UM JORNAL DOS TRABALHADORES NA LUTA PELO SOCIALISMO

sexta-feira, 6 de junho de 2025
Início Site Página 2

Lucro do agronegócio e de monopólios imperialistas estão por trás do café caro

Agronegócio subordinado ao imperialismo prefere exportar café para o exterior e quem paga conta é o povo pobre.

Chantal Campello | Cabo Frio (RJ)


BRASIL – O café, produto historicamente ligado à cultura, à economia e à luta do povo brasileiro, está cada vez mais inacessível. O preço do pacote de 500g já ultrapassa os R$35 em muitas regiões do país, afetando duramente o consumo diário das famílias. Mas por trás dessa escalada de preços não está apenas o clima ou o câmbio: há uma engrenagem  que envolve a ação direta do imperialismo estadunidense, herdeiro direto das políticas excludentes e a conivência ativa das elites brasileiras.

Apesar de ser o maior produtor mundial de café, o Brasil está vendo o produto sumir da mesa do povo. Isso acontece porque o sistema atual prioriza a exportação do café verde (grão cru) para países ricos, principalmente os Estados Unidos, em vez de abastecer o mercado interno. Os produtores vendem suas safras para fora, onde recebem em dólar, o que é mais lucrativo. O resultado é menos oferta no Brasil e, portanto, preços muito mais altos para o consumidor.

“Eles mandam o melhor café pAra fora. A gente aqui fica com o resto, e ainda pagando caro. O café que eu comprava por R$ 12 agora tá quase R$ 30”, denuncia Vinícius Seguraço, militante e trabalhador do Uber. 

Além disso, o dólar alto inflaciona ainda mais o produto, já que os exportadores ajustam seus preços com base no mercado de fora. Ou seja: mesmo um produto 100% nacional, colhido com suor por trabalhadores brasileiros, é cotado como se fosse importado.

Hoje, o país exporta apenas o grão cru, barato, enquanto grandes empresas dos EUA compram esse grão, processam e revendem cápsulas e produtos gourmet a preços até 10 vezes maiores. É um modelo cruel, onde o Brasil fornece matéria-prima barata e importa de volta o produto final caríssimo. A verdade é que o governo Trump escancarou a política de roubo legalizado. 

Enquanto o imperialismo lucra, os trabalhadores brasileiros pagam a conta com suor e miséria. No campo, os agricultores recebem cada vez menos, mesmo sendo responsáveis pela produção que sustenta o mercado mundial. Nas cidades, a situação não é diferente. 

Inação do governo

Diante desse cenário, o governo brasileiro cruza os braços, ou pior: atua ativamente a favor das grandes exportadoras e corporações do agronegócio. Não há controle de preços, não há proteção ao abastecimento interno, não há incentivo à industrialização nacional. A prioridade segue sendo exportar, enriquecer meia dúzia e empobrecer o povo.

A verdade é que o Estado brasileiro age como agente do imperialismo. Entrega o nosso café cru e importa miséria. Essa política econômica concentra renda, exclui os pobres do acesso a alimentos básicos e impede qualquer possibilidade de soberania alimentar. 

Mesmo com a carestia, a resistência popular se fortalece. A luta contra a fome é a ordem das lutas cotidianas. O povo brasileiro precisa retomar o controle sobre sua produção, romper com as amarras do imperialismo e construir uma economia voltada para as necessidades populares. O café, que já foi motor de revoluções e símbolo de resistência, volta a representar a necessidade urgente de mudar esse sistema.

Servidores Municipais de Campinas lutam contra sucateamento do serviço público

0

Reunidos em Assembleia na última segunda feira (26/05) os servidores de Campinas rejeitaram a proposta de 5% de reajuste salarial feita pela prefeitura. A exigência da categoria é de pelo menos 35%. Os trabalhadores tem feito uma luta intensa contra o sucateamento do serviço público e pela valorização dos servidores municipais

MLC | SP


Na última segunda feira (26/05) a categoria dos servidores municipais de Campinas realizou uma assembleia no paço da prefeitura para exigir o reajuste salarial de 35% aos trabalhadores.

A proposta da prefeitura de Dário Saad (Republicanos) e Wandão (PSB) é de reajustar apenas em 5,53% o salário dos servidores, enquanto aumenta em mais de 60% os salários dos secretários dos governos. A proposta de reajuste da prefeitura não cobre as perdas salarias dos últimos anos da categoria.

Descaso da Prefeitura

Insatisfeita com as suas condições de trabalho, com a má administração da prefeitura e com a conivência do sindicato, a categoria rejeitou a proposta oferecida pelo prefeito e denunciou o descaso com os servidores da cidade.

Além de negar a proposta de 35% de reajuste salarial, a gestão de Dario Saad (Republicanos) ignorou as demandas apresentadas pelos presentes na assembleia, como: de equiparação do vale nutricional ao vale alimentação para aposentados, a implementação de Cargos, Carreiras e Vencimentos e a melhoria do Bônus da educação.

Erick Padovan, militante do MLC e servidor de Campinas afirma: “as perdas salariais vem desde o anos 2000 e os trabalhadores ainda não viram essas perdas serem repostas. Temos passado em dezenas de bases e conversado com centenas de servidores, a categoria está organizada para lutar pelos seus direitos”

Vale lembrar que a atual gestão da prefeitura tem aumentado ainda mais o gasto do dinheiro público com empresas terceirizadas, como é o caso da recepção das UBS que passaram a ser de responsabilidade da Região Metropolitana

Servidores em Luta

Ao mesmo tempo, a atual gestão do sindicato, STMC, filiada no PSB, partido de Wandão e do antigo prefeito Jonas Donizette, se nega a lutar. Novamente, convocaram uma assembleia à portas fechadas, chamada em horário de trabalho da maioria dos servidores, sem ampla divulgação e num local insalubre e inviável de alocar uma categoria com mais de 26.000 pessoas.

Mesmo com a tentativa de boicote, diversos servidores compareceram ao paço e posteriormente na assembleia, paralisando locais de trabalho e exigindo a luta.

“O sindicato não tem feito as eleições dos delegados de base, isso prejudica muito a participação do servidor nas atividades sindicais, o que é um direito. O sentimentos dos trabalhadores é de muita revolta e frustração com o sindicato. Temos nos organizado para retomar nossa Entidade para a luta como a categoria exige” conclui Erick.

O Movimento Luta de Classes esteve presente e denunciou a precarização do serviço público de Campinas por parte da Administração da cidade, completamente alinhada com o governador fascista Tarcísio de Freitas (Republicanos).

Os servidores ainda citaram os exemplos de mobilização espalhados pelo estado de São Paulo, como a greve dos servidores de Jaguariúna, Vinhedo, Praia Grande e da Capital, retomando que o povo organizado tem condições de superar tamanha precarização e desmonte do serviço público.

A necessidade de aprofundar as mobilizações entre a categoria é uma tarefa urgente, apenas encenações do sindicato no balcão da prefeitura não comove os servidores, que querem cada vez mais retomar sua gigantesca história de luta.

Somente a união da classe trabalhadora é capaz de pôr fim à mesma política de sempre, de manutenção dos interesses da burguesia.

Myrian Villalba: “Estamos com toda a família em refúgio, não temos mais familiares no Paraguai”

Myrian Villalba, 45 anos, faz parte de uma família paraguaia, de origem humilde, camponesa, e que, há algumas décadas organiza o povo de seu país para lutar por uma pátria livre da opressão capitalista. Devido a isso, em 2020, sua filha (Lilian) e uma de suas sobrinhas (María Carmen) foram mortas numa emboscada de forças policiais e capangas dos latifundiários. Sua outra sobrinha (Elizabeth – Lichita) foi sequestrada e permanece desaparecida desde então.

Três companheiras militantes (Carmen e Laura Villalba e Francisca Andino) estão, atualmente, num presídio de segurança máxima, que mais se parece com um campo de concentração nazista devido às condições de crueldade e tortura permanentes. Uma campanha internacional de solidariedade está em andamento, e também A Verdade vem se somando a esses esforços.

Rafael Freire | Redação


A Verdade – Qual é, hoje, a situação política e econômica no Paraguai? Em que condições se desenvolve a luta das classes no país?

Miryan Villalba Bem, o Paraguai é um país que tem um pouco mais de 6 milhões de habitantes, além de outros milhões fora do país, como na Argentina e na Espanha. A maior parte dos trabalhos é do tipo subemprego e existem muitos desempregados. As universidades normalmente são privadas porque as públicas são apenas quatro a nível nacional. Então a população mais jovem se vê obrigada a imigrar para se sustentar ou para seguir seus estudos. Cerca de 80% das terras estão em mãos de 2% da população.

No governo segue o Partido Colorado. Estamos falando de um partido que nasce um pouco antes da ditadura de Alfredo Stroessner, que esteve no poder por 35 anos [1954 – 1989]. Só que houve um pequeno recesso, com a vitória do Monsenhor Fernando Lugo, mas que foi rapidamente destituído por um julgamento político. Então, estamos falando de um país muito rico em recursos naturais, mas extremamente pobre, por falta de educação, falta de saúde, falta de emprego, de oportunidades para a população.

Esse é atualmente o Paraguai. Mas lendo os relatórios ou as comunicações que fazem os meios de imprensa, parece um país próspero. Por que razão isso? Porque é um país onde está muito enraizado o cultivo da monocultura da soja, do girassol, a pecuária. Estamos falando de grandes extensões de terra que estão destinadas à pecuária, grandes extensões de terra para a monocultura, para o cultivo de sementes transgênicas. E tudo isso, obviamente, não contribui para que cresça a economia no país, mas sim apenas para crescer as contas desses grandes proprietários de terras, contas que estão no exterior.

E a outra grave doença que atravessa o Paraguai é a corrupção. A corrupção está muito enraizada em todas as instituições, que, obviamente, funcionam como foi estipulado pelo ditador Alfredo Stroessner. Todas as instituições funcionam com o mesmo estilo.

Também não podemos esquecer o narcotráfico. Toda a política oficial é financiada pelo narcotráfico. Estamos falando, por exemplo, do ex-presidente Horácio Cartes, que dirigia os três poderes do Estado. De fato, todos, não somente o Partido Colorado, mas também o Partido Liberal e todos que possuem um cargo, tanto no Poder Legislativo quanto no Executivo, ou em outras instituições, são financiados diretamente pelo narcotráfico.

Nesse contexto, que ações o movimento social, os partidos políticos, o Exército do Povo Paraguaio têm desenvolvido contra essa situação?

Em relação aos partidos políticos, como já disse, se conformam com ocupar um cargo, não há muita oposição. Uma oposição verdadeira não existe. Isso se pode ver perfeitamente lendo os meios de comunicação hegemônicos.

Em relação às organizações camponesas, estão muito atacadas. Como já disse, todas as instituições têm muito enraizado o gerenciamento estabelecido pela ditadura. Essas instituições não registram as denúncias. Por exemplo, há casos de dirigentes camponeses que foram assassinados e há também muitos outros camponeses assassinados por se oporem ao cultivo de transgênicos, aos despejos violentos, às ocupações por parte dos fazendeiros de grandes extensões de terra, que, legalmente, deveriam estar à disposição dos camponeses, que são os verdadeiros sujeitos da reforma agrária.

Em relação ao Exército do Povo Paraguaio, esta é uma organização marxista-leninista, que nasceu em 2008, justamente em uma zona rural, abrangendo o departamento de Conceição, São Pedro e outros. Nasceu da necessidade de enfrentar os assassinatos, as execuções de camponeses, os despejos violentos, formada por jovens que sonhavam com um Paraguai melhor.

E essa situação foi justamente o motivo pelo qual nossa família está passando por uma perseguição de mais de 20 anos. Tenho uma irmã que está privada de liberdade há mais de 20 anos, presa com sentença cumprida, que é Carmen Villalba.

Ela, em seu início de militância, fez parte do movimento de esquerda e do Partido Pátria Livre. Este partido praticamente foi aniquilado pelo governo. Desse processo, nasceu o Exército do Povo Paraguaio, e que teve em seu comando meu irmão mais novo, Osvaldo Villalba, morto em outubro de 2022, em um enfrentamento com forças policiais.

CARMEN VILLALBA. Transferência ilegal para outro presídio. Foto: Reprodução

Qual é a situação de Carmen e dos outros presos políticos?

Carmen [51 anos] e Laura Villalba [40 anos] e Francisca Andino [65 anos], além de outros tantos, como Rubem Villalba, estão nessa condição de presos políticos. As três companheiras foram arbitrariamente transferidas, em 12 de outubro de 2024, para o Presídio de Segurança Máxima de Minga Guazú. Nós o chamamos de Guantánamo Paraguaio, pelo fato de que é uma cópia fiel do presídio estadunidense em Cuba.

Foi uma transferência arbitrária, sem nenhum tipo de explicação nem razão. Pelo Código de Execução Penal, as três companheiras estudavam, trabalhavam, tinham uma conduta impecável, ou seja, não havia justificativa de indisciplina para a transferência. Na verdade, foram as primeiras mulheres que se instalaram nesse presídio de segurança máxima, que estava destinado para albergar pessoas de sexo masculino. Ou seja, estão numa parte do presídio masculino, isoladas, incomunicáveis 24 horas, em uma cela de dois metros por um e meio.

Na cela só tem uma cama de cimento, um colchão e uma latrina, além de uma torneira, que não é própria para consumo porque a água é muito salgada. As companheiras não têm energia elétrica, nem nenhum tipo de outros equipamentos que lhes possam ser úteis. Elas usavam essa torneira para abrandar o calor de 45 graus do Paraguai, porque não havia outro modo, e para se higienizar, mas isso também foi cortado. Já as noites, são muito frias. Ou seja, é um ambiente preparado para torturar as companheiras durante 24 horas. E outra coisa: elas sempre denunciam que estão passando fome e sede!

Por tudo isso, a campanha internacional em solidariedade à família Villalba mobilizou companheiros e companheiras para irem até o presídio para levar alimentos e água para que as companheiras possam consumi-los. Mas isso chega até o presídio, é recebido por eles mesmos, e não chegava até as companheiras, ficava na metade do caminho. No presídio, a comida é de má qualidade e muito pouca.

Esses fatos foram denunciados, e o advogado Salvador Sánchez, que defende as três companheiras desde sua transferência a esse presídio, solicitou Habeas Corpus, que foram rejeitados ou ignorados. Recentemente, foi rejeitado o pedido de transferência para Francisca Andino, uma pessoa com 65 anos, diabetes e outros tipos de doenças. Ela está tendo muitas complicações nesse lugar de reclusão e, por razões humanitárias, foi solicitado a transferência para um presídio comum, mas o governo a rejeitou, alegando bom estado de saúde.

Já Carmen é asmática e está com muita crise porque é um lugar sem ventilação, sem janela, sem absolutamente nada.

Não é possível visitá-las?

Essa é outra questão importante. No presídio de segurança máxima só permitem a entrada de familiares diretos, uma pessoa a cada 15 dias. Como, atualmente, estamos com toda a família em refúgio, não temos mais familiares no Paraguai. Por essa razão, com muita insistência e com muitos pedidos, conseguimos que organizações de direitos humanos e organizações sociais possam entrar. O que ainda estamos sustentando, mas eles querem cortar, querem que as companheiras fiquem incomunicáveis o tempo todo. Mas precisamos nos comunicar com elas para poder escutar suas reclamações, seus pedidos. Ultimamente, até o advogado estava tendo dificuldades para entrar, pois pediam agendamento com pelo menos 15 dias de antecedência para visitar as companheiras.

“Eu acho que a única coisa que nos vai salvar é a solidariedade internacional.”

Como tem se desenvolvido a mobilização internacionalista pelo aparecimento da menina Lichita? 

Vou falar sobre os três casos: minha filha, Lilian Mariana, uma menina de 11 anos, assim como a filha de Laura, María Carmen. Lichita é filha de Carmen Villalba. Tanto em relação ao duplo infanticídio [Lilian e María Carmen] quanto ao desaparecimento forçado de Lichita, no Paraguai, não se fez absolutamente nada. Tudo continua sem investigação. Não existe pessoa processada nesse caso, salvo Laura Villalba, mãe de María Carmen, que foi condenada a 31 anos de prisão.

Ou seja, em princípio, a acusam de violação do dever de cuidado e educação. Acusam de ser uma mãe ruim e que, por essa razão, os policiais e os militares capturam, torturam e executam a menina. Nesse primeiro caso, a condenaram a três anos. E, como é pouco, armaram uma acusação por terrorismo de Estado e a condenam a mais 25 anos e seis anos em regime de segurança máxima. Esse julgamento foi, na verdade, abafado, foi exagerado, um escárnio por parte da “Justiça” do Paraguai porque as testemunhas que declararam contra Laura foram os mesmos que assassinaram nossas filhas e fizeram desaparecer Lichita.

O caso de Lichita corre a mesma sorte. No Paraguai não se fez nenhuma investigação. O caso está aberto como um caso de tráfico, no qual a acusada sou eu, pois eu tinha a guarda de Lichita. Ou seja, desapareceram forçadamente com ela, o caso não foi investigado no Paraguai, não existe nenhuma causa e é o que estamos lutando para que mudem de caráter. É o que já recomendou, por três vezes, a Comissão Interamericana de Direitos Humanos.

No caso do duplo infanticídio, nós conseguimos, neste ano, com o Comitê para a Infância, em Genebra, que emitiu uma resolução responsabilizando o Estado do Paraguai por esses crimes. E também o fez, antes, a organização Human Rights Watch, mas o Paraguai, como se fosse absolutamente nada, nada fez. Mesmo assim, isso não nos debilita, não nos desencoraja, ao contrário, nos fortalece para continuar lutando, para continuar denunciando tanto o duplo infanticídio quanto o desaparecimento forçado de Lichita.

Atualmente, toda a nossa energia, todas as nossas atividades, estamos colocando nas três companheiras que estão em privação de liberdade, porque estão em uma situação de extrema gravidade. Eles estão matando nossas companheiras a conta-gotas.

Mesmo assim, em 2024, por exemplo, no dia 02 de setembro e no dia 30 de novembro, realizamos mobilização para ambos os casos, tanto o duplo infanticídio quanto a desaparição forçada. E temos uma campanha internacional de solidariedade com a família Villalba, que está bastante fortalecida, muito ampliada.

Estão se somando organizações do Brasil, temos organizações do Uruguai e do próprio Paraguai, apesar do medo, pois a perseguição é implacável lá. É muito fácil inventar acusações falsas no Paraguai e isso também impõe obstáculos. Também estamos vendo a possibilidade de denunciar também nos países europeus e outros países para que realmente se conheça essa situação, para que se rompa esse cerco midiático, para que caia a máscara do governo do Paraguai, que quer vender a ideia de que se trata de um país democrático, um país respeitoso dos direitos humanos.

Estamos falando de duplo infanticídio. Estamos falando de desaparecimento forçado. Estamos falando de um presídio de segurança máxima que não reúne os padrões internacionais para albergar pessoas privadas de liberdade.

Qual foi a situação que vocês enfrentaram na Argentina? E como estão agora?

Nós estávamos vivendo na Argentina desde 2007, em Misiones [fronteira com o Brasil], mas depois do duplo infanticídio, assim como do desaparecimento forçado, nos vimos obrigadas a ir a Buenos Aires e solicitar refúgio político, coisa que o governo anterior imediatamente nos concedeu. Mas, em 12 de abril de 2024, cerca de 70 homens fortemente armados invadiram nossa casa, apontando armas para nossos filhos. Somos cinco mulheres adultas (incluindo a minha mãe, de 80 anos) e 12 menores de idade, meninos, meninas e adolescentes.

Nesse dia, detiveram tanto a mim, minha irmã e uma sobrinha. A ordem de captura estava em nome de minha mãe, de 80 anos, sob a acusação de terrorismo armado. Nós já com refúgio estabelecido em Buenos Aires, nos armam uma denúncia no Paraguai e pedem nossa extradição. Obviamente, o governo de Javier Milei [presidente da Argentina] e de Patrícia Bullrich [ministra de Justiça], disse que iriam nos extraditar. Eles tentaram fazer isso, mas, ao nos deterem e notarem que contávamos com refúgio na Argentina, não teve outra opção senão ordenar nossa liberdade.

Mas já não nos sentíamos seguras na Argentina, porque eles estavam por todos os lados, inclusive viajaram para o Paraguai fazendo lobby para que nos transferissem, para que nos extraditassem. Há um ano, em maio de 2024, tivemos que abandonar a Argentina.

Há um mês, obtivemos oficialmente refúgio na Venezuela. E aqui estamos toda a família: os 12 meninos, meninas e adolescentes e as cinco mulheres adultas, tentando levar uma vida normal, onde os meninos possam seguir seus estudos, coisas que perderam no ano passado. E, bom, sonhar com um lar longe da nossa pátria, mas, pelo menos, onde contamos com segurança jurídica, que é o que nos está concedendo o Governo da Venezuela.

E, para encerrar, com um histórico de luta internacionalista tão grande, de resistência que sua família e sua organização têm desenvolvido, qual é a mensagem que deixa para os leitores de A Verdade?

Eu acho que a única coisa que nos vai salvar é a solidariedade internacional. E os meios de imprensa alternativos cumprem uma função muito importante de quebrar esse cerco. Dizer que vale a pena nos solidarizarmos com os países que estão lutando, vale a pena abraçá-los, porque é o que vai realmente nos salvar de toda essa repressão capitalista, imperialista e podemos falar de uma nova forma de ditadura. Estamos falando, novamente, de um Plano Condor de aniquilamento das organizações, dos dirigentes, e a solidariedade internacional me parece o primordial nesses casos. Estou me ferindo à própria carne, pois não podemos dar assistência às companheiras que estão privadas de liberdade, e os companheiros e companheiras dos movimentos internacionalistas é que estão fazendo esse trabalho por nós. Estão sendo nossos braços para poder abraçar as companheiras. O governo fascista, patriarcal, misógino do Paraguai realmente está tentando, a todo custo isolá-las, mas não vão conseguir.

Quero agradecer ao jornal A Verdade por esse espaço. Muito obrigada por dar-nos espaço nessa mídia alternativa, que é muito importante para romper o bloqueio midiático e para ampliar e aprofundar toda a campanha porque as três companheiras realmente precisam muito da solidariedade internacional.

Entrevista publicada na edição n° 313 do Jornal A Verdade.

Países imperialistas lutam entre si para dominar mais mercados

Para tentar sair da crise, países imperialistas intensificam a disputa por mercados e zonas de influência no mundo, as custas da morte de milhares e da fome de milhões de pessoas.

Rafael Freire | Redação


EDITORIAL – A crise econômica que afeta hoje grande parte do mundo não surgiu por acaso. Ela é resultado direto da lógica das grandes potências capitalistas, que, ao mesmo tempo em que produzem mercadorias de forma desordenada, empobrecem a classe trabalhadora.

Os próprios operários (sejam os que vivem nos países ricos sejam os que vivem nos países pobres) não conseguem comprar as mercadorias que eles mesmos produzem. Os salários são miseráveis, a renda dos trabalhadores subempregados ou desempregados mal dá para pagar o alto custo dos alimentos, e ainda é preciso pagar aluguel, gastar com transporte e vestimentas, comprar remédios, pagar pela energia, pela água, etc.

Para tentar sair dessa crise, essas mesmas potências intensificam a disputa por mercados e zonas de influência ao redor do planeta, mesmo que à custa da morte de milhares e da fome de milhões de pessoas. Trata-se de uma corrida por lucros que avança por meio da retirada de direitos dos trabalhadores e do agravamento da miséria. Em países como o Brasil, os efeitos são profundos: fome, desemprego e a ameaça constante ao direito de viver.

“Guerra comercial”

Na manhã do dia 12 de maio, EUA e China anunciaram um acordo de 90 dias sobre as “tarifas extras” que um país impôs aos produtos do outro, após a ofensiva do presidente Donald Trump. As tarifas sobre produtos chineses cairão de 145% para 30%, enquanto as tarifas das importações norte-americanas serão reduzidas de 125% para 10%.

Enquanto os EUA aumentam as tarifas para tentar competir com as mercadorias chinesas e demonstrar força, a burguesia chinesa consegue vender produtos a preços muito mais baixos graças aos subsídios estatais e à superexploração da força de trabalho do proletariado chinês e de outros países asiáticos, como Malásia, Tailândia, Camboja e Vietnã. Alguns “intelectuais de esquerda” confundem isso com o sistema socialista, mas não é tão difícil assim ver a floresta por trás das árvores.

Vejamos o que escreveu Eleanor Marx em artigo publicado poucos meses após a morte de seu pai, Karl Marx, em 1883, no qual ela resume alguns dos principais pensamentos do fundador do socialismo científico:

“Suponha que as trocas não foram iguais, que todos os vendedores sejam capazes de vender seus artigos 10% acima de seu valor real. Então, o que todos eles ganham enquanto vendedores, eles perdem de novo enquanto compradores. Novamente, permita que todo comprador compre 10% abaixo do valor do artigo adquirido. O que ele ganha enquanto comprador abandona novamente suas mãos assim que ele se tornar vendedor.

Suponha, finalmente, que os lucros sejam resultado de trapaças. Eu te vendo uma tonelada de ferro por 5 libras, enquanto seu valor não ultrapassa mais do que 3 libras. Neste caso, eu sou 2 libras mais rico, e você é 2 libras mais pobre. Antes da negociação, você possuía 5 libras em dinheiro e eu possuía 3 libras em valor de ferro – juntos, 8 libras. Após a negociação você possui 3 libras em ferro, e eu, 5 libras em ouro – juntos, mais uma vez, 8 libras. O valor trocou de mãos, porém, este não foi criado, e lucros, para serem reais, devem ser valor recém-criado.”

Sendo assim, fica evidente que toda essa movimentação entre as duas maiores potências econômicas do mundo faz parte do jogo de especulações típico da fase imperialista do sistema capitalista, a fase do capitalismo parasitário, em que este já não consegue mais produzir e vender em ritmo crescente e em cujo centro se encontra o capital financeiro e o mercado de ações nas Bolsas de Valores. Isso não produz novas riquezas, apenas tira capital das mãos de uns capitalistas para colocá-lo nas mãos de outros.

Recentemente, EUA e China intensificaram a chamada “guerra comercial”, com aumentos diários nas tarifas extras sobre a importação de produtos de ambos os lados. O que houve de concreto, num período 40 dias, foi que cerca de US$ 600 bilhões deixaram de ser negociados, gerando uma ameaça real de disparada na inflação e nas demissões na população norte-americana, caso o impasse se prolongasse.

No total, 185 países foram taxados pelo Governo Trump com porcentagens entre 10% (caso do Brasil) e 50%. Ainda não está definido como ficarão essas taxas extras a partir de agora. Fato é que, na briga entre os capitalistas, quem paga é a classe trabalhadora, como afirma documento da CIPOML, de outubro de 2024:

“As políticas protecionistas, de restrição monetária e de ‘austeridade’ aplicadas pelos Estados capitalistas estão acumulando os elementos de uma futura crise econômica, causando aumento do desemprego e diminuição dos investimentos, com taxas de inflação, especialmente nos preços de energia e alimentos.

O comércio de matérias-primas, especialmente alimentos, prejudica os países dependentes e seus povos, e o fardo da dívida recai sobre os trabalhadores. O abismo entre renda e riqueza está aumentando; os monopólios aumentam enormemente seus lucros, enquanto os salários e rendimentos reais dos estratos mais pobres e desfavorecidos da sociedade diminuem. Todos esses são sintomas de uma crise cada vez mais profunda, que levou os imperialistas até mesmo a realizar a guerra na Ucrânia [e o genocídio na Palestina, como demonstra o texto abaixo].”

E, mais à frente:

“A classe operária e os povos não podem confiar em uma potência imperialista em sua luta contra outra; eles devem intensificar a luta contra todo o imperialismo. A tese do chamado ‘multipolarismo’, que afirma que existem países imperialistas beligerantes e agressivos e países imperialistas progressistas, nos quais os povos podem confiar para a libertação nacional, é falsa. Não basta lutar apenas contra o odiado imperialismo norte-americano, porque, mesmo que ele seja enfraquecido ou mesmo destruído, outros imperialistas continuarão a saquear e oprimir os povos.” (Conferência Internacional de Partidos e Organizações Marxistas-Leninistas – CIPOML)

Dependência econômica

No caso do Brasil, além de não ter sido revogada a tarifa extra de 10% sobre os produtos importados pelos EUA, essa disputa interimperialista aumenta a dependência do país do modelo de exportação que perdura há mais de 500 anos.

Por um lado, o nosso país exportará mais produtos agrícolas e pouco industrializados para atender à demanda dos países que, antes, trocavam produtos entre si. Economistas burgueses dirão que isso é bom, mas, na realidade, isso agravará a fome no Brasil. Com mais alimentos sendo exportados e menos disponíveis no mercado interno, os preços aqui subirão ainda mais, e teremos que pagar mais caro pela comida.

Por outro lado, caso os produtos industrializados desses países sejam transferidos para o Brasil, isso afetará diretamente a produção industrial nacional, que diminuirá ainda mais, gerando desemprego e acelerando o processo de desindustrialização do país.

Frequentemente, o Governo Federal divulga “resultados positivos” da economia, falando em aumento de renda, mas, ao que parece, esquece que, mês a mês, a inflação abocanha uma parte cada vez maior da renda das famílias mais pobres. Cerca de 80% das famílias estão endividadas e hoje não se compra mais no supermercado o que se comprava há semanas atrás.

Só a luta organizada do povo no Brasil e no mundo, da classe operária, da juventude e das mulheres pode deter a política de guerras imperialistas e de fome gerada pelo apodrecido sistema capitalista e apontar para a construção do poder popular e do socialismo.

Publicado na edição n° 313 do Jornal A Verdade.

Aumenta a resistência popular contra as políticas de Milei na Argentina

0

Trabalhadores da Argentina organizam terceira paralisação nacional contra as políticas liberais de Javier Milei. Situação econômica da Argentina agrava as condições de vida 

Fernando Alves | Redação


Nos dias 9 e 10 de abril, trabalhadores e trabalhadoras da Argentina realizaram a terceira paralisação nacional contra o pacote de medidas econômicas do governo do presidente fascista Javier Milei.

A paralisação contou com amplo apoio popular e reuniu diversos setores econômicos e categorias de trabalhadores. A unidade das centrais sindicais e sindicatos combativos conseguiu a adesão de 90% de trabalhadores do setor industrial em algumas regiões do país. Nos ramos dos transportes (aéreo, portuário, ferroviário, urbano de passageiros) e do comércio, a adesão foi total.

Para fortalecer a mobilização foram realizados piquetes e atos conjuntos, mais conhecidos como multisetoriais. Também ocorreram importantes assembleias operárias, como a dos petroleiros de Neuquén. As mobilizações chegaram até aos trabalhadores da economia informal e não faltou apoio aos trabalhadores aposentados.

Avançou a luta contra as políticas do governo. Em resposta, Javier Milei promoveu uma grande repressão no país.

Empréstimo do FMI

Com um “crédito” de US$ 200 milhões, o Fundo Monetário Internacional (FMI) retoma as negociações do pagamento da dívida externa da Argentina. Essa velha política de empréstimo estimula o crescimento da dívida Argentina, aumenta a dependência econômica do país aos banqueiros internacionais e tenta ajudar Milei a sair do atoleiro que esse governo se meteu.

É a farra dos banqueiros, já que, além do FMI, o Banco Mundial, o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) e outros organismos financeiros internacionais estão de olho nos setores estratégicos da economia nacional. Num passe de mágica, a dívida Argentina cresceu em mais US$ 40 bilhões, aumentando ainda mais a dependência aos países imperialistas.

Com o agravamento da crise do sistema capitalista mundial, impulsionada pelas medidas de taxação do governo de Donald Trump nos EUA, o Governo Milei escancara sua submissão e a entrega das riquezas produzidas pelas classes trabalhadoras do país aos abutres da especulação internacional.

Em troca desse “generoso empréstimo”, o FMI impôs a imediata desvalorização do peso argentino em 30%, determinou o aumento do severo ajuste fiscal dos alimentos, das tarifas dos transportes e dos serviços, a privatização das empresas estatais estratégicas, a implantação da reforma trabalhista e a flexibilização total do regime de trabalho, a privatização da água e um severo ajuste fiscal.

Outra exigência dos banqueiros é a Reforma da Previdência, com o aumento do tempo de trabalho de 60 para 65 anos para as mulheres e de 65 para 68/70 anos para os homens, além do aumento do tempo de contribuição de 30 para 35 anos.

Diante dessa situação, os protestos crescentes nas ruas de todo o país exigem “Fora daqui o FMI!” e “Fora o FMI da Argentina!”.

A China também vem negociando com o Governo Milei várias medidas, como prolongar o crédito swap e um empréstimo no montante de US$ 5 bilhões. Porém, ainda não se sabe quais são as exigências de Xi Jinping para sacrificar o povo argentino.

Mesmo com a repressão, a classe trabalhadora da Argentina vem se organizando e está unida na luta em defesa de seus direitos e pela soberania nacional, exigindo a imediata suspensão do pagamento dos juros da dívida externa. As jornadas e paralisações nacionais continuarão até a derrubada de toda a política nefasta de Javier Milei e a derrocada de seu governo reacionário.

As lutas e a resistência do povo argentino são importantes ensinamentos para os trabalhadores e trabalhadoras da América Latina e do mundo.

Papa Francisco partiu deixando legado de esperança para os despossuídos da Terra

0

O Papa Francisco morreu no amanhecer do último dia 21 de abril, aos 88 anos de idade. Deixou um legado de luta em favor dos pobres e desfavorecidos.

Edival Nunes Cajá*


O Papa Francisco morreu no amanhecer do último dia 21 de abril, aos 88 anos de idade (1936-2025), vítima de um acidente vascular cerebral (AVC) e insuficiência cardíaca. Jorge Mario Bergoglio (seu nome de batismo), era argentino e membro da Congregação dos Jesuítas. Foi sepultado fora dos muros do Vaticano, na Basílica de Santa Maria Maggiore, em Roma, no dia 26 de abril.

O primeiro papa filho das Américas encerrou sua missão depois de “combater o bom combate” contra as forças conservadoras e reacionárias incrustadas no Estado do Vaticano e nos demais Estados opressores do mundo. Combateu as ditaduras militares, as torturas e as mazelas do sistema capitalista, como a fome e as guerras. Defendeu a prática dos direitos humanos e acolheu os imigrantes. Morreu lutando para mudar a Igreja e o mundo.

“Todas as nações têm o direito de existir em paz e em segurança e seus territórios não devem ser atacados ou invadidos. A soberania deve ser respeitada e garantida pelo diálogo e pela paz, não pelo ódio e pela guerra.” Assim, o Papa apelou por diversas vezes, defendendo o imediato cessar-fogo, o fim do genocídio do povo palestino, praticado pelos governos nazi-terroristas de Israel e dos EUA, e da guerra da Ucrânia, onde a Rússia ocupa parte do seu território, confrontando-se com tropas da Ucrânia e da Otan, com a sustentação bélica e financeira dos EUA.

O Papa também defendeu a Teologia da Libertação e suas comunidades eclesiais de base perseguidas pelas ditaduras da América Latina e diversos governos dos EUA. Com firmeza, o Papa Francisco assumiu a luta em favor dos povos deslocados pelas guerras e pela fome, que se tornaram legiões de imigrantes na Europa. Combateu, ao mesmo tempo, a devastação do meio ambiente, do ecossistema que ameaça a vida em todo o planeta, unicamente para atender a insaciável sede de lucro dos grandes capitalistas proprietários dos conglomerados imperialistas da mineração, da indústria e do agronegócio.

O único papa que teve a coragem e a franqueza de se autocriticar: “Eu também cometi meus erros, rezem por mim, eu também preciso de penitência”, disse Francisco ao conversar com os presos da maior e mais violenta penitenciária da Bolívia, denominada Palmasola, em Santa Cruz de la Sierra (10/07/2015).

O Papa, ao longo de sua gestão, criticou fortemente a Igreja pela sua cumplicidade com a escravização dos povos africanos e indígenas nas Américas, como também os crimes de pedofilia de membros da Igreja, o desvio do seu caminho, que, desde o ano de 312 d.C., no reinado do imperador romano Constantino, deixou de estar do lado dos pobres, que têm sede e fome de justiça, para ficar do lado dos colonizadores e capitalistas exploradores dos povos originários e dos trabalhadores.

Por todos esses gravíssimos pecados, o Papa Francisco pediu perdão a Deus e autorizou a bênção da Igreja à união de casais homoafetivos, o batismo de seus filhos e condenou a homofobia, o machismo e a misoginia.

“E não havia nenhuma pessoa necessitada entre eles”

Quando um cardeal dos EUA acusou Francisco de comunista, um jornalista argentino o indagou, e o Papa respondeu, ironizando o rótulo: “Minha carteira de identidade é Mateus 25. Leia Mateus 25 e veja se quem escreveu não era comunista. ‘Tive fome e me deste de comer, tive sede e me deste de beber, estive nu e me vestiste’. Essa é a regra de conduta”, afirmou.

Numa entrevista publicada no jornal La Republica (Itália, 11/11/2016), ao ser questionado sobre uma possível sociedade de inspiração marxista, Francisco respondeu: “São os comunistas os que pensam como os cristãos. Cristo falou de uma sociedade onde os pobres, os frágeis e os excluídos sejam os que decidam. Não os demagogos, mas o povo”.

“Não havia nenhum necessitado entre eles, porque os que possuíam terras ou casas, vendendo-as, traziam os valores correspondentes e os depositavam aos pés dos apóstolos; então se distribuía a cada um conforme às suas necessidades.” (Atos dos Apóstolos, 4:34-35)

De fato, no Evangelho de Mateus, como também no de Marcos, e, principalmente, nos Atos dos Apóstolos, livro do Novo Testamento da Bíblia católica, há vários relatos da saga do cristianismo primitivo que retratam bem o longevo esforço de parte da humanidade, com experiências concretas de tentativas de construção de uma nova sociedade, a sociedade dos iguais, a sociedade comunista, mesmo que de forma utópica, não científica, como que formando, assim, a infância do movimento comunista.

Para compreendermos melhor o valor dessa experiência histórica, da luta de classes daquela época, recomendamos o estudo de um texto de Friedrich Engels. Trata-se de sua Introdução (datada de 06 de março de 1895) ao livro As lutas de classes na França de 1848 a 1850, obra sociológica clássica de Karl Marx.

Também se pronunciou sobre esta temática tão importante um dos mais destacados apóstolos desta causa, a causa do comunismo, o companheiro Ernesto Che Guevara: “Quando os cristãos se atreverem a dar um testemunho revolucionário integral, a revolução latino-americana será invencível, uma vez que, até agora, os cristãos permitiram que sua doutrina fosse instrumentalizada pelos reacionários. Os cristãos devem optar definitivamente pela revolução e muito especialmente em nosso continente, onde é tão importante a fé cristã na massa popular. Mas os cristãos não podem pretender, na luta revolucionária, impor seus próprios dogmas, nem fazer proselitismo para suas igrejas; devem chegar sem a pretensão de evangelizar os marxistas e sem a covardia de ocultar sua fé para assemelhar-se a eles”.

A busca da coerência entre teoria e prática

Não foi à toa que o Papa Francisco recusou morar no luxuoso apartamento do palácio do Vaticano para morar nos simples apartamentos da Casa Santa Marta, onde moram os bispos que trabalham no Vaticano, e determinou a abertura de uma grande área para atender às necessidades dos sem-teto, moradores em situação de rua da cidade de Roma, com banheiros, barbearia, máquina de lavar e secar, fogão, café da manhã e dormitório para até 30 pessoas.

Portanto, o grande legado do primeiro Papa latino-americano é da maior importância para os explorados e oprimidos da Terra, pois ele lutou coerentemente para retomar as pegadas de Jesus de Nazaré, do Movimento dos primeiros cristãos; lutou, quase solitariamente, para a reformulação da arcaica e autoritária estrutura da Igreja, que ainda perdura.

Que os cardeais encarregados da elevada responsabilidade de eleger o novo papa ouçam os clamores de milhares de crianças órfãs da Faixa de Gaza, dos milhões de imigrantes da terra; esperamos que os senhores cardeais se compadeçam dos condenados da terra à fome, pois o sistema capitalista mata atualmente, no mundo, 11 seres humanos de fome por minuto, segundo estudos da Oxfam.

Diante da morte do Papa Francisco, enormes pressões das várias instituições das potências imperialistas pesam enormemente sobre os membros do próximo Conclave de cardeais que elegerá o novo Papa da Igreja Católica. Porém, dialeticamente, vossas eminências reverendíssimas hão de receber também o impacto da santa pressão que parte de milhares de Comunidades Eclesiais Bases e das forças progressistas de todo o mundo. Muito maior foi a pressão dos açoites das instituições do Império Romano e seus centuriões sobre Jesus e seus seguidores para que eles abandonassem o projeto histórico da salvação dos pobres, a construção de um reino de justiça, amor e igualdade para todos. 

É verdade que se pagou o mais elevado preço, porém, a ressurreição venceu a morte. A causa da justiça ficou mais forte e mais elevada, com o rubro estandarte da causa agora tinto de sangue de um homem santificado pelo povo, pela força e beleza da causa, assumida radicalmente, em favor da emancipação da humanidade.

Foi a profunda convicção e fé de Jesus e de seu coeso grupo de fervorosos revolucionários, de dedicação integral ao sagrado projeto de construção do novo reino de justiça e fraternidade entre os homens e mulheres da terra, que os fizeram vencer as inúmeras tentações de fuga, ameaças de prisões e o medo da morte.

Assim, conquistaram a imortalidade de seu mestre por meio do seu renascimento encarnado nos homens e mulheres organizadas no Movimento, dispostos a darem a sua própria vida pela sagrada causa que abraçaram: propagar a Boa Nova mundo afora aos cativos e explorados, até alcançar a libertação de toda a humanidade da tirania do império e do capital em todo o planeta.

Cristãos e comunistas devem dar-se as mãos pela causa

Na década de 1840, Karl Marx e Friedrich Engels, dois jovens talentosos, geniais, da Alemanha, que estudavam e pesquisavam a História da sociedade humana e da natureza, compreenderam que, para alcançar uma sociedade onde “todos tenham vida e vida em abundância”, não bastavam a oração e o apelo à compaixão. Por isso, criaram o materialismo dialético e histórico, a ciência social, descobriram a causa da pobreza e a possibilidade de acabar com ela e suas consequências.

Os dois jovens comunistas revolucionários lançaram, no dia 21 de fevereiro de 1848, na Inglaterra e na França, o Manifesto do Partido Comunista, com o programa para a libertação da classe trabalhadora da cidade e do campo, pelo caminho da luta de classes e da ciência histórica, a fim de  alcançar  o mais belo sonho que o homem já sonhou, o comunismo, que agora saiu do plano da utopia para o terreno da conquista científica e política, realizável somente como “obra da própria classe trabalhadora”.

Por isso, a necessidade histórica da construção do Partido Comunista Revolucionário (PCR) no Brasil, e em todos os países do mundo, assim como os cristãos buscaram levar a Boa Nova de uma sociedade sem explorados nem exploradores, o reino de Deus na Terra, para todos os países então conhecidos. “Ide por todo o mundo”, dissera o Mestre aos seus apóstolos.

O marxismo-leninismo concretiza isso, cimentado na mais profunda unidade entre seus membros e entre os Partidos irmãos, amigos e aliados, entre os quais consideramos os cristãos verdadeiros, numa ação arraigadamente ligada com a classe operária e as massas trabalhadoras da cidade e do campo. Somente levando à prática a consigna “Proletários de todos os países, uni-vos”, é possível vencer o sistema capitalista imperialista, a causa da pobreza, da miséria, do fascismo e das guerras.

Foi essa a razão que levou Manoel Lisboa de Moura a dedicar todas as suas energias e inteligência ao habilidoso trabalho de criação do PCR, em maio de 1966, mesmo sob a mira da ditadura militar fascista. Foi por isso que ele morreu, sob terríveis torturas, assim como Jesus de Nazaré no Gólgota, sem sequer murmurar, no terrível calvário do DOI-Codi do IV Exército Brasileiro, em Recife, no dia 04 de setembro de 1973, para que o Partido não morresse e continuasse trabalhando com os operários na sua organização pelo futuro comunista da humanidade.    

Os verdadeiros cristãos, os que não aceitaram a transformação do Movimento de Jesus numa Igreja de apoio à opressão dos impérios e do capital, compreenderam que a luta de classes é o motor dessa transformação histórica e se engajaram na luta ombro a ombro com os comunistas revolucionários em diversos países, sem renunciar à sua fé. Essa união, como disse Che Guevara, torna invencível a luta revolucionária. No campo dos verdadeiros seguidores de Jesus de Nazaré se encontrava (com os limites inerentes ao cargo) o Papa Francisco, que agora fez sua passagem para a imortalidade.

 

*Edival Nunes Cajá é ex-preso político, sociólogo, presidente do Centro Cultural Manoel Lisboa e membro do Comitê Central do PCR

 

Matéria publicada na edição impressa nº 312 de A Verdade 

“Precisamos falar sobre a exaustiva jornada de trabalho, as horas-extras e a escala 6×1, pegando cedo no batente, faça chuva ou faça sol. Enquanto isso, os patrões seguem em casa, ganhando contratos milionários, e nós só temos apenas um dia de folga na semana”

Trabalhadores da limpeza urbana, convocados pelo Sindlimp-PB organizam paralisação contra a escala 6×1 e mais dignidade para a categoria. Paralisação é vitoriosa e conquista redução da jornada de trabalho

Redação PB


TRABALHADOR UNIDO – Iniciada na última semana de março, a campanha salarial dos trabalhadores e trabalhadoras da limpeza urbana da Paraíba segue firme na luta por valorização e dignidade, com a inclusão na pauta de reivindicações do fim da escala 6×1. No último dia 23 de abril, o sindicato da categoria, Sindlimp-PB, coordenou uma paralisação de duas horas na porta de três empresas nas cidades de João Pessoa e Santa Rita para dialogar com os agentes de limpeza e se somar ao Dia Nacional de Luta convocado pelo Movimento Luta de Classes (MLC) e pela Unidade Popular (UP).

“Precisamos falar sobre a exaustiva jornada de trabalho, as horas-extras e a escala 6×1, pegando cedo no batente, faça chuva ou faça sol. Enquanto isso, os patrões seguem em casa, ganhando contratos milionários, e nós só temos apenas um dia de folga na semana”, declarou Radamés Cândido, presidente do Sindicato.

Atualmente, a jornada dos trabalhadores da limpeza urbana é de sete horas e vinte minutos por dia, seis dias por semana. Como é considerado serviço essencial, funciona com turnos e equipes que trabalham praticamente 24 horas por dia nas grandes cidades. É comum ainda a implementação das horas-extras. Com o acelerado crescimento da capital paraibana nos últimos anos, o trabalho só cresce e, o que deveria ser ocasional, torna-se cotidiano. Assim, muitos agentes de limpeza vivem jornadas superiores a 50 horas por semana, especialmente nas equipes de coleta de lixo domiciliar, em que os trabalhadores correm por quilômetros atrás do caminhão.

A proposta de redução da jornada e fim da escala 6×1 vem sendo construída junto à categoria desde o ano passado e é fruto do acúmulo das últimas campanhas salariais vitoriosas. Além de sucessivos reajustes acima da inflação, a categoria obteve o pagamento de 40% de insalubridade para todos os trabalhadores, conquista inédita no país, provando que é possível conquistar mais direitos por meio da luta organizada e combativa.

Por tudo isso, somada às pautas econômicas da categoria (reajuste nos salários e no vale-alimentação, plano de saúde, auxílio-creche, pagamento do vale-alimentação a trabalhadoras em licença maternidade e afastados por acidente de trabalho), a proposta apresentada pelo Sindlimp-PB às empresas e ao Ministério do Trabalho foi de redução da jornada semanal de 44 para 40 horas, com o fim da jornada 6×1, adotando um regime de cinco dias de trabalho, com duas folgas semanais.

A primeira rodada de negociações com as empresas aconteceu nos dias 23 e 24 de abril, logo após a paralisação. Mesmo com o atendimento de algumas pautas econômicas, a pauta do fim da escala 6×1 ainda segue na mesa e na cabeça de cada trabalhador, que deseja lutar para conquistar seus objetivos.

Matéria publicada na edição impressa n° 312 de A Verdade

Trabalhadores realizam atos e paralisações por condições dignas de vida

0

Classe trabalhadora organiza atos e paralisações no dia 1° de maio. Redução da jornada de trabalho e fim da escala 6×1 estão no centro das reivindicações

Redação


EDITORIAL – A classe trabalhadora brasileira é uma das maiores do mundo, somando, aproximadamente, 107 milhões de pessoas. Destas, 7 milhões são, segundo os critérios do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), consideradas desocupadas, ou seja, totalmente desempregadas.

Dos cerca de 100 milhões de trabalhadores que, de alguma forma, exercem atividade remunerada, 40 milhões estão na informalidade, sobrevivendo de toda variedade de bicos ou como camelôs, catadores de material reciclável, carregadores, etc. Somam 6 milhões os trabalhadores domésticos (92%, mulheres); quase 13 milhões são funcionários públicos; e mais de 39 milhões possuem carteira assinada. Do total de trabalhadores, 60% possuem renda de até um salário mínimo (R$ 1.518,00).

Esse é o retrato do Brasil mostrado pela última Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua, divulgada pelo IBGE no final de janeiro.

Mas façamos um exercício de comparação: 47 milhões de trabalhadores e trabalhadoras na informalidade ou desempregados é maior que toda a população da Argentina (45 milhões), da Ucrânia (44 milhões) ou do Canadá (37 milhões), países que figuram entre os 40 mais populosos do mundo. Ou seja, o Brasil possui uma imensa nação de proletários sem direitos, com trabalhos extremamente precarizados e cumprindo jornadas desumanas.

Mesmo aqueles trabalhadores que estão com carteira assinada – como é o caso dos trabalhadores da limpeza urbana (veja matéria abaixo e página 2) –, muitos estão afundados em dívidas no cartão de crédito (para alegria dos banqueiros) e vivendo miseravelmente. Até a Organização Internacional do Trabalho (OIT) está aplicando um novo conceito, “trabalhadores pobres”, referindo-se às pessoas que, mesmo exercendo empregos formais, estão vivendo abaixo da linha da pobreza.

Também entre os servidores públicos (como A Verdade mostra nesta edição nas páginas 6 e 7), muitos estão em estado de mobilização ou de greve para enfrentar a carestia que corrói seus salários, ou ainda se organizando junto ao Movimento Luta de Classes (MLC) para colocar seus sindicatos no rumo da luta.

Fim da escala 6×1

Só neste ano de 2025, ocorreram dois Atos Nacionais pelo Fim da Escala 6×1, convocados pelo MLC e pela Unidade Popular (UP). O primeiro, no dia 19 de março (ver A Verdade nº 310), e o mais recente no dia 23 de abril. Os atos contaram com forte adesão de movimentos sociais e também dos funcionários de shoppings nos 60 municípios onde ocorreram.

No Estado de São Paulo, 14 shoppings foram ocupados com os atos. Na região metropolitana da capital, as três ocupações realizadas somaram cerca de mil pessoas. “A escala 6×1 é muito cansativa. Eu também trabalho em shopping e a gente só trabalha, é muita exploração. Eu acho que essa manifestação aqui é o começo de tudo. A gente que faz girar a economia do país. Se a gente não se juntar, nada muda”, denunciou Camila, que estava no Shopping Bandeiras, em Campinas (SP). No mesmo tom, Mariana, ouvida pela reportagem no Shopping Metrô Tatuapé, afirmou: “Trabalhei cinco anos em shopping, é uma escravidão. A gente tem que fazer de tudo pra acabar com essa escala maldita o mais rápido possível”.

No Nordeste, houve atos em todas as capitais. “Foi muito importante ter feito esse ato contra a escala 6×1 para denunciar a exploração dos trabalhadores, especialmente no setor de serviços. Conseguimos fazer essa denúncia, apesar da truculência das empresas e dos donos dos shoppings, que recai tanto contra os trabalhadores quanto contra essa luta”, avaliou Cassiano Bezerra, diretor da UNE que participou da manifestação em Recife, no Shopping Boa Vista. Em Porto Alegre (RS), uma centena de pessoas ocupou um shopping. Em Santa Catarina e no Paraná também ocorreram manifestações.

Em Brasília (DF), os manifestantes foram abordados com violência pelos seguranças do shopping Conjunto Nacional, que tentaram impedir o ato. No entanto, o apoio de trabalhadores e clientes do espaço fez com que o ato seguisse.

O roteiro se repetiu em outras capitais do país, além de cidades do interior. É o caso do Estado do Rio de Janeiro, onde pelo menos três cidades tiveram shoppings ocupados. Atos ocorreram no Shopping Nova América, na capital, no Caxias Shopping e em um shopping de Cabo Frio. “É bem complicado, ainda mais pra quem tem filho e pra quem estuda. Um dia só não dá pra fazer nada e ainda tem a questão dos lugares que não pagam feriado. Os horários também são muito cansativos, eu saio às 23h30”, afirmou Ingrid, trabalhadora do Caxias Shopping.

Durante os atos, muitos trabalhadores dos shoppings levaram espontaneamente ao jornal A Verdade denúncias de folgas cortadas por seus chefes, o surgimento de problemas de saúde mental e física, horas não pagas, e muitos outros problemas. Há muitos casos em que são obrigados a trabalhar 15 ou 20 dias sem descanso, contando com apenas uma ou duas folgas por mês. Nesses locais de trabalho, a situação se agrava durante feriados prolongados e datas comemorativas, como aconteceu recentemente na Páscoa.

Além da falta de folgas, os trabalhadores da escala 6×1 são submetidos a uma realidade cruel no transporte público. Muitos gastam duas ou até mais horas por dia durante o deslocamento de casa para o trabalho e do trabalho para casa. Esse cenário, agravado pela privatização dos transportes públicos e os sucessivos aumentos de passagem nos ônibus e trens, torna ainda mais difícil a vida desses trabalhadores.

Por toda essa situação, o proletariado no Brasil e no mundo se mobiliza para enfrentar as consequências da crise do sistema capitalista, que precisa explorar mais e mais para alimentar a sanha de lucros da burguesia. Em torno deste 1º de Maio, Dia Internacional da Classe Trabalhadora, milhões saíram e continuarão a sair às ruas para erguer suas bandeiras históricas: a redução da jornada de trabalho e o socialismo.

Matéria publicada na edição impressa n° 312 de A Verdade 

Estudantes da UFRJ assumem controle do bandejão para fortalecer greve dos trabalhadores

0

Estudantes organizados no movimento estudantil assumem o controle do Restaurante Universitário na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) em apoio a paralisação de trabalhadores terceirizados, que há semanas estão com o salário atrasado.

Matheus Monteiro | Rio de Janeiro (RJ)

No dia 11 de abril, trabalhadores terceirizados da empresa Nutryenerge, responsável pelos restaurantes da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), organizaram uma paralisação em suas atividades devido ao atraso de semanas no pagamento dos seus salários. Diante dessa situação, trabalhadores indignados também procuraram o Diretório Central dos Estudantes da UFRJ para fortalecer a denúncia.

Os atrasos nos pagamentos dos trabalhadores são frequentes. Aliás, por mais que a UFRJ garanta o pagamento integral à empresa, a Nutryenerge comete esses calotes alegando ter problemas de fluxo de caixa que a impede de pagar os trabalhadores. Ao mesmo tempo, a Nutryenerge anunciou, há algumas semanas, a abertura da contratação de novos funcionários. A realidade é que a empresa lucra muito com a gerência do serviço dos Restaurantes Universitários (RUs), mas a garantia dos direitos trabalhistas não é prioritária.

Bandejão ocupado

No próprio dia 11 de abril, frente às movimentações dos terceirizados, os estudantes da UFRJ, orientados pelo DCE Mário Prata, tomaram a decisão política de fortalecer a paralisação dos trabalhadores e, ao mesmo tempo, de garantir a alimentação para dezenas de milhares de estudantes, organizando os chamados “calotaços”.

Utilizando comida que já estava pronta previamente, os estudantes serviram as refeições, lavaram a louça e limparam as mesas do Restaurante Universitário Central, na Ilha do Fundão, a todo momento realizando agitações denunciando o absurdo que estava acontecendo com os trabalhadores e quais são os planos da Reitoria para aumentar o preço do bandejão.

A partir da pressão da paralisação e do “Calotaço”, a empresa efetuou o pagamento de 50% do salário dos trabalhadores e prometeu pagar a outra metade até o dia 18 de abril. Esta ação viola a legislação trabalhista, que impede o pagamento parcelado do salário, mas demonstrou que o caminho para a garantia dos direitos seria o caminho da luta.

Jornada de luta

No dia em que o Bandejão Central foi ocupado pelos estudantes, o pró-reitor de Políticas Estudantis da UFRJ, Eduardo Mach, afirmou em entrevista ao Portal G1, que “a UFRJ passa por dificuldades orçamentárias muito grandes, mas, em função do compromisso com a assistência estudantil, não atrasamos o pagamento dessa empresa”. Ou seja, a empresa já recebeu o valor referente ao seu contrato e, mesmo assim, não cumpre com suas obrigações. Indignados por essa situação, trabalhadores e estudantes seguiram com o espírito de luta.

A mobilização se espalhou por toda a universidade. No dia 14, o bandejão do IFCS-IH, localizado no Centro do Rio de Janeiro, foi ocupado pelos estudantes e trabalhadores em paralisação. No dia 15, o RU do prédio de Letras, localizado no campus da Cidade Universitária, também entrou em paralisação e operou em “Calotaço”. No dia 16, a mobilização eclodiu em todos os seis RUs da UFRJ da capital fluminense. Centenas de estudantes de todos os campi atenderam ao chamado do DCE e se somaram na organização da operação dos Restaurantes Universitários, juntamente com seus Centros Acadêmicos que organizaram o “Calotaço”.

A luta conquista 

Além da organização de um espaço de gestão coletiva a partir dos “Calotaços”, o DCE da UFRJ lançou também a campanha “Terceirizado não é escravo”, arrecadando recursos com os estudantes na fila, professores e sindicatos para fazer a compra e distribuição de cestas básicas aos trabalhadores necessitados.

Após esta incansável jornada de mobilização, com panfletagens, paralisações, ocupação da sede da empresa, cobranças à Reitoria, o restante do salário dos trabalhadores foi depositado nas contas na manhã do dia 17, quando trabalhadores e estudantes já estavam prontos para mais um dia de ação geral nos RUs.

“Sabíamos que se não fosse através da pressão unificada dos estudantes e trabalhadores, a empresa continuaria a dar voltas e voltas na gente, por isso, desde o início, mantivemos contato com os funcionários da empresa planejando as mobilizações para garantir tanto a nossa alimentação quanto a paralisação dos trabalhadores”, afirmou Henderson Ramon, coordenador-geral do DCE.

Apesar de toda justeza da mobilização, a Reitoria da Universidade ainda lançou uma nota vexatória em e-mail para todo o corpo universitário, difamando a mobilização dos trabalhadores e estudantes. De acordo com a administração da universidade, a saúde dos estudantes foi posta em risco pelo comando dos RUs, nada falando da possibilidade de os estudantes ficarem sem comida durante vários dias letivos.

Retrato da terceirização

O modelo de terceirização de setores de órgãos públicos foi um dos maiores ataques ao povo brasileiro que os últimos governos do país instauraram. Após o aprofundamento dos cortes de verbas das áreas sociais nos governos de Temer (2016-2018) e de Bolsonaro (2019-2022), os órgãos públicos não têm capacidade de recontratar diretamente esses trabalhadores terceirizados. Esse modelo já provou que nada tem a oferecer aos trabalhadores além de precarização e perda dos direitos. 

Hoje, a UFRJ conta com mais de três mil trabalhadores terceirizados que se espalham nas funções de limpeza, segurança patrimonial, manutenção e nos restaurantes universitários. Essas pessoas são submetidas a jornadas exaustivas de trabalho em troca de um salário mínimo.

Sem esses trabalhadores, a maioria dos serviços que a UFRJ oferece à sociedade seriam suspendidos. No entanto, as empresas terceirizadas e a administração da universidade ignoram as reivindicações dessas pessoas. 

A mobilização dos terceirizados e estudantes da UFRJ provou que a luta popular é capaz de gerir os serviços e setores da sociedade, e que não precisamos nem um pouco dessa classe parasita que são os patrões, CEOs, acionistas e burgueses donos de empresas. Em alguns dias de luta, o movimento estudantil e os trabalhadores unidos mostraram que não precisam da chamada “iniciativa privada” para gerir os recursos da universidade. 

 

 

Matéria publicada na edição impressa n° 312 de A Verdade

Falece Sebastião Salgado, fotógrafo do povo e do mundo

CULTURA – Faleceu, aos 81 anos, neste 23 de maio de 2025, o fotógrafo brasileiro Sebastião Salgado. Economista de formação, dedicou-se à fotografia documental por mais de quatro décadas e deixou um imenso legado para o conhecimento do mundo contemporâneo e o reconhecimento da identidade do povo brasileiro.

A seguir, republicamos um artigo publicado por A Verdade em 2016.

Em 1973, um casal de brasileiros exilados pelo regime militar encontrava-se na cidade de Genebra, Suíça, à procura de câmeras fotográficas para que a moça pudesse tirar fotos de prédios requeridos em seu curso de Arquitetura. De volta à França, onde estavam morando, foi o rapaz quem se sentiu mais feliz por ter o equipamento em mãos. O nome do casal é Lélia e Sebastião Salgado, que se tornou um dos maiores fotógrafos da história do fotojornalismo. Autor de trabalhos como Serra Pelada, Trabalhadores, Êxodos, Outras Américas e Terra, Sebastião é conhecido por realizar um trabalho de denúncia à exploração, opressão e destruição que se passa no mundo, fruto do sistema capitalista, e por retratar a ideia do que seria um mundo novo, marcado pela simplicidade e pela humanidade coletiva.

Trajetória Política

Natural da cidade de Aimorés, interior de Minas Gerais, Salgado teve uma infância marcada pelo contato com as maravilhas naturais. “A fazenda do meu pai era grande e autossuficiente. Às vezes, a estação chuvosa provocava deslizamentos de terras e ficávamos isolados por um mês, mas éramos autossuficientes, não nos faltava nada. Lá viviam cerca de 30 famílias e ninguém era rico nem pobre”.

Aos 15 anos, mudou-se para Vitória, Espírito Santo. Foi aí que conheceu as contradições de uma sociedade marcada pela divisão em classes: “Vimos o surgimento das desigualdades sociais: até aquele momento, eu não tinha consciência delas, pois eu vinha de um mundo que não havia ricos nem pobres, e com o sistema industrial, a gente do campo descobriu nas cidades uma vida completamente diferente, a maioria caiu na pobreza”.

Assim, sua consciência de classe e de outros de seus amigos tive um despertar: “Comecei a ter muitos amigos militantes nos partidos de esquerda (…), alguns de nós militavam em associações como a Juventude Operária Católica. Dessas instituições cristãs de esquerda nasceram partidos muito mais radicais, como a Ação Popular, à qual aderi. Esse grupo tinha ideias cubanas e estava disposto a iniciar a luta armada”. Então ele começou a ver que o aprofundamento da luta de classes chegara ao nível máximo com a ditadura fascista. “Houve na população um enorme movimento de contestação contra essa ditadura e contra todas as violações que ela cometeu (…). O sentimento de revolta foi tal que nosso engajamento, o de Lélia e o meu, se radicalizou ainda mais. Participamos de todas as manifestações e de todas as ações de resistência à ditadura e estávamos, ao lado de nossos camaradas, ferozmente determinados a defender nossas ideias”.

Com o aumento da perseguição e das torturas, foi necessário que a Ação Popular adotasse novas táticas para preservar seus militantes. “Nosso grupo decidiu que os mais jovens, dos quais fazíamos parte, deviam ir para o exterior, para se formar e continuar agindo de lá, enquanto os que tivessem mais maturidade entrariam na clandestinidade”. Os dois acabaram viajando à Europa.

Retratista e denunciador

Após viajar para a França, Sebastião Salgado se distanciou das organizações políticas revolucionárias brasileiras, porém, não deixou de dedicar sua vida e seu trabalho às causas populares. “Quando me perguntam por que eu cheguei à fotografia social, eu respondo: foi como um prolongamento do meu engajamento político e de minhas origens (…). Lélia e eu constatamos que o mundo está dividido em duas partes: de um lado, a liberdade para aqueles que têm tudo, do outro, a privação de tudo para aqueles que não têm nada. E foi esse mundo privado de tudo que eu decidi retratar, por meio de minhas fotografias”.

Dentre os lugares fotografados por Salgado, um dos principais foi Ruanda, na África. Sua primeira viagem a Ruanda foi em 1971, quando trabalhava na Organização Mundial do Café. Depois de terminada sua missão de trabalho, voltou lá duas vezes: na primeira, realizou várias reportagens fotográficas, que depois ajudaram na formação do álbum de fotos África, lançado em 2007. Já na segunda vez, em 1992, presenciou um dos conflitos mais sanguinários do século passado. “Quando desembarquei em Benako, no nordeste da Tanzânia, 100 mil refugiados (de Ruanda) já estavam lá, em poucos dias, eles eram um milhão (…). Em meio àquele desastre, vi coisas terríveis, algumas, inesquecíveis. Perto do Kagera, rio que separa Tanzânia e Ruanda, vi dezenas e dezenas de cadáveres passando por debaixo de uma pequena ponte. Havia uma queda d’água de onde caíam corpos sem parar e que depois entravam num turbilhão. Era horrível”.

No total, esta guerra que ocorreu entre as tribos tutsis e os hutus, estes últimos apoiados e financiados pelo imperialismo francês, rendeu em torno de 800 mil mortos. Alguns desses relatos foram também para o livro África, que, muito mais que simplesmente mostrar um conflito, denunciava a sua superestrutura socioeconômica. “A guerra havia ocorrido por pretextos étnicos. Mas, para além dela, havia algo mais: uma história de pobreza. De exploração, uma história que eu conhecia havia muito tempo”.

Outro trabalho importante foi Êxodos, um projeto fotográfico feito em parceria com organizações humanitárias como a UNHCR e a Unicef. “Êxodos me mobilizou por cerca de seis anos, ao longo dos quais percorri diversos países, da Índia à América Latina (…). Em toda parte constatei, com muita tristeza, a degradação das condições de vida. Vi ilhas de riqueza num oceano de pobreza”. O trabalho fotográfico foi feito no intuito de registrar o fluxo imigratório das pessoas em busca de condições de trabalho. “As pessoas são deslocadas essencialmente pelas mesmas razões econômicas que favorecem uma minoria, enquanto uma maioria se torna miserável (…). Em toda parte a superpopulação amplia os mesmos males: precariedade, violência, epidemias… Às vésperas do terceiro milênio, eu quis mostrar essas pessoas em trânsito, sua coragem diante do desenraizamento, sua incrível capacidade de adaptação a situações em geral muito difíceis”.

No Brasil, seu grande trabalho foi o lançamento de Terra, um projeto fotográfico que Sebastião classificou como “um verdadeiro manifesto escrito a quatro mãos para o MST”. Passados esses 15 anos dos registros de Terra, foram feitas várias exposições-vendas nos quatro continentes do planeta com o objetivo tanto de coletar fundos e divulgar a história desses “combatentes da terra”, e todo rendimento das exposições foi dado ao MST.

É nessa tentativa de construir um mundo mais justo e habitável, que ele realiza seus trabalhos: “Nenhuma foto, sozinha, pode mudar o que quer que seja a pobreza do mundo. No entanto, minhas imagens fazem parte de um movimento mais amplo de denúncia da violência, da exclusão e da problemática ecológica. Esses meios de informação contribuem para sensibilizar aqueles que contemplam a respeito da capacidade que temos de mudar o destino da humanidade”.

Bruno Silvestre é militante da UJR

Israel assassina 5 jornalistas e mais de 100 pessoas em uma noite

0

Em poucas horas, os jornalistas Abdul Rahman al-Abadilah, Aziz al-Hajjar, Ahmed al-Zainati, Khaled Abu Seif e Nour Qandeel foram mortos em ataques aéreos israelenses em várias partes da Faixa de Gaza, junto com membros de suas famílias.

Wildally Souza | São Paulo (SP)


Pelo menos cinco jornalistas palestinos e dezenas de civis foram mortos pelo estado assassino e fascista de Israel em Gaza durante a madrugada do último domingo (18/5). Os ataques fizeram parte de uma escalada brutal das tropas de Benjamin Netanyahu contra tendas que abrigavam pessoas deslocadas e hospitais na Faixa de Gaza.

A carnificina ocorre depois que Israel anunciou o início de uma nova operação em Gaza, chamada de Carruagens de Gideão (מרכבות גדעון), onde o fascista Netanyahu ameaçou acabar de uma vez por todas com o povo palestino.

Em poucas horas, os jornalistas Abdul Rahman al-Abadilah, Aziz al-Hajjar, Ahmed al-Zainati, Khaled Abu Seif e Nour Qandeel foram mortos em ataques aéreos israelenses em várias partes da Faixa de Gaza, junto com membros de suas famílias.

Quem são e como Israel assasinou os 5 jornalistas palestinos

Jornalistas palestinos assassinados por Israel denunciavam o genocídio sionista. Foto: JAV/SP.
Jornalistas palestinos assassinados por Israel denunciavam o genocídio sionista. Foto: JAV/SP.

Abdul Rahman al-Abadilah –  عبد الرحمن توفيق العبادلة

30 anos de idade, denunciava através de suas lentes o massacre de crianças palestinas quando perdeu contato com sua equipe e familiares. Seu corpo foi encontrado nos escombros da cidade de Al-Qarara, ao norte de Khan Younis.

Abdul Aziz al-Hajjar – عزيز الحجار

31 anos de idade, era fotógrafo e cinegrafista.  Foi morto junto com sua esposa e filhos em um bombardeio israelense em sua casa na área de Al-Saftawi, ao norte da Cidade de Gaza.

Ahmed al-Zainati – أحمد الزيناتي

Morto junto com sua esposa Noor Al-Madhoun e seus dois filhos pequenos, Mohammed e seu bebê Khaled, em um ataque aéreo israelense contra tendas de deslocados no campo de Sanabil, próximo ao Hospital Especializado do Kuwait em Mawasi Khan Younis (uma suposta “zona segura”).

De acordo com Mohammed Mohsen, um jornalista local entrevistado pelo The New Arab, Al-Zainati foi deslocado diversas vezes desde o início da guerra e finalmente se estabeleceu perto da costa, esperando que a praia pudesse fornecer alguma proteção: “Ele sempre carregava sua câmera, mesmo quando não tinha mais nada”, (…) “Ele queria que o mundo visse o que estávamos vivendo.” Não se tem informações sobre sua idade.

Khaled Abu Seif e Nour Qandeel – خالد أبو سيف e نور قنديل

Khaled e Nour eram casados e ambos jornalistas. Ele 30 anos de idade, ela 26 anos. Foram assassinados junto a sua filha pequena em um ataque aéreo israelense à sua casa em Deir al-Balah. Segundo Al Manassa, a explosão destruiu várias casas próximas em um raio de 500 metros.

Israel intensifica genocídio e sitia Gaza

Além dos jornalistas, mais de 100 palestinos foram mortos em uma série de ataques aéreos israelenses contra barracas e prédios que abrigavam civis deslocados na região costeira de Al-Mawasi, no sul de Gaza. Imagens terríveis de corpos de crianças, incluindo alguns carbonizados a ponto de não serem reconhecíveis, veiculadas em hospitais, inundaram as redes digitais após o ataque na manhã de 18 de maio.

A área de Al-Mawasi, antes considerada uma “zona segura”, tem sido bombardeada implacavelmente por Israel, que tem promovido uma política fascista de violência máxima contra o povo palestino, com financiamento dos Estados Unidos e da União Europeia. Com o aumento dos ataques, os hospitais que quase já não funcionavam estão tendo dificuldades para tratar os palestinos feridos que continuam chegando às suas portas.

Pelo menos 10 ataques israelenses atingiram as proximidades do Hospital Al-Awda, no norte de Gaza, destruindo grandes partes das instalações, de acordo com o diretor do hospital, Mohammad Salha, que descreveu a situação como “extremamente crítica” e disse que as cirurgias foram interrompidas devido à incapacidade das equipes médicas de chegar ao local.

O Hospital Indonésio, no norte de Gaza, onde a ofensiva é muito maior, também está sob bombardeio contínuo desde a madrugada de domingo. Em comunicado administrativo, o diretor do hospital, Marwan Sultan, disse que tropas israelenses cercaram o hospital, acrescentando que soldados e drones quadricópteros estão atirando em qualquer pessoa, ferida ou não, que se aproxime ou esteja dentro do hospital, incluindo a Unidade de Terapia Intensiva (UTI).

“Um estado de pânico e confusão prevalece entre pacientes, feridos e equipe médica, dificultando gravemente a prestação de cuidados médicos de emergência… O cerco ao hospital está impedindo a chegada dos feridos, em meio a massacres crescentes. A ocupação está intensificando sua campanha sistemática para atacar hospitais e forçá-los a fechar”, afirmou o Ministério da Saúde em Gaza.

Pelo menos 125 pessoas foram mortas desde o amanhecer, de acordo com a Al-Jazeera. Desde a madrugada deste domingo, Israel intensifica e continua a sitiar toda Gaza e impedir a entrada de ajuda humanitária.

Estamos vendo um verdadeiro extermínio de todo um povo, que com muita bravura e apesar de enlutados por seus amigos e familiares, não se rendem. Netanyahu e Trump avançam seus planos malignos e racistas contra um povo sofrido, humilhado e pobre.

O que vemos hoje na Palestina não é uma guerra, como pinta propositalmente a mídia burguesa, mas um genocídio televisionado e legitimado por governos, a própria mídia e pessoas sanguinárias, que se alimentam do sangue dos martíres palestinos para promoverem seus pensamentos e ideologias criminosas e barbáras.