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sábado, 16 de agosto de 2025
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Governo de Israel extermina palestinos e bombardeia Irã

O Estado de Israel mantém, há mais de 620 dias, um verdadeiro genocídio que já matou mais de 60 mil palestinos na Faixa de Gaza.

Felipe Annunziata e Rafael Freire | Redação


EDITORIAL – São mais de 620 dias de genocídio do povo palestino na Faixa de Gaza. Apesar disto, os governos capitalistas e imperialistas do mundo assistem calados ou mesmo apoiam o extermínio de crianças, mulheres, idosos, enfim, de famílias inteiras.

A “nova tática” do governo neonazista de Israel é oferecer “ajuda humanitária” aos palestinos em centros controlados por uma empresa privada estadunidense disfarçada sob o nome de Fundação Humanitária de Gaza (GHF), enquanto abrem fogo indiscriminadamente contra a população faminta e mutilada física e emocionalmente.

Em apenas um dia, 11 de junho, os mercenários de Donald Trump e Benjamin Netanyahu assassinaram 80 palestinos em Gaza, sendo 57 mortos enquanto buscavam comida. Nesses “centros de distribuição”, os palestinos são tratados da mesma forma como os judeus eram tratados pelos nazistas nos campos de extermínio da Europa na 2ª Guerra Mundial.

“Não quero que meu pai morra, não quero que ele se vá! Acabou! Não haverá mais um sorriso! Papai foi buscar algo para comermos e estava levando mais pessoas para buscar comida. Estamos famintos há três meses”, falou numa rede digital a filha de Khaled al-Daghma, assassinado na fila da fome. “A comida virou uma oportunidade para matar. Nunca ouvi falar de tal coisa”, afirmou em entrevista à rede Al Jazeera o ex-chefe de ajuda humanitária da ONU, Martin Griffiths.

Israel segue com bombardeios a casas com famílias inteiras dentro e o bloqueio total da entrada de comida e água, que começou em março. Já são mais de 60 mil mortos, 140 mil feridos e dezenas de milhares de desaparecidos. Toda população da Faixa de Gaza se encontra abaixo da linha da miséria, em situação de fome, sem-teto, sem sistema de saúde, educação, saneamento e água. Mesmo com tudo isso, a resistência palestina continua firme e o povo de se recusa a sair de seu território.

Em cima do muro?

Alguns importantes países, como o Brasil, adotam uma posição totalmente contraditória em relação ao extermínio em Gaza. O presidente Lula condena publicamente o genocídio: “O que está acontecendo em Gaza não é uma guerra, é um genocídio de um exército altamente preparado contra mulheres e crianças. É contra isso que a humanidade tem que se indignar”, afirmou Lula durante recente visita à França. Porém, só neste ano, as exportações de petróleo cru do Brasil para Israel cresceram 309%, segundo o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio. Além disso, nosso país continua a vender aço e alimentos usados pelas Forças Armadas israelenses para manter sua máquina de morte.

Seria uma posição “em cima do muro”? O problema é que não existe muro faz tempo. Mais de 80% de todas as construções da Faixa de Gaza já foram destruídas pelas bombas estadunidenses lançadas pelos assassinos israelenses. O Governo Lula deveria, imediatamente, romper com qualquer relação diplomática e econômica com o Estado de Israel.

Mas essa conivência não é apenas do governo brasileiro. Outros países adotam a mesma postura hipócrita. A China, a segunda potência imperialista do mundo, foi a maior exportadora de produtos para Israel em 2024, com um comércio de US$ 19 bilhões por ano, mais que o dobro do valor do comércio feito pelos EUA, o principal aliado ideológico e militar israelense. Os chineses mandam, entre outros produtos, metais utilizados na produção de equipamentos militares.

Além desses países que condenam o genocídio, os aliados tradicionais de Israel (o imperialismo estadunidense e europeu) continuam a mandar bilhões de dólares em armas e equipamentos para o Estado nazi-sionista. Segundo pesquisa da Revista Foreign Affairs, Israel recebeu mais de U$ 220 bilhões em ajuda militar desde que foi criado, em 1948. Hoje, toda tecnologia israelense é derivada dos armamentos fornecidos pelos EUA, e o regime sionista depende extremamente do fornecimento contínuo de munições, armas e inteligência por parte dos Estados Unidos. Na prática, Israel é um regime que obedece aos comandos militares do Pentágono, como demonstra o caso da agressão militar contra o Irã.

Essa situação confirma o que o revolucionário russo Vladimir Lênin afirmou, em 1916, em sua obra Imperialismo, fase superior do capitalismo: “O capitalismo transformou-se num sistema universal de subjugação colonial e de estrangulamento financeiro da imensa maioria da população do planeta por um punhado de países ‘avançados’. A partilha deste ‘saque’ se efetua entre duas ou três potências gananciosas, armadas até os dentes, que dominam o mundo e arrastam todo o planeta para a sua guerra pela partilha do seu saque”.

Israel ataca Irã

O Estado assassino de Israel espalha sangue pelo Oriente Médio. Não satisfeito em cometer um genocídio contra o povo palestino, além de já ter bombardeado Síria, Líbano e Iêmen, o neonazista Netanyahu ordenou, em total acordo com Trump, bombardeios contra o Irã a partir do dia 12 de junho, com apoio dos serviços de inteligência e auxílio militar do Reino Unido e dos Estados Unidos.

Segundo o portal de notícias Middle East Eye, que faz cobertura jornalística do Oriente Médio, os EUA entregaram secretamente centenas de mísseis guiados a laser a Israel pouco antes do ataque ao Irã. A entrega de aproximadamente 300 mísseis de alta precisão ar-terra Hellfire teria sido confirmada por duas autoridades estadunidenses que forneceram a informação sob condição de anonimato.

Os governos israelense e estadunidense, em alinhamento com os monopólios burgueses de imprensa, acusam o Irã de produzir a bomba atômica – coisa que os EUA têm aos milhares em seu arsenal. Na prática, é uma guerra para subjugar o povo iraniano e roubar suas riquezas, como petróleo e gás natural. O Irã tem a quarta maior reserva de petróleo do mundo e a terceira maior de gás natural.

Os ataques atingiram instalações nucleares na região de Isfahan, no centro do Irã, e também blocos residenciais, além de um hospital em Kermanshah, no oeste do país. Segundo os serviços de saúde iranianos, até o fechamento desta edição (16/06), mais de 220 pessoas foram mortas nos bombardeios, sendo pelo menos 70 mulheres e crianças. Entre os mortos, também estavam alvos selecionados, como cientistas e membros do alto-comando militar iraniano.

Junto com os ataques aéreos, o regime sionista colocou em atividade dezenas de agentes da organização terrorista de espionagem Mossad para atacar cidades iranianas com carros-bomba, drones e a sabotagem do sistema de energia e distribuição de água para a população.

Apesar de toda esta campanha, as Forças Armadas iranianas mostraram capacidade de resposta e iniciaram uma campanha de bombardeio contra instalações israelenses. Até agora, os iranianos conseguiram destruir armazéns de combustíveis e atacar o porto de Haifa e bases militares de Israel. Os mísseis iranianos também atingiram blocos de apartamentos onde se encontravam baterias anti-aéreas israelenses. Até agora, os ataques deixaram ao menos 16 pessoas mortas. Não é possível saber a real extensão dos danos causados pelos mísseis iranianos devido à censura militar imposta pelo governo de Israel à imprensa local.

Segundo informações divulgadas pela grande mídia, existem mais de 1,5 milhão de bunkers (esconderijos subterrâneos) no território israelense para abrigar a população em caso de ataques. Mais uma prova de que a lógica armamentista faz parte da ideologia do regime sionista, sempre disposto a atacar as nações do Oriente Médio e a tomar mais terras da Palestina Histórica para implantar novos assentamentos de colonos judeus.

Povos do mundo em defesa de Gaza

Diante de tamanha atrocidade, os povos do mundo têm se levantado em defesa da causa palestina. No dia 10 de junho, milhares de argelinos e tunisianos se uniram na “Caravana Sumud” (“resiliência, resistência”, em árabe) e se dirigiram em direção à fronteira do Egito com a Faixa de Gaza. Cruzando três países, os manifestantes pretendiam romper o bloqueio e garantir a entrada de ajuda humanitária aos palestinos, mas foram reprimidos por forças policiais do governo egípcio.

Na Europa, os atos com dezenas de milhares de pessoas continuam a pressionar os governos a romperem com Israel. Cidades como Haia, Paris, Londres e Madrid têm manifestações semanais. Nos EUA, mesmo sob a censura e perseguição do Governo Trump, a juventude continua a se levantar contra o genocídio, combinando com os atos contra a política racista anti-imigrante (ver página 11) vigente no país.

No Brasil, o maior ato em defesa do povo palestino ocorreu em São Paulo, no último dia 15, reunindo mais de 35 mil pessoas. Mais de uma dezena de cidades brasileiras registraram manifestações em defesa do povo palestino.

Neste mês, houve ainda a ação da Flotilha da Liberdade, com tripulantes de várias nacionalidades, incluindo o brasileiro Thiago Ávila. Eles tentaram levar comida e água para Gaza, mas foram sequestrados pelo Exército israelense, torturados e presos nas masmorras sionistas. Posteriormente, a maioria foi solta, mas ainda há três pessoas detidas ilegalmente.

É preciso fortalecer a campanha de solidariedade no Brasil. Diante da falta de atitude do governo brasileiro contra o extermínio palestino, é urgente levantar bem alto a bandeira da libertação da Palestina e exigir respeito à soberania do povo palestino, com seu direito a organização de um Estado próprio.

Editorial publicada na edição impressa  nº314 do jornal A Verdade

Malcolm X: 100 anos de um revolucionário

No dia 19 de maio de 2025, completou-se o centenário de nascimento de Malcolm X, líder negro que marcou a história com sua luta contra o racismo e ao capitalismo nos Estados Unidos.

Queops DamascenoSalvador (BA)


HERÓIS DO POVO – No dia 19 de maio de 2025, comemoramos o centenário de nascimento de Malcolm X, nome pelo qual ficou conhecido o militante revolucionário El-Hajj Malik El-Shabazz. Sua vida, marcada pela rebeldia e a indignação daqueles que buscam a transformação política, representa um capítulo fundamental na história da luta do povo negro, não só nos Estados Unidos, mas no mundo. Malcolm lutou contra o racismo e o capitalismo, e revelou suas raízes em pleno coração da principal potência imperialista, os EUA.

“Estou aqui para vos dizer que acuso o homem branco. Acuso-o de ser o maior assassino da Terra. Acuso-o de ser o maior raptor da Terra. Acuso-o de ser o maior ladrão e escravizador da Terra!… Ele não pode negar as acusações… somos delas a prova viva! Vós e eu somos a prova. Não sois americanos, sois vítimas da América! Vocês não escolheram vir… Terem nascido aqui não vos torna americanos. Tu e eu não somos americanos. Tu és um dos 22 milhões de pretos vítimas da América. Tu e eu nunca vimos a democracia. Não vimos democracia nos campos de algodão da Geórgia. Lá não há democracia. Não vimos democracia no Harlem, Brooklyn, Detroit, Chicago. Não, nunca vimos a democracia. Não vimos mais do que hipocrisia. Não vimos qualquer ‘sonho americano’. Só experimentamos o pesadelo americano”. Eis o pensamento de Malcolm X, que acusava brancos capitalistas como responsáveis por toda a tragédia da vida do povo negro explorado e oprimido.

Infância e adolescência

Nascido em Omaha, Nebraska, em 1925, Malcolm veio ao mundo em uma época de dura repressão racial. Seu pai, Earl Little, era pastor e ativista do movimento liderado por Marcus Garvey, que pregava o nacionalismo negro e o retorno dos afro-americanos à África. Earl era um crítico feroz da opressão e, quando Malcolm tinha apenas seis anos, sua casa foi incendiada pelo grupo supremacista branco Ku Klux Klan. Dias depois, seu pai foi brutalmente assassinado: espancado, linchado e jogado nos trilhos de um bonde. O impacto dessa violência marcaria para sempre a vida do menino.

Sua mãe, Louise Little, também foi vítima do sistema. Era uma mulher negra de pele clara, resultado do estupro de sua mãe por um homem branco. Após a morte do marido, sofreu um colapso mental e foi internada em um hospital psiquiátrico, onde permaneceu por 26 anos. Os filhos foram separados e enviados a lares adotivos. Malcolm, ainda jovem, passou a rejeitar sua própria pele um pouco mais clara, pois a associava à violência sexual sofrida pela avó. Esse traço do racismo não deixava somente uma herança de luta social, mas também uma mancha íntima, familiar, profunda.

Apesar dos traumas, ele se destacava na escola. Era o melhor aluno da sala e foi eleito representante da turma. Mas, quando disse que queria ser advogado, ouviu de seu professor branco que essa não era uma profissão “realista” para um garoto negro. “Seja carpinteiro, como seu pai”, foi o conselho. Rejeitado e frustrado, abandonou a escola e mergulhou na vida das ruas.

Na juventude, passou por Boston e Nova York, onde trabalhou como engraxate em casas noturnas e conheceu o submundo do Harlem, o tráfico e a prostituição. Mas acabou se envolvendo com duas mulheres brancas que roubavam casas. Quando foi preso em um desses roubos, ele e seu amigo negro, Shorty, receberam uma pena de dez anos, enquanto as mulheres brancas foram condenadas a menos de dois. O crime, para a justiça racista americana, não era apenas roubo: era se relacionar com mulheres brancas.

Foi na prisão que Malcolm teve seu primeiro contato com a Nação do Islã, organização religiosa que pregava que o homem negro era o ser original da Terra e que o branco era o demônio histórico. Através de cartas e livros, Malcolm reconstruiu sua identidade. Ao sair da prisão, em 1953, rejeitou seu “sobrenome de escravo” e passou a se chamar Malcolm X – o “X” simbolizava o nome africano perdido.

Sua militância dentro da Nação do Islã foi vertiginosa. Tornou-se o principal porta-voz do grupo por conta de sua disciplina com os estudos e sua oratória imbatível. Fazia uma crítica feroz ao racismo, construindo mesquitas por todos os EUA e fundando o jornal Muhammad Speaks. Multiplicou o número de membros da organização: de 400 para mais de 40 mil em pouco mais de uma década. Defendia o separatismo negro, a autodefesa e denunciava abertamente a hipocrisia liberal dos brancos. Não via sentido em marchas pacíficas que pediam integração com quem sempre oprimiu.

Ao contrário do “sonho americano”, Malcolm apresentava a realidade americana: fome, desemprego, prisões em massa, violência policial e marginalização dos guetos negros. No Harlem, mobilizou multidões, denunciou o Estado e apontou caminhos de organização. Seu compromisso com a luta era profundo: mantinha um rigor ético e religioso, ou melhor, político-ideológico, que o impedia de ter qualquer bem em seu nome.

Avanço na consciência

Em 1963, a relação com a Nação do Islã começou a ruir. Malcolm descobriu que Elijah Muhammad, o líder da organização, tinha filhos com diversas secretárias jovens e se recusava a assumir publicamente a paternidade. Ao perceber a hipocrisia interna e o autoritarismo do grupo, passou a ser silenciado. Foi suspenso, vigiado e expulso.

A decepção com a elite negra da Nação do Islã, que acumulava riquezas e negócios enquanto o povo negro seguia na miséria, levou Malcolm a repensar profundamente sua militância. Em 1964, rompe com a organização e viaja para a África e o Oriente Médio. Em Meca, realiza a peregrinação islâmica e adota o nome El-Hajj Malik El-Shabazz. Lá, entra em contato com uma diversidade de muçulmanos, superando o separatismo racial e se aproximando de uma visão revolucionária mais ampla, ligada aos processos de libertação africanos, à luta contra o imperialismo e ao socialismo.

Reuniu-se com líderes como Kwame Nkrumah, em Gana, homenageou as Revoluções Chinesa e Cubana, e foi celebrado por ter recebido Fidel Castro no Harlem, quando este foi excluído de uma reunião da ONU em Nova York. Fundou a Organização da Unidade Afro-Americana (OUAA), uma entidade laica, aberta a pessoas negras de todas as religiões, voltada para a construção da unidade do povo negro em torno da justiça, da autodeterminação e da luta contra o sistema capitalista.

Malcolm passou então a defender abertamente a união entre os povos oprimidos e o uso de “todos os meios necessários” para destruir o sistema de opressão. Essa nova postura o colocou na mira do FBI, da CIA, da polícia de Nova York, de grupos racistas e até de setores oportunistas do próprio movimento negro. A repressão se intensificou. A casa onde morava foi incendiada.

No dia 21 de fevereiro de 1965, aos 39 anos, Malcolm X foi assassinado diante de centenas de pessoas durante uma palestra no Harlem. Três homens dispararam dezenas de tiros. Um deles, Talmadge Hayer, foi preso no local. Outros dois sujeitos foram condenados como bodes-expiatórios. Mesmo após Hayer revelar os verdadeiros autores – membros da mesquita de Newark da Nação do Islã – o caso nunca foi reaberto. O principal assassino, William X Bradley, viveu impune até 2018, quando faleceu de causas naturais.

O assassinato de Malcolm foi um crime político, resultado direto da aliança entre setores do Estado norte-americano, FBI, elites negras e organizações religiosas comprometidas com a manutenção da ordem. Malcolm foi morto porque ousou denunciar o racismo como parte estrutural do capitalismo. Como ele mesmo afirmou: “Não há capitalismo sem racismo”.

Mas sua morte não foi em vão. Um ano depois, em 1966, nasceu o Partido dos Panteras Negras, organização marxista-leninista que levou adiante muitas das ideias defendidas por Malcolm: autodefesa, organização comunitária, crítica ao sistema capitalista, combate à violência policial e solidariedade internacional. Os Panteras transformaram as ideias de Malcolm em ação revolucionária.

Agora, no centenário do seu nascimento, Malcolm X segue vivo nas lutas que enfrentam o racismo e o capitalismo, a exploração do trabalho, a marginalização das periferias e o genocídio da juventude negra. Seu legado é um chamado à luta e à resistência. Ele não foi apenas um líder religioso ou um crítico social. Foi um revolucionário de verdade, um homem que se transformou para colocar todas as suas energias e, inclusive sua própria vida, à disposição da luta pelo fim da exploração capitalista, sempre colocando o povo negro no centro.

Sua vida nos ensina que não basta querer inclusão em um sistema que nos oprime. É preciso derrubar esse sistema. E isso só será possível com muita organização e com a revolução!

Matéria publicada na edição impressa  nº314 do jornal A Verdade

Notas para a história do PCR – 1ª parte

Pelo motivo dos 59 anos de fundação (1966) e 30 anos de reorganização (1995)   

“A luta interior dá vigor e vitalidade ao Partido: o Partido reforça-se depurando-se”  (Carta de Lassale a Marx, em 24 de junho de 1852)

Edival Nunes Cajá | Comitê Central do PCR


PARTIDO – O movimento comunista nasceu, desenvolveu-se e conquistou gigantescas vitórias enquanto seguiu praticando, sem reservas, o elevado princípio comunista da luta interna no interior do Partido e da III Internacional. Esta luta está documentada de forma magistral nas obras de Lênin “Que fazer?” e “A revolução proletária e o renegado Kautsky”.

A nossa luta, a luta dos comunistas revolucionários, para ser vitoriosa na sociedade terá de vencer também a luta política e ideológica nas nossas próprias fileiras contra as manifestações do reformismo, revisionismo, liquidacionismo e do oportunismo de direita e de esquerda. Para vencê-la, Lênin teve de combater e derrotar estas concepções então defendidas por Martov, no 2º Congresso do POSDR (1903), e por Kautsky, na II Internacional (1913), na luta pela construção do Partido e da revolução proletária, enquanto teve de fazer avançar a luta para derrubar o governo antipovo do Czar, a burguesia e os latifundiários da Rússia.

No Brasil, no início dos anos 1960, Manoel Lisboa, como marxista-leninista, ergueu a bandeira vermelha da revolução proletária socialista nas fileiras do PCB até 1962, quando se deu o esgotamento da luta interna contra o reformismo, o revisionismo, o liquidacionismo, e juntou-se a Amaro Luiz de Carvalho, Diógenes Arruda, Maurício Grabois, Carlos Danielli, Valmir Costa, Lincoln Oest e Selma Bandeira para a reorganização do Partido, uma vez que o CC não foi capaz de corrigir aquele desastroso rumo, de fazer autocrítica e de manter a unidade do Partido. Por isso, surgiu o PCdoB em 1962.

Recuperada a coesão interna, Manoel se dedicou ao desenvolvimento do trabalho de massas em Alagoas, como a forma mais consequente de combater a extrema-direita, de enfrentar o fascismo e as forças golpistas, fazendo avançar o Partido e a luta de massas, bem como sua combatividade, sua consciência política, preparando, assim, as condições subjetivas para possibilitar o triunfo da revolução popular no auge daquela situação pré-revolucionária.

Documentos históricos e depoimentos de quem viveu aqueles turbulentos dias podem comprovar o crescente ascenso do movimento de massas e do desgaste político das classes dominantes, em consequência de vitoriosos enfrentamentos de massas, desde as eleições presidenciais de 1960 até 1º de abril de 1964. O ápice do acirramento da luta de classes faz crescer as greves econômicas e políticas, os conflitos e mortes, principalmente no campo, como o covarde assassinato do líder das Ligas Camponesas da Paraíba, João Pedro Teixeira, em 02 abril de 1962, e a brutal execução de cinco camponeses cortadores de cana da usina Estreliana, no Município de Ribeirão (PE), em janeiro de 1963, quando reivindicavam seu 13º salário. Este caso foi encerrado sem ninguém ser preso, o que estimulou a greve geral de cerca de 250 mil trabalhadores da cana e das usinas, no final daquele ano.

Nas capitais e grandes cidades, eclodiam greves e passeatas dos operários sob a liderança do Comando Geral dos Trabalhadores (CGT) e dos estudantes liderados pela União Nacional dos Estudantes (UNE) e pela União Brasileiras dos Estudantes Secundaristas (Ubes).

O Governo dos EUA articula os representantes políticos dos grandes monopólios nacionais e estrangeiros, o Exército Brasileiro, a imprensa, a Igreja e o Congresso Nacional para derrubar o governo do presidente João Goulart por meio de um golpe militar. É dia 1º de abril de 1964. O golpe de Estado está consumado. O governo Jango é derrubado, sem a resistência do seu dispositivo militar. O governo retira-se do campo de batalha sem se entrincheirar, sem lutar.

Os militares que defendiam a legalidade, que queriam resistir, foram presos. A greve geral convocada pelo CGT para a defesa do governo, fracassou, com a prisão de seus líderes. A maioria dos dirigentes das Ligas Camponeses foi presa ou assassinada sob torturas. As lideranças estudantis foram presas, com intervenção do Exército nas universidades. Os parlamentares de esquerda foram cassados e professores, como Paulo Freire e Josué de Castro, exilados.

Somente em agosto de 1964, o CC do PCdoB lança o seu primeiro panfleto contra a ditadura propondo criar “uma frente ampla, com toda a população brasileira contra o imperialismo norte-americano”. Manoel Lisboa, indignado e decepcionado, chegou à dolorosa conclusão de que o PCdoB também não tinha capacidade para comandar a revolução brasileira. Com urgência, mas sem perder a serenidade, procura Amaro Luiz de Carvalho para uma avaliação dos últimos fatos, a omissão da direção do Partido, a amplidão da frente. Decidem procurar o CC, prevendo uma nova luta interna quanto ao rumo da luta pela derrubada da ditadura e da revolução no Brasil.

Naquela reunião, no Rio de Janeiro, foram apresentadas as seguintes propostas para sanear o imobilismo e o isolamento: fazer a autocrítica da ausência da direção na região Nordeste e do não enfrentamento ao golpe; deslocamento de um quadro do CC para a região; a retomada do jornal do CC, com uma cota regular para a região ou a autorização e as condições materiais para a fazer um jornal como órgão central da direção do Partido no Nordeste. No entanto, a situação ficou mais grave ainda quando o CC anunciou ter chegado a uma definição quanto à região prioritária para iniciar a resistência à ditadura militar e desenvolver a revolução popular. Sendo assim, a concentração dos quadros e dos recursos deveria ser para essa região, a região da selva amazônica.

A partir desta reunião, desenvolve-se uma dura luta interna, que se estende desde agosto de 1964 até maio de 1966, quando aquela crise amadurece e leva Manoel, Amaro Luiz de Carvalho, Valmir Costa, Selma Bandeira, entre outros camaradas, a convocar um congresso para fundar um novo Partido verdadeiramente comunista e revolucionário, capaz de organizar as massas proletárias para fazer a revolução brasileira, guiando-se pelos princípios do marxismo-leninismo.

“O conteúdo político do oportunismo e do social-chauvinismo é o mesmo: a colaboração de classe, a renúncia à ditadura do proletariado, a renúncia às ações revolucionárias, o reconhecimento, sem reservas, da legalidade burguesa, a falta de confiança no proletariado, a confiança na burguesia.” Lênin – Obras Completas, t. 27. janeiro de 1916).

O 1º Congresso do PCR aconteceu sob rígidas normas da clandestinidade, em Recife, uma cidade praticamente sitiada pelo Exército, em maio de 1966, com a presença de nove delegados, onde se discutiu e aprovou o nome do Partido, a Carta de 12 Pontos e a profissionalização de seus três principais dirigentes, com dois principais objetivos: organizar as massas proletárias nos seus sindicatos e num verdadeiro partido comunista revolucionário para derrubar a ditadura militar e para construir um Governo Revolucionário, que defendesse a soberania nacional, rompesse todos os contratos leoninos da ditadura e expulsasse o imperialismo, com o objetivo de pôr fim ao regime de exploração do homem pelo homem e praticar a solidariedade com os povos em luta contra o imperialismo.

Com audácia e ousadia nas lutas pela derrubada da ditadura, os comunistas revolucionários logo conquistaram o respeito e a admiração do proletariado consciente, dos camponeses e dos estudantes das grandes cidades do Nordeste, pela coragem política, coesão ideológica e disciplina férrea, forjadas na luta e na vontade única de fazer a revolução popular no Brasil.

Essa admiração era também decorrente da constante agitação política, com ações de propaganda revolucionária inovadoras, impactantes, ousadas. Como exemplo, é justo relatar a experiência realizada em 7 de setembro de 1970, o ano de maior euforia da ditadura, com a vitória da seleção brasileira de futebol na Copa do Mundo do México. Haja ufanismo com o objetivo de enebriar as massas e abafar o grito dos torturados!

A direção do Partido designou um destacamento armado para tomar de assalto o maior caminhão-furgão da Companhia de Industrialização de Leite de Pernambuco (Cilpe), que saía do portão da fábrica, no término da madrugada, carregado de sacos de leite pasteurizado para abastecer as grandes padarias do centro da cidade. O motorista, ao ser rendido, aceitou o redirecionamento da carga para ser distribuída nas duas maiores favelas de Recife, Coelhos e Coque, onde cada família recebeu dois sacos de leite e um panfleto do PCR explicando o motivo daquela ação de expropriação. Como o Partido tinha trabalho político naquelas duas comunidades, foi possível ter rapidez e segurança na distribuição, acompanhar a repercussão e capitalizar o resultado favorável.

Com crescente influência na classe operária urbana, nos operários agrícolas dos canaviais e na intelectualidade progressista, a ditadura militar decidiu estabelecer operações de cerco e aniquilamento do PCR, por meio do seu feroz aparato de repressão política instalado em São Paulo para atuar com o IV Exército em Pernambuco. Foram três covardes ataques, “Operações” que partiram do topo da cadeia de comando da repressão política, tendo à frente o general ditador-presidente da República, Emílio Garrastazu Médici (1969-1974), passando pelo ministro do Exército à Operação Bandeirantes (Oban), depois, DOI-Codi, e Ernesto Geisel (1974-1979), que deu sequência ao criminoso objetivo de eliminar o PCR, realizando a primeira Operação de novembro 1969 a agosto de 1971, a segunda, de fevereiro de 1973 a agosto de 1974, e a terceira de 1º de abril ao final de junho de 1978.

Todas essas três tentativas foram em vão. Manoel Lisboa havia formado um Partido indestrutível, de tipo bolchevique, para fazer a revolução no Brasil. O trabalho clandestino do Partido respondia a cada ataque da ditadura com ações revolucionárias junto à massa, panfletagens na porta das grandes fábricas, nas universidades, com bombas-panfletos nas paradas e terminais de ônibus e grandes pichações nos muros e paredes: ABAIXO A DITADURA MILITAR! VIVA A REVOLUÇÃO! O PCR VIVE E LUTA!

Matéria publicada na edição impressa  nº314 do jornal A Verdade

Estudantes da UFSC inauguram Sala Lilás em defesa da vida das mulheres

Estudantes e integrantes do Movimento de Mulheres Olga Benario ocuparam, em 30 de abril, uma sala abandonada no Centro de Convivência da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), em Florianópolis.

Sofia Garcia | Florianópolis (SC)


MULHERES – No dia 30 de abril, o Movimento de Mulheres Olga Benario e estudantes da Universidade Federal de Santa Catarina ocuparam uma sala abandonada do Centro de Convivência da UFSC, em Florianópolis. O ambiente, que estava servindo de depósito de cadeiras, agora é um espaço para organização das mulheres estudantes contra a violência e o assédio na Universidade.

A situação de segurança das mulheres na universidade é alarmante. A falta de iluminação no campus Trindade, somada à ausência de políticas de segurança voltadas para a permanência das estudantes, tem aumentado os casos de assédio e de violência. No dia 18 de março, um homem foi preso por ter cometido, entre outros crimes, uma tentativa de estupro contra uma estudante da UFSC em plena luz do dia.

O ocorrido gerou grande comoção dentro e fora da universidade e, no mesmo dia, a Agência de Comunicação da UFSC soltou uma nota afirmando que não havia tido nenhuma tentativa de estupro. Dias depois, a nota foi apagada. Logo após o caso, estudantes criaram um grupo de WhatsApp para que mulheres se acompanhassem por trajetos do campus à noite. Em pouco tempo, o grupo chegou a mais de 900 participantes, que diariamente compartilham novos relatos de assédios e abusos sofridos dentro da instituição.

Essa sequência de casos fomentou a revolta em centenas de estudantes, que se mobilizaram para denunciar não só a violência, mas a omissão da Reitoria diante dessa situação calamitosa. Assim, o grupo organizou um ato, no dia 21 de março, exigindo respostas, além de mais iluminação e contratação de mais profissionais da segurança.

Ao ocupar a sala, um espaço central no campus, as estudantes fizeram uma grande limpeza, organizando também o ambiente do prédio como um todo. Na primeira hora de abertura da sala, mulheres trabalhadoras terceirizadas do Restaurante Universitário nos procuraram para denunciar pagamentos atrasados e as condições de insalubridade no serviço. A denúncia culminou na organização das trabalhadoras em frente à Sala Lilás, em uma plenária que dirigiu um ato até o gabinete da Reitoria e, no dia seguinte, no Dia Internacional dos Trabalhadores e Trabalhadoras, 1º de Maio, as mulheres conquistaram seus pagamentos.

Em um mês de atividade, as trabalhadoras e estudantes, junto com o Movimento Olga Benario, realizaram cine-debates, sarau, grupo de estudos e um curso de instalação elétrica para mulheres. Além disso, o espaço vem cumprindo seu propósito de organizar lutas e articular-se com coletivos como o de mães estudantes da UFSC, de pessoas com deficiência, de mulheres do curso de Direito e diversos Centros Acadêmicos.

Provando que somente a luta conquista, a Sala se tornou aquilo que as estudantes mais precisavam: um espaço seguro de apoio para estudantes, mães, trabalhadoras e, principalmente, um lugar para organizar as mulheres na luta pelo fim da violência de gênero na UFSC. Nas reuniões abertas da sala, as estudantes debatem os próximos passos das lutas das mulheres na universidade, construindo através do poder popular uma universidade em que as estudantes podem se formar sem medo e com dignidade.

Matéria publicada na edição impressa  nº314 do jornal A Verdade

Moradores lutam contra despejo em Almirante Tamandaré (PR)

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Cerca de 175 famílias de Almirante Tamandaré, região metropolitana de Curitiba lutam contra o despejo. Ação é promovida pela COPEL, Companhia Paranaense de Energia, privatizada recentemente pelo governo de Ratinho Jr.

MLB PR


LUTA POPULAR – Após serem ameaçadas de despejo pela COPEL, Companhia Paranaense de Energia, cerca de 175 famílias do bairro São Jorge, em Almirante Tamandaré na região metropolitana de Curitiba se mobilizaram um ato em frente à prefeitura. O ato denunciou o descaso do governo e da empresa com a situação das família. Além disso, conquistou a suspensão das demolições das casas por 60 dias.

Desde 2020, a COPEL tem um projeto de expandir sua rede, mas ele só avançou após a privatização da empresa. Durante o processo de despejo em Almirante Tamandaré, o governo de Ratinho Jr trabalhou para omitir os prejuízos financeiros à COPEL e à imagem do governador, que desabriga centenas de famílias trabalhadoras pobres, em sua maioria, idosos e crianças.

Luta contra o despejo

Somente 33 famílias receberam a notificação com antecedência sobre a “irregularidade” de seus terrenos. Estas famílias poucas famílias conseguiram um acordo que promete a assistência da Companhia Paranaense de Habitação (COHAPAR) em convênio com a COPEL para que serem realocadas e receberem novas moradias.

Porém, o governo têm submetido a grande maioria delas ao constrangimento de promessas vazias. Com a privatização da COPEL em agosto de 2023 a companhia de energia simplesmente decidiu não cumprir o acordo firmado. A COHAPAR, ao invés de notificar as famílias e tentar um novo acordo, suspendeu as reuniões de conciliação. Por isso, a última reunião ocorreu exatamente no mês da conclusão da privatização.

Demolição não respeitou nem idosos

O caso só voltou à tona em 15 de julho de 2025, quando a COPEL demoliu três casas no bairro. Os moradores relataram que tiveram que se mobilizar para retirar os móveis da casa de uma senhora de 87 anos, enquanto as máquinas colocavam a casa abaixo. Após ficar desabrigada, a idosa não teve alternativa e precisou ir morar com seu filho em uma casa de três cômodos e oito pessoas.

Dezenas de moradores acabaram sendo notificados somente quando a data da demolição já estava marcada ou quando deveriam pagar uma multa por não terem abandonado o terreno no prazo determinado. Além disso, muitos denunciaram que tiveram que comprar seus próprios terrenos, pelos quais pagariam impostos, inclusive.

Outra idosa, Maria*, também de 87 anos, contou ao A Verdade que comprou a sua casa e possui até escritura do terreno. Mesmo assim, a idosa recebeu uma carta cobrando uma multa por permanecer no imóvel após o prazo de saída, do qual a notificação nunca chegou. Em depoimento ao jornal A Verdade, ela questionou: “se a escritura não vale, o que vale?”, demonstrando que o direito à propriedade está garantido para empresas capitalistas como a COPEL.

Privatização e precarização da energia

O governo do Paraná privatizou a COPEL em agosto de 2023, por meio de um processo antidemocrático e pouco divulgado pela grande mídia. A partir de uma mudança na legislação, o estado do Paraná não é mais o acionista majoritário e, por isso, perdeu o controle da companhia.

Passando para o controle do capital privado internacional, a empresa deixou de servir aos interesses do povo paranaense. Agora,e passou a ser, unicamente, mais uma ferramenta para a expansão do lucro e da exploração capitalista.

O despejo e o desamparo das famílias são uma prática política coordenada do governo do Paraná que tenta, explicitamente, garantir o lucro da empresa privatizada acima de tudo. Mesmo que para isso tenha de retirar dos paranaenses o direito à moradia e à dignidade.

Ao invés de propor alternativas efetivas de assistência às famílias, o poder público apenas conspira, junto à COPEL para retirar os moradores de suas casas.

Diante disso, resta aos trabalhadores se organizarem e reivindicarem um projeto político capaz de mobilizar as forças populares e revogar os projetos privatistas. Estes são levados a cabo pelo governo e interessam somente aos grandes capitalistas.

Barrar o despejo não é suficiente para garantir a segurança das famílias. É necessário revogar a privatização da COPEL e indenizar as famílias que tiveram as suas casas demolidas.

*Utilizamos nomes fictícios para preservar a identidade dos entrevistados.

Evento ecumênico celebrado em Quito denuncia genocídio promovido por Israel e Estados Unidos na Palestina

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Celebração ecumênica em memória e solidariedade ao povo palestino é celebrada em Quito, reunindo apoiadores da causa palestina e lutadores sociais  

Thiago Santos | Unidade Popular (UP)


INTERNACIONAL – No dia 27 de julho de 2025, por ocasião do aniversário da Marcha de Arbaín, evento que celebra a memória do Imam Hussain (neto do Profeta Muhammad e importante figura religiosa para os muçulmanos xiitas), representantes da comunidade mulçumana de Quito promoveram uma celebração ecumênica de confraternização, memória, divulgação de valores humanistas como a solidariedade e o serviço ao próximo, e, também, aproveitaram a ocasião para denunciar as atrocidades cometidas contra a população palestina na Faixa de Gaza.

Durante apresentação do grupo musical Canto Sur, Francisco Jaramillo denunciou que já ocorreram mais de 58 mil assassinatos em Gaza onde mais de 20 mil crianças perderam a vida. “Deixemos de falar de Hamás e falemos de Gaza”, disse o poeta que emocionou tanto os que tomavam assento na Tenda da Paz, onde ocorreram as apresentações e saudações aos que assistiam o evento, quanto às pessoas que passeavam pelo Parque La Carolina, no Centro da capital equatoriana. Em forma de versos o trio musical seguiu e cantando e denunciando “quanta tragédia sobre esta terra”.

Além da Tenda da Paz, foram montadas tendas de divulgação da arte, da cultura e da culinária da comunidade árabe atraindo um grande público interessando no assunto e despertando a curiosidade dos frequentadores do parque que fica no coração da cidade.
Na ocasião, a comunidade Árabe-Mulçumana agradeceu a solidariedade que o povo Palestino tem recebido de movimentos populares, partidos de esquerda e organizações sociais do Equador. Manoel Moya, presidente da Confederação Unitária de Bairros do Equador, um dos homenageados, recebeu das mãos do Sheik Mohammad Khodadadi um certificado simbólico de reconhecimento “pelo seu firme compromisso e solidariedade com a legítima luta do povo Palestino que há décadas tem empreendido um árduo processo de libertação nacional ante as injustiças, opressão, genocídio e regime de apartheid imposto, dirigido e controlado pela entidade sionista israelense que ocupa a Palestina, desafiando abertamente a legalidade internacional.”

“Queremos ratificar nosso compromisso de solidariedade com a luta e a resistência do povo palestino e consideramos que é importante fortalecer os laços de unidade das diferentes organizações sociais e populares para enfrentar tudo o que teremos pela frente. Viva a Palestina livre! ”, declarou Moya. Pablo de la Vega, representante do povo saraauí denunciou os crimes cometidos por Israel responsabilizando também a cumplicidade do imperialismo dos Estados Unidos e a conivência da União Europeia.

Ao final do ato solene, já por volta da hora do almoço, relembrando o ato de Hussain que permitiu às tropas que ele combatia terem acesso à água e comida durante os enfrentamentos, foram distribuídos chá gelado acompanhado de shawarma, seguindo a tradição da Marcha de Arbaín que reúne 25 milhões de peregrinos num percurso feito por volta de seis dias ao longo de 80Km onde são distribuídos comida, água e oferecidos serviços gratuitos de assistência médica e acolhimento dos participantes por meio de trabalho voluntário.

Thiago Santos, membro do Diretório Nacional da Unidade Popular (UP).

Na contramão da educação, governo Zema planeja militarizar escolas em Minas Gerais

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Em direção contrária aos avanços educacionais, o governo de Romeu Zema (NOVO) em Minas Gerais tenta implementar projeto de militarização de 728 escolas estaduais. Entretanto, estudantes e sindicalistas mineiros resistem à tentativa inconstitucional de sucateamento da educação.

Movimento Rebele-se (MG)


No início de julho, a Secretaria de Estado da Educação (SEE-MG) publicou orientações para que as diretorias escolares de 728 escolas da rede estadual adotassem o modelo cívico-militar. Segundo o edital que as continham, as escolas que “manifestarem interesse” em aderir ao projeto, seriam militarizadas. Esse processo se daria através de “consultas públicas” à comunidade escolar (pais, servidores e alunos). Entretanto, apesar de ser aparentemente democrático, a militarização é parte de um esquema amplo das elites econômicas fascistas, que visa sucatear os serviços públicos e a educação mineira, além de oprimir e criminalizar a juventude pobre e trabalhadora.

Projeto da elite e do fascismo

O plano de militarização apresenta as escolas cívico-militares como a grande solução para a situação preocupante das escolas públicas, que produzem baixos índices de aprendizado e aprovação, assim como altos índices de evasão. Para seus defensores, a militarização melhora a escola, pois traz maior “disciplina” e “valores cidadãos e patrióticos” para alunos e professores.

Em outras palavras, serve para enquadrar todos no padrão conservador de “Deus, Pátria e Família”, de imposição da lógica capitalista, que trata os jovens filhos da classe trabalhadora que frequentam a escola pública como dignos, somente, de obedecerem e serem explorados. Por outro lado, a militarização serve para oprimir os jovens LGBT+, neurodivergentes, negros e todos que não se encaixam nesse padrão, além de reprimir todos que não aceitam a se submeter à essa lógica, como jovens que se organizam politicamente em grêmios e entidades estudantis.

Frente a esse discurso, é preciso afirmar que a solução para a escola pública não é a repressão e o conservadorismo. Nossas aulas não serão melhores com militares que ganham o dobro que nossos professores, mas com a revogação do Novo Ensino Médio e professores valorizados. A falta de merenda, de materiais didáticos, infraestrutura e espaços de lazer nas escolas não se resolve com um militar, mas com investimento. Ademais, é incoerente à mesma elite econômica que corta as verbas da educação através de governos como o de Zema, se afirmar como defensora da educação ao propor a militarização.

Implementação

A cívico-militarização em Minas Gerais é a continuação de um projeto iniciado pelo fascista Jair Bolsonaro, intitulado “Programa Nacional de Escolas Cívico-Militares” (Pecim) que, apesar de ter sido revogado pelo atual Governo Federal, foi abraçado pelo governador Zema (NOVO), para ser implementado no estado.

O processo se deu de maneira atropelada. Com o edital publicado faltando 18 dias para as férias e, simultaneamente, com um prazo de menos de 15 dias úteis para que as escolas fizessem as assembleias de discussão sobre a proposta e as votações. Assim, foi impossibilitado um debate amplo entre a comunidade sobre a militarização, não só pelo curto prazo, mas também por outras denúncias.

Por exemplo, como o ocorrido na E.E Firmino Costa, em que a militarização foi “aprovada” numa assembleia com cerca de 100 pessoas em uma escola com mais de 1.000 alunos.  Além disso, houveram denúncias de votos de cabresto, cédulas sem voto secreto e até mesmo de cerco policial para impedir a entrada de estudantes contrários ao projeto na escola durante o período de votação, como aconteceu em Diamantina.

Rejeição e resistência

Apesar de todos esses absurdos, o povo mineiro não recuou! A militarização e o governo de Minas Gerais foram amplamente denunciados por movimentos sociais, sindicatos de educadores e entidades estudantis, tanto nas escolas quanto em espaços institucionais. Além disso, a grande maioria das escolas nas quais ocorreu a votação rejeitou a militarização!

Desse modo, consequência da resistência ao longo de todo o estado de Minas Gerais e a maioria esmagadora de votos “NÃO!”, o Governo recuou e adiou o restante do processo de implementação da militarização no dia 13 de Julho. Entretanto, este é apenas um respiro, não uma vitória definitiva: Zema e a elite fascista mineira continuam a conspirar o desmonte completo da educação pública, e segue na tentativa de militarizar as escolas.

O movimento estudantil e sindical devem seguir atentos e mobilizados para derrotar de vez esse ataque, exigindo o fim das votações que foram adiadas, a anulação das votações antidemocráticas ocorridas no fim do semestre e a revogação completa deste projeto! Não podemos nos pautar pela democracia fajuta de Zema, mas exigir uma escola popular: com investimento, professores valorizados e grêmios livres. Só a luta popular poderá derrotar essa ofensiva!

UFC realiza diplomação póstuma de estudante assassinado pela ditadura militar

Fruto da mobilização do Diretório Central dos Estudantes com o apoio do Movimento Correnteza, Universidade Federal do Ceará realiza diplomação póstuma de Bergson Gurjão de Farias, estudante assassinado pela ditadura militar.

Dandahra Cavalcante e João Pedro Melo | Fortaleza (CE)


No dia 16 de maio, após mobilizações do Diretório Central dos Estudantes (DCE) da
Universidade Federal do Ceará (UFC), do movimento Correnteza e de diversos movimentos
estudantis, a Reitoria da universidade realizou uma solenidade de diplomação póstuma em
homenagem a Bergson Gurjão de Farias, estudante assassinado pela ditadura militar.
O evento, realizado na véspera do aniversário de Bergson, contou com a presença de
representantes de movimentos estudantis, organizações sociais, parlamentares de
esquerda, além de colegas e familiares do homenageado.
Representando a família, sua irmã Ielnia Johnson afirmou: “Além de um excelente filho, irmão e amigo, sua determinação e dedicação foi um exemplo para todos nós.” Em nome do DCE da UFC, Nathan de Deus, militante do Correnteza e da Unidade Popular (UP), declarou: “É por isso que nós seguiremos lutando pela memória, pela justiça e contra aqueles que cometeram crimes como esse que aconteceu durante a ditadura fascista. Temos absoluta certeza de que a vitória estará do nosso lado, porque estamos do lado certo da história.”

Quem foi Bergson Gurjão?

Bergson foi estudante de Química na UFC e envolveu-se ativamente nas lutas estudantis
durante o período de repressão da ditadura, chegando à vice-presidência do DCE. Em
1968, foi preso por participar do 30º Congresso da UNE, realizado em Ibiúna (SP). Após a
promulgação do Decreto-Lei 477, que visava reprimir a atuação política nas universidades,
foi expulso da instituição.
Mais tarde, integrou a Guerrilha do Araguaia, movimento de resistência armada à ditadura.
Bergson foi capturado, torturado e assassinado pelas forças de repressão. Seus restos
mortais só foram localizados e entregues à família em 1996. Em 2009, a UFC sediou uma
cerimônia em sua homenagem na Concha Acústica, como parte da 1ª Caravana da Anistia
no Ceará. Organizado pela Comissão de Anistia do Ministério da Justiça, o ato reconheceu
oficialmente a responsabilidade do Estado brasileiro pelo crime e incluiu um pedido
simbólico de desculpas à família.
Estudantes organizados no Correnteza e na UJR participam da homenagem à Bergson
Estudantes organizados no Correnteza e na UJR participam da homenagem à Bergson. Comunicação UFC 

A Luta por Memória, Verdade e Justiça

A diplomação póstuma é mais uma conquista do movimento estudantil na luta pela
preservação da memória dos perseguidos pela ditadura. Em dezembro de 2024, foi
inaugurado na universidade o Espaço Cultural Bergson Gurjão, cuja primeira mostra
abordou a história do movimento estudantil na UFC, desde a resistência à ditadura até as
mobilizações contra a intervenção na universidade durante a gestão do ex-reitor nomeado
pelo governo Bolsonaro.
Entretanto, essas não foram as únicas homenagens que os estudantes desejaram prestar.
Durante reunião do Conselho Universitário (CONSUNI) no ano passado, a Comissão de
Direitos Humanos — composta por estudantes, professores e técnicos — propôs renomear
a Concha Acústica da UFC, tradicional palco das colações de grau, como “Concha Acústica
Bergson Gurjão”. A proposta foi inicialmente aceita pela Reitoria, mas esta recuou após
sofrer ataques de portais da direita e lideranças fascistas de Fortaleza. Apesar disso, os
estudantes não desistiram dessa luta e homenagem e permanecem chamando o espaço
pelo nome do herói que tombou na ditadura.
Ainda hoje, o fascismo ataca a democracia e a memória daqueles que tombaram durante a
ditadura, e mobilizações como essa são fundamentais nesse enfrentamento. Portanto, além
dessas homenagens, a luta por memória, verdade e justiça também exige a
responsabilização de Bolsonaro e dos generais golpistas que ameaçam a democracia em
nosso país. Devemos nos inspirar no exemplo de estudantes como Bergson Gurjão,
Honestino Guimarães e Manoel Lisboa, assassinados pela ditadura, que deram suas vidas para lutar contra o fascismo
e construir o socialismo.


Câmara defende ruralistas com projeto de lei inconstitucional

Projeto de Lei permitirá que força policial seja usado contra movimentos de luta por terra no campo para garantir lucros dos latifundiários.

Redação SP


BRASIL – Novo Projeto de Lei que autoriza a violência policial contra ocupações rurais, sem necessidade de ordem judicial, está em votação com caráter de urgência na Câmara dos Deputados. O projeto, se aprovado, marcará um profundo retrocesso na luta do campo, beneficiando apenas os latifundiários e escalando a violência contra os movimentos dos agricultores sem terra, como o MST.

O PL 8262/2017 é de autoria de André Amaral, um empresário e ex-deputado natural de João Pessoa. O projeto em seu artigo primeiro institui que “[…] proprietários possam solicitar força policial para retirada de invasores, independentemente de ordem judicial”, algo que é inconstitucional, ferindo, por exemplo, o princípio do contraditório e da ampla defesa previsto no artigo 5º, inciso LV, da Constituição Federal: o direito de manifestar-se e responder às acusações ou alegações feitas contra si.

Essa proposta legislativa, no entanto, não surgiu de forma aleatória. Ela se insere em um contexto mais amplo de desmonte das garantias dos trabalhadores do campo e camponeses promovido pelos bilionários do agronegócio.

Exemplo disso é a diminuição sistemática do orçamento concedido ao Incra (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária), organismo tecnicamente responsável pela garantia do direito à terra, que em 2023 representava menos de 5% dos R$ 4,8 bilhões disponíveis em 2010, paralisando de forma profunda a criação de novos assentamentos e mantendo milhares de famílias trabalhadoras fora do direito à terra.

O poder dos latifundiários no Brasil

O poder do “agro” no Brasil se estende pelos âmbitos econômico, político e institucional. Além de concentrar milhares de hectares (como no caso de Daniel Dantas, latifundiário que em 2020 controlava cerca de 500 mil hectares, mais do que todo o estado de Sergipe) os grandes empresários do campo são muito bem servidos em questão de representantes: a Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA), mais conhecida como bancada do Agro, reúne 303 deputados e 50 senadores participantes, representando mais da metade da Câmara e do Senado. Aliás, a FPA atua transversalmente em todos os partidos, inclusive os ditos “de centro” ou “progressistas”.

Mas a burguesia agropecuária não se contenta só com o Congresso Nacional. No exemplo de ministérios, o governo fascista de Bolsonaro colocou Ricardo Salles, notoriamente ligado aos ruralistas do país, no Ministério do Meio Ambiente – e não por acidente, mas sim para “passar a boiada”, como o próprio já disse em uma reunião ministerial em 2020. No atual governo, o Ministério da Agricultura e Pecuária está sob controle de Carlos Fávaro (PSD), ex-senador do Centrão e que tem patrocinado centenas de bilhões de reais em subsídios e isenções fiscais ao agronegócio.

Até os cargos de governador são tomados, como no caso do estado do Paraná, governado por Ratinho Jr., onde o político, ligado ao setor agropecuário e alvo de pedido de impeachment, promove o Fundo Agro Paraná, um fundo público estadual criado para financiar o setor agropecuário do estado, oferecendo crédito com juros baixos para produtores rurais.

Toda essa influência gera fartos benefícios para a burguesia do Agro. Com o Plano Safra deste ano, R$ 447 bilhões serão destinados ao grande agronegócio, que irá reverter esses valores principalmente para a exportação de commodities em dólar. Enquanto isso, apenas R$ 69 bilhões irão para os produtores médios e pequenos, verdadeiros responsáveis pelos alimentos que chegam às mesas dos brasileiros.

Violência no campo é culpa do agronegócio

Uma mentira amplamente difundida por grandes ruralistas e seus políticos é a de que movimentos sociais geram violência. Isso é falso em diversos aspectos.

Indiretamente, o agronegócio contribui para a fome no Brasil ao priorizar o lucro. Em 2024, por exemplo, a soja — uma commodity voltada majoritariamente para exportação — ocupava quase metade de toda a área plantada com grãos no país. Já em 2023, produtores de leite chegaram a descartar milhares de litros de leite cru, alegando que o valor pago pela indústria era inferior ao custo de produção. Enquanto isso, a insegurança alimentar aumentava no país.

Diretamente, a falácia desmorona frente aos dados. Em 2022, a Comissão Pastoral da Terra (CPT) registrou 1.724 conflitos no campo no Brasil. Dos 1.724 conflitos por terra, em 1.588 houve violência, tendo entre os principais causadores fazendeiros (31,2%), seguidos por empresários (19,7%), governo federal (11,2%), grileiros (9%) e governos estaduais (8,3%).

Mas essa violência é estrutural e histórica — com episódios de terror que permanecem gravados na memória coletiva. Por exemplo, o Massacre de Eldorado dos Carajás, em que, dos 21 corpos — nenhum deles sendo das forças policiais —, pelo menos dez vítimas foram executadas à queima-roupa. Sete lavradores foram mortos por instrumentos cortantes como foices e facões. Tudo isso com óbvia intenção de mandar uma mensagem: quem tem o poder é a burguesia e o Estado vai fazer de tudo para manter isso.

A luta é a saída

Não podemos deixar que essas práticas terroristas da burguesia nos impeçam de avançar a construção dos movimentos de luta no campo e contra a fome. O que está em jogo é a alimentação de todos os trabalhadores, rurais e urbanos – uma necessidade que a burguesia claramente não tem interesse em atender – e portanto deve ser uma só a luta dos camponeses e operários, dos pequenos agricultores e dos trabalhadores de todas as categorias nas empresas, dos trabalhadores assalariados do campo e dos autônomos nas cidades.

A união da nossa classe é mais urgente do que nunca, e se faz presente nas manifestações, greves e ocupações feitas em todo país e que não serão intimidadas pela covardia institucional que esse novo projeto de lei apenas vem ilustrar.

Edições Manoel Lisboa participa da 77ª Reunião anual da SBPC no Recife

Realizada na Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE), de 13 a 19 de julho, a reunião anual da SBPC contou com a participação das Edições Manoel Lisboa e do Jornal A Verdade, levando cultura e politizando o evento. 

Clóvis Maia e Vitória Pereira | Redação Pernambuco


CULTURA- A 77° reunião anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), realizada entre os dias 13 e 19 de julho, reuniu pesquisadores, estudantes, professores, representantes de sociedades científicas, autoridades e gestores do sistema nacional de ciência e tecnologia e cidadãos interessados, na UFRPE, para expor projetos referentes à ciência, tecnologia e inovação, abrangendo diversas áreas do conhecimento. A Reunião Anual da SBPC é considerada o maior evento de divulgação científica da América Latina. Tem como objetivo difundir avanços científicos e tecnológicos visando o desenvolvimento educacional e cultural no Brasil.

Essa edição, que contou com debates sobre a participação das mulheres na ciência, manifestações públicas sobre a Palestina e a exigência para o governo federal priorizar a ciência, com mais verbas para essa área, teve também a participação das edições Manoel Lisboa, que durante todo o evento esteve presente com um estande e com o jornal A Verdade, apresentando suas obras e politizando o evento.

Natanael Sarmento lançando seu livro “As ideias Políticas na História”, durante o evento. Foto: JAV-PE

Agitação e propaganda do socialismo

Com mais de 200 livros vendidos e dezenas de jornais, o estande do CCML virou ponto de encontro e de referência dos movimentos sociais presentes, que paravam para tirar fotos com as bandeiras de Cuba e da Palestina, além de dialogar com a militância. Durante as brigadas do jornal, foi denunciado o absurdo que é a ciência e a tecnologia estarem sendo usadas hoje para matar crianças e mulheres na Palestina, enquanto o governo federal nega-se a romper relações com o Estado de Israel. Denúncias feitas em nosso jornal nesse último ano de retomada do genocídio palestino promovido pelo imperialismo colonialista norte-americano.

No penúltimo dia do evento, o estande deu espaço ao lançamento do livro “As ideias políticas na história: das cavernas às redes digitais”, de Natanael Sarmento, professor, escritor e membro do Diretório Nacional da Unidade Popular. O autor apresentou seu livro e fez um debate com os presentes sobre comunicação e conjuntura, e como a ideologia permeia todos os momentos e embates da nossa sociedade. No final, os presentes puderam adquirir um exemplar, juntamente com o autógrafo.

O Stand das edições Manoel Lisboa foi destaque durante todo o evento, levando política, cultura e a ciência revolucionária para os participantes. Fotos: JAV-PE

A SBPC tem uma história de luta no Brasil

Fundada em julho de 1948, a entidade tem como missão aproximar a ciência e a sociedade, promovendo um diálogo permanente. Mas ao longo dessas sete décadas, também enfrentou a alienação e o autoritarismo. Em visita ao nosso estande, a socióloga e pesquisadora cearense Rosana Garjulli lembrou que “No período da ditadura militar, as reuniões da SBPC foram proibidas. Porque, uma vez que não havia partido político nem sindicato funcionando, pois tudo havia sido fechado, a SBPC era um espaço onde todas as pessoas que lutavam pela democracia participavam. Em 78, por exemplo, a reunião anual era para acontecer no Ceará, em Fortaleza, e foi proibida. Ver essa juventude participando, tendo acesso à leitura e voltar aqui hoje como participante é emocionante”.

Ao final do encontro, a professora e pesquisadora Francilene Procópio Garcia, professora da Universidade Federal de Campina Grande (UFCG), foi eleita a primeira mulher nordestina a assumir a presidência da entidade, que assume com uma difícil realidade no ensino, pesquisa e produção científica, especialmente, após o anúncio em maio, de bloqueio de R$31 bilhões para garantir o chamado arcabouço fiscal, com absurdos cortes no Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação de quase R$3 bilhões, no Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPQ) de R$76 milhões e os R$2,7 bilhões no Ministério da Educação, afetando bolsas de pesquisas, projetos que já estão em andamento ou mesmo o funcionamento básico das instituições, com segurança e energia.

A tônica do evento de cobrar, debater a política nacional e exigir das autoridades mais verbas para se fazer ciência, deve ser uma bandeira de luta para os próximos períodos, pois não é possível pensar em transformar o país sem que haja garantias para promover verdadeiramente a ciência. Infelizmente a postura do governo federal em cortar verbas nessas áreas tão fundamentais mostram em qual direção vai nosso país: cada vez mais entregue ao capital financeiro internacional, no lugar de promover uma verdadeira transformação tecnológica buscando autonomia para nosso povo, no lugar de submissão aos países imperialistas, além da vergonhosa  postura do estado em não romper com o estado sionista de Israel, que usa a tecnologia para matar pessoas na Palestina, com nossas matérias primas.

Chico Melo, brigadista do Jornal A Verdade, fazendo agitação durante a 77º reunião da SBPC, na UFRPE. Fotos: JAV-PE

Nasce a Casa Enedina Marques, terceira ocupação de mulheres em Curitiba

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companheiras do Movimento Olga Benario. Só a luta garante direitos e conquistas. Foto: JAV-PR

Inaugurada no dia 25 de julho, Dia das Mulheres Negras, Latino-Americanas e Caribenhas, a atividade faz parte de uma campanha nacional de homenagem e memória a Gabriela Mariel, trabalhadora negra e militante do Movimento Olga, que foi vítima de feminicídio.

Redação PR


MULHERES- O Movimento de Mulheres Olga Benario realizou uma nova ocupação na capital paranaense, fundando a Casa de Referência da Mulher Enedina Marques. Localizada no Centro de Curitiba, na Rua Padre Antônio, 33, o objetivo do movimento é construir um centro de referência para atender mulheres em situação de violência.
A ocupação foi organizada em um espaço abandonado há quase 10 anos e que não cumpria função social, e é a 30ª casa construída pelo movimento no país. Inaugurada no dia 25 de julho, Dia das Mulheres Negras, Latino-Americanas e Caribenhas, a atividade faz parte de uma campanha nacional de homenagem e memória a Gabriela Mariel, trabalhadora negra e militante do Movimento Olga, que foi vítima de feminicídio.

Após a primeira ocupação do movimento na capital, a quantidade de mulheres em situação de violência atendidas de forma voluntária mais do que dobrou, e os registros de violência só aumentam: o estado do Paraná, segundo dados do Laboratório de Estudos de Feminicídio da UEL (Lesfem), é o segundo estado em número de feminicídios no país.
Essa realidade de opressão não é combatida de forma eficaz através de políticas públicas. Segundo Emily Kaiser, coordenadora nacional do movimento, “os serviços existentes ficam disponíveis apenas em horário comercial, em alguns dias menos. A Delegacia de Curitiba, única no estado com atendimento 24 horas, funciona com serviços reduzidos, a depender do horário em que a vítima for. O atendimento da CMB (Casa da Mulher Brasileira) se restringe aos residentes da cidade de Curitiba, e só existe acolhimento em risco de morte iminente.”

A forma como se organiza a sociedade, através da propriedade privada e com bases racistas e escravocratas, não permite que milhões de mulheres negras possam viver uma vida com dignidade. Mais de 60% das famílias monoparentais e em situação de fome no Brasil são chefiadas por mulheres negras. Em 2023, quase 70% dos casos de feminicídios registrados no país e mais de 50% dos casos de estupros foram contra mulheres pretas e pardas. “A luta das mulheres negras é fundamental para fazer enfrentamento à exploração e à opressão capitalistas, que segue, em pleno século XXI, tratando as mulheres negras e afro-latinas como a carne mais barata do mercado…”, relata Indira Xavier, coordenadora nacional do Movimento de Mulheres Olga Benario.

A homenageada, Enedina Marques, nasceu na cidade de Curitiba em 1913. Filha de uma família de lavradores do interior do estado, passou a sua infância trabalhando em casa de família com sua mãe, empregada doméstica. Foi alfabetizada e matriculada em uma escola particular pelo delegado que contratava os serviços de sua mãe, e rapidamente se destacou pela inteligência.

Em 1940, ingressou no curso de Engenharia Civil pela Universidade Federal do Paraná e teve de enfrentar diversos obstáculos: registros históricos comprovam inúmeras perseguições a Enedina por parte de docentes, com reprovações arbitrárias e violências racistas dentro da sala de aula. Apesar das dificuldades, a aptidão para a produção científica e a disposição de lutar por um futuro diferente garantiu que fosse consagrada como a primeira mulher negra a se formar como engenheira no Brasil, em 1946.