O Grêmio Estudantil Emmanuel Bezerra (GEEB-IVP) do Instituto Vivaldo Pereira enfrentou uma ofensiva autoritária da gestão, que negou uma sala ao grêmio e suspendeu suas atividades após um protesto pacífico. A direção tentou silenciar e intimidar os estudantes, que denunciaram as ilegalidades e enfrentaram hostilidades na escola. No entanto, a luta do GEEB-IVP conquistou a sala, e a gestão teve que emitir uma nota pública reconhecendo a legitimidade do grêmio.
Coordenação Estadual da UJR | Currais Novos (RN)
JUVENTUDE – O Grêmio Estudantil Emmanuel Bezerra (GEEB-IVP), do Instituto Vivaldo
Pereira, tem sido alvo de uma ofensiva autoritária por parte da gestão escolar desde que os
estudantes passaram a reivindicar um direito básico: o direito a uma sala para funcionar.
Mesmo com diversas salas vazias e desativadas no prédio da escola, a direção se negou
repetidas vezes a garantir um espaço, dificultando reuniões, projetos e toda a atividade
organizativa do grêmio — que foi fundado em 23 de outubro de 2025 e teve sua diretoria
eleita democraticamente no dia 30 do mesmo mês.
Diante da intransigência da gestão e sem qualquer justificativa plausível, os estudantes
realizaram um ato totalmente pacífico, colando cartazes nas paredes da escola para
reivindicar aquilo que qualquer entidade estudantil precisa para existir: condições mínimas
de trabalho. As colagens aconteceram no mesmo dia das eleições escolares, e os
estudantes também utilizaram frases como “Sem sala, sem voto”, denunciando a postura
antidemocrática da direção, que afirma que “todas as salas serão usadas no próximo ano”.
A resposta da gestão? Ainda mais autoritarismo.
Sem diálogo, sem notificação e sem direito de defesa — garantido pela Constituição
Federal — a direção suspendeu as atividades do GEEB-IVP, numa clara tentativa de
intimidação e silenciamento político.
Negado o direito de ser ouvido pela própria escola, o grêmio realizou aquilo que gestores
autoritários temem: não se calou. A presidência do GEEB-IVP protocolou um robusto
documento de defesa na 9ª DIREC, denunciando todas as irregularidades, ilegalidades e
arbitrariedades da suspensão.
Perseguição ao movimento estudantil
Após a publicação da nota de repúdio no Instagram do grêmio e do vídeo mostrando a
entrega da defesa à 9ª DIREC, estudantes, e até ex-estudantes claramente manipulados
pela gestão passaram a hostilizar e provocar membros do grêmio. Cartazes provocativos
foram espalhados na escola, buscando constranger e isolar aqueles que ousaram enfrentar
a direção. A gestão, que deveria zelar pelo ambiente escolar, mantém silêncio cúmplice
diante das agressões — como se não fosse responsável por criar o clima de intimidação
que dominou o IVP.
A situação lembra — e muito — os métodos da ditadura militar fascista, quando direções
escolares alinhadas ao regime reprimia violentamente o movimento estudantil para impedir
que a juventude se organizasse, reivindicasse direitos e questionasse as autoridades. Hoje,
a violência não vem com cassetetes, mas com perseguição política, chantagem,
manipulação de estudantes e tentativas de destruir a organização democrática construída
pela juventude.
O que aconteceu no Instituto Vivaldo Pereira não é um caso isolado: é parte de uma
tendência nacional de ataques à participação estudantil, justamente num momento em que
a juventude volta a se levantar, a se organizar e a enfrentar velhas estruturas de poder
dentro das escolas.
Após uma mobilização junto aos estudantes, denunciando a perseguição e autoritarismo da
gestão em denúncia na 9° DIREC, a gestão da escola foi obrigada a admitir a legitimidade
do grêmio e emitiu uma nota reconhecendo a existência da entidade, além de disponibilizar
uma sala ao grêmio, que será inaugurada neste final de ano. Essa conquista mostra que
cada passo autoritário da direção só reforça a necessidade de um grêmio forte, combativo e
independente, honrando o nome de Emmanuel Bezerra — jovem potiguar sequestrado,
torturado e assassinado pela ditadura.
Nos dias 29 e 30 de novembro, a Unidade Popular de Minas Gerais realizou o 1º Encontro Estadual de Coordenadores. O objetivo foi preparar todos para as lutas do próximo período, compartilhar experiências e tornar coesa a formação e organização dos coordenadores.
Rafael Fumero e Karoline de Melo | Minas Gerais
A UP não é apenas mais um partido de esquerda no Brasil, afirmou o Diretório Estadual de Minas Gerais em sua última Resolução Política. Para tornar essa afirmação real, estabeleceu-se que é responsabilidade do Partido Antifascista do Brasil dirigir todas as lutas da classe trabalhadora no estado, o que só será possível com a organização funcionando de forma planejada, capaz de orientar a ação e ampliar o número de filiados, fortalecendo nossa construção rumo ao poder popular e ao socialismo.
Portanto, para estimular a campanha de filiações que estabeleceu a meta de dobrar o número de filiados mineiros, nos dias 29 e 30 de novembro foi realizado o 1º Encontro Estadual de Coordenadores, que reuniu mais de 30 pessoas de Belo Horizonte, Contagem, Ribeirão das Neves, Divinópolis, Itaúna, Nova Lima, Sete Lagoas, Montes Claros, Itabirito, Viçosa, Lavras, Uberlândia, Uberaba e Venda Nova.
O objetivo do encontro não era apenas formativo, mas um momento de socialização de experiências, exercício da análise de conjuntura e reflexão, compreensão da estrutura e organização do partido e confraternização.
Em um estado imenso, que conta com 853 municípios, o encontro foi essencial para demonstrar que essa diversidade não torna a luta da UP difusa, pelo contrário, a fome, a miséria e a exploração estão presentes em todos os locais, e só conseguiremos combatê-las se a Unidade Popular se tornar o partido da nossa classe.
Brigada do Jornal A Verdade durante o Ato na Praça Sete de Setembro (Foto: Maxwell Vilela/JAV-MG)
A conjuntura e a nossa tarefa
Para iniciar o primeiro dia, compreendendo que as lutas são fundamentais na formação política, todos foram convocados a participar do ato de 29 de novembro, Dia Internacional de solidariedade com o povo palestino. Durante a atividade, os coordenadores de cidades do interior puderam vivenciar um ato de grande porte, conhecendo os desafios e potencialidades das diversas abordagens possíveis, os contratempos para filiar as pessoas nas lutas, a importância do planejamento dos nossos atos e manifestações, e a prestação de contas do jornal, juntamente dos contatos, após o término da atividade.
O trabalho com o Jornal A Verdade foi essencial para contextualizar o genocídio palestino e disputar a consciência da classe trabalhadora de Belo Horizonte, prova disso é o fato de termos vendido mais de 80 jornais e angariado vários contatos, que foram convidados para participarem de uma Plenária Antifascista (plenária de apresentação da UP).
A segunda etapa foi iniciada à tarde, para debater a conjuntura internacional. A partir da leitura da última nota da Unidade Popular, assimilou-se que ela está intimamente ligada com a realidade estadual, uma vez que a corrida armamentista para as guerras interimperialistas depende da exploração dos nossos minérios, como o lítio, que é utilizado nas baterias dos drones em Gaza e na favela da Penha, por exemplo.
Analisar a realidade é fundamental no acirramento da luta de classes. A partir disso, organizamos como, quando e onde iremos intervir para transformá-la.Nesse sentido, o conjunto dos participantes avaliou autocriticamente que devemos crescer entre as mulheres, pessoas pretas e trabalhadores operários, para sermos um partido de milhões, capaz de tocar todas as lutas.
A construção material, tarefa fundamental
“Se soubermos economizar a nossa mão de obra, os nossos bens e o nosso tempo, poderemos, com o que dispomos, multiplicar a nossa produção e a nossa possibilidade em todos os domínios”. Ho Chi Minh, 1952.
Ainda na tarde do dia 29, iniciou-se o debate sobre como devemos financiar as lutas que planejamos. Porque para agir, sobretudo no sistema capitalista, precisamos dispor de recursos e é a contribuição individual de cada filiada e filiado da Unidade Popular, garantida no 62° Artigo do Estatuto do partido, que mantém vivo todo o nosso trabalho. A Presidenta Municipal de Belo Horizonte afirmou: “as contribuições dadas ao nosso partido são os únicos recursos que não alimentam o sistema capitalista, mas sim a luta dos trabalhadores”.
Por isso, é papel de todo coordenador controlar politicamente esse pagamento, controle esse que não depende apenas de planilhas, mas de acompanhamento fraterno, da camaradagem e da disputa cotidiana para que todos compreendam que esses fundos garantem a autonomia política do partido e serão transformados em bandeiras, panfletos, fichas de filiação e demais materiais.
Outra tarefa fundamental é o financiamento de viagens intermunicipais, atividades de formação e das sedes, que serão o sustento que permitirá o crescimento da UP no estado.
Para cumprir o objetivo formativo do encontro, uma dinâmica foi proposta ao plenário: cada coordenador recebeu uma folha de papel e pode relatar dificuldades que sente ao desempenhar suas funções. Essas perguntas foram lidas e respondidas pelos membros do Diretório, buscando coletivizar os aprendizados.
A iniciativa se provou importante também para o próprio Diretório, que melhor compreendeu quais são os problemas enfrentados nas várias regiões do Estado e, propôs a solução: caso os núcleos continuem desenvolvendo um trabalho cotidiano de coletivização das tarefas e amplo contato com a população, as soluções serão compreendidas pelos filiados graças à aplicação da ciência do materialismo histórico-dialético ao trabalho cotidiano.
Sem organização não há revolução
No segundo dia do encontro, os debates foram direcionados às formas de melhor organizar o funcionamento dos núcleos, organismos de base do partido e essenciais para a construção das lutas no estado.
Iniciou-se com os informes de Agitação e Propaganda, que no ano de 2025, estiveram no centro dos debates da UP em Minas Gerais. Foi graças ao reconhecimento de que é necessário planejar a atuação dos filiados com o Jornal A Verdade, que as regiões puderam expandir o número de cidades em que atuamos, de núcleos funcionando, tudo isso alinhado ao crescimento do Jornal.
Para expor o exemplo do Centro-Oeste, Fernando Lopes, coordenador da região e membro do Diretório Estadual defendeu: “primeiro nós reunimos os filiados de todas as cidades da região, acompanhamos eles e entendemos quem eles eram e onde estavam, junto à isso, lemos matérias do Jornal, compreendemos sua importância, e incentivamos que cada um recebesse ao menos 15, para compensar o valor do frete. Assim, pudemos planejar para quais novas cidades enviaríamos jornais, expandindo nosso trabalho e, ao mesmo tempo, formando os camaradas”.
Em janeiro a região contava com apenas dois núcleos, que juntos contemplavam 30 jornais por quinzena, quando Fernando foi informado do plano de aumentar a cota de jornais para 300 em dezembro, iniciou as ações necessárias para alcançar a meta ousada.
Relatou: “hoje, nós temos mais de catorze cidades que recebem o Jornal, sendo seis toda quinzena e as demais esporadicamente. Entendemos também, que brigadas intermunicipais, contando com pessoas mais experientes de cidades com maior número de filiados, têm o potencial de expandir nossa atuação, porque a partir delas pegamos contatos, convidamos eles para as Plenárias Antifascistas e filiamos, formando assim esses novos núcleos”.
2º dia do Encontro (Foto: Rafael Fumero)
A Campanha de filiações: ainda é possível dobrar nosso partido de tamanho
Por fim, foi informado aos coordenadores que o objetivo de dobrar o número de filiados em Minas Gerais ainda é alcançável até o final de dezembro. Já ultrapassamos 50% da meta e, sobretudo graças às próximas lutas, a tarefa de filiar até alcançarmos mais de 2.000 filiados é um sonho que devemos sonhar na prática.
Para alcançá-lo, é necessário um duplo movimento: filiar direcionadamente a parcela mais explorada da nossa classe: mulheres, mães, negros e negras, operários, trabalhadores da 6×1, ou seja, proletarizar. Isso só será possível se unirmos as lutas ao processo.
É também preciso aprimorar a técnica, agilizar o preenchimento e registro das fichas e desburocratizar. Porque se a UP quer ser o partido do povo, suas portas devem estar sempre abertas à ele.
A segunda dinâmica formativa realizada, que também deu consequência à autocrítica percebida no primeiro dia, foi sugerida na edição nº 320 do A Verdade: “A comissão se dividiu em categorias representativas da classe trabalhadora: uma estudante; mãe trabalhadora da saúde com jornada de 12×36 e dois empregos; professora com dois empregos afastada das reuniões de núcleo; operária da indústria têxtil chegando na fábrica; e caixa de supermercado na escala 6×1”.
Cada coordenador exercitou a argumentação, o acolhimento e teve a oportunidade de aprender na prática como relacionar A Verdade, com as reuniões, plenárias de apresentação e acompanhamento individualizado dos filiados.
A camaradagem e o trabalho coletivo
“Só viverá o homem novo não importa quando, um dia,
se os que por ele sofremos formos capazes de ser semente e flor desse homem” Thiago de Mello
Tanto no decorrer da dinâmica e da confraternização, que eram atividades planejadas, quanto nos momentos de descanso e alimentação, a camaradagem e a coletividade se provaram aliadas do desenvolvimento do partido.
Dividir as trincheiras da luta antifascista e anticapitalista com a classe trabalhadora precisa ser reconhecido por cada filiado da Unidade Popular como um ato de solidariedade e acolhimento, sem demagogia ou presunção.
Comemoração de aniversário do camarada Lucas do Valle de Itabirito, realizada durante o encerramento do primeiro dia (Foto: Rafael Fumero)
É urgente a necessidade de conhecermos cada um dos nossos camaradas, não permitindo que a ideologia burguesa individualista e os vícios capitalistas cooptem aqueles que um dia acreditaram na luta pelo Socialismo.
Precisamos manter juntos de nós cada filiado e filiada que está passando pelas mais profundas dificuldades do capitalismo, impedindo sua saída.
Não basta dobrar nosso partido, devemos transformar os núcleos no espaço em que exercitamos o Poder Popular; a contribuição financeira na materialização da tarefa histórica da classe trabalhadora; a venda do Jornal na propaganda pela sociedade sem exploração e; o ato de filiar no ato de unir nossa classe sob a bandeira que derrotará o capitalismo. É na medida em que fazemos isso, que alcançaremos todos os objetivos da Unidade Popular.
Cerca de 2 mil trabalhadores estão em greve por tempo indeterminado até terem suas reivindicações atendidas pelas empresas terceirizadas da construção civil na planta da BYD Camaçari, na Região Metropolitana de Salvador.
Redação Bahia
TRABALHADOR UNIDO – Desde a última terça-feira (2/12), operários da construção civil que atuam na implementação da planta do monopólio bilionário chinês BYD iniciaram uma greve por condições mais dignas de trabalho. A greve foi produto da paralisação convocada nacionalmente pelo Movimento Luta de Classes (MLC) contra a escala 6×1.
A greve já alcança o quarto dia para conquistar as reivindicações da categoria. Entre elas estão, o pagamento de 30% por insalubridade; aumento do auxílio alimentação e transporte; instalação de bebedouros, vestiários, banheiros e fumódromos; disponibilização de mais ônibus para deslocamento dentro da fábrica, pois os trabalhadores teriam que caminhar mais de 4 km; regularização do pagamento de salários e a atualização do piso salarial.
Atualmente a maior parte dos trabalhadores na BYD são de empresas terceirizadas da construção civil que estão construindo a planta que futuramente terá 20 mil trabalhadores. Hoje, a montadora já alcançou a marca de 10 mil carros produzidos desde a inauguração da fábrica em setembro com cerca de 2 mil metalúrgicos trabalhando.
“Enquanto eles não resolverem tudo que temos aí de pendência nós vamos ficar parados e eles vão sofrer mais ainda. A obra deles depende da gente e se a gente não trabalhar nada lá dentro vai ser feito” disse o operário Paulo Henrique ao defender a greve. “Quem nos representa está aqui [aponta para camiseta do jornal A Verdade], o Movimento Luta de Classes!”, completa.
2 mil trabalhadores estão de braços cruzados na BYD de Camaçari-BA. Foto: Isabella Tanajura/JAV
Trabalhadores fundam novo sindicato
Desde o início da paralisação, o sindicato que deveria representar os operários da construção civil de Camaçari, o SINDTICCC, negou à imprensa burguesa reconhecer ou participar das reivindicações legítimas da categoria.
Representantes do sindicato apareceram pela primeira vez na paralisação no terceiro dia em que centenas de trabalhadores lutam contra a exploração das empresas que tem explorado os trabalhadores em condições análogas à escravidão, sem acesso a água, banheiros e vestiário.
A unidade dos trabalhadores não foi abalada a partir das ameaças do sindicato pelego. Em assembleia, os operários decidiram por criar o Sindicato Livre de Trabalhadores da Construção Civil, Montagem e Manutenção Industrial de Camaçari e Região, filiado ao MLC.
Brigadas do Jornal A Verdade
As brigadas do jornal A Verdade na porta da fábrica foram fator fundamental para o sucesso da mobilização dos trabalhadores na BYD Camaçari. Desde fevereiro brigadas quinzenais são realizadas bem cedo durante a entrada dos trabalhadores. Recentemente as brigadas passaram a ser semanais e o número de jornais vendidos por brigada passou a aumentar para 15 a 20 jornais vendidos. A partir da chamada nacional do Movimento Luta de Classes para a construção de paralisações contra a escala 6×1, os brigadistas do jornal passaram a estar pelo menos duas vezes por semana na fábrica.
Desde o começo da greve o número de jornais vendidos tem aumentado, somando 220 jornais vendidos nos últimos três dias de paralisação. Os operários reconhecem que o jornal e os movimentos que o constroem são os verdadeiros representantes de suas pautas. Sem o trabalho contínuo de brigadas operárias não seria possível construir essa luta junto com os trabalhadores.
INTERNACIONAL – As últimas semanas foram marcadas por enormes manifestações e por uma greve geral no Equador. Enquanto cresce a organização popular, a resposta do reacionário governo de Daniel Noboa é ampliar a repressão contra o povo equatoriano.
A greve nacional teve como destaques a Confederação de Nacionalidades Indígenas do Equador (Conaie), a União Nacional dos Educadores (UNE), sindicatos e organizações da juventude dos movimentos sociais, e, em sua pauta, o colapso no sistema de saúde, o aumento do desemprego e do custo de vida, além da crescente onda de violência no país, que só foi aumentada com a truculência do Estado.
A imprensa mantém o discurso de que o motivo do conflito foi o corte do subsídio do diesel, o que fez aumentar o preço dos combustíveis e de diversos produtos. Porém, as manifestações e protestos, que culminaram nessa greve nacional, são em resposta ao programa de reformas impostas pelo presidente para atender às ordens do Fundo Monetário Internacional (FMI).
Sob o discurso de empréstimo ao país, num total de US$ 5 bilhões, o FMI cobra medidas de austeridade e desmonte do serviço público, o que, em junho, culminou na demissão de 5 mil funcionários públicos, e aprovação de uma lei antiterrorista para coibir as manifestações. Além disso, Noboa colocou 12 províncias em estado de emergência.
A repressão contra o povo, com ataques nas ruas e militares armados, visa apenas a manter o governo do bilionário Daniel Noboa, que foi reeleito em abril deste ano com a promessa de enfrentar problemas crônicos do país, como a violência e o tráfico de drogas.
Amigo de Trump, a política de Noboa era esperada: jogar a população mais pobre nas mãos das especuladoras do FMI e aprofundar a crise econômica no país. Com uma economia dolarizada desde 2000, a dependência ao capital estrangeiro fica ainda mais aprofundada, e a classe trabalhadora é quem fica no prejuízo. É exatamente esse prejuízo para a educação, saúde, moradia e segurança pública que o povo equatoriano mostra não estar disposto a pagar.
Nós, da Unidade Popular (UP), nos solidarizamos com a luta dos povos equatorianos contra esse desmonte imposto pelo FMl e pelas elites mundiais. A classe trabalhadora equatoriana não deve pagar pela crise e pelo arrocho promovido pela sua elite local.
Todo apoio aos lutadores e lutadoras que estão nas ruas contra o governo fascista de Daniel Noboa. Fora o FMI do Equador e da América Latina! O povo pobre não vai sustentar a ganância do imperialismo e de seus governos de bilionários e patrões.
Sob o pretexto de um suposto combate ao narcotráfico, o imperialismo estadunidense intensificou, desde setembro, sua escalada de agressões contra a soberania da Venezuela.
Redação
INTERNACIONAL – As ameaças e agressões do imperialismo estadunidense contra a Venezuela ganham novos capítulos. Desde setembro, ações se intensificaram e colocam em risco a soberania venezuelana. Esses ataques são anunciados como um suposto combate às drogas, uma requentada desculpa para justificar a ingerência do imperialismo na América Latina. Durante décadas, essa foi a justificativa utilizada contra a luta revolucionária na Colômbia, posteriormente desmascaradas, pois se tratava de uma ação política para instalar bases militares, sufocar a resistência popular armada e dominar o território e as riquezas colombianas.
Agora, utilizam a mesma desculpa com a intensão de invadir a Venezuela, retirar o presidente eleito democraticamente Nicolás Maduro, impor um governo títere pró-Casa Branca e dominar as riquezas do país. Em sua sanha bélica, o Governo dos Estados Unidos classificou Maduro como narcotraficante e chefe do chamado Cartel de los Soles, grupo de narcotraficantes que atua na Venezuela em colaboração com outros grupos de narcotráfico da Colômbia, como o Tren de Aragua e o Cartel de Sinaloa. Inclusive, já há denúncias de que o Cartel de los Soles conta com envolvimento direto do Departamento de Estado Norte-Americano (DEA) como suporte aos ataques à Venezuela.
O presidente da Colômbia Gustavo Petro denunciou que pequenas embarcações de pescadores têm sido alvos de ataques pelos Estados Unidos. Embarcações de pescadores de Trinidad Tobago e Venezuela também foram atacadas. No total, já foram sete embarcações e um total de 32 pessoas executadas por mísseis, sem qualquer processo legal, criando uma nova modalidade de pena de morte.
Essa narrativa criada pela CIA (Agência Central de Inteligência Norte-americana) já é muito conhecida para atacar governos não alinhados aos interesses da Casa Branca na região.
Como parte da estratégia dos Estados Unidos, também ocorreu a recente premiação do Nobel da Paz dado a Maria Corina Machado, opositora de extrema-direita ao governo de Maduro, uma notória golpista, apoiadora do genocídio de Israel contra o povo palestino, defensora do confisco dos recursos oriundos do petróleo depositados em bancos estrangeiros e dos bloqueios contra seu próprio país. Além disso, Donald Trump anunciou uma recompensa de US$ 50 milhões (cerca de R$ 270 milhões) por informações que levem à prisão de Maduro.
Controle do petróleo e do gás
Na verdade, os verdadeiros objetivos que estão por trás das ameaças de Donald Trump contra a Venezuela são o de garantir aos poderosos monopólios capitalistas o controle das gigantescas reservas de petróleo e gás da Venezuela, além de terras raras e metais preciosos estratégicos para produção de tecnologia de ponta.
Para isso, os Estados Unidos vêm promovendo diversas ações de espionagem, inclusive como o próprio Trump já anunciou, com utilização de agentes secretos da CIA dentro da Venezuela e o deslocamento de navios e aeronaves de guerra, além de soldados, para o Mar do Caribe, próximo à costa venezuelana, segundo reportagem do jornal The Washington Post.
O governo Trump ordenou ainda a ação de aeronaves da unidade de elite do Exército estadunidense “Night Stalkers” (Caçadores da Noite), especializado em ações noturnas e que realiza missões de alta precisão. O grupo é composto por helicópteros de ataques pesados e possui uma divisão com drones de reconhecimento e inteligência.
Resistência popular
Internamente, a Venezuela vive um debate sobre a construção de uma Frente Popular Antifascista e Anti-imperialista, tendo como protagonistas os movimentos populares, revolucionários, sindicatos, organizações de massas estudantis, de bairros, mulheres e camponeses pela defesa da nação de possíveis invasões por parte dos EUA.
A resistência popular ganha força, em especial, nas populações mais pobres. A defesa do país vem sendo organizada pelo governo. Trump já declarou que também poderá realizar ataques por terra, mas esbarra na posição do Governo da Colômbia, que já se colocou abertamente contrário a uma ação militar do imperialismo na região.
Essa não é a primeira vez que os Estados Unidos tentam desestabilizar e derrubar o governo bolivariano da Venezuela. O problema é que, passados 26 anos da revolução liderada por Hugo Chávez, o governo mantém intacto o modo de produção capitalista, não confiscou os meios de produção das mãos da burguesia.
Em meio à grave crise econômica mundial e ao esgotamento do sistema capitalista como saída para a humanidade, a Venezuela se vê encurralada. Os países imperialistas e os monopólios econômicos sufocam o país com sanções econômicas e ações políticas, que restringem o comércio com outros países, confiscam parte dos lucros da venda do petróleo, provocando crises de abastecimento, principalmente de alimentos e bens de consumo essenciais, com fortes impactos nas famílias trabalhadoras.
Com a luta de classes mais acirrada, setores de extrema-direita e fascistas, financiados pelos Estados Unidos, recrudescem suas ações de golpes, exploram as contradições em parte das massas empobrecidas desiludidas com o governo bolivariano e ocupam o espaço como principal oposição à Maduro.
Nem mesmo a aliança com a China e a Rússia é garantia de solução para enfrentar uma invasão. Somente a força e a mobilização das massas populares pode impedir um possível ataque, derrotar o imperialismo e criar as verdadeiras condições para uma revolução socialista.
Matéria publicada na edição nº324 do Jornal A Verdade.
Prisão de presidente da ALERJ, suspeito de vazar operação que mirava influência do crime organizado no governo do Rio, mostra a quem serve a política de violência urbana.
Felipe Annunziata | Redação
BRASIL – O Rio de Janeiro passou mais uma semana marcada por uma operação policial. Desta vez, não houve centenas de mortos ou troca de tiros que levam ao fechamento de escolas e postos de saúde. Liderada pela Polícia Federal, a Operação “Unha e Carne” prendeu o presidente da Assembleia Legislativa do RJ, o deputado estadual Rodrigo Bacellar (União Brasil).
Esta operação mostra mais uma vez quem de fato está por trás do domínio das facções criminosas de vários territórios do Rio de Janeiro. Ao contrário dos discursos dos políticos fascistas, as operações militares nas favelas nunca resolverão o problema da violência urbana. Na realidade, essas ações das polícias só servem para ampliar o domínio político dos representantes da direita e do fascismo, como o Jornal A Verdade na edição nº325.
A operação desta quarta denunciou o vínculo do presidente da ALERJ com o ex-deputado TH Jóias, suspeito de lavar dinheiro para os chefes da facção Comando Vermelho. Bacellar teria vazado a operação que prendeu TH e ajudado na fuga do representante da facção na ALERJ.
Mostrando a hipocrisia dos deputados de direita, Bacellar comemorou o Massacre da Penha e criticou quando o judiciário solta pessoas presas. “Precisamos de uma legislação mais eficaz, que evite que marginais sejam presos hoje e soltos amanhã. Um Rio mais seguro não é palanque político, é o desejo de todas as famílias de bem do nosso Estado”. Agora, veremos se Bacellar defende para si o mesmo que defendeu para as pessoas vítimas do Massacre da Penha.
Desde que foi eleito, o presidente da ALERJ foi aliado ou atuou de acordo com os interesses dos grupos que mandam hoje no governo do Rio, chefiado por Cláudio Castro (PL). Junto com famílias de empresários que mandam nas prefeituras cidades do interior e da Região Metropolitana, o deputado tem buscado ampliar sua influência política no estado.
Durante sua gestão na ALERJ, os servidores sofreram vários ataques aos seus direitos e o processo de privatização da produção de água pela CEDAE avançou. Não satisfeito, o presidente da ALERJ apoiou o movimento para aprovar a chamada “Gratificação Faroeste”, a remuneração que o estado do Rio quer pagar para policiais que matem mais pessoas.
Mais uma vez, sem dar um tiro e criar o caos na cidade do Rio, como as polícias estaduais fizeram no Massacre da Penha, em 28 de outubro, foi possível desarticular ou ao menos prejudicar uma rede de influência de uma das maiores facções criminosas dentro do governo do Rio.
A maior e mais cruel estratégia que a burguesia tem sobre o nosso povo é a sua capacidade por meio de sua propaganda ideológica de responsabilizar cada indivíduo sobre suas dores. Sendo assim, é essencial fazer o debate com nossos companheiros sobre cuidado físico e psicológico, mas não individualizá-lo, de modo que se nossos problemas são coletivos a solução também deve ser.
Mary Araújo | União da Juventude Rebelião (MA)
JUVENTUDE – Olhar em retrospecto para a história da humanidade é perceber que todos os povos oprimidos do mundo estão destinados a serem extraordinariamente livres, não por favor da corja de exploradores, mas pela revolta presente em cada indivíduo que experimenta as desigualdades e injustiças que o capitalismo impõe ao povo.
A dor dos chamados excluídos transpõem as barreiras territoriais, nacionais, continentais e inunda a cada pessoa que sofre com a expropriação da riqueza, o vil pensamento do lucro acima da vida. Lutar em tais condições do capitalismo global é mais do que um brado de liberdade, é um ato de amor profundo (por si mesmo e pelos outros), é quebrar um ciclo de silenciamento e ódio que aprisiona o povo trabalhador que tudo produz na desesperança. É querer mais do que uma promessa de conciliação e um pedaço do bolo, é querer “o bom, o justo, o melhor do mundo” e o bolo inteiro.
A juventude tem, dentro desse cenário, um papel significativo já que a revolta está inata dentro de cada jovem, como diria o Che “ser jovem e não ser revolucionário, é uma contradição genética”, por isso, cabe a juventude estar apta para exercer o seu papel em organizar a rebeldia e em transformar cada jovem em um quadro revolucionário e fazer de cada luta um passo a mais para a esperança da nova sociedade.
De todas as maravilhas do mundo o socialismo, de todas as lutas travadas a maior que os comunistas fazem é pela vida. Não baseada na sobrevivência de aguentar para lutar mais uma vez, não em morrer pela revolução, mas viver por ela. Doar todos os melhores e mais importantes dias para construir uma nação de novo tipo onde a aurora já começou a surgir.
Desse modo, é imprescindível que façamos o debate e acompanhamento sobre a importância do trabalho de cuidado consigo e com os outros em cada espaço, já que em uma sociedade que individualiza cada vez mais as mazelas que são coletivas o que sobra para nós, os jovens, é o desânimo e o adoecimento -seja ele emocional, físico ou mental. Devemos fazer a disputa de nossos companheiros não só ao nível de ganhá-los para estarem na luta, mas para decidirem viver além das dificuldades que esse sistema nos impõe.
Cuidado coletivo
A maior e mais cruel estratégia que a burguesia tem sobre o nosso povo é a sua capacidade por meio de sua propaganda ideológica de responsabilizar cada indivíduo sobre suas dores, de apresentar salvações individuais para questões coletivas e secundarizar os reais motivos para o adoecimento do nosso povo, o cansaço, falta de produtividade e descontentamento é automaticamente patologizado, a solução nós apresentada é a de remédios que não acabam, quando nossas necessidades são por vezes causadas pelo déficit vitamínico por alimentos de baixa qualidade, pela falta de tempo para exercícios físicos, pela dificuldade no acesso a lazer, cultura e entretenimento.
Sendo assim, é essencial fazer o debate com nossos companheiros sobre cuidado físico e psicológico, mas não individualizá-lo, de modo que se nossos problemas são coletivos a solução também deve ser. Devemos formar grupos de caminhada, datas para praticar exercícios físicos coletivamente, fazermos o acompanhamento sistemático de como está o acompanhamento psicológico dos companheiros e se eles fazem, como anda sua alimentação, seu sono, seus estudos gerais e sobre o marxismo-leninismo.
Devemos disputar a vontade de viver de nossos companheiros, pois se organizar é um ato de amor. Mas viver por isso é um ato de resistência.
Após coleta de denúncias, panfletagem e brigadas do Jornal, o Mix Mateus Santo Amaro paralisou sua atividade por 1 hora e meia para lutar contra a escala 6×1.
Evelyn Dionízio | Redação PE
TRABALHADOR UNIDO – No dia 02 de dezembro, dia nacional de luta contra a escala 6×1 tocada pelo Movimento Luta de Classes e pela Unidade Popular, os trabalhadores do Mix Mateus Santo Amaro paralisam suas atividades durante 1h30. Após semanas de mobilização com brigadas do Jornal A Verdade, panfletagem e conversas com contatos recolhidos, obtiveram vitória ao realizar greve na luta por uma escala de trabalho mais justa, por melhores condições de trabalho e pelo aumento dos salários.
No dia houve intimidação de gerentes, filmando os trabalhadores que pudessem se unir à luta grevista na parte de fora do mercado. Três viaturas da Polícia Militar também estiveram no local para “acompanhar a movimentação”. Com a mobilização a partir das brigadas do Jornal, foi possível recolher diversas denúncias de assédio moral e sexual encobertos dentro do ambiente de trabalho, além de reivindicações quanto ao fim do desvio de função e limitação do uso do refeitório.
“Sem contar que início de mês eles sobrecarregam os operadores de caixa, obrigando a ficarem operando o caixa mais de 6hrs sem intervalo, muitos operadores passam mal com fome, pressão baixa e privados de irem no banheiro pois não tem quem faça a rendição a demora é [sic] de quase 1hrs após o solicitado.”, relatou Isabele Fabiola.
Enquanto isso, o Grupo Mateus continua lucrando sob risco de perdas milionárias de investimentos por “erros contábeis”. Por isso, os trabalhadores que dependem do emprego para sustentar suas famílias vivem o dia a dia com medo da demissão, principalmente após o anúncio da fusão com a rede Atacarejo.
“Fui trabalhadora da escala 6×1 e sei o que passam as operadoras de caixa, função que ocupei durante muitos anos, função essa que nos explora e nos adoece. Porque quando é na hora de fechar o caixa do dia a gente tem medo que falte dinheiro porque se faltar vai ser descontado do nosso salário de fome.”, relata Camila Falcão, do Movimento de Mulheres Olga Benario. Rafael Freire, da redação do Jornal A Verdade, complementa que “que a luta da classe trabalhadora pela redução da jornada de trabalho vai nos acompanhar enquanto existir o sistema capitalista porque é justamente colocando o trabalhador pra trabalhar mais horas, colocando o trabalhador pra produzir mais, que aumenta o lucro do patrão”.
A paralisação de 1h30 do Mix Mateus provou que só a luta unida do povo trabalhador pode alcançar uma mudança no sistema de exploração que vivemos. Apenas com greves organizadas podemos arrancar de uma vez por todas o fim da escala 6×1, a diminuição da jornada sem redução dos salários e aumento do salário mínimo, além de melhores condições de trabalho, o básico para a classe responsável por gerar toda a riqueza do país.
Suspenso há 1 ano e sem dialogar com os usuários, a falta de metrô aos domingos, além de mostrar o extremo sucateamento do serviço, mostra a negação do acesso para o trabalhador ao lazer, que não tem outra opção quando o transporte coletivo é feito apenas para o trabalho.
Marina Aguiar| Recife
CARTAS- Desde setembro de 2024, o metrô do Recife teve sua operação suspensa aos domingos para realizar manutenção nas linhas Centro e Sul. A verdade é que o sistema metroviário está passando por um processo de sucateamento e que precisa de reparos urgentemente. Além disso, diversos metroviários denunciam que a suspensão é necessária, pois a companhia de transporte não consegue mais custear as viagens e que, para não se endividar mais, necessitaria também suspender aos sábados.
O domingo é, tradicionalmente, o dia de ir à praia, ao parque, pegar um cinema no Shopping Boa Vista, juntar os amigos ou fazer aquele passeio simples, mas tão necessário que recarrega as energias para suportar mais uma longa semana. Para quem mora em áreas mais afastadas do Centro, como Camaragibe, Jaboatão, Cajueiro Seco e tantos outros lugares que dependem do metrô, esse direito ao lazer simplesmente deixa de existir quando o sistema fecha.
O lazer é um direito garantido por lei. A Constituição Federal de 1988 o estabelece como um direito social no artigo 6º e o artigo 227 reafirma o dever do Estado de garantir esse direito às crianças e adolescentes. No entanto, o que vemos é justamente o contrário: nada é feito para facilitar o acesso da população pobre ao lazer.
Em outras opções de transporte, o tempo de deslocamento dobra ou até triplica. Isso desanima o trabalhador a tentar um programa diferente no fim de semana, especialmente quando é preciso enfrentar filas, baldeações e a incerteza de horários de ônibus. Nos finais de semana a frota é reduzida, já que todo o sistema de mobilidade urbana foi pensado apenas a serviço do trabalho e não para o dia a dia do povo. Grande parte desses usuários tem apenas o transporte coletivo como alternativa e, diante da necessidade de pegar três ou quatro ônibus para chegar ao destino, acabam desistindo.
Há que se destacar que em muitos locais só existem lazer nos centros da cidade ou nas capitais. Já para os interiores o que sobra são apenas praças. Assim, o trabalhador de São Lourenço da Mata, por exemplo, tem apenas um cinema e praças para descansar nos finais de semana. Isso também lhe nega o acesso à cultura, quando muitas vezes as exposições e shows acontecem tarde da noite na capital.
Desse modo, a suspensão do metrô aos domingos deixa evidente que o sistema foi pensado para funcionar apenas em dias “úteis”. Mas úteis para quem? Para “facilitar” a vida do trabalhador? Mas, da mesma forma que precisamos do metrô para trabalhar e produzir, também precisamos dele para viver a cidade, para deslocar, para ter escolhas.
Fica ainda mais evidente a quem o metrô atende quando em dezembro a operação aos domingos é retomada para estimular as compras no Centro. Ou seja, quando há interesse econômico envolvido a circulação é garantida, mas quando o assunto é garantir o direito ao lazer do trabalhador, o serviço simplesmente não existe. Fechar o metrô nesse dia contribui ainda mais para afastar a população do centro do Recife, um espaço que já vive tantas discussões sobre abandono e até sobre a privatização de ruas, como a do Bom Jesus. A quem interessa afastar ainda mais o pobre do coração da cidade?
As pessoas precisam de espaços de lazer, mas também precisam de condições reais para chegar até eles. De que adianta ter equipamentos públicos se o acesso é praticamente inviável? Para garantir o direito ao lazer, é necessário um real investimento público no transporte coletivo e que cumpra seu real objetivo de servir a população de forma integral e não para encher os bolsos de empresas estrangeiras. O pobre gosta de passear, de caminhar pelo centro, comprar uma trufa na feira do Bom Jesus e sentir o vento no Marco Zero. Ele só precisa do mínimo: transporte público digno, eficiente e que não transforme um simples passeio em uma maratona de três horas.
O filme O Agente Secreto, de Kleber Mendonça Filho, lançado no início de novembro de 2025, tem chamado atenção por se tratar de mais uma obra cinematográfica que expõe e aprofunda uma das questões mais delicadas de nossa história recente: a ditadura militar de 1964. Repetindo o sucesso de público e crítica de “Ainda Estou Aqui”, o filme do pernambucano tem chamado atenção do grande público também fora do país e é um trabalho que precisa ser conhecido por todo o povo brasileiro.
Gabriela Calixto e Vitória Pereira| Recife
CULTURA- O filme O Agente Secreto, de Kleber Mendonça Filho, mistura ficção e memória histórica para mostrar como o Estado brasileiro usou a vigilância e o medo para fabricar inimigos e justificar a repressão durante a ditadura militar. A obra foge do eixo Rio–São Paulo e coloca o Nordeste no centro da história, revelando violências e silenciamentos ainda pouco discutidos.
A infiltração como instrumento de controle do Estado
No longa, acompanhamos Armando (Wagner Moura), pesquisador da Universidade Federal de Pernambuco que passa a ser perseguido depois de negar envolvimento em um projeto ligado ao governo Geisel. Forçado a voltar ao Recife, ele vê sua vida virar alvo de agentes estatais e intermediários privados. Essa perseguição mostra como, na ditadura, a repressão não se limitava a militantes políticos: atingia trabalhadores, estudantes, professores e famílias comuns.
O filme expõe como a infiltração e o monitoramento eram usados como ferramentas para desmobilizar qualquer forma de organização popular. A ideia de “segurança” servia mais para proteger interesses da elite econômica do que para garantir direitos e liberdade ao povo.
O Recife de 1977: um cenário silenciado pela ditadura
Ao ambientar a história no Recife, Kleber Mendonça rompe com a centralização do debate sobre a ditadura no Sudeste. A cidade aparece quase como uma personagem: o clima úmido, os sons das ruas, os interiores populares e os espaços públicos constroem a tensão do período.
Essa escolha revela uma memória frequentemente apagada. O Nordeste também sofreu vigilância, violência e censura, mas raramente virou tema do cinema nacional. O filme resgata essa perspectiva e mostra que a repressão não tinha fronteiras.
Ficção e realidade: quando o cinema escancara as estruturas de classe
Embora seja ficção, o filme dialoga diretamente com acontecimentos reais. A cena em que a patroa deixa a filha da empregada atravessar a rua sozinha faz referência ao caso do menino Miguel, morto em 2020. O paralelo deixa claro que desigualdade, negligência e hierarquias de classe continuam moldando vidas e violências no país.
Além disso, o filme mostra como regimes autoritários fabricam suspeitos para justificar vigilância e repressão. Essa lógica, típica da ditadura, também aparece em democracias capitalistas atuais, onde trabalhadores, estudantes e movimentos sociais são tratados como ameaça para manter a ordem da classe dominante.
Memória, narrativa e o papel do cinema brasileiro hoje
A história de Marcelo, reconstruída por gravações e recortes após sua morte, evidencia como regimes autoritários tentam apagar as vozes de quem foi perseguido. Lembrar, nesse contexto, se torna um ato político. Quando opressores são anistiados e perseguições são normalizadas, abre-se espaço para que novos abusos voltem a acontecer.
O filme também chama atenção para o cenário cultural brasileiro. Com mais de 25 prêmios e forte candidato ao Oscar de 2026, O Agente Secreto revela a importância do investimento em cultura. O longa contou com R$ 27 milhões em financiamentos públicos e privados, prova de que, quando há recursos, o cinema nacional alcança reconhecimento mundial.
A obra importa não só por revisitar o passado, mas por alertar para o presente. A construção de inimigos internos é uma estratégia que continua sendo usada por governos e corporações para manter o poder. Sem memória, sem cultura e sem incentivo, o risco é que esses apagamentos se repitam.
Em greve de fome desde o final de novembro, militantes paraguaias denunciam perseguição, tortura e o fascismo por parte do governo.
Redação
INTERNACIONAL- Após nove dias de greve, as prisioneiras políticas paraguaias Carmen e Laura Villalba e Francisca Dino retomaram uma nova greve de fome desde 27 de novembro. Não é um gesto simbólico: é o grito de quem enfrenta um cerco duplo repressivo. Por um lado, as condições desumanas e degradantes das prisões, típicas de um sistema que pune a pobreza, a insurgência e a militância comunista. Por outro, o isolamento político, que busca romper a organização da solidariedade humanitária e a capacidade de denunciar o desaparecimento de Lichita, o duplo infanticídio de María Carmen e Lilian, bem como as anomalias legais nos casos das três presas políticas.
A violência que enfrentam não é uma exceção, é a política prisional de um Estado que reproduz a lógica da contrainsurgência e a “Doutrina Bukele” exportada para toda a América Latina. Prisões superlotadas, suspensão de direitos básicos, punição coletiva, isolamento prolongado, negação de atendimento médico, proibição de estudo e leitura, censura das visitas, obstáculos administrativos para as visitas, tudo enrolado em um discurso de “segurança” que não é mais que governar pelo medo.
Esse modelo repressivo é a ferramenta do capitalismo dependente para lidar com as revoluções vivas. O aparato prisional funciona como um laboratório onde formas extremas de disciplina e desumanização são testadas — a mesma máquina que é então aplicada em territórios indígenas, bairros pobres e comunidades organizadas.
No entanto, nenhum regime de força apaga obrigações sob o direito internacional.
O Paraguai está violando abertamente:
Regras Mandela: proibição absoluta da tortura, isolamento prolongado, punição coletiva e negação de assistência médica.
Convenção Interamericana contra a Tortura: obrigação de prevenir, investigar e punir práticas degradantes.
Convenção sobre Desaparecimento Forçado: dever de garantir a busca sem obstrução – incluindo a participação das famílias, que agora é negada a Carmen.
Pacto Internacional sobre Direitos Civis e Políticos: direito à integridade, à vida, à comunicação com o exterior, à educação, à defesa.
A nova greve de fome deixa claro que as presas políticas não estão apenas lutando para sobreviver, mas para desmontar um regime de terror institucional que visa a se tornar a norma continental. Em um país onde uma menina – Lichita – ainda está desaparecida, onde a mãe é proibida de participar da busca e onde prisioneiros são punidos por ler, estudar ou receber visitas, a responsabilidade política e histórica é quebrar o silêncio.
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