UM JORNAL DOS TRABALHADORES NA LUTA PELO SOCIALISMO

segunda-feira, 13 de outubro de 2025
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Israel já matou mais jornalistas do que todas as guerras do século 20 somadas

Segundo o Sindicato dos Jornalistas Palestinos, 246 jornalistas foram mortos em ataques israelenses desde o início do conflito na Faixa de Gaza, número que supera as mortes de jornalistas em ambas as Guerras Mundiais.

Felipe Annunziata | Redação


INTERNACIONAL – Nas guerras é comum o que é chamado de “censura militar”, um conjunto de regras impostas pelos exércitos para limitar o trabalho de jornalistas em noticiar conflitos armados. Israel, no entanto, adotou outra forma de censurar jornalistas palestinos: assassinar todos os que denunciam o genocídio na Faixa de Gaza.

Desde o início dos massacres, são 246 jornalistas assassinados em bombardeios direcionados, de acordo com o Sindicato dos Jornalistas Palestinos. É o maior número de mortes de profissionais da imprensa de toda a História. Nem nas duas guerras mundiais morreram tantos jornalistas quanto agora, em Gaza.

Trabalhadores da imprensa de órgãos internacionais morreram porque denunciaram as atrocidades do Exército sionista. A maioria das imagens, das reportagens e dos dados do que ocorre na Faixa de Gaza o mundo só conhece graças a estes profissionais.

Um dos últimos massacres foi no Hospital Nasser, no dia 25 de agosto. Em quatro ataques, Israel matou mais de 20 palestinos, entre eles, cinco jornalistas. A desculpa desta vez é que as câmeras seriam do Hamas, quando eram da agência de notícias inglesa Reuters. O ataque foi televisionado ao vivo para todo o mundo através do canal al-Jazeera. Nas imagens, é possível ver as equipes de resgate sendo atingidas por um míssil israelense.

Esse massacre não foi o único que chocou o mundo. Um dos casos mais emblemáticos é o do jornalista Anas al-Sharif, que publicava na rede al-Jazeera e em vários veículos. O governo sionista de Israel comemorou sua morte, acusando o profissional de ser um “terrorista”. Mas a verdade é que as reportagens de al-Sharif eram as que tinham maior repercussão na imprensa mundial.

Essa é mais uma tática do genocídio, censurar palestinos assassinando seus porta-vozes. O ataque à imprensa palestina é mais uma prova de que, longe de ser a “única democracia do Oriente Médio”, como a mídia burguesa fala no Brasil, o regime sionista é autoritário e criminoso.

Povo é contra o massacre

Outro fato que marcou as últimas semanas foi o avanço da opinião negativa do povo brasileiro sobre Israel. Após dois anos de genocídio, segundo a pesquisa do Instituto Quaest, divulgada em 26 de agosto, 50% da população tem uma opinião desfavorável sobre Israel, enquanto que apenas 35% tem uma opinião favorável.

O resultado da pesquisa não é um fato isolado ou pequeno, mas resultado de meses de luta política encampada por movimentos sociais, organizações palestino-brasileiras, partidos de esquerda e da imprensa popular em esclarecer o povo brasileiro do caráter genocida da agressão que o povo palestino sofre. O regime sionista israelense conta, no Brasil, com importantes aliados na grande mídia, nas grandes igrejas, no mercado financeiro e dentro do Estado brasileiro.

É por isso também que Israel continua sua campanha para assassinar jornalistas palestinos, afinal, são eles que dão aos povos do mundo as verdadeiras informações do que ocorre em Gaza.

Matéria publicada na edição impressa nº320 do jornal A Verdade

2º Encontro Internacional da UP reúne dezenas de militantes em Portugal

Com a presença de dezenas de militantes de seis países europeus e da vice-presidente do partido, Samara Martins, a Unidade Popular (UP) realizou seu 2° Encontro Internacional na Europa entre os dias 21 e 24 de agosto, em Lisboa, Portugal.

Caroline Sabino e Leonardo de Souza | Lisboa (Portugal)


INTERNACIONAL – Entre os dias 21 e 24 de agosto, aconteceu o 2° Encontro Internacional da Unidade Popular (UP) na Europa. O evento ocorreu em Lisboa, Portugal, e contou com a presença de 60 militantes organizados em Portugal, Holanda, Áustria, Alemanha, Polônia e Irlanda. Entre os participantes, estava a vice-presidente da UP, Samara Martins.

O Encontro foi inteiramente organizado pelos próprios militantes, destacando o trabalho das companheiras, que foram fundamentais na organização, programação e logística.  O evento também só foi possível por conta da grande campanha de autofinanciamento, composta por vaquinhas, rifas, vendas de bottons, livros, camisetas e artesanatos feitos pelos militantes, que, coletivamente, conseguiram viabilizar o aluguel do espaço e infraestrutura, bem como possibilitaram a vinda de todos os camaradas que precisaram de apoio para participar, sem importar sua condição financeira e em que país estivessem, incluindo nossa convidada especial do Brasil.

As refeições oferecidas no evento também representaram o avanço da luta. Todas elas foram preparadas por aliadas da Cova da Moura e Casal da Boba, bairros periféricos das comunidades de origem africana em Lisboa. Uma delas, Cláudia Simões, que cozinhou sua famosa cachupa (prato típico de Cabo Verde), é uma mulher negra que sofreu violência policial e foi condenada a oito meses em regime aberto e a uma multa de 400 euros por ter mordido o policial enquanto levava um mata-leão.

A construção internacional

“Vai avançar! A Unidade Popular!”. Foram com essas palavras de ordem que teve início o Encontro. A presença forte e calorosa da camarada Samara, com suas falas inspiradoras, rapidamente fez com que todos se sentissem mais à vontade. As falas que se seguiram foram emocionadas, com lágrimas e testemunhos dos militantes que tinham no Encontro a oportunidade de conhecer camaradas e compartilhar suas experiências. Ao final do primeiro dia, já estavam todos cantando as palavras de ordem como se fossem um só, e esse sentimento de camaradagem se estendeu por todos os dias.

A conjuntura internacional foi guiada pela leitura do texto da CIPOML. As guerras imperialistas, o genocídio em Gaza e a política expansionista dos EUA, China, Rússia e União Europeia sobre as nações e suas riquezas, além da situação na América Latina, foram o cerne das avaliações, que abordaram a importância da construção do partido nos diversos países da Europa. Além disso, foi debatida a precarização do trabalho, o crescimento do fascismo e os ataques aos direitos das mulheres e das pessoas LGBTIA+.

Samara também trouxe acúmulos dos movimentos sociais, presentes, por enquanto, apenas no Brasil. As experiências das ocupações do MLB, a formação do Movimento de Mulheres Olga Benario e suas casas de referência, o trabalho sindical do MLC, a combatividade da UJR e a recém-formada Frente Negra Revolucionária (FRN) ajudaram no entendimento da militância internacional sobre a importância dessas organizações que constroem a UP. Além de histórias incríveis, como a da camarada Valdete Guerra, que é homenageada em Lisboa dando nome a um dos núcleos.

Ao longo dos dias, também aconteceram diversos grupos de trabalhos temáticos. “A libertação da mulher numa perspectiva de classe”; “Colonialismo digital e a luta pela soberania” e “A vida dos revolucionários e a importância da saúde mental e física”, foram alguns dos 12 temas debatidos e que trouxeram diversas propostas para o trabalho internacional.

Luta internacionalista

O crescimento do número de participantes entre o primeiro e o segundo encontros; a consolidação do trabalho local em Portugal (Lisboa, Porto e Coimbra) e na Alemanha (Berlim); mais países com reuniões virtuais regulares e ainda outros com ao menos um militante são avanços da nossa luta internacionalista.

Um dos projetos apresentados foi o de soberania digital. Principalmente após a derrubada das redes do jornal A Verdade, tornou-se urgente nos libertarmos das BigTechs, seus algoritmos e IAs. A segurança de dados é um passo importante na luta internacional.

Outro ponto levantado foi a oportunidade de expandir o trabalho de A Verdade na Europa. Como dizia Lênin, “o jornal é um organizador coletivo”, é a voz da classe operária que desenvolve a revolução de forma consciente. Por isso, essa possibilidade vem sendo estudada, já que é de grande valor ter essa ferramenta na luta.

É importante ressaltar o aumento de mulheres na militância. Atualmente, a maioria das nossas camaradas estão na coordenação, como era possível ver nas mesas das plenárias e nas comissões do evento. O resultado foram falas de extremo valor das camaradas, algumas recém-filiadas, e a ampliação de formações baseadas na cartilha do Movimento de Mulheres Olga Benario. Entretanto, esse trabalho é permanente e não deve ser feito somente pelas mulheres.

Formação dos militantes

Muitos militantes não tiveram o acúmulo da luta de base e da formação revolucionária quando ainda moravam no Brasil. Inclusive, alguns ainda se encontram sozinhos em suas cidades, e a solidão é uma marca da vivência imigrante. No encontro foi possível sentir-se pertencente a algo maior, trocar experiências, dores e alegrias. Vínculo que vai além da amizade, pois é camaradagem.

O 2º Encontro Internacional foi um ponto fundamental na formação dos camaradas que vivem no estrangeiro. As trocas e o trabalho coletivo trazem um acúmulo valioso para a luta. A presença de camaradas que atuam no Brasil também traz um reconhecimento para o trabalho internacional, que tem sido feito com muito orgulho.

Aos camaradas do Brasil, queremos levar a mensagem que nossa luta avança e que a Unidade Popular, mais do que nunca, pode se considerar um partido internacionalista.

Avancemos, camaradas! 

Matéria publicada na edição impressa nº320 do jornal A Verdade

Oito anos de privatização da Cesta do Povo na Bahia e suas consequências

Avaliada em R$ 600 milhões em seu auge, a Empresa Baiana de Alimentos (Ebal), controladora da Cesta do Povo, foi leiloada em 2017 por apenas R$ 15 milhões em um processo marcado por suspeitas e justificado pelo governo de Rui Costa (PT) como uma medida necessária contra supostos prejuízos.

Willian Santos | Salvador (BA)


LUTA POPULAR – Fundada em 1979, a Empresa Baiana de Alimentos (Ebal) foi uma empresa estatal criada pelo Governo da Bahia com o objetivo de tornar acessível os alimentos para a população de baixa renda, subsidiando os preços. Para isso, contava com uma estrutura logística com frigoríficos, armazéns, centros de processamento e seu carro-chefe: o supermercado Cesta do Povo.

A Cesta do Povo foi, durante 30 anos, a única rede estatal de supermercados do país, contando com mais de 300 lojas em pelo menos 229 dos 417 municípios do Estado da Bahia, além de diversos bairros periféricos de Salvador, permitindo que os itens da cesta básica chegassem mais facilmente à população. A empresa contava também com o programa CredCesta, que criava uma linha de crédito consignada aos servidores públicos estaduais, descontando diretamente da folha salarial. Além do preço acessível, a empresa também fomentava a agricultura familiar, adquirindo de produtores locais.

Essa iniciativa, além de mitigar a fome, também permitia o sustento de diversas famílias que trabalhavam no ramo de alimentação. Como foi o caso de Antonieta da Silva, 77 anos, moradora do bairro Uruguai, que trabalhou de maneira autônoma, fornecendo almoço em Salvador: “Eu adorava comprar lá. Achava os preços ótimos e era perto da minha casa. Não é justo fazer isso, fechar um supermercado tão legal como era esse. Eu acho que deveria voltar! Depois que eu me aposentei, comecei a cozinhar para os funcionários do Terminal (Marítimo) do Ferry Boat. Passei uns 20 anos fazendo isso”.

O processo de privatização 

Em 2017, a Ebal foi levada à leilão e privatizada pelo ex-governador Rui Costa (PT) por apenas R$ 15 milhões, após duas tentativas sem nenhum lance, tendo sido arrematada pelo grupo NGV Empreendimentos e Participações, do espanhol Ignacio Morales. Essa empresa, fundada no ano do leilão, com capital social de R$ 500, fez uma alteração contratual de R$ 1 milhão, levantando suspeita de arranjo sob encomenda. Um ano depois, a Ebal foi comprada pelo capitalista e ex-presidente da Associação Baiana de Supermercados (Abase), Joel Feldman.

Desde a sua fundação, a Cesta do Povo foi uma empresa superavitária. Em 2012, faturou R$ 600 milhões, liderando o ranking entre os supermercados varejistas que mais arrecadaram no estado. Em 2015, chegou a ocupar o 2º lugar estadual, o 5º no Nordeste e o 39º no Brasil, segundo a Associação Brasileira de Supermercados (Abras).

É claro que esse índice incomodava os capitalistas donos das grandes redes de supermercados que disputam o aumento da taxa de lucro, mesmo que isso signifique fome e privação para a classe trabalhadora. Os preços mais acessíveis da Cesta do Povo e a sua presença em várias localidades, mesmo onde não era interessante para a iniciativa privada, promovia a regulação do preço dos alimentos, obrigando seus concorrentes a baixarem seus preços para conseguirem competir com a rede pública.

O Governo, subordinado à vontade dos grandes empresários em detrimento da classe trabalhadora, iniciou uma grande onda de fechamento de várias unidades e demissões de servidores públicos concursados. Foram mais de 1.500 servidores demitidos de maneira escalonada em mais de 100 municípios para não chamar atenção da opinião pública. Fora isso, o processo de privatização provocou uma desarticulação dos agricultores que forneciam para a rede.

Para justificar a privatização, a tática utilizada pelo Governo foi a seguinte: sucatear a empresa pública e manipular a imprensa para que a população “entendesse que era necessário entregar para os empresários salvarem a empresa”. Diante disso, as unidades foram sendo abandonadas, com as prateleiras deixando de serem abastecidas. Para Iraci Barbosa, 83 anos, que trabalhou por mais de 30 anos de maneira autônoma como confeiteira para aniversários e eventos, “na época da Cesta do Povo, o preço era acessível e todos os produtos eram bons. Depois botaram a parte das verduras e tudo. Era ótimo! Eu fiz muita compra ali, mas depois parei porque o Governo descuidou. Eu ia lá, e não tinha quase nada”.

O que está por trás disso?

Para legitimar essa vontade dos capitalistas, o Governo começou a defender abertamente a privatização, afirmando que era impossível concorrer com a iniciativa privada e alegando estar dando prejuízos aos cofres públicos. Para reafirmar essa tese, na reinauguração da empresa, já sob controle privado, o ex-governador Rui Costa (atual ministro da Casa Civil) declarou em entrevista que: “O nosso foco é gerar emprego e, do jeito que a Cesta do Povo ‘tava’, era custo para a sociedade. Custava R$ 60 milhões dos cofres públicos ao ano e cada vez gerando menos empregos. Agora, não. Não custa nada para os cofres públicos, ao contrário, ainda gera uma receita de ICMS, com 41 lojas abertas e eu espero que logo possamos comemorar ao invés de 50, 80 lojas abertas e 3, 4 mil empregos gerados”.

A verdade é que a Ebal, no seu último ano antes da privatização, fechou sendo a 5ª maior empresa do ramo na região, mesmo com esse grande esforço de fazer parar o seu funcionamento. Debaixo do capitalismo, o nosso dinheiro pode ir para a dívida pública, para enriquecer banqueiros, para o agronegócio, e nada disso é considerado desperdício. Agora, combater a fome, aí já é demais!

Oito anos depois, após 1.500 servidores públicos demitidos, a empresa apenas anuncia promessas de gerar empregos com sua expansão. Hoje, a Cesta do Povo de povo só tem o nome, pois não passa de uma rede de supermercado como qualquer outra: sustentando um rico capitalista com a carestia do preço dos alimentos e a superexploração dos trabalhadores submetidos à escala 6×1, com pouquíssimos direitos.

Gestão privatista

A gestão de Rui Costa foi marcada pelas privatizações e extinção de empresas públicas. Assim que assumiu a gestão, em 2015, iniciou uma reforma administrativa que desmontou a Empresa Baiana de Desenvolvimento Agrícola (EBDA), responsável pela implementação de diversas culturas agrícolas, bem como o desenvolvimento de tecnologias para combate a pragas nas plantações dos agricultores baianos. Além disso, extinguiu a Empresa de Turismo da Bahia (Bahiatursa) e o Departamento de Infraestrutura de Transportes da Bahia (Derba), terceirizando esses serviços para as mãos das empresas privadas e do agronegócio.

Nesse pacote, também estava prevista a privatização da Empresa Baiana de Águas e Saneamento (Embasa) e a Companhia de Desenvolvimento Urbano do Estado da Bahia (Conder), mas os movimentos e o povo não permitiram. Tudo isso e mais os sucessivos cortes na educação pública e as declarações a favor do genocídio do povo preto pela PM renderam apelidos para o ex-governador de “Rui Corta” e “Bolsonaro da Bahia”.

A Bahia é o 2º estado no país onde a população mais sofre com a insegurança alimentar. São 6 milhões de pessoas (42% da população), que não sabem o que vão comer no dia seguinte. Do outro lado, as três redes varejistas que mais lucraram em 2024 (Carrefour, Assaí e Mateus Supermercados) acumularam, juntas, uma fortuna de R$ 218,3 bilhões.

Com certeza, a criação de mercados públicos acessíveis à toda população é uma reivindicação justa para diminuir a fome no nosso país. Agora, o caminho para inverter essa situação de maneira definitiva é arrancar do poder esses agentes da burguesia, que estão dispostos a venderem até a própria alma para cumprir com os interesses da classe que eles servem.

Fazer uma profunda e intensa propaganda de que só o poder popular poderá acabar com a fome no nosso país e que só depende da nossa união para avançarmos. Por isso, crescer o Movimento de Luta nos Bairros, Vilas e Favelas (MLB) a cada luta é fundamental para avançar essa consciência.

Os patrões trabalham junto com seus governos colocando o nosso povo para definhar de fome. Enquanto nós, o povo, que não aceitamos essa situação, lutamos e conquistamos as condições para que cada família organizada pelo movimento tenha o que comer dignamente.

Matéria publicada na edição impressa nº320 do jornal A Verdade

A luta como um gesto de ternura e alegria: o exemplo de Ana Letícia

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Celebrada por seus camaradas como um exemplo de determinação, Ana Letícia provou que o engajamento coletivo é o caminho para vencer as barreiras impostas pelo sistema e as inseguranças pessoais.

Marcos Jobson e Caio Bentes | Belém (PA)


JUVENTUDE – Quando decidimos lutar, sabemos que, pelo caminho, iremos encontrar diversos obstáculos (financeiros, sociais e pessoais). Contudo, na militância cotidiana, o que nos faz continuar é a nossa capacidade de superá-los, tendo em vista a construção de uma nova sociedade e a superação desse sistema injusto. Ana Letícia era um grande exemplo disso.

Ao ser convidada para ingressar no Movimento Correnteza, demonstrou muita alegria. Mas, umas das primeiras coisas que falou é que era tímida demais, que ia ter dificuldades em vender o jornal A Verdade e passar em sala, como fazemos.

No decorrer de sua militância, a cada nova tarefa, demonstrava que podia superar suas dificuldades. Esteve presente em todas as brigadas nacionais do Jornal durante sua militância e, quando terminava sua cota, perguntava se tinha mais jornais para vender, e sempre dizia que gostava das brigadas porque adorava falar com as “senhorinhas” na parada de ônibus.

Ana também dizia que a tarefa que gostava mais na militância era a sua reunião de núcleo da UJR. Era assídua nas reuniões e, mesmo quando dizia que não queria, ou não tinha nada para falar, mudava de ideia e, logo em seguida, fazia ótimas falas.

Sempre demonstrando muita alegria e doçura no que fazia, no dia da eleição para os delegados ao Congresso da UNE na sua universidade, mostrava para todo mundo sua nova camisa do Movimento Correnteza. Também gostava bastante de fazer pulseiras de miçanga e, ao entrar na militância, fez uma pulseira com as letras “UJR”.

Esses pequenos gestos comunicaram para todos a felicidade que tinha no que estava fazendo. Dizia várias vezes que estava perdendo a timidez e se desenvolvendo socialmente cada vez mais e da melhor forma, porque estava utilizando de seu avanço a favor do povo, colocando sua capacidade de se comunicar e sua energia para construir um novo futuro para a humanidade. Ana falou que pensava que não iria ser aprovada e ingressar na universidade, mas, apesar de, às vezes, subestimar sua própria capacidade, sempre se desafiava e estava em movimento.

Muito participativa em seu curso, iniciou a graduação em Pedagogia na universidade já fazendo estágios, aprimorando-se cada vez mais no futuro que escolheu para si.  Nas conversas, relembrava como era sua vida antes de ser militante e depois de ingressar nas fileiras da UJR. Ana dizia como era mais fácil passar pelas barreiras tendo uma vida coletiva, junto com os camaradas, pois se tornar militante é um exemplo de como abraçar uma nova vida que esteja longe dos vícios cotidianos, longe da ansiedade que o sistema capitalista impõe para nossa juventude, tornando o sentimento vazio e nossos problemas supérfluos, se comparados à luta revolucionária.

A vida de Ana Letícia é uma grande mensagem de ternura e alegria nas tarefas de uma militante comunista, uma mulher revolucionária que não se deixou limitar pelas dificuldades que o capitalismo impõe para as mulheres que desejam lutar. Sempre será um exemplo de que podemos fazer mais pela revolução. Ana demonstrou o quanto temos que acreditar no desenvolvimento de cada companheiro e companheira, que não devemos subestimar a capacidade dos que lutam ao nosso lado, que, na coletividade, podemos revolucionar nossas vidas para mudar essa sociedade.

Cada passo é importante, cada fala feita em uma reunião, cada jornal vendido, cada esforço evidencia que estamos mais perto de uma sociedade em que não haja ricos nem pobres, em que a universidade seja aberta a todos e todas, que não haverá mais fome, nem as mulheres se sintam incapazes de lutar e, sobretudo, em que mais mulheres como Ana Letícia possam existir plenamente com sua doçura e felicidade.

Ana Letícia (22), Leandro Dias (21) e Welfesom Alves (25), estudantes da UFPA, faleceram no dia 16 de julho, num acidente na estrada, quando se deslocavam de Belém para Goiânia (GO) para participar do Congresso da UNE.

Matéria publicada na edição impressa nº320 do jornal A Verdade

UESC realiza seu 18º Congresso em Caruaru

Com o objetivo de debater os rumos do movimento estudantil e denunciar a precarização da educação em Pernambuco, mais de 100 estudantes de doze escolas de Caruaru se reuniram no 18º Congresso da Uesc.

Raiana Rodrigues | Caruaru (PE)


JUVENTUDE – O 18º Congresso da União dos Estudantes Secundaristas de Caruaru (Uesc) aconteceu no dia 21 de agosto, no auditório do Centro Acadêmico do Agreste (CAA/UFPE). Participaram mais de 100 estudantes, de doze escolas, que debateram os rumos que a entidade seguirá nos próximos dois anos. O espaço também serviu como tribuna de denúncias, onde os estudantes expuseram não apenas os graves problemas de infraestrutura, mas também casos de assédio moral dentro das escolas de Pernambuco.

Com muitas palavras de ordem e animação, os estudantes entoaram cantos de luta, expressando suas reivindicações sobre a situação da juventude e a realidade precária das escolas municipais e estaduais em Caruaru. A educação no país continua sendo tratada como mercadoria, e não como investimento. Essa lógica aprofunda a dura realidade vivida pelos estudantes em escolas e institutos federais, que, ano após ano, enfrentam cortes orçamentários.

No Congresso também foram realizados grupos de debate sobre a reforma do Ensino Médio e pelo livre- acesso à universidade, opressões, o papel do movimento estudantil na luta pela soberania, passe-livre irrestrito e a importância do grêmio estudantil.

Ao final, foi eleita a chapa “Rebeldia para vencer”, que apresentou suas propostas de defender a educação pública, democrática e de qualidade, realizar o Festival de Cultura, promover debates, palestras e eventos nas escolas e a Semana da Mulher Secundarista.

A estudante Maria Luiza foi eleita como nova presidenta da entidade. “Essa nova diretoria vem para vestir a camisa da luta e fortalecer o movimento estudantil na nossa cidade. Assumimos o compromisso de levar os estudantes às mobilizações por uma educação pública, gratuita e de qualidade, pelo livre acesso à universidade e pela ampliação do passe livre estudantil. Nossa gestão estará presente no dia a dia, nas salas de aula e também nas ruas, lado a lado com os estudantes, construindo resistência e transformação”, disse.

Matéria publicada na edição impressa nº320 do jornal A Verdade

Mobilização da Fenet escancara falta de orçamento nas escolas técnicas

Diante de um cenário de cortes orçamentários e precarização que levou um estudante a desmaiar de fome no IFRS-Campus Restinga, a FENET iniciou uma caravana de mobilização por dezenas de Institutos Federais e escolas técnicas do Brasil.

Julia Cacho e Adriane Nunes | FENET


JUVENTUDE – A Federação Nacional dos Estudantes em Ensino Técnico (Fenet) está realizando uma ampla mobilização em dezenas de campi dos Institutos Federais e de escolas técnicas estaduais em todo o Brasil. A Caravana vai passar por dezenas de unidades dos Institutos Federais para convocar os estudantes para o Encontro Nacional, que ocorrerá em Salvador (BA), de 18 a 21 de setembro. Também tem como objetivo organizar uma grande jornada de lutas em defesa do orçamento para a educação, especialmente por alimentação de qualidade.

E já ficou comprovado que os estudantes querem lutar em defesa da educação e da permanência. No IFRS – Campus Restinga, uma paralisação de três dias foi organizada pela Fenet e pelas entidades estudantis locais, liderada pela diretora da Federação Marcela Almerindo (que recentemente faleceu, ver pág.2). “Queríamos organizar uma assembleia com os estudantes para falar sobre a necessidade do bandejão, mas, no mesmo dia, um estudante desmaiou de fome. Não tivemos outra alternativa senão organizar uma greve estudantil”, relatou Marcela, à época.

Cortes no orçamento

Atualmente, os Institutos Federais tem o mesmo orçamento que tinham no ano de 2012, quando a rede tinha menos unidades, o que tem feito com que os estudantes sofram com falta de estrutura adequada, como laboratórios e alimentação.

Como se não bastasse, em abril, o Governo Federal, para agradar os empresários e banqueiros, assinou o Decreto nº 12.448, que congelou R$ 31,3 bilhões da Educação em 2025. Na prática, essa medida significou um corte de 30% no orçamento previsto. Fomos, então, às ruas e o Governo teve que recuar! Isso mostra que só a luta é capaz de garantir nossos direitos.

Na rede estadual, não é diferente. Escolas caindo aos pedaços, falta de professores, turmas inteiras fechando e blocos interditados por falta de manutenção.

Mesmo com todas essas dificuldades, as escolas técnicas continuam sendo referência de educação. Agora imagine se o pagamento da dívida pública fosse suspenso por apenas um dia… Esse valor seria suficiente para construir restaurantes em todos os Institutos Federais e ainda resolver diversos problemas de estrutura das escolas.

Matéria publicada na edição impressa nº320 do jornal A Verdade

Mortes alimentam o lucro do Uber Moto

Dados revelam que, enquanto a Uber anuncia lucros bilionários, seus trabalhadores, sem direitos trabalhistas, pagam com a própria vida, engrossando as estatísticas de fatalidades.

Igor Barradas | Macaé (RJ)


TRABALHADOR UNIDO – Nos últimos anos, o Uber Moto se tornou uma opção frequente nas cidades brasileiras. Diante do colapso do transporte público e dos preços elevados dos carros por aplicativo, muitos recorrem às motos para se deslocar. Porém, essa “solução rápida” tem um custo altíssimo: cada vez mais trabalhadores morrem para sustentar os lucros de uma empresa bilionária.

Dados do DataSUS e do Detran-SP mostram que motociclistas respondem por mais de 35% das fatalidades no trânsito urbano. Desde a expansão acelerada do Uber Moto durante a pandemia, esses índices não param de subir. Quanto maior o volume de corridas feitas por profissionais sem direitos trabalhistas, maior o faturamento da companhia, mesmo que isso custe vidas.

O lucro que tira vidas

O Uber Moto é a face brutal do apodrecido sistema capitalista que transforma um direito fundamental, o transporte, em mercadoria arriscada. Sem vínculo formal, sem garantias mínimas, o trabalhador está à mercê do perigo. Se se machuca, não tem suporte; se morre, é simplesmente substituído. Em 2024, a Uber anunciou lucros bilionários globais enquanto seus “parceiros” brasileiros pagam o preço nas ruas.

Alguns dizem que esses trabalhadores “escolheram” essa atividade. Mas quando as opções são desemprego, fome ou morte, falar em escolha é um cinismo. É a lógica cruel do sistema capitalista que força a precarização.

A empresa não oferece qualquer apoio aos familiares, não cobre despesas com funerais. Apenas mantém o funcionamento do sistema, trocando vidas como peças descartáveis.

Doação de órgãos

Outro lado chocante dessa realidade é que motociclistas de aplicativo estão entre os principais doadores de órgãos no Brasil. Jovens vítimas de acidentes fatais, com morte encefálica, têm seus órgãos utilizados para transplantes.

Segundo a Associação Brasileira de Transplantes de Órgãos (ABTO), mais da metade dos doadores com morte encefálica tem entre 18 e 35 anos – faixa etária predominante entre quem trabalha em apps de transporte e entrega.

Cidades desenhadas para poucos

Enquanto a burguesia circula em carros blindados e helicópteros, a maioria se arrisca em vias mal cuidadas, escuras e perigosas. A cidade é projetada para atender aos interesses dos mais ricos, não para proteger os que trabalham.

Nenhuma “tecnologia” ou aplicativo jamais resolverá essa desigualdade. Só a luta coletiva e a organização popular podem transformar essa realidade.

Lutar pela vida é urgente

Só um sistema 100% público, com tarifa zero, seguro e controlado pelos próprios trabalhadores pode garantir mobilidade digna. Enquanto o transporte for negócio, vidas continuarão sendo perdidas.

Nenhum trabalhador deveria arriscar a vida para ir ao trabalho. Construir uma sociedade socialista, disputar consciências e garantir passe livre são passos essenciais.

Porque, a cada queda de moto e a cada corpo no asfalto, cresce a pergunta que não quer calar: quantas mortes ainda serão pagas para sustentar esse lucro?

Matéria publicada na edição impressa nº320 do jornal A Verdade

Sete trabalhadores morrem por acidente de trabalho todos os dias no Brasil

Com uma média de 7,5 mortes por dia, o Brasil registrou mais de 1.600 óbitos por acidente de trabalho no primeiro semestre deste ano, consolidando o país como o quarto no ranking mundial de fatalidades no ambiente laboral.

Ludmila Outtes | Presidente do SEEPE


TRABALHADOR UNIDO – De janeiro a junho deste ano, o Brasil registrou mais de 1.600 mortes por acidente de trabalho, uma média de 7,5 mortes por dia, o que rendeu ao nosso país o quarto lugar no ranking mundial de mortes por acidente de trabalho. Se levarmos em conta todas as notificações (Comunicação de Acidente de Trabalho – CAT), foram mais de 400 mil acidentes no primeiro semestre.

Os números mostram uma tendência à elevação: em 2022, foram registrados 654 mil acidentes; em 2023, 732 mil; e, em 2024, foram 742 mil acidentes de trabalho notificados. A maior parte está relacionada a trabalhadores da construção civil, trabalhadores rurais e trabalhadores da saúde. Entre os principais fatores estão a falta de equipamentos de proteção e a sobrecarga de trabalho.

Consequências da Reforma Trabalhista

É importante destacar que o aumento dos acidentes de trabalho também está diretamente relacionado ao aumento da rotatividade e à precarização dos serviços trazidos com a reforma trabalhista e a terceirização irrestrita, aprovadas pelo Congresso Nacional e sancionadas pelo golpista Temer, em 2017.

Desde a implementação da reforma, a informalidade avançou de forma avassaladora. Hoje, estimam-se que 38 milhões de trabalhadores não têm qualquer direito garantido. Muitos mal sobrevivem, pois não conseguem pagar alimentação, aluguel nem, muito menos, se aposentar.

O crescimento da informalidade e da terceirização também se reflete nas estatísticas. Estudos apontam que trabalhadores terceirizados sofrem mais acidentes, cumprem jornadas mais extensas e recebem menos treinamento. Em muitos casos, a ausência de fiscalização agrava o risco, deixando operários expostos a máquinas defeituosas, andaimes irregulares e produtos químicos sem proteção adequada.

A reforma trabalhista de 2017 aprofundou o problema. Ao flexibilizar regras de contratação e reduzir a obrigação das empresas de manter vínculos formais, criou-se um cenário em que grande parte dos empregados não possui garantias mínimas de saúde e segurança. Essa mudança favoreceu os grandes empresários, que aumentaram seus lucros, em detrimento da vida da classe trabalhadora.

Doenças mentais ainda ficam de fora

Mesmo com esse alarmante índice de CATs, vale destacar que ainda existe uma grande dificuldade dos trabalhadores de reconhecerem e comprovarem o adoecimento mental como também relacionado ao trabalho.

Depressão, síndrome do pânico e burnout são exemplos de doenças que atingem um número cada vez maior de trabalhadores e que podem estar relacionados ao trabalho: assédio, sobrecarga de trabalho, baixos salários e a pressão para atingir metas são alguns fatores que levam ao adoecimento mental.

Das notificações de 2024, por exemplo, as doenças mentais relacionadas ao trabalho representaram apenas 1% dos registros de CAT, apesar de terem sido responsáveis por mais de 500 mil afastamentos de trabalhadores no mesmo ano, mostrando que ainda estamos muito distantes de garantir o reconhecimento do trabalho como causa do adoecimento.

Ampliar os direitos é a garantia de vidas

Somente com a união da classe trabalhadora e a luta pela ampliação de direitos, fim das privatizações e reestatização dos serviços, revogação da reforma trabalhista e fim da terceirização, poderemos ter mais garantias de condições de trabalho adequadas e equipamentos de proteção individual e coletivo suficientes para a garantia da vida do trabalhador. Por isso, é fundamental nossa atuação nas associações de trabalhadores, sindicatos e centrais sindicais para organizar a luta de nossa classe.

Matéria publicada na edição impressa nº320 do jornal A Verdade

PL da Devastação atinge diretamente a vida da população maranhense

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A aprovação da PL da Devastação flexibiliza o licenciamento ambiental e ameaça ecossistemas sensíveis como os corais da margem equatorial e os manguezais do Maranhão.

Gabriel C. Silva | São Luís (MA)


BRASIL – No dia último dia 17 de julho, foi aprovado o Projeto de Lei 2.159/2021 – o chamado PL da Devastação, que representa um ataque direto às pautas ambientais e energéticas mais urgentes do nosso tempo. Em vez de investir na transição para fontes renováveis e sustentáveis, o Brasil caminha na contramão da história. A contradição entre o avanço da transição energética e a manutenção da lógica extrativista revela os limites do sistema capitalista. O que está em curso é a entrega dos nossos recursos naturais e o aprofundamento de um modelo de desenvolvimento dependente, predatório e desigual.

A atual ofensiva contra o meio ambiente e os direitos dos povos é parte do pacote neoliberal impulsionado pela direita brasileira. As políticas de “livre mercado”, de privatizações e de desregulamentações ambientais têm aberto caminho para que interesses empresariais, sobretudo de multinacionais, tenham acesso irrestrito às nossas riquezas. A crise estrutural do capitalismo força as grandes potências a manterem seus níveis de acumulação, empurrando os países da periferia do sistema – como o Brasil – à condição de exportadores de commodities e exploradores de seus próprios ecossistemas em nome de uma falsa ideia de desenvolvimento.

Nesse sentido, o PL 2.159/2021 flexibiliza profundamente o licenciamento ambiental, abrindo caminho para empreendimentos de alto impacto, como a exploração de petróleo e gás nas bacias do Golfão Maranhense. Essas áreas, que até então permaneciam relativamente preservadas, agora estão sob grave ameaça, colocando em risco não apenas o equilíbrio ambiental, mas também a vida de milhares de pessoas que dependem diretamente desses territórios.

O suposto “retorno social” desse tipo de exploração não se sustenta diante da realidade. O argumento de que a exploração de petróleo e gás trará geração de emprego, aumento de renda e melhoria na qualidade de vida não se sustenta quando confrontado com a realidade concreta. A maioria das empresas interessadas nas concessões são estrangeiras, especialmente da Europa, e não têm compromisso com o desenvolvimento local. Estudos de impacto mostram que o efeito na geração de empregos será mínimo: apenas 0,1% no emprego total e 0,3% no emprego formal. Ou seja, a maior parte da riqueza gerada será transferida para fora do país, sem retorno efetivo para a população maranhense.

O aspecto ambiental também não pode ser ignorado. Até hoje, não havia exploração direta em muitas dessas áreas justamente por falta de estudos detalhados sobre os impactos nos ecossistemas locais. Entre os biomas mais ameaçados está o conjunto de corais da margem equatorial, onde se localiza o Parque Estadual Marítimo Parcel de Manuel Luís – criado em 1991, o primeiro parque marítimo do Brasil e o maior banco de corais da América do Sul. Ele abriga uma enorme diversidade de espécies marinhas e desempenha um papel essencial na preservação da vida marinha no Atlântico tropical.

Outro bioma em risco são os manguezais, que possuem enorme importância ambiental, econômica e social. Presentes em regiões como São Luís, Cururupu, Turiaçu e outras, os manguezais atuam como barreiras naturais contra as mudanças climáticas, armazenando mais de 1,9 bilhão de toneladas de CO₂. Além disso, sustentam economicamente milhares de famílias e comunidades tradicionais, sendo estimado que mais de 100 mil pessoas dependam diretamente desse ecossistema para viver.

Portanto, o PL da Devastação não representa apenas um ataque à legislação ambiental brasileira, mas sim um projeto estratégico de subordinação do Brasil – e especialmente do Maranhão – aos interesses do capital estrangeiro. É a face mais cruel do imperialismo, que se reinventa para explorar recursos naturais e submeter povos inteiros à miséria, à desigualdade e à destruição de seus territórios.

Matéria publicada na edição impressa nº320 do jornal A Verdade

Reforma Administrativa: estratégia da burguesia para facilitar privatizações

Proposta de Reforma Administrativa, apresentada pelo deputado bolsonarista Zé Trovão (PL-SC) com o apoio de entidades empresariais, retoma o projeto de desmonte dos serviços públicos no Brasil.

Coordenação Estadual MLC/RS


BRASIL – O povo brasileiro sempre soube que a privatização dos serviços públicos piora a qualidade dos serviços, encarece tarifas e dificulta a vida dos trabalhadores e trabalhadoras, e por isso se mobiliza para barrá-las.

Já os políticos que servem apenas aos ricos deste país, não desistem de roubar o patrimônio do povo e tentam encontrar meios de precarizar as empresas públicas através de leis que retiram direito dos servidores, facilitam terceirizações e fragilizam os vínculos de trabalho para dificultar a organização dos trabalhadores em seus sindicatos.

Esse é o caso da proposta de nova Reforma Administrativa do Serviço Público que foi apresentada pelo deputado bolsonarista Zé Trovão (PL-SC), com apoio de diversas entidades empresariais.

Tentativas de desmonte do serviço público se aprofundam desde os governos neoliberais de Fernando Collor e FHC, mas foi no governo Bolsonaro que a proposta se consolidou como PEC 32. Agora, ela retorna como proposição dos deputados e senadores de direita e do centrão, e conta com o apoio da base do governo Lula. No fim, o objetivo é o mesmo: acabar com conquistas do povo brasileiro consolidadas na Constituição de 1988, principalmente a garantia de serviços públicos para efetivação dos direitos sociais.

A atual contrarreforma é vendida como projeto de modernização do Estado, mas, ao invés de combater privilégios, não modifica as estruturas dos altos cargos da administração pública, pois generais, juízes, magistrados, parlamentares e outros não terão suas regalias revogadas. Já para a grande maioria dos servidores públicos, que recebem pouco e trabalham muito, a Reforma acaba com a estabilidade e impõe mecanismos de redução salarial.

O fim do Regime Jurídico Único

A estabilidade do servidor público foi proposta na Constituição para a proteção tanto do servidor como de toda a sociedade. O fim dessa estabilidade retira dos trabalhadores a possibilidade de denunciar, inclusive, medidas autoritárias, imorais ou ilegais de seus chefes.

Em 2024, o Superior Tribunal Federal (STF) formou maioria para flexibilizar o RJU, contando com os votos de ministros indicados por Lula, como Flávio Dino e Cristiano Zanin. Agora, caberá aos governos federal, estaduais e municipais decidirem qual modelo de contrato de trabalho. Na prática, serão criados cargos temporários por tempo determinado ou indeterminado, inclusive por meio de indicação, ao invés de concursos públicos.

Essa decisão do STF é uma demonstração do compromisso dos três poderes com os interesses da burguesia capitalista.

O novo que já nasce velho

O “novo” projeto de Reforma Administrativa tem o mesmo objetivo de toda política antipovo: precarizar para depois vender o patrimônio público. Quando a Reforma ataca a estabilidade dos servidores, abre espaço para perseguições, possibilita troca constante de profissionais, aumenta os contratos precários, põe em risco o compromisso com a qualidade do serviço público e, principalmente, facilita a entrega à iniciativa privada, enriquecendo ainda mais o empresariado e prejudicando quem utiliza os serviços públicos.

A privatização e a terceirização de serviços essenciais no Brasil já trouxeram aumento de preços, queda de qualidade e exclusão de populações vulneráveis. Temos exemplos em diversos setores, como energia elétrica, transporte e na área da saúde. No fim, a Reforma Administrativa será apenas mais um presente à elite econômica brasileira, que odeia o serviço público na medida em que ele não é estruturado para gerar lucros, mas para servir a todo o povo.

A manutenção de serviços públicos gratuitos e de qualidade só será garantida através da luta contra as classes dominantes que fazem de tudo em nome de seus lucros, e é por isso que devemos nos levantar contra a Reforma Administrativa. Enquanto vivermos num sistema em que as relações de produção visam o enriquecimento das elites, sofreremos constantes ataques para cassar nossos direitos e piorar nossas condições de vida. A justiça social que desejamos só será conquistada em definitivo com o triunfo do povo trabalhador sobre a classe parasita que o explora, através da instauração da sociedade socialista.

Matéria publicada na edição impressa nº320 do jornal A Verdade

Importância do planejamento e preparo para grandes reuniões da UP

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No último dia 20 de julho, a sede da Unidade Popular (UP) em São Paulo reuniu coordenadores de 30 núcleos da capital. A comissão organizadora preparou uma reunião com formato dinâmico, incluindo café da manhã coletivo, análise de conjuntura e atividades em grupo.

Tati Bornato | Diretório da UP (SP)


PARTIDO – Realizar reuniões periódicas para receber e transmitir informes, estudar, debater sobre a conjuntura, aprovar e realizar propostas é uma prática comum na Unidade Popular (UP). Para o êxito dessas reuniões, é importante dedicar um tempo para sua preparação. Por exemplo, reuniões grandes, tanto em quantidade de participantes quanto em duração, exigem uma atenção especial dos presentes e, se a reunião não for bem planejada, é possível dispersar após algumas horas de estudo ou de falas.

No último dia 20 de julho, coordenadores e representantes de 30 núcleos da capital se reuniram na sede da UP, em São Paulo. O encontro teve como principal objetivo debater o crescimento do partido, especialmente entre as mulheres. Além disso, novos coordenadores, que assumiram a tarefa recentemente, puderam esclarecer dúvidas sobre o funcionamento dos núcleos, seus principais objetivos e formas de coordenação. Neste sentido, a Comissão Municipal da UP preparou um formato dinâmico e participativo para a reunião.

O encontro teve início às 08h30 com um café da manhã coletivo. Quem pôde, levou uma comidinha para socializar, e todos puderam se conhecer melhor. Os núcleos da UP estão distribuídos pelas cinco regiões da maior capital da América Latina, e nem todos os coordenadores se conheciam.

A reunião iniciou-se com uma breve análise de conjuntura, baseada na leitura do artigo de capa do jornal A Verdade, edição nº 317 – “Imperialismo estadunidense quer mandar no Brasil”. O objetivo foi contextualizar os militantes sobre o cenário econômico e político do Brasil e do mundo, destacando a importância e as motivações para o crescimento do partido entre a classe trabalhadora.

Também foram apresentados os resultados das duas últimas reuniões, como o aumento da participação de mulheres na coordenação dos núcleos e o crescimento do número de filiados. Em um mês, mais de 200 trabalhadores se filiaram, ultrapassando a meta que era de 3 mil filiados até o final de junho.

Na segunda etapa da reunião, os participantes foram divididos em grupos e passaram por diferentes “blocos”, cada um representando uma pasta específica: construção material, filiação, comunicação, formação e coordenação de núcleo. Em cada bloco, os grupos leram matérias do jornal A Verdade relacionadas à pasta, receberam informes, fizeram falas e puderem tirar dúvidas. Ao todo, foram lidas seis matérias do Jornal durante a reunião.

A terceira etapa foi marcada por uma dinâmica desafiadora, em que os coordenadores e representantes tiveram que convencer mulheres trabalhadoras a se organizarem ou a voltarem a participar das reuniões de núcleos na UP. A comissão se dividiu em categorias representativas da classe trabalhadora: estudante; mãe trabalhadora da saúde com jornada de 12×36 e dois empregos; professora com dois empregos afastada das reuniões de núcleo; operária da indústria têxtil chegando na fábrica; e caixa de supermercado na escala 6×1. Os grupos tiveram quatro minutos para apresentar a UP e convencer as mulheres a se organizarem ou a voltarem para a militância. A atividade gerou risadas, mas também destacou as dificuldades de interação e convencimento.

A reunião terminou com uma breve avaliação das estações e da dinâmica, seguida de propostas e depoimentos.

“A dinâmica e a abordagem das outras pessoas me ajudaram a ter melhores elementos de abordagens, uma vez que sempre tive dificuldades por me sentir despreparada ou envergonhada”, relatou Vanessa, do núcleo da Zona Oeste, que participou pela primeira vez de uma reunião de coordenadores.

Josy, coordenadora do núcleo de Osasco, destacou que “o formato da reunião permitiu um aprofundamento mais eficaz em cada uma das pastas, além de proporcionar um melhor entendimento sobre as debilidades e acertos dos demais núcleos”.

Para Victor, coordenador do núcleo de Pirituba, “as estações proporcionaram uma compreensão mais profunda sobre os problemas individuais de cada núcleo e destacou que a dinâmica foi essencial para identificar que a dificuldade de organizar as mulheres trabalhadoras está diretamente relacionada às escalas de trabalho exorbitantes, como a 6×1”.

Reuniões grandes, que possuem um caráter formativo e com longa duração, permitem inovar sem perder o método ou sair da linha política da Unidade Popular.

Avante, camaradas!

Matéria publicada na edição impressa nº320 do jornal A Verdade