UM JORNAL DOS TRABALHADORES NA LUTA PELO SOCIALISMO

sexta-feira, 6 de junho de 2025
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Justiça determina desapropriação da Casa da Morte em Petrópolis

Após 40 anos de luta, justiça desapropria Casa da Morte, antigo centro de tortura, em Petrópolis, na Região Serrana do Rio. Espaço deverá se tornar espaço de memória das vítimas da Ditadura Militar Fascista.

Christian Nunes e Felipe Annunziata | Petrópolis (RJ)


BRASIL – Nesta quinta-feira (22/05), a 4ª Vara Cível determinou a desapropriação da Casa da Morte e passou sua posse para a Prefeitura, que deverá transformá-lo em um Espaço de Memória, Verdade e Justiça. Esta decisão é fruto de uma luta histórica de muitos anos feita por diversos movimentos sociais na cidade.

A Casa da Morte funcionou como um centro clandestino de torturas na Ditadura Militar. A única sobrevivente foi a guerrilheira Inês Etienne Romeu, que resistiu a bárbaras torturas e conseguiu fugir, conseguindo denunciar o local.

Sua contribuição com a investigação sobre os crimes da ditadura permitiu que a casa se tornasse um espaço importante a ser disputado pelos partidos e movimentos sociais.

A transformação da Casa da Morte em um espaço de Memória, Verdade e Justiça é muito importante, pois e um local ainda muito desconhecido pela população petropolitana e pelo povo brasileiro, mas que permite reacender a memória sobre a Ditadura Militar Fascista.

Manifestação em 2015 já pedia desapropriação do imóvel usado como centro de tortura. Foto: Arquivo JAV

Luta pelo direito à Memória e Verdade avança 

A desapropriação do espaço da antiga Casa da Morte mostra também o avanço da luta pelo direito à Memória e Verdade em todo país.

Ao mesmo tempo em que a decisão favorável da justiça ocorreu, em Minas Gerais, movimentos sociais e partidos ocupam a mais de 50 dias a antiga sede do DOPS-MG, transformando o local em Memorial dos Direitos Humanos.

A pressão de movimentos populares, organizações políticas e de famílias vítimas da Ditadura tem aumentado no último período. A vitória de ontem é resultado de décadas de luta e denúncia dos crimes dos militares fascistas que governaram o país entre 1964 e 1985.

Honestino Guimarães, presidente da UNE assassinado pela ditadura militar

Conheça a história de Honestino Guimarães, herói da luta contra a Ditadura Militar Fascista.

Leo Ribeiro e Raissa Studart | Brasília


“A perseguição dos exploradores não me intimida”

HERÓIS DO POVO BRASILEIRO – Honestino Monteiro Guimarães, Gui, nasceu no dia 28 de março de 1947 em Itaberaí, interior de Goiás, filho de Benedito e Maria Rosa, irmão de Luiz Carlos e Norton. Honestino e seus irmãos foram ensinados desde cedo a estudar muito, cultivar a solidariedade com o povo desassistido pelo governo local e soprar velas de aniversário em cima de um bolo com a bandeira da União Soviética.  

Com a construção da nova capital no governo Juscelino Kubitschek e as promessas de estabilidade financeira que chegavam por ondas de rádio, os Monteiro Guimarães seguiram o mesmo caminho percorrido por tantas outras famílias dos interiores brasileiros e se despediram para sempre da vida caipira. Em 1960, fixaram-se no centro de Brasília, numa casa do primo de Honestino.  

Luta estudantil 

Sempre bom aluno, Honestino se destacou rapidamente na nova escola, o Centro de Ensino Médio Elefante Branco. Lá, fundou o grêmio estudantil, que carrega seu nome até hoje. Organizou com amigos a distribuição de um jornal dos estudantes, a fim de suscitar o pensamento crítico referente à situação do país e do sistema educacional, porém as atividades foram interrompidas pelo secretário de educação do DF que visitava o colégio, e logo tratou de interditar a circulação do jornal. Consequentemente, Honestino e seus amigos levantaram piquetes para impedir a entrada do secretário e o liberaram somente quando o último exemplar do jornal foi vendido. 

Dois anos mais tarde, Honestino e o irmão são admitidos no Colégio Integrado de Ensino Médio (CIEM), fundado por Darcy Ribeiro e Anísio Teixeira com o objetivo de inaugurar um inovador sistema de ensino que buscava exercitar a autonomia do aluno. Lá, Honestino funda o grêmio e ajuda na criação do Conselho de Representantes. A experiência secundarista chegava ao fim com a aprovação em primeiro lugar no curso de Geologia. Honestino teria sua primeira aula como aluno da UnB em 1966.

Liderança universitária 

O incêndio da sede da União Nacional dos Estudantes (UNE), no Rio de Janeiro, foi um dos primeiros atos do golpe militar, demonstrando a disposição dos militares em reprimir os estudantes. Na UnB, a impossibilidade legal de se formar um Diretório Central dos Estudantes (DCE) livre foi driblada pelos estudantes através da Federação dos Estudantes da Universidade de Brasília (Feub). Um ano depois que Honestino entrou na graduação, ocupou o cargo de presidência da entidade, denunciou a opressão imperialista americana, organizou passeatas e panfletagens. 

A Passeata dos Cem Mil, em 26 de junho de 1968 no Rio de Janeiro, foi uma forte resposta ao assassinato do Edson Luís. Um mês depois, era Brasília que entrava em ebulição com uma grande manifestação em 28 de julho lotando a Avenida W3 Norte. A ditadura aumenta seu grau de perseguição e Honestino não teria sequer mais um mês de paz. Em agosto do mesmo ano, o Exército invade o campus universitário e o prende junto a outros 60 colegas. 

Ainda preso, faltando apenas um trimestre para se formar, em setembro de 1968, Honestino foi expulso da Universidade em decorrência da sua atuação política. Pouco tempo depois, em fevereiro de 1969, foi expedido o decreto 477, que justificava a expulsão de estudantes e professores que realizassem qualquer ato “subversivo” como passeatas ou distribuição de panfletos.

Vida clandestina 

Após quatro meses preso, é solto e, às vésperas da instauração do AI-5, em dezembro de 1968, Honestino e Isaura fogem para o Estado de Goiás. O jovem casal não podia passar muitos dias no mesmo lugar e, dependendo de amigos para garantir moradia e alimentação, foi de Goiás para São Paulo. 

Ele assumiu a vice-presidência da UNE em 1969, na gestão de Jean-Marc von der Weid, e dois anos mais tarde, em 1971, foi eleito presidente. Cumpria, na clandestinidade, suas tarefas na UNE e militava na Ação Popular Marxista-Leninista.

Em meio a um mundo de incertezas e temores, nasce sua filha Juliana, em 1970. A clandestinidade seguia necessária na luta contra a ditadura, de modo que Honestino e Isaura decidem se separar pouco depois de se tornarem pais. Gui cada vez mais se preparava para caso fosse preso e torturado. Mesmo correndo riscos, não deixava de ir aos grupos de estudos, de produzir poesias e de participar de assembleias estudantis.

Em janeiro de 1973, esteve junto da mãe pela última vez. Entregou uma denúncia, batizada de “Mandado de Segurança Popular”, documento a ser distribuído às entidades de promoção dos direitos humanos, a fim de que pudesse gerar alguma comoção para garantir a sua integridade física. O Mandado compunha uma denúncia ao aparelho de repressão, das injustiças a que estava submetido, além de compartilhar seus ideais e suas motivações para a luta. 

 No dia 10 de outubro de 1973, Honestino saiu para encontrar um camarada e nunca retornou. Três dias depois, sua mãe, Maria Rosa recebeu a notícia, em código, por telegrama, “Honestino foi internado no Rio”. Na mesma madrugada, ela contatou Gusto, novo parceiro de Isaura, para a divulgação do Mandado, mas nenhum jornal aceitou publicá-lo. Quando se discutia qual o maior legado deixado por Honestino, Maria Rosa jamais hesitou: “Ele não deixou a UNE morrer”.

Em 1979, na cidade de Salvador (BA), no congresso de reconstrução da UNE, com mais de 10 mil participantes, foi colocado um gigantesco painel com a sua foto e deixaram, na mesa que presidia os trabalhos, uma cadeira vazia em sua homenagem.

Memória, Verdade e Justiça 

As ameaças por participar do movimento estudantil eram grandes. Honestino sabia dos riscos envolvidos e se preparou física e mentalmente, como relatou em sua carta: “A perseguição dos exploradores não me intimida. Recebo-a como uma evidência de que é justo o caminho que trilho”.

Honestino era um quadro revolucionário marxista, com profunda convicção na luta e com clareza do papel das massas no processo de derrubada da ditadura e da construção do socialismo: “Sei que a luta será longa e árdua. Mas acredito firmemente na força da atuação coletiva das massas. E esta luta sem a real participação das massas trabalhadoras não nos levará a nada”.

Sua integridade e compromisso com a revolução brasileira é evidente pelo fato de que, mesmo sob tortura, não revelou os segredos da organização: sua prisão não gerou outras e o apartamento em que morava com sua namorada, Rosa, nunca foi encontrado pela repressão. 

Os processos correram em sigilo por décadas. Para a família, todos aqueles anos em luto pareciam uma angústia infinita. “Sem liberdade pela metade” foi a palavra de ordem durante a votação da Lei da Anistia. Reparação pode ser diferente de justiça, ou de liberdade, mas, para a família de Honestino, até as reparações pareciam vir sempre pela metade. Vinte e dois anos depois de seu desaparecimento, sua mãe recebe a certidão de óbito de Gui, que não indicava a causa da morte, nem o médico atestante ou o local do corpo. 

No dia 28 de março de 2025, Honestino faria 78 anos, e o legado das suas lutas por uma sociedade justa e democrática vive em todos nós. É por isso que, junto de sua família e de todas as outras famílias de mortos e desaparecidos políticos, lutamos pela revisão da Lei da Anistia. Sem uma justiça de transição, não será consolidada a democracia e estaremos sempre reféns das forças armadas e suas tentativas recorrentes de golpe. É necessária a punição dos golpistas e torturadores de 1964 e de hoje para que nunca mais se repita tamanha violência contra o povo brasileiro. 

Os fascistas militares achavam que assassinando Honestino acabariam com seus ideais. Erraram! Honestino vive! Cada dia está mais vivo e suas ideias estão cada vez mais presentes nas novas gerações. Desde 1997, seu nome estampa o histórico DCE da UnB, além do Museu Nacional da República Honestino Guimarães, localizado no coração de Brasília, e até a ponte que carregava o nome do ditador Costa e Silva hoje leva o seu nome. 

Honestino se manteve firme até os últimos momentos, como demonstra em sua carta: “Tenho vivido estes anos por um ideal que vem se mantendo aceso, creio, jamais se apagará – a luta pela causa do povo”.

  • Referência: Almeida, Betty. Paixão de Honestino Guimarães. Brasília: Editora UnB, 2016. 

Matéria publicada na edição n° 311 do Jornal A Verdade.

 

6º Congresso do MLB foi um marco na luta popular no Brasil

Congresso do MLB reúne representantes de todo país para debater avanço na luta em defesa da moradia e do socialismo.

Tiago Lourenço | Contagem (MG)


LUTA POPULAR – Entre os dias 10 e 13 de abril, ocorreu o 6º Congresso Nacional do Movimento de Luta nos Bairros, Vilas e Favelas (MLB), na cidade de Contagem (MG), local histórico da primeira grande greve operária na ditadura militar fascista. Com a palavra de ordem “Unir o povo na luta pela moradia e o socialismo”, o evento contou com mais de 220 delegados e delegadas, de 18 estados brasileiros. Foi marcante a troca de experiências entre os participantes, mostrando o acúmulo alcançado em cada região, para desenvolver a linha política do Movimento e traçar os planos para o avanço da organização e das lutas nos próximos anos.

A abertura do evento contou quase 500 pessoas na Ocupação Eliana Silva, em Belo Horizonte, com falas carregadas de espírito de combatividade, que reforçaram as tarefas que a conjuntura nos coloca: construir grandes lutas e ocupações. O próprio local da abertura simboliza muito para o MLB como um território livre da fome e do analfabetismo, exemplo de experiência de poder popular.

O segundo dia do Congresso debateu a conjuntura e as tarefas, principalmente a importância das lutas para o avanço e crescimento da organização. Mobilizar os núcleos para enfrentar a escala 6×1, para reivindicar a redução dos preços dos alimentos, reforçando que o MLB é um movimento social e político que levanta alto a bandeira da moradia, da reforma urbana e do socialismo. 

Falando pelo Movimento de Mulheres Olga Benario e pela Unidade Popular (UP), Indira Xavier, lembrou: “O nosso trabalho cotidiano é de levar esperança para o povo, de que é possível ter moradia, ter alimento, ter dignidade através da luta”. Já a companheira Poliana Souza, da Coordenação Nacional do MLB, afirmou: “enquanto existir um sem-teto, nós não temos o direito de abandonar a luta. Nossa tarefa é clara: transformar o MLB em um movimento de 8 milhões de famílias”, numa referência ao déficit habitacional no Brasil.

Fernando Alves, da Redação do jornal A Verdade, fez uma exposição sobre a conjuntura internacional e nacional, ressaltando que o acirramento da luta de classes no mundo, com guerras e genocídios contra os povos e aumento da concentração da riqueza nas mãos dos bilionários deve nos manter em alerta para aprofundarmos ainda mais nossa ligação com as massas trabalhadoras no Brasil.

Em seguida, foi mobilizado um ato em frente à Prefeitura Municipal de Belo Horizonte para denunciar a tentativa de reintegração de posse da Ocupação Eliana Silva. A manifestação caminhou até o antigo Dops (órgão de repressão da ditadura militar onde centenas de pessoas foram presas, torturadas e mortas), e que depois se tornou um presídio feminino, dando continuidade às atrocidades contra as mulheres, sendo desativado somente em 2015.

Hoje, o prédio está ocupado por militantes do Partido Comunista Revolucionário (PCR) e movimentos sociais para exigir que seja transformado em um memorial por direitos humanos. Falando pelo PCR, Claudiane Lopes apontou: “Não vamos descansar porque nossa luta é também para vingar a morte dos verdadeiros heróis do nosso povo, Manoel Aleixo, Manoel Lisboa, Emmanuel Bezerra, e tantos outros. Cada um que está aqui é uma semente viva desses camaradas”. O ato também contou com a presença de Samara Martins, vice-presidente nacional da UP.

No trajeto da manifestação, as ruas da cidade ficaram vermelhas pelas camisetas do movimento, mais de 50 jornais foram vendidos, apoiadores estenderam camisetas do MLB nas janelas dos prédios e o asfalto de todo o caminho foi decorado em tinta branca com as palavras de ordem como “Viva o 6º Congresso Nacional do MLB”, “Pelo fim da escala 6×1” e “Viva o Socialismo!”.

O terceiro dia de atividades reforçou os pilares de sustentação da organização: a autossustentação e a agitação e propaganda. “O MLB é um movimento que trouxe esperança para as nossas vidas. Não é justo que a gente se furte de apresentar essa ferramenta para todo o nosso povo. Precisamos nos dedicar mais e mais, camaradas, para bater na porta de todo trabalhador, chamar pro Movimento e apresentar a eles a saída para o seu sofrimento”, afirmou Fernanda Lopes, do Pará. O principal eixo da construção material do Movimento são as contribuições mensais das famílias organizadas nos núcleos. O papel do jornal na luta ideológica e na formação dos militantes também foi bastante destacado.

Combatividade e alegria

Diversas falas combativas demonstraram a coesão e o espírito de luta dos militantes. Jeanete Gouveia, 75 anos, do Paraná, foi homenageada por estar na luta do MLB desde a sua fundação e declarou: “O comunista só se aposenta quando morre”.

O companheiro Gerson, de 48 anos, do Pará, conta como aprendeu a ler na luta: “O jornal A Verdade foi meu professor, foi ele que me ensinou a ler. E o MLB me ensinou a lutar com dignidade, com força e com garra”. Todas essas falas também demonstram a perspectiva revolucionária dos delegados e delegadas.

Para aprofundar questões mais específicas, 12 grupos de trabalho foram formados para debater temas como núcleos de base e ocupações, núcleos de luta e educação popular, fome, saúde e antitabagismo, agroecologia e comunidades tradicionais, juventude, espiritualidade e periferia, trabalho operário e luta contra as privatizações, mulheres, criminalização dos movimentos e luta antirracista, Programa Minha Casa, Minha Vida e autoconstrução, entre outros, construindo coletivamente a linha política e as resoluções do Congresso.

O último dia do evento foi coroada com canções combativas de autoria da própria militância, como do camarada Raimundo, de Diadema (SP), que canta “O MLB está lutando pra valer, o MLB está fazendo acontecer/ O MLB está lutando pra valer, a luta é grande, mas nós temos que vencer”. Também houve uma apresentação das crianças, com as palavras de ordem e as bandeiras do Movimento, preparada pela comissão de creche, mostrando que a educação política se constrói em todos os nossos espaços e como é indispensável creches bem planejadas nas atividades.

A nova Coordenação Nacional foi eleita por unanimidade ao final da atividade, com representantes de todos os estados onde existe trabalho e com a grande tarefa de organizar nacionalmente o movimento e quadruplicar o tamanho da nossa base até o próximo Congresso. A companheira Poliana Souza foi reeleita como coordenadora geral, reforçando na sua fala como é o trabalho coletivo que nos faz avançar: “Se não fosse o MLB, eu não estaria viva hoje! O MLB nos dá perspectiva e, com certeza, também transformou a vida de todas e todos que estão aqui. Por isso, quando cada um proposto para ser membro dessa Coordenação foi aplaudido, todos nós devemos nos sentir aplaudidos também. Quando um de nós for abraçado, se sinta abraçado também, porque nossa luta é coletiva”.

O 6º Congresso vem colocar toda a militância do MLB espalhada pelo país na direção da construção das grandes lutas de massas, das grandes ocupações com centenas de famílias, das ocupações de grandes redes de mercados, para enfrentar a especulação imobiliária, a fome, a carestia dos alimentos, a escala 6×1 e também para aprofundar o orgulho de construir o Movimento. “Faço parte dessa família do MLB com muito orgulho, com muita garra, porque é a nossa esperança, a esperança para aqueles que não tem mais confiança em nada”, conta a companheira Rosa, 63 anos, da Paraíba. “Eu quero saber que os meus filhos vão viver numa outra sociedade, sem violência, sem exploração, sem fome”, afirma a companheira Raquel, 39 anos, de Santa Catarina.

Todas essas lutas são degraus para construção de uma sociedade em que o povo trabalhador esteja no poder, controlando tudo aquilo o que produz com as próprias mãos. O fortalecimento do MLB em todo o país significa avançar a passos largos rumo à sociedade socialista.

Matéria publicada na edição n° 311 do Jornal A Verdade.

Sem comida, sem educação: a realidade dos restaurantes universitários no Brasil

Falta de verbas nas universidades gera problemas nos restaurantes universitários de todo país que sofrem com falta de estrutura e pessoal.

Thaís Rachel Zacharia | Vice-Presidente da UNE


JUVENTUDE – Atualmente, o Brasil possui cerca de 10 milhões de estudantes matriculados em instituições de ensino superior.  A maioria jovens, que veem o ingresso em uma universidade como a possibilidade de transformação de vida. Porém, as dificuldades para se manter estudando são enormes e ficam evidenciadas com nas altas taxas de evasão.

Em 2023, a taxa de evasão em cursos presenciais foi de 26,4%, ou seja, 1,35 milhão de estudantes desistiram de seus cursos. Nos cursos EaD a situação é ainda mais alarmante: quase 2 milhões dos ingressantes (40%) abandonaram seus cursos. As motivações para isso são inúmeras: dificuldades financeiras; transporte público ineficiente; desestímulo com as disciplinas; necessidade de conciliar trabalho e estudo; e, sobretudo, a ausência de políticas de permanência e assistência estudantil verdadeiramente eficazes.

Apesar dos avanços, em especial com a Política Nacional de Assistência Estudantil (Pnaes), que transformou o programa de assistência estudantil que antes dependia de governos, em política de Estado, ainda há muitas limitações, em especial no tema orçamentário. Em 2024, o Governo Federal destinou R$ 1,5 bilhão para a assistência estudantil na educação superior, atendendo a 400 mil estudantes exclusivamente de universidades públicas. Vale lembrar que o pagamento da dívida pública no mesmo ano drenou R$ 5,5 bilhões por dia (!) dos cofres públicos. Ou seja, a política econômica do Governo privilegia os bilionários em prejuízo de assegurar a formação dos estudantes brasileiros.

Segundo o Pnaes, os restaurantes universitários (RUs), também conhecidos como “bandejões”, são uma das principais ferramentas para assegurar que estudantes permaneçam na universidade até a conclusão do curso ao oferecer alimentação gratuita ou a custos reduzidos. O jornal A Verdade fez um levantamento sobre a situação dos RUs e o do sistema de alimentação de algumas universidades ao redor do Brasil para entender melhor essa realidade no dia a dia dos estudantes.

Não há comida para quem precisa

Hoje, a gestão do sistema de alimentação das universidades é descentralizada, e não há dados sistematizados de orçamento e custos operacionais. Das 69 universidades federais do país, quase todas possuem restaurantes universitários em ao menos um campus, porém, a maioria atende a uma parcela muito pequena dos discentes. Já nas universidades estaduais, 29 contam com restaurantes universitários e 17 não possuem o serviço. A maioria das universidades privadas não conta com nenhum tipo de sistema de alimentação próprio, e as que dispõe desse serviço praticam valores inacessíveis.

As dificuldades mais recorrentes nos restaurantes universitários são: ausência de restaurantes em todos os campi; quantidade insuficiente de refeições; filas enormes; comida estragada; falta de pagamento dos trabalhadores dos restaurantes. O jornal A Verdade conseguiu dados e informações sobre o sistema de alimentação de cinco universidades que serão apresentadas a seguir.

Na Universidade Federal de Goiânia (UFG), três dos quatro campi possuem restaurante universitário, todos sob gestão de empresas terceirizadas. No campus de Aparecida está prevista a construção do RU, cuja obra tem o valor estimado de R$ 7,5 milhões e onde, temporariamente, estão sendo servidas quentinhas aos estudantes. Um total de R$ 21,6 milhões do orçamento da universidade é investido no sistema de alimentação. Os valores cheios das refeições são R$ 7,66 (café da manhã) e R$ 16,80 (almoço e janta). Desses valores, os estudantes de graduação pagam R$ 2,50 e R$ 4,00 respectivamente.

Apesar de existirem opções de alimentação em todos os campi, os problemas são inúmeros. “É um absurdo o RU não abrir no jantar nos finais de semana e feriados! Isso prejudica muito quem mora na Casa do Estudante. No campus da cidade de Goiás, ainda não temos café da manhã. Como que vamos pra aula com fome? Em Goiânia, no Colemar e Samambaia, sempre tem filas enormes durante o almoço e não se fez nada para tentar expandir o restaurante para diminuir as filas, além de ficar claro que o RU atende a uma parcela pequena dos estudantes”, declarou Emily Pereira, estudante de Biomedicina e coordenadora geral do DCE-UFG.

Na Universidade Federal do Mato Grosso (UFMT), a gestão do restaurante universitário também é terceirizada e corresponde a R$ 17,6 milhões do orçamento. Os problemas se repetem: a refeição é cara (R$ 17,82, dos quais R$ 2,50 são pagos pelos estudantes), falta de capacidade para atender o corpo estudantil, causando superlotação, filas enormes, falta de climatização nos refeitórios, entre outros. Entretanto, ao longo dos anos, os estudantes se organizaram para conquistar melhores condições de alimentação.

Whilber Ribeiro, estudante de Matemática e coordenador geral do DCE-UFMT, relata: “Em 2018, ocupamos todos os campi da universidade e vivemos a maior greve estudantil do estado. A principal pauta, era justamente barrar o aumento do preço do RU, que custava R$ 1,00, e a Reitoria queria aumentar para R$ 10,00. Hoje, pagamos R$ 2,50, mas nossa luta segue a mesma por RU gratuito para todos os estudantes. Nesse ano, teremos a comissão paritária que avalia o desempenho da empresa que gere o RU, e vamos organizar a luta pela redução do preço!”.

Em Sergipe, o restaurante da UFS se chama de Resun e funciona apenas no campus principal de São Cristóvão. Nos demais campi, a comida é servida em quentinhas, que, além de não atenderem a todos os estudantes, não raras vezes chegam estragadas ou atrasam muito por conta do transporte, dificultando o acesso à alimentação. Em novembro de 2024, cerca de 50 pessoas, em um mesmo dia, tiveram problemas gastrointestinais, como vômito, diarreia e febre, após comerem no Resun do Sertão. A universidade investe hoje cerca de R$ 27 milhões na alimentação, e o custo de cada refeição é R$ 14,66, dos quais R$ 1,00 é pago pelos estudantes.

Giovanni Oliveira, estudante de Relações Internacionais denuncia as condições precárias: “Passamos por filas imensas, chegamos até a ter que ficar mais de uma hora para poder almoçar. Mas o pior de tudo é o calor extremo dentro do restaurante: cada dia se torna mais insuportável ter que almoçar enquanto você derrete de suor num ambiente lotado!”.

Nas universidades estaduais também existem exemplos semelhantes. A Universidade Estadual Paulista (Unesp) conta com restaurantes universitários em apenas 10 das 24 cidades em que possui campus. Algumas unidades não possuem nem sequer cantinas, fazendo com que a comunidade acadêmica não tenha nenhuma opção de alimentação. A universidade utiliza um sistema de reserva de refeições no qual os estudantes entram em uma fila de compras virtual para adquirir as refeições da semana seguinte. Além de excludente, esse sistema se mostra insuficiente: em Bauru, por exemplo, existem 6.000 estudantes de graduação e cerca de 1.000 estudantes de pós-graduação, mas apenas 1.300 refeições são servidas, 800 no almoço e 500 na janta. Sobre isso, Muriel Veronezzi, estudante de Arquitetura e Urbanismo, denuncia: “A maioria gritante dos estudantes não consegue comer! Na semana passada, em 15 minutos já tinham acabado as refeições da janta pra semana seguinte… Ao longo do dia, os grupos de WhatsApp de compra e venda de refeições fervem de estudantes desesperados para comprar uma refeição e não passarem fome”.

Diante desse cenário, os estudantes do campus Bauru têm se organizado. No início de abril, fizeram “entraços” no restaurante universitário, garantindo que cerca de 500 estudantes se alimentassem mesmo sem o agendamento.

Uma das maiores universidades do país, a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), é a única do levantamento que conta com restaurantes universitários em todos os campi. Entretanto, são servidas uma média de 7.600 refeições por dia, número muito inferior aos mais de 70 mil estudantes da instituição.

Além disso, um dos principais desafios é a questão contratual da empresa terceirizada que gerencia as unidades, a Nutrienergy. Apesar de a universidade realizar o pagamento do contrato em dia, muitas vezes a empresa não repassa os valores aos trabalhadores, o que afeta o serviço de todo o sistema de alimentação. O DCE Mário Prata organizou um “calotaço” em abril em apoio a greve dos trabalhadores do bandejão.

Giovanna Almeida, estudante de Direito e tesoureira do DCE explica: “Precisávamos fazer alguma coisa. Os trabalhadores não poderiam trabalhar sem receber, e os estudantes não poderiam ficar sem comer. Então nós mesmos fomos fazer o que os trabalhadores fariam. Ocupamos o bandejão, servimos a comida, lavamos a louça e organizamos a fila. Nenhum estudante pagou o bandejão em protesto à atitude absurda da empresa!”.

Diante dos desafios enfrentados pelos estudantes brasileiros no ensino superior, especialmente no que diz respeito à permanência e à assistência estudantil, é urgente a mobilização coletiva para exigir mais investimentos na educação. O governo diz que a educação é prioridade, mas basta olhar para onde vão os recursos públicos para escancarar a contradição.

A UFRJ, por exemplo, investe R$ 45 milhões por ano no sistema de alimentação. Esse valor é equivalente ao que é consumido em 11 minutos com o pagamento de juros e amortização da dívida pública. Para mudar essa realidade, é indispensável uma grande mobilização de massas, e os diversos casos relatados aqui demonstram que só conquista quem luta.

Matéria publicada na edição n°311 do Jornal A Verdade.

Josenildo Antônio: “Temos uma grande oportunidade de fazer uma greve geral”

O jornal A Verdade conversou com Josenildo Antônio, mecânico de manutenção de máquinas e diretor executivo do Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias de Laticínios e Alimentação de São Paulo (Stilasp), responsável por acompanhar as bases na Região Metropolitana da capital paulista e realizar assembleias nas fábricas representadas pelo sindicato.

Entre elas, a Pepsico, onde os trabalhadores fizeram história ao deflagrar a primeira greve do país contra a escala 6×1, em novembro de 2024. Nesta entrevista, Josenildo relata como foi a mobilização, que, ao final, garantiu uma folga extra aos trabalhadores.

Cadu Machado | Redação


A Verdade – Como o Stilasp têm desenvolvido a luta contra a escala 6×1?

Josenildo AntônioTemos algumas bandeiras antigas do sindicato e uma delas era garantir nas convenções coletivas a mudança da escala de trabalho para que os trabalhadores folguem sábado sim, sábado não.

A legislação fala da jornada de trabalho de 44 horas de segunda a sábado, que é a escala 6×1. Mas nós já conquistamos acordos para que os trabalhadores tenham um pouco mais de folga, mesmo antes do movimento pelo fim da escala 6×1. Na indústria Panco, por exemplo, há mais de dez anos o acordo prevê a folga sábado sim, sábado não, a chamada semana espanhola.

Nos últimos anos, temos feito muitas greves na categoria e, às vezes, a gente consegue fechar na própria mesa de negociação porque o patrão sabe que a gente vai e faz a greve quando é necessário.

A greve é desgastante, mas é necessária, é a única ferramenta que a gente tem hoje para avançar, porque, se não houvesse a greve, a gente não teria como avançar. A gente só avança quando as máquinas estão paradas.

Quando as máquinas estão silenciosas, sem produção, o patrão começa a ouvir e dar um pouco mais de valor aos trabalhadores. Quando elas estão funcionando e a gente só está negociando, sem possibilidade de uma paralisação, não consegue avançar.

O que os trabalhadores pensam sobre essa pauta?

O fim da escala 6×1 é algo que tocou mesmo eles. É um sofrimento que os trabalhadores vêm tendo. Quando se trabalha no regime 6×1, não dá tempo para passear, não tem nem ânimo, porque no dia da folga, o trabalhador está cansado, está exausto.

Então, vivem exclusivamente para a empresa, não vivem para a família, não vivem para eles, não têm uma vida social, vivem exclusivamente para trabalhar. 

Pior ainda é trabalhar e receber um salário no final do mês que não dá nem para comprar o necessário e os alimentos, ou comprar algum objeto que ele tenha sonho ou vontade de comprar.

Mesmo a lei permitindo a escala 6×1, a gente tem o direito de lutar. Nós passamos isso para o trabalhador e eles aderiram à luta e à greve. Houve uma adesão muito grande dos trabalhadores.

Como foi o processo de construção da greve na Pepsico?

Antes de a gente fazer a greve na Pepsico, ia iniciar com uma multinacional também, a Dr. Oetker. Nós encaminhamos a pauta para as duas empresas para negociar o trabalho sábado sim, sábado não. Na Dr. Oetker, quando a gente mobilizou os trabalhadores e publicamos o edital de greve, eles pediram 15 dias para fazer uma avaliação. Nesses 15 dias, fizemos uma tratativa com a empresa e implantamos lá essa conquista.

Aí fomos para a Pepsico para mobilizar os trabalhadores. E hoje temos uma grande certeza: a pauta de reivindicar um descanso a mais é totalmente abraçada pelos trabalhadores porque eles estão exaustos. E eles só começaram a perceber que estão tão exaustos quando começou a se falar.

Quando começou a falar o fim da escala 6×1, deu o boom. Nós já tínhamos adesão antes, mas, quando se iniciou a campanha nas redes digitais e com os movimentos, os trabalhadores começaram a se conscientizar mais e começaram a ouvir e a se mobilizar. Nós fomos para a empresa, entregamos a pauta, negociamos, tivemos várias rodadas de negociação.

A Pepsico falou que era impossível implantar essa escala de sábado sim, sábado não. Nós insistimos, insistimos, até que não deu para fechar na mesa de negociação e nós publicamos um edital de greve. Comunicamos à empresa para dar o prazo de 72 horas para ela rever a postura e, mesmo assim, ela não voltou atrás, insistiu que não poderia mudar a escala do trabalho porque iria prejudicar a produtividade.

Fizemos a convocação, os trabalhadores toparam ir para a greve. Começamos a greve no domingo (24/11/2024). Decretamos a greve, os trabalhadores foram para casa e ficamos nove dias de greve.

Foi uma semana de greve e, na semana seguinte, fechamos um acordo no Tribunal. Os trabalhadores tiveram um dia a mais de folga no mês, que não foi o objetivo que a gente queria. Nós estávamos pleiteando no mínimo dois dias de folga a mais, mas foi uma conquista importante.

Seguimos negociando com a empresa, continuamos a negociação e, provavelmente, se a empresa não ceder em mais um dia de folga, pode ser que a gente tenha mais uma greve novamente na Pepsico, porque a gente não desistiu e os trabalhadores não desistiram, seguem na disposição de construir.

A greve da Pepsico também influenciou no fim da 6×1 em outras empresas. A Liotecnica, por exemplo, tem 600 trabalhadores e ela era o outro passo que a gente ia tomar. Nós tivemos a greve na Pepsico e comunicamos à empresa que a próxima seria ela. Tivemos uma reunião e eles pediram para a gente 30 dias para se adaptar e já vamos implementar lá também o sábado sim, sábado não.

Por que essa luta é tão importante?

Eu sou da Panco, uma empresa de biscoitos. Sou mecânico de manutenção. Lá nós criamos uma jornada de trabalho e mostramos que é possível manter a mesma produção trabalhando de segunda a sexta. O problema é a ganância dos empresários, que, se tiverem que sugar um dia ou dois dias a mais, mesmo que não tenha necessidade, vão fazer. 

No ano passado, teve mais de 500 mil trabalhadores afastados por doença psicológica. Eles estão doentes porque trabalham o mês inteiro sem folgar. Imagina como está a cabeça desse trabalhador. Ele não tem o direito de folgar, ele não tem o direito de descansar. Trabalha, ganha pouco… A gente ainda precisa lutar e avançar muito.

Qual é a reação dos trabalhadores depois dessas conquistas?

Nós temos relatos dos trabalhadores que eles estão muito contentes e muito satisfeitos. Vários trabalhadores mandaram mensagens falando que foram à praia depois de 15 anos, 20 anos de empresa. Eles não iam para a praia porque eles tinham só um dia de folga, então ficava muito cansativo ir e voltar. No primeiro dia de folga que eles tiveram no sábado, conquistado com a greve, a gente recebeu vários relatos e fotos deles agradecendo e falando que valeu a pena lutar.

A gente tem tido um retorno muito positivo dos trabalhadores, que estão reconhecendo ainda mais as conquistas alcançadas em nossas convenções coletivas. E isso foi conquistado com luta, com luta mesmo, com greve, com paralisação. 

Mas essa conquista de trabalhar a semana espanhola e poder ficar dois dias com a família, foi uma das que eles mais ficaram satisfeitos. A felicidade deles, o descanso deles, eles parecem que olham com mais brilho no olho da gente, começam a aderir mais, a confiar mais.

Você acha que essas greves e lutas influenciam na aprovação do Projeto de Lei no Congresso Nacional? 

Sim, influencia! Infelizmente, o movimento sindical está deixando uma bola quicando na frente do gol e não chuta. Quando a gente falava simplesmente da redução da jornada de trabalho, não havia empolgação dos trabalhadores. Agora, quando falamos do fim da 6×1, é impressionante: o trabalhador vibra, grita, levanta o braço, faz cara… é uma coisa muito impactante.

O fim da escala 6×1 é importante porque precisa haver redução da jornada sem cortar o salário. Não tem outro caminho. Eu acho que o movimento sindical está perdendo uma grande oportunidade de fazer uma greve geral. Essa pauta pode ser o impulsionador de uma greve geral, e a gente precisa avançar para que o projeto passe no Congresso, porque aí vira lei e todas as empresas do país vão ter que se adaptar.

Matéria publicada na edição n° 311  do Jornal A Verdade.

Pacientes e trabalhadores terceirizados de hospital sofrem com exploração

Terceirizados lutam contra exploração e falta de salários em hospital municipal do Rio de Janeiro.

Douglas Batista e Gustavo Vorage | Rio de Janeiro


BRASIL – A precarização da saúde no Município do Rio de Janeiro atingiu níveis catastróficos, com consequências brutais, tanto para os trabalhadores do setor quanto para a população. O que vemos, mais uma vez, é o Estado protegendo os interesses da burguesia e do setor privado, enquanto o povo morre nas filas de hospitais. Afinal, o lucro das iniciativas privadas depende da fragilidade e da escassez impostas ao setor público.

Em Irajá, o núcleo local da Unidade Popular (UP), em conjunto com o Movimento Luta de Classes (MLC), iniciou uma brigada semanal do jornal A Verdade no Hospital Municipal Francisco da Silva Telles para dialogar com os trabalhadores e com a população, além de denunciar os absurdos que vivem os profissionais da área.

Os relatos denunciam o cenário humilhante que os trabalhadores vivenciam: uma confusão de gestão de múltiplas Organizações Sociais (OSs), servidores concursados realocados para outros setores para dar espaço à mão de obra mais barata, falta de insumos, condições de trabalho desumanas e até mesmo retaliação em caso de reivindicação por melhorias.

Recebemos um relato com foto de um dos pacientes que sofreu uma necrose nos tecidos do pé após um procedimento. Este não é o único caso absurdo. O mais trágico é o de Shirley D’Oliveira, que foi internada para um procedimento de retirada da vesícula no dia 14 de fevereiro. Durante sua internação, uma saga horrível de sofrimento se iniciou, que culminaria na morte da paciente. Primeiro, a pele ao redor do corte cirúrgico sofreu necrose. Depois disso, todos os pontos de seu corpo em que foram inseridas agulhas para aplicação de medicamentos e os curativos apresentaram o mesmo problema. 

Em extrema angústia, durante uma visita no dia 8 de março, Shirley relatou para sua cunhada que “se sentia podre” em vida. No dia 9, ela foi transferida para o Hospital de Piedade, onde permaneceu internada por semanas em estado grave enquanto os médicos tentavam salvar sua vida. Infelizmente, Shirley não resistiu.

Vemos aqui o que a entrega da gestão da saúde pública para a iniciativa privada provoca na população: descaso, sofrimento e morte. Uma trabalhadora saudável que fez um procedimento que deveria ser simples teve sua vida ceifada pela ganância de empresas terceirizadas.

Superexploração dos terceirizados

Um dos piores cenários dessa unidade de saúde é vivido pelos profissionais da limpeza empregados pela Construir Arquitetura e Serviços Ltda, uma empresa especializada em terceirização. De acordo com funcionários e pacientes do hospital, os trabalhadores da empresa ficaram mais de dois meses sem salário.

Entre dezembro e janeiro, a empresa não pagou os trabalhadores, deixando-os sem condições de arcar com suas contas. As denúncias demonstram ainda que a empresa mal se importa com a vida dos empregados, pois nem o vale alimentação é pago integralmente. 

No entanto, a empresa continua a receber verbas da Prefeitura, De acordo com o portal Contas Rio, só no ano de 2024 a Construir recebeu da Prefeitura R$ 1,5 milhão direcionados exclusivamente aos serviços prestados no Hospital Municipal Francisco da Silva Telles.

Para piorar, as denúncias recebidas pelo jornal A Verdade indicam que os funcionários acumulam até 10 anos de férias não pagas, além de não serem pagos o adicional de insalubridade, o décimo terceiro salário e com parcelamento em até vinte vezes os valores devidos a trabalhadores demitidos, sempre se recusando a fornecer qualquer explicação plausível sobre a situação caótica. 

Os trabalhadores relatam que não possuem acesso a EPIs e materiais básicos para executar suas funções. São, inclusive, obrigados a assinar a folha de recebimento dos equipamentos de proteção sem os receber. Até mesmo os insumos mais primários, como luvas e desinfetantes, não são entregues. Quando possível, os trabalhadores levam estes itens de suas próprias casas para garantir a higienização dos ambientes hospitalares. Os materiais de limpeza precisam ser diluídos em água para render mais. O mesmo ocorre com a equipe de enfermagem de outras empresas terceirizadas: são obrigados a trabalhar com materiais sujos, a não ser que paguem do próprio bolso pelas ferramentas de trabalho. A empresa assume o risco de prejudicar a saúde dos pacientes ao não fornecer sequer os produtos essenciais para a limpeza de espaços tão sensíveis.

Os funcionários frequentemente são coagidos e sofrem assédio moral. Em caso da impossibilidade de comparecer a um dia de trabalho por qualquer problema, por mais grave que seja, como doença ou alagamento na região onde residem, os trabalhadores são punidos e obrigados a executar suas funções em unidades de saúde muito distantes de seus locais de moradia. Ao tentar organizar uma greve para lutar por seus direitos, muitos funcionários são demitidos por justa causa. 

A Construir se aproveita da fragilidade de muitas mulheres trabalhadoras com uma idade, formação e gênero que as dificulta de conseguir emprego e se veem condenadas a trabalhar apesar da incerteza de recebimento de seus salários, porque a outra alternativa é a certeza do desemprego.

Em suas redes sociais, a empresa reproduz discursos claramente exploratórios, como um vídeo promocional com o título “Por que a terceirização é o melhor caminho”, onde reforçando as vantagens da terceirização para empresas, cita a “ausência de encargos trabalhistas” e “desburocratização de contratação” como benefícios para os grandes empresários. Enquanto isso, continua tratando seus funcionários com crueldade, ameaçando o sustento e a saúde daqueles que precisam do emprego para sobreviver.

Por conta da falta de limpeza e manutenção, a unidade de saúde está decadente e imunda. Recebemos relatos de um membro da equipe de enfermagem denunciando “o estado absolutamente insalubre dos ambientes hospitalares. Há sujeira por todos os lados e os materiais para manejo dos pacientes internados, como equipamentos para banho e limpeza pessoal, não são devidamente higienizados e esterilizados”.

Revolta dos trabalhadores

No dia 22 de janeiro, revoltados com a falta de dignidade imposta pela Construir, os trabalhadores da limpeza do Hospital organizaram de forma espontânea uma importante greve para pressionar os empregadores a quitarem os salários devidos.

Em apoio e solidariedade à luta, a Unidade Popular e o MLC promoveram um ato com agitação na porta do Hospital para fortalecer a paralisação, denunciando os absurdos que a empresa vem repetindo continuamente e exigindo o pagamento dos salários. No mesmo dia, conversamos com trabalhadores da Construir que estavam no local prestando serviços para a empresa. 

Joana (nome fictício) revelou que a empresa recrutou trabalhadores de outras unidades para garantir a limpeza, pagando as diárias. “Como que pode eles terem dinheiro pra nos pagar R$ 250,00 por uma diária, mas não tem para pagar os salários dos nossos colegas? É um absurdo o que eles fazem. Mas eu também preciso, por isso vim. Amanhã estão oferecendo mais R$ 250,00 para quem vier, estou pensando se venho novamente”, relatou a terceirizada.

Após o ato e a paralisação, a Construir pagou apenas metade do salário aos funcionários, evidenciando seu desprezo e escárnio pela vida dos trabalhadores, além da certeza da impunidade ao repetir a desumanização e a crueldade que pratica há anos. O Estado sempre mantém protegidos os interesses e privilégios da burguesia ao permitir que este drama se perpetue.

No mês seguinte, a empresa parecia ainda acreditar, muito ingenuamente, que os atos e as paralisações realizados até o momento seriam apenas ações isoladas e transitórias: atrasou mais uma vez os salários. Novamente, os trabalhadores foram à luta: novas mobilizações foram tocadas e um grande ato na porta da empresa foi planejado. O pavor que se instaurou foi tamanho que, um dia antes do ato, a Construir colocou o pessoal de seu escritório para trabalhar na limpeza do Hospital, além de pagar os salários que haviam atrasado.

Essas conquistas são fruto da luta dos trabalhadores em união com a Unidade Popular, mas ainda há muito pelo que se lutar: Os profissionais ainda estão sem receber os pagamentos de férias e adicionais de insalubridade, recebem um valor abaixo do devido no vale alimentação, continuam sofrendo ameaças de demissão caso se mobilizem e os materiais de limpeza não são garantidos. 

Após mais investigações, descobrimos que trabalhadores da Construir de outras unidades, como o Hospital Maternidade Alexander Fleming, em Marechal Hermes, na Zona Norte estão passando pela mesma situação. Com isso, também expandimos nosso trabalho de base para este local, envolvendo mais núcleos da Unidade Popular e abrindo novos pontos de brigada.

Manteremos nossa luta em conjunto com os trabalhadores do Hospital pelo tempo que for necessário, denunciando as condições degradantes que a privatização dos setores públicos gera na vida de tantos. Só a luta organizada e constante pode gerar vitórias para a classe trabalhadora!

Matéria publicada na edição n°311 do Jornal A Verdade.

Privatização da Corsan já deixou o povo sem água e aumentou os preços

Mesmo com problemas de abastecimento, a Aegea anunciou o aumento da tarifa de água no Rio Grande do Sul para 2025, deixando claro que sua preocupação principal não é garantir um serviço de qualidade e acessível para o povo.

Nícolas Behrens Leal | Charquadas (RS)


BRASIL – Desde que a Companhia Riograndense de Saneamento (Corsan) foi vendida para a Aegea, empresa privada líder em saneamento no Brasil, pelo governador Eduardo Leite (PSDB), o povo vem enfrentando diversas dificuldades em relação ao abastecimento de água e percebendo a piora da prestação deste serviço tão essencial. Apesar dessa realidade, a Aegea anunciou o aumento da tarifa de água para 2025, deixando claro que sua preocupação principal não é garantir um serviço de qualidade e acessível para o povo, mas precarizar cada vez mais os serviços da antiga estatal e lucrar cada vez mais em cima do desespero do povo e da desassistência às prefeituras.

Além da frequente poluição da água que chega às torneiras e do frequente desabastecimento, a prestadora sequer se compromete a prestar satisfações à população, não informando ou informando de maneira imprecisa o povo e o poder público sobre seus serviços. É o que vem acontecendo, desde janeiro, em diversos municípios gaúchos. Apenas para exemplificar: a Aegea já deixou mais de 56 mil pessoas sem abastecimento de água por três dias inteiros em Charqueadas e São Jerônimo, dois municípios próximos à Região Metropolitana de Porto Alegre.

Essa situação é recorrente em diversos locais do Brasil em que os serviços básicos à vida da população são precarizados em nome do aumento do lucro de alguns empresários, que compram empresas bilionárias construídas com dinheiro público por um valor muitíssimo abaixo do mercado. A verdade é que essa precarização é culpa do neoliberalismo econômico e político, que nada mais é do que uma série de medidas que servem para desfazer tudo o que é público e que garante qualidade de vida para todos os trabalhadores e substituir por empresas privadas que não se importam nem um pouco com a população.

Além disso, o processo de privatização da Corsan no Rio Grande do Sul foi extremamente antidemocrático, passou por cima de diversas irregularidades. Sob pressão de Eduardo Leite, contra a vontade do povo e ignorando os debates públicos, a empresa foi vendida por R$ 4,15 bilhões, mesmo sendo uma empresa pública altamente saudável na época da venda e avaliada em pelo menos R$7 bilhões, segundo estudo solicitado pelo Sindicato dos Técnicos Industriais de Nível Médio do Estado do Rio Grande do Sul (Sintec/RS). Durante o processo de privatização, deputados da oposição e o SindiÁgua apontaram outras irregularidades na ganhadora da licitação.

Tudo isso deixa claro que, para o governo do PSDB, a classe trabalhadora não é uma prioridade, ainda que seja a maioria da população. Esta é uma característica recorrente nos governos do sistema econômico e político em que vivemos, o capitalismo.

Todas as privatizações no brasil demonstram que o Estado burguês só serve para beneficiar os ricos e que a solução para isso é organizarmos nosso povo em luta para garantirmos uma nova sociedade e um futuro digno para os trabalhadores, que só pode ser construído com a edificação de um Estado socialista.

Matéria publicada na edição n° 311 do Jornal A Verdade.

Comunistas transformam prédio da tortura em lugar de memória

Ocupação do antigo prédio do DOPS-MG já dura mais de 50 dias e garante existência de espaço de memória em antigo local de tortura da Ditadura.

Rafael Morais | Belo Horizonte


BRASIL – Em 1958, no Centro da cidade de Belo Horizonte, foi construído o prédio que abrigaria o Departamento de Ordem Política e Social (Dops), criado para monitorar e reprimir as lutas que a classe trabalhadora e a juventude organizavam na capital mineira. A partir de 1964, o Dops se transformou em casa de tortura e morte, abrigando também o Destacamento de Operações de Informações – Centro de Operações de Defesa Interna (DOI-Codi), comandado pelas Forças Armadas. Por lá passaram as melhores filhas e filhos do povo brasileiro, que viveram seus piores dias, sob as condições mais desumanas possíveis e, mesmo assim, resistiram bravamente.

Quase seis décadas depois, no último dia 1º de abril, o antigo Dops foi ocupado, por homens e mulheres de todas as idades, mas que carregavam uma mesma ideia. Ideia esta que, durante os anos da ditadura fascista, tentaram destruir. A ideia da transformação da sociedade, do fim da fome e da exploração, a ideia que caracteriza os que a defendem pelo nome de COMUNISTAS.

A ocupação do prédio (que deveria ser um memorial sobre os fatos que ocorreram durante a ditadura militar fascista) tem uma significação enorme para todos nós que vivemos hoje em luta. O local guarda memórias difíceis, locais que transmitem a dureza e a desumanização que a burguesia é capaz de impor aos que ousam contrariar sua ordem. Salas de interrogatório e torturas assistidas, celas solitárias de todos os tamanhos.

Reocupar um local que servia para a dor, a tristeza, voltado a desmoralizar os militantes que passavam por lá e que agora passa a ser dirigido pelos comunistas, com suas salas recebendo leituras coletivas das obras do marxismo, suas paredes projetando filmes que relataram a luta contra a ditadura, é parte da luta pelo socialismo. Outro ponto de imenso orgulho é receber os ex-presos políticos que sobreviveram às violências no Dops e, desta vez, chegam ao local de cabeça erguida, orgulhosos de suas histórias, compartilhando com as novas gerações.

Honrar essa história e manter vivo este legado é tarefa de quem compreende o passado, sabe da responsabilidade do presente e de como tudo isso repercuti às gerações futuras. Por memória, verdade, justiça e reparação! Lutar para que nunca que se esqueça e não mais aconteça!

Matéria publicada na edição n° 311 do Jornal A Verdade.

Abril foi marcado pela luta por memória, verdade e justiça

Atos em todo país lembraram a luta contra a Ditadura Militar Fascista e exigiram punição para torturadores e golpistas.

Redação


BRASIL – No mês em que se completaram 61 anos do golpe militar de 1964, os militantes políticos que lutam por memória, verdade e justiça deram mais uma prova de como estas bandeiras seguem cada vez mais vivas. Atos em repúdio ao golpe foram realizados em praticamente todas a capitais brasileiras no dia 1º. Um destaque foi a ousada ação de militantes do Partido Comunista Revolucionário em Belo Horizonte (MG), que ocuparam (e ainda permanecem) a sede de um antigo centro de torturas (ver crônica abaixo).

No mesmo dia, aconteceu uma sessão especial do Conselho Superior da Universidade Federal de Alagoas (UFAL), que aprovou um requerimento pela diplomação post mortem de três de seus ex-alunos assassinados pela ditadura: Manoel Lisboa de Moura (PCR), Gastone Lúcia Beltrão (ALN) e José Dalmo Lins (PCB). A dos conselhos ficou lotada de estudantes, militantes, professores, familiares e ex-presos políticos, entre eles, Edival Nunes Cajá, representando o Comitê Central do PCR, que fez uma exposição sobre a luta de Manoel Lisboa. Destaque também para a presença de Iracilda Moura, sobrinha de Manoel e professora da instituição. Em novembro, será realizada a solenidade de diplomação durante a Bienal do Livro da UFAL, em Maceió.

Já em João Pessoa (PB), nos dias 11, 12 e 13 de abril, realizou-se o 9º Encontro de Comitês e Comissões por Memória, Verdade e Justiça do Norte-Nordeste. O evento se deu num momento bastante propício na capital paraibana, pois o Ministério Público da Paraíba ajuizou uma ação civil pública para que a Prefeitura de João Pessoa e a Câmara Municipal adotem, no prazo de 90 dias, medidas legais para a renomeação de ruas, avenidas, edifícios e instituições públicas que ainda homenageiam pessoal ligadas à ditadura militar, seguindo as recomendações da Comissão Nacional da Verdade.

“O encontro foi um êxito completo. Todos os participantes trabalharam em cinco grupos temáticos para concluir, de forma unitária, inspirados nos heroicos exemplos de João Pedro Teixeira, de Nego Fuba, Pedro Fazendeiro e Elizabeth Teixeira (que com seus 100 anos de vida, foi homenageada no Encontro), exigindo do atual Governo Federal que aplique, sem vacilação, a Justiça de Transição. Isto é, que puna exemplarmente todos os golpistas de 1º de abril de 1964 e de 08 de janeiro de 2023, para que não se repitam nunca mais ditaduras militares a serviço do grande capital do Brasil e dos Estados Unidos e do fascismo. Durante 21 anos, um Estado terrorista assassinou mais de 10 mil brasileiros e brasileiras e tudo isso impune até hoje. Por isso, é urgente a reinterpretação da Lei da Anistia por parte do Supremo Tribunal Federal”.

O 9º Encontro foi concluído com a aprovação da Carta, já convocando o 10º Encontro. Ainda foi realizada uma visita ao Memorial das Ligas Camponesas em Sapé.

Matéria publicada na edição n° 311 do Jornal A Verdade.

Deputado Glauber Braga enfrenta golpistas que querem cassar seu mandato na Câmara Federal

Glauber Braga percorre o país denunciando a perseguição política patrocinada por deputados fascistas e do Centrão.

Felipe Annunziata | Redação


BRASIL – Desde abril do ano passado, o deputado socialista Glauber Braga (PSOL-RJ) é vítima de um processo de perseguição política liderado pelo ex-presidente da Câmara Federal, o latifundiário de direita Arthur Lira (PP-AL), em conluio com provocadores do Movimento Brasil Livre. O deputado socialista é acusado de ter quebrado o decoro parlamentar por ter reagido a agressões realizadas por um provocador fascista, que xingava sua mãe, à época, em condições de saúde críticas. A mãe de Glauber faleceu alguns dias depois do episódio.

Desde então, Lira, que é o principal líder do Centrão (grupo de cerca de 300 deputados de direita que vivem do esquema do orçamento secreto), articulou a aprovação da cassação de Glauber, que foi aprovada no Conselho de Ética da casa no último dia 9 de abril.

O relator do processo, deputado Paulo Magalhães (PSD-BA), e os outros 13 membros do Conselho que votaram pela cassação foram, de acordo com fontes do Congresso Nacional ouvidas pela nossa reportagem, previamente contatados pelo ex-presidente da Câmara para garantir os votos necessários para dar seguimento à cassação. 

Durante a sessão do dia 09, os parlamentares que defendem o mandato democrático de Glauber tentaram obstruir a votação, mas os deputados do Centrão se utilizam de manobras regimentais para acelerar o processo.

“Vou permanecer aqui nessa sala da Comissão e no Congresso Nacional até o fim do processo e, a partir de agora, não vou me alimentar. Vou seguir aguardando aqui com uma decisão irrevogável de que não vou ser derrotado pelo orçamento secreto”, anunciou Glauber. Além da greve de fome, ele também agora recorreu à Comissão de Constituição e Justiça, último passo antes de o processo seguir ao plenário da Câmara. 

Agora, o deputado socialista percorre todo país denunciando a perseguição politica e mobilizando militantes e apoiadores para pressionar os deputados do Centrão a votarem contra a cassação. Glauber já percorreu sete estados do país e se prepara para percorrer as demais 20 unidades da federação.

Por que o perseguem?

O deputado, que está no seu quinto mandato, tem se destacado pela defesa de pautas históricas da classe trabalhadora. Sem ter vergonha de se apresentar como um militante socialista num Parlamento cheio de fascistas, ele tem defendido o fim das privatizações, a auditoria da dívida pública, as reformas agrária e urbana, além de uma série de pautas históricas da esquerda socialista. Além disso, Glauber defende a luta contra a escala 6 x 1, a redução do preço dos alimentos, o aumento do salário mínimo e a luta pela punição dos fascistas e golpistas.

Mais recentemente, o deputado tem enfrentado o esquema do orçamento secreto, que tira R$ 50 bilhões do orçamento público e entrega para deputados e senadores poderem utilizar em esquemas de corrupção espalhados pelo país. Já há mais de uma dezena de investigações da Polícia Federal apontando que deputados que receberam emendas do orçamento secreto utilizaram esse recurso para obras superfaturadas, projetos inexistentes e para compra de votos durante o período eleitoral. O próprio relator do processo contra Glauber está na lista de investigados da PF.

Esse esquema é hoje uma das principais bases de sustentação do controle do Centrão sobre o Congresso Nacional e várias áreas do Governo Federal. Glauber tem denunciado todos os dias o envolvimento de Arthur Lira e vários deputados do Centrão nesses esquemas. No plenário da Casa, em suas redes digitais e com agitações políticas nas ruas do Rio de Janeiro, o deputado tem apontado os nomes. A cassação, portanto, é uma resposta dos deputados milionários do Centrão à atuação de Glauber.

Impunidade para fascistas

Não bastasse toda a armação durante a sessão do Conselho de Ética, a hipocrisia dos deputados de direita e fascistas ficou ainda mais evidente com o avanço do processo de cassação. Ao contrário de Glauber, mais de uma dezena de deputados fascistas do PL não receberam nenhuma punição por defenderem a ditadura militar fascista e fazerem apologia à tortura e até ao nazismo. A deputada fascista Carla Zambelli, até hoje, não foi punida no Congresso por ter perseguido, com uma pistola, um homem negro nas ruas de São Paulo na campanha eleitoral de 2022.

O caso mais absurdo é de Chiquinho Brazão, acusado de ter mandado matar Marielle Franco e já condenado pela Justiça. Até agora, seu processo de cassação não foi votado no plenário da Câmara. 

O processo contra Glauber Braga é só um pretexto dos fascistas e do Centrão para perseguir quem defende propostas socialistas na sociedade. Na prática, o processo é um golpe contra a democracia e o voto de 78 mil eleitores do Estado do Rio de Janeiro. É preciso continuar a mobilização firme e combativa para barrar o processo de cassação.

Matéria publicada na edição n° 311 do Jornal A Verdade.

Montadoras de veículos no ABC Paulista apontam para mais uma onda de demissões em massa

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Trabalhadores do ABC Paulista enfrentam insegurança crescente com possíveis demissões em massa e paralisações em montadoras como Scania e Volkswagen. Empresas adotam férias coletivas e “stopdays” como medidas pautadas pela busca implacável por aumento dos lucros. Cenário histórico de cortes evidencia a urgência da organização operária contra a exploração capitalista.

Karol Vilela – MLC SP


A Scania, montadora de caminhões localizada no ABC Paulista, anunciou férias coletivas aos trabalhadores a partir do dia 10 de julho. Já na semana do 1º de maio, Dia Internacional dos Trabalhadores, a empresa implementou o chamado “stopday”, uma parada programada da produção durante 2 dias na semana, devido à queda do mercado e da arrecadação da multimilionária. Essas decisões são um indicativo de uma nova possível demissão em massa dos quase 6 mil funcionários, sendo 3000 diretamente ligados à linha de produção.

“O clima é de tensão” — contou uma trabalhadora da fábrica — “Todos nós percebemos a diferença entre o começo do ano e agora. Tínhamos uma previsão de trabalho no começo e agora no meio do ano não temos mais segurança de nada, não sabemos se vamos manter nossos empregos, se vamos conseguir sustentar nossas casas, colocar comida na mesa”, lamenta.

A empresa alega queda de 28% de produção devido ao agravamento das taxas de juros e baixa demanda, mas seguindo o padrão de outras montadoras, as paradas de produção para o patrão significam segurar os meios de produção e cortar funcionários para continuar explorando o máximo possível. Enquanto os trabalhadores não sabem como vão sustentar suas famílias no mês seguinte, os grandes empresários usam diversos recursos para manter suas fortunas e riquezas protegidas e crescendo. No mundo do trabalho no sistema capitalista, não há perdas para o patrão.

Cenário de alerta para o proletariado

Desde a última grande crise do sistema capitalista em 2008, que assolou a economia mundial e dizimou inúmeros postos de trabalho, temos acompanhado as suas sequelas ano após ano: saída das montadoras de veículos do território brasileiro, demissões em massa, corte de áreas produtivas, paradas “programadas” da produção, terceirizações. Conforme avança a exploração da classe capitalista internacional, o setor operário brasileiro não tem fôlego para recuperação e entra ano e sai ano temos notícias dos processos de cortes de funcionários aos montes.

Em 2022, a Mercedes-Benz anunciou o corte de 3600 funcionários da sua fábrica principal, o que representava 36% do seu quadro total de funcionários. A realocação dos funcionários foi conquistada na luta, mas diversos setores da fábrica foram fechados e alguns terceirizados. Em 2022, a Volkswagen também anunciou o corte de mais de 2300 funcionários da sua fábrica. A General Motors e a Bridgestone também anunciaram cortes de centenas de funcionários.

Em 2021, a Ford anunciou o encerramento das atividades no Brasil justificando uma reestruturação global para melhorar sua rentabilidade. Cerca de 5000 funcionários perderam os seus postos de trabalho o que significou para a empresa bilionária uma economia de 4,1 bilhões de dólares. O stopday, férias coletivas, aposentadoria voluntária são um prelúdio para o encerramento de contratos, como aconteceu nas outras montadoras. Apenas com a organização dos trabalhadores é possível mudar essa realidade.

Chão de fábrica é trincheira de batalha

A Scania, assim como a Volkswagen, é marcada pelo apoio à aparelhos de repressão desde o início da Ditadura Civil-Militar e perseguição aos trabalhadores com a “lista suja de subversivos”. A greve na Scania foi um importante passo no processo de redemocratização do Brasil após o regime militar e, assim como conta a série de reportagens produzidas pelo site Opera Mundi, “Scania e a ditadura militar”, os trabalhadores da Volks e da Scania lutam pelo processo de reparação da Verdade, Memória e Justiça desse período.

Assim como o fim da Ditadura Militar foi fruto da luta do povo, a soberania do setor operário nacional e a garantia dos postos de trabalho só serão garantidos com a dos próprios trabalhadores. Podemos conquistar a redução da jornada de trabalho, o aumento do salário-mínimo, criação de diversos postos de trabalho e a sociedade livre da exploração, a sociedade socialista. A classe operária tem nas mãos as ferramentas da libertação das garras desse sistema apodrecido que só pensa no lucro. Uma grande greve geral é o caminho para a mudança da sociedade, portanto é uma tarefa imediata de todos: organizar a classe trabalhadora para lutar pelos seus direitos e pelo socialismo.