Vitória foi reconhecimento dos estudantes das lutas e vitórias recentes conquistadas pelas últimas gestões do DCE da UFRJ, o mais antigo do país.
Andrei Rodrigues | Rio de Janeiro
JUVENTUDE – Entre os dias 5 e 7 de novembro, ocorreram as eleições para o Diretório Central dos Estudantes (DCE) da UFRJ. Nesse exercício fundamental de aprofundamento da democracia e dos debates políticos da entidade, o Movimento Correnteza, junto a dezenas de Centros Acadêmicos, Atléticas, coletivos e demais iniciativas universitárias, reafirmou o seu compromisso com o movimento estudantil ao inscrever a maior e mais representativa chapa de todas no processo eleitoral.
Com uma campanha intensa, que mobilizou mais de mil estudantes em toda universidade, e incluiu uma brigada que vendeu mais de 270 Jornais A Verdade, a Chapa 1 – UFRJ NÃO SE RENDE à vitória nas eleições do DCE com 62% dos votos válidos (4163 votos). A Chapa 1 reivindicou o legado de lutas e conquistas que a histórica entidade de Mário Prata vem construindo nos últimos anos e teve o objetivo principal de demarcar uma posição ideológica no debate político sobre o atual papel do movimento estudantil na UFRJ.
Nesse sentido, frente a uma conjuntura de enfrentamento com o fascismo na sociedade, de sucateamento da educação e de ofensivas entreguistas por parte da própria reitoria da universidade, os militantes da Chapa 1 demonstraram que as falsas soluções privatistas da reitoria e de parte do movimento estudantil não são suficientes para o DCE.
Enquanto setores do Movimento Estudantil se aliaram a uma reitoria que defende políticas entreguistas para solucionar a asfixia orçamentária em troca de benefícios mínimos (como a concessão de parte do campus da Praia Vermelha para a iniciativa privada e a entrega dos hospitais universitários para a EBSERH), o Movimento Correnteza provou que é possível ousar mais e que não precisamos nos contentar com o mínimo oferecido por governos e reitorias.
Foi a luta do movimento estudantil, a partir de greves, ocupações, assembleias, atos e demais mobilizações amplificadas pela força do DCE Mário Prata, que garantiu que os estudantes questionassem o sucateamento da educação, o esquema injusto da Dívida Pública, as falsas soluções entreguistas e conquistassem, então, vitórias essenciais para a universidade, como a abertura e construção de novos bandejões, o orçamento do PAC para reformas, o café da manhã nos bandejões, uma nova resolução de assistência estudantil, entre muitas outras).
Sobre a conquista que obteve o Movimento Correnteza nessa luta eleitoral, Thais Rachel Zacharia, diretora da UNE e estudante da UFRJ disse que “o Correnteza UFRJ fez história nessas eleições! É a primeira vez, em mais de 20 anos, que apenas um movimento organizado, junto com centenas de independentes, estará a frente da gestão de um dos maiores DCEs do Brasil. Isso só é possível com o apoio dos milhares de estudantes que confiaram e votaram nesse projeto e das centenas de estudantes que organizam seus Centros e Diretórios Acadêmicos. O trabalho da UFRJ é referência para o Movimento Correnteza a nível nacional e seguiremos aprofundado nosso trabalho de base que nos fortalece para essa construção geral e, inclusive, é indispensável para a disputa da UNE que viveremos no ano que vem!”
A ser votada na terça (12/11) pela CCJ da Câmara, a PEC 164/2012 traz risco de grande retrocesso nos direitos das mulheres. Ao definir que a vida tem início na fecundação do óvulo, o projeto proposto por Eduardo Cunha pode criminalizar até os procedimento de aborto já previstos em lei
Larissa Mayumi e Luiza Camargo | Movimento de Mulheres Olga Benário
Nesta terça-feira (12/11), a Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara dos Deputados vai pôr em votação a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 164/2012, que pode promover um enorme retrocesso no direito ao aborto no Brasil, acabando com todas as formas de aborto legal atualmente previstas em lei.
A PEC visa alterar o 5º artigo da Constituição Federal, que diz: “ Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade”.
A manobra de alteração propõe que a “inviolabilidade da vida” presente no texto constitucional seja considerada desde o momento que o óvulo é fecundado. Desta forma, mesmo o aborto sendo legalizado desde 1940, nos casos de gestação fruto de estupro, risco à vida da gestante e feto anencéfalo, realizar o procedimento do aborto poderia passar a ser considerado crime. O Movimento de Mulheres Olga Benário convoca a população a se mobilizar contra a aprovação dessa proposta reacionária e anti-direitos.
Uma década de mobilização pelo aborto legal
A PEC 164/2012 foi apresentada pela primeira vez em 2012 pelo ex-deputado federal Eduardo Cunha, responsável por conduzir na Câmara o golpe contra a ex-presidenta Dilma Rousseff e que teve seu mandato cassado em 2016 devido a seu envolvimento em casos de corrupção.
Além disso, em 2013, Cunha também foi responsável pelo Projeto de Lei 5069, que na prática ampliava a repressão a mulheres que precisam abortar, propondo punições mais severas para aquelas que tomassem medicamentos abortivos e tornando obrigatória a comprovação de abuso sexual para acessar o aborto legal. Os absurdos do projeto foram denunciados pelos movimentos de mulheres à época, uma vez que o exame de corpo de delito é invasivo e muitas vítimas não se sentem à vontade para realizá-lo após agressão sexual.
O PL 5069/2013 chegou a aprovado na Comissão de Constituição e Justiça da Câmara em outubro de 2015. Contudo, a aprovação levou milhões de mulheres às ruas sob a palavra de ordem “Fora Cunha”. Vitoriosas as manifestações, o projeto não foi para frente.
Desde então, inúmeros fascistas têm tentado atacar este direito fundamental para salvar a vida de mulheres, crianças e pessoas que gestam! O aborto legal permite que vítimas de estupro (no Brasil, mais de 60% delas são crianças de até 14 anos) tenham sua saúde preservada e não sejam torturadas pela continuidade de uma gestação fruto de uma violência extremamente traumática, como o estupro.
Proposto neste ano, o PL 1904/2024, mais conhecido como PL do Estupro, também tinha por objetivo criminalizar os abortos realizados após as 22 semanas de gestação, prejudicando principalmente as crianças, que demoram mais tempo para identificar uma gravidez e acessar o direito ao aborto. Outros ataques, como as tentativas de instituir o “Dia do Nascituro”, fechar serviços de abortamento legal, perseguir médicas que realizam o procedimento do aborto ou investigar fichas médicas sigilosas são algumas das ofensivas que tem acontecido contra esse direito das mulheres.
Luta das mulheres pode derrotar a PEC
Agora, a PEC 164/2012 que será votada amanhã pela CCJ da Câmara foi apelidada por movimentos reacionários e conservadores de “PEC da vida”. No entanto, estes que se dizem “a favor da vida” não defendem a vida das 84 mil vítimas de estupro anuais no país, nem daquelas que podem morrer caso sigam com uma gestação de risco e nem das que realizam aborto inseguro, uma das principais causas de morte maternas no Brasil. Muito menos das mais de 25 mil crianças que todo ano seguem com uma gravidez que coloca suas vidas em risco, sendo a maioria delas negras!
Apesar dos ataques, as mulheres já mostraram que tem disposição de defender o aborto legal e lutar pela descriminalização e legalização do aborto, uma vez que derrotaram Cunha em 2015 em grandes manifestações pelo Brasil todo e barraram a votação do PL do Estupro neste ano. A PEC 164/2012, que deveria ser chamada de PEC do Estupro e não de PEC da Vida, também será derrotada com grandes manifestações de rua!
Onde hoje vivem 200 famílias da comunidade Souza Ramos, o prefeito de São Paulo Ricardo Nunes quer construir dois túneis sem licitação. Com apoio do MLB, moradores resistem contra o despejo irregular e em defesa de seus direitos
Felipe Gomes | São Paulo (SP)
Nas últimas semanas, os moradores da comunidade Souza Ramos, na Zona Sul de São Paulo, vêm enfrentando uma dura luta contra um projeto higienista tocado pela prefeitura de Ricardo Nunes (MDB). Trata-se da construção de dois túneis na rua Sena Madureira, próxima da comunidade, conectando a rua à avenida Ricardo Jafet. Essas obras fazem parte de um projeto que foi esboçado ainda em 2011 mas que, por ter sido julgado ilegal naquela época, havia ficado apenas no papel. Recentemente, a obra foi reiniciada sem licitação, e está previsto que os túneis passem por uma área que é reconhecida como Zona Especial de Proteção Ambiental (ZEPAM).
Iniciadas no dia 16 de outubro, as obras na região vêm tornando insustentável a vida dos moradores da pequena comunidade, que já existe na região há 70 anos. O barulho ensurdecedor do maquinário pesado veio do dia para a noite, acompanhado das infiltrações de água e lama e das rachaduras que têm tomado conta dos imóveis.
Desde então, as famílias relatam que não dormem, devido à poeira, ao barulho e ao medo de que suas casas venham a desabar. “Tem pessoas doentes no local por conta dessa obra maldita. Isso não pode continuar”, denuncia Dona Mara, moradora da comunidade.
Cotidiano de sofrimento
Para além das péssimas condições de vida impostas pela obra da prefeitura, os moradores da comunidade Souza Ramos estão sofrendo ameaça de despejo. De uma hora para outra, 200 famílias correm o risco de terem suas casas destruídas, indo parar na rua. A prefeitura conduz o processo sem ouvir o que os moradores têm a dizer. Ao jornal A Verdade, eles fazem suas denúncias.
“Eu abri a minha janela e vi uma movimentação das minhas vizinhas conversando. Eu corri lá e fui conversar com elas. Elas falaram ‘estão arrancando as árvores, dizem que vão arrancar as nossas garagens’. Eu fiquei desesperada. Chamei minha outra filha e fomos correndo para a rua de trás, que dá para ver melhor o terreno”, conta Ana Beatriz, moradora do Souza Ramos.
Ela revela que os funcionários da Prefeitura mentiram quando perguntados sobre o porquê do corte das árvores, respondendo que estavam “apenas fazendo uma limpeza no terreno”. “No mesmo dia eles já começaram a cortar as árvores grandes. Tem árvores aí de 60 anos, e eu moro aqui há 29 anos. Meus filhos todos eu criei aqui, tudo nosso é aqui. Eles simplesmente chegaram cortando tudo e dizendo que nós vamos ter que sair daqui do nada”, ela questiona.
Por sua vez, a moradora Alexsandra fala do risco de dano à sua moradia: “Eles começaram a fazer escavações. Aqui atrás da minha casa se formou um grande barranco, porque anteriormente essa terra era segurada pelas raízes das árvores. Com a retirada dessas árvores, está na iminência muito grande de ter o deslizamento de terra. Fora o buraco que eles estão fazendo muito próximo à minha casa. E com a chuva a gente não consegue dormir direito, preocupados com o que pode acontecer.”
O mesmo cenário de tensão aparece no depoimento de outra moradora, Dona Madalena, ao jornal A Verdade: “O psicológico da gente não aguenta, porque você não dorme, não consegue dormir. Essa noite mesmo, eu acordei com os nervos todos tremendo. Sabe quando você acorda e o assunto que vem é aquele? Meu deus, o que será que vai ser da gente? Tudo o que eu consegui nos 35 anos que eu moro em São Paulo está aqui. E de uma hora para a outra aparece alguém com uma obra na frente da sua casa, querendo derrubar tudo, tomar a única coisa que você tem que é a moradia. É um absurdo.”
Apesar de todo o transtorno que está causando, a prefeitura de São Paulo segue sem abrir diálogo real com a comunidade, prometendo apenas um auxílio aluguel de R$400,00 ou um apartamento em outra região da cidade. Dona Mara rebate: “A gente não quer sair do nosso lugar. A gente não quer dinheiro. A gente quer ficar, é um direito nosso.”
Destruição ambiental e corrupção
Como se não bastasse a catástrofe que seria o deslocamento forçado de mais de 200 famílias de uma comunidade que existe há 70 anos, as obras da prefeitura apresentam uma série de irregularidades que resultarão em um verdadeiro desastre ambiental. O projeto prevê o corte de mais de 172 árvores – sendo 78 nativas e, algumas delas, centenárias – e o desaparecimento de mais de 94 espécies exóticas da área de proteção ambiental.
Na área das construções passa também o Córrego Embuaçu, córrego que já foi reconhecido pela prefeitura como “importante recurso hídrico da região”. Carolina Ramos, representante do movimento “Salvem a Sena Madureira” relatou em entrevista para o jornal A Verdade: “Eles estão tamponando a nascente, isso é crime ambiental.”
Como se não fosse o bastante, o histórico da obra do túnel da Sena Madureira não cheira nada bem. Em 2018, Dario Queiroz Galvão Filho, presidente da empresa Galvão Engenharia, declarou ter pago a Gilberto Kassab 1 milhão de reais em propina para que sua empresa ganhasse a licitação da obra e o contrato. Kassab, que nega a acusação, era prefeito da cidade de São Paulo em 2011, ano em que a obra foi contratada. Apesar desse fato, a gestão Ricardo Nunes tomou a questionada decisão de retomar as obras do túnel com a Galvão Engenharia.
Segundo a Prefeitura, entregar o trabalho à mesma empreiteira de antes sai mais barato do que realizar uma nova licitação. O que faltou justificar foi o valor atualizado da obra: R$540 milhões, valor 140% superior ao original, que continua exposto no canteiro de obras.
“Progresso” ou higienismo?
Os protestos contra a construção do túnel vêm ganhando espaço na mídia e a atenção dos moradores da região e do restante da cidade. Denúncias e mais denúncias têm sido feitas escancarando os crimes ambientais que estão sendo cometidos pela gestão fascista de Ricardo Nunes.
No entanto, um aspecto essencial não pode ser deixado de lado na luta contra a construção do túnel: o projeto higienista que está sendo tocado pela prefeitura de São Paulo se trata, na verdade, de uma tentativa de limpeza social. O que esse governo dos ricos deseja fazer é retirar forçosamente a população pobre da região. Pessoas que lá moram, trabalham e estudam há décadas, e que fazem parte da história do bairro tanto quanto qualquer outro morador e que zelam e preservam a fauna e flora da Rua Sena Madureira desde o estabelecimento da comunidade.
Algumas perguntas que precisam ser feitas para que se chegue ao centro da questão são: quem ganha quando o povo perde sua casa? Quem ganha quando a cidade de São Paulo perde uma área de preservação? O que estamos observando é, mais uma vez, o movimento do grande capital, que pouco se importa com a história que cada família construiu na comunidade ou com o impacto que a remoção de cada árvore pode causar. Tudo é mercadoria: o espaço, as árvores, as casas e, no limite, as famílias vitimadas também. E toda mercadoria, na visão do grande capital, é feita para ser vendida.
As obras do túnel da Rua Sena Madureira têm como objetivo final forçar a saída dos trabalhadores da comunidade Souza Ramos do bairro da Vila Mariana, fazendo o preço dos terrenos da região subirem. Com isso, quem ganha mais uma vez é a especulação imobiliária, suas grandes empreiteiras e seus grandes bancos.
É possível vencer
Nas últimas semanas, o Movimento de Luta nos Bairros, Vilas e Favelas (MLB) se fez presente na comunidade Souza Ramos, prestando solidariedade aos moradores, e se propondo a ajudá-los a organizar sua luta pela permanência, respeito e dignidade das famílias. A mensagem do MLB para os moradores é clara: impor uma derrota ao grande capital nesse embate não é apenas necessário, mas plenamente possível. Em sua história de lutas, a classe trabalhadora do mundo inteiro já deu provas e mais provas de que, com organização, é possível vencer.
No último domingo (10/11), um ato foi realizado na entrada da rua Sena Madureira denunciando o absurdo que a prefeitura de Ricardo Nunes está fazendo. Muitas forças se somaram na manifestação. É preciso continuar a mobilização permanente em defesa das famílias da comunidade Souza Ramos e do meio ambiente. Souza Ramos fica!
Em sua primeira ocupação em Brasília, o MLB reúne mais de 80 famílias de periferias para reivindicar o direito à moradia e denunciar a crise habitacional que assola o país.
Redação DF
LUTA POPULAR – Neste mês de novembro, o Movimento de Luta nos Bairros, Vilas e Favelas (MLB) promoveu sua primeira ocupação em Brasília com mais de 80 famílias das periferias para garantir moradia para trabalhadores e trabalhadoras que não têm, além de atenção para a grave crise de habitação que nosso país passa. Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) de 2022 revelam que cerca de 7,8 milhões de pessoas estão sem moradia. Em contraste, há 18 milhões de imóveis vazios no Brasil, segundo a mesma fonte.
O prédio ocupado fica na SIG Quadra 6, lote 2190 e estava abandonado há mais de sete anos. “O MLB é um movimento que atua há 25 anos em todas as regiões do país, organizando o povo pobre contra a fome e por moradia. A Ocupação Expedito Xavier é formada por famílias de Sol Nascente, Ceilândia, Arapoangas e de outras periferias que há anos vivem sem teto morando de favor ou escravos da especulação imobiliária. A Ocupação é uma ação pela sobrevivência contra a fome e por um teto” afirma a coordenadora do MLB, Elica Aguiar.
A história do Brasil demonstra que as ocupações representam a principal forma de pressão e conquista de moradia para o povo pobre, que vivem esquecidos nas periferias de norte a sul do país. A ocupação educa o povo para a necessidade da luta organizada e desenvolve o espírito de trabalho coletivo. A Política Habitacional dos Governos destina a maior parcela de investimentos para faixas de renda que não atendem aos mais necessitados. Se perpetuando esta contradição perversa: com inúmeras famílias sem teto enquanto milhões de imóveis permanecem vazios.
“Se parte desses imóveis fossem destinados a quem precisa, ainda sobrariam mais de 10 milhões de imóveis“, apontou um representante do movimento. A ação é uma resposta também ao aumento do custo de vida. Em 2023, o valor dos aluguéis subiu 16%, mais de três vezes a inflação anual, enquanto o salário mínimo teve um reajuste de apenas 7%, chegando a R$1.412,00.
Segundo o MLB, as ocupações são uma forma legítima de protesto e reivindicação por moradia digna e acessível. “Enquanto moradia digna for privilégio, ocupar é um direito” é um dos lemas do movimento X.
Homenagem aos candangos que construíram Brasília
O MLB escolheu batizar a ocupação relembrando os candangos, trabalhadores que vieram de várias regiões do Brasil, especialmente do Nordeste, para construir Brasília. Entre eles estava Expedito Xavier Gomes, que deixou o Ceará em busca de uma vida melhor para a família. Porém, em 3 de abril de 1962, Expedito e seu colega Gildemar Marques Pereira foram soterrados durante a construção da Universidade de Brasília (UnB) e nunca viram o resultado de seu trabalho.
Expedito deixou a esposa e três filhos que, após longo processo judicial, receberam apenas 30 salários mínimos como indenização. Darcy Ribeiro, idealizador da UnB, sugeriu que o auditório principal da universidade fosse nomeado “Auditório Dois Candangos”, em memória aos trabalhadores falecidos. Contudo, o nome e as histórias de Expedito e Gildemar são ainda desconhecidos.
Além de visitar a ocupação para prestar solidariedade, há uma lista no Instagram do movimento (www.instagram.com/mlb.df) com itens prioritários que podem ser doados. Há também um pix, para o qual se pode doar qualquer quantia (PIX: [email protected]).
MULHERES – Na última quarta-feira (06), o Movimento de Mulheres Olga Benario, Movimento Correnteza e os estudantes da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) ocuparam a sala de aula do professor Jordi Julia Casas, do setor de Geofísica da Universidade. Jordi está sendo investigado por assédio e stalking contra estudantes do curso e se tornou réu em inquérito aberto no Ministério Público do Rio Grande do Norte (Processos nº 0803517-87.2022.8.20.5300 e nº 0914674-89.2022.8.20.5001).
A denúncia principal foi exigir o afastamento imediato de Jordi de sala de aula e a instauração de um comitê de investigação e combate aos casos de violência contra a mulher dentro da UFRN.
O professor decidiu cancelar a aula quando percebeu que ali haviam mais de 30 alunos e alunas manifestando em favor do seu afastamento da universidade, deixando o espaço com quem de fato deveria estar: com os estudantes. Nem uma aluna deve ser expulsa de seu espaço de ensino, de pesquisa por conta dos assédios. E, por isso, quem deve sair da sala de aula são os assediadores. Foram agitadas palavras de ordem contra a violência às mulheres e o assédio, falas sobre a luta pela permanência estudantil e, especialmente, das alunas.
“Esse ato é importante porque foi a primeira vez que um professor, acusado de assédio, foi constrangido a pisar na universidade. É simbólico, porque normalmente são as estudantes que são constrangidas em voltar às salas de aula após episódios de violência. Esse é um exemplo do que iremos fazer a partir de agora sobre os casos de assédio na universidade,” Relata Alice Morais, da Coordenação Estadual do Movimento de Mulheres Olga Benario e estudante de Direito da UFRN.
A UFRN até então, não se posicionou publicamente e tampouco se responsabilizou em tomar providência. Nesse objetivo, após a ação na sala de aula e a conquista da saída do professor, os estudantes ocuparam a Reitoria da Universidade, na tentativa de obter uma resposta de quem realmente deve ser cobrado. Porém, ao tentar diálogo, o gabinete da UFRN decidiu fechar as portas e não permitiu o protocolo do ofício dos alunos que exigia o afastamento imediato desse professor e pelo pedido de instauração do comitê.
O Movimento de Mulheres Olga Benario e o Movimento Correnteza continuarão na luta pela permanência das mulheres, dos estudantes para uma UFRN ser um espaço livre do assédio.
Eleições gerais dos EUA ocorrem com compra de votos, supressão do direito de voto e perseguição a candidaturas de esquerda.
Redação
INTERNACIONAL – Num dos processos mais antidemocráticos do planeta, o fascista bilionário Donald Trump (Partido Republicano) ganhou a Presidência da principal potência imperialista do mundo pela segunda vez. Numa combinação de resultados, o candidato fascista conseguiu mais delegados eleitorais que a candidata imperialista de direita Kamala Harris, do Partido Democrata.
Nos Estados Unidos, as pessoas votam para presidente, mas nem sempre a maioria dos votos elege o chefe de Estado. O que elege é um colégio eleitoral, criado no século 18, de 534 delegados divididos pelos estados. Quem ganhar mais delegados, leva a eleição, não importando quantos votos diretos tenha.
Lá várias práticas de perseguição política e fraudes são legalizadas. Nos EUA, a compra de votos não é criminalizada. Exemplo disso foi o bilionário Elon Musk, aliado de Trump, que distribuiu cheques a eleitores da Pensilvânia em troca de votos. Trump conseguiu vencer no estado, fundamental para garantir sua eleição.
Candidaturas de esquerda perseguidas por Democratas e Republicanos
Os dois partidos de direita que dominam a política dos EUA há 150 anos também usam de perseguição política para impedir o avanço de um partido de oposição de esquerda. Nos EUA, as eleições são controladas pelos estados e, em vários deles, alguns candidatos a presidente simplesmente são excluídos das cédulas eleitorais.
Este foi o caso das candidaturas de esquerda social-democratas de Jill Stein, do Partido Verde, e de Claudia De La Cruz, do Partido Socialismo e Libertação. As duas candidatas tiveram seu direito de concorrer em vários estados cassados, como a Pensilvânia e a Geórgia.
As candidatas foram excluídas de todos os debates eleitorais e a mídia burguesa estadunidense realizou um boicote às suas candidaturas.
A principal pauta das duas candidaturas foi a denúncia do genocídio palestino, o que levou a candidata do Partido Verde a liderar, inclusive, entre eleitores muçulmanos em alguns estados.
O jornalista Jamil Chade publicou no portal UOL a visão de alguns brasileiros naturalizados norte-americanos que votaram nessas candidaturas.
Segundo Miguel Silveira, que nasceu no Rio de Janeiro, “o capital bilionário impede que milhões de norte-americanos tenham a possibilidade de votar em candidatas que representem suas posições políticas, seus desejos de felicidade e visões de mundo. É praticamente impossível para qualquer partido emplacar uma candidatura presidencial fora do eixo Democrata-Republicano. Qualquer discussão sobre democracia nos Estados Unidos é pura hipocrisia se não inclui essa crítica”.
Já Natália de Campos, de 51 anos, disse que votou em Claudia De La Cruz porque “milhões de pessoas passam fome nos Estados Unidos ou sofrem com dívidas, e morrem sem políticas de saúde pública universal na maioria dos estados. Isso tudo enquanto trilhões de dólares são enviados em armamentos à Ucrânia, Israel, e diversos outros países – e agora mantêm uma politica de hostilidade contínua contra a Rússia e a China, o que nos faz caminhar para uma possível terceira guerra mundial”.
Veja as entrevistas completas com esses brasileiros no portal UOL neste link.
Democratas derrotados por patrocinarem as guerras imperialistas
Como era de se esperar, a eleição de 2020 não significou nenhuma mudança real para os trabalhadores dos EUA e os povos do mundo. O governo Biden implementou uma política de favorecer os grandes monopólios capitalistas e a indústria de armas estadunidense.
Durante sua presidência, fez todo o esforço de alimentar as guerras imperialistas na Ucrânia e na Palestina. O caso palestino é ainda mais grave: a gestão Biden destinou mais de 20 bilhões de dólares neste ano para financiar as armas usadas por Israel para cometer o genocídio da população de Gaza.
A eleição de Biden, em 2020, se deu por conta do rechaço do povo dos EUA à política fascista e racista de Trump. O então presidente fascista não foi derrotado pelos Democratas, mas pelas mobilizações de milhões de pessoas em decorrência do brutal assassinato do trabalhador negro George Floyd por policiais brancos, em Minnesota.
No entanto, o presidente imperialista nada fez para enfrentar a estrutura racista dos EUA e continuou o apoio irrestrito a um genocídio e apartheid do outro lado do mundo.
Resultado desta política: a democrata Kamala Harris a teve cerca de 14 milhões de votos a menos nestas eleições, votos que hoje dariam uma nova vitória ao partido dela.
Bilionários controlam eleições
A falta de igualdade no processo eleitoral estadunidense fica ainda mais marcada pela intervenção direta dos bilionários nas candidaturas. O caso de Elon Musk com Donald Trump é só o exemplo mais evidente. Mas bilionários são os principais financiadores tanto de Democratas quanto de Republicanos.
A cada eleição, eles usam esse dinheiro para comprar os votos de deputados, senadores, governadores e dos presidentes eleitos. Nos EUA, é permitido que lobistas e bilionários comprem votos de legisladores para aprovar leis de seu interesse.
Segundo a Associated Press, estas foram as eleições mais caras da história daquele país. Democratas e Republicanos gastaram cerca de 16 bilhões de dólares (92 bilhões de reais) entre as campanhas presidenciais e para o Congresso. Para se ter uma ideia, esta é uma fortuna que é maior que o orçamento do SUS no Brasil.
Esse nível de dinheiro na campanha é a principal coluna que mantém o sistema bipartidário de direita e extrema-direita no poder daquele país há tanto tempo.
Fraudes nas eleições para Câmara e Senado
O partido do fascista Trump também saiu vitorioso nas eleições parlamentares. Nesta eleição, o processo é ainda mais antidemocrático. Os partidos de esquerda e sociais-democratas têm vários entraves para registrarem suas candidaturas. Em vários estados é comum a prática de gerrymandering.
Gerrymandering é um termo em inglês sem tradução para nosso idioma, que representa o processo de fraude nos desenhos dos distritos eleitorais. Os EUA são divididos em centenas de distritos eleitorais que definem a eleição para deputados e senadores.
Nos estados Republicanos, principalmente no Sul, é comum os governadores e parlamentares mudarem as regras de divisão dos distritos para evitar que a população negra ou latina tenha condições de eleger mais parlamentares. Em outros estados esta prática é comum para diminuir a influência dos votos de operários e trabalhadores fabris nas eleições.
Para piorar, cada estado tem uma regra, em vários sequer é exigido um documento de identidade para votar. Em outros não existe voto secreto e qualquer pessoa pode saber em quem você votou, é o que ocorre no caso da votação pelo correio.
Hipocrisia imperialista dos EUA
Todo esse sistema eleitoral é uma demonstração inequívoca da grande hipocrisia estadunidense. Enquanto dizem defender a “democracia e a liberdade”, os partidos burgueses estadunidenses perseguem partidos de esquerda dentro do seu próprio país e atacam o direito de voto da população.
Dizem que países como a Venezuela (onde o voto é eletrônico e auditável) não têm democracia, mas promovem um sistema sem qualquer tipo de controle e onde se é permitido comprar votos.
Que democracia é essa em que bilionários podem colocar fortunas inteiras em alguns candidatos e depois podem “cobrar o favor” aprovando leis do interesses dos grandes monopólios daquele país?
Essa é a realidade na chamada “democracia mais importante do mundo”. Não passa de uma farsa imperialista para atender ao interesse dos grandes monopólios estadunidenses e impedir a formação de partidos socialistas ou de esquerda no seio do povo.
Como afirmou Lênin, em 1912, por ocasião das eleições presidenciais dos EUA daquele ano: “Este chamado ‘sistema de dois partidos’, que reinou na América e na Inglaterra, foi um dos meios mais poderosos para impedir a formação de um partido operário independente, isto é, realmente socialista”.
Fatima Abbas, brasileira-libanesa de 14 meses morreu em um bombardeio em Beirute, capital do Líbano, realizado no sábado (2). Já é a terceira vítima brasileira com menos de 18 anos morta pelo Estado fascista de Israel
Jesse Lisboa | Redação
O Estado fascista de Israel matou a bebê brasileira-libanesa Fatima Abbas, de 14 meses, em um bombardeio que atingiu Beirute, capital do Líbano, no sábado, dia 2. A morte da menina foi confirmada nesta segunda-feira pelo Ministério das Relações Exteriores brasileiro. Segundo familiares, Fatima é a terceira brasileira vítima dos bombardeios de Israel no Líbano. Todas as vítimas tinham menos de 18 anos.
O avô da menina, Ali Abbas, relatou que ela estava em sua cadeirinha, no banco de trás do carro, quando um fragmento de míssil a atingiu na região abdominal. O impacto foi fatal para a criança, enquanto seus pais, que também estavam no veículo, sofreram ferimentos leves. A família aguardava repatriação para o Brasil, procedimento que vinha sendo coordenado pelo consulado brasileiro.
Expansão imperialista contra o Líbano
Desde o dia 18 de setembro, diante do episódio das explosões provocadas por “pagers explosivos” — aparelhos de comunicação usados em hospitais libaneses, Israel intensificou seu projeto de expansão escancaradamente no Oriente Médio.
Em 23 de setembro, uma série de ataques aéreos no Sul do Líbano resultou em 550 mortes em um só dia. No domingo, 29 de setembro, bombardeios em Beirute e outras cidades deixaram mais de cem mortos e quase 400 feridos, atingindo regiões centrais e áreas residenciais. Explosões também afetaram hospitais, provocando o colapso do sistema de saúde libanês.
Nota do Itamaraty
Em nota, o Itamaraty lamentou a perda da criança e condenou a escalada de violência. No entanto, não mencionou a adoção de medidas concretas para romper relações diplomáticas ou acordos comerciais com Israel. Quantos mais precisarão morrer para que o governo brasileiro corte relações com Israel?
É preciso pressionar o Ministério das Relações Exteriores e todo o governo brasileiro a romper relações diplomáticas com o Estado nazifascista de Israel. O regime sionista de Israel oferece ao próprio povo e aos vizinhos da região apenas uma crescente dependência dos interesses ao imperialismo norte-americano e europeu. A defesa de uma Palestina livre e o fim dos conflitos no Líbano e no Iêmen tornaram-se bandeiras urgentes para os povos do mundo.
Ao mesmo tempo em que bombardeia o Líbano e a Cisjordânia, Israel ataca o Irã e à Síria e invade o espaço aéreo do Iraque em busca de uma guerra total na região. Tudo isso enquanto promove o maior genocídio e regime de segregação racial deste século contra os palestinos da Faixa de Gaza.
João Montenegro | Recife (PE)
INTERNACIONAL – No último sábado (26, no horário local; noite de sexta-feira, no horário de Brasília) Israel realizou três bombardeios seguidos contra alvos no Irã, intensificando a tensão no Oriente Médio. Explosões foram registradas na capital Teerã e nas províncias de Ilam e Khuzestan, resultando em quatro mortes de soldados iranianos.
As “Forças de Defesa de Israel” descreveram a ofensiva como um “ataque preciso” focado em fábricas de mísseis. Enquanto as autoridades iranianas prometeram resposta “proporcional e definitiva”, expressando repúdio ao que consideram mais um ato de provocação em uma longa série de agressões.
A Síria também foi alvo dos ataques israelenses. Segundo a agência estatal SANA, o exército sírio interceptou alguns dos mísseis lançados, que vieram tanto das Colinas de Golã quanto do território libanês ocupado por Israel. A agência também relatou bombardeios nas proximidades de Damasco, capital do país.
Violação do espaço aéreo iraquiano
Além dos ataques diretos ao Irã e à Síria, o Iraque denunciou uma violação de seu espaço aéreo pelas forças israelenses. Em carta enviada ao secretário-geral da ONU, António Guterres, o governo iraquiano protestou contra a “flagrante violação” de sua soberania. A explosão registrada no norte do país, foi acompanhada do fechamento do espaço aéreo.
O porta-voz do governo, Bassim Alawadi, enfatizou o compromisso do Iraque com sua integridade territorial, prometendo que não permitirá o uso de seu território para agressões a países vizinhos, especialmente em um momento de evidente escalada promovida por Israel com o objetivo de desestabilizar a região.
Retaliação iraniana
No começo de outubro, em resposta ao assassinato de Hassan Nasrallah, líder do Hezbollah, o Irã enviou mísseis balísticos contra Israel, que respondeu com bombardeios a civis no Líbano. Na ocasião, o ministro da Defesa de Israel, Yoav Gallant, prometeu lançar um ataque “letal e surpreendente” contra o Irã. O ataque aconteceu no sábado.
Como resposta ao último ataque, o Irã prometeu uma retaliação “definitiva e dolorosa” antes das eleições presidenciais nos EUA, que será na terça-feira (5).
Documentos secretos vazados já mostravam preparativos de Israel para atacar o Irã
Antes dos bombardeios, foram vazados documentos secretos da inteligência dos Estados Unidos em um canal pró-Irã do Telegram. Os detalhes, originalmente reservados aos aliados do Cinco Olhos — rede global de espionagem que inclui Austrália, Canadá, Nova Zelândia e Reino Unido — revelavam planos de Israel para um eventual ataque ao Irã.
Divulgados pelo Middle East Spectator, os documentos supostamente foram elaborados pela Agência de Segurança Nacional e pela Agência Nacional de Inteligência Geoespacial dos Estados Unidos.
O vazamento trazia informações sobre o deslocamento de armas de Israel e treinamentos aéreos com mísseis terra-ar, também indicavam que o país possui armas nucleares, algo que nunca foi oficialmente confirmado.
A estrutura dos arquivos indica que ainda não haviam sido compartilhados com os demais aliados do Cinco Olhos, o que levanta dúvidas e reforça a possibilidade de uma falha de segurança interna nos EUA.
Antecedentes
Além dos recentes ataques ao Irã e à Síria, Israel vem bombardeando de forma sistemática o Líbano e à Cisjordânia, enquanto promove o maior genocídio e regime de segregação racial deste século contra os palestinos da Faixa de Gaza.
Com o apoio financeiro e político dos Estados Unidos e sob a falsa narrativa de “autodefesa”, Israel vem buscando a todo custo uma guerra total, colocando em risco a vida de milhões de civis e a estabilidade de todo o Oriente Médio.
A Unidade Popular (UP) mobiliza a população em defesa de uma Unidade de Conservação (UC), propondo um futuro sustentável e de preservação para a região do Vale do Taquari, contra o avanço do desmatamento e da degradação ambiental.
Josué Schneider Martins e Nicolas Behrens Leal | Vale do Taquari (RS)
BRASIL – Enquanto vivemos uma emergência climática no Brasil e no mundo, ainda nos deparamos com os interesses e a ganância da burguesia sobre a natureza. Enquanto o povo sofre com enchentes, fogo e fumaça – consequências do aquecimento global e da destruição das florestas –, os capitalistas de nosso país seguem desmatando, destruindo habitats naturais, avançando sobre áreas verdes, fragilizando leis ambientais e também construindo loteamentos em antigas áreas de preservação, lucrando com a destruição da natureza e com a especulação imobiliária.
Nesse sentido, a Unidade Popular (UP), partido formado pelas lutas do povo trabalhador, se coloca na luta pela preservação ambiental e contra o desmatamento promovido pela burguesia local na maior região florestal contínua do Vale do Taquari, o Morro Gaúcho.
O Morro é um dos maiores maciços de vegetação nativa da região, localizada no bioma de Mata Atlântica. Este espaço se encontra em avançado estágio de regeneração e abriga uma vasta diversidade de fauna e de flora, incluindo espécies ameaçadas de extinção. No entanto, existe um projeto para construir uma estátua, o “Gauchão”, em uma propriedade privada localizada dentro da área do Morro.
É sabido também que os capitalistas envolvidos projetam diversos loteamentos, além de um grande complexo turístico. Isso significaria desmatar mais de 20.000 m2 de área verde em benefício do lucro privado de alguns indivíduos.
A destruição de todo este ecossistema não reflete a vontade do povo, mas sim de um único proprietário de terras. A alternativa contrária seria a preservação comunitária do espaço por meio da criação de uma Unidade de Conservação (UC), proposta construída coletivamente pelos movimentos sociais.
Caso fosse criada uma UC, a região poderia ser preservada e utilizada como forma de valorização cultural e meio de educação ambiental com turismo sustentável. Em primeiro lugar, este seria o único meio de combater as chuvas destrutivas que vêm assolando o povo local.
Além disso, diversos empregos qualificados e territorializados poderiam ser criados nas áreas de turismo, de biologia e de gastronomia local, além do incentivo às trilhas e aos esportes de caminhada. Esta é a proposta da ONG Ecobé (uma organização não governamental regional que luta há anos pela criação da Unidade de Conservação), que defende a proteção do local.
Por outro lado, o que a iniciativa privada está propondo para a região é o desmatamento, a destruição do solo, a poluição dos rios, a maior produção de lixo e o assassinato de um número incalculável de espécies nativas vegetais e animais.
“A luta pela preservação do Morro Gaúcho tem ocorrido tanto através de atos no próprio morro quanto nos corredores da Prefeitura, como também com o acionamento do Ministério Público. No entanto, o que acabamos percebendo é o aparelhamento da própria Prefeitura pelo setor privado, que tem interesse de lucrar com a construção de condomínios de luxo e com a destruição da fauna e da flora, uma vez que a Prefeitura já emitiu licenças e decretos que facilitaram o projeto”, conta Caroline Perez, militante da UP e membro da ONG Ecobé. Além disso, ela também denuncia que a imprensa patrocinada pelos ricos na região vem apoiando o projeto de destruição do Morro, divulgando notícias com interesse de manipular a opinião pública a respeito do assunto.
Graças às diversas mobilizações realizadas pelo povo, o Ministério Público (MP) demonstrou interesse em avaliar as várias irregularidades no projeto, como a aprovação relâmpago sem debate público, a supressão da mata em topo de morro em estágio avançado de restauração e o aumento do risco iminente de deslizamentos na região. Esta movimentação do MP não aconteceria se não fossem as manifestações públicas, o abaixo-assinado online, os dossiês técnicos e as solicitações formais organizadas pela ONG Ecobé, juntamente com a UP.
Somente com a luta e com a construção de uma sociedade que represente, de fato, os interesses e as necessidades da classe trabalhadora é que será possível proteger de fato nossa biodiversidade e a vida dos trabalhadores.
Contra a destruição da natureza! Pela proteção das nossas florestas!
O trabalho construído pelo MLB nos bairros populares é uma das melhores escolas de como o povo tem tudo a nos ensinar, e a construção de uma horta comunitária é um exemplo didático disso.
João Paulo TIZ | Florianópolis (SC)
LUTA POPULAR – O Alto-Pantanal é um dos locais de anos de atuação do Movimento de Luta nos Bairros, Vilas e Favelas (MLB), em Florianópolis, capital de Santa Catarina. Um morro tão íngreme que dificilmente automóveis conseguem subi-lo, construído majoritariamente de ocupações em área de risco por quem não tinha outra opção de moradia, cuja pavimentação das ruas, iluminação, e o pouco que há de saneamento básico – reivindicações históricas do bairro – foram feitos pelos próprios moradores que muito lutam em seu dia-a-dia. Um exemplo é o de dona Maria, que teve sua casa, na qual vivia desde criança, destruída por um deslizamento durante fortes chuvas em fevereiro deste ano. O MLB auxiliou no processo de mudança de dona Maria para uma casa ainda mais em cima no morro, cedida por outro morador da comunidade.
O bairro depende dessas mesmas chuvas para poder manter seu abastecimento de água nos encanamentos, que é racionado entre os moradores que precisam minimizar seu uso para não faltar antes que a próxima chuva encha as caixas d’água novamente. Com todas essas dificuldades, os moradores ainda precisam pagar altíssimos alugueis, potencializados pela especulação imobiliária nas regiões ao redor, chegando a R$1500 por mês. Assim, boa parte dos salários dos moradores se esvai já no início do mês e não sobra o suficiente para uma alimentação de qualidade.
Nessa realidade é que coube tomar como tarefa do núcleo do MLB do bairro a construção de uma horta comunitária no Alto-Pantanal, um trabalho que não seria possível sem a atuação dos moradores, ou seja, das massas. E de que forma essa atuação foi necessária? Quando começamos a pensar sobre a construção de uma horta, à primeira vista parece tão simples quanto cavar alguns buracos na terra e esperar que a natureza faça seu trabalho magicamente, mas à medida que passamos a planejar de forma material vemos que o buraco é mais embaixo. Os coordenadores nunca haviam feito o plantio de uma horta e em alguns momentos essa inexperiência nos imobilizou. Começamos pelas perguntas básicas: onde será construída? Com que sementes, materiais e ferramentas? Como se deve realizar o plantio? Quais os cuidados? E com que dinheiro?
Recorremos aos moradores do bairro. Já a primeira pergunta foi respondida quando um deles disponibilizou para o MLB parte de seu terreno com o objetivo de destinar à horta. Para as ferramentas, alguns moradores as emprestaram. Com isso, os primeiros mutirões de limpeza do local puderam ser realizados, contando com militantes do MLB, da Unidade Popular, da UJR e os próprios moradores do Alto-Pantanal. Ao longo desse período, o núcleo de Luta do MLB e apoiadores deram as direções sobre como preparar os canteiros e que materiais utilizar para melhorar a qualidade do solo.
Foi assim que no dia 9 de março foi inaugurada a Horta Comunitária do MLB no Alto-Pantanal, na qual foi realizada uma celebração com o plantio das primeiras mudas. Desde então, outras atividades têm sido planejadas no bairro e, para todas, os moradores dão as direções do que é possível fazer, desde o trabalho com madeira para construções, cuidados com o solo, cultivo de plantações, ferramentas, e mais. É através das brigadas, das panfletagens e das reuniões do núcleo de base que temos a oportunidade de conversar com o povo e que ele pode nos ensinar o vasto conhecimento que nos falta. Isso não significa que o trabalho na horta tenha sido resolvido e que não haja dificuldades, porém, graças a esse trabalho coletivo temos confiança para superá-las e construir uma grande luta contra a fome pelo bairro. Como já bem explicou Luiz Falcão: para realizar nosso trabalho com as massas é necessário estar no meio delas e pulsar no seu ritmo.
Essa é uma experiência simples, mas que faz lembrar de “Gonçalão”, personagem da trilogia Subterrâneos da Liberdade (Jorge Amado) que, situado no campo e sentindo falta de se reunir com seu partido para saber como construir a luta com os camponeses, conversa com eles e, a partir das reflexões que eles fazem, percebe que estava, na verdade, o tempo todo com seu partido: as massas camponesas e o próprio Gonçalão, que apenas precisava confiar e dirigir os camponeses.
É possível acabar com a fome
Se ainda nos for permitido sonhar, então sonhemos com um Brasil em que a fome não seja um problema. Adquirir alimento para toda uma família seria simples, já que não prevaleceria o individualismo nos dizendo que é errado começar a trabalhar em uma terra improdutiva só porque ela “tem dono”, ou que distribuir comida é “ruim para a economia”. Em vez disso, haveria a convicção de que toda comida que produzimos deve ser destinada ao povo através de, por exemplo, restaurantes populares, abastecidos com alimentos produzidos nas mais diversas hortas espalhadas pelos bairros e mantidas por seus próprios moradores.
Enquanto para muitos que veem o Brasil de agora isso parece uma utopia, nós, comunistas, sonhamos com os pés no chão e sabemos que essa sociedade é possível. Não à toa, é precisamente essa a descrição que a vietnamita Nguyen Luna, conhecida pelo seu canal “Luna Oi”, dá sobre seu país: há hortas comunitárias em todo lugar, e que “se há terra vazia em uma vila ou estrada, as pessoas apenas vão lá, plantam seus vegetais e os compartilham juntos”.
Então, como bem disse Che, façamos mais Vietnãs, traçando a luta contra a fome como uma tarefa coletiva e tendo como exemplo esse processo que deu origem à Horta Comunitária do MLB do Alto-Pantanal, replicando-o incessantemente através do aprendizado com o espírito prático de nosso povo.
Com letras que exaltam a ancestralidade e a força do povo negro, o Ilê Aiyê continua a ecoar resistência e a arrastar multidões nas avenidas de Salvador.
Fênix Boa Morte e Augusto Matheus | Salvador (BA)
CULTURA – O Ilê Aiyê é o primeiro bloco afro de carnaval do Brasil, do iorubá significa Nossa Casa ou Nossa Terra. O grupo formado em 1 de novembro de 1974, na Ladeira do Curuzu, no bairro da Liberdade em Salvador, revolucionou o carnaval baiano, trazendo o protagonismo negro através da valorização da beleza afro-brasileira, uso de tecidos e adereços de matriz africana, presença do ritmo percussivo dos terreiros de candomblé num momento em que os blocos tradicionais não admitiam pessoas negras em suas fileiras.
O grupo foi fundado com inspiração nos movimentos de luta dos negros por direitos civis, Black Power e Panteras Negras dos Estados Unidos, e também as guerras de libertação contra o imperialismo que aconteciam no continente africano. Houve uma tentativa de registrar o bloco com o nome Poder Negro, porém a polícia federal impediu por acreditarem ser negativo, tratava-se do período da ditadura militar fascista em nosso país.
Em 1975, no primeiro desfile, contando com 100 pessoas, o Ilê foi escoltado pela polícia, sendo considerados rebeldes e subversivos, visto que o uso de adereços de matriz africana e penteados afros eram reprimidos, chegando ao nível de agressões e prisões. A resistência do Ilê desafiou a ditadura militar e o apartheid velado que existia naquele momento. Inspirou o surgimento de diversos blocos afro nos anos seguintes, como o Olodum, Muzenza, Malê Debalê, etc.
Com diversas ações sociais na Liberdade – um dos bairros mais populosos e negros da cidade – o bloco que por muito tempo foi sediado dentro do terreiro Ilê Axé Jitolu, possui uma profunda relação com a comunidade, movimentando a economia do bairro, formando a sua juventude e apresentando uma perspectiva de vida para além da violência oferecida pelo Estado.
O Ilê Aiyê, em seus 50 anos de existência, cumpriu um papel que as escolas e a mídia burguesa por muito tempo tentaram esconder. Com letras que contam a história do continente africano e exaltam a força e as lutas do povo negro, o bloco ascendeu a autoestima de uma população explorada e oprimida, que pôde se reconhecer enquanto herdeiros de um povo livre.
É impossível não se encantar ao ver o Ilê saindo da periferia e tomando a avenida todo ano durante o carnaval, não apenas pela beleza de seus instrumentos e vestes, mas pela multidão de pessoas que o Mais Belo dos Belos arrasta cantando músicas que são verdadeiras palavras de ordem. Da ditadura aos dias de hoje, o Ilê Aiyê é um verdadeiro movimento de massas para inspirar os revolucionários.
“Olha, que bloco é esse? Eu quero saber É o mundo negro Que viemos mostrar pra você”