UM JORNAL DOS TRABALHADORES NA LUTA PELO SOCIALISMO

sexta-feira, 12 de dezembro de 2025
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O vestibular ainda é uma ferramenta de exclusão

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Apesar de alguns avanços no ingresso ao ensino superior, a urgência de uma educação gratuita, democrática e verdadeiramente para toda a juventude está longe de ser uma realidade onde a meritocracia e o individualismo decidem quem vai conseguir uma vaga no tão sonhado ensino superior. 

Gabriel Marinho Cunha de Barros| Paraíba


Educação- A conquista de uma vaga na universidade pública, celebrada como uma oportunidade de ascensão social, ainda funciona como parte da reprodução da dominação e ideologia da classe dominante. O ingresso no ensino superior público legitima, perpetua e naturaliza, sob a roupagem do mérito e da excelência, uma lógica profundamente excludente e seletiva. No centro desse funcionamento está o vestibular, esse filtro que decide quem entra e, por consequência, quem permanece do lado de fora da tão sonhada vaga. Mas este dispositivo de seleção não nasceu neutro — e tampouco permanece como tal.

A origem do vestibular

O vestibular foi criado no Brasil na década de 1910, a partir das reformas no ensino superior que buscavam, entre outras coisas, controlar o crescimento do número de estudantes e garantir que a universidade fosse ocupada por um grupo “qualificado”. Na década de 1930, com a criação da Universidade do Brasil (atual UFRJ), o vestibular passa a ser institucionalizado como condição obrigatória de ingresso. O critério de seleção, até então restrito a provas específicas de cada instituição, torna-se gradativamente um instrumento de regulação do acesso — não a partir das capacidades intelectuais, mas das desigualdades materiais que precedem a chegada de qualquer estudante às portas da universidade.

E é justamente aí que reside seu papel ideológico: o vestibular transforma a desigualdade social em “fracasso individual”. Ele não mede apenas conhecimentos — ele homologa trajetórias marcadas por abismos históricos e legitima que os mais pobres sejam reprovados por critérios que jamais tiveram chance de atender. A lógica do mérito, nesse cenário, opera como véu: oculta as determinações estruturais que moldam as trajetórias e transforma o sucesso dos privilegiados em virtude pessoal. Quem conseguiu a vaga, “estudou, abriu mão de muita coisa, fez pelos seus méritos”. Quem ficou de fora, “não se esforçou o suficiente”. Essa é a ótica vigente.

Nesse sentido, o vestibular é uma barreira de contenção social, de ordenamento do acesso ao saber e de manutenção da universidade como espaço de reprodução das elites.

Que a universidade se pinte de povo

 A defesa do fim do vestibular mostra a debilidade em nossa educação, como também é uma exigência política, profundamente ancorada na realidade do país. O Brasil é uma nação forjada na exploração colonialista, onde o acesso à educação superior ainda é um privilégio restrito a cerca de 20% da população jovem — e mesmo esse número esconde desigualdades profundas entre instituições públicas e privadas, entre brancos e negros, entre centro e periferia.

É necessário também que se diga: as políticas de cotas, embora conquistas relevantes das lutas sociais, permanecem, na maioria dos casos, limitadas ao vestibular. Elas funcionam como brechas no filtro, mas não resolvem o problema. Ao restringirem-se ao momento do ingresso, ignoram o fato de que a exclusão é um processo que começa muito antes da prova e continua depois dela. Sem políticas reais de permanência, de acolhimento, de reorganização curricular, essa mesma juventude que passa por um verdadeiro funil, acaba por não conseguir se formar e acabam abandonando, por diversos motivos, o sonho de concluir seu curso superior.

É necessário construir uma formação que articule universidade e território. Criar uma universidade onde ensino, pesquisa e extensão sirvam para realmente transformar todos os grandes problemas da sociedade, não continue sendo entregue ao rentismo. Precisamos abrir as portas do ensino superior, e, como falou Che Guevara, que a universidade se pinte realmente de povo.

Mulheres ocupam Prefeitura de Natal em manifestação no dia 25 de novembro

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Mulheres são agredidas pela Guarda Municipal no dia internacional de combate à violência em manifestação 

Movimento Olga Benario | (Natal) RN


MULHERES – O dia 25 de novembro é o dia internacional de combate à violência contra as mulheres. A data homenageia as irmãs Mirabal, Pátria, Minerva e María Teresa, que lutaram contra a ditadura na República Dominicana e foram assassinadas brutalmente pelo ditador Rafael Trujillo. Nesse sentido, no dia 25 de novembro, as mulheres no mundo todo se reúnem em manifestações para lutar por seus direitos e pelo fim da violência 

 

Em Natal, capital do Rio Grande do Norte, não foi diferente. Na última terça-feira, cerca de 80 mulheres organizadas no Movimento de Mulheres Olga Benario e no Movimento de Luta nos Bairros, Vilas e Favelas (MLB), ocuparam o palácio Felipe Camarão, sede da Prefeitura do Natal. A manifestação aconteceu em repúdio aos casos de violência contra a mulher na cidade, mas também a violência de estado que estão submetidas as mulheres, em especial aquelas que moram na periferia: creches, escolas e postos de saúde precarizados, falta de iluminação e aumento dos bancos de doação de leite também estavam entre as principais pautas.

 

Ainda assim, a Guarda Municipal respondeu às mulheres com truculência. “Estávamos fazendo nossas agitações, palavras de ordem, pressionando o gabinete da Prefeitura para nos atender. Ninguém estava quebrando nada ou agredindo ninguém. Até que a guarda decidiu ir pra cima de uma das nossas companheiras, então começou uma repressão truculenta ao nosso ato. Nos agrediram e jogaram spray de pimenta na gente” relata Kivia Moreira, da coordenação do Olga.

 

Após o episódio de violência, o Movimento foi atendido pelo secretário adjunto do prefeito, que recebeu o ofício. Fruto da mobilização, foi conquistada uma reunião com a secretaria de mulheres do município para tratar especialmente das pautas voltadas para o combate a violência de gênero. No Rio Grande do Norte, 22 mulheres foram vítimas de feminicídio somente neste ano, e a cidade de Natal conta com apenas uma casa abrigo que está superlotada e o Centro de Referência da Mulher Elizabeth Nasser (CREN), que está precarizado em decorrência do baixo recurso investido.

 

“Foi uma ação muito importante, porque chamou atenção pra pauta, que parece ser esquecida pela prefeitura, pelo estado, enfim, o poder público, que prefere ignorar as mulheres e nos deixar morrer sem perspectiva, seja pela violência dentro de casa ou fora de casa. E mostra como reage o Estado quando as pessoas se organizam, porque o que estávamos pedindo ali não era nada além de um direito básico, o direito a viver bem. Essa ação foi importante porque mostrou que as mulheres podem e devem ser poder!”, relata Alice Morais, do Movimento de Mulheres Olga Benario.

Prefeitura de Bayeux (PB), não chama concursados para ocupar cargos e precariza condições de trabalho

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Precarizando o serviço público e priorizando a terceirização, o governo municipal de Bayeux (PB) é reflexo de como o capitalismo enxerga o serviço público em todas as esferas.

Redação Paraíba


 

TRABALHADOR UNIDO- Os servidores públicos no estado da Paraíba estão imersos num oceano de irregularidades. Apesar a legislação favorecer a contratação por meio de concursos públicos, considerando que contratações fora desse modelo sejam feitas apenas em casos excepcionais, na prática, a maior parte dos servidores públicos na Paraíba estão contratados temporariamente. O Tribunal de Contas do Estado da Paraíba (TCE-PB) estabeleceu, em resolução de 2024, que a contratação de servidores públicos nos municípios paraibanos por modelo de contrato temporário não deve ultrapassar em 30% o total de servidores efetivados por concursos. No entanto, segundo dados do próprio TCE-PB, 178 das 223 prefeituras do estado se encontram em situação de excesso de contratações necessárias.

Um dos casos que chama mais atenção é o município de Bayeux, que segundo dados do Ministério Público da Paraíba, possui 1.166 servidores efetivos e 2.355 temporários. Isso significa cerca de 201% de servidores temporários em relação aos efetivos; 171% a mais que o limite normativo. Esses dados são resultados de diversas práticas políticas das gestões de Bayeux, principalmente do não cumprimento de chamadas de concursos públicos. No caso mais recente, em julho de 2024 a prefeitura de Bayeux realizou um concurso que oferecia 568 vagas imediatas e 2.845 vagas em cadastro de reserva, para diversas profissões, incluindo professores. Apesar de a princípio concordar com as condições do edital e com a homologação do concurso, a prefeitura não realizou de forma plena a chamada de aprovados. Em maio de 2025, agora sobre a nova gestão de Tacyana Leitão (PSB), a prefeitura publicou um novo decreto, anulando a homologação do concurso.

Concursados exigem seus direitos

A irregularidade das contratações dos servidores públicos traz a precarização do trabalho desses servidores, não possuindo a estabilidade que os servidores efetivos, e, em alguns casos, não possuindo a mesma remuneração. Além disso, a temporariedade do contrato, faz com que os contratados estejam dependentes da vontade dos gestores, a renovação ou não de um contrato temporário pode ser feita por questões políticas, ou ainda, por relações de nepotismo. Dessa forma, as prefeituras obrigam centenas de trabalhadores à estarem alinhados com a gestão, especialmente durante às eleições, quando além do voto são coagidos a estarem nas atividades de campanha. A realização de um concurso que não resulta na contratação dos aprovados é um insulto aos trabalhadores aprovados. O Jornal A Verdade entrevistou Angelline Santos, membra da comissão de representação dos aprovados, para discutir sobre a demanda dos aprovados por seus direitos, e as condições de trabalho da categoria dos professores em Bayeux.

A Verdade: A prática comum no município de Bayeux em relação à contratação de professores é através de contratações provisórias, ao ponto em que o ministério público constatou excesso de contratos provisórios, com mais de 170% a mais que o permitido. Qual efeito isso tem nas condições de trabalho dos professores de Bayeux?

Angelline: São trabalhadores com baixos salários, precarizados, com excesso de trabalho, muitas turmas com alunos neurodivergentes ainda esperando acompanhamento dos monitores, que também esperam a convocação. Para além dessa realidade caótica, contratados são constrangidos a manter engajamento nas redes sociais do município, durante eleições são também constrangidos a participarem de atos, carreatas e passeatas. É a verdadeira massa de manobra, que infelizmente se dobra a interesses políticos escusos pois precisa colocar comida na mesa.

Além de demorar para fazer concursos, a prefeitura também tem feito concursos em que nenhum professor foi nomeado aos cargos. Qual pode ser a causa disso?

 Alguns poucos conseguiram a nomeação ainda na gestão passada, em novembro de 2024, pouco tempo depois da homologação.  Esse número não chega a 5% do número total de vagas imediatas. Temos um longo caminho pela frente, pois a prefeitura só realiza concurso quando há intervenção do Ministério Público. Essa é uma realidade, não só de Bayeux, como de muitos municípios Brasil afora. É nítida a vantagem eleitoral quando a máquina pública é ocupada por contratados que se sujeitam aos interesses eleitoreiros dos seus gestores. “Cabide eleitoral” é como chamamos esse comportamento ilegal das gestões que trocam emprego por voto e trabalho nas eleições.

Como tem sido a reação dos professores e da população? Há alguma movimentação para exigir que as nomeações sejam feitas?

O concurso de Bayeux contempla diversos cargos, desde apoio, como é o meu caso de auxiliar de merendeira, passando pela administração, professorado, e até procuradores. Atuamos em diversas frentes cobrando nomeação: panfletagem, protestos, publicações nas redes sociais, denúncias ao Ministério Público, mandados de segurança, ações contra o município que se opõe firmemente a todas essas frentes. A população não tem ainda a dimensão do problema, mas sente na pele a falta de professores, técnicos de enfermagem, monitores, auxiliando diretamente à mesma. E os professores seguem amargando essa espera, apesar de o ano letivo ter iniciado com muitos desfalques.

Em geral, como a gestão de Tacyana tem lidado com as questões educacionais da cidade?

A gestão de Bayeux nos parece mais do mesmo, mas com uma preocupação enorme em sair bem na foto. Então vemos investimento pesado em publicidade e propaganda, enaltecendo algumas poucas reformas de praças públicas, ao passo que escolas continuam com problemas básicos como falta de energia e insegurança. Assim como nas demais secretarias, a de educação tem um secretário não técnico, de outra área que não da educação. Se existisse um interesse genuíno em melhorar os índices educacionais ridículos do município, a contratação dos professores aprovados que aguardam a tão sonhada nomeação seria pauta urgente da gestão. A luta dos aprovados de Bayeux está perto de trazer boas notícias. Acreditamos cegamente na justiça. Já são duas ações civis públicas impetradas pelo MP em favor dos aprovados. Uma delas, inclusive, nos garante um cronograma e consequente nomeação. Infelizmente o entendimento da gestão não é de respeitar os trâmites jurídicos. A prefeitura está desobedecendo duas ações, impedindo que nós, mais de 500 aprovados, assumamos um posto que nos é de direito, garantido com tanta dedicação e esforço.

A luta pelo direito dos aprovados

 No dia 14 de setembro, trabalhadores de diversas categorias foram às ruas, exigindo o direito à nomeação dos aprovados e denunciando as irregularidades da gestão. A luta não é apenas pontual, resultado de um edital não cumprido, mas sim mais uma expressão da luta travada pela classe trabalhadora por seus direitos; pois não podemos depender da boa vontade da classe dominante, temos que fazer nossas reivindicações com garra, sem conceder nenhum direito a menos.

Polícia invade sede da UP e persegue militantes em Santa Catarina

Em mais uma tentativa de criminalizar movimentos sociais e partidos de esquerda em SC, a polícia comandada pelo governador fascista Jorginho Mello invadiu a sede do partido Unidade Popular e casa de militantes do MLB em Florianópolis.

Redação


BRASIL – Forças repressivas do Estado de Santa Catarina, sob comando do governador fascista Jorginho Mello (PL), arrombaram a sede do partido Unidade Popular (UP), em Florianópolis, na manhã desta quinta-feira (27). Também efetuaram abordagens nas casas de militantes do Movimento de Luta nos Bairros (MLB), na capital e no interior (Itajaí e Navegantes).

“Quebraram a porta da sede do partido e saíram levando computadores, materiais, cadernos e celulares. Quando invadiram, a gente não estava lá”, relata a presidente da UP em Santa Catarina, Júlia Andrade. “Se eles quisessem fazer uma busca, nós temos a chave. Não precisava dessa truculência toda. Não recebemos intimação, nada. O documento que apresentaram na portaria do prédia fala em busca na sede do MLB”, conclui.

Imediatamente, o partido convocou uma plenária de solidariedade para o local que foi invadido. Comparecerem dezenas de militantes da UP e de outros partidos de esquerda e movimentos sociais, que debaterem essa ação de perseguição e convocaram um ato unitário para esta sexta-feira, dia 28, às 11h00, em frente à Catedral, em Florianópolis. Também foram convocados atos em outras cidades. Ver cronograma completo no final da matéria.

Em nota enviada à imprensa, a PMSC afirmou que a invasão foi justificada pela participação de militantes do MLB e da UP em atos contra a escala 6×1 num shopping, em abril, contra a fome em um supermercado, em maio e a ocupação de um prédio abandonado por famílias sem teto. Além disso, a PM acusa os militantes e terem tentado impedir um evento na Univali que contava com a presença de deputados e outras autoridades fascistas reconhecidas por perseguirem militantes de esquerda pelo país.

“Trata-se da tentativa de criminalizar a luta social, especialmente porque também invadiram casas de militantes do MLB, um movimento com mais de duas décadas de ação e luta por moradia. Quando fazem isso, na verdade, estão protegendo a grande especulação imobiliária, aqueles que faturam em cima do preço absurdo dos aluguéis, da especulação. É essa inversão de valores que o fascismo promove: tenta inverter a realidade, criminalizando movimentos sociais e partidos que estão, de fato, junto à classe trabalhadora”, completou Júlia.

“É uma ação absurda, de caráter fascista, autoritária e injustificável. Policiais invadirem a sede de um partido devidamente constituído nesse país. Isso é ação típica de Estado de exceção, de ditadura”, reforço Leonardo Péricles, presidente nacional da UP.

Vale salientar que, até o momento, o partido Unidade Popular não recebeu nenhuma informação oficial sobre a operação truculenta e não teve acesso ao inquérito ou aos mandados judiciais em que o partido supostamente é citado.

Entrada da sede do partido Unidade Popular arrombada pela polícia nesta quinta (27/11). Foto: UP-SC

Governador rico e fascista

As ações das polícias ocorrem 20 dias após a veiculação de um vídeo em que, portando um pedaço de madeira, o governador Jorginho Mello atenta contra o Plano Nacional de Proteção a Defensoras e Defensores de Direitos Humanos, instituído pelo Governo Federal.

Entre os movimentos citados na nota da Polícia está um protesto que ocorreu na Universidade do Vale do Itajaí (Univali), em que estudantes contestaram a presença de Nikolas Ferreira em um espaço de produção do conhecimento.

O governador Jorginho Mello também estava presente na ocasião. Segundo apuração do portal ICL Notícias, a Univali é a instituição de ensino particular que mais recebe recursos públicos do caixa estadual e tem o filho do governador, Bruno Mello, como um dos seus professores. Só neste ano, já são R$ 136 milhões de verba pública destinados pela Secretaria Estadual de Educação.

Atos contra a criminalização daqueles que lutam

  • Florianópolis: 28/11, 11h00, Catedral, Praça XV
  • Chapeçó: 29/11, 14h00, Praça Central
  • Joinville: 27/11, 18h30, Praça da Bandeira
  • Tubarão: 27/11, 19h30, Praça do Avião
  • Criciúma: 29/11, 15h30, Parque da Prefeitura

Greve nacional da FENET mobiliza milhares de estudantes no país

Greve dos estudantes de Institutos Federais mobiliza 15 mil estudantes em todo país. Pauta de reivindicação principal é a construção de bandejões e a redução do preço da alimentação na rede federal.

Lucas Roseno e Lucas Marcelino | São Paulo


JUVENTUDE – Nesta quarta (26/11), milhares de estudantes dos Institutos Federais (IF) e do CEFET, organizados pela Federação Nacional dos Estudantes de Ensino Técnico (FENET), realizaram uma Greve Nacional em diversos campi no país. O foco principal da greve é exigir a construção de restaurantes estudantis (bandejão) nos campi que não possuem e a melhora da qualidade e diminuição do preço nos institutos que tem.]

Até as 13 horas, o balanço da direção nacional da FENET informava que mais de 40 campi haviam paralisado as atividades em todas as regiões do país, totalizando pelo menos 15 mil estudantes em greve. Além dessas unidades, ao menos 13 outros institutos registraram manifestações ou atividades.

Para garantir que o dia da greve não fosse um dia de folga, mas um dia de luta e mobilização, grêmios e centros acadêmicos organizaram programações culturais, esportivas e políticas com os estudantes.

Faixa denuncia altos preços no bandejão do IFSP. Foto: Willdaly Souza/JAV

A situação pelo país

Diferente das escolas de ensino básico, os IFs não oferecem merenda nos intervalos das aulas. As opções para se alimentar são comprar nas lanchonetes, levar sua própria comida ou pagar para comer em um bandejão. Mas como pagar todos os dias para comer em uma lanchonete ou levar uma marmita suficiente para se manter alimentado durante todo o dia sendo estudante de baixa renda?

Pensando nessa realidade, o movimento estudantil lutou por anos pela aprovação do Plano Nacional de Assistência Estudantil (PNAES). Aprovado em 2024, o PNAES atingiu – segundo o próprio Governo – apenas 400 mil estudantes em todo o Brasil.

O IFCE campus Fortaleza sofre com um rodízio de estudantes para se alimentar. Os estudantes precisam se revezar no Restaurante Acadêmico (RA), correndo risco de no dia não ter almoço. “Tem toda uma burocracia pra comer. Você tem que provar que você vai ficar até tarde naquele dia no campus para comer naquele dia, sendo que nem todos os estudantes conseguem fazer isso”, relata Maré Castro. 

Estudantes realizaram protesto nesta manhã, em frente ao IFPB. Foto: FENET
Estudantes durante atividade de greve no IFAM. Foto: FENET
Estudantes realizam assembleia no campus de Florianópolis do IFSC. Foto: Ariadne Meneghel @meneghelis

MLC realiza primeiro Congresso Estadual no Rio Grande do Norte

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MLC realiza seu primeiro congresso estadual para organizar a classe trabalhadora
potiguar contra a escala 6×1, e contra a reforma administrativa, orientando todas e todos os trabalhadores a se somarem nas greves e paralisações, em solidariedade ao povo palestino e em combate a violência contra as mulheres.

Comissão Estadual MLC | Natal/RN


TRABALHADOR UNIDO – No dia 15 de novembro de 2025, o Movimento Luta de
Classes do Rio Grande do Norte realizou o seu primeiro Congresso Estadual, realizado
na sede do Sindicato das petroleiras e petroleiros do Rio Grande do Norte (Sindipetro
RN), em Natal-RN. O congresso contou com a presença de mais de 25 trabalhadores e
trabalhadoras de diversas categorias do serviço público, de empresas privadas e trabalhadores autônomos, e da escala 6×1. A mesa de abertura foi composta por Kívia
Moreira, da Coordenação Nacional do Movimento de Mulheres Olga Benario, Alice
Morais, da Unidade popular pelo Socialismo, Francisco Dias e Samuel Timoteo da
Coordenação Nacional do Movimento Luta de Classes.

O Congresso foi marcado por importantes debates e relatos acerca da conjuntura estadual,
nacional e internacional e dos desafios da organização da classe trabalhadora em seus
sindicatos, contra a exploração capitalista e a piora nas condições de vida, demonstrando
a urgência do fortalecimento das organizações de trabalhadores, combatendo o avanço do
fascismo e do Imperialismo no mundo, além do imobilismo da social democracia tanto
nos Governos como em inúmeros sindicatos.

Foi ressaltado que devemos nos somar nas mobilizações e movimentações dos trabalhadores nesse mês de novembro em solidariedade ao povo palestino, ao combate à violência contra as mulheres, as lutas populares, e ao chamado de ato contra a escala 6×1. Durante a atividade, foi lido e debatido o texto “sobre as greves”, do revolucionário Vladimir Lênin, demonstrando que a classe trabalhadora tem possibilidade força de derrubar seus patrões e exploradores, e construir uma sociedade socialista, livre da exploração e opressão.

LUTA CONTA A ESCALA 6X1 E CONTRA A REOFRNA ADMINISTRATIVA

O mote do Congresso teve como os principais temas a luta pelo fim da desumana Escala
6×1, que rouba o tempo, convívio e lazer dos trabalhadores, além de ser uma pauta de
avanço de nossa classe, para arrancar mais direitos. As últimas décadas foram marcadas
por mobilizações de defesa dos direitos, agora tem-se uma pauta ofensiva para arrancar
mais direitos, e não apenas defende-los. É possível destruir essa escala, sem redução
salarial.

Também em defesa dos serviços e servidores públicos, contra a Reforma Administrativa,
que representa um ataque feroz à população, destruindo os direitos historicamente
conquistados pelos trabalhadores. Ou seja, ambas as pautas refletem a luta da classe trabalhadora contra o avanço da super exploração do trabalho no Brasil, e tem como objetivo transferir dinheiro para o bolso dos banqueiros e bilionários, precarizando ainda mais as condições de vida. Ao final do Congresso, foi eleita a nova Coordenação Estadual do MLC que tem a tarefa de organizar, convocar e tocar as lutas no estado do RN, organizando as chapas para sindicatos, para as Comissões Internas de Prevenção de Acidentes e Assédios (CIPA), bem como fortalecer as greves e paralisações dos trabalhadores contra todos os ataques.

Nasce a ocupação Sala de Enfrentamento à Violência Walkiria Afonso Costa na UFMG

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Estudantes ocupam sala na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) em jornada de luta pela Eliminação da Violência Contra a Mulher. Walkiria Afonso Costa, presente!

Lua Plaza, Paula Dornelas | Belo Horizonte – MG


 

MULHERES – No dia 25 de novembro, dia Internacional pela Eliminação da Violência Contra a Mulher, estudantes da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), em conjunto com o Movimento de Mulheres Olga Benario e o Movimento Correnteza, ocuparam uma sala no Campus Pampulha da UFMG, em Belo Horizonte. A ação denuncia a falta de políticas efetivas de combate e enfrentamento à violência na universidade, bem como reivindica a criação de espaços de acolhimento para mulheres vítimas de violência nos campi, com acompanhamento técnico qualificado.

Além da exigência à universidade, a ocupação se dá em um dos espaços mais masculinizados da universidade, o Instituto de Ciências Exatas — ICEX, denunciando também o machismo presente, que se reproduz de forma estrutural. Também nesse prédio, há quase 1 ano, a diretoria mantém a sala do Diretório Acadêmico fechada, sob a premissa de ‘diminuir espaços de insegurança’, depois de abafar um caso grave de violência ocorrido nesse mesmo espaço, como aponta Manifesto produzido pelo Movimento para apresentar as reivindicações da Ocupação.

Organização e mobilização

Diante deste cenário, ao longo do ano, o Movimento de Mulheres Olga Benario iniciou a campanha “Queremos estudar sem medo”, denunciando os casos de assédio e a inércia da instituição, além de organizar as estudantes para lutar por mais direitos na UFMG.

A primeira ação foi a criação de um formulário sobre a percepção da segurança das mulheres que utilizam nos campi, divulgado pelas redes sociais, com cartazes e lambes nos prédios das faculdades. Com essa pesquisa preliminar, o movimento Olga conseguiu averiguar que 80% das mulheres — estudantes, trabalhadoras ou transeuntes — que frequentam os campi, não se sentem seguras, ou se sentem apenas parcialmente seguras nos espaços da UFMG. Além disso, 56% dessas mulheres já sofreram assédio nos campi, e apenas 16,5% denunciaram a violência sofrida.

O núcleo do Movimento Olga também produziu o “Manual da Caloura na Luta Contra o Assédio”, que ensina o passo-a-passo de como denunciar na Universidade através do canal da Ouvidoria ou acionando outros equipamentos, como delegacias especializadas no atendimento à mulher.

Grupo de estudantes sentados em roda no pátio da UFMG durante a ocupação.
Estudantes reunidas no pátio da UFMG durante a ocupação.

A partir desse contato cotidiano com as mulheres nos campi, militantes do movimento Olga receberam inúmeras denúncias de casos de assédio, que foram encaminhadas para o acolhimento técnico voluntário da Casa de Referência da Mulher Tina Martins, uma ocupação também construída pelo Movimento Olga, que acolhe mulheres em situação de violência em Belo Horizonte desde 2016.

Como resultado da organização coletiva, em 25 de novembro de 2025, o movimento inaugurou sua ocupação, apresentando uma lista de reivindicações. Entre elas estão: criação de um espaço institucional de acolhimento para mulheres vítimas de violência de gênero, reabertura da sala do DA, criação de uma política de ocupação dos campi.

Ocupar os campi por uma universidade mais segura

A UFMG tem investido cada vez mais em estratégias de isolamento dos seus campi, com a instalação ostensiva de catracas, a proibição de eventos recreativos propostos pelas entidades estudantis e até mesmo eventos construídos por movimentos sociais são muitas vezes censurados pela instituição.

Ao contrário do que se pode imaginar, impedir a circulação de pessoas nos campi não aumenta a segurança daqueles que precisam frequentá-lo: pelo contrário, cria espaços ermos e, no caso da UFMG, escuros e isolados, onde as pessoas estão mais sujeitas a violência, já a circulação livre e estimulada de pessoas nos espaços públicos é um mecanismo de vigilância natural e prevenção.

Faixas penduradas no local da ocupação na UFMG, incluindo mensagens contra a violência, o fascismo e a fome, e defesa da Palestina livre
Faixas e bandeiras fixadas no espaço ocupado na UFMG.

Walkiria Afonso Costa, presente!

A ocupação carrega o nome de Walkiria Afonso Costa, estudante de pedagogia da UFMG, lutadora popular e guerrilheira no Araguaia durante a ditadura militar. Sua história de resistência é inspiração para a luta!

Leia o Manifesto na íntegra clicando aqui.

Empresário assassina jovem negro trabalhador da Teleperformance em Natal (RN)

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Em um criminoso ato racista, o jovem João Victor, de 23 anos, foi assassinado por um empresário que dirigia um veículo, porque teria o “confundido” com um asssaltante.

Redação RN


Na sexta-feira, dia 07, próximo às 23H30, João Victor, um jovem negro trabalhador da Teleperfomance, empresa de telemarketing localizada em Emaús (Parnamirim), estava voltando para casa com seu pai em uma moto quando foi atropelado por uma caminhonete repentinamente.

Douglas, um empresário proprietário de uma pizzaria, é o único e principal suspeito que teria perseguido e jogado o carro por cima do pai e do filho que voltavam do trabalho, alegando ter confundido os dois com bandidos. Após o atropelamento, o suspeito teria revistado as vítimas feridas ainda no chão.

Após o ocorrido, o empresário tentou fugir, mas foi contido por pessoas que presenciaram o acontecimento. João Victor trabalhava na Teleperformance nos últimos horários do dia (fechamento), no produto TAP (TAP Air Portugal), empresa de atendimento para viagens aéreas.

Ao falar com trabalhadores da Teleperformance, e da mesma operação, fomos informados que não houveram comunicados oficiais nem informais. Após a perda, a empresa manteve em funcionamento normal, amigos que trabalhavam precisaram voltar a trabalhar normalmente, mesmo com a ausência de João Victor.

A multinacional que esbanja modernidade e direciona campanhas de vagas de trabalho entre os jovens, é famosa entre os trabalhadores pela jornada exploratória, constantes assédios e abusos que apesar de denunciados, são silenciados.

IMPUNIDADE

Ao ser procurada pela imprensa local, a polícia civil não se declarou, porém foi aberto um boletim de ocorrência por agentes de transporte e trânsito (STTU), categorizado como acidente de trânsito e não tentativa de homicídio motivada por racismo (A real situação).

O ocorrido entra como mais uma estatística de morte da população negra, que por sua vez foi silenciada. O caso lembra o assassinato de Barbara Nascimento, assassinada pela policia no dia 12 de Abril desse ano. Assim como ela, João Victor era trabalhador sob a escala 6×1, apesar de todo o esforço para proporcionar uma vida digna para sua família, foram brutalmente assassinadas pela política de morte que o capitalismo proporciona à população negra.

Assim como o caso de Bárbara e tantos outros no estado e no país, até o momento não houve punição aos seus assassinos. Casos como esses, se somam a um histórico de impunidade, lutar pela memória e pela justiça é um direito da família e amigos. 

Infelizmente a posição de João Victor será substituída como se fosse uma ferramenta e não um ser humano. Um trabalhador jovem foi assasinado apenas por que era negro e estava em uma moto com seu pai, não descansaremos até que haja justiça, reparação e paz.

O povo do DF e o preço de manter Brasília de pé

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Todos os dias, milhares de brasilienses saem cedo das cidades satélite para trabalhar no Plano Piloto, enfrentando ônibus lotados, calor e horas perdidas no trânsito, sem transporte digno ou atenção do governo.

Bárbara Calista- DF

Desde a construção de Brasília, o povo trabalhador foi empurrado para longe do centro, confinado nas chamadas “cidades satélite”, hoje conhecidas como regiões administrativas. Mas são justamente essas pessoas que precisam estar no Plano Piloto antes das 8h da manhã para garantir que a cidade funcione.

O resultado dessa lógica é visível. O trânsito do Distrito Federal está cada vez mais caótico e isso reflete diretamente na qualidade de vida da população. Em Planaltina, por exemplo, o trajeto até o Plano Piloto pode variar de 40 minutos à 2 horas. Atualmente, com as obras da terceira via na BR-020, muitos levam cerca de uma hora apenas para conseguir sair da cidade, consequentemente, diminuindo as horas de descanso dessas pessoas. O recado do governo Ibaneis é claro: quem quiser trabalhar que vá de carro, mesmo que o transporte individual seja inacessível para a maioria e o transporte público siga em total abandono.

A cada dia, o povo trabalhador enfrenta um novo desafio para chegar ao emprego. Faltam ônibus, os veículos quebram com frequência, não há ventilação adequada e, durante a seca, é comum passageiros passarem mal. Conseguir um assento virou privilégio, mesmo para quem passa o dia inteiro em pé no trabalho.

De acordo com o IBGE, o Distrito Federal está entre as regiões onde as pessoas demoram mais para chegar ao trabalho. Isso não é coincidência! É consequência de uma gestão que governa para os mais ricos! 

Ibaneis é inimigo do povo!

Enquanto se recusa a investir em transporte público de qualidade, Ibaneis planejava gastar R$ 2 bilhões de reais em dinheiro público na compra do Banco Master, empresa em grave crise financeira do banqueiro Daniel Vorcaro. Imagine se esse dinheiro fosse usado para melhorar o transporte, a saúde e a educação do povo brasiliense.

Brasília nunca foi pensada para o povo, e o governo atual não demonstra interesse em mudar isso. É urgente enfrentar a máfia dos transportes e investir em ônibus de qualidade, com rotas que realmente atendam à realidade da população. Construir novas vias pode ser importante, mas sem planejamento estratégico e sem foco em soluções coletivas, a desigualdade só aumenta.

O povo do DF merece um transporte digno, acessível e humano. 

A importância da formação política e ideológica para a juventude

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A construção de uma sociedade socialista exige mais do que apenas a nossa vontade, mas exige a fusão consciente entre a teoria revolucionária e a ação prática.

Jesse Lisboa | Recife (PE)


JUVENTUDE – O marxismo-leninismo tem como objetivo a libertação da classe trabalhadora e a superação da exploração do homem pelo homem. Essa ideologia promove a consciência coletiva e a solidariedade entre os oprimidos, colocando a classe trabalhadora acima dos interesses individuais. É a ideologia que desperta a consciência sobre as injustiças sociais e motiva a lutar por uma nova forma de viver, uma nova sociedade: a sociedade socialista.

O estudo das doutrinas de Marx, Engels, Lênin e Stálin oferece à juventude instrumentos para analisar e resolver os problemas da vida política e pessoal sob uma perspectiva revolucionária, ao mesmo tempo que orienta a luta contra a influência da ideologia burguesa, fortalecendo a moral comunista e despertando energia e entusiasmo pela vitória do socialismo.

Lênin, líder da Revolução Socialista de Outubro de 1917, em seu discurso para a juventude comunista da Rússia, coloca que a tarefa fundamental da juventude comunista é aprender. Mas aprender não utilizando o método da “velha escola”, aquela com ensino mecânico e desvinculado da realidade, mas sim aprender no sentido de assimilar criticamente a soma dos conhecimentos humanos e unir a teoria à prática.

Unindo teoria e prática

A teoria não sobrevive sem atuação política e, ao mesmo tempo, a ação sem direção ideológica se torna vazia. É nessa união que se formam revolucionários capazes de intervir com consciência na sociedade.

Para um comunista, o estudo individual não pode ser um ato isolado, mas deve dialogar constantemente com a realidade em que vivemos e ser o alicerce para a ação prática. É por meio do estudo e da discussão coletiva em cada reunião que garantimos a nossa unidade política e ideológica.

Vivemos um tempo em que governos reacionários e correntes reformistas se esforçam para apagar a memória e a teoria da revolução. Precisamos estar vigilantes na influência que essas ideias tomam na sociedade. Muitas vezes disfarçadas de ideias progressistas, esses desvios servem apenas para ofuscar o movimento revolucionário. Nossa resposta a isso deve ser firme: assumir a responsabilidade de estudar profundamente o marxismo-leninismo, realizar agitação e propaganda do socialismo e principalmente levar à prática tudo que aprendemos para impulsionar as lutas da classe trabalhadora.

Sobre a moral comunista

A vida do Che foi o reflexo de suas convicções. Para ele, o espírito de sacrifício era a base da moral comunista e o alicerce para a formação de um novo ser humano. Ele demonstrava isso na prática, ao tomar para si as missões mais difíceis e ao se colocar sempre na vanguarda do esforço coletivo, sendo o primeiro a iniciar qualquer tarefa.

A moral comunista deriva da luta de classes do proletariado, assim, a juventude deve se educar através do trabalho consciente e disciplinado em prol de uma causa comum. Um grande exemplo desse trabalho consciente pode ser demonstrado nas jornadas de trabalho voluntário da UJR “Seremos como Che!”.

A construção dessa moral é indissociável de um profundo e contínuo trabalho de formação ideológica. Não se trata de uma qualidade inata, mas de uma consciência adquirida através do estudo disciplinado da teoria revolucionária e da análise crítica da realidade.

Ao mergulhar nas obras clássicas do marxismo-leninismo e nas experiências históricas do movimento operário, o militante desenvolve a capacidade de enxergar o mundo para além das aparências, compreendendo as contradições do sistema capitalista e fortalecendo sua convicção na necessidade de superá-lo.

Essa jornada de formação é, em si, uma batalha contra a hegemonia da ideologia burguesa, que se infiltra sutilmente no cotidiano, promovendo o egoísmo, o consumismo e o imediatismo. A moral comunista, em contrapartida, exalta a solidariedade, o coletivismo e o sacrifício em prol de uma causa maior. Ela exige uma vigilância constante contra o oportunismo, o comodismo e a preguiça intelectual, além dos vícios que enfraquecem a coesão dos nossos coletivos.

O militante comunista, portanto, torna-se um exemplo vivo dessa moral transformadora. Sua integridade, disciplina e coragem não são apenas traços de caráter pessoal, mas a manifestação concreta de seu compromisso político. A firmeza de suas convicções e sua dedicação à causa revolucionária inspiram e mobilizam a classe trabalhadora, demonstrando na prática que um novo tipo de ser humano é possível. E que a construção de uma nova sociedade, sem exploração, está cada vez mais próxima.

“A gente vê a diferença da força quando temos as mulheres participando das lutas”

O jornal A Verdade entrevistou Natália Lúcia Barbosa, coordenadora geral da Central dos Movimentos Populares em Pernambuco (CMP) e dirigente do MLB. Ela iniciou sua militância na União dos Estudantes Secundaristas de Jaboatão dos Guararapes (Uesj), onde militou no movimento estudantil secundarista, passando também pela Uespe, pelo processo de construção da Unidade Popular e pela recente jornada de ocupações promovidas pelo MLB em todo o país. Hoje, aos 34 anos, Natália fala sobre os desafios e as lutas de ser militante política, mãe e mulher da periferia.

Clóvis Maia | Recife (PE)


A Verdade – Como você conheceu os movimentos sociais e como foi o início da sua militância?

Natália Lúcia – Eu desenvolvi uma consciência mais política quando houve uma greve dos professores, ainda no ensino fundamental. Foram meses de greve em Pernambuco, e os professores convidavam os alunos para irem às assembleias do Sintepe. A gente se organizava, ia participar para conhecer como era. Pernambuco era um dos estados que pior pagava aos professores. Por meio de um amigo, em uma dessas assembleias, conhecemos a Uespe [União dos Estudantes Secundaristas de Pernambuco] e o movimento estudantil. Um companheiro começou a passar na minha escola, formamos o grêmio estudantil, começamos a participar de atos e manifestações e foi assim que eu fui me formando dentro da militância. Tudo começou com a luta dos professores.

Hoje você é mãe. De que maneira se tornar mãe ampliou seu olhar para a luta popular?

Quando a gente é solteiro, jovem, é mais fácil, né?! A gente tem mais tempo, tem mais condições de participar das lutas, das atividades, reuniões, assembleias. Quando a gente entra numa transformação de vida – porque ser mãe é uma transformação de vida –, a gente muda totalmente a nossa cabeça. Se a gente antes precisava do SUS, passa a precisar muito mais: pré-natal, vacina, acompanhamento médico, etc. E aí sente na pele mais ainda as dificuldades que passa o SUS, por exemplo.

Eu sofri muito pra conseguir uma vaga na creche pra minha filha, por exemplo. E na escola falta servidor, falta professor, tem que fazer rodízio de aulas. Às vezes, até três vezes na semana. Tem que pegar a menina mais cedo na creche.  Então, ter um filho nessa sociedade, acaba fazendo com que a gente abra mais o nosso horizonte, tenha a perspectiva como um todo. Porque aí não é só você.

E você lutar do lado de uma mãe é diferente quando você se torna mãe. Porque tudo na nossa vida vai precisar ser planejado. Desde a hora que a pessoa se levanta, se vai almoçar, se a criança vai estar na creche, se vai ficar doente. Então, é uma outra dinâmica que vai ser necessário construir e organizar no dia a dia.  Pra a gente poder manter nessa rotina de militância é muito mais difícil.

Quando observamos os movimentos sociais, em especial o de luta por moradia, vemos que é uma base geralmente formada por mulheres, mães, avós, trabalhadoras. Porém, ainda encontramos poucas lideranças de mulheres mães. Por que você acha que isso acontece?

Acho que acontece principalmente pela dificuldade de apoio, de estrutura. Porque as mulheres são, em maioria, quem vão atrás da luta pela casa para poder ter um canto para dizer que é seu, que o seu filho vai poder descansar, dormir. Mas, ao mesmo tempo, para ser uma liderança, normalmente as pessoas precisam ter tempo. Tempo para estudar, se reunir, participar das atividades. E vai precisar casar com a dinâmica da criança.

As mulheres que estão na base do MLB têm, muitas vezes, mais de uma criança. Têm também as mães de crianças atípicas, mulheres que cuidam dos seus pais mais idosos, que trabalham como diaristas ou em subempregos, mulheres que têm problemas psicológicos, que vivem em situação de violência dentro de casa e que não conseguem notar isso.

Essa sociedade é formada para que essas mulheres não enxerguem que podem mudar essa situação e que possam, mesmo naquele mínimo tempo que às vezes ela tem durante o dia, contribuir muito para sua própria formação e fortalecer o movimento. Porque a gente vê a diferença da força quando temos as mulheres participando das lutas. Quando levam suas crianças, elas não medem esforços para lutar. Então, é mais difícil para as mulheres que são mães pra gente parar, sentar e se concentrar, participar de uma reunião, de um estudo. São coisas que requerem atenção.

Eu acompanho mulheres que estão gestantes, que têm bebês pequenos, com poucos meses de vida, que têm outras crianças maiores e que se esforçam muito para estar duas horinhas numa reunião, para ajudar na leitura com o jornal A Verdade, que dispõem um pouco do seu tempo, mesmo cansadas, mas estão lá, na luta. Sem desistir.

E é com essa luta que a gente consegue puxar essas mulheres para sair, muitas vezes, de um relacionamento abusivo, para lutar por um emprego, pela sua moradia. E quando vem a conquista da moradia, é outra realidade que essa mulher vai ter com as suas crianças. Então, é um sonho que a gente luta para conquistar, mas, além disso, colocando na consciência dela que não vai ser só a casa que vai assegurar a sua vida como um todo e que a gente vai precisar continuar se organizando.

O que as organizações devem fazer para garantir a permanências dessas mulheres na luta?

Primeiro, eu acho que é preciso acolher. Quando a gente acolhe, dá uma oportunidade daquela mulher colocar suas dificuldades. Quando a gente conhece as dificuldades, enquanto coletivo, pode estudar quais seriam as melhores formas de poder organizar essa mulher, colocar e manter na luta. Às vezes, a mulher não consegue ir para uma reunião porque não tem com quem deixar o filho. E aí? A gente pode organizar uma creche.

Às vezes, é uma dificuldade econômica de trabalho. E, na maioria das vezes, é ter a paciência de compreender que a pessoa não tem o mesmo tempo que talvez o movimento ache que ela poderia ter. É uma hora, duas horas no dia, três horas, um turno, só uma vez na semana. Inclusive, o final de semana é o único tempo que ela tem livre para dar conta dos afazeres de casa ou para descansar. Ter um tempo com os filhos. É preciso ter empatia.

Dia 07 de setembro, o MLB organizou uma grande luta em todo o país, que foi a Jornada Nacional de Ocupações. Qual a importância de uma atividade como essa?

Quando a gente constrói uma ocupação, como foi o caso do 7 de setembro, a gente vê que é possível conquistar um sonho. E quando a gente levanta acampamento, enxerga ali, naquelas pessoas que estão trabalhando coletivamente, que o socialismo é possível. É na limpeza do espaço, fazendo a cozinha comunitária, a creche. A gente começa a aprender o real sentido da luta, o motivo que levou a gente a homenagear o povo da Palestina, por exemplo. Você compreende que a luta não é só na sua cidade, é no Brasil inteiro e também internacional.

Matéria publicada na edição nº324 do Jornal A Verdade.