos à deputada ou a sede de seu partido. A pouco mais de dois meses a polícia federal alertou ter encontrado na dark web informações sobre o planejamento de um atentado à vida da deputada.
Graças à investigação da PF, Talíria está sendo escoltada em Brasília, mas nas vezes em que retorna a Niterói, cidade na qual foi eleita e também onde recebeu as ameaças, anda desprotegida pois a solicitação enviada pelo presidente da Câmara dos deputados, Rodrigo Maia (DEM), foi negada pelo Governador Witzel, que nem sequer enviou uma resposta a Câmara.
Em abril deste ano a deputada foi chamada de “verme” pelo líder da bancada ruralista, Alceu Moreira (MDB-RS), durante uma audiência pública após reações da parlamentar às declarações do também deputado. Recentemente, após as denúncias de ameaças de morte, o filho do presidente, o deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), debochou em seu twitter dizendo que Talíria era hipócrita por se declarar desarmamentista e pedir escolta, alegando que a deputada deveria pedir “iluminação”.
A história da Professora Talíria em muito se confunde com a história de Marielle Franco. Ambas ameaçadas de morte e odiadas pelos conservadores, falsos moralistas e pelos milicianos. O que acontece é que em um país que possui cotas para que as mulheres enfim consigam ocupar o espaço político que é ocupado majoritariamente por homens brancos, héteros e ricos, existir duas mulheres negras, periféricas e LGBTs, que foram eleitas como as vereadoras mais votadas em suas respectivas cidades na primeira eleição que concorreram, é inaceitável.
É um atentado à democracia o estado do RJ não exercer seu papel e zelar pela vida de uma deputada que é ameaçada apenas por lutar pelos direitos das mulheres, dos negros, dos pobres e dos LGBTs. Sabemos as causas da omissão do governador reacionário Wilson Witzel, também sabemos de qual lado está o filho do presidente e amigo da milícia, Eduardo Bolsonaro, que ironiza as ameaças contra Taliria assim como ironizava as denúncias feitas por Marielle.
Mas não podemos esperar a morte de ninguém mais, muito menos de alguém que luta para defender o direito à vida de milhões de pessoas abandonadas pelo estado e massacradas pelo sistema capitalista.
Entre as principais mudanças apresentadas pelo governo Jair Bolsonaro para a segurança publica do país, está o projeto de Lei Anticrime divulgado pelo Ministro de Justiça e Segurança Publica Sérgio Moro.
Exército brasileiro assassina jovens negros inocentes na intervenção do RJ
O projeto que prevê alterações de 14 artigos do Código Penal e do Código Eleitoral não demonstra nenhuma novidade sobre as causas dos crimes, muito pelo contrário, coloca no centro da política de segurança pública o método da punição, única e exclusivamente como forma de redução da criminalidade.
Hoje já existe uma diferenciação dos
procedimentos de casos de homicídios envolvendo policiais em serviço. Por
exemplo: quando um policial comete um homicídio e alega legitima defesa, o
crime é juridicamente justificado como “morte por intervenção de agente de Estado”.
Esse procedimento hoje é conhecido como “Autos de Resistência”, e é responsável
por ser o principal argumento legal para justificar os assassinatos produzidos
pela policia, quase sempre sendo o processo arquivado. Porém, caso uma pessoa
comum mate e alegue legítima defesa, haverá um inquérito policial para apuração
do homicídio, que na maior parte dos casos termina em reclusão, ou seja, pena
de seis a vinte anos de prisão.
Nesse sentido, um dos principais eixos do
pacote apresentado está a excludente de ilicitude, nesse caso, mesmo que
o agente policial tenha praticado um homicídio, ele não será considerado um
criminoso, excluindo o ato ilícito. O Código Penal prevê três situações em que
se aplica a excludente de ilicitude: estado
de necessidade, legitima defesa e o estrito cumprimento do dever legal. Uma
das propostas que está no pacote de Sergio Moro é de flexibilização e ampliação
da excludente de ilicitude em favor de policiais.
Em situações em que a polícia precisa
executar uma prisão em flagrante, o ordenamento jurídico brasileiro autoriza o
policial em ação á exercer o estrito cumprimento do dever legal que é prender. Atualmente no Brasil, não
existe o dever legal de matar. Não
se justifica seguir atirando até causar a morte. Com a mudança proposta pelo
pacote, o texto de lei deixa claro: caso os policiais durante o trabalho
estiverem em situações de medo, surpresa
ou violenta emoção, e vierem a matar ou ferir alguém não poderão serem
punidos. Utilizando do pretexto da legitima defesa, o projeto formaliza e
amplia a violência e os assassinatos
praticados pela policia.
Um levantamento feito pelo Núcleo de Estudos da Violência da USP e o Fórum
Brasileiro de Segurança Pública, mostrou que houve um aumento de 18% de pessoas
mortas por policiais de
2017 para 2018 (5.225 para 6.160 mortes ao ano), ressaltando que essas
mortes são as que estão registradas no balanço anual. O ultimo relatório produzido pela Anistia
Internacional demonstrou que as forças policiais brasileiras são as que mais
matam no mundo.
A redução da violência urbana foi
destaque nas eleições de 2018, demonstrando uma enorme preocupação da população
com a segurança publica. Lembrando que essa era uma das principais promessas e
bandeiras das campanhas de candidatos, como Bolsonaro, João Dória, Wilson
Witzel. E com razão o povo, principalmente mais pobre tem clamado por justiça e
segurança. Os princípios constitucionais, em especial a dignidade humana, têm
sido violados e o brasileiro sofre no seu cotidiano.
Herança da ditadura
“Força
auxiliar e reserva do Exército” a Polícia Militar foi criada em 1969 sob
decreto-lei em pleno período de ditadura. Desde então e mesmo após a
democratização do Brasil em 1988, esse braço violento do Estado continua
atuando como há mais de 50 anos. Mesmo sendo hoje uma força à disposição do
Estado, a submissão é ao Exército autoritário brasileiro. Surge uma antinomia,
pois ao mesmo tempo em que polícia vem de polis,
do grego, cidadão, cidadania,militar vem do latim miles, milícia. Entende-se inclusive porque a militarização vê no indivíduo civil
um inimigo. O modo operante despreparado da polícia dá-se através do excesso de
violência, truculência e arbitrariedades. A tortura, por exemplo, é uma prática
cotidiana, comum e normal nas ações policiais na periferia adentro.
Com
o projeto de lei de Moro haverá um aumento de forças paramilitares. Esse
cenário aprofunda a impunidade
policial e é a semente para o nascimento de milícias, que no atualmente é o
grupo que mais oferece risco a segurança e vida do povo brasileiro, inclusive com comprovações já apresentadas pela investigação do envolvimento
direto desse grupo de extermínio com o brutal assassinato da ex vereadora e
militante Marielle Franco.
O Conselho de Direitos Humanos da
ONU solicitou que o Brasil despendesse maiores esforços para combater a
violência e projetar um fim à Polícia Militar, responsável por milhares de assassinatos.
Tudo isso fica muito claro quando vemos policiais formarem grupos de
extermínios e esquadrões da morte (criados no regime militar), carregados
de discurso de ódio, agindo de forma
criminosa, truculenta e autoritária. É urgente e necessário por fim a
militarização da polícia, e pensarmos um outro modelo de segurança pública para
não mais vivermos o cotidiano da barbárie e da escravidão, pois os chicotes de
ontem são as balas dos fuzis dos opressores de hoje!
O fuzilamento de Evaldo dos Santos, músico, num bairro periférico do Rio de Janeiro enquanto passeava com sua família na tarde de um domingo, representa o avanço do estado fascista que já não se importa em manter a aparência de um estado democrático de direito.
Ato na paulista em homenagem a Evaldo, músico assassinado pelo exército com 80 tiros. Foto: Jorge Ferreira
Com indignação o povo assistiu o presidente da república, 6 dias após o assassinato, vir à público se manifestar sobre o caso, limitando-se a defender a instituição que disparou 80 tiros e ceifou não só a vida de Evaldo, mas também de Luciano Macedo, catador de recicláveis, que tentou ajudar a família a sair do veículo no momento da ação criminosa. Segundo o presidente: “O exército não matou ninguém!” Entretanto, é equivocado pensar que essa barbárie é consequência exclusiva da chegada da extrema direita ao Poder, muito menos apenas de resquícios da ditadura militar. Na verdade o estado policialesco nunca deixou de estar presente nas periferias do Brasil.
No mundo, o 1% da população mais rica tem mais riqueza que os outros 99% somados. Os 6 homens mais ricos do mundo tem mais posses do que a metade mais pobre, mais de 3,5 bilhões de pessoas. Esse abismo social é também a realidade do Brasil, que tem uma das maiores desigualdades do mundo. Neese contexto, ao povo negro é reservado apenas os piores postos de trabalho, os piores salários e os barracos das grandes favelas. A imensa maioria da população negra é extremamente pobre e vive sob todas as formas de vulnerabilidade.
O desemprego é enorme e o varejo do tráfico termina sendo um desses postos de trabalho reservados especialmente para a juventude negra das periferias. Mesmo cumprindo uma tarefa desse negócio que gera enormes lucros para a burguesia, que utiliza seus bancospra lavar esse dinheiro, e por estar na ponta, mais visível e sustentando fuzis nas mãos, os jovens negros são vítimas de um discurso de criminalização e de uma política repressiva e genocida que assassina 66 mil pessoas por ano no Brasil, um verdadeiro índice de guerra civil. 78% desses jovens são assassinados por conta da sua cor da pele, por serem negros.
“É que cada tempo histórico tem suas perguntas sobre o passado, pois cada conjuntura produz uma história para justificar o seu presente.” É assim que Marielle Franco começa a demonstrar em sua tese de mestrado a importância de compreendermos nosso passado recente e o processo de implementação do neoliberalismo que o Brasil passou nas últimas décadas. Apesar do estudo da vereadora assassinada se concentrar na política de segurança pública do estado do Rio de Janeiro através das Unidade de Polícia Pacificadora, traz também importantes esclarecimentos sobre as causas do genocídio de negros e negras no país todo.
É verdade que desde a formação do estado brasileiro há uma política de extermínio daqueles que foram escravizados, e desde então diferentes ideologias foram utilizadas para perpetuar o poder na mão de uma minoria enquanto o povo dispõe de uma vida miserável. Mas também é urgente compreender as engrenagens da fase atual do capitalismo para traçarmos estratégias para a sua destruição. Nesse sentido que Marielle desmascara o estado penal vigente nas periferias como estrutura central do neoliberalismo no Brasil.
Nessa fase da crise do capitalismo, onde a elite econômica tenta enfiar goela abaixo reformas para aumentar seus lucros, mesmo que às custas da retirada de direitos trabalhistas e sociais, é necessário uma escalada no estado penal para conter aqueles que se encontram “excluídos” dessa sociedade. É por isso que na medida que os governantes avançam na destruição de direitos sociais, aumenta-se a repressão nas periferias, pois esses são os territórios tidos como inimigos do estado, que serve exclusivamente aos interesses da classe dominante.
A administração pública por sua vez, concentra esforços em passar a impressão que esse modelo de segurança pública, que invade casas, mata e tortura, se legitima em nome da proteção de toda sociedade. Essa é a tática da “guerra às drogas”, justificar o genocídio e o encarceramento em massa como necessário para manter a ordem.
Para tanto, o estado exerce papel crucial na manutenção do projeto de dominação. Se nos bairros ditos “nobres”, o estado se faz presente nas ruas bem asfaltadas, nos parques bem arborizados, e em todo conjunto de políticas que promovem o acesso à cidade, nas periferias esse mesmo estado se faz presente exclusivamente através das forças militares, seja pela polícia, pelo exército, ou mesmo por grupos milicianos.
Essa guerra aos pobres, transvestida de pacificação, não se justifica apenas com o sadismo de uma elite branca, mas sim por interesses econômicos. O estado, representante da burguesia, não contente com as reformas neoliberais, também está comprometido com o lucro dos megatraficantes, dos milicianos, da indústria armamentista, da especulação imobiliária, etc.
Justamente por incomodar aqueles que lucram com o extermínio da população negra e escancarar a as engrenagens desse sistema que Marielle Franco foi brutalmente assassinada.
Um ano depois de sua morte, os 80 tiros disparados pelo exército no carro de Evaldo e sua família nos traz à tona a urgência de apontar as raízes desse projeto genocida. Trata-se do modus operandi de um estado neoliberal, que manteve as mesmas práticas inclusive nos governos ditos progressistas, período em que o encarceramento mais do que dobrou. Se no Brasil o capitalismo é forjado no extermínio da população da periferia, que na sua maioria são negros e negras, o fim desse extermínio também depende da superação desse sistema perverso.
O RACISMO COMO IDEOLOGIA DE DOMINAÇÃO
Segundo Clóvis Moura, “o racismo não é uma conclusão tirada dos dados da ciência, de acordo com pesquisas de laboratório que comprovem a superioridade de um grupo étnico sobre outro. O racismo é uma ideologia deliberadamente montada para justificar a dominação de um grupo sobre outro. É, portanto, uuma ideologia de dominação.
Acontece que após a abolição da escravidão no Brasil, a elite do país determinada a manter seu projeto de domínio, costurou outras roupagens para sustentar o novo regime econômico. Nesse momento ganha destaque a concepção eugênica que correspondia a uma política de embranquecimento da população e a uma teorização sobre características de personalidade inerentes às raças.
Dentre elas, se destaca o papel do direito penal na formação do imaginário popular do negro como figura naturalmente criminosa. Ainda no período da primeira república, o código penal tipificava como crime o que ficou conhecido como lei da vadiagem. Num contexto de séculos de escravidão, foi como prender as pessoas simplesmente por elas serem negras. Essa política foi aprimorada ao longos das décadas, mas sem nunca perder o viés ideológico de dominação sobre os corpos marginalizados.
A Liga de Higiene Mental, por exemplo, braço do nazismo e do arianismo no Brasil, se destacou como defensora “científica” dessa tese e defendia, entre outras bandeiras, salários eugênicos (quanto mais clara a cor da pele, maior deveria ser o salário), recompensa para famílias que procriassem seres “superiores”, punição para os “inferiores”.
O higienismo social presente na segregação territorial até os dias de hoje, é oriundo das políticas da burguesia desde a formação da nação brasileira. A verdade é que esse país foi constituído sob uma ideologia burguesa e racista, que nega ao povo sua própria história, como estratégia política para perpetuar uma estrutura excludente.
Sendo assim, torna-se uma ingenuidade combater o racismo apenas através do viés acadêmico ou estritamente científico, muito embora não possamos de maneira nenhuma, negar o combate também nesse terreno. Mas a verdade é que a boa e velha luta de classes ainda é a forma mais eficiente de enfrentar o racismo no Brasil. Como afirma Clóvis Moura, “a questão racial é essencialmente política e não apenas científica.”
Para superarmos o sistema político existente, o capitalismo, será necessário travarmos as lutas pelos interesses imediatos da classe trabalhadora, composta na sua maioria por mulheres e negros. Mas isso não bastará. Será necessário, e esse é o nosso desafio, apresentar outro modelo de sociedade que seja capaz de substituir a engrenagem capitalista.
Um sistema político e social que dê conta de distribuir toda a riqueza socialmente produzida, pondo fim à propriedade privada dos meios de produção e a todas as desigualdades sociais existentes na atualidade. Esse sistema, essa sociedade, tem nome e chama-se Socialismo.
População venezuelana vai às ruas e impede o golpe orquestrado pelos EUA
Uma tentativa de golpe militar foi realizada na Venezuela na
manhã desta terça feira, 30/04, como o intento de derrubar o governo legítimo
de Nícolas Maduro. Esta ação contou com o apoio incondicional dos EUA que
propicia todo auxílio aos golpistas que são, na verdade, subservientes do
imperialismo e realizam um discurso de apoio à “Liberdade” no país, mas com o
intuito de fazer o roubo das riquezas nacionais.
Logo pela manhã Juan Guaidó, o promotor principal do golpe, realizou pronunciamentos anunciando a tomada de uma base militar localizada na região leste de Caracas, a Base Aérea La Carlota. Também propalava a obtenção de apoio militar das forças armadas, buscando causar um levantamento em outras bases militares. Guaidó pronunciou-se ao lado de Leopoldo Lopez que estava preso desde 6 de agosto de 2017, cumprindo pena de quase 14 anos, por praticar atos violentos. O “Autoproclamado” presidente, com apoio dos EUA, busca usurpar o poder sem possuir o voto democrático do povo, por meio de uma ação violenta contra a maioria dos venezuelanos.
No entanto, oficialmente, o presidente da Assembleia Nacional Constituinte Diosdado Cabello, desmentiu a tomada da Base Aérea e disse que apenas um reduzido grupo militar se sublevou para promover um golpe de Estado. “Não foi vulnerabilizada nenhuma instalação militar no país, eles estão nas ruas no Distribuidor Altamira e nós estamos dirigindo as operações desde a Base Aérea La Carlota”, afirmou.
Maduro também se pronunciou nas redes sociais afirmando que conta com o apoio e lealdade do comando do exército, que diz está comprometido com a constituição e a soberania nacional. Precisa no entanto estar mais preocupado com o apoio popular permanente nesse processo, visto que as ações da direita tentam alterar a correlação de forças também nas massas, mas ao que tudo indica sem sucesso até o presente momento.
Mike Pompeo, o secretário de Estado norte-americano, afirmou em um comunicado “hoje, o presidente [autoproclamado] interino Juan Guaidó anunciou o início da Operação Liberdade. O governo dos Estados Unidos apoia integralmente o povo da Venezuela em sua busca pela liberdade e pela democracia. A democracia não pode ser derrotada”. Destila assim seu apoio incondicional as ações militares para derrubar o governo e mostra disposição de intervir nos assuntos internos da Venezuela.
Ernesto Araújo, ministro de relações exteriores do Brasil, se reuniu em Washington, no dia 29, com Mike Pompeo e demonstrou uma total submissão ao governo dos EUA fazendo coro a politica norte-americana “O Brasil apoia o processo de transição democrática e espera que os militares venezuelanos sejam parte desse processo de transição democrática”, declarou. Logo Bolsonaro também se pronunciou no Twitter “O Brasil está ao lado do povo da Venezuela, do presidente Juan Guaidó e da liberdade dos venezuelanos”. É uma vergonha como copiam a linguagem da farsa americana sem o mínimo de pudor tratando a palavra “liberdade” como um mantra para encobrir a tentativa de um golpe militar absurdo.
As declarações conjuntas do Brasil com os EUA nesse processo devem ser repudiadas pelo povo brasileiro, pois não podemos ser bucha de canhão para o imperialismo. Os interesses do Brasil estão muito mais ligados a uma política de relações internacionais pacíficas, de integração latino americana baseada na colaboração entre os países iguais, na solidariedade e no internacionalismo proletário. O povo brasileiro sempre foi a favou da soberania das nações e o princípio da auto-determinação, onde cabe a cada povo decidir seus destinos.
Todo apoio ao povo venezuelano! Abaixo o imperialismo!
A Unidade Popular (UP), partido político em formação, é fruto da iniciativa de centenas de ativistas dos movimentos populares, militantes comunistas, estudantes e professores e da necessidade de construir uma alternativa de esquerda revolucionária ao atual cenário nacional. Após um ano e meio de muito trabalho, a campanha pela legalização da UP entra em sua reta final. Para falar sobre as novas tarefas da militância, A Verdade entrevistou Leonardo Péricles e Fernanda Lopes, membros da Direção Nacional da UP, que afirmam que para o país sair desta crise, precisa passar por uma profunda transformação econômica e social que dê vida digna para o nosso povo, e, por isso “a UP luta pelo poder popular e pelo socialismo”.
Da Redação
A Verdade – Por que a UP foi criada?
Leonardo Péricles – Houve, nos últimos anos, um verdadeiro esgotamento dos atuais partidos ditos de esquerda. Alguns foram cooptados, tomando o caminho de aliança com as grandes empresas, bancos e empreiteiras. Outros, tentando fazer frente a esta traição, não conseguiram dialogar com a classe trabalhadora. De tão estreitos que são, não conseguem se apresentar como alternativa. O resultado é que, hoje, poucos empunham a bandeira de luta por mudanças estruturais, ou seja, a luta revolucionária contra o capitalismo, que passa pela mobilização de amplos setores populares, de milhões e milhões de trabalhadores, mulheres e homens, negras e negros, LGBTs, jovens, indígenas, comunidades tradicionais, enfim, a luta da imensa maioria do povo brasileiro.
Esta é uma luta por quebrar os enormes privilégios dos super-ricos, da burguesia brasileira. É, portanto, uma luta muito dura e nós, da UP, não consideramos que ela possa ser feita por um iluminado ou de forma isolada, mas sim no campo da luta de massas, na vida política partidária, dos movimentos, e lideranças que se reúnem em torno das ideias populares. Daí o próprio nome Unidade Popular. Acreditamos que, a partir de um chamado decidido e pautado na força do movimento popular, se incorporarão a este projeto milhões de lutadoras e lutadores. Foi para fazer este chamado que nasceu a UP.
Como vocês veem a atual situação do País? Qual a saída para a crise do Brasil?
Fernanda Lopes – O Brasil vive uma grave crise econômica e política que se agrava a cada dia, com vários retrocessos democráticos, perdas de direitos e uma calamidade social. O desemprego já atinge cerca de 24 milhões de pessoas. Hospitais, postos de saúde, escolas e universidades estão abandonados. A violência aumenta e o povo teme por sua vida todos os dias, especialmente as mulheres. O ilegítimo governo de Michel Temer, que só tem olhos para as classes ricas, aprovou a chamada “PEC dos Gastos”, congelando por 20 anos os investimentos públicos em saúde, educação e moradia. Aprovou, em agosto de 2017, a Reforma Trabalhista, que retirou direitos históricos dos trabalhadores conquistados em décadas de luta, e ainda quer aprovar a Reforma da Previdência para que trabalhadores e trabalhadoras não se aposentem mais. Para sair desta crise, o País precisa passar por profundas mudanças. Somente uma profunda transformação econômica e social que dê vida digna para o nosso povo, emprego, saúde e educação de qualidade, moradia, transporte e terra para os camponeses resolverá os problemas atuais vividos pelo povo. Por isso a UP luta pelo poder popular e pelo socialismo.
Leonardo Péricles – Devemos lembrar também que vivemos uma das mais profundas crises econômicas da história do capitalismo, desde 2008, e que se manifestou com mais força no Brasil a partir de 2013. A solução para esta crise é pôr fim a um sistema que protege uma minoria de ricos. E o programa para isso já é conhecido: taxar as grandes fortunas; impedir a especulação imobiliária e garantir a função social do solo; suspender o pagamento da dívida pública, que nos suga quase metade do orçamento federal; exigir o pagamento dos devedores da dívida ativa dos municípios e estados; impedir a sonegação de impostos pelas grandes empresas, inclusive dos devedores da Previdência; reduzir a jornada de trabalho sem redução do salário para gerar mais empregos. Desta forma, bilhões de reais serão arrecadados e serão suficientes para resolver os graves problemas sociais que nosso país vive. Mas, ao lado de todas estas lutas, não devemos deixar de disputar a maioria da população para um projeto ainda mais profundo de transformações sociais, que é a derrubada do capitalismo e a implantação do socialismo, em que os meios de produção das riquezas estejam nas mãos da classe trabalhadora e possam servir para a vida, e não para o lucro.
Nenhum dos atuais partidos defende essas propostas?
Fernanda – A maioria dos atuais partidos está pautada pela institucionalidade, por um respeito sagrado aos limites impostos pela burguesia, ao invés de se pautar pela necessidade de superação do capitalismo. E isso exige muito enfrentamento, rupturas, uma verdadeira revolução política. Um dos papéis que a UP se propõe a fazer é demonstrar que os partidos dos ricos enganam o povo a todo momento. Procuramos demonstrar pelo discurso e pela prática que nem todos os que fazem política são iguais, que há uma política corrupta e burguesa, mas que existem também políticos revolucionários e uma política proletária. Não se trata de moralismo, mas sim de colocar as coisas no seu devido lugar.
Por que o socialismo é superior ao capitalismo?
Leonardo – Em um país riquíssimo como o Brasil, o socialismo daria condições para todas as pessoas se apropriarem dos bens e serviços de que necessitem para viver. Já debaixo do capitalismo, somos um país subdesenvolvido, com uma economia comandada pelos EUA e com uma desigualdade social que aumenta a cada ano. Hoje a realidade é que as cinco pessoas mais ricas do País detêm a mesma riqueza da metade mais pobre da população. O socialismo também permite que a tecnologia desenvolvida seja aplicada para melhorar a vida do conjunto da população, e não para aumentar os lucros dos capitalistas. Só o socialismo garante acesso universal à educação, saúde, moradia, segurança, lazer. Isto já foi provado por décadas na União Soviética e em outras experiências socialistas. Uma nova onda de grandes transformações sociais virá neste século 21, pois são insustentáveis as contradições do capitalismo. Só no ano passado, por exemplo, 82% da riqueza produzida no mundo foi apropriada por apenas 1% das pessoas! A maioria dos trabalhadores ainda não tem a consciência de que este mundo novo de felicidade é possível, mas o socialismo está no sonho de todo trabalhador e trabalhadora consciente. Ao socialismo interessa socializar a riqueza das grandes propriedades, aquela que pode resolver o problema da moradia nas grandes cidades, pois no capitalismo há mais casas e prédios abandonados do que gente sem habitação. Já as grandes fábricas e empresas, as grandes extensões de terra, estarão à disposição do Estado, dirigido pela classe trabalhadora para que esta decida a prioridade e a função social de cada coisa.
Como veem as declarações de membros do Alto Comando do Exército defendendo um golpe militar?
Fernanda – Nessa conjuntura em que a luta de classes se encontra bastante acirrada, vemos manifestações das diferentes classes sociais e agrupamentos sobre as possíveis saídas para a crise. Dentro da falta de perspectivas de parte da população, setores do alto comando do Exército a serviço do setor mais reacionário da burguesia, dos fascistas, tentam também se apresentar como alternativa. Lembremos que todo este espaço para que generais possam se pronunciar sobre golpes de Estado, contrariando a própria Constituição sem sofrerem nenhuma punição, é algo muito grave e que não podemos aceitar. É preciso levar a cabo as recomendações da Comissão Nacional da Verdade para que se punam os torturadores e assassinos da época da ditadura militar. Como disse a grande companheira Amelinha Teles, em entrevista publicada na última edição do Jornal A Verdade: “Não há democracia com corpos insepultos”. Sabemos que a impunidade do passado leva à impunidade do presente, pois hoje milhares de jovens negros e pobres continuam sendo torturados e mortos nas periferias de todo o Brasil nas mãos de agentes estatais, principalmente das polícias militares.
Qual o balanço da campanha pela legalização da UP?
Leonardo – Estamos há 15 meses colocando em prática um ousado plano de legalização de um partido político revolucionário que almeja o poder. Para coletarmos as 600 mil assinaturas que conquistamos neste período, fomos a praças, bairros, vilas, favelas, ruas, empresas, fábricas, escolas, universidades e seguramente falamos para mais de dois milhões de pessoas que foram abordadas ou que escutaram nossas agitações. Nosso discurso, aliás, não é só para pedir uma assinatura, mas para politizar, para denunciar os crimes das elites contra o povo e convocá-lo para a luta.
Neste último período, conseguimos perceber como poucos o sentimento de nosso povo, seu desejo por mudanças no Brasil e, neste sentido, tivemos ainda mais certeza de que nossa decisão de criar a UP foi acertada. E fizemos isso sem depender de um centavo da Odebrecht ou de qualquer outra grande empresa, banco etc. Sem depender também de nenhum figurão da política tradicional burguesa, dependendo apenas de nossa militância e de apoiadoras e apoiadores que têm os mesmos propósitos que nós.
Chegamos agora a um momento decisivo, pois temos pouco mais de seis meses para cumprir nosso objetivo, já que a legislação impõe um prazo máximo de dois anos. Apesar de enfrentarmos regras extremamente antidemocráticas para a legalização de novos partidos, durante este período, que estamos chamando de período especial, nossa militância decidiu se dedicar integralmente à realização desta grandiosa tarefa. Chegaremos até o final de maio com pelo menos 800 mil assinaturas coletadas no total e já demos passos importantes no cadastramento das fichas de apoio no sistema online do TSE e nos cartórios eleitorais. Em três estados a UP já alcançou o número mínimo de apoiamentos exigido e já podemos constituir seus diretórios estaduais provisórios. Estamos trabalhando para que nos próximos meses cheguemos a pelo menos nove diretórios estaduais legalizados, que é outra exigência. Além disso, temos recebido adesões de muitos ex-militantes de outros partidos e organizações políticas, e até de grupos políticos que não se sentiam mais representados pelos demais partidos existentes.
O que falta para a UP conquistar a legalização?
Fernanda – Tudo o que fizemos até aqui, apesar de muito importante, não basta, pois precisamos validar 487 mil assinaturas nos cartórios eleitorais de todo o Brasil. Neste sentido, entramos no sistema do TSE com cerca de 150 mil fichas nestes últimos meses e nossa campanha continua até a legalização. Para termos êxito, estamos fazendo também uma campanha de arrecadação de finanças, pedindo contribuição às pessoas que acreditam em nossa causa para que possamos ter um caixa que permita arcarmos com os gastos desta reta final. Precisamos da ajuda de todas e todos para que possamos concluir esta campanha de dois anos. Estamos muito confiantes de que venceremos!
Poema em homenagem a Emmanuel Bezerra, herói do povo brasileiro e do Partido Comunista Revolucionário (PCR)
Mayara Fagundes | Campinas (SP)
Te contemplo e te vejo Você é com todas as letras meu grande herói Você disse e confiou na minha geração A geração futura, não é?
Você disse que as grades estavam se esmaecendo, pela certeza inquebrantável de que seus soldados não se renderiam.
Eu tento. Eu tento e tenho tentado. Tenho tentado e falhado. Mas não me rendi. Não ouso me dobrar Quero ser digna de vestir esse manto santificado pelo sangue do nosso povo.
Emmanuel Se teu suor pudesse regar a minha alma Se teu sangue pulsasse dentro de mim Se tua esperança penetrasse minha mente.
Que essa seja uma carta de despedida. Uma carta de despedida do meu eu mais atrasado.
Porque há dias sombrios e que fica nebuloso Me sinto incapaz de ser como você. Você tinha medo? Você chorava? Você sentia seu coração saltar de ansiedade?
E novamente, quero ser mais como você do que o que tenho sido. Quero vencer. Quero olhar para essas grades, que bem diferentes das suas só existem na minha cabeça! Quero olhar e ver elas esmaecendo. Quero saber que existem esses tais soldados e que faço parte desse batalhão.
Foi difícil levantar hoje. Mas levantei. Venci. Porque você venceu. E levantarei amanhã. Porque sou essa geração futura que você contemplou.
Escolas públicas das cidades de Ipojuca e Cabo de Santo Agostinho, na região metropolitana do Recife, receberam o espetáculo teatral “Reciclagem Divertida”, organizada pela equipe do Teatro Sustentável, que levou ao público, de forma lúdica e descontraída, uma mensagem de conscientização sobre o impacto do consumo no meio ambiente.
Lucas Pacheco| Ipojuca (PE)
CULTURA- O projeto itinerante e educativo conta com o apoio do Ministério da Cultura, por meio da Lei nº 8.313/1991 (Lei de Incentivo à Cultura). Sob a direção de Gustavo Zanetti, a peça acompanha a divertida Trupe da Meia-Noite e do Meio-Dia, que convida o público a embarcar em uma jornada mágica pelo universo da reciclagem. Logo no início da apresentação, os atores Cleber Gonçalves e Rodrigo Siqueira rapidamente conquistam a plateia. Com diálogos dinâmicos e desafios bem-humorados, envolvem os alunos, que participam da própria encenação.
A cada cena, os personagens mostram como os objetos que seriam descartados podem se transformar em brinquedos, obras de arte ou novos materiais, além de orientar crianças e pré-adolescentes sobre a forma correta de separar os materiais para a reciclagem, destacando que a limpeza das embalagens é fundamental para que não haja problemas no processo.
Consciência ambiental e cuidado com o meio ambiente
“Entendemos que o tema do meio ambiente é uma pauta que carece de atenção, pois independentemente do grau de instrução, a coleta seletiva ainda é algo pouco comum no Brasil, onde grande parte das pessoas conseguem, no máximo, separar o lixo orgânico do lixo seco”, afirma Cleber Gonçalves, que teve a oportunidade por meio do teatro, de levar a mensagem do cuidado com o meio ambiente para vários estados.
Segundo pesquisa realizada pelo Instituto Avançado de Tecnologia e Inovação (IATI), o maior problema em relação ao meio ambiente no Litoral Sul de Pernambuco, está localizado justamente no Rio Jaboatão, que deságua no Oceano Atlântico na região da Praia do Paiva, no Cabo de Santo Agostinho. A pesquisa detectou níveis altos de microplásticos que vão desde a costa até os naufrágios mais distantes do litoral. A região, aliás, já foi palco de infelizes situações de crime ambiental, como as manchas de óleo que apareceram na região em 2019, causando diversos danos ao meio ambiente, até hoje não resolvidos pela justiça.
Levando o teatro para as escolas, a iniciativa demonstra que a cultura e o meio ambiente podem ser um contraponto ao descaso e a toda desinformação que, dentro do sistema capitalista, andam justos para manter a natureza sendo destruída, enquanto escondem que é preciso parar a sede de lucro das elites para lucrar, mesmo que destruam o planeta em meio ao processo.
Auditório lotado para assistir ao espetáculo. Foto: JAV- PE
Primeiro latino-americano e negro a viajar ao espaço, Arnaldo Tamayo Méndez transformou sua trajetória de luta em símbolo de conquista socialista e inspiração para os povos de Cuba e do mundo.
Ezequiel de Medeiros| Paraíba
HISTÓRIA- A história de Arnaldo Tamayo Méndez confunde-se com a de seu país. Nascido em 1942, na cidade de Guantánamo, sul de Cuba, e órfão de pai e mãe, começou a trabalhar aos 13 anos como engraxate e ajudante de carpinteiro para sustentar os irmãos. Arnaldo afirmaria, mais tarde, que seu amor pela aviação surgiu nessa época, quando via pousos e partidas dos aviões estadunidenses da base militar imperialista em Cuba, ocupada ilegalmente desde 1903. Posteriormente, participou das greves e atos estudantis contra o governo entreguista do ditador Fulgêncio Batista. Desenvolveu sua consciência política, ingressando na Associação de Jovens Rebeldes pouco após o triunfo da Revolução Cubana em 1959. No ano seguinte, sob o chamado do Partido, iniciou os estudos no Instituto Tecnológico e, entre 1961 e 1962, aprendeu a pilotar na Escola Superior de Aviação da URSS, retornando ao seu país a tempo de atuar heroicamente no combate aos ataques aéreos estadunidenses durante a Crise dos Mísseis.
Arnaldo continuou tendo papel relevante nas Forças Armadas Revolucionárias e na União de Jovens Comunistas de Cuba, e em 1978 foi selecionado para representar o povo cubano na missão Soyuz 38, do programa espacial Intercosmos, promovido pela URSS, que levou cosmonautas de diversas nacionalidades ao espaço pela primeira vez. Partiu em setembro de 1980, ao lado do cosmonauta soviético Yuri Romanenko, do Cosmódromo de Baikonur, atual Cazaquistão. Ao deixar a atmosfera da Terra, Arnaldo Tamayo tornou-se não apenas o primeiro latino-americano a ir ao espaço, como também o primeiro negro. Mais um feito do socialismo! Foram sete dias em órbita, em que foram realizados experimentos científicos sobre os efeitos da Gravidade Zero no corpo humano e, simbolicamente, o crescimento de leveduras no espaço (as leveduras são essenciais na fermentação do açúcar, artigo importante para a economia socialista de Cuba). Além disso, foram levados ao espaço nesta missão: um busto do Comandante Che Guevara, placas com os nomes de Marx, Engels e Lenin, uma maquete do Iate Granma, textos e poemas do revolucionário cubano José Martí.
A missão Soyuz 38 serve de inspiração ao povo negro e latino-americano, mostrando que só o socialismo pôde levar uma nação como Cuba, colonizada e empobrecida pelo imperialismo, a ocupar o espaço com o orgulho de ter vencido a fome, o analfabetismo e a falta de moradia. Hoje, bilionários como Elon Musk e Jeff Bezos veem o espaço como a última fronteira do capital, para explorarem comercialmente, e fugirem quando a destruição dos ecossistemas da Terra atingir um ponto crítico. Mas o camarada Arnaldo Tamayo Méndez nos ensina o oposto! Lá de cima, Tamayo viu a Terra como ela realmente é: sem fronteiras e sem donos. Sigamos na luta pelo socialismo, para que um dia a humanidade possa se orgulhar de visitar o espaço sabendo que nenhuma criança aqui precisa dormir na rua, e as que dormirem é porque querem olhar as estrelas!
Acordo prevê troca de prisioneiros de guerra, retirada do exército de ocupação sionista e entrada de ajuda humanitária. Luta da resistência palestina e solidariedade internacional dos povos garantem acordo e a preservação das vidas palestinas.
Felipe Annunziata | Redação
INTERNACIONAL – Depois de dois anos do genocídio cometido por Israel contra o povo palestino, os movimentos de resistência palestina anunciaram o fim da agressão israelense contra o povo de Gaza. Durante este período, Israel assassinou 80 mil palestinos, segundo o Ministério da Saúde de Gaza, sendo que este número pode chegar a 350 mil pessoas, de acordo com um estudo científico da Revista Lancet.
A principal vitória do acordo alcançado pelos palestinos é colocar um fim a todas estas atrocidades e preservar as vidas palestinas. Depois de dois anos da campanha genocida, a luta em todo o mundo para pressionar Israel começa a dar resultados.
O genocídio palestino
Durante o genocídio, Israel usou de todos os meios à sua disposição para exterminar os palestinos. Mais de 2 mil famílias foram completamente assassinadas até maio deste ano. Mais de 60% dos mortos são de mulheres e crianças, segundo a ONU.
O regime sionista de Israel destruiu mais de 80% das edificações de Gaza, contaminou fontes de água potável, acabou com o sistema de esgoto e danificou todas as terras agricultáveis da Faixa. O regime sionista cercou o mar de Gaza para impedir a população de pescar. Os bombardeios destruíram todos os hospitais e escolas do enclave. O enclave palestino é do mesmo tamanho que o município de Maricá, na Região Metropolitana do Rio de Janeiro.
A fome e a sede, junto com os drones e os mísseis, foram as principais armas deste genocídio. O cerco a Gaza, iniciado em 2006, impediu nestes dois anos a entrada de qualquer ajuda humanitária decente aos palestinos. A desnutrição alcançou toda a população.
“Eu tenho 12 anos, eu era saudável e bonita, mas com a guerra eu desenvolvi desnutrição severa. Sinto que estou morrendo todos os dias, eu só quero voltar a brincar como as outras crianças. Eu não sei mais como brincar, toda vez que eu tento eu acabo caindo. Eu pesava 30Kg antes da guerra, agora peso só 19Kg.”, conta a menina Huda Abu al-Naja, uma das vítimas da guerra de extermínio de Israel.
Israel utilizou programas de inteligência artificial para mirar seus mísseis nas casas em que houvessem mais pessoas antes dos seus ataques, fuzilou milhares de palestinos em filas da fome que tentavam pegar ajuda humanitária. Tanques de guerra, artilharia pesada, mísseis e aviões a jato bombardearam durante 733 dias a população de Gaza.
Quem tentava contar esta história ou impedir que os palestinos morressem eram brutalmente perseguidos e assassinados pelos soldados sionistas. Israel assassinou, cerca de 2 mil profissionais de saúde e 252 jornalistas, no caso dos profissionais de imprensa é o maior número de mortos em todas as guerras da História.
Resistência e solidariedade internacional garantem vitória
Uma importante vitória dos palestinos até agora é política. Finalmente, o mundo todo viu a face genocida do regime sionista de Israel e seu objetivo final: a exterminação de todos os palestinos daquela região do mundo.
Ao lado dos palestinos lutam hoje milhões de trabalhadores de todo o mundo, que colocaram em xeque os governos burgueses que atuam como cúmplices da campanha de extermínio. Na Europa, estudantes e trabalhadores emparedam os governos imperialistas ao ponto de muitos deles serem obrigados a reconhecer o Estado da Palestina ou declaram embargo no envio de armas à Israel.
Na América Latina, a solidariedade ao povo palestino levou a um forte questionamento do papel da mídia burguesa e das elites no envio de matérias primas para a economia do genocídio de Israel.
Por sua vez, o presidente fascista Trump só tomou a frente do acordo de cessar-fogo não porque quer o Nobel da paz como ele mesmo e a mídia divulga, mas porque nas ruas dos EUA, a classe trabalhadora se coloca cada vez mais contra Israel, até em estados que votam normalmente em seu partido.
Imperialismo é obrigado a ceder às reivindicações palestinas
Em vídeo divulgado na imprensa, o líder do Hamas, Khalil al-Hayya, afirmou o acordo para o fim da guerra de extermínio. Al-Hayya é o chefe da delegação de negociadores da resistência no Egito.
“Hoje, anunciamos a conclusão de um acordo para pôr fim à guerra e à agressão contra o nosso povo, e para iniciar a implementação de um cessar-fogo permanente, a retirada das forças de ocupação, a entrada de ajuda humanitária, a abertura da passagem de Rafah em ambas as direções e uma troca de prisioneiros. 250 prisioneiros que cumprem penas de prisão perpétua e 1.700 prisioneiros da Faixa de Gaza que foram presos após 7 de outubro serão libertados, além da libertação de todas as crianças e mulheres.”, afirmou o líder palestino.
Apesar da confirmação dos palestinos, países árabes e dos EUA do acordo, ainda não está claro até onde Israel está comprometido com estas cláusulas. O acordo para o fim da atual fase da luta de libertação da Palestina comprova a capacidade de resistência e de combatividade deste povo, que resiste há 76 anos a uma ocupação imperialista de suas terras, seguida da imposição de um regime colonial e de segregação racial patrocinado pelos EUA e implantado por Israel.
Apesar do acordo não determinar a criação do Estado da Palestina, meta final da resistência em Gaza e na Cisjordânia, ele garante a troca de prisioneiros de guerra, incluindo lideranças importantes da resistência que se encontram sob cárcere há décadas.
O papel da resistência palestina
Mas o acordo só foi possível graças à brava resistência palestina. Os palestinos de Gaza e da Cisjordânia resistiram como puderam a campanha de genocídio e ocupação.
Mesmo com dois anos de extermínio, Israel continuou tendo pesadas baixas no campo de batalha. Na Cisjordânia, cada vez mais palestinos aderem às campanhas de desobediência civil e enfrentam as forças de ocupação israelenses.
Em todo o Oriente Médio, mesmo com a campanha de bombardeio do Líbano, Síria, Irã e Iêmen, os trabalhadores destes países não abaixaram a cabeça. A vitória militar israelense, com o assassinato de lideranças políticas libanesas, palestinas e iranianas, não garantiu a vitória política no atual conflito.
Em Gaza, o objetivo do regime sionista era claro: expulsar ou matar todos os palestinos. Dois anos depois, não conseguiram alcançar isto, apesar das brutais condições que impuseram ao povo palestino.
Luta pelo povo palestino não pode parar
Agora toda esta força acumulada sob liderança da resistência palestina em todo o mundo não pode parar. A possível pausa nos bombardeios a Gaza, com a entrada de ajuda àquele povo deve nos guiar para o próximo passo desta luta: a garantia definitiva da libertação do povo palestino e a criação de seu Estado, com Jerusalém como sua capital.
A luta tem que continuar, com a defesa do fim do regime sionista na Cisjordânia e em Israel. A ditadura do apartheid israelense, do controle populacional sobre o povo palestino e da limitação aos direitos civis mais básicos precisa acabar.
A derrota do sionismo é também a derrota do imperialismo e seu projeto para o Oriente Médio. Esses dois anos deixaram claro que a bandeira palestina é a bandeira da liberdade de todos os povos do mundo.
Reproduzimos a nota da Federação Árabe Palestina do Brasil sobre os dois anos do genocídio de Gaza. Fepal lembra da dimensão imensa dos números de mortos, feridos e mutilados pela campanha de extermínio produzida pelo regime sionista de Israel.
Nota pública da Federação Árabe Palestina do Brasil (Fepal)
Hoje (7/10) será dia de dupla efeméride em vista dos dois anos de solução final em Gaza, iniciada nestes mesmos dia e mês de 2023. De um lado a farsa dos genocidas que precisam esconder suas autorias, de Trump/Biden a Netanyahu, da Rede Globo e congêneres aos CNPJs de Cristo, e de outro o povo palestino e a humanidade, que denunciam e reagem, nas ruas às multidões e nas indignações íntimas ainda mais multitudinárias, ao maior genocídio da história e o primeiro televisionado.
Em dois anos de obscenidade assassina de “israel” e seus fiéis aliados (regimes) “ocidentais”, o mundo assistiu à maior matança de civis de todos os tempos no maior campo de concentração e extermínio da história, a Gaza palestina, num reality show que atualizou Auschwitz na tecnologia do extermínio e o transmitiu ao vivo, levando os corpos destroçados de crianças e mulheres às salas de todas as famílias ao redor do planeta como trunfo tecnológico e ação “civilizatória” de uma alegada “civilização judaico-cristã”.
Os números são aterradores e proporcionalmente inigualáveis. Os exterminados são 79.408, considerados desaparecidos sob escombros, 3,57% da população de Gaza. Seriam 7,6 milhões no Brasil, ou 172 vezes todas as mortes violentas registradas no Brasil em 2024 (44.127). Ou 27 milhões na Europa da 2ª Guerra Mundial, chegando a 81 milhões em eventuais seis anos daquela guerra hoje. Estes são os dados mais conservadores, porque reconhecidamente eivados de subnotificação.
O Holocausto Palestino pode alcançar 348,8 mil exterminados (The Lancet, 5 de julho de 2024), ou 15,4% da demografia deste território palestino, o que equivaleria a 32,8 milhões de brasileiros exterminados e a 116,2 milhões de pessoas na Europa da 2ª GM, ou 348,4 milhões, nesta escala “israelense”, na eventual repetição dos 6 anos de sua duração, 5 vezes mais que os até 70 milhões que morreram no período hitleriano, na Europa e fora dela.
O extermínio metódico de crianças palestinas em Gaza supera qualquer obscenidade humana conhecida: 10.306 por milhão de habitantes do território, contra 2.813 por milhão na Europa da 2ª GM. Ou seja: EUA e “israel”, mais seus aliados no Brasil e no mundo, exterminam, por milhão de habitantes, 3,66 vezes mais crianças palestinas em Gaza que europeias durante o período nazista.
E tudo isso numa Gaza de apenas 365 km², 22% do território da cidade de São Paulo, bloqueada por “israel” desde 1967, e ainda mais a partir de 2007, para se tornar o primeiro campo de concentração com extermínio televisionado. É como se Auschwitz fosse televisionada 24 horas por dia e sua defesa estivesse nas telas da Globo e congêneres, bem como nos púlpitos dos negociantes da fé que utilizam um farsesco deus étnico para defender o extermínio palestino como expressão de uma certa – e inventada – vontade divina.
Mais terrível e perigoso que os números é o aviso dado à humanidade, que se vê humanizada nos palestinos ao entender, pela primeira vez na história, o que são crimes de lesa-humanidade, isto é, crimes contra toda a humanidade, logo, contra cada pessoa que assiste ao vivo ao Holocausto Palestino, inclusive israelense.
Ao tempo de Auschwitz a humanidade não o assistiu, nem aos demais campos de concentração. Por esta razão, foram as máquinas de propaganda dos estados em guerra contra o nazismo que construíram uma opinião pública contrária à Alemanha Nazista. Agora, com Gaza, temos o inverso: as máquinas de propaganda destes mesmos estados defendendo “israel” e seu regime sionista, o equivalente à Alemanha nazista de outrora.
Assim, a opinião pública hoje contrária a “israel” – na Europa é superior a 70%, nos EUA 53%, nos países do G7 é de 64% e no Brasil 58% – desafia seus estados e governos e toda sua máquina de propaganda de guerra promotora do genocídio palestino, que se realiza por meio da mídia hegemônica, que no Brasil tem a Rede Globo à frente, malgrado uma rebelião silenciosa em suas redações, bem como nas de outros veículos de comunicação do mainstream.
O primeiro holocausto televisionado da história, o palestino em Gaza, produziu algo impensado: fez com que a humanidade entendesse o que é um crime de lesa-humanidade, que a atinge quando cometido em qualquer lugar e contra qualquer povo, distante e desconhecido que seja. Auschwitz não deu à humanidade esta oportunidade porque o que ali acontecia não era de conhecimento da humanidade. Gaza está nas telas de cada celular, computador ou televisor, sem filtros, isto é, não é um crime passível de negacionismo, ainda que os sionistas se comportem como os negacionistas mais desavergonhados da história, até porque são os genocidas de plantão.
O sionismo e “israel” são vergonha ocidental maior que a outra, o nazismo, sempre escondido de seu DNA ocidental, mas não porque o extermínio em Gaza traz números superiores, proporcionalmente, aos nazistas, mas porque o Holocausto Palestino simplesmente não pode ser negado e toda a humanidade sabe quem o comete.
Se “israel” nasceu da Nakba Palestina (1947/51), a maior limpeza étnica da história, para esconder fora da Europa os crimes antijudeus ocidentais, é hoje a pequena Gaza, maior abrigo de refugiados e descendentes daqueles refugiados roubados e expulsos pelos sionistas, que mostra ao mundo o que são o “ocidente” e sua carreira colonial genocidária, sepultando sua alegada superioridade ética em seus escombros e em meio aos cadáveres das crianças cujos sangues inocentes derramados assombrarão seus algozes para todo sempre.
Palestina Livre a partir do Brasil, 7 de outubro de 2025, 78º ano da Nakba e 2º do Genocídio.
Estudantes da Grande BH enfrentam cortes na educação e falta de alimentação adequada nas escolas públicas, reflexo do sucateamento do ensino.
José Leandro, Isabela Puff e Laura Pedrosa | Sabará – MG
Já pensou em ter que escolher entre ir para a escola ou se alimentar? Pois é, essa é a realidade de alguns estudantes de instituições federais e estaduais. As condições precárias das escolas afetam os alunos de diversas formas: falta de materiais impacta a aprendizagem e a falta de alimentação básica faz com que muitas vezes os estudantes passem o dia sem comer direito. Os sucessivos ataques e cortes na verba para a educação, tanto federal quanto estadual, são os principais culpados por essa insegurança alimentar.
Cortes e ataques à educação pública
No Brasil, especialmente no âmbito estadual, o baixo orçamento e os cortes prejudicam e deterioram cada vez mais as condições das escolas, que em muitos casos já são precárias. O descaso governamental é explícito: em 2024, foi anunciado que um pacote de corte de gastos retiraria 42,3 bilhões do orçamento da educação pelos próximos cinco anos. Esses cortes, que demonstram a tentativa de sucateamento da educação pública, não são as únicas dificuldades enfrentadas pelos estudantes.
Em Minas, a educação tem sido atacada com projetos que visam à militarização, privatização ou terceirização das escolas públicas, que têm resistido com bravura. É necessário o apoio da comunidade escolar nessa luta: caso contrário, a educação pública será vendida a empresários com falsos pretextos, como acontece no projeto SOMAR do governo Zema. Nesse contexto, os estudantes não podem parar de lutar e fortalecer os movimentos estudantis!
Também nas federais, a educação é atacada pela ganância de empresários que buscam aniquilar o ensino público. O Decreto nº 12.448, publicado pelo governo Lula em 30/04, impôs contingenciamento superior a 30% no orçamento das Instituições Federais de Ensino, suspendendo atividades em universidades e institutos já precarizados e sem garantir alimentação aos estudantes. Nos IFs da região metropolitana, muitos não têm sequer bandejão. Isso obriga milhares a escolher entre gastar cerca de R$20 para almoçar ou pagar as caras passagens de volta para casa — um retrato do sucateamento no ensino federal.
A luta estudantil na Grande BH
Nos CEFETs, os estudantes lutam pela redução dos preços, oferta de café da manhã e, até, para pagar via Pix. Mesmo assim, os valores só aumentam. Em 2023, o preço do restaurante passou de R$1,50 para R$3,20, um crescimento de 113%. Agora, enfrentam novo aumento para R$3,90, em um bandejão cuja qualidade se deteriora, havendo relatos até de larvas na comida.
Contudo, a luta dos estudantes unidos é soberana diante dos ataques à educação. A pressão de discentes, professores e técnicos derrubou o Decreto nº 12.448. Na AMES-BH — entidade representativa dos secundaristas de Belo Horizonte e região metropolitana — temos voz para dizer o óbvio: NÃO DÁ PARA ESTUDAR COM FOME! Contra os cortes, por mais verba na educação, bandejões e cantinas de qualidade, por uma escola de verdade: vem com a AMES-BH!
OPINIÃO – Dia 16 de dezembro de 2025, celebraremos 41 anos do martírio de Eloy Ferreira da Silva. Necessário se faz resgatarmos quem foi Eloy e continua sendo, agora em vida plena e em nós na luta pela terra, pela reforma agraria e pela demarcação dos territórios dos Povos Indígenas e Tradicionais.
Como dirigente sindical, viveu intensamente o apoio à luta de organização e resistência dos posseiros do município de São Francisco e da região norte e noroeste de Minas Gerais. Eleito Delegado Sindical do Distrito de Serra das Araras, em 1978, ele liderou a resistência dos posseiros contra os invasores e grileiros de terra. Presidente do Sindicato dos Trabalhadores/as Rurais de São Francisco, desde 1981, Eloy Ferreira da Silva era uma das lideranças mais combativas no norte e noroeste de Minas Gerais, conhecido e respeitado em todo o estado.
As ameaças de morte que Eloy sofreu foram muitas. Foram constantes por parte dos grileiros e até do Juiz de Direito da cidade, que várias vezes o ameaçou psicologicamente.
“Trabalhador rural não é covarde”, dizia Eloy, que denunciava as pressões, os despejos e as queimas de casas a todas as entidades que podiam dar algum apoio. Combatia toda violência que recaia sobre os camponeses posseiros: “Nossa arma é união, organização e a verdade”, Eloy sempre dizia.
Praxedes Ferreira da Silva, posseiro sobrinho de Eloy Ferreira da Silva, assassinado no município de São Francisco, em 28 de outubro de 1978. Eloy sentia a dor pelo assassinato do seu sobrinho Praxedes. Eloy se indignava diante de toda e qualquer injustiça e violência. Eloy não arredava o pé da luta pelos direitos dos camponeses posseiros. As ameaças seguiam aumentando. Até que dia 16 de dezembro de 1984, Eloy Ferreira da Silva foi barbaramente assassinado e se tornou mais um mártir da luta pela terra e pela Reforma Agrária.
Este assassinato atingiu não só o Eloy, mas também a organização do povo camponês. Atingiu um líder que doou sua vida como Jesus Cristo para que os pobres deixem de ser escravizados pelos poderosos.
Eloy era um homem de fé profunda. A todo momento ligava sua luta à libertação dos hebreus escravizados no Egito, sob o imperialismo dos faraós. “Deus está do nosso lado” era a fé que animava sua luta. Eloy buscava praticar a utopia cantada no Cântico de Maria no Evangelho de Lucas: “Os poderosos serão derrubados dos seus tronos e os pobres serão elevados. Os ricos serão despedidos de mãos vazias e os famintos serão saciados” (Lc 1,52-53).
Eloy Ferreira da Silva foi martirizado aos 54 anos, deixando a esposa e 10 filhos, também ameaçados pelos mesmos grileiros.
O norte e noroeste de Minas Gerais são territórios de ocupação muito antiga. Havia muitas áreas cheias de posseiros morando em terras devolutas. Nas décadas de 1970 e 1980, as grandes empresas e o latifundiário descobriram o norte e noroeste de Minas Gerais, regiões dos maiores latifúndios e dos maiores conflitos de terra do estado de Minas Gerais. A monocultura do eucalipto e a pecuária extensiva de gado cresceram muito sob o poder de fazendeiros e empresários mandando jagunços e capangas pisar em cima dos camponeses posseiros. Isso com a cumplicidade do Estado.
Na Fazenda Vereda Grande, no município de São Francisco, moravam 36 famílias de posseiros muito antigos. O maior latifundiário de Minas Gerais, Antônio Luciano, tentou se apoderar dessas terras, desviando o Rio Urucuia. Os posseiros impediram a entrada dos tratores e exigiram uma posição do Governo de Minas Gerais. O INCRA desapropriou a fazenda do pretenso dono em 1983. Mesmo com a desapropriação, o grileiro Antônio Luciano continuou a pressionar e ameaçar os posseiros.
Ao lado da posse da família de Eloy Ferreira da Silva, começa a fazenda Menino, megalatifúndio de 90 mil hectares, invadida por grileiros que ameaçavam a posse de 220 famílias camponesas posseiras. Junto com os posseiros, os sem-terra da região exigiram do governo que desarmasse os jagunços dos grileiros. Em vez disso, o delegado especial fiscalizava a organização dos posseiros e trabalhadores sem-terra. Os posseiros Januário Emídio dos Santos e José Natal Romão foram assassinados dia 14 de novembro de 1990, na Fazenda Menino, no município de Arinos, próximo de onde Eloy Ferreira tinha sido assassinado seis anos antes.
Exigir que na Fazenda Menino haja PAZ e TRABALHO para os Sem Terra da região é uma porção do legado extraordinário de luta pela terra que ELOY deixou para nós. Graças à luta de Eloy Ferreira da Silva na Fazenda Menino estão assentadas centenas de famílias de camponeses que estavam sem-terra.
A Comissão Pastoral da Terra (CPT/MG) divulgou um pequeno livro sobre a luta de Eloy Ferreira da Silva. ELOY: MORRE UMA VOZ, NASCE UM GRITO, livro lançado pela SEGRAC, de autoria de Luiz Chaves, Luiz Araújo e Jô Amado. Só em 1985 foram assassinados 16 lavradores na luta pela terra em Minas Gerais.
Dona Luzia, viúva de Eloy dizia; “Eloy vinha sempre lutando do lado dos pobres. Até deixou o que era dele mesmo mais afastado para se doar aos pobres. Ele ajudou, ajudou…”. E a batata quente da luta camponesa está em nossa mão. É dever ético continuarmos a luta pela terra, por reforma agrária, pela demarcação dos territórios dos Povos Indígenas de todas as Comunidades Tradicionais. Eloy Ferreira da Silva, presente em nós na luta por direitos, sempre!
É evidente o quanto é sofrida a luta pelo direito à terra, dom de Deus, direito de todos os camponeses e camponesas, e o quanto é necessário intensificar a regularização fundiária e promover a Reforma Agrária, com desapropriação das terras ociosas, sem função social.
No vídeo “Assassinato de Eloy Ferreira da Silva – Tribunal Nacional dos Crimes do Latifúndio” está o relato do crime bárbaro que ceifou a vida de Eloy Ferreira da Silva, assista ao vídeo clicando aqui.
Yago Pires, de apenas 20 anos, foi rendido dentro da casa de sua avó e morto a tiros durante o cumprimento de suposto mandado de busca.
Gabriela Torres | Redação Paraná
BRASIL – No amanhecer desta terça (7), vídeos da polícia militar arrastando um corpo para um galpão de materiais recicláveis circularam nas redes digitais. Yago Gabriel Pires de Oliveira, de apenas 20 anos, foi assassinado pela polícia militar durante uma operação na favela do Parolin com mais de dez tiros. O jovem negro estava dentro de casa, com seu irmão mais novo de apenas 9 anos quando os policiais invadiram o imóvel sem justificativa, casa onde residem outras oito crianças.
Após o crime, os policiais envolvidos foram registrados arrastando o corpo ensanguentado para o galpão, em um vídeo que repercutiu nas redes digitais. A Polícia alega que tentava ajudar o jovem baleado, mas a família que testemunhou o homicídio foi impedida de pedir socorro médico, mantida sob a mira dos policiais que seguiram dentro da casa. Após a chegada da ambulância, os socorristas foram impedidos de entrar no galpão, e Yago foi deixado jogado em meio às latinhas que trabalhava recolhendo.
Durante o mês de setembro, Ivan Ramos Mathias Filho de apenas 23 anos foi torturado e espancado no mesmo bairro por agentes da polícia, sendo posteriormente assassinado. A campanha de terror que violenta os moradores do Parolin é a expressão da política de morte do governador Ratinho Jr., que anunciou na última semana a maior compra de fuzis desde a sua reeleição: mais de 116 milhões de reais do dinheiro do povo paranaense. Segundo a Rede Nenhuma Vida a Menos, um helicóptero de R$9,7 milhões pagaria o salário de 2000 professores.
“O que fizeram foi desumano. O policial arrastou ele igual a um animal. Até agora está cheio de sangue o galpão. Tem latinha furada de tiro. Se você quer conter uma pessoa, daria um tiro na perna. Mas eles deram todos os tiros na barriga, no tórax. Foi para matar mesmo. Foi execução”, relatou uma testemunha.
Em meio à crescente desigualdade entre o cinema nacional independente e as grandes plataformas de streaming, Tiago de Aragão, cineasta e diretor da Associação de Produtoras Independentes do Audiovisual Brasileiro (API), aponta os desafios do setor e a necessidade urgente de regulamentações mais robustas para garantir a continuidade e a democratização do audiovisual brasileiro.
Leo Ribeiro | Brasília
Tiago de Aragão é cineasta e produtor audiovisual. Atualmente ocupa a cadeira da região Centro-Oeste na direção nacional da Associação de Produtoras Independentes do Audiovisual Brasileiro (API), atuando na elaboração de políticas públicas junto ao Governo Federal para a proteção e o fomento do cinema nacional independente, como o Projeto de Lei nº 2331/2022, que busca regular as plataformas de streaming e vídeo sob demanda (VOD).
Entre um compromisso e outro da campanha de divulgação de seu mais novo documentário, “A Câmara”, sobre a rotina dos bastidores do legislativo federal, Tiago concedeu a entrevista abaixo para o Jornal A Verdade.
A Verdade – Na posição de produtor e cineasta, como você sente o impacto da crescente desigualdade entre o audiovisual independente e os grandes estúdios e plataformas de streaming? E como isso vem se traduzindo na sua prática política?
Tiago de Aragão – Bom, é daí que parte a nossa luta sobre a regulação dos streamings. Desde fevereiro de 2024, eu sou um dos diretores da API. No Centro-Oeste somos eu e o Gustavo Amora. Nós, por estarmos em Brasília e termos essa afinidade com o tema, ficamos incumbidos de tomar a frente das articulações sobre a pauta do PL 2331/22.
Eu sinto que eu faço parte de uma geração de realizadores e de produtoras que passaram por um momento um pouco mais aquecido, do início dos anos 2010, em que surgiram muitos recursos públicos de fomento, e vimos isso se esvair de repente, com o Golpe de 2016. A partir daí, o Fundo Setorial do Audiovisual (FSA) começou a sofrer uma série de ataques. É nessa conjuntura que fundamos a API, lá em 2018, quando já apontávamos como uma pauta importante a necessidade de algum esforço regulatório para frear essa boiada dos streamings. Na época, o Governo Temer atuou, justamente, na contramão disso, facilitando as grandes plataformas, principalmente estrangeiras, a criarem uma hegemonia no audiovisual brasileiro.
Ainda hoje, o Congresso Nacional ainda se mostra um ambiente hostil para firmar essa luta. Alguns sindicatos maiores têm, de fato, nos dado um apoio muito significativo, mas essa luta tocada por associações como a API, salvo poucas exceções, acaba sendo voluntária. Do outro lado, as Big Techs, donas das plataformas de streaming, contratam escritórios de lobby com profissionais muito qualificados e recursos de sobra, ao ponto de conseguirem montar no Congresso a Bancada das Big Techs, que é gigantesca.
Um dos elementos da API que mais chama a atenção é a Direção Colegiada, que trás equidade para as regiões. Isso dialoga com os editais de arranjos regionais do FSA. Como o cinema nacional independente tem se organizado para descentralizar as suas produções?
Esse é um tópico muito caro para a API. Quando se fala de descentralização, tratamos de um fenômeno que corre em dois sentidos. Tem esse sentido da regionalidade, com produtoras associadas do Acre, de Alagoas, do Mato Grosso, conseguindo participar dos debates políticos do setor e distribuir obras que vêm ganhando cada vez mais relevância. Mas tem um outro sentido, quando falamos, por exemplo, de pequenas produtoras do RJ e de SP que já não têm acesso aos recursos públicos num jogo cada vez mais concentrado pelos tubarões do cinema nacional. A API representa os interesses desses dois perfis de pequenas produtoras. Nesse sentido, é uma recompensa muito grande quando a produção independente de uma associada ganha o mundo, como a gente tem acompanhado com “O Último Azul”, do Gabriel Mascaro, premiado nesta edição do Festival de Berlim, e que é da Desvia Filmes. A Plano B, que é do Mato Grosso, é uma produtora “APIana” e acabou de vencer o Festival de Gramado.
Por mais que sejamos uma associação nacional, essa estrutura de direção coletiva nos permite atuar com maior proximidade às diferentes realidades regionais e políticas do audiovisual brasileiro. Por vezes, nossos problemas são mais localizados. Dependendo da situação, todos nós voltamos nossos esforços para proteger o cinema de determinada região. A nossa diretora no Sul, Ane Siderman, teve uma atuação muito relevante na recuperação do setor audiovisual no processo das enchentes do Rio Grande do Sul, em 2024. Naquele momento, toda a API se mobilizou para apoiar a Ane na busca de soluções. Isso é a base da nossa atuação…Digamos, do espírito da associação.
Então você interpreta que ter filmes premiados internacionalmente, a exemplo de “O Último Azul”, ajuda o audiovisual brasileiro a se tornar mais democrático? Ou esse impulso democrático no setor ainda dependerá fortemente de regulamentações vindas do Congresso ou do Ministério da Cultura?
Existe o cinema nacional e o cinema nacional independente. É preciso fazer essa diferenciação antes de responder a sua pergunta. Quem tem a autoria e os direitos patrimoniais dos filmes independentes são as produtoras. Essa relação jurídica se torna mais complexa, por exemplo, quando vai se produzir um filme ou uma série para a Netflix, ou outra plataforma de streaming estrangeira.
Temos certeza de que uma produção independente brasileira gera um impacto socioeconômico local permanente. Se tem uma garantia de que essas obras vão continuar circulando, que elas são um retrato do seu tempo e de seu povo. Ao contrário, digamos, de uma produção brasileira da Disney. Se ela decide sair do Brasil, o filme vai embora junto. Esse modelo econômico das plataformas levam as produtoras a renunciarem à própria obra, elas se tornam meras prestadoras de serviço.
Eu enxergo da seguinte forma. Não dá para desmerecer a conquista do Óscar de “Ainda Estou Aqui”. Mas eu também não sei até onde um Original Globoplay ganhar o Óscar se reflete na democratização do audiovisual brasileiro. O que em si não apresenta nenhum problema, mas é um salto lógico muito longo. No tênis brasileiro, tivemos o fenômeno do Guga Kuerten, mas que não foi acompanhado de um conjunto de políticas públicas e investimentos na base para que esse fenômeno rendesse frutos a longo prazo. É preciso não descuidar do cinema brasileiro desse jeito, de nos contentarmos a admirar uma estrela cadente.
Nada substitui um investimento centralizado e consolidado, que quando você investiga direitinho, é justamente o que leva um filme brasileiro a chegar em Cannes, Berlim, ou no Óscar. Um Gabriel Mascaro ser premiado em Berlim eleva ele como uma novidade para a maior parte da sociedade, mas antes disso temos o Mascaro jovem diretor, há mais de 10 anos atrás, iniciando uma trajetória muito bonita com seus primeiros filmes, e tendo o mérito e a sorte de ter a gente certa acreditando e investindo nele. Esse tipo de artista precisa ser incentivado com políticas públicas cada vez mais sólidas.
Agora, estamos nos encaminhando para o fim de 2025 e ainda estamos esperando cair os pagamentos referentes a editais de 2024. Com isso, cria-se um clima de imprevisibilidade por todo o setor, isso tira muitas produções de circulação. O MinC (Ministério da Cultura) ocupa cadeiras importantes no Conselho Gestor do FSA e no Conselho Superior de Cinema. Na prática, ele só precisava cumprir o dever de dar ritmo aos investimentos, chamando mais reuniões, organizando o trabalho para que as devidas decisões sejam tomadas e os recursos já empenhados sejam liberados. Nesse sentido, o MinC deixa a desejar.
Às vezes, o MinC promove o cinema brasileiro muito mais com declarações, mas não se debruça numa questão central que é a quantidade de salas muito reduzida. É preciso gestores que pensem de maneira sistêmica, responsável e longeva. Como é que a gente pode ser o país do cinema se não consegue se ver no cinema? Nem precisamos olhar longe para aprender com bons exemplos. Criaram, na Argentina, uma rede pública de cinemas em diversas cidades onde só exibem filmes argentinos. É um exemplo de política pública que democratizou o cinema deles para todas as partes envolvidas.
A luta pelo fim da jornada de trabalho 6×1 tem despertado a consciência de trabalhadores de diversas categorias. O início dessa luta coincidiu com as greves de atores e roteiristas nos EUA. Esses eventos têm ecoado numa maior organização dos trabalhadores do audiovisual brasileiro?
Essa é uma questão muito complexa, acredito que não seria a pessoa mais capaz para responder isso. O fato é que a demanda dos trabalhadores, em geral os CLTs, pelo fim da jornada 6×1, saiu da bolha e trouxe muita reflexão nos sets de longas-metragens. Acabava que era muito comum trabalhar numa jornada 6×1 nesses projetos maiores. Aos poucos a regra vem se tornando a jornada 5×2. Mas é uma luta que está longe de ser resolvida, porque não se diminuíram as horas trabalhadas por semana.
No cinema, eu acho que essas questões vão ser resolvidas de uma maneira diferente, em que a regra é o trabalhador firmar um contrato temporário de trabalho. Na maioria das vezes, as filmagens de um filme duram de 6 a 8 semanas. Isso na perspectiva de produtoras de pequeno porte. A API tem buscado se orientar com o MEMP (Ministério do Empreendedorismo, da Microempresa e da Empresa de Pequeno Porte) e o Ministério do Trabalho, mas ainda não conseguimos iniciar um diálogo efetivo. O que é preocupante, porque as novas regulações acabam só empurrando cada vez mais trabalhadores do nosso setor para a pejotização. As agências de fomento do cinema, sejam os fomentos estaduais ou fomento nacional, às vezes te obrigam a ter um tipo de prestação de contas específico que não permite romper com esse padrão.
No papel, temos mais 9 mil produtoras, nacionalmente, mas aí vem o questionamento. Quantas dessas realmente produzem materiais originais e quantas são unicamente prestadoras de serviço, sobrevivendo a partir desses contratos temporários de produções maiores? É um problema muito grande e que não vai se resolver enquanto não formos ouvidos pelo governo.
A lógica dos cinemas de shopping é priorizar o acúmulo de receita. Há anos, 90% das salas exibem somente blockbusters americanos. É possível o cinema nacional independente vencer essa barreira?
Já tivemos uma vitória importante nesse aspecto, que foi a Lei da Cota de Tela. Por lei, todo cinema precisa incluir títulos nacionais na sua programação a todo momento. É lógico que isso não é suficiente e é muito difícil de ser fiscalizado. No Brasil, historicamente, os filmes americanos dos grandes estúdios se tornaram sinônimo de cinema. É preciso ter um olhar crítico e observar que isso não surgiu da escolha do público. Anualmente, o cinema brasileiro produz uma média de 300 longas-metragens, mas na hora da distribuição, entramos numa competição muito desigual com distribuidoras americanas bilionárias e que fornecem filmes para nossos cinemas o ano todo, e integrado a muita publicidade.
Os exibidores são pressionados a trabalhar sob os termos dessas grandes distribuidoras. Então, às vezes você consegue botar um filme nacional em 500 salas e, mesmo tendo uma boa semana de estreia, na próxima quinta-feira sai um Homem-Aranha novo e seu filme acaba sendo reduzido a uma fatia daquele mínimo exigido por lei. Agora, imagina se o Governo não entra para garantir esse mínimo? O cinema nacional ia se canibalizar, isso que ia acontecer.
A tendência ainda é essa, observa-se um aumento na competição pelas sobras do nosso parque exibidor. Isso não acontece em outros países. Há mais de 30 anos, a Coreia do Sul vem adotando medidas regulatórias estratégicas para subsidiar a exibição de filmes nacionais em suas salas de cinema. Não por acaso, o audiovisual sul-coreano se tornou referência mundial, graças a essa forte intervenção no mercado. Na França, um cinema de rua vai ter dificuldade para exibir um blockbuster, lá tem subsídios que tornam mais lucrativo eles exibirem filmes franceses. Da mesma forma, você não vai conseguir construir um shopping próximo a um cinema de rua. Isso é política de Estado, dar oportunidade para que um povo possa se assistir nas suas telas. E faz com que o audiovisual francês se torne economicamente forte. Não à toa que Cannes é importante cinematograficamente, mas também é um importante balcão de negócios. Hoje, é em Cannes que se decide quais filmes independentes vão ser distribuídos globalmente.
Da mesma forma, é política de Estado dos EUA essa pressão para que todo o mundo, todos os povos, assistam ao máximo possível de audiovisual industrial americano. Se o mercado de exibição se “regular”, entre muitas aspas, sozinho, só vamos observar a manutenção dessa lógica. O Estado brasileiro, portanto, precisa traçar suas estratégias para garantir a permanência dos filmes nacionais nas salas de cinema. Garantir que essa opção seja dada ao público, porque só aí ele vai poder dizer se gosta ou não dos filmes que produzimos. Uma boa parte da nossa classe política já entendeu que frear os excessos das Big Techs é uma questão de soberania. O Estado brasileiro precisa entender que fomentar o cinema nacional independente também é questão de soberania.
Lei antiaborto é sancionada em Vitória (ES), em meio a 908 casos de estupro, 688 envolvendo crianças e adolescentes em 2025.
Ana Thompson e Hellen Guimarães | Espírito Santo
MULHERES – No dia 26 de setembro de 2025, o prefeito da cidade de Vitória (ES), Lorenzo Pazolini (Republicanos), sancionou a Lei nº 10.218, que obriga a fixação de cartazes antiaborto em hospitais e outros estabelecimentos de saúde do município. Embora seja considerada inconstitucional por ser uma afronta à legislação federal já existente, que permite o aborto pelo SUS (em três casos específicos), essa lei, votada em regime de urgência na Câmara de Vereadores de Vitória no dia 5 de setembro de 2025, foi sancionada como mais um ataque às poucas conquistas reprodutivas das mulheres.
Além de promover a desinformação e coagir pessoas já vulnerabilizadas, a Lei nº 10.218/2025 também viola o direito das mulheres à saúde e ao aborto legal. Essa é mais uma forma de violência institucionalizada contra mulheres e meninas, revitimizando quem necessita e tem direito ao procedimento seguro e gratuito pelo SUS.
Aborto seguro é questão de saúde pública
Ainda, é importante lembrarmos que, do ponto de vista médico, o aborto não é um procedimento complexo ou perigoso, mas estar em um país que julga isso imoral é extremamente violento e um ataque profundo à vida de inúmeras mulheres e meninas. Dessa maneira, descriminalizar e legalizar o aborto seguro se torna uma questão de saúde pública e não um debate moral ou religioso sobre ser contra ou a favor, afinal, ninguém seria obrigada a abortar se não quisesse ou precisasse. Nesse sentido, a legalização plena traria de volta o poder de escolha sobre o destino de seu próprio corpo para as mulheres, um domínio negado desde a concretização patriarcal da mulher enquanto propriedade privada do homem e do Estado (comandado por homens).
Então, pensando que o aborto é uma realidade, ter uma posição sobre isso é falar, na verdade, sobre ser a favor do aborto legal e seguro ou clandestino e inseguro. Além disso, a criminalização desta prática atingirá principalmente mulheres negras, pobres e com menores níveis de escolaridade, sendo essas as que mais são atravessadas pelo procedimento de aborto no Brasil e as que mais morrem na experiência, segundo a Pesquisa Nacional de Aborto (2021). Essa circunstância expõe também o peso fatal dos recortes de raça e classe no capitalismo.
Violência sexual no Espírito Santo
Falando especificamente do Espírito Santo, é interessante pensar que, no ano de 2025, somente até o fim do mês de agosto e sem considerar a problemática da subnotificação, o estado registrou 906 casos de estupro, sendo que destes, 668 foram cometidos contra meninas com menos de 17 anos de idade, representando 73,7% do número total de ocorrências, segundo dados do Painel de Monitoramento da Violência contra a Mulher da Secretaria Estadual de Segurança Pública e Defesa Social. Esses dados mostram que a realidade diária de segurança sexual que as capixabas enfrentam é de desproteção generalizada. Mesmo dentro desse cenário, para o atual prefeito do município de Vitória (ES), Lorenzo Pazolini, os projetos que precisam de atenção e aprovação são aqueles que vão revitimizar essas mulheres e meninas.
Casos que expõem a violência
Por fim, não nos esqueçamos do caso da menina de 10 anos da cidade de São Mateus (ES): grávida de 22 semanas após ter sido estuprada pelo tio, teve seu direito ao aborto violado após múltiplas violências, como vazamento de informações sigilosas, intimidação nacional partindo de personalidades como a ex-ministra Damares Alves e perseguição de grupos religiosos e conservadores.
Assim sendo, a quem serve essa lei elaborada, apoiada e sancionada por homens?
Empresários do transporte de Fortaleza (CE) tentam cortar e reduzir linhas de ônibus da cidade. Movimentos sociais se mobilizam em ação contra a máfia do transporte.
João Pedro Melo e Dandahra Cavalcante | Fortaleza (CE)
SOCIEDADE – No dia 29/09, a cidade de Fortaleza, no Ceará, amanheceu com mais um ataque à classe trabalhadora: mais de 25 linhas de ônibus seriam cortadas e outras 29 teriam sua frota reduzida. A decisão foi imposta sem ao menos um aviso prévio aos trabalhadores e estudantes que utilizavam essas linhas, deixando muitos impossibilitados de chegar aos seus trabalhos ou locais de estudo. Essa medida foi tomada de forma unilateral pelo Sindionibus, sindicato criado para proteger os empresários parasitas que controlam o
chamado “transporte público” da cidade.
É comum falarmos dos ônibus como se fossem de fato um transporte público, mas, nas
capitais brasileiras, são empresas privadas que administram esse serviço. Ou seja, o que
impera é a lógica do lucro acima de tudo.
Hoje, em Fortaleza, o trabalhador paga R$ 4,50 por uma passagem, gastando pelo menos
R$ 9,00 por dia. Já os estudantes, fruto de muita luta, conquistaram a garantia de duas
passagens gratuitas nos dias úteis. Ainda assim, mais de 530 mil pessoas utilizam os
ônibus diariamente. Para os empresários do transporte, porém, isso não é suficiente.
Empresários querem lucrar ainda mais com a humilhação dos trabalhadores
Em nossa cidade, enfrentamos diariamente a precariedade do transporte coletivo. Não
interessa aos empresários melhorar as condições para a população, mas sim lucrar ao
máximo, mesmo que isso signifique impor superlotação, veículos velhos, falta de
ar-condicionado e longas esperas nos pontos.
O presidente do Sindionibus chegou a afirmar que “a conta não fecha”, já que a gratuidade
dos estudantes, somada aos R$ 4,50 pagos por cada trabalhador, não seria suficiente. No
entanto, não podemos esquecer que as empresas responsáveis pelo transporte recebem,
além da arrecadação das passagens, um subsídio mensal de mais de R$ 16 milhões da
Prefeitura de Fortaleza.
Mesmo assim, após os cortes, o sindicato anunciou que as linhas só poderiam voltar a
funcionar caso o subsídio fosse elevado para R$ 23 milhões e a passagem aumentasse
para R$ 7,20. Ou seja: para os donos do transporte, não importa se o povo já passa fome
com os preços abusivos dos alimentos, nem se milhões de brasileiros vivem sem ter onde
morar, devido aos aluguéis exorbitantes, o principal é que seus lucros sejam garantidos,
mesmo que seja às nossas custas.
Estudantes se mobilizam pelo retorno das linhas cortadas
Entre as linhas afetadas estava a “020”, que atende à Universidade Federal do Ceará e
circula dentro do campus do Pici, o maior da instituição. De repente, os estudantes foram
obrigados a caminhar mais de 30 minutos até suas aulas, e aqueles com mobilidade
reduzida ficaram impedidos de acessar seus blocos.
Diante disso, o movimento Correnteza, junto ao Diretório Central dos Estudantes da UFC,
organizou dois atos já no dia seguinte, sendo um deles o bloqueio da avenida em frente ao
campus do Pici. O ato reuniu centros acadêmicos e mais de 100 estudantes, que reivindicavam não apenas o retorno da linha, mas também a ampliação da frota e o passe
livre.
Um dos principais veículos jornalísticos da cidade esteve presente e registrou o ato, que
paralisou a principal avenida do bairro e entoou palavras de ordem como: “O 020 não é
esmola, o filho do prefeito vai de carro pra escola!”.
A pressão popular e a indignação imediata ao corte das linhas tiveram efeito: no dia
seguinte foi anunciado que o serviço voltaria a funcionar normalmente. Assim, trabalhadores
e estudantes puderam novamente utilizar essas linhas essenciais ao seu cotidiano.
A luta continua
A decisão de retomar as linhas de ônibus após os atos mostrou que a mobilização popular é capaz de transformar a realidade. Mas a pauta precisa ir além. Não basta recuperar o que foi cortado: Fortaleza ainda convive com frota insuficiente, veículos em más condições e tarifas cada vez mais pesadas para o bolso da população.
Hoje, um trabalhador que utiliza dois ônibus por dia gasta R$ 9,00. Ao final do mês,
isso representa mais de R$ 200,00 — quase 14% do salário mínimo. Para muitas famílias,
esse valor compromete despesas básicas como alimentação, aluguel ou energia.
Por isso, o debate sobre o passe livre irrestrito ganha cada vez mais relevância. A medida já
é realidade em várias cidades do país. Um exemplo próximo é Caucaia, na Região
Metropolitana de Fortaleza, onde toda a população tem acesso gratuito ao transporte
coletivo. Apesar de ainda vinculado à lógica das empresas privadas de transporte.
Em Fortaleza, a proposta do passe livre vai além da necessidade imediata de deslocamento
para o trabalho e a escola: significa democratizar o acesso à cidade, à cultura e ao lazer. A
luta pelo passe livre irrestrito é, portanto, um passo essencial para enfrentar a lógica de
exploração do transporte privado e afirmar a mobilidade como um direito, e não como
mercadoria.
E isso só será possível, com a superação da lógica do lucro acima da vida! Por isso, o
passe-livre deve estar vinculado à criação de uma empresa estatal, controlada pelo povo,
de transporte público! Somente assim teremos um transporte realmente público, gratuito e que supra as necessidades da classe trabalhadora
no nosso estado.
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