UM JORNAL DOS TRABALHADORES NA LUTA PELO SOCIALISMO

domingo, 14 de dezembro de 2025
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Desenvolver as lutas em cada território e no dia 25 de Novembro

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Em preparação para o 25 de novembro, o Movimento Olga Benario convoca para a construção de núcleos de luta em fábricas e bairros, visando transformar a indignação em organização política.

Coordenação Nacional do Movimento de Mulheres Olga Benario


MULHERES – De acordo com o IBGE, as mulheres dedicam, em média, 21,5 horas nos afazeres domésticos. As que estão empregadas, além das tais horas limpando, cozinhando, lavando em suas próprias casas, possuem uma jornada de trabalho de cerca de 47 horas semanais.

Mães com filhos pequenos gastam mais 15 horas semanais no cuidado com eles, além das horas dedicadas aos afazeres domésticos e em seus empregos, segundo a pesquisa Mulheres Brasileiras e Gênero nos Espaços Público e Privado da Fundação Perseu Abramo e Sesc.

Como se já não bastasse gigantesca carga de trabalho, quase não restando tempo para descanso, de acordo com o 3º Relatório de Transparência Salarial, do Governo Federal, de abril de 2025, as mulheres recebem 21% a menos que os homens. E seguimos como o 5º país no mundo em feminicídios – diariamente, quatro mulheres são assassinadas por serem mulheres.

Por tudo isso, é necessário construir um movimento revolucionário entre as mulheres trabalhadoras. Com um trabalho que esteja profundamente ligado a suas necessidades mais sentidas. Um amplo movimento de massas que escancare as contradições deste sistema odioso que nos explora e mata, e que apresente uma perspectiva de nova vida para as mulheres do povo.

Ser uma mulher no capitalismo é trabalhar sem descanso, muitas vezes, em péssimas condições, é sofrer assédio em escolas e universidades. Se formos mães, os desafios são ainda maiores. Na universidade ou na fábrica, não há espaço seguro para deixarmos nossas crianças.

Cresce a violência

Vejamos como é grave a situação das mulheres: no Brasil, existem 5.570 municípios. Destes, apenas 568 possuem Delegacias Especializadas no atendimento às mulheres. Pior: apenas 56 funcionam de maneira ininterrupta.

Segundo o Mapa Nacional da Violência de Gênero, levantado pelo Observatório da Mulher Contra a Violência, nos primeiros seis meses deste ano, foram registrados 718 feminicídios no país e cerca de 34 mil estupros, uma média de 187 por dia.

Sofremos violência e não temos onde denunciar! Além de trabalharmos em jornadas extenuantes, somos responsabilizadas sozinhas pelo cuidado de nossas crianças e idosos. Vivemos num país no qual podemos ser mortas por sermos mulheres, e o Estado não oferece condições seguras para que possamos nos proteger daqueles que querem nos matar. Não é raro sabermos pelos jornais que muitas mulheres vítimas de feminicídio tinham medida protetiva contra seus assassinos.

Por tudo isso, o Movimento de Mulheres Olga Benario tem debatido a necessidade de se transformar num movimento para as amplas massas das mulheres trabalhadoras.

25 de novembro é dia de luta

Dia 25 de novembro é o Dia Internacional pela Eliminação da Violência contra as Mulheres, e também é conhecido como Dia Latino-Americano e Caribenho pela Não-Violência contra a Mulher. Essa data homenageia as irmãs Mirabal, três mulheres assassinadas na República Dominicana, em 1960, por sua oposição ao ditador Rafael Trujillo.

Para desenvolver um trabalho mais profundo entre as mulheres, e tendo em vista a data do 25 de novembro, como um importante dia para denunciar toda essa exploração e violência, iniciaremos, desde já, uma atuação com foco nos territórios.

A meta é realizarmos manifestações em portas de fábricas, bairros, escolas, universidades. Porém, esse trabalho só dará frutos e terá continuidade se começarmos já e não pararmos após o dia 25. Precisamos realizar panfletagens, visitas em locais que atendem mulheres, como postos de saúde, Centros de Referência em Assistência Social e Delegacias para conhecer a realidade e desenvolver propostas concretas.

A maioria das mulheres se reconhece nas nossas bandeiras de luta e concordam com as denúncias que fazemos. Mas ainda falamos para poucas, realizamos reuniões em lugares distantes ou, muitas vezes, as desmarcamos.

É chegada a hora de desenvolvermos um trabalho territorial, que seja mais próximo das mulheres com quem queremos dialogar. Assim, daremos condições para que as mulheres, essas que tanto trabalham, participem. Pode ser o local de trabalho ou de moradia.

Definido o local, iniciaremos um trabalho diário e planejado, montando um núcleo, realizando panfletagens, organizando lutas concretas. Um trabalho persistente, contínuo, que desenvolva laços. Se estivermos diariamente em um bairro ou na porta de uma fábrica, com o tempo, iremos nos tornar conhecidas, entenderemos os problemas mais sentidos pelas mulheres daquele lugar e conquistaremos a confiança delas para construir a luta em coletivo.

Para que nosso trabalho seja uma referência para as amplas massas de mulheres trabalhadoras, precisamos espalhar os núcleos do Movimento Olga nos quatro cantos do país, sem perder de vista nossos objetivos, mantendo a persistência e a certeza do que estamos fazendo, que as campanhas que desenvolvemos sejam lutas permanentes, com conquistas evidentes para que o trabalho se multiplique e avance, assim aproximando e influenciando milhares e milhões.

Matéria publicada na edição nº324 do Jornal A Verdade.

Ato em Patos (PB) denuncia reforma administrativa e aponta Hugo Motta como responsável por tentar desmonte do serviço público

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Manifestação uniu sindicatos, centrais, partidos de esquerda e militantes para denunciar mais um ataque ao povo trabalhador, dessa vez, a reforma administrativa. 

Jozivan Antero e Abdias Duque | Paraíba


 

TRABALHADOR UNIDO- O povo brasileiro ainda amarga a reforma previdenciária e a trabalhista, que causou danos sociais sem precedentes ao dificultar a aposentadoria e permitir a chamada flexibilização das leis trabalhistas, permitindo uma exploração sem precedentes aos trabalhadores e trabalhadoras desde que entrou em vigor. Em 2017, o congresso aprovou a reforma trabalhista e, em 2019, a reforma previdenciária.

Em 2025, o Congresso Nacional prepara mais um grande ataque, desta vez ao serviço público, propondo uma nova reforma administrativa, tendo como articulador e relator o deputado Pedro Paulo (PSD-RJ), contando com o apoio do deputado federal Hugo Motta (Republicanos – PB).

Para denunciar mais esse ataque aos direitos sociais, a Central Única dos Trabalhadores na Paraíba (CUT PB), a União Geral dos Trabalhadores (UGT), a Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil na Paraíba (CTB), além de sindicatos, partidos políticos, vários movimentos e cidadãos conscientes, realizaram um ato público na manhã do dia 25 de outubro, no Município de Patos, cidade natal de Hugo Motta e berço da oligarquia Motta/Wanderley.

 

Mobilização e denuncia

Usando cartazes, faixas, carro de som e muita disposição, caravanas vindas de várias cidades da Paraíba e dos estados de Pernambuco e Rio Grande do Norte, fizeram uma caminhada que teve início na Praça Edivaldo Motta e percorreu ruas centrais até a Praça Cícero Supino, onde houve falas explicando a sociedade sobre a proposta que causa um verdadeiro desmonte no serviço público e entrega para exploração do mercado financeiro e ao interesse de poucos em detrimento da sociedade brasileira.

A Unidade Popular pelo Socialismo (UP) estive presente, com uma grande brigada do Jornal A Verdade e chamando a atenção para a proposta da reforma administrativa que, de forma clara, propõe o fim do serviço público e leva à lógica do mercado onde tudo é lucro.

“A reforma não busca aprimorar o serviço público, mas remodelá-lo segundo uma lógica empresarial, voltada à produtividade e ao corte de gastos. O resultado é um Estado enfraquecido, menos democrático e mais vulnerável às pressões políticas”, alerta a advogada Camila Louise Galdino Cândido.

Entre as principais críticas, especialistas apontam o caráter centralizador e autoritário da Reforma Administrativa. A PEC retira de estados e municípios a autonomia para gerir seus quadros de servidores, transferindo à União o controle sobre políticas de pessoal, incluindo regras de carreira, concursos, remuneração, benefícios, avaliação de desempenho e gestão de cargos comissionados.

A proposta autoriza o Poder Executivo a extinguir cargos públicos por decreto, sem aprovação do Congresso. A medida abre margem para arbitrariedades, perseguições políticas e o esvaziamento de áreas consideradas incômodas a determinados governos.

 

Crise climática escancara o descaso dos governos e as injustiças do capitalismo

Enquanto o mundo enfrenta uma crise climática, a preparação para a COP 30 em Belém revela um abismo entre o discurso oficial e a realidade da classe trabalhadora.

Lana Borges e Vitória Rodrigues | Belém (PA)


MUNDO – O mundo vive uma emergência climática sem precedentes. Diariamente, os meios de comunicação noticiam sobre o aumento do calor extremo, enchentes, secas, tempestades e furacões que se intensificam ano após ano, afetando milhões de pessoas, especialmente os trabalhadores, moradores das periferias e o povo pobre em geral, forçado a viver nas áreas de risco das grandes cidades.

Sem acesso a saneamento básico, arborização, áreas verdes ou qualquer tipo de plano de contingência, essas populações enfrentam o pior das catástrofes climáticas. E, quando ocorre uma “tragédia”, a culpa costuma cair sobre as próprias vítimas, pois “moravam onde não deviam”, diz a grande mídia, ignorando que a especulação imobiliária, o alto custo dos aluguéis e a lógica excludente do capitalismo expulsam milhares de famílias das regiões centrais e as empurram para as áreas de risco.

Diante desse cenário, a Organização das Nações Unidas (ONU) lançou a Agenda 2030, com os 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), que incluem metas como moradia digna, combate à fome e à miséria, trabalho digno, acesso à saúde e educação e proteção ambiental. Metas que, em tese, deveriam ser prioridade para todos os governos.

Na prática, porém, os compromissos firmados na Agenda 2030 estão longe de serem cumpridos. Enquanto isso, eventos internacionais como a Conferência das Partes (COP), que deveriam debater soluções concretas para a crise climática e impulsionar a tão falada transição energética, transformaram-se em palco para negócios bilionários, acordos de bastidores e campanhas do chamado “marketing verde”.

O espaço da COP é dividido entre Estado (governos e diplomatas), Mercado (grandes empresas) e Sociedade Civil Organizada. Mas quem realmente tomam as decisões são os governos, dirigidos pelos interesses dos capitalistas.

Empresas como Cargill, JBS, ExxonMobil, Vale e Hydro patrocinam a Conferência, ao mesmo passo que exploram os territórios, destroem o meio ambiente e deixam um rastro de poluição, doenças e miséria por onde passam, como fez a Hydro em Barcarena (PA), onde contaminou o solo, os rios e a vida de milhares de pessoas.

Para completar o cenário de contradições, a poucos dias da realização da COP 30 (realizada em Belém do Pará), o Ibama concedeu licença à Petrobras para explorar petróleo na foz do Rio Amazonas, uma das áreas mais sensíveis do ponto de vista ambiental do planeta. A decisão, defendida por toda a cúpula do Governo Federal (incluindo o presidente Lula e ministra do Meio Ambiente Matina Silva), escancara a incoerência de um país que, ao mesmo tempo em que diz defender a Amazônia, abre novas frentes para sua degradação em troca de aumentar os lucros dos grandes monopólios capitalistas (incluindo os que operam por dentro da Petrobras).

As contradições da Capital da COP 30

Desde que Belém foi anunciada como sede da COP 30, uma série de obras de infraestrutura foi iniciada com o objetivo de impressionar os visitantes estrangeiros. No entanto, enquanto cerca de R$ 4,2 bilhões foram destinados à realização do evento – somando recursos do Orçamento Geral da União, BNDES e Itaipu Binacional –, a cidade segue marcada por problemas históricos e estruturais que afetam diretamente a vida do povo trabalhador.

Segundo o Instituto Água e Saneamento, apenas 20% da população tem acesso ao esgotamento sanitário. E, do pouco esgoto que é coletado, menos de 40% recebe tratamento. Nas periferias, milhares de famílias vivem em palafitas à beira dos rios, sem acesso a água encanada, com esgoto correndo a céu aberto, convivendo com o lixo acumulado nas ruas, fruto da lacuna de políticas públicas deixada pelo Estado.

“Muito dinheiro foi destinado para reformar os pontos turísticos da cidade, enquanto na rua da minha casa nunca foi trocado um cano e a água vem tão suja que não dá nem para escovar os dentes”, afirmou Maria de Lourdes, moradora do Guamá e leitora do jornal A Verdade.

Durante o inverno amazônico, a situação se agrava, e casas são frequentemente invadidas pela água da chuva, colocando vidas em risco e destruindo o pouco que essas famílias possuem.

O transporte público é outro retrato do abandono: há décadas, a máfia das empresas de ônibus lucra com a miséria da população. A região metropolitana está repleta de ônibus velhos, sem ar-condicionado, com linhas mal planejadas e uma demora excessiva, sobretudo nas áreas mais afastadas do centro, onde o Estado só aparece para reprimir ou remover, nunca para garantir direitos.

Um projeto para os ricos

Sendo um evento voltado ao debate sobre aquecimento global e justiça climática, o esperado seria um planejamento urbano que considerasse o clima amazônico, o conforto térmico, a preservação das áreas verdes, os rios e os territórios populares de Belém.

Mas, na prática, a oligarquia da família Barbalho, que comanda o Governo do Estado e a Prefeitura da Capital, utiliza a COP como fachada para atender exclusivamente aos interesses do mercado imobiliário e de grandes empresários.

As obras prioritárias do Governo deixam isso claro: a construção do Parque da Cidade (onde será realizado o evento), a reforma das ruas ao redor dessa área e as regiões nobres da cidade, como as avenidas Doca de Souza Franco e Almirante Tamandaré.

A Avenida Doca, que concentra o metro quadrado mais caro de Belém, recebeu uma obra de R$ 310 milhões para a “revitalização” do canal – na verdade, um esgoto a céu aberto. O objetivo não é resolver o problema sanitário da cidade, mas sim valorizar ainda mais a área para a construção de prédios de luxo, que já estão sendo erguidos nos bairros do Reduto e Umarizal.

Para completar o absurdo, o Governo ainda está construindo uma estação de tratamento de esgoto na Vila da Barca, uma das maiores favelas da cidade, mas não para atender os moradores de lá, e sim para receber o esgoto dos ricos que vão morar nos novos empreendimentos da região.

O Jurunas, bairro historicamente operário e periférico, com um dos IDH mais baixos da cidade, vem sofrendo um intenso processo de elitização. Sua localização próxima a áreas nobres, como Batista Campos, atraiu o interesse do capital imobiliário, e projetos como o Portal da Amazônia, apresentados como “revitalizações”, na verdade expulsaram centenas de famílias da região com a promessa de moradias populares serem construídas pelo Programa Minha Casa, Minha Vida, mas não foram entregues até hoje. Enquanto isso, novas reformas e construções de luxo avançam, reforçando a exclusão dos moradores em benefício da elite paraense.

Nas periferias, feirantes são despejados de seus locais de trabalho por conta de obras paradas ou abandonadas, vendedores ambulantes são perseguidos e reprimidos pela Polícia Militar, cada vez mais violenta, e bairros populares, como Tapanã e Pratinha, seguem em total abandono.

A verdade é que a COP 30 pertence ao capital. Os governos fingem se preocupar com o meio ambiente e com a Amazônia para fazer propaganda, mas o povo trabalhador segue sendo o único a pagar a conta.

Povo organizado

Os participantes da COP 30 estão interessados apenas em garantir lucros e ampliar seus negócios. Os países imperialistas se negam a financiar políticas ambientais nos países periféricos; as petroleiras sabotam qualquer transição energética real; o agronegócio continua desmatando e queimando a Amazônia; as mineradoras recorrem ao “marketing verde”; e políticos corruptos recebem propinas para defender os interesses do empresariado. Enquanto isso, o povo sofre com enchentes, ondas de calor, privatização da água, especulação imobiliária, destruição das áreas verdes, alta nos alimentos e queda no poder de compra.

Em resposta a esse cenário de exclusão e farsa política, surge a Cúpula dos Povos, articulação formada por povos indígenas, quilombolas, ribeirinhos, comunidades tradicionais, agricultores, trabalhadores, movimentos populares e juventudes da Amazônia e do mundo, criando um espaço de verdadeira participação popular. Diferente da conferência dos governos e corporações, propõe discutir as causas reais da crise climática (o capitalismo e o modelo de exploração imposto pelos países imperialistas) e apontar caminhos baseados na soberania dos povos, na defesa dos territórios e na construção de um projeto popular para o Brasil e para o mundo.

A crise climática não é apenas ambiental, é política, social e econômica. A solução não virá das elites ou de acordos entre governos corruptos e empresas poluidoras. Mas sim da luta pelo fim do sistema capitalista que nos explora, destrói o planeta e é incompatível com a vida.

Por isso, é urgente lutar pelo socialismo. Ou construímos um novo modelo de sociedade, baseado na justiça social, na igualdade, na soberania dos povos e na recuperação da natureza ou viveremos sob a barbárie imposta pelo capitalismo. A saída real exige a organização dos trabalhadores e o fortalecimento das lutas populares. Só o povo organizado pode salvar o planeta.

Matéria publicada na edição nº324 do Jornal A Verdade.

A COP 30 e a cobiça da Amazônia

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A realização da COP 30 em Belém demonstra um momento decisivo para organizar a resistência contra a destruição ambiental, desmascarando a responsabilidade das  potências capitalistas na crise climática.

Fernando Alves | Redação


BRASIL – Com a realização da Conferência da ONU sobre Mudanças Climáticas (COP 30), em Belém do Pará, abre-se um momento importante para organizar a luta em defesa da natureza, da humanidade, contra a destruição do planeta e desmascarar as corporações e governos capitalistas que são os verdadeiros responsáveis pela crise ambiental.

O desenvolvimento acelerado e desordenado da produção capitalista e a busca incessante do lucro pelos grandes monopólios e países imperialistas traz como consequência o aumento da destruição do planeta. Para garantir seus privilégios, dominar a riqueza das nações e controlar regiões estratégicas do mundo, um punhado de capitalistas lança mão de todas as formas de política e artifícios de exploração. Mas a verdade é que os países dominantes não querem assumir nenhum compromisso com a defesa do meio ambiente o do planeta.

Prova disso é a posição do Governo dos Estados Unidos. Logo no início de seu mandato, Donald Trump anunciou a saída do país do Acordo de Paris e retirou a possibilidade de assinatura de qualquer acordo sobre o clima. Agora, segundo publicação da rede de notícias Bloomberg, procuradores gerais de 17 estados dos EUA solicitaram que o governo estadunidense não envie representantes oficiais para o COP 30. Para eles, a participação dos EUA legitimaria “políticas contrárias” à agenda de Trump.

O fracasso do Acordo de Paris

Também faz parte desse problema o fato de que os países imperialistas não cumpriram os compromissos assumidos na última Conferência do Clima, realizada em Paris, em 2015. A emissão de gases poluentes, que destroem a atmosfera e aceleram o aumento das temperaturas, levando ao aquecimento global, ao derretimento das geleiras, o que, por sua vez, provoca a ocorrência de fenômenos como enchentes, maremotos, terremotos, desertificação, altas temperaturas, são consequências das ações dos países ricos e suas empresas sobre a natureza.

O objetivo principal do Acordo de Paris era impedir que o aquecimento global ultrapassasse o limite de 1,5º C, mas a ONU já reconheceu que este objetivo não foi alcançado.

Entre as consequências, está o derretimento das geleiras, em especial do Polo Ártico, que perdeu 7% de sua superfície, e da Antártida, que vem que vem sofrendo os mesmos impactos. Esse é o sinal mais grave, pois esses polos funcionam como um ar-condicionado para o equilíbrio climático, já que levam correntes marítimas geladas e correntes de ar para os trópicos, que são as partes mais aquecidas do planeta. As cadeias de montanhas também vêm sofrendo esses efeitos, como o Himalaia, os Alpes e os Andes, além dos lagos glaciais.

O Acordo de Paris estabeleceu que os países criassem as condições e se adaptassem às bruscas mudanças climáticas, sem ameaçar a produção de alimentos.

A polêmica criação de uma fonte de financiamento por parte dos países mais ricos para ajudar o chamado grupo de países pobres na transição para o desenvolvimento de baixo carbono – Carbono Zero, não foi efetivado. Nesse caso, os países imperialistas assumiram o compromisso, através das Contribuições Nacionalmente Determinadas (CDNs), de dar um aporte de US$ 100 bilhões por ano para medidas de combate às mudanças climáticas.

Essa política é muito perigosa, pois ela pode interferir na soberania dos países, como é o caso do Brasil. Os países financiadores podem sentir-se no “direito” de exigir a criação de uma área de interesse internacional da Amazônia e, por tabela, uma tutela desses países sobre a região. Isso representaria a desnacionalização da Amazônia, a privatização da floresta e o controle dos países ricos sobre a maior parte do território brasileiro e de mais oito países.

Apesar desse perigoso caminho, o governo brasileiro vem estimulando a financiamento internacional da Amazônia, ignorando as consequências futuras dessa medida.

A Amazônia está ameaçada

Por fim, o governo brasileiro anunciou a liberação para pesquisa de petróleo e gás na Foz do Rio Amazonas. Essa decisão coloca em risco uma região que ainda está preservada e abrange o litoral dos Estados do Amapá e do Pará, onde se encontram florestas nativas, a Ilha de Marajó, santuários de aves, tartarugas e uma infinidade espécie animais e de plantas, uma infinidade de ilhas; do Maranhão, que pode comprometer os Lençóis Maranhenses; do Piauí, que possui a Foz do Rio Parnaíba; dos litorais do Ceará e Rio Grande do Norte. Toda essa região e sua biodiversidade podem ficar comprometidas, apenas para satisfazer os interesses da indústria do petróleo, hoje controlada pelas petrolíferas multinacionais.

A Amazônia é estratégica. A região possui 15% de água potável do planeta, sua biodiversidade é incalculável, é abundante em minerais estratégicos e terras raras, detém grandes reservas de gás e petróleo. Porém, vem sofrendo com décadas de ações predatórias do latifúndio, madeireiras, das mineradoras, do tráfico de ouro e pedras preciosas e da intervenção destruidora do Estado burguês e dos capitalistas. Sofre com a invasão de terras indígenas. Também a questão fundiária representa o maior dos problemas, já que a luta pela terra é uma das mais radicais do mundo, com 36% da região registrada como propriedade privada.

Os povos da Amazônia e todos os brasileiros devem lutar em defesa da nossa soberania e da preservação da natureza, contra as ameaças imperialistas e o entreguismo do nosso território.

Matéria publicada na edição nº324 do Jornal A Verdade.

Rayana: mais uma mulher assassinada por ser mulher no ES

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O feminicídio de Rayana Rios, morta a facadas dentro de casa, expõe a violência patriarcal que segue vitimando mulheres no Espírito Santo.

Ana Thompson | Espírito Santo


 

No dia 9 de novembro (domingo), Rayana Bittencourt de Oliveira Rios da Silva, 36, foi assassinada a facadas dentro de sua própria casa e na frente de dois dos seus quatro filhos — a mais velha, 19, e o mais novo, de apenas cinco anos. Esse crime brutal ocorreu no município da Serra (ES) e se soma aos altos índices de feminicídio que colocam o estado entre os mais violentos do país. Luan dos Santos Braz, 29, foi indicado como o assassino por Khauny, a filha mais velha. Após o crime, o suspeito fugiu de carro e seu veículo foi encontrado abandonado na segunda-feira (10) na mesma cidade. Finalmente, na quarta-feira (12), em uma região de mata, o assassino foi encontrado e preso para investigação do caso. Além disso, é importante pontuar que Luan era namorado da vítima e descrito por familiares como extremamente ciumento e controlador.

Esse tipo de violência contra a vida de uma mulher no Espírito Santo não surpreende. Segundo o Mapa da Segurança Pública 2025, o estado registrou crescimento no número de feminicídios, além de apresentar uma média por número de habitantes acima da média nacional de feminicídio. Esse levantamento confirma a cultura misógina que atravessa diariamente as mulheres aqui presentes.

Reafirmando essa tendência, o Painel de Monitoramento da Violência Contra a Mulher, disponibilizado pela Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social do ES, aponta que, somente em 2025, ocorreram 28 casos de feminicídios e 73 tentativas de feminicídio. Isso significa que, só neste ano, 101 mulheres foram atacadas no ES por agressores com intenção de matá-las, apenas por serem mulheres.

Nos dados exclusivos de feminicídio, o painel aponta que aproximadamente 90% das mulheres foram mortas por parceiros ou ex-parceiros, revelando que a ameaça contra suas vidas está fortemente presente em ambiente íntimo, embora o panorama em questão não exponha oficialmente o local dos feminicídios, isto é, não sabemos por essas informações se o crime aconteceu em via pública ou na residência da vítima. Contudo, os dados mostram que 75% das mulheres assassinadas eram negras, revelando o racismo estrutural que coloca as mulheres negras (pretas ou pardas) como as principais vítimas da violência letal no Espírito Santo.

A respeito das tentativas de feminicídio, o mesmo padrão racial está presente: a maior parte das mulheres atingidas são negras. Essa constante mostra que o quesito raça/cor é determinante e precisa ser central ao pensar políticas de prevenção e proteção contra essa violência. Além disso, mais de 60% das tentativas ocorreram na residência da vítima, o que reforça o abuso presente em espaços íntimos, mesmo que no caso das tentativas não tenhamos exposto em dados a relação do agressor com as mulheres. Esse cenário estabelece que mulheres sequer estão seguras em suas casas e no íntimo que deveria ser refúgio.

Sobre isso, é importante pensarmos que, apesar do avanço na pesquisa e divulgação de dados, há lacunas severas nesse painel. As estatísticas não detalham o local dos feminicídios consumados nem a relação das vítimas com os agressores

nas tentativas do crime, o que dificulta a realização de análises completas, como também a formulação adequada de políticas de prevenção mais específicas para a população atingida. Lamentavelmente, essa omissão é parte da realidade de um estado historicamente patriarcal e racista, como é o caso do ES.

Mesmo com essa limitação, os números em conjunto delimitam uma norma concreta: majoritariamente mulheres negras são vítimas de parceiros ou ex-parceiros dentro das próprias casas no ES. Essa circunstância aponta para a necessidade urgente de ampliação de mecanismos de prevenção e políticas de proteção voltadas à violência contra a mulher no estado. Mas o Espírito Santo está muito ocupado debatendo com o STF a (in)constitucionalidade da Lei nº12.479/2025, que garante aos pais e responsáveis o direito de veto à participação de seus filhos e filhas em atividades pedagógicas que abordem temáticas de gênero, identidade de gênero, orientação sexual e diversidade sexual. Lembrando que essa foi uma lei sancionada pela Assembléia Legislativa do Espírito Santo após o governador Renato Casagrande (PSB) não se manifestar a respeito, em outras palavras, um retrocesso educacional aprovado sem oposição por parte do governador. Assim, o estado investe tempo e recursos pensando se determinados retrocessos são constitucionais ou não em vez de avançar com políticas concretas que protejam as mulheres.

Enquanto Movimento de Mulheres Olga Benário do ES, pensamos que a defesa da vida das mulheres trabalhadoras é prioridade e, por isso, estamos construindo a Rede Araceli de Enfrentamento à Violência contra Mulheres e Meninas com o propósito de criar um espaço que, além de acolher e apoiar, fortaleça politicamente essas mulheres ampliando a compreensão das estruturas patriarcais, racistas e capitalistas que nos atravessam e nos querem mortas. Assim, lutamos para erguer uma sociedade socialista, antipatriarcal e antirracista.

Chega de casos de mulheres violentadas e mortas!

 

Greve dos servidores em Campina Grande (PB) denuncia descaso com a saúde

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Apesar do caos na saúde pública em Campina Grande, Paraíba, o governo local prefere atacar os servidores e o sindicato da  categoria, que dando exemplo de luta e combatividade, organizou uma greve histórica na região. 

Redação Paraíba


 

ENTREVISTA- Como foi denunciado pelo Jornal A Verdade em outubro, a saúde da cidade de Campina Grande na Paraíba enfrenta, já a um ano, atrasos de salários dos servidores e contratados, falta de materiais de trabalho, insumos e medicamentos. No último dia 13/11 o Sindicato dos Trabalhadores Públicos Municipais do Agreste da Borborema (SINTAB) deflagrou greve em 16 categorias de trabalhadores da saúde e realizou uma manifestação no centro da cidade pelo pagamento dos salários atrasados. A militância da Unidade Popular esteve presente e entrevistou Franklin Barbosa de Brito, presidente do SINTAB.

O que motivou a decisão da greve, que foi aceita por ampla maioria da assembleia?

 Nós temos aqui em Campina Grande uma crise sem precedentes da saúde: servidores e a população não aguentam mais tanto sofrimento. Os Servidores não têm mais um calendário de pagamento e todos os meses vivem a incerteza em relação a seus salários, se vão receber ou não. Além disso, a população tem muita dificuldade de acesso ao básico. Nas unidades de saúde falta quase tudo, faltam insumos, faltam instrumentos de trabalho, falta material de expediente, falta remédio. A população é testemunha, não preciso convencer ninguém disso, a população sabe disso.

E o pior de tudo é que o prefeito tem ignorado essa situação. Ele sequer explica o que está acontecendo, não justifica nada, ele sumiu e é como se Campina Grande não tivesse prefeito. É como se ele tivesse desistido de governar a cidade, estivesse como Prefeito só pro status, só pra ser chamado de prefeito. Se ele não tem condições de governar a cidade, se chegou numa situação de governabilidade, por ingerência, por incapacidade de gestão então que ele renuncie e o próximo possa sentar com a gente e resolver os problemas da saúde de Campina Grande

Jornal A Verdade – A greve foi deflagrada às 10h, às 11h a justiça declarou ela ilegal a pedido da Prefeitura. A Prefeitura teve a mesma agilidade para resolver os problemas dos trabalhadores?

 A justiça sendo sempre injusta. A justiça não ouviu os trabalhadores para poder tomar uma decisão. Nem terminamos o ato e a justiça tinha declarado ilegalidade. Não deu nem tempo de concluir uma única atividade: a greve começou e antes do fim do primeiro ato a justiça declara ilegalidade. Mas não vamos desistir da luta, a luta dos trabalhadores é permanente e continuaremos convocando. Já temos outra assembleia na segunda e os servidores vão decidir o que querem que a gente faça, qual luta querem que a gente encaminha pra garantir o direito dos trabalhadores.

Vale destacar que, poucos dias antes da greve, os médicos do Hospital Dom Pedro I haviam declarado paralisação motivada pelo não pagamento dos salários. Porém, eles são trabalhadores contratados via CNPJ (pejotizados) e, após serem ameaçados pela Prefeitura, tiveram que encerrar o movimento para não serem demitidos.

A saúde pública de Campina Grande está sendo propositadamente sucateada para justificar o avanço da privatização desse setor na cidade. A Prefeitura da cidade cumpre o papel de defensora dos interesses dos grandes empresários da saúde e se dedica a destruir o sistema de saúde pública da cidade. Só a luta dos trabalhadores pode garantir dignidade para os servidores e para a população!

Obra de Jackson do Pandeiro se torna Patrimônio Cultural Imaterial da Paraíba

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Um dos maiores artistas da música brasileira, Jackson do Pandeiro tornou-se patrimônio imaterial da Paraíba, estado natal do artista, um reconhecimento que serve para reafirmar a cultura popular e levantar o debate em torno de como esse sistema trata seus artistas e suas obras.

Redação Paraíba


CULTURA- José Gomes Filho, filho do coco e do batuque, inventou uma forma de tocar o Nordeste que virou clássico da música popular brasileira. Nascido em Alagoa Grande, Paraíba, em 31 de agosto de 1919, filho de Flora Mourão, cantadora de coco e de um oleiro, José Gomes. Teve uma infância muito pobre e nunca frequentou uma escola. Já em Campina Grande trabalhou como engraxate e auxiliar de padeiro para sustentar a família após a morte do pai.

Seu ritmo, sua percussão e sua voz nasceram da periferia, trabalhada nas feiras e nas festas. As músicas de Jackson mostram a cultura do povo, suas tradições, seu cotidiano, além de retratarem seus sentimentos e suas origens. Por isso que valorizar Jackson é também valorizar a raiz afro-brasileira que sustenta o forró, o coco e tantos modos de viver nordestinos.

A verdade é que a arte popular sempre foi uma das formas mais poderosas de resistência do povo trabalhador. Jackson mostrou isso quando cantou “Chiclete com banana”, ironizando a influência americana na música brasileira, e quando exaltou o cotidiano do Nordeste em “Forró em Campina”.

“Eu só boto bebop no meu samba quando Tio Sam tocar um tamborim

Quando ele pegar no pandeiro e no zabumba

Quando ele aprender que o samba não é rumba.”

 

Reconhecimento tardio

A Paraíba deu um passo importante ao reconhecer a obra de Jackson do Pandeiro como Patrimônio Cultural Imaterial do Estado. O reconhecimento veio próximo ao dia da Consciência Negra, data que marca a morte do herói Zumbi dos Palmares e a luta contra a escravidão e o racismo.

Porém o que o Estado chama hoje de “tesouro cultural” é o mesmo que por décadas foi ignorado, desvalorizado e até ridicularizado pela indústria e pela elite. E agora? Esse reconhecimento simbólico vai virar compromisso real com sua memória e com os artistas que fazem cultura popular?

Um povo que cria, um sistema que apaga

A história da música brasileira tem muitos casos parecidos, mas sem a devida atenção. O cantor e compositor Cassiano é um caso emblemático: Também paraibano, foi um dos maiores nomes da Black Music nacional. Mesmo assim, morreu em 2021 sem o reconhecimento que merecia, esquecido pela mídia e abandonado pela indústria. Cassiano, Jackson, Cartola, Clementina de Jesus, todos sofreram em algum nível com o mesmo sistema que lucra com a cultura negra, mas não devolve o que deve a seus artistas.

No capitalismo, o talento só é valorizado quando dá lucro e não escancara a pobreza e a fome do nosso povo. A arte, nesse modelo, é tratada como produto e não como expressão de vida e identidade. Por isso que nossa crítica precisa ser direta e clara: arte não é luxo, é direito. Enquanto o povo cria, a elite lucra. Enquanto o batuque e o pandeiro ecoam nas ruas, a concentração de renda cala vozes, fecha espaços e destrói sonhos de jovens paraibanos. A liberdade da arte popular depende da libertação do próprio povo trabalhador. Os artistas comprometidos com a cultura popular continuam fazendo sua arte, tendo em Jackson do Pandeiro uma referência de resistência. Tornar sua obra patrimônio imaterial é prova disso. Prova de que não deixaremos a memória dos nossos ser esquecidas.

Viva Jackson do Pandeiro! Viva a cultura popular que resiste!

 

Fraude no Enem escancara falha do vestibular

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A anulação de questões e os sucessivos erros na aplicação do Enem revelam que o filtro do acesso à universidade não é apenas injusto, mas estruturalmente falho.

Jesse Lisboa | Redação


EDUCAÇÃO – O projeto burguês de sucateamento da educação pública e investimento na educação privada trata milhões de jovens, que sonham ingressar no ensino superior, com descaso. A recente anulação de questões do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) 2025, após um estudante antecipar perguntas em uma transmissão ao vivo, não é um caso isolado, mas a ponta do iceberg de um sistema que exclui os trabalhadores e trata a educação como mercadoria.

Enquanto o Ministério da Educação (MEC) tenta minimizar o escândalo afirmando que “protocolos foram seguidos”, a realidade mostra a falha no processo seletivo. O estudante, que afirmou ter “decorado o padrão” do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep) após participar de pré-testes, expôs a lógica mecânica e repetitiva de uma prova que não avalia conhecimento, mas sim a capacidade de adestramento para um teste.

Um histórico de incompetência e exclusão

Não é a primeira vez que os estudantes brasileiros são prejudicados por falhas graves na aplicação do Enem. Relembrar o histórico do exame é ver um filme de terror repetido, onde quem paga o ingresso é a juventude pobre.

Em 2009, o exame foi cancelado após o vazamento da prova, furtada de dentro da gráfica, gerando um prejuízo milionário aos cofres públicos e um desgaste emocional para os estudantes. No ano seguinte, em 2010, erros de impressão em cadernos amarelos e a inversão de cabeçalhos no gabarito forçaram a suspensão da prova pela Justiça Federal.

A lista de absurdos continua:

  • 2011: Questões do Enem vazaram em um simulado de um colégio particular de Fortaleza dias antes da prova oficial, privilegiando alunos que já tinham acesso a um ensino de elite.
  • 2014: O roubo de um caminhão dos Correios no Rio de Janeiro levou cartões de resposta embora, obrigando estudantes de Pernambuco a refazerem o exame pela terceira vez.
  • 2019: Sob o governo Bolsonaro, fotos da prova vazaram durante a aplicação, circulando em grupos de WhatsApp enquanto os estudantes ainda estavam em sala. O ministro da época minimizou o caso, culpando aplicadores individuais e ignorando a falha sistêmica de segurança.

O vestibular é uma barreira

A recente fraude de 2025, somada ao golpe dos sites falsos de inscrição que lesou 35 mil estudantes em 2024, prova que o Enem é um terreno fértil para oportunistas e para o lucro. O modelo de vestibular no Brasil serve para filtrar quem entra e quem fica de fora, garantindo que as vagas nas universidades públicas continuem sendo ocupadas majoritariamente por quem pode pagar cursinhos caros e escolas privadas.

Para o estudante da escola pública, que muitas vezes precisa trabalhar para ajudar no sustento da casa, o Enem é um obstáculo quase insuperável. Estes estudantes sofrem com a falta de infraestrutura, de professores, de recursos pedagógicos e de políticas públicas que garantam uma educação de qualidade.

Pelo fim do vestibular

A solução não é apenas “melhorar a segurança” da prova, mas questionar a própria existência dela. A educação é um direito universal, não um prêmio para quem sobrevive a uma maratona de falhas e ansiedade. É preciso lutar pelo fim do vestibular e pelo livre acesso à universidade pública, gratuita e de qualidade para todos. Enquanto o ensino for tratado como privilégio e o acesso for mediado por provas falhas e excludentes, a juventude trabalhadora continuará pagando a conta.

Rompendo o silêncio: pesquisadores concluem a 2ª etapa de escavações no DOI-CODI/SP

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Grupos da UFMG, Unicamp e Unifesp realizaram escavações que tem por objetivo restaurar os espaços e romper o silêncio sobre o passado do prédio onde há 50 anos foi assassinado e forjado o suícidio do jornalista Vladimir Herzog

Wildally Souza | São Paulo​


Entre os dias 27 de outubro e 8 de novembro de 2025, equipes de Arqueologia da UFMG, Arqueologia Pública da Unicamp e Arqueologia Forense da Unifesp e Arquitetura e Patrimônio que fazem parte do Grupo de Trabalho do DOI-CODI, retomaram as escavações no antigo DOI-CODI de São Paulo, localizado na Rua Tutóia, 921,Vila Mariana, atual sede da 36ª Delegacia de Polícia Civil.​

A segunda parte da ação que busca vestígios dos anos da ditadura militar faz parte das investigações iniciadas em agosto de 2023, com o objetivo de compreender a materialidade e as transformações do espaço que funcionou como um dos principais e o mais notório centro de repressão da ditadura militar brasileira, entre 1969 e 1983. ​

O que significam as escavações no DOI-CODI/SP

O Destacamento de Operações de Informação — Centro de Operações de Defesa Interna (DOI-CODI) foi o principal órgão da ditadura militar encarregado de reprimir opositores do regime. Estima-se que cerca de 7.000 pessoas tenham sido presas e interrogadas – frequentemente sob tortura — no prédio que, apesar de poucas, foi desfigurado e sofreu transformações de suas estruturas após o fim da ditadura. ​

Os prédios do antigo DOI-CODI/SP são considerados como marcos físicos, que documentam o período em que vigorou a ditadura. As escavações e as pesquisas no local possibilitam materializar vestigios da repressão, tortura e desaparecimentos forçados.

As escavações também permitem que os relatos orais dos que passaram pelos centro de torturas se transformem em provas físicas que rompam o silêncio de histórias abafadas ou silenciadas por inteiro, fortaleçam a necessidade da preservação da memória para que tais atrocidades não se repitam, além de contrapor as narrativas oficiais do Estado brasileiro sobre esses crimes contra o povo.

Deborah Neves, pesquisadora de pós-doutorado e coordenadora do Grupo de Trabalho Memorial DOI-CODI, explica a importância do trabalho arqueológico nos centros de repressão: “Todo esse processo detalhado que temos feito e que materializa a história, contribui para que outros lugares que também estão sendo reivindicados para serem transformados em centros de memória, tenham uma ideia de qual o percurso mais interessante a se seguir”, afirma. ​

A equipe de escavações contou com pesquisadores da UFMG, UNICAMP e UNFESP. Foto: Wildally Souza/JAVSP

A pesquisadora ainda explica ao jornal A Verdade  o porquê do levantamento arqueológico e físico do local ser importante para a luta por Memória, Verdade, Justiça e Reparação. “Pra gente entender o que esse prédio tinha para nos contar, era importante que a gente fizesse essa pesquisa arqueológica, justamente para tratar ele como um espaço de cena de crime efetivamente. Então, por isso o trabalho da arqueologia foi muito importante para revelar esses aspectos de espaço criminal. Isso contribui efetivamente para que a reparação dos crimes venham junto com a luta por memória e verdade”, explica a pesquisadora. ​

Já a mestranda em Arqueologia Pública pela Unicamp, Beatriz Mazim, explicou como foi realizado o processo de abertura das sondagens arqueológicas — intervenções em profundidade no solo que permitem a avaliação da história, natureza e da estratigrafia de um determinado local.

“Aqui em 2023 foram abertas cinco sondagens de 1×1 m. Essas sondagens são para verificar o potencial arqueológico do lugar. E aqui, verificaram que tinha um potencial arqueológico bom. E nessa etapa, foi decidido abrir uma única sondagem em formato de trincheira de três metros quadrados e aberta na área externa, que é uma sondagem um pouco mais comprida. Assim, as escavações vão acontecendo aos poucos, procurando detalhadamente os vestígios daquele período. E a expectativa é sempre de chegar no nível zero, uma espécie de um solo virgem da época, o que será determinante para reconstruir a história, colocar pingos no ‘i’s e determinar em diversos aspectos o que de fato aconteceu aqui, juntando com as histórias orais e os relatos diversos que contemplam esse local”, explica Mazim. ​

O que foi encontrado no local?

Na primeira etapa das escavações, ocorridas em 2023, entre os indícios preliminares de tortura encontrados no local, estão escritos nas paredes feitos pelos prisioneiros, artefatos que indicam o processo de sequestro e fichamento dos prisioneiros e resíduos de um material que indicava a presença de sangue. ​

Já na segunda etapa, nas escavações, coordenadas pelo Professor Andrés Zarankin (UFMG), foram encontrados diversos vestígios arqueológicos, tais como materiais construtivos associados às mudanças físicas na arquitetura do prédio ao longo do tempo e objetos que podem estar relacionados ao funcionamento cotidiano do complexo: louças, vidro, metais, etiquetas de produtos, etc. ​

Estes materiais são oriundos da trincheira na entrada do edifício onde ocorriam grande parte dos interrogatórios e torturas e onde foi capturada a foto que simula o suicídio de Vladimir Herzog — até o momento única imagem interna do edifício durante o funcionamento do DOI-CODI. O artefato que mais chamou a atenção da equipe é uma prótese dentária, que será analisada em laboratório para identificar, por exemplo, o material de que foi feita, a técnica de produção empregada e, a partir
desses elementos, a época na qual foi utilizada.

Prótese dentária encontrada durante as escavações. Foto: Wildally Souza/JAVSP

A equipe de Arqueologia Forense, coordenada pela professora Cláudia Plens (Unifesp) em colaboração com a Dra. Maryah Haertel (UFSC), ampliou as análises no segundo andar do edifício, com o objetivo de identificar possíveis vestígios orgânicos humanos, como a presença de sangue, por meio da aplicação de técnicas forenses que incluem o uso de luminol — reagente químico que, em contato com o ferro da hemoglobina, emite uma luz azulada — e de luzes forenses.​

Nesta etapa, ainda foi iniciado um importante trabalho de levantamento arquitetônico coordenado pelo arquiteto Alessandro Sbampato (Rebrapesc) em colaboração com Deborah Neves (Unifesp). A partir dele, tem sido possível analisar materiais construtivos recuperados nas escavações de 2023 em confronto com plantas originais localizadas em 2021 e identificar técnicas construtivas.

Sobretudo, tem sido possível identificar causas, mecanismos e efeitos de anos de desuso e má conservação do edifício 2-A, desde alterações nos materiais provocadas por infiltrações de água até a presença de agentes biológicos de degradação, como cupins e pombos.​

O Grupo de Trabalho Memorial DOI-CODI destaca que dessa etapa resultará tanto um diagnóstico conclusivo com previsão de custo para realizar os reparos necessários quanto “diretrizes detalhadas de intervenção neste importante e singular patrimônio cultural edificado do Estado de São Paulo, com relevância nacional”​.

Trabalho de memória com as crianças e documentário “Arqueologia da tortura”

Sob a coordenação da professora Aline Carvalho (Unicamp) e da Dra. Fernanda Lima (UFMG), a equipe de Arqueologia Pública ainda promoveu visitas mediadas ao espaço. O local também recebeu diversos ex-presos políticos que passaram pelo DOI-CODI e filhos (as) de sobreviventes. Além disso, o grupo desenvolveu oficinas educativas para professores e estudantes, com foco na história da repressão no
Brasil e a luta por direitos humanos. ​

Para Deborah essa é a parte mais bonita do trabalho. “É poder mudar a história do futuro. Como eles são muito jovens, não têm medo de fazer perguntas e não têm medo de errar. Então, eles trazem questionamentos pra gente que às vezes a gente nunca nem tinha pensado. E eu acho que trazê-los para essa visita também permite que eles tenham contato com a realidade que às vezes é muito distante. Às vezes, eles têm contato só por meio de livros ou de séries e parece que é uma coisa que
nunca existiu. Então, trazê-los aqui permite que eles conheçam de perto a história do Brasil passada a limpo “, explica. ​

O professor Andrés Zarankin também acredita que o projeto terá um papel pedagógico relevante sobre a sociedade. “Considero que haverá uma contribuição importante para a conscientização sobre o que significa realmente um governo de exceção, no qual as pessoas são tratadas como inimigas apenas por pensarem diferente”, conclui.​

Durante toda semana, os trabalhos puderam ser contemplados pelos alunos de escolas públicas e instituições de ensino, que assistiram relatos dos presos políticos ainda vivos, tiveram contato com os materiais encontrados durante as escavações de 2023 e puderam perguntar e comentar sobre o que aprenderam sobre o prédio, a repressão contra o povo e a luta por memória, verdade e justiça no Brasil e no mundo. A criançada curiosa e envolta em conhecer essa parte dolorosa da história do Brasil declararam que no futuro tal coisa não acontecerá mais, porque “agora sabemos da verdadeira história e não vamos repeti-la”.​

O projeto ainda contempla um documentário dirigido e roteirizado por Carla Gallo e com produção da Ouro de Tolo Filmes. Intitulado “Arqueologia da tortura”, a produção audivisual tem o obejtivo de documentar todo o processo de luta para que o local se transforme em um Memorial, além de acessiblizar as informações sobre o que aconteceu no prédio para além do que está nos livros e depoimentos, mas considerando também o que está no solo, nas paredes e nos objetos que passamos por cima diariamente e não temos noção do poder arqueologico. ​

Para Carla esse documentário é uma missão de cobrar uma dívida do passado. “O documentário é um veículo de informação, é um veículo de emoção, e a gente vê a reação das pessoas quando assistem. E é uma reação de emoção e de tomada de consciência sobre a importância do que está sendo feito aqui. É também fazer cumprir efetivamente esse processo de verdade e justiça. A gente tem, no filme, o
acompanhamento da primeira etapa, com o encontro dos ex-presos políticos, a análise da arquitetura, a história do prédio, e a arqueologia forense também, que busca vestígios de sangue E foi muito emocionante, porque a gente viu as coisas acontecendo. A persistência,a esperança deles e as vitórias que eles vão tendo nesse processo, que é muito lento, muito burocrático e muito difícil, também está
documentada por completo”, declara a diretora. ​

Indígena Guarani Kaiowá é morto por pistoleiros no Mato Grosso do Sul

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Segundo o Conselho Indigenista Missionário, testemunhas relataram que os agressores tentaram remover o corpo da vítima do local.

Verônica Serpa 


BRASIL – Um homem indígena da etnia Guarani e Kaiowá foi assassinado na madrugada do último domingo (16) durante um ataque de pistoleiros em área de retomada da Terra Indígena (TI) Iguatemipeguá, na cidade de Iguatemi, no Mato Grosso do Sul.

Em nota à imprensa, o Conselho Indigenista Missionário (Cimi) informou que homens fortemente armados invadiram o território e assassinaram Vicente Fernandes Vilhalva Kaiowá e Guarani, de 36 anos, com um tiro na cabeça. Segundo relatos, os atiradores tentaram recolher o corpo da vítima, mas foram impedidos pelos indígenas.

O ataque começou por volta das quatro horas da manhã e durou cerca de duas horas. O comunicado da organização destaca que um cerco foi realizado contra a aldeia e uma ponte foi destruída para impedir o acesso ao local, o que dificultou a chegada da Força Nacional de Segurança Pública (FNSP)

Outras quatro pessoas foram atingidas por disparos, entre elas dois adolescentes e uma mulher. Um adolescente foi alvejado com arma de fogo e os demais foram atingidos com balas de borracha. O Cimi recorda que esse tipo de armamento não letal é restrito ao uso das forças de segurança.

“Compondo a agromilícia, tratores derrubaram os barracos da retomada e abriram buracos para enterrar os pertences dos Kaiowá e Guarani, como panelas, roupas, mantimentos, lonas e objetos ligados à espiritualidade e cultura do povo. Alguns barracos e utensílios foram incendiados”, diz trecho do comunicado.

Desde outubro, a etnia iniciou a retomada que ocupa uma área de 100 hectares da Fazenda Cachoeira sobreposta à TI e fronteiriça à aldeia Pyelito Kue. O local abriga mais de 200 pessoas em apenas um dos 761 hectares da fazenda. Neste intervalo, a comunidade já sofreu quatro ataques. 

Em 2007, o Ministério Público Federal (MPF) e a Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai) assinaram um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) que definia o prazo de três anos para a publicação dos estudos do conjunto de TIs Guarani e Kaiowá no estado. O relatório, que só foi publicado em 2013, delimitou o território com 41,5 mil hectares.

A Funai, também em nota, manifestou pesar pela morte de Vicente Fernandes e reforçou a necessidade de uma ação rigorosa para investigar o caso. A autarquia solicitou ações conjuntas para combater os grupos de pistoleiros que atuam na região.

“É inaceitável que indígenas continuem perdendo suas vidas por defender seus territórios. A morte de mais um indígena Guarani Kaiowá acontece ao mesmo tempo em que o mundo discute e visualiza a importância dos povos indígenas para a mitigação climática debatida na COP30, infelizmente evidenciando que não existe trégua na perseguição aos corpos dos defensores do clima”.

Reproduzido na íntegra de Alma Preta

Rios, Pontes e Overdrives: O Pensamento de Josué de Castro Introduzido no Movimento Manguebeat

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O movimento Manguebeat foi muito além da  música. Inspirado nos estudos e contribuições de Josué de Castro, a cena musical brasileira foi inundada de uma arte politizada, contestadora e muito atual. 

Alberes Simão| Petrolina (PE)


CULTURA- No cruzamento emblemático entre os rios do Capibaribe, as pontes do Recife e os cabos elétricos das guitarras, nasceu nos anos 1990 o Manguebeat, movimento que uniu som, meio ambiente, política e identidade. Mas por trás dos tambores e dos overdrives, pulsava também um pensamento profundamente socialista e humanista — o pensamento de Josué de Castro, médico, geógrafo e militante comunista que revelou ao mundo o mapa da fome e denunciou a miséria como produto da exploração capitalista.

“Uma antena enfiada na lama, sintonizada com o mundo.” Assim Chico Science definiu o Manguebeat. E essa imagem — lama e antena — poderia muito bem sintetizar o método de Josué de Castro: compreender o local sem perder de vista o global; entender o Recife, sua fome e sua cultura, como um microcosmo dentro de uma estrutura internacional de dominação.

O Manguebeat surgiu num contexto de crise urbana e cultural, quando o Recife dos anos 1990 sofria com desemprego, exclusão e o avanço da lógica neoliberal. Os jovens artistas, vindos das periferias, dos mocambos e das zonas alagadas, reagiram com música e crítica social. A batida eletrônica misturada ao maracatu era também uma denúncia da desigualdade e uma afirmação da vida popular — outra prática estética e política que dialogava diretamente com a obra de Josué de Castro.

O pensamento de Josué de Castro e sua contribuição social

Em Geografia da Fome (1946) e Homens e Caranguejos (1967), Josué mostrou como a fome não é um fenômeno natural, mas resultado histórico da concentração da terra, da renda e do poder. Essa análise estrutural inspirou gerações de intelectuais e militantes, e encontrou eco no Manguebeat, que via na cultura popular o terreno da resistência. O som do mangue não era apenas mistura: era método. Um modo de recompor o tecido social rasgado pela lógica da exclusão.

A ponte entre Josué e o Mangue está justamente na ideia de que a cultura é também campo de luta de classes. Ambos partiram da lama — um, para denunciar a fome; outro, para transformá-la em ritmo. Ambos acreditavam que a transformação social começa pela consciência: “O primeiro passo para matar a fome é entender a fome”, dizia Josué; “A lama é o nosso chão fértil”, dizia Chico.

O movimento Manguebeat, ao introduzir o pensamento de Josué de Castro em sua pulsação estética, reconectou o Marxismo com a cultura popular — não pela teoria abstrata, mas pela vivência concreta das ruas, dos manguezais, da cidade partida. A crítica ao colonialismo cultural e à dependência econômica, tão presentes em Josué, tornaram-se beats, rimas e metáforas urbanas.

O escritor e militante do Partido Comunista Revolucionário Luiz Falcão, em sua obra As Maravilhas do Capitalismo, desmonta com ironia e contundência o discurso ideológico da burguesia. Ele escreve:

“O capitalismo é o único sistema capaz de transformar a miséria em espetáculo e o sofrimento humano em mercadoria.”

 

A frase sintetiza com precisão o caráter desumano do capital. Tudo o que toca, da cultura à natureza, do corpo ao afeto, é convertido em valor de troca. A pobreza, em vez de ser combatida, é transformada em produto midiático, e a solidariedade, em campanha publicitária.

Hoje, diante do avanço do capitalismo cultural e da banalização das expressões populares, revisitar esse encontro é um ato político. Rios, pontes e overdrives não são apenas paisagens recifenses: são metáforas de resistência. O rio que corta a cidade é o mesmo que alimenta o povo; a ponte é o elo entre o saber popular e a ciência crítica; o overdrive é a distorção necessária para que a voz do oprimido seja ouvida.

“Josué de Castro plantou a semente. O Manguebeat fez essa semente pulsar no corpo da cidade”.

Ao conectar ciência e arte, fome e som, luta e estética, o Manguebeat fez ecoar, em batidas eletrificadas, a velha lição marxista de Josué de Castro: enquanto houver fome, haverá luta; enquanto houver povo, haverá cultura.