UM JORNAL DOS TRABALHADORES NA LUTA PELO SOCIALISMO

segunda-feira, 13 de outubro de 2025
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Ocupação do antigo Dops resiste em Belo Horizonte

Sede do antigo DOPS-MG, ocupada por movimentos sociais em abril e transformada em Memorial dos Direitos Humanos, resiste à reintegração de posse e ataques da polícia militar em Belo Horizonte

Renato Campos Amaral | Comissão Independente do Memorial Ocupado (MG)

A ocupação do Memorial dos Direitos Humanos de Minas Gerais, na sede do antigo DOPS, em Belo Horizonte, completou 5 meses. Em 1º de abril de 2025, movimentos sociais organizados pelo Partido Comunista Revolucionário (PCR) e pela União da Juventude Rebelião (UJR) ocuparam as dependências do antigo Departamento de Ordem Política e Social para lutar pela abertura definitiva daquele espaço como memória dos que tombaram na luta contra a Ditadura Militar fascista no Brasil. 

Assim como na luta armada contra o regime militar, onde os revolucionários raptavam embaixadores para a troca de presos políticos de várias organizações, o PCR e a UJR fizeram a ação e convidaram as organizações políticas e demais movimentos sociais a se incorporarem à ocupação do Memorial para ampliar a luta por memória, verdade e justiça. 

Fruto disso, foi criada a Comissão Independente do Memorial Ocupado, que vem garantindo a manutenção da ocupação e os enfrentamentos que temos com o governo do Estado, dirigido pelo fascista Romeu Zema (NOVO). Esta comissão é composta por companheiros e companheiras com histórico na pauta dos direitos humanos, sindicalistas e historiadores que pesquisam o tema.  

O Memorial tem quatro andares, sendo o primeiro abaixo do nível da rua e onde se encontra a carceragem. Todos os andares funcionaram como espaços de tortura, compartilhados entre o DOPS  e o DOI-Codi.

Nestes cinco meses de ocupação, vencemos o cerco de um mês e meio da polícia militar e iniciamos as visitas mediadas ao local, onde apresentamos o prédio aos visitantes e explicamos o funcionamento macabro que a ditadura dava àquele espaço. 

A grande repercussão desta luta nos meios de comunicação deve-se à grande pressão popular. Com muito apoio político, conseguimos derrubar a reintegração de posse do governador contra nosso Memorial e, com isso, estabelecer uma mesa de conciliação no Tribunal de Justiça de Minas Gerais. 

Este processo das visitas mediadas se expandiu com o fim do cerco da PM. Atualmente, recebemos no Memorial Ocupado professores, estudantes, ex-presos políticos e a população em geral. Ao todo, já recebemos 4.800 pessoas inscritas pelo formulário para visitação. Entre as visitas, destaque para a ministra dos Direitos Humanos Macaé Evaristo e vários parlamentares comprometidos com a causa, bem como da Comissão Especial sobre Mortos e Desaparecidos Políticos.

Diariamente, militantes do PCR, da UJR, da UP e demais movimentos se revezam na manutenção e cuidados com o espaço. Desta forma, o prédio abandonado pelo governo cumpre função social dado por força dos comunistas, socialistas, anarquistas, democratas, progressistas e demais defensores dos direitos humanos.

Mesmo sendo já uma realidade, a luta pelo Memorial dos Direitos Humanos continua. É preciso impedir o governo Zema de fechar o prédio, vendê-lo e apagar esta importante memória. Nossa luta é para que o Estado assuma as obras necessárias para a adequação do prédio nos moldes do projeto museológico já elaborado por professores da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), além de garantir que a gestão do espaço tenha participação ativa dos movimentos ocupantes e familiares das vítimas da ditadura. Continuamos aqui, resistindo na luta por memória, verdade e justiça.

Não são “acidentes”: a pandemia da morte no trânsito

“Quem tem mais pressa

Que arranje um carro

Pra andar ligeiro

Sem ter porque

Sem ter pra onde

Pois é, pra quê?”

(Sidney Miller, “Pois é, pra quê?”. 1968)

Maria Ferreira e Júlia Andrade


BRASIL – Os acidentes de trânsito matam 1 milhão e 200 mil pessoas por ano, segundo o Relatório Mundial sobre a Situação da Segurança Viária, da OMS. As lesões no trânsito são a primeira causa de morte entre crianças e jovens de 5 a 29 anos no mundo. Do total de mortes, 93% ocorrem em países de baixa/média renda, que concentram apenas 60% dos veículos.

No Brasil, o trânsito é uma das principais causas externas de morte e figura no Atlas da Violência ao lado de categorias como “armas de fogo”. Segundo dados do Ministério da Saúde, sinistros de transporte terrestre mataram nos últimos anos, em média, 45 mil pessoas/ano, o que representa algo como 123 mortes por dia, todos os dias do ano. Estima-se uma média de 300 mil feridos graves anualmente no Brasil, ou seja, mais de 821 pessoas que têm parte de seu corpo seriamente comprometida em sinistros de trânsito todos os dias. 

Os números médios de óbitos ultrapassam, por exemplo, 30 vezes o número de mortes anuais por dengue no país (1.356 óbitos, em 2024), o número de homicídios cometidos com armas de fogo (32.749, em 2023) e se aproximam do total de mortes por homicídio, que foram 45.747, em 2023. Mesmo assim, as vítimas desses acidentes seguem invisibilizadas na agenda pública.

Apesar da dimensão da tragédia, o tema é tratado como fatalidade, um “mal natural”. O uso da palavra “acidente”, aliás, reforça a ideia de imprevisível, inevitável, sem causa aparente. O termo mais adequado é “sinistro de trânsito”, pois reconhece que essas ocorrências são previsíveis e, portanto, evitáveis. A persistência do termo “acidente” serve para esconder responsabilidades (do governo e dos grandes empresários) e ocultar suas causas: infraestrutura precária, modelo de cidade excludente, negligência estatal e a lógica da produção capitalista, um sistema que mata.

É comum vermos na mídia que os sinistros de trânsito são culpa de “falha humana”. Humanos falham, vejam só! Se cansam, têm pontos cegos e diferentes tempos de reação. Condições humanas naturais e previsíveis, aprofundadas pela precariedade da vida sob o capitalismo. Assim como a chuva não é culpada por enchentes, mas sim a ausência de planejamento urbano e sistemas de proteção, os “erros humanos” não devem isentar o Estado e os ricos empresários da responsabilidade. Mortes em vias sem calçadas ou faixas de pedestre, jornadas exaustivas com metas irreais para caminhoneiros e carreteiros e a falta de segurança em veículos populares revelam que essas tragédias são resultado de decisões políticas e econômicas, e não apenas de falhas individuais.

Há, de fundo, uma normalização cruel: quantas mortes por dia são aceitáveis para manter o modelo de mobilidade atual? Quantas vidas são sacrificáveis para que a fluidez do tráfego e a produtividade do capital não sejam interrompidas?

Os sinistros não são eventos isolados, mas expressões concretas cotidianas das contradições do modo de produção capitalista aplicadas às cidades e estradas do Brasil. São sintomas de um modelo que privilegia o capital, a circulação de mercadorias e a reprodução da força de trabalho em detrimento da vida, das necessidades e da mobilidade segura dos trabalhadores.

 

A mobilidade na história do Brasil 

A história da mobilidade urbana brasileira reflete essa lógica. Nos anos 1930, houve uma onda de estatização/municipalização do transporte sobre trilhos, porém, na década de 1950, durante os governos de Getúlio Vargas e Juscelino Kubitschek, chegam as indústrias automobilísticas no Brasil, e com elas o incentivo do governo ao rodoviarismo e ao transporte individual. 

Após 1964, a ditadura militar cumpre o papel de quebra do sistema ferroviário, desativando trens regionais e bondes urbanos em diversas cidades. Os militares aumentaram em 282% a malha rodoviária brasileira, em empreitadas como a construção da Transamazônica e outras BRs, que, além de violar territórios indígenas, marginalizaram o transporte ferroviário e hidroviário. 

Nos anos 1990, com o avanço do neoliberalismo, as linhas de trens que permaneceram sofreram novo ataque. A Rede Ferroviária Federal Sociedade Anônima (RFFSA) operava trens de passageiros intermunicipais e interestaduais: em 1996, sua malha compreendia cerca de 22 mil quilômetros de linhas (73% do total), mas foi privatizada no governo FHC, passando a operar apenas na carga de mercadorias, sendo oficialmente extinta em 2007. O transporte sobre trilhos é mais eficiente, menos poluente e mais seguro, mas foi – e segue sendo – desmontado em nosso país para beneficiar o transporte individual, tornando as cidades mais violentas, excludentes, letais e submetidas ao interesse dos muito ricos.

 

Os riscos do transporte individual

O transporte público coletivo é sucateado e transformado em mercadoria, com horários escassos e tarifas cada vez mais altas. Com isso, milhões de trabalhadores migraram para o uso da moto, veículo mais barato, rápido – e também o mais letal. Motociclistas respondem por quase metade das mortes no trânsito brasileiro; suas mortes cresceram mais de 10 vezes nos últimos 30 anos. Quem mais morre? Jovens, negros, trabalhadores periféricos. Soma-se a isso o fato de 53,8% dos proprietários de motos no Brasil não terem habilitação adequada. 

No SUS, os impactos são brutais: em 2020, 61,6% das internações por sinistros foram de motociclistas. Em hospitais, a sobrecarga é evidente – como no Regional de São José (SC), onde mais de 80% dos traumas atendidos em 2024 foram causados por sinistros com motos. Escolher a moto, nesse contexto, não é liberdade, é exposição ao risco. Fruto de uma política que nega transporte público digno e transfere para o indivíduo o peso da mobilidade, mesmo que isso custe sua vida.

Outro exemplo: a velocidade máxima nas vias não é definida pela segurança da travessia de uma criança ou idoso, mas pela lógica da produtividade. A pressa do capital impõe risco à vida. Um corpo humano pode aguentar impactos de até 30 km/h. A velocidade influencia diretamente a ocorrência e gravidade dos sinistros de trânsito. Quanto maior a velocidade, menor a margem de segurança para manejar imprevistos e maior o potencial de lesões graves ou fatais. Ao dobrar a velocidade do veículo, a energia do impacto quadruplica: uma colisão a 60 km/h é 4 vezes mais severa do que a 30 km/h. Em alta velocidade, o campo de visão se reduz, o tempo de reação e a condição de frenagem diminuem, tornando a colisão mais provável e letal. A alta velocidade é o maior fator de risco para sinistros de trânsito, seguido pelo uso de álcool e outras drogas. O terceiro fator é o uso do celular pelo motorista, que aumenta em 400% a chance de colisões. A banalização destes três comportamentos ceifa todos os dias a vida do nosso povo e deve ser combatida.

 

Existe saída!

Em benefício do lucro de um pequeno grupo de empresários da indústria automobilística, de distribuição e revenda de combustíveis, das construtoras e do setor rodoviário, agências internacionais estimam que o Brasil pode gastar mais de 2% do seu PIB com “acidentes”. Incluindo gastos do SUS com internações, consultas, tratamentos e reabilitação de vítimas, valores de perda de produção, custos previdenciários, perda de cargas, entre outros, pelo menos R$ 50 bilhões são investidos anualmente. 

O custo da insegurança viária não abarca a incalculável dor das famílias que perdem quem amam. Por isso, a Unidade Popular pelo Socialismo defende em seu programa a reestatização das estatais privatizadas, fim dos leilões do petróleo, a revisão das concessões dos portos, aeroportos e estradas brasileiras entregues a empresas privadas e estatização de todos os meios de transporte coletivo. O direito de ir e vir não pode ser submetido ao lucro e só existe se houver o direito de chegar com vida!

Em memória de Welfesom Campos, Ana Letícia, Leandro Souza, Ademilson Miltão e de todas as vítimas desse sistema assassino, registramos esta denúncia e este compromisso: não aceitaremos que a morte dos nossos seja normalizada. Não aceitaremos que ela seja tratada como destino. Lutaremos até transformar essa realidade!

 

Referências:

Global Status Report on Road Safety – OMS, 2018.

Atlas da Violência – IPEA 2025.

Impactos Socioeconômicos dos Acidentes de Transporte no Brasil de 2007 a 2018 – IPEA 2020.

Custos dos Acidentes de Trânsito no Brasil – IPEA, 2025. 

Ministério da Saúde. Base de dados das mortes causas externas. 

Pelo direito ao aborto legal e seguro a todas as pessoas que gestam

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No domingo (28/09) o povo foi às ruas manifestar em defesa da garantia do direito ao aborto legal na America Latina e no Caribe. A luta não se restringe às mulheres cis mas é uma pauta fundamental para todos os corpos que gestam

Felipe Fly | São Paulo


LUTA POPULAR – A luta pela legalização do aborto deve ser pleiteada por toda a população, uma vez que se trata da garantia da dignidade humana, prevista pela nossa constituição e é portanto, de interesse social que se faça ser cumprida.

Ainda assim, sabemos que o regime político burguês hoje imprime diversas exceções e arbitrariedades às leis e à garantia da democracia, de modo que seus interesses de classe e sua ideologia atrasada e reacionária prevaleçam a todo custo.

Dentre as diversas identidades de gênero que compõem a nossa sociedade, é nítido a posição privilegiada que é resguardada ao homem cisgênero, sobretudo o branco. Não à toa é este o perfil majoritário dos deputados que foram favoráveis ao PL do estupro e que defendem a criminalização do aborto.

É também essa a parcela da população que está nos melhores postos de trabalho, que recebe os melhores salários, mesmo havendo outras identidades ocupando um cargo equivalente.

Mais pobres são sempre os mais afetados

Grandes mobilizações vêm denunciando a importância de que a legislatura esteja à altura do povo, isso significa legislar pelos interesses da maioria, que é uma população pobre, que não tem acesso à realização de abortos seguros, e que numa situção de necessidade vê nos abortos clandestinos a sua única opção e acaba muitas vezes por falecer no procedimento ou em decorrência de complicações do mesmo.

É importante destacar que a vulnerabilidade que leva à necessidade de recorrer ao aborto clandestino é fruto de uma sociedade capitalista que explora o povo até as últimas consequências, obrigando a maior parcela da população a viver numa situação constante de fome e miséria, enquanto capitalistas donos de bancos e de grandes empresas seguem acumulando riquezas e exportando capitais.

Notemos ainda, que para que a situação de violência sexual aconteça, outras responsabilidades do Estado foram negligenciadas, como a ausência de políticas de educação sexual nas escolas, pouca iluminação nas vias públicas, precária malha de ônibus e metrôs nas regiões periféricas e alto índice de impunidade aos estupradores.

Aborto legal é direito de todes

É preciso salientar que são diversas as identidades que podem gestar e que devem ter direito à liberdade de decidir sobre seu corpo, e que devem ter sua dignidade garantida pelo Estado. Unir a luta de todas as identidades em defesa do aborto legal e seguro é fundamental para a conquista da pauta e para o avanço do debate em relação aos direitos reprodutivos.

Transmasculinidades, identidades não-binárias, pessoas intersexo são algumas dessas identidades que, assim como mulheres cis capazes de gestar, precisam do acesso ao aborto legal, e sofrem diretamente um prejuízo pela ausência de hospitais que garantam o abortamento seguro, legal e gratuito.

Quase totalidade das pessoas trans em na cidade de São Paulo depende da sua força de trabalho para sobreviver (dados do mapeamento realizado pela prefeitura junto a CEdEC) e portanto não pode arcar com um aborto seguro por conta do valor.

Isso somado a já precariedade dos abortos clandestinos, sofremos ainda com o despreparo geral do atendimento à saúde para nossos corpos cotidianamente. Se considerarmos a pauta do aborto um ataque às mulheres, apenas, estaremos violando corpos trans duas vezes.

Por isso, vamos às ruas com toda a nossa militância em defesa do direito reprodutivo a todos os corpos. Nenhuma criança, cis ou trans, deve ser responsável por outro ser. Nenhuma criança deve ter seu corpo violado. E toda a pessoa que gestar, deve ter o direito de decidir sobre o seu corpo, sobretudo numa situação de violência.

Condenação de Bolsonaro e seus generais é uma vitória na luta contra o fascismo

O ex-presidente Jair Bolsonaro e seus generais que compuseram o “núcleo crucial” do golpe foram condenados pelo Supremo Tribunal Federal (STF) por sua liderança na conspiração que visava um golpe de Estado no Brasil.

Redação


EDITORIAL – Foram necessários longos dois anos e oito meses, desde o dia 08 de janeiro de 2023, para que fossem finalmente julgados os principais responsáveis pela conspiração que pretendia dar um golpe de Estado no Brasil. No último dia 11 de setembro, o Supremo Tribunal Federal (STF) condenou os criminosos que planejaram anular o resultado das Eleições de 2022 e impor uma nova ditadura militar fascista no país.

O chefe da quadrilha, o ex-presidente Jair Bolsonaro, pegou a pena mais longa: 27 anos e 3 meses. Farão companhia a ele no xadrez os generais Walter Braga Netto (condenado a 26 anos), Augusto Heleno (21 anos) e Paulo Sérgio Nogueira (19 anos), o almirante Almir Garnier (24 anos), o tenente-coronel e delator Mauro Cid (condenado a 2 anos em regime aberto), o ex-ministro da Justiça Anderson Torres (24 anos) e o deputado federal e ex-chefe da Abin Alexandre Ramagem (16 anos). Juntos, eles compuseram o chamado “núcleo crucial” do golpe.

Essa é a primeira vez, no Brasil, que golpistas – entre eles membros da cúpula das Forças Armadas – são sentenciados por atentarem contra as liberdades democráticas. Não é, portanto, qualquer coisa, especialmente num país cuja história é repleta de golpes ou tentativas de golpe, sem que nunca seus organizadores tenham sentado no banco dos réus.

Assim, a condenação de Bolsonaro e de seus principais cúmplices deve ser vista como uma importante vitória do povo brasileiro, que só foi possível graças às denúncias, manifestações, protestos e lutas travadas nos últimos anos contra o fascismo, nas quais a militância do PCR e da Unidade Popular (UP) estiveram presentes e cumpriram um papel de destaque.

Além disso, é uma merecida justiça aos milhares de mortos pela violência policial; às centenas de indígenas vítimas da fome e do abandono; aos mais de 33 milhões de famintos; às mulheres vítimas de feminicídio; aos negros, humilhados pelo racismo; às pessoas LGBTIA+, vítimas do preconceito e do ódio; e aos milhões de trabalhadores que perderam seus direitos e ficaram desempregados. Os crimes de Bolsonaro e seus ministros durante a pandemia não entraram nesse julgamento, mas, certamente, não serão esquecidos.

Fascismo é o governo da morte

Para além do ex-capitão, vermos agora generais sendo julgados e condenados por seus crimes é um acerto de contas – ainda que simbólico e insuficiente – da nação com a ditadura militar, que, por 21 anos (1964-1985), perseguiu, prendeu, sequestrou, torturou e assassinou impunemente milhares de pessoas, especialmente os comunistas, muitos deles ainda desaparecidos.

Por isso, defendemos que a luta pela punição dos golpistas de hoje caminhe junto com a luta pela punição dos golpistas de 1964, estejam eles vivos ou mortos, pois precisam ser lembrados pelo que realmente são: torturadores, estupradores, sequestradores e assassinos. Sem enfrentar a violência do passado, sem promover memória, verdade, justiça e reparação às vítimas da ditadura, o país nunca se verá livre das ameaças de um novo golpe fascista.

Durante o governo de Bolsonaro e de seus generais, o povo brasileiro comeu o pão que o diabo amassou: o salário mínimo sofreu o maior arrocho em 30 anos, o desemprego cresceu, o preço da gasolina, do gás de cozinha e dos alimentos disparou e mais de 33 milhões de pessoas voltaram a passar fome todos os dias.

Bolsonaro promoveu uma reforma da Previdência que acabou com o direito à aposentadoria, criou o “orçamento secreto” para dar dinheiro do povo ao corrupto Centrão, destruiu leis trabalhistas e programas sociais, cortou verbas do SUS e das universidades, privatizou empresas estratégicas e permitiu que a Amazônia e o Pantanal fossem violentados pela ganância do agronegócio e das mineradoras.

Na pandemia, o fascista tratou a Covid-19 como se fosse uma “gripezinha”, fez piada do sofrimento das pessoas, demorou a comprar a vacina e cometeu a maldade de negar até oxigênio aos hospitais. Toda essa desumanidade levou à morte de mais de 700 mil pessoas, e, até hoje, milhões de brasileiros sentem a perda de seus pais, irmãos, avós, companheiros e amigos.

Mas, como diz a sabedoria popular, “aqui se faz, aqui se paga”. Não é a questão principal se a atual condenação dessa quadrilha de fascistas não tenha sido exatamente por todos esses crimes. O mais importante é a sua derrota, o fato de terem sido condenados, mesmo se achando intocáveis.

Sem anistia para os golpistas!

Porém, a luta contra o fascismo e o golpismo continua. Eles foram condenados, mas ainda não estão atrás das grades. Além disso, seguem atuando livremente nas Forças Armadas, nas polícias e no Congresso Nacional, e continuam sendo financiados pelo agronegócio, por milionários mercadores da fé e pela grande burguesia nacional e internacional.

Devemos seguir nas ruas exigindo a prisão de todos os organizadores e financiadores do 8 de janeiro e impedir que os golpistas continuem atuando livremente. Afinal de contas, quando um pobre é condenado, ele vai direto para a cadeia. Por que quando é rico é diferente? Que justiça é essa?

Além disso, os corruptos deputados do Centrão se articulam para votar com urgência um projeto de anistia para os envolvidos nos atos terroristas de 8 de janeiro de 2023 e livrar Bolsonaro do xilindró. Porém, quando se trata de votar leis para melhorar a vida do povo e diminuir as injustiças sociais, aumentar o salário mínimo, acabar com a escala 6×1 ou taxar as grandes fortunas dos bilionários, esses mesmos deputados fingem que não é com eles.

Lênin, o líder da grande revolução socialista de 1917 na Rússia, tinha mil vezes razão quando dizia que essa democracia burguesa é “uma democracia limitada, falsa e hipócrita, um paraíso para os ricos e um engano para os explorados e para os pobres”. Enquanto esse sistema não for substituído por um governo operário e popular, nenhuma mudança profunda ocorrerá a favor de quem vive do próprio trabalho.

Ganhar o povo para a revolução

Os fascistas dizem agora que são vítimas de perseguição política e que não há mais liberdade no Brasil. Mas a verdade é que estão mais preocupados com seus privilégios e interesses pessoais do que com o futuro do país e a vida do povo. A liberdade que eles defendem é a dos ricos explorarem os pobres. Se declaram patriotas, mas desfilam com uma bandeira dos Estados Unidos na Avenida Paulista e não pensaram duas vezes antes de implorar a seu amo Donald Trump que atacasse a economia brasileira com taxas absurdas e organizasse uma intervenção militar para salvar Bolsonaro.

Por isso, não podemos descansar ou acreditar que está tudo resolvido. Infelizmente, há partidos e organizações políticas que se dizem socialistas, mas defendem que não é hora de radicalizar, pois isso significaria “fazer o jogo do fascismo e do imperialismo”. Alegam que é necessário uma “política ampla” e que a burguesia nacional, a mesma classe que promoveu, junto com as Forças Armadas, todos os golpes ao longo da nossa história, é uma importante aliada da democracia e do desenvolvimento nacional. Agindo assim, defendendo a união dos trabalhadores com os patrões, esses partidos impedem o avanço da consciência revolucionária das massas e enfraquecem a causa da revolução socialista.

A derrota sofrida pelos fascistas precisa ser consolidada com o movimento de massas promovendo atos e manifestações, pressionando para que não haja conciliação nem perdão e exigindo a reversão imediata de todas as reformas antipovo, o fim do pagamento da dívida pública, a taxação das grandes fortunas, mais verbas para a Saúde e a Educação, o fim do genocídio contra o povo palestino e o rompimento das relações comerciais do Brasil com Israel, reforma agrária, moradia para todas as famílias sem-teto, aumento de 100% no salário mínimo, a redução da jornada de trabalho e o controle do preço dos alimentos.

Ou seja, é preciso apresentar mais amplamente ao povo um programa revolucionário, com firmeza e energia, pois assim a luta contra o fascismo e pelo socialismo será decidida a favor da classe trabalhadora.

Matéria publicada na edição impressa nº321 do jornal A Verdade

Comunistas brasileiros lutaram para derrotar o fascismo na Europa

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Em meio a vitória da União Soviética, que perdeu mais de 27 milhões de vidas para esmagar o nazismo de Hitler, a contribuição dos comunistas brasileiros é parte da história muitas vezes esquecida.

Guilherme Arruda | Historiador


HISTÓRIA – Neste ano, a humanidade celebra os 80 anos da vitória sobre o nazifascismo. Nos esforços dos povos do mundo para derrotar a ameaça de Hitler, a pátria socialista comandada pelo Partido Bolchevique ofereceu os maiores sacrifícios: mais de 27 milhões de cidadãos soviéticos, entre civis e militares, morreram na Segunda Guerra Mundial. Só quando o Exército Vermelho finalmente adentrou em Berlim, impondo pesadas baixas à Alemanha, é que a besta nazista se rendeu.

Nessa luta, tomaram parte também trabalhadores e revolucionários de diversos outros povos que deram uma destacada contribuição para o esforço de guerra contra o Eixo, a aliança militar composta pelas potências fascistas (Alemanha, Itália e Japão). É o caso do Brasil.

Em nosso país, a agitação antifascista do Partido Comunista do Brasil (PCB) foi determinante para que o governo de Getúlio Vargas finalmente declarasse guerra à Alemanha, em agosto de 1942, após três anos de vacilação. Além disso, vários militantes comunistas se voluntariaram para fazer parte da Força Expedicionária Brasileira (FEB), contingente de 25 mil soldados enviado à Europa para lutar contra as tropas alemãs e italianas.

Ao comemorar os 80 anos da vitória contra o nazifascismo, é indispensável que relembremos a contribuição do povo brasileiro – e dos comunistas – para essa luta, que salvou a humanidade e manteve viva a esperança de um futuro socialista para os operários e camponeses de todo o mundo.

Pressão contra o Governo Vargas

Às portas da Segunda Guerra Mundial, o Brasil vivia debaixo de uma ditadura chamada de Estado Novo, que havia se iniciado após um golpe de Estado, em 1937. Desde 1935, o país já vivia sob um estado de sítio, utilizado pelo presidente Getúlio Vargas para reprimir a classe trabalhadora e os comunistas. Porém, após a decretação do Estado Novo, o regime político começou a caminhar para o fascismo. Foram canceladas as eleições, o Congresso Nacional foi fechado e se outorgou uma Constituição de inspiração nitidamente fascista. Vargas se aproximou politicamente da Alemanha e da Itália e copiava os gestos de Adolf Hitler e Benito Mussolini, líderes daqueles dois países.

Nesse contexto, quando a Segunda Guerra Mundial eclodiu, em 1939, o presidente do Brasil se recusava a tomar posição contra as agressões dos Estados fascistas, que subjugavam uma nação atrás da outra sob a justificativa da suposta “superioridade racial” e com o objetivo de anexar cada vez mais territórios para sua esfera imperialista. Vivíamos uma “neutralidade” conivente com os crimes contra a humanidade.

Em 1941, Hitler declara seu objetivo de acabar com a União Soviética e de escravizar seu povo. As tropas nazistas invadem a nação socialista. Com isso, forçar o Governo Vargas a declarar guerra à Alemanha se tornou uma das prioridades dos comunistas brasileiros, mesmo nas difíceis condições da ilegalidade. Recorreram, então, à sua principal arma: a mobilização das massas.

Fundada na década de 1930 por uma aliança entre jovens comunistas, como Irun Sant’Anna e outros estudantes democratas e antifascistas, a União Nacional de Estudantes (UNE) foi protagonista de uma ampla movimentação na sociedade pelo rompimento das relações diplomáticas com a Alemanha, a Itália e o Japão. A campanha envolveu panfletagens, passeatas e também a ocupação do Clube Germânia, entidade da comunidade alemã no Brasil, simpática ao nazismo. A sede do clube se transformou na sede da UNE, uma conquista da luta. Mais detalhes sobre essa história podem ser lidos no livro “O Poder Jovem”, de Arthur Poerner. Ao fim, Getúlio Vargas acabou encurralado pela forte pressão social e declarou guerra à Alemanha em agosto de 1942.

Comunistas na FEB

Após a declaração de guerra, os comunistas não se deram por satisfeitos com essa primeira vitória política. Seguiram insistindo que o Brasil também deveria colaborar materialmente com o esforço de guerra, por meio do envio de tropas para o front. Para isso, mobilizaram seu aparato de agitação e propaganda, buscando convencer os brasileiros da importância de contribuir. Seja em revistas legais, como a Seiva, ou jornais clandestinos, como A Classe Operária, nenhum número da imprensa comunista ia às ruas sem um apelo para a criação de uma divisão nacional para enfrentar Hitler.

Assim dizia o editorial do nº 18 da Seiva, lançado em julho de 1943: “A participação direta do Brasil no conflito, com o envio de tropas para a frente de batalha, será […] uma das condições essenciais para ganharmos a paz”. No mês seguinte, os comunistas e seus aliados antifascistas foram vitoriosos mais uma vez. Em agosto daquele ano, foi criada a Força Expedicionária Brasileira (FEB), que, no segundo semestre de 1944, chegou à Europa para dar combate aos exércitos fascistas. Seus participantes ficaram conhecidos como “pracinhas”.

Muitos jovens e operários do Partido Comunista se alistaram na FEB, mas seu número exato não é conhecido. Por segurança, eles não declaravam sua militância em uma organização ilegal. No entanto, sabe-se de dois importantes dirigentes comunistas do nosso país que integraram a Força: o voluntário Jacob Gorender, que havia sido secretário de redação da Seiva, e o tenente Salomão Malina. Este último foi condecorado com a Cruz de Combate de Primeira Classe por sua bravura. Dando sua contribuição para a derrota final do Eixo, as tropas brasileiras se destacaram nas batalhas de Monte Castello e Montese, na Itália.

Comunistas na resistência 

Além dos membros da FEB, houve ainda outros comunistas brasileiros que combateram o nazismo na Europa de armas na mão. Isso porque, antes mesmo do início da Segunda Guerra Mundial, o Partido Comunista organizou o envio de voluntários (alguns deles militantes, outros apenas simpatizantes da causa antifascista) para lutar na Guerra Civil Espanhola.

Desde 1936, a Espanha vivia um conflito iniciado por uma tentativa de golpe de Estado fascista. Em solidariedade à República, dezenas de milhares de militantes de todo o mundo constituíram as Brigadas Internacionais para enfrentar as tropas do general golpista Francisco Franco, que era apoiado por Alemanha e Itália. Segundo as pesquisas da historiadora Thaís Battibugli, 16 deles eram brasileiros – a maioria deles, participantes do Levante de 1935 em nosso país.

Lamentavelmente, em 1939, a República foi derrotada e um regime fascista – que só acabaria em 1975 – foi instaurado na Espanha. Os bombardeios criminosos da força aérea alemã, que atingiam intencionalmente civis inocentes, como as vítimas do massacre de Guernica, registrado na célebre pintura do comunista Pablo Picasso, foram a principal arma dos fascistas para destruir a democracia espanhola.

Derrotados, os membros das Brigadas Internacionais foram transferidos para campos de concentração na França, também conquistada pela máquina de guerra nazista. Contudo, desejosos de seguir lutando, dois comunistas brasileiros fugiram do confinamento e se somaram à Resistência Francesa. Um deles, o tenente cearense David Capistrano, foi rapidamente preso. Por sua vez, Apolônio de Carvalho tornou-se um grande líder dos maquis, os guerrilheiros antifascistas franceses.

Legado da luta antifascista

As cerca de três mil baixas, entre mortos e feridos, da FEB e da Força Aérea na Segunda Guerra Mundial foram a cota de sacrifício do povo brasileira em prol da libertação de milhões de homens e mulheres em todo o mundo. Quando retornaram ao Brasil, muitos pracinhas se filiaram ao Partido Comunista, convencidos que ficaram da importância de lutar contra a injustiça por todos os meios. “Vencida a mais terrível das guerras, trazíamos um novo mundo de esperanças”, lembra Apolônio de Carvalho em sua autobiografia “Vale a pena lutar” (1997).

Todas essas histórias demonstram que o povo brasileiro também colaborou com a destruição do nazismo, principal inimigo da humanidade daquele período. Demonstram ainda que os comunistas tiveram um papel decisivo para que esse esforço antifascista chegasse até as últimas consequências, de armas na mão. Como explica mais uma vez Apolônio, seja no Brasil seja na União Soviética, esteve no centro desse protagonismo “uma orientação político-partidária que irmanava os programas de luta de nossos povos – objetivos semelhantes, os mesmos inimigos – numa mesma trincheira comum”. Passados 80 anos, é preciso seguirmos fiéis ao programa comunista de luta para derrotar, mais uma vez, os fascistas que ameaçam a liberdade e a vida da classe trabalhadora.

Matéria publicada na edição impressa nº320 do jornal A Verdade

A logística do Jornal como um trabalho coletivo e político

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Com mais de 25 anos de circulação, o jornal A Verdade se consolida como o único periódico popular de alcance nacional no Brasil, expandindo sua presença para novas cidades. A logística do jornal é parte fundamental desse resultado.

Larissa Mayumi e Maria Alice Galvão | Comissão de Logística (SP)


JORNAL – O jornal A Verdade é impresso e distribuído há mais de 25 anos e cresce sua tiragem e seu alcance. Está presente em todas as regiões do país. É o único periódico popular com alcance nacional. A cada edição, chega a novas cidades nos interiores, litorais e nas periferias das grandes cidades.

Para garantir esse alcance, existe um trabalho por vezes invisível: separar, contar e enviar os jornais através dos Correios e transportadoras, inclusive, de avião. Quando chega aos estados e cidades, ainda há a tarefa de buscar os pacotes e organizar a distribuição para que chegue às mãos dos brigadistas. Essa logística não pode ser subestimada, pois é ela quem garante que a política do Jornal chegue a cada militante e apoiador.

Afinal, o que é a logística?

Em um país continental como o Brasil, a logística é essencial para a circulação de mercadorias e movimenta milhões em lucros para empresas privadas. Os Correios, maior empresa do setor, é uma empresa estatal que atende todo o território nacional e, justamente por isso, é constantemente ameaçada de ser privatizada. A distribuição do nosso Jornal faz parte desse cenário, pois depende dessas empresas e é diretamente impactada pelas condições de trabalho dos que atuam nelas.

Construir vínculos com os trabalhadores que atuam nesse processo e apresentá-los à imprensa revolucionária é, portanto, uma tarefa importante – parte fundamental da organização cotidiana do povo pelos comunistas. Afinal, queremos que os trabalhadores realizem seu trabalho de forma consciente, e não alienada.

Vando de Azevedo, responsável pelo envio dos jornais da transportadora de São Paulo para outros estados, resume bem esse sentimento: “Acompanho todas as edições. Estamos remando para o mesmo lado, a gente é da mesma força. A minha missão é fazer [o jornal] chegar no país inteiro!”.

Em Sertãozinho, uma cidade operária no interior do Estado de São Paulo, os brigadistas do Jornal criaram um correio vermelho¹ para entregar os jornais aos operários e trabalhadores. Eles se organizam para rodar a cidade de bicicleta nos horários de intervalo do trabalho, no raiar do dia e até mesmo tarde da noite. “Sempre entrego o jornal em uma hamburgueria, para uma das trabalhadoras, e, em menos de duas semanas, outros trabalhadores começaram a se interessar pelo jornal, querendo ajudar a construir nossa luta”, relata Breu, brigadista do Jornal.

A importância da Comissão de Logística

São Paulo trabalha com a maior tiragem de A Verdade entre os estados do Brasil. Para dar conta desta demanda, criamos uma Comissão de Logística responsável por organizar a distribuição e garantir o envio dos jornais para mais de 50 cidades paulistas e para estados das regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste.

Antes da chegada dos jornais, a comissão realiza uma preparação: propõe a cota de exemplares para cada região do estado; confere os endereços de envio; prepara todo o material e a mobilização necessários para o dia da chegada dos jornais da gráfica, etc.

Os jornais chegam à Capital, onde uma equipe cuida da contagem e separação dos volumes. É fundamental garantir a regularidade dessa equipe, com o objetivo de especializar e profissionalizar os militantes. Ao repetirem o processo, as pessoas acumulam experiência, identificam erros e acertos com mais facilidade e podem propor novos métodos de trabalho, otimizando o tempo para que os jornais sejam enviados às cidades. O objetivo é que os jornais cheguem em até 24 horas a cada uma das 50 cidades e, no máximo, em 48 horas estejam nas mãos de todos os militantes.

Nos lugares mais organizados, a distribuição é feita por meio de banquinhas montadas nos centros das cidades ou em locais de grande circulação, como em frente a estações de trem e metrô, e em universidades, como a UFABC e a Unicamp. Nesses pontos, os jornais são contados, e os militantes retiram suas cotas. As banquinhas também realizam a venda de exemplares e, em muitos casos, expõem e vendem livros das Edições Manoel Lisboa.

Durante a distribuição, os brigadistas fazem agitações com megafones e caixas de som, divulgando as denúncias da nova edição do Jornal entre o povo. Isso ajuda a criar o clima de que uma nova edição acabou de chegar e mostra a importância de difundirmos o quanto antes as ideias defendidas naquela nova quinzena. Em algumas cidades, o dia da chegada é tão importante que nenhuma outra atividade é marcada além da distribuição.

O Jornal como organizador coletivo

Vladimir Lênin, principal líder da Revolução Socialista na Rússia, compreendia o jornal como uma ferramenta central de organização política¹. Para ele, não se tratava apenas de informar, mas de construir um instrumento que unificasse a linha política e orientasse a ação dos militantes e das massas. Inicialmente, o jornal Iskra cumpriu esse papel, depois outros, até chegar ao Pravda (em russo, “Verdade”), instrumento decisivo para os bolcheviques organizarem o Partido e amplos setores operários para a tomada do poder, em 1917.

Tamanha era a importância do jornal para Lênin, que ele chegou a mudar seu local de exílio para garantir a melhor direção e recebimento do Pravda (Lênin, sua vida e sua obra – Edições Manoel Lisboa), defendendo que sua distribuição fosse feita com a mesma agilidade dos jornais da burguesia. O jornal deveria chegar ao povo o quanto antes, porque cada edição significava uma intervenção direta na luta de classes.

Inspirado nesse legado, o jornal A Verdade deve buscar cumprir esse mesmo papel no Brasil de hoje: ser o organizador coletivo do Partido e dos movimentos populares. E, para isso, a logística é fundamental. A estrutura construída ao longo dos anos para garantir que o jornal chegue rapidamente a centenas de cidades em todo o país não serve apenas à sua própria circulação, pode se tornar uma base logística que fortalece o conjunto da organização.

Nas últimas eleições parlamentares, por exemplo, foi graças a essa rede que conseguimos distribuir mais de 4 milhões de panfletos no Estado de São Paulo. Essa mesma estrutura serve aos movimentos, às campanhas de arrecadação, às campanhas de solidariedade e às grandes mobilizações de rua.

Luta ideológica

A distribuição do jornal também é um trabalho de fortalecimento ideológico. Em uma sociedade dominada pela ideologia burguesa, cada exemplar entregue é uma disputa política. Receber o jornal a tempo permite que o militante se aproprie da linha política do Partido e se fortaleça com suas palavras de ordem para atuar de forma consciente.

“Temos exemplos de companheiros que estavam afastados ou doentes, e mesmo durante a pandemia, que demos um jeito de o jornal chegar até eles. Isso fortalece muito, pode resgatar vários companheiros. Levar a cota individual é uma missão especial”, afirma Jorge Ferreira, da redação em São Paulo.

Onde houver dificuldade na chegada do jornal, é ali que devemos investir tempo e criatividade. O trabalho de separar, embalar, enviar e distribuir não pode ser visto como uma tarefa secundária. Pelo contrário: é parte central da construção de uma organização forte, com unidade de ação e consciência política.

Leia, distribua, venda e fortaleça o jornal A Verdade!


  1. Trecho do artigo Por onde começar?, em que Lênin apresenta de forma precisa esta ideia:

Um jornal, todavia, não tem somente a função de difundir ideias, de educar politicamente e de conquistar aliados políticos. O jornal não é somente um propagandista e agitador coletivo, mas também um organizador coletivo. Sobre este último aspecto, pode-se comparar o jornal com a estrutura de andaimes que envolve o edifício em construção, mas permite adivinhar seus traços, facilita os contatos entre os construtores, ajudando-lhes a subdividir o trabalho e a dar conta dos resultados gerais obtidos com o trabalho organizado. Através do jornal e com o jornal se formará uma organização permanente, que se ocupará não somente do trabalho local, mas também do trabalho geral sistemático, que ensinará a seus membros a acompanharem atentamente os acontecimentos políticos, a avaliar a importância e a influência de diversos estratos da população, a elaborar quais métodos permitem ao partido revolucionário exercitar sua influência sobre os mesmos. Até mesmo as tarefas técnicas de assegurar ao jornal fornecimento regular de recursos e uma distribuição eficiente obrigará a criar uma rede de distribuidores e correspondentes locais de confiança do partido único, que deverá manter-se em contato vivo uns com os outros, conhecer a situação geral, habituar-se a executar regularmente uma parte do trabalho para toda a Rússia, a experimentar as próprias forças organizando hora esta, hora aquela ação revolucionária. Esta rede será o esqueleto exatamente da organização de que aqui precisamos: suficientemente grande para estender-se por todo o país; suficientemente ampla e variada para efetuar uma rigorosa e detalhada divisão do trabalho, suficientemente temperada para saber cumprir inflexivelmente o seu trabalho em todas as circunstâncias, em todas as reviravoltas e em todos os imprevistos […].

Matéria publicada na edição impressa nº320 do jornal A Verdade

Mulheres lutam pelo fim do genocídio na Palestina

O número de palestinos mortos pelo regime nazi-sionista pode alcançar a trágica marca de 200 mil. Dentro desta realidade devastadora, as mulheres são alvos do genocídio, correspondendo a 24,5% dos assassinatos cometidos por Israel na Palestina desde 2023.

Alice Morais | Natal (RN)


MULHERES – Segundo estudo da revista The Lancet, o número de palestinos mortos pelo regime sionista pode chegar a 200 mil, contabilizando os números de assassinatos não registrados. Segundo a Federação Árabe-Palestina no Brasil (Fepal), as mulheres equivalem a 24,5% dos assassinatos cometidos por Israel desde 2023. Em tempos de guerras e crises, as mulheres são as mais afetadas.

Isso acontece porque, no sistema capitalista, as mulheres se tornam subjugadas aos interesses dos ricos (em sua maioria homens). E, se são elas as principais responsáveis por manter a família, são também as mais afetadas pela perda de empregos, deslocamentos forçados e falta de acesso a recursos.

E mais: como forma de garantir a sujeição das mulheres, elas são estupradas e violentadas sexualmente. “Estupros foram cometidos principalmente por oficiais israelenses mulheres, que inseriram objetos nos órgãos genitais de palestinas detidas. Também documentamos um caso de estupro coletivo por dois soldados diferentes, duas vezes, em uma mulher palestina em um centro de detenção. Ela disse que foi filmada durante o ataque”, denunciou Kifeya Khraim, numa Comissão da ONU.

O assassinato das palestinas não é uma mera casualidade, mas parte de um projeto em curso de eliminação do povo, uma tática de guerra utilizada por Israel para concretizar o extermínio. Daí as razões pelas quais as mulheres estão tão presentes nas estatísticas sobre assassinatos e carestia em Gaza.

Porém, a História nos mostra que sobretudo as mulheres não abaixam a cabeça diante das injustiças e opressões. O Movimento de Mulheres Olga Benario e a Unidade Popular (UP) têm se somado aos atos que denunciam os crimes de Israel.

“Construímos o Comitê Cearense de Solidariedade ao Povo Palestino com outras forças políticas e camaradas da comunidade muçulmana, como a Karine Garcêz, que fundou o Comitê. Sabemos que não basta nos posicionar, precisamos agir. Mesmo distantes, pressionamos o governo brasileiro (que ainda mantém relações com Israel) e dialogamos com o povo, mostrando como esse massacre nos diz respeito, que o mesmo imperialismo estadunidense que oprime a Palestina nos ataca aqui também”, afirma Andressa Oliveira, militante do Movimento Olga Benario no Ceará.

Ir às ruas denunciar o genocídio mostra a solidariedade entre os trabalhadores do mundo e o repúdio do povo a essa barbaridade. A luta continua pelo fim das relações Brasil-Israel e a libertação do povo palestino. Mostrar repúdio e revolta popular nas ruas é a única forma de fazer a pressão contrária ao imperialismo e reafirmar o direito dos povos do mundo à soberania e à liberdade.

Matéria publicada na edição impressa nº320 do jornal A Verdade

Feminicídios brutais expõem violência na Bahia

Em pleno Agosto Lilás, mês dedicado à conscientização e combate à violência contra a mulher, a Bahia foi palco de uma sequência de feminicídios.

Coordenação do Movimento Olga Benario (BA)


MULHERES – No último mês, em pleno Agosto Lilás, feminicídios brutais ocorridos na Bahia ganharam repercussão nacional. Alexsandra Oliveira (45 anos), Maria Helena Bastos (41 anos) – ambas professoras da rede pública – e Mariana Bastos (20 anos), filha de Helena, saíram juntas para passear com o cachorro em uma praia turística de Ilhéus (BA) e foram encontradas mortas com facadas pelo corpo. Quatro dias depois desse triplo feminicídio, outra mulher foi vítima, em Lauro de Freitas, na Região Metropolitana de Salvador: Laina Santana (37 anos) foi assassinada a marretadas pelo marido na frente das filhas de 5 e 12 anos. Na Bahia, desde janeiro deste ano, já foram 63 casos de feminicídios registrados.

O Governo Federal estabeleceu a campanha Agosto Lilás, na qual atividades de conscientização e combate à violência contra as mulheres são promovidas, em referência à Lei Maria da Penha (Lei Federal nº 11.340/ 2006), que foi sancionada em agosto de 2006. Essa lei, no entanto, ainda está longe de ser aplicada pelos governos de forma integral e de acordo com a urgência apresentada diante da violência alarmante contra as mulheres. O Brasil é o quinto país no mundo mais violento para as mulheres.

O crescimento da violência contra a mulher também tem se expressado dentro das universidades baianas, que sequer contam com um espaço de recepção, acolhimento e atendimento psicossocial a todas as mulheres da comunidade universitária que tenham sofrido qualquer tipo de violência.

Na Universidade Federal da Bahia (UFBA), o Movimento de Mulheres Olga Benario constrói, junto com estudantes independentes, a Frente Feminista, que tem sido procurada por diversas alunas em situação de violência física, psicológica, sofrendo ameaças por ex-parceiros, mesmo com medida protetiva. Elas ainda são obrigadas a conviverem com seus ex-parceiros agressores dentro do ambiente acadêmico, que até pouco tempo não tinha qualquer equipamento para garantir a segurança dessas estudantes. Hoje em dia, graças à pressão da Frente Feminista, a equipe de segurança da UFBA passou a mapear e acompanhar os trajetos das estudantes para fazer valer a medida protetiva dentro do espaço universitário.

Não à toa, a Bahia é o terceiro estado do nosso país que mais assassina e violenta mulheres, aponta o Atlas da Violência do Ipea. Com 417 cidades, a Bahia conta com apenas 15 delegacias da mulher (DEAM) em todo o estado. Segundo o Portal Transparência do Governo Estadual, o orçamento de 2025 destinado à Secretaria de Políticas para as Mulheres (SPM) é de R$ 35 milhões. Enquanto isso, só para a Polícia Militar, o governador Jerônimo Rodrigues (PT) aprovou um orçamento de R$ 4 bilhões, ou seja, 115 vezes maior do que para o investimento em políticas públicas e aparelhos que poderiam prevenir a violência e salvar a vida de milhares de mulheres.

Além do mais, não bastasse enfrentar a violência machista, são as mulheres, mães, negras e periféricas que choram a morte de seus filhos assassinados pela Polícia no estado onde a PM é a mais letal do Brasil: em média, cinco pessoas por dia são assassinadas, sendo 97% pessoas negras e 60% jovens.

A crescente onda de feminicídios brutais e o aumento da violência contra as mulheres é expressão direta do aprofundamento da crise geral do capitalismo e o avanço do fascismo. Feminicídios ainda matam quatro mulheres por dia no país. Somado a isso, o Brasil registrou mais de 71 mil estupros de mulheres em 2024 – o equivalente a 196 casos por dia.

Em meio à luta contra a violência, a fome, por emprego, moradia e melhores salários, cresce o sentimento de repúdio ao capitalismo e o desejo de mudança não só nas mulheres, mas em toda a classe trabalhadora. Essa sociedade não nos serve porque lucra com nossa miséria e morte.

Por isso, nós, do Movimento de Mulheres Olga Benario, fazemos de todos os dias, dias de luta pela verdadeira libertação das mulheres. Já são mais de 30 ocupações de mulheres realizadas para denunciar a violência machista e acolher as vítimas.

Matéria publicada na edição impressa nº320 do jornal A Verdade

Israel já matou mais jornalistas do que todas as guerras do século 20 somadas

Segundo o Sindicato dos Jornalistas Palestinos, 246 jornalistas foram mortos em ataques israelenses desde o início do conflito na Faixa de Gaza, número que supera as mortes de jornalistas em ambas as Guerras Mundiais.

Felipe Annunziata | Redação


INTERNACIONAL – Nas guerras é comum o que é chamado de “censura militar”, um conjunto de regras impostas pelos exércitos para limitar o trabalho de jornalistas em noticiar conflitos armados. Israel, no entanto, adotou outra forma de censurar jornalistas palestinos: assassinar todos os que denunciam o genocídio na Faixa de Gaza.

Desde o início dos massacres, são 246 jornalistas assassinados em bombardeios direcionados, de acordo com o Sindicato dos Jornalistas Palestinos. É o maior número de mortes de profissionais da imprensa de toda a História. Nem nas duas guerras mundiais morreram tantos jornalistas quanto agora, em Gaza.

Trabalhadores da imprensa de órgãos internacionais morreram porque denunciaram as atrocidades do Exército sionista. A maioria das imagens, das reportagens e dos dados do que ocorre na Faixa de Gaza o mundo só conhece graças a estes profissionais.

Um dos últimos massacres foi no Hospital Nasser, no dia 25 de agosto. Em quatro ataques, Israel matou mais de 20 palestinos, entre eles, cinco jornalistas. A desculpa desta vez é que as câmeras seriam do Hamas, quando eram da agência de notícias inglesa Reuters. O ataque foi televisionado ao vivo para todo o mundo através do canal al-Jazeera. Nas imagens, é possível ver as equipes de resgate sendo atingidas por um míssil israelense.

Esse massacre não foi o único que chocou o mundo. Um dos casos mais emblemáticos é o do jornalista Anas al-Sharif, que publicava na rede al-Jazeera e em vários veículos. O governo sionista de Israel comemorou sua morte, acusando o profissional de ser um “terrorista”. Mas a verdade é que as reportagens de al-Sharif eram as que tinham maior repercussão na imprensa mundial.

Essa é mais uma tática do genocídio, censurar palestinos assassinando seus porta-vozes. O ataque à imprensa palestina é mais uma prova de que, longe de ser a “única democracia do Oriente Médio”, como a mídia burguesa fala no Brasil, o regime sionista é autoritário e criminoso.

Povo é contra o massacre

Outro fato que marcou as últimas semanas foi o avanço da opinião negativa do povo brasileiro sobre Israel. Após dois anos de genocídio, segundo a pesquisa do Instituto Quaest, divulgada em 26 de agosto, 50% da população tem uma opinião desfavorável sobre Israel, enquanto que apenas 35% tem uma opinião favorável.

O resultado da pesquisa não é um fato isolado ou pequeno, mas resultado de meses de luta política encampada por movimentos sociais, organizações palestino-brasileiras, partidos de esquerda e da imprensa popular em esclarecer o povo brasileiro do caráter genocida da agressão que o povo palestino sofre. O regime sionista israelense conta, no Brasil, com importantes aliados na grande mídia, nas grandes igrejas, no mercado financeiro e dentro do Estado brasileiro.

É por isso também que Israel continua sua campanha para assassinar jornalistas palestinos, afinal, são eles que dão aos povos do mundo as verdadeiras informações do que ocorre em Gaza.

Matéria publicada na edição impressa nº320 do jornal A Verdade

2º Encontro Internacional da UP reúne dezenas de militantes em Portugal

Com a presença de dezenas de militantes de seis países europeus e da vice-presidente do partido, Samara Martins, a Unidade Popular (UP) realizou seu 2° Encontro Internacional na Europa entre os dias 21 e 24 de agosto, em Lisboa, Portugal.

Caroline Sabino e Leonardo de Souza | Lisboa (Portugal)


INTERNACIONAL – Entre os dias 21 e 24 de agosto, aconteceu o 2° Encontro Internacional da Unidade Popular (UP) na Europa. O evento ocorreu em Lisboa, Portugal, e contou com a presença de 60 militantes organizados em Portugal, Holanda, Áustria, Alemanha, Polônia e Irlanda. Entre os participantes, estava a vice-presidente da UP, Samara Martins.

O Encontro foi inteiramente organizado pelos próprios militantes, destacando o trabalho das companheiras, que foram fundamentais na organização, programação e logística.  O evento também só foi possível por conta da grande campanha de autofinanciamento, composta por vaquinhas, rifas, vendas de bottons, livros, camisetas e artesanatos feitos pelos militantes, que, coletivamente, conseguiram viabilizar o aluguel do espaço e infraestrutura, bem como possibilitaram a vinda de todos os camaradas que precisaram de apoio para participar, sem importar sua condição financeira e em que país estivessem, incluindo nossa convidada especial do Brasil.

As refeições oferecidas no evento também representaram o avanço da luta. Todas elas foram preparadas por aliadas da Cova da Moura e Casal da Boba, bairros periféricos das comunidades de origem africana em Lisboa. Uma delas, Cláudia Simões, que cozinhou sua famosa cachupa (prato típico de Cabo Verde), é uma mulher negra que sofreu violência policial e foi condenada a oito meses em regime aberto e a uma multa de 400 euros por ter mordido o policial enquanto levava um mata-leão.

A construção internacional

“Vai avançar! A Unidade Popular!”. Foram com essas palavras de ordem que teve início o Encontro. A presença forte e calorosa da camarada Samara, com suas falas inspiradoras, rapidamente fez com que todos se sentissem mais à vontade. As falas que se seguiram foram emocionadas, com lágrimas e testemunhos dos militantes que tinham no Encontro a oportunidade de conhecer camaradas e compartilhar suas experiências. Ao final do primeiro dia, já estavam todos cantando as palavras de ordem como se fossem um só, e esse sentimento de camaradagem se estendeu por todos os dias.

A conjuntura internacional foi guiada pela leitura do texto da CIPOML. As guerras imperialistas, o genocídio em Gaza e a política expansionista dos EUA, China, Rússia e União Europeia sobre as nações e suas riquezas, além da situação na América Latina, foram o cerne das avaliações, que abordaram a importância da construção do partido nos diversos países da Europa. Além disso, foi debatida a precarização do trabalho, o crescimento do fascismo e os ataques aos direitos das mulheres e das pessoas LGBTIA+.

Samara também trouxe acúmulos dos movimentos sociais, presentes, por enquanto, apenas no Brasil. As experiências das ocupações do MLB, a formação do Movimento de Mulheres Olga Benario e suas casas de referência, o trabalho sindical do MLC, a combatividade da UJR e a recém-formada Frente Negra Revolucionária (FRN) ajudaram no entendimento da militância internacional sobre a importância dessas organizações que constroem a UP. Além de histórias incríveis, como a da camarada Valdete Guerra, que é homenageada em Lisboa dando nome a um dos núcleos.

Ao longo dos dias, também aconteceram diversos grupos de trabalhos temáticos. “A libertação da mulher numa perspectiva de classe”; “Colonialismo digital e a luta pela soberania” e “A vida dos revolucionários e a importância da saúde mental e física”, foram alguns dos 12 temas debatidos e que trouxeram diversas propostas para o trabalho internacional.

Luta internacionalista

O crescimento do número de participantes entre o primeiro e o segundo encontros; a consolidação do trabalho local em Portugal (Lisboa, Porto e Coimbra) e na Alemanha (Berlim); mais países com reuniões virtuais regulares e ainda outros com ao menos um militante são avanços da nossa luta internacionalista.

Um dos projetos apresentados foi o de soberania digital. Principalmente após a derrubada das redes do jornal A Verdade, tornou-se urgente nos libertarmos das BigTechs, seus algoritmos e IAs. A segurança de dados é um passo importante na luta internacional.

Outro ponto levantado foi a oportunidade de expandir o trabalho de A Verdade na Europa. Como dizia Lênin, “o jornal é um organizador coletivo”, é a voz da classe operária que desenvolve a revolução de forma consciente. Por isso, essa possibilidade vem sendo estudada, já que é de grande valor ter essa ferramenta na luta.

É importante ressaltar o aumento de mulheres na militância. Atualmente, a maioria das nossas camaradas estão na coordenação, como era possível ver nas mesas das plenárias e nas comissões do evento. O resultado foram falas de extremo valor das camaradas, algumas recém-filiadas, e a ampliação de formações baseadas na cartilha do Movimento de Mulheres Olga Benario. Entretanto, esse trabalho é permanente e não deve ser feito somente pelas mulheres.

Formação dos militantes

Muitos militantes não tiveram o acúmulo da luta de base e da formação revolucionária quando ainda moravam no Brasil. Inclusive, alguns ainda se encontram sozinhos em suas cidades, e a solidão é uma marca da vivência imigrante. No encontro foi possível sentir-se pertencente a algo maior, trocar experiências, dores e alegrias. Vínculo que vai além da amizade, pois é camaradagem.

O 2º Encontro Internacional foi um ponto fundamental na formação dos camaradas que vivem no estrangeiro. As trocas e o trabalho coletivo trazem um acúmulo valioso para a luta. A presença de camaradas que atuam no Brasil também traz um reconhecimento para o trabalho internacional, que tem sido feito com muito orgulho.

Aos camaradas do Brasil, queremos levar a mensagem que nossa luta avança e que a Unidade Popular, mais do que nunca, pode se considerar um partido internacionalista.

Avancemos, camaradas! 

Matéria publicada na edição impressa nº320 do jornal A Verdade

Oito anos de privatização da Cesta do Povo na Bahia e suas consequências

Avaliada em R$ 600 milhões em seu auge, a Empresa Baiana de Alimentos (Ebal), controladora da Cesta do Povo, foi leiloada em 2017 por apenas R$ 15 milhões em um processo marcado por suspeitas e justificado pelo governo de Rui Costa (PT) como uma medida necessária contra supostos prejuízos.

Willian Santos | Salvador (BA)


LUTA POPULAR – Fundada em 1979, a Empresa Baiana de Alimentos (Ebal) foi uma empresa estatal criada pelo Governo da Bahia com o objetivo de tornar acessível os alimentos para a população de baixa renda, subsidiando os preços. Para isso, contava com uma estrutura logística com frigoríficos, armazéns, centros de processamento e seu carro-chefe: o supermercado Cesta do Povo.

A Cesta do Povo foi, durante 30 anos, a única rede estatal de supermercados do país, contando com mais de 300 lojas em pelo menos 229 dos 417 municípios do Estado da Bahia, além de diversos bairros periféricos de Salvador, permitindo que os itens da cesta básica chegassem mais facilmente à população. A empresa contava também com o programa CredCesta, que criava uma linha de crédito consignada aos servidores públicos estaduais, descontando diretamente da folha salarial. Além do preço acessível, a empresa também fomentava a agricultura familiar, adquirindo de produtores locais.

Essa iniciativa, além de mitigar a fome, também permitia o sustento de diversas famílias que trabalhavam no ramo de alimentação. Como foi o caso de Antonieta da Silva, 77 anos, moradora do bairro Uruguai, que trabalhou de maneira autônoma, fornecendo almoço em Salvador: “Eu adorava comprar lá. Achava os preços ótimos e era perto da minha casa. Não é justo fazer isso, fechar um supermercado tão legal como era esse. Eu acho que deveria voltar! Depois que eu me aposentei, comecei a cozinhar para os funcionários do Terminal (Marítimo) do Ferry Boat. Passei uns 20 anos fazendo isso”.

O processo de privatização 

Em 2017, a Ebal foi levada à leilão e privatizada pelo ex-governador Rui Costa (PT) por apenas R$ 15 milhões, após duas tentativas sem nenhum lance, tendo sido arrematada pelo grupo NGV Empreendimentos e Participações, do espanhol Ignacio Morales. Essa empresa, fundada no ano do leilão, com capital social de R$ 500, fez uma alteração contratual de R$ 1 milhão, levantando suspeita de arranjo sob encomenda. Um ano depois, a Ebal foi comprada pelo capitalista e ex-presidente da Associação Baiana de Supermercados (Abase), Joel Feldman.

Desde a sua fundação, a Cesta do Povo foi uma empresa superavitária. Em 2012, faturou R$ 600 milhões, liderando o ranking entre os supermercados varejistas que mais arrecadaram no estado. Em 2015, chegou a ocupar o 2º lugar estadual, o 5º no Nordeste e o 39º no Brasil, segundo a Associação Brasileira de Supermercados (Abras).

É claro que esse índice incomodava os capitalistas donos das grandes redes de supermercados que disputam o aumento da taxa de lucro, mesmo que isso signifique fome e privação para a classe trabalhadora. Os preços mais acessíveis da Cesta do Povo e a sua presença em várias localidades, mesmo onde não era interessante para a iniciativa privada, promovia a regulação do preço dos alimentos, obrigando seus concorrentes a baixarem seus preços para conseguirem competir com a rede pública.

O Governo, subordinado à vontade dos grandes empresários em detrimento da classe trabalhadora, iniciou uma grande onda de fechamento de várias unidades e demissões de servidores públicos concursados. Foram mais de 1.500 servidores demitidos de maneira escalonada em mais de 100 municípios para não chamar atenção da opinião pública. Fora isso, o processo de privatização provocou uma desarticulação dos agricultores que forneciam para a rede.

Para justificar a privatização, a tática utilizada pelo Governo foi a seguinte: sucatear a empresa pública e manipular a imprensa para que a população “entendesse que era necessário entregar para os empresários salvarem a empresa”. Diante disso, as unidades foram sendo abandonadas, com as prateleiras deixando de serem abastecidas. Para Iraci Barbosa, 83 anos, que trabalhou por mais de 30 anos de maneira autônoma como confeiteira para aniversários e eventos, “na época da Cesta do Povo, o preço era acessível e todos os produtos eram bons. Depois botaram a parte das verduras e tudo. Era ótimo! Eu fiz muita compra ali, mas depois parei porque o Governo descuidou. Eu ia lá, e não tinha quase nada”.

O que está por trás disso?

Para legitimar essa vontade dos capitalistas, o Governo começou a defender abertamente a privatização, afirmando que era impossível concorrer com a iniciativa privada e alegando estar dando prejuízos aos cofres públicos. Para reafirmar essa tese, na reinauguração da empresa, já sob controle privado, o ex-governador Rui Costa (atual ministro da Casa Civil) declarou em entrevista que: “O nosso foco é gerar emprego e, do jeito que a Cesta do Povo ‘tava’, era custo para a sociedade. Custava R$ 60 milhões dos cofres públicos ao ano e cada vez gerando menos empregos. Agora, não. Não custa nada para os cofres públicos, ao contrário, ainda gera uma receita de ICMS, com 41 lojas abertas e eu espero que logo possamos comemorar ao invés de 50, 80 lojas abertas e 3, 4 mil empregos gerados”.

A verdade é que a Ebal, no seu último ano antes da privatização, fechou sendo a 5ª maior empresa do ramo na região, mesmo com esse grande esforço de fazer parar o seu funcionamento. Debaixo do capitalismo, o nosso dinheiro pode ir para a dívida pública, para enriquecer banqueiros, para o agronegócio, e nada disso é considerado desperdício. Agora, combater a fome, aí já é demais!

Oito anos depois, após 1.500 servidores públicos demitidos, a empresa apenas anuncia promessas de gerar empregos com sua expansão. Hoje, a Cesta do Povo de povo só tem o nome, pois não passa de uma rede de supermercado como qualquer outra: sustentando um rico capitalista com a carestia do preço dos alimentos e a superexploração dos trabalhadores submetidos à escala 6×1, com pouquíssimos direitos.

Gestão privatista

A gestão de Rui Costa foi marcada pelas privatizações e extinção de empresas públicas. Assim que assumiu a gestão, em 2015, iniciou uma reforma administrativa que desmontou a Empresa Baiana de Desenvolvimento Agrícola (EBDA), responsável pela implementação de diversas culturas agrícolas, bem como o desenvolvimento de tecnologias para combate a pragas nas plantações dos agricultores baianos. Além disso, extinguiu a Empresa de Turismo da Bahia (Bahiatursa) e o Departamento de Infraestrutura de Transportes da Bahia (Derba), terceirizando esses serviços para as mãos das empresas privadas e do agronegócio.

Nesse pacote, também estava prevista a privatização da Empresa Baiana de Águas e Saneamento (Embasa) e a Companhia de Desenvolvimento Urbano do Estado da Bahia (Conder), mas os movimentos e o povo não permitiram. Tudo isso e mais os sucessivos cortes na educação pública e as declarações a favor do genocídio do povo preto pela PM renderam apelidos para o ex-governador de “Rui Corta” e “Bolsonaro da Bahia”.

A Bahia é o 2º estado no país onde a população mais sofre com a insegurança alimentar. São 6 milhões de pessoas (42% da população), que não sabem o que vão comer no dia seguinte. Do outro lado, as três redes varejistas que mais lucraram em 2024 (Carrefour, Assaí e Mateus Supermercados) acumularam, juntas, uma fortuna de R$ 218,3 bilhões.

Com certeza, a criação de mercados públicos acessíveis à toda população é uma reivindicação justa para diminuir a fome no nosso país. Agora, o caminho para inverter essa situação de maneira definitiva é arrancar do poder esses agentes da burguesia, que estão dispostos a venderem até a própria alma para cumprir com os interesses da classe que eles servem.

Fazer uma profunda e intensa propaganda de que só o poder popular poderá acabar com a fome no nosso país e que só depende da nossa união para avançarmos. Por isso, crescer o Movimento de Luta nos Bairros, Vilas e Favelas (MLB) a cada luta é fundamental para avançar essa consciência.

Os patrões trabalham junto com seus governos colocando o nosso povo para definhar de fome. Enquanto nós, o povo, que não aceitamos essa situação, lutamos e conquistamos as condições para que cada família organizada pelo movimento tenha o que comer dignamente.

Matéria publicada na edição impressa nº320 do jornal A Verdade