UM JORNAL DOS TRABALHADORES NA LUTA PELO SOCIALISMO

sexta-feira, 18 de abril de 2025
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Entregadores de aplicativo realizam atos por melhores condições de trabalho em todo o país

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Em nova paralisação, entregadores exigem melhores condições de trabalho, auxílio em caso de acidentes e reajuste nas remunerações oferecidas pelos aplicativos.

Estefani Maciel | São Paulo (SP)


Esta segunda-feira (31/3) marca uma nova etapa na luta dos trabalhadores que realizam entregas por aplicativos. Entregadores de todo o Brasil realizaram manifestações durante o dia que reuniram milhares de trabalhadores, mirando especialmente no iFood, empresa que atualmente controla 80% do mercado de delivery no país.

O aplicativo controlado pela holding holandesa Prosus, que comprou suas ações em 2022 por R$9,4 bilhões, repassa valores irrisórios aos trabalhadores que estão em sua linha de frente. Em média, um entregador recebe R$1,50 por quilômetro rodado e R$6,50 por rota realizada. Sem garantias de seguros em caso de roubo, suporte para acidentes ou qualquer oferta de alimentação, nenhum centavo do lucro anual de R$7,1 bilhões do iFood é revertido aos entregadores. Muito pelo contrário, os investimentos giram apenas entre os grandes monopólios, como o Grupo Globo, que recebeu R$47 milhões em cota de propaganda para o Big Brother Brasil 2024.

“Quanto custa o óleo na moto dos caras? Quanto custa a manutenção no câmbio de uma bike?” questionou Renato* ao jornal A Verdade durante a manifestação em São Paulo. “Nós, bikes e motocas, sofremos na chuva e no sol. O valor que é pago a nós não compete com o que a gente vive”, afirmou. 

Gabriel*, entregador de Guaianases, na zona leste de São Paulo, declarou que “eles lucram 7 bilhões, não sou eu que tô dizendo, tá em todo canto aí pra vocês verem. Porque nós, os entregadores, estamos passando fome? É porque eles só pensam no bolso deles. Tem um mano lá na Cidade Tiradentes que sofreu acidente, se não fosse a gente se mobilizar pra levar cesta básica pra ele, tava ele e a mulher dele passando fome.”Foto: Wildally Souza (JAV/SP)

Luta pela redução da jornada de trabalho

Demonstrando também a imensa solidariedade entre a classe trabalhadora, os entregadores também afirmaram que a nova greve está intrinsecamente ligada na luta pelo fim da escala 6×1, pauta que ganhou projeção nacional nos últimos meses e que já mobilizou trabalhadores no setor da indústria, com a greve da PepsiCo e, mais recentemente, trabalhadores do comércio e varejo, em ato organizado pela Unidade Popular no último dia 19 de março, no Shopping Itaquera, zona leste de São Paulo.

“De fato, eu posso levar meu filho na escola às 11h e ligar o aplicativo às 11h30”, disse o entregador Nicolas Santos. “Então, você acaba construindo sua vida em torno daquilo e nunca mais se imagina dentro de um ambiente fechado onde você não pode, por exemplo, levar seu filho na escola.”

Essa falsa flexibilidade escancara um problema ainda mais profundo. Para poder receber um valor que possa pagar as contas, mesmo sem horário obrigatório, é necessário fazer longas jornadas. É o que relata Amanda*, esposa de um dos entregadores presentes na manifestação. “Tem vez que a gente passa dias só se vendo de madrugada e às vezes o sono é tão grande que ele passa mal”. Gestante, Amanda também nos disse que a indignação é grande: “Os caras do iFood tão lá tudo engravatado e com a cara limpa, não tem um negro, porque os pretos tão lá em cima da Honda, da 160, pra ganhar o dinheiro deles!”

A manifestação dos entregadores em São Paulo seguiu até o MASP, onde realizaram intervenções denunciando a violência que a empresa promove pela falta de suporte aos entregadores mortos em acidentes e assaltos. Em seguida, os entregadores foram até a sede do iFood, em Osasco, com o objetivo de pressionar a empresa a negociar com a categoria. 

A proposta dos entregadores foi de que algum representante da empresa fosse até o trio e se comprometesse a realizar essa negociação, porém, a empresa acionou a polícia para negociar a saída dos entregadores e que 10 lideranças fossem até a sede para conversar sobre as reivindicações. No fim da tarde de hoje, em nota oficial, o iFood informou que “não se compromete em atender as reivindicações, mas que continuará dialogando com os trabalhadores.”

Entregadores exigem melhores condições de trabalho. (Foto: Wildally Souza)

O povo quer luta

Os últimos meses demonstram o intenso anseio da classe trabalhadora em construir uma nova sociedade, livre da exploração, com condições dignas para comer, trabalhar e viver.

Em todo Brasil, e no mundo, trabalhadores dos mais variados setores estão mobilizando suas categorias em busca de melhores condições de trabalho, remunerações adequadas e jornadas justas.

O que está sendo desenhado para a classe operária é uma nova jornada de lutas, cada vez mais acirradas, rumo a uma greve geral que marcará uma divisão de águas entre a conjuntura de exploração capitalista e a construção da sociedade socialista. 

12ª edição do Cordão da Mentira denunciará golpismo e genocídio negro e indígena

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Convocado todos os anos para o dia do golpe militar de 1964, Cordão da Mentira denuncia os crimes cometidos pelo Estado ontem e hoje. A concentração para o ato terá início às 18h no Pateo do Collegio, no Centro de São Paulo.

Redação SP


Nesta terça-feira (1º/4), a partir das 18 horas, o Cordão da Mentira fará o seu tradicional desfile-escracho no centro de São Paulo. O tema da 12ª edição do ato, a ser realizada neste ano, será “Desfile Para Adiar o Fim do Mundo”, lembrando o genocídio indígena, palestino e da população preta e periférica.

Todos os anos, na data do golpe de 1964 e do Dia da Mentira, o Cordão sai às ruas com a participação de indígenas, mães de vítimas da violência de Estado e sobreviventes dos massacres que acontecem há mais de 500 anos neste território, denunciando a opressão estatal e os crimes cometidos em nome do poder. Composto por artistas e militantes, o bloco denuncia que essa realidade não se alterou mesmo depois do fim da ditadura militar fascista.

“Novamente, entoaremos nas ruas nossas canções de liberdade contra os fascistas da política e contra a militarização da vida. Celebraremos a memória dos mártires de ontem e de hoje. Nós lutamos para que o Cordão, um dia, perca seu sentido: lutamos para não celebrar a memória dos massacrados do futuro. Acreditamos que um outro mundo é possível”, defende Thiago B. Mendonça, um dos organizadores do Cordão da Mentira.

Neste ano, participarão do ato artistas como Douglas Germano, Roberta Oliveira, Renato Martins e Selito SD e movimentos de familiares de vítimas da violência do Estado, como as Mães de Maio, Mães de Paraisópolis – “Os 9 que perdemos”, Mães de Maio do Nordeste e as Mães de Manguinhos. Também estarão presentes os movimentos sociais, inclusive aqueles que constroem a Unidade Popular (UP).

Punição aos genocidas e golpistas no Brasil e na Palestina

No contexto da intensificação da luta pela punição dos envolvidos na tentativa de golpe liderada por Jair Bolsonaro, “cantaremos também contra os golpistas de ontem e de hoje, afirmando nosso repúdio à sua anistia, assim como à de torturadores e assassinos” complementa Thiago Mendonça. O cortejo ainda denunciará o genocídio que vem sendo cometido por Israel contra o povo palestino, que recentemente alcançou 50 mil mortes confirmadas pelo Ministério da Saúde de Gaza.

Para além da denúncia dos crimes do Estado, os organizadores do bloco que sairá às ruas neste 1º de abril defendem a importância de seguir lutando por uma sociedade mais justa e digna. “É mais fácil imaginar o fim do mundo do que o fim do capitalismo? Nós acreditamos que não. E é criando nas ruas que participamos da invenção de outra sociedade”, conclui Thiago.


12º DESFILE DO CORDÃO DA MENTIRA 2024 

Quando: 1º de abril, esta terça-feira.

Que horas: A partir das 18 horas.

Onde: Concentração no Pateo do Collegio, no centro de São Paulo.

Trabalhadores do Mercado Livre relatam precarização nos Centros de Distribuição e na área de Tecnologia

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Enquanto reporta lucros e investe em patrocínios e marketing bilionários, o Mercado Livre tenta silenciar e desmobilizar a organização dos trabalhadores. Empresa chegou a apagar e-mail de convocação de assembleia sindical. Também convocou gerentes para coagir trabalhadores a votar a favor do Acordo Coletivo da empresa em 2024.

Movimento Luta de Classes – Tecnologia


TRABALHADOR UNIDO – Há pouco mais de um ano, em fevereiro de 2024, um jovem, reconhecido por seus colegas como funcionário exemplar, tirou a própria vida após receber a notícia de que estava sendo demitido da empresa. O nome deste trabalhador é Luis Felipe Dominicalli e o nome desta empresa é Mercado Livre. 

Entre os relatos de colegas de Luis Felipe, se acumulam denúncias de assédio moral e sobre o ambiente tóxico do setor de operações em Cajamar (SP). “Esse lugar é um verdadeiro hospício! Saí de lá muito abalada psicologicamente e por muito pouco não aconteceu o mesmo comigo”, disse uma ex-funcionária nas redes digitais de uma mídia local.

Infelizmente, Luis Felipe foi mais uma vítima do sistema capitalista que tira a vida da classe trabalhadora para garantir o lucro dos empresários e dos super-ricos. 

Trabalhadores dos Centros de Distribuição em Santa Catarina relatam abusos

Além do que aconteceu em Cajamar, o Movimento Luta de Classes, junto aos trabalhadores do Mercado Livre, coletou dezenas de denúncias de trabalhadores dos Centros de Distribuição de Santa Catarina. Os trabalhadores relataram casos de assédio, de perseguição e de exaustão. “É um absurdo a sobrecarga física, eu tive que ir trabalhar com meu pulso machucado. Acabei com minha coluna, tenho escoliose por causa do trabalho pesado. Eu tinha crise de ansiedade todo  dia, passei por um período de depressão que eu só sentia vontade de morrer”, denuncia um trabalhador.

Outro trabalhador relata que trabalhava sob calor e frio extremos, nos turnos da madrugada e acabou pegando pneumonia. “Faltei ao trabalho algumas vezes por não conseguir lidar com a pressão e quando voltei novamente com atestado de psiquiatra e psicólogo de que não podia trabalhar sozinho, a demissão veio no mesmo dia”, relata.

Trabalhador tem que ir para o escritório, mas empresa se recusa a custear transporte e hospedagem

Além do ambiente insalubre e inseguro nos Centros de Distribuição, os trabalhadores relatam que sofrem perseguição e demissão quando questionaram e criticaram abertamente as políticas da “cultura Meli”, como a presencialidade obrigatória.

De acordo com essa política, instituída em 2024 de maneira informal, os trabalhadores precisam comparecer presencialmente ao escritório pelo menos 1 vez a cada trimestre. O problema é que o contrato de grande parte desses trabalhadores funciona no regime de home office integral. Ou seja, estes funcionários vivem a centenas de quilômetros de distância dos locais em que estão alocados os escritórios.

Além disso, a empresa se recusa a pagar a ajuda de custo de transporte ou hospedagem. “Fui desligado no dia em que me manifestei em reunião que arcar com os custos da viagem. Disse que não estava de acordo com o Acordo Coletivo de Trabalho vigente”, desabafa um dos demitidos em pesquisa feita pelo grupo de trabalhadores organizados no perfil @trabalhadoresmeli.

Na prática, o salário desses trabalhadores reduziu, uma vez que parte do seu pagamento precisará ser utilizada para pagar os custos da viagem obrigatória. No caso de funcionários que precisam se deslocar do Nordeste até São Paulo, as passagens podem chegar a R$ 3.000.

Trabalhadores de TI lutam pela redução da jornada de trabalho 

Em 2024, os trabalhadores de tecnologia do Mercado Livre de Santa Catarina se organizaram e procuraram seu novo sindicato, o Sindpd/SC para debater um novo Acordo Coletivo. Entre as principais reivindicações estava a redução da jornada de trabalho para 40 horas (realidade para grande parte da categoria de TI) e a garantia do home office. 

Mas a empresa não apenas ignorou as reivindicações dos empregados, como tentou dissuadir e silenciar a Assembleia convocada pelo Sindpd/SC.

Em novembro de 2024, apagou os e-mails de convocatória da caixa de entrada dos funcionários e mobilizou dezenas de gerentes para votarem a favor da empresa.

De acordo com os relatos, o jurídico da empresa orientou os líderes a convencerem os seus times de que a proposta oferecida pela empresa era melhor. Além disso, mentiam dizendo que, caso a proposta da empresa não fosse aprovada, “perderiam direitos e inúmeros benefícios”.

“A ação gerou dúvida em uma série de trabalhadores, e quando nós perguntávamos nos canais de comunicação internos da empresa, sofríamos represália por parte dos gerentes”, relata um dos trabalhadores que foi perseguido.

Proposta dos trabalhadores obteve 42% dos votos

Mesmo sendo perseguidos de forma aberta, 42% dos trabalhadores votaram contra a proposta da empresa. Tal proposta nada oferecia aos trabalhadores, a não ser a suspensão por 6 meses da política da presencialidade.

Mesmo com essa medida aprovada no ACT, os trabalhadores denunciaram que a empresa não fez nenhum comunicado oficial sobre a suspensão do regime presencial. Simplesmente continua agindo como se nada tivesse acontecendo.

Além disso, diversos trabalhadores relatam que ao sondarem sua liderança, provavelmente por medo de represálias, recebem a recomendação de continuar indo ao escritório.

Cláusula presente no Acordo Coletivo de Trabalho 2024-2025 (disponível no site do sindpdsc.org.br) suspende a obrigatoriedade da presencialidade por 180 dias. Empresa, no entanto, não está cumprindo esta regulamentação.

Trabalhadores são demitidos por “desalinhamento cultural”

Após a Assembleia de 2024, uma nova onda de demissões começou sob o mote de “desalinhamento cultural”. “Vivemos sob um processo de demissão massiva que pode estar acontecendo a conta-gotas. Criamos o formulário para dizer para as pessoas que estão sendo demitidas de que elas não estão sozinhas. Queremos que saibam que juntos, podemos erguer as nossas vozes contra as arbitrariedades cometidas pela empresa. Esta gestão fascista depois de nos adoecer física e mentalmente, persegue a todos que se opõem de alguma maneira a essa cultura doentia”, afirma um dos trabalhadores organizados.

A pressão por resultados e falta de compreensão e humanidade estão causando danos psicológicos a centenas de pessoas. “Sinto que me demitiram mais por questionar do que por performance. Me demitiram dois dias depois do meu aniversário. A demissão silenciosa acontece desde a mudança de sede”, desabafa uma ex-funcionária.

A luta continua

Em novembro do ano passado, o Movimento Luta de Classes (MLC), junto com alguns trabalhadores, organizou um ato em frente à empresa para denunciar a Black Fraude.

Nesse período, os imensos lucros do Mercado Livre ficam ainda maiores. Por isso, explora ainda mais os trabalhadores e os submete a metas e jornadas exaustivas, recompensando-os com pizzas, energéticos e outros “benefícios”. 

Já em fevereiro deste ano, a empresa perdeu novamente na Justiça e terá que indenizar funcionários e ex-funcionários por diferenças nos valores pagos em reajustes salariais, horas extras e adicionais noturnos. A decisão deve beneficiar cerca de 5 mil trabalhadores, entre empregados e ex-funcionários.

Todos estes acontecimentos demonstram que os trabalhadores permanecem organizados e em luta para mudar os rumos desta história, como disse Lenin em “Sobre As Greves”: “Quando os operários levantam juntos suas reivindicações e se negam a submeter-se a quem tem a bolsa de ouro, deixam então de ser escravos, convertem-se em humanos e começam a exigir que seu trabalho não sirva somente para enriquecer a um punhado de parasitas, mas que permita aos trabalhadores viver como pessoas.”

Em memória de Edson Luís, AMES-SP é fundada em São Paulo

Durante o Encontro dos Estudantes Secundaristas da Região Metropolitana de São Paulo, foi fundada a Associação Metropolitana dos Estudantes Secundaristas de São Paulo (AMES-SP), visando aglutinar e impulsionar a luta secundarista na região.

Coordenação do Movimento Rebele-se SP


O relato

[…] Naquele dia, meu corpo eles tombaram
Mesmo assim eu segui caminhando
Pois mil pernas jovens me levaram
E até hoje continuamos marchando 

Por favor, conte sempre esse relato
Do protesto no restaurante Calabouço
Pois ainda queremos comida no prato
Nós somos Edson Luís de Lima Souto […]”
(Kay Lins, da UJR-SP)

Foi dessa forma que o Movimento Rebele-se iniciou o grandioso Encontro dos Estudantes Secundaristas da Região Metropolitana de São Paulo: rememorando um dos acontecimentos mais marcantes da história brasileira, o assassinato do estudante secundarista Edson Luís pelas mãos da ditadura militar, em 1968. 

Diante do cenário atual da educação, não é raro encontrar salas de aula ocupadas por estudantes exaustos, indignados e especialmente revoltados com o sistema. É o sistema capitalista que permite aos políticos — representantes dos ricos — orquestrar em São Paulo um esquema de educação limitante, que expulsa a juventude mais pobre da sala de aula e, pra quem fica, impõe projetos que sugam a qualidade do ensino gratuito, minando a emancipação, o desenvolvimento do senso crítico e o futuro. 

O interesse por trás do sucateamento das escolas públicas é claro. A burguesia brasileira segue na tentativa de manter a juventude trabalhadora nas piores condições de vida, amarrada a seus grilhões, enquanto expande seu lucro no “mercado da educação”. Exemplo disso é o próprio CMSP (Centro de Mídias do Estado de São Paulo): à medida que o conteúdo dos itinerários “nada formativos” oferecido é vazio e insuficiente, empresas como Alura (contratada pelo Governo Tarcísio em 2023 por R$30 milhões sem licitação) escoam o dinheiro público para o bolso do empresariado.

Ainda assim, apesar das investidas desses sujeitos contra nós, os estudantes da região metropolitana de São Paulo não se rendem! Inspirados pela luta dos que tombaram na ditadura, o dia 28 de março foi marcado pela energia, combatividade e vontade de mudar completamente os rumos do movimento estudantil através da mobilização e da luta unificada entre as entidades e os grêmios dessas regiões. 

Organizar um movimento estudantil verdadeiramente combativo

O Encontro, que contou com a presença de cerca de 150 estudantes de mais de 40 escolas espalhadas por 12 municípios da Grande São Paulo, foi marcado pelo sentimento da necessidade concreta de batalhar por uma educação de qualidade. 

As intervenções dos grupos de debate deixaram claro o que isso significa: erguer ainda mais alto a bandeira dos grêmios livres, avançar a luta por mais orçamento para a educação e intensificar as batalhas contra os programas limitantes do Novo Ensino Médio e da Cívico-Militarização das escolas.

“Nos grupos de trabalho, tivemos a oportunidade de refletir sobre nossa escola e elaborar sobre o futuro da luta dos secundaristas de São Paulo”, avaliou Ana Leite, diretora da UBES pelo Movimento Rebele-se.

Onde houverem grêmios censurados, onde os estudantes rebeldes sofrerem perseguição política, devem se levantar aqueles que estão decidindo construir um amanhã diferente para o movimento estudantil.

Foi frente à necessidade de unificar esse movimento combativo, frente à insatisfação com o setor do imobilismo governista, que nasceu a proposta de fundação de uma nova entidade de luta dos estudantes da Grande São Paulo: a Associação Metropolitana dos Estudantes Secundaristas de São Paulo (AMES-SP). 

28 de março e a luta por Memória, Verdade e Justiça!

Estudantes aprovam fundação da AMES SP. Foto: JAV/SP

Nascida para o combate, a novíssima AMES-SP iniciou seus trabalhos em manifestação pelo centro da cidade de São Paulo. Os estudantes caminharam da FATEC SP, onde foi sediado o encontro, até o Memorial da Resistência (antigo DOPS) para denunciar os golpistas de ontem e hoje, pedir a abertura dos arquivos da ditadura militar e repudiar completamente o projeto de fascistização da sociedade e de militarização das escolas paulistas.

“Conhecemos na pele a violência policial do lado de fora, que inclusive tem aumentado, e por isso não queremos policial nenhum do lado de dentro do muro”, disse Laura Machado, estudante do Extremo Sul da capital paulista. É preciso transformar a palavra de ordem “escola não é quartel” em realidade, defendem os estudantes.

Nessa sexta-feira histórica para os estudantes da Grande São Paulo, inicia-se um novo tempo para a organização e crescente das lutas na região. É nosso dever construir uma grande jornada, de escola em escola, sala em sala, que incendeie a luta estudantil e traga grandes conquistas para os jovens paulistas. É só com luta que se conquista!

“AMES-SP
de luta e ação
combatividade
pra mudar a educação!”

OPINIÃO | Casa Marighella: “A CPTM e a privatização”

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“A privatização de empresas públicas estratégicas, como a Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM) e a Sabesp, não é apenas uma questão de gestão, mas um projeto político que aprofunda desigualdades, precariza serviços essenciais e transfere riquezas públicas para o setor privado.”

Casa Marighella


A privatização de empresas públicas estratégicas, como a Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM) e a Sabesp, não é apenas uma questão de gestão, mas um projeto político que aprofunda desigualdades, precariza serviços essenciais e transfere riquezas públicas para o setor privado. No caso do transporte ferroviário e do saneamento básico, essa entrega do patrimônio coletivo a grupos empresariais tem impactos concretos: aumento de tarifas, piora na qualidade do serviço, demissões em massa e a subordinação de direitos sociais à lógica do lucro.

O mito da eficiência privada e a realidade dos prejuízos sociais

efensores da privatização argumentam que a iniciativa privada traz eficiência e modernização. No entanto, os dados mostram o contrário. Um estudo do Dieese (2021) sobre as privatizações no setor de transporte aponta que, em média, “as tarifas aumentam até 50% mais nos sistemas privatizados em comparação com os públicos, sem melhoria proporcional na qualidade”.

Além disso, pesquisa do Ipea (2020) revela que processos de privatização no Brasil frequentemente resultam em demissões em massa, com redução de até 30% dos postos de trabalho nos primeiros anos após a transferência para a iniciativa privada.

No caso específico da CPTM, a justificativa do governo Tarcísio de Freitas para a privatização é a necessidade de investimentos. No entanto, como demonstra um relatório do Tribunal de Contas do Estado de São Paulo (2023), a CPTM apresentava superávit operacional (ou seja, ganhava mais do que gastava em sua operação normal) nos últimos anos, com capacidade de reinvestimento. Ou seja, o problema nunca foi a falta de recursos, mas sim a opção política de desmontar o patrimônio público para beneficiar conglomerados empresariais.

O caso Sabesp: um alerta sobre o que espera a CPTM

O governo Tarcísio de Freitas também avançou no processo de privatização da Sabesp, empresa responsável pelo saneamento básico em São Paulo, essencial para a saúde pública. Apesar de a Sabesp ser uma das empresas públicas mais lucrativas do país – com lucro líquido de R$ 5,6 bilhões em 2022 –, o governo insiste em sua privatização, alegando a necessidade de investimentos. No entanto, como ocorre com a CPTM, a justificativa não se sustenta: a Sabesp já possui capacidade de autofinanciamento e acesso a créditos públicos vantajosos.

A privatização da Sabesp segue um roteiro conhecido:

  1. Aumento de tarifas: Experiências anteriores, como a da Cedae (RJ) – parcialmente privatizada em 2021 –, mostram que as tarifas de água e esgoto subiram 27% em apenas dois anos após a privatização (dados do Instituto Trata Brasil, 2023).
  2. Redução de investimentos em áreas menos lucrativas: Empresas privadas priorizam regiões de alta renda, deixando periferias e cidades pequenas com serviços precários.
  3. Demissões e terceirizações: Como ocorreu na Eletrobras, privatizada em 2022, que demitiu 12% de seus trabalhadores no primeiro ano sob controle privado (FNU, 2023).

Se esse é o futuro que aguarda a Sabesp, é razoável esperar que a CPTM siga o mesmo caminho: tarifas mais caras, menos investimentos em expansão e manutenção, e trabalhadores demitidos em nome da “eficiência” do mercado.

Quem ganha e quem perde com a privatização?

Enquanto o governo estadual repete o discurso de que a privatização trará “melhorias”, a experiência brasileira demonstra que esse modelo privilegia acionistas e grupos econômicos em detrimento da população. Um exemplo emblemático é a privatização da Light (RJ), que, após décadas sob controle privado, mantém uma das tarifas de energia mais caras do país e sofre com constantes blecautes. Da mesma forma, a venda da malha ferroviária federal nos anos 1990 resultou em sucateamento e abandono de linhas que não eram lucrativas, prejudicando o transporte de cargas e passageiros em diversas regiões.

No caso da CPTM, a privatização não apenas ameaça aumentar o custo para o usuário, mas também reduz a capacidade do Estado de planejar políticas públicas integradas de mobilidade. O transporte ferroviário é um serviço de interesse social, não um produto a ser explorado por grupos que visam apenas o retorno financeiro. Quando um governo entrega esse setor ao mercado, ele abre mão de um instrumento crucial para o desenvolvimento urbano e a redução das desigualdades.

A resistência popular e a criminalização dos movimentos sociais

É sintomático que, enquanto o governo de São Paulo acelera a venda da CPTM e da Sabesp, manifestações contrárias à privatização sejam reprimidas com violência policial. Nesta quarta-feira (27/03), familiares e amigos dos ferroviários (@naoprivatiza.cptm) organizaram um ato pacífico pela NÃO PRIVATIZAÇÃO DA CPTM, que tem o leilão das linhas 11,12 e 13 marcado para esta sexta feira (28/03), defendendo um bem público que pertence à população. A resposta do Estado? Pancadas, balas de borracha e bombas de gás desferidas pela Polícia Militar, subordinada a Tarcísio de Freitas. Essa postura autoritária revela o verdadeiro caráter do projeto privatista: não há diálogo, porque as decisões já foram tomadas no gabinete do poder econômico.

Conclusão: defender a CPTM e a Sabesp é defender o Brasil!

A privatização da CPTM e da Sabesp não são casos isolados, mas parte de um projeto maior de desmonte do Estado e entrega de setores estratégicos ao capital estrangeiro e a grupos nacionais privilegiados. Se permitirmos que esses processos avancem, o transporte público e o saneamento básico se tornarão ainda mais excludentes, e o Brasil perderá mais ferramentas de soberania e desenvolvimento social.

A luta contra a privatização não é apenas uma questão sindical ou setorial – é uma batalha pelo futuro do país. Ou resistimos agora, ou assistiremos, em poucos anos, ao sucateamento de mais direitos conquistados a duras penas pela classe trabalhadora.

Texto originalmente publicado no site da Casa Marighella

Nota: Repúdio às agressões da PM-SP contra jornalistas do jornal A Verdade

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Repórteres e fotojornalistas enfrentam agressões físicas, intimidações e até detenções arbitrárias durante a cobertura de manifestações, evidenciando os riscos crescentes para a liberdade de imprensa e os desafios da proteção aos profissionais da mídia em contextos de protesto e repressão policial.

Redação SP


Nesta quinta-feira, uma manifestação contra a privatização de três linhas da Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM), em São Paulo, terminou com violência. Muitos manifestantes saíram feridos e pelo menos três foram presos. Entre os atingidos pela repressão policial estavam jornalistas que acompanhavam o ato e foram impedidos de exercer seu trabalho. Mesmo identificados, profissionais da imprensa sofreram agressões, foram alvo de spray de pimenta e golpes de cassetete, em um episódio que reforça a escalada da repressão contra a comunicação independente.

Wildally Souza, fotojornalista que cobria a manifestação, relatou que a equipe de imprensa já estava atenta à possibilidade de violência. “A todo momento estávamos muito espertos e preparados para a repressão, porque cobrimos diariamente a violência policial contra o povo e sabemos que ela acontece por nada”, afirmou. No momento da dispersão, os jornalistas se posicionaram à frente do cordão de manifestantes, mas foram duramente atacados pela polícia. “Quando a polícia foi pra cima só pensamos em garantir as fotos com a máxima segurança, protegendo uns aos outros, mas foi muito violento”, completou.

As agressões se intensificaram conforme a repressão avançava. “Por várias vezes fui acertado com golpes de cassetetes e spray de pimenta”, relatou o fotojornalista, que também destacou a dificuldade de registrar as imagens em meio ao caos. “No momento mais tenso, foi quase impossível tirar qualquer foto, porque o gás estava muito forte e as bombas vinham de todos os lados.”

Outro jornalista, Guilherme Goya, repórter que cobria a manifestação, também foi impedido de exercer seu trabalho. “A repressão foi muito forte, no momento em que o prédio da Secretaria já estava desocupado. Eu estava entre o cordão de manifestantes e a polícia, e em diversos momentos fui coibido pelos policiais de exercer o meu trabalho, mesmo com a credencial de imprensa”, afirmou. Mesmo identificado, ele foi alvo de violência policial enquanto tentava registrar as prisões. “Na tentativa de gravar a prisão de uma das manifestantes, fui empurrado por um dos policiais.”

A tentativa de documentar os abusos foi recebida com ainda mais truculência. “Quando estava registrando uma agressão muito forte, cheguei a receber golpes de cassetetes na altura da bacia, que ocasionou um hematoma no local”, relatou o repórter. Além disso, o uso de agentes químicos para dispersão acabou atingindo diretamente os profissionais de imprensa. “Também recebi spray de pimenta diretamente nos olhos”, acrescentou.

A impossibilidade de registrar imagens e relatos de manifestações compromete não apenas o trabalho jornalístico, mas também o direito da população à informação. Muitas das agressões cometidas por agentes do Estado contra manifestantes e jornalistas só são documentadas graças ao trabalho da imprensa, uma vez que nem todos os policiais fazem uso das câmeras corporais que deveriam registrar suas ações. Em diversos casos, mesmo quando esses equipamentos estão presentes, há relatos de que são desligados ou cobertos, dificultando a produção de provas contra os abusos cometidos durante operações policiais.

Sem o registro independente, episódios de violência policial podem facilmente ser apagados ou distorcidos nos discursos oficiais, reforçando a impunidade. Organizações que monitoram a liberdade de imprensa alertam para o crescimento da hostilidade contra profissionais da comunicação, destacando que a violência não se limita apenas à agressão física, mas também inclui intimidação psicológica e tentativas de censura.

Em um contexto de crescente tensão entre a burguesia, que se esconde atrás de seus cães de guarda fardados, e a classe trabalhadora, que está cada dia mais consciente e desperta para a luta organizada, trabalho da imprensa se torna ainda mais essencial para documentar os fatos e garantir que abusos sejam denunciados. A violência contra jornalistas é uma afronta direta ao direito à informação e às garantias democráticas, exigindo respostas rápidas e eficazes de autoridades e entidades defensoras da liberdade de imprensa.

PM fascista agride manifestantes contrários à privatização da CPTM em São Paulo

Na manhã de hoje, centenas de manifestantes realizaram a ocupação da Secretaria Municipal de Mobilidade e Transportes, na capital paulista, em ato contra o leilão das linhas 11, 12 e 13, previsto para a próxima sexta-feira (28). A ação contra a privatização foi reprimida com violência pela Polícia Militar.

Redação SP


Está marcado para a próxima sexta-feira, 28, o leilão do chamado Lote Alto Tietê. O projeto privatista do governador fascista Tarcísio de Freitas busca entregar, nas mãos da elite financeira, três linhas da Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM): Coral, Safira e Jade. A proposta é de concessão por 25 anos, pagamentos de R$1,49 bilhão ao ano, além de um aporte público inicial de R$10 bilhões.

A ameaça de privatização teve início no primeiro semestre de 2024, após a concessão da linha 7-Rubi. A população demonstrou sua contrariedade à venda dos serviços públicos paulistas em plebiscito popular e os trabalhadores fizeram a denúncia das concessões em uma audiência pública em junho de 2024. Mesmo assim, o governo fascista de São Paulo publicou o edital do leilão com a data para 28 de março de 2025.

Além disso, a proposta de privatização também inclui o Programa de Demissão Incentivada (PDI), que tem como objetivo demitir 72% da categoria, ou seja, 4200 trabalhadores da ferrovia. Aos trabalhadores que permanecerem em seus postos, a proposta é de redução de 50% dos salários. Em depoimento para o A Verdade, um técnico de manutenção no departamento de edificações que pediu para não ser identificado para evitar represálias, o clima de revolta na empresa cresceu após a concessão da Linha 7-Rubi. “É compreensível, é muito difícil se doar 100% para um emprego que você não sabe se vai existir amanhã”.

Categoria aprova greve, direção do sindicato oferece golpe

Foto: Diogo Romão (JAV/SP)
Foto: Diogo Romão (JAV/SP)

Na última semana, ferroviários que trabalham nessas linhas aprovaram, em assembleia, a paralisação total do serviço à partir da meia-noite do dia 26, decretando greve como forma de pressionar o governo a abandonar a proposta de entregar as linhas para a iniciativa privada. Os trabalhadores afirmam que essa concessão significa a demissão em massa de metade dos trabalhadores, além da diminuição do salário para metade do ofertado hoje. 

Numa manobra que desconsiderou a decisão já tomada e muito aguardada pelos trabalhadores, o Sindicato dos Trabalhadores em Empresas Ferroviárias da Zona Central do Brasil realizou uma audiência de conciliação no Tribunal Regional do Trabalho, que propôs a suspensão da greve até a próxima sexta-feira, dia 28. Sendo assim, mesmo com a primeira decisão que determinou greve a partir do dia 26, proposta amplamente defendida pelos ferroviários e população presente na assembleia, a greve foi suspensa.

Em resposta à decisão, vista como unilateral por parte dos presentes, dezenas de trabalhadores se uniram aos movimentos sociais presentes e partiram com panfletos para diversas estações incluídas no plano de privatização com o objetivo de mobilizar os ferroviários para uma nova assembleia e organização de greve.

A luta pelo transporte é coletiva

Foto: Wildally Souza (JAV/SP)
Foto: Wildally Souza (JAV/SP)

Na manhã de hoje, centenas de pessoas, incluindo amigos e familiares dos ferroviários e militantes de diversos movimentos sociais, realizaram a ocupação da Secretaria Municipal de Mobilidade e Transportes, localizada no centro de São Paulo, para pressionar o governador a cancelar imediatamente o leilão das linhas da CPTM. Recebidos já com intensa repressão, dezenas de pessoas foram feridas e três militantes foram detidos, sendo eles: uma assistente social, um estudante secundarista e o outro não teve ocupação divulgada.

As imagens são chocantes e os depoimentos impressionam. “É assim que age a polícia militar do Tarcísio de Freitas, jogando bomba no trabalhador que está lutando por seus direitos”, grita um dos manifestantes agredidos em imagens enviadas para nossa redação. Em outra imagem, é possível ver a PM erguendo uma das coordenadoras do Movimento de Mulheres Olga Benario nos braços com violência e empurrando para o camburão, numa clara demonstração de brutalidade desmedida. 

“Nós fizemos o certo e não vamos dar nenhum passo pra trás”, afirmou um dos militantes detidos no 8º DP de São Paulo, localizado no Belenzinho. “Vamos continuar a luta contra a privatização!”.

Sobre “A Mulher e a Educação” na luta por uma nova sociedade

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O artigo “A mulher e a educação das crianças”, de Nadejda Krupskaya, revolucionária russa e dirigente bolchevique, lançado em 1901, é uma profunda análise da situação e das condições em que as mulheres da classe trabalhadora são lançadas.

Larissa Vanessa | Recife – PE


MULHERES – Escrito para uma brochura chamada “A mulher operária” e publicado pela primeira vez em 1901 como um folheto separado no jornal Iskra, em Monique, o texto de Nadejda K. Krupskaya, “A mulher e a educação das crianças”, é uma leitura essencial para quem luta por educação de qualidade e por uma sociedade justa. Nesse texto, a companheira — que foi secretária do Iskra e membro do Comitê Central do Partido Comunista da União Soviética em 1924, além de ter atuado como Comissária da Educação na União Soviética entre 1919 e 1939, ano de sua morte —, uma das principais lideranças responsáveis pela criação do novo sistema educativo da URSS, descreve a situação em que se encontravam as mulheres operárias da Rússia em sua época.

Em “A mulher e a educação das crianças” vemos um recorte histórico cruel que, infelizmente não é de todo diferente da atual situação das mulheres e mães trabalhadoras de nossos dias. Nos é apresentado de forma crua como lidavam as operárias e camponesas com a forma que a maternidade lhes era imposta. Além da situação das mulheres, forçadas a vender sua força de trabalho, e ao mesmo tempo responsabilizadas pelo cuidado da casa e da família. As operárias utilizavam de todos os meios ao seu alcance para desempenhar seu papel social enquanto eram exploradas ao limite de suas capacidades físicas para conseguir o mínimo necessário para sobreviver. 

Sem preparo ou formação, sem apoio ou condições materiais concretas, eram incapazes de fornecer ao bebê os cuidados necessários. “Ao cuidar da criança, a camponesa orienta-se mais por costumes e preconceitos”. Num período em que, para manter-se, toda a família trabalhava sem descanso — incluindo crianças, idosos e gestantes —, a escola e a educação adequada pública das crianças pareciam inviáveis. Os trabalhadores, porém, se sublevaram e puseram abaixo o sistema de opressão, dando um exemplo de como podemos pensar melhor nossas prioridades na formação do indivíduo. “A operária se diferencia por sua saúde debilitada… E mulheres fracas, doentes, dão à luz crianças fracas”, são “geradoras, assim como elas mesmas, de uma geração fraca, semimorta, sobrecarregada por uma série de doenças que as levam a uma morte prematura”.

O olhar atencioso com o qual Krupskaya se dedica a elaborar os argumentos para a defesa de uma sociedade solidária e socialista nos faz refletir sobre como ainda hoje encontramos empecilhos para o desenvolvimento pleno de nossas habilidades intelectuais e físicas. Assim como na Rússia pré-revolucionária, a tarefa de manter vivas as crianças até sua idade laboral ainda recai sobre as mulheres. Uma sociedade que não reconhece que o desenvolvimento de suas próximas gerações é de interesse social, e não apenas particular, aceita a única tarefa de garantir a próxima leva de trabalhadores explorados, exaustos e mão de obra barata.

Sem considerar que a obrigação de cada sociedade é garantir as melhores condições de vida possíveis de sua época, fechamos os olhos para a opressão que enfrentam os trabalhadores, a exploração em que vivem e as dificuldades que vivenciam, apesar das possibilidades tecnológicas existentes. No lugar de melhorar nossas condições de existência, a tecnologia e os avanços científicos tornam-se ferramentas para perpetuar condições de vida cada vez mais degradantes, priorizando, sempre, a garantia da exploração da força de trabalho em troca de lucro aos super-ricos e dos privilégios burgueses.

A educação das crianças é uma tarefa social, uma vez que formamos agentes sociais responsáveis por dar continuidade à existência da humanidade. É direito da criança e obrigação de qualquer Estado que se proponha a representar os interesses da população. E a experiência socialista nos comprova que, no capitalismo, isso é inalcançável. Sendo assim, é pauta fundamental na elaboração de qualquer sociedade e prioritária no sistema socialista. E é nossa a missão de tornar possível esse modelo social o quanto antes. Pela vida das mulheres, por uma existência digna, pelo melhor desenvolvimento do nosso povo.

66° aniversário da Revolução Cubana: independência, contexto e revolução

Em 1959, sob a liderança de Fidel Castro, a Revolução Cubana pôs fim à ditadura de Fulgêncio Batista e abriu caminho para transformações estruturais profundas, construindo uma sociedade socialista.

Luiz Henrique | Recife – PE


LUTAS E HERÓIS DO POVO – Cuba foi a última colônia a se libertar da dominação espanhola, no ano de 1898. Com aproximadamente 400 mil mortos durante o período de 1895 e 1898. A intervenção dos Estados Unidos se dá de forma oportunista, com a vitória do povo cubano já estando a vista. Após o fim da guerra, os EUA negociam com a Espanha a “independência” Cubana colocando Cuba sob sua tutela, exercendo dominação econômica, política e militar, especialmente através da “Emenda Platt”:

“Que o Governo de Cuba permita que os Estados Unidos exerça o direito de intervir no sentido de preservar a independência cubana, manter a formação de um governo adequado para a proteção da vida, a propriedade, a liberdade individual.

Que, a fim de auxiliar os Estados Unidos a sustentar a independência Cubana, e para proteger a população dali, tão bem como para a sua própria defesa, o governo de Cuba deverá vender ou alugar terra aos Estados Unidos, necessárias para a extração de carvão para linhas férreas ou bases navais em certos locais especificados de acordo com o presidente dos Estados Unidos.”

José Martí, morto no primeiro ano da Guerra, líder máximo da independência cubana, não chegou a ver a vitória frustrada de uma incompleta libertação, porém já havia antecipado os termos fundamentais do imperialismo estadunidense, que, efetivamente, é apenas uma nova forma do colonialismo. Pensando estrategicamente o futuro de Cuba e da América Latina. Diz ele:

“[Os Estados Unidos] acreditam na necessidade, no direito bárbaro, como único direito: ‘isto será nosso, porque dele necessitamos’. Acreditam na superioridade incontrastável da ‘raça anglo-saxônica contra a raça latina’. Acreditam na baixeza da raça negra, que escravizaram ontem e humilham hoje, e da indígena, que exterminam. (…) Enquanto os Estados Unidos não saibam mais de hispano-américa e a respeitem mais… podem os Estados Unidos convidar a hispano-américa a uma união sincera e útil para hispano-américa? Convém à hispano-américa a união política e econômica com os Estados Unidos?”.

Como observavam os mais atentos ao jugo imperialista, seria necessário, dessa vez, uma terceira guerra pela verdadeira independência de Cuba, e é aqui que entram os revolucionários sob a liderança de Fidel.

É em 1956 que tem início a Revolução que triunfaria em 1° de Janeiro de 1959, dessa vez, com toda a experiência acumulada, a própria insurreição iniciada com os ataques aos quarteis de Moncada e Bayamo organizados pelo Movimento 26 de Julho em resposta à ditadura de Fulgêncio Batista. É assim que, preparados com toda essa tradição, cuja origem remonta à luta anticolonial, se inicia a Revolução Cubana. Revolução essa que não era, em seu começo, Socialista. Entretanto, toda luta de independência e libertação nacional pode se tornar, dadas certas condições, uma revolução socialista, tal como pensou Lênin, ao colocar como uma das contradições intrínsecas do imperialismo “a contradição entre um punhado de nações “civilizadas” dominantes e centenas de milhões de homens dos povos coloniais e dependentes, do mundo.” (Stalin, J. Fundamentos do Leninismo).

Dessa maneira, a revolução que inicia visando derrubar a ditadura batistiana e restabelecer as eleições em Cuba, conforme a constituição de 1940, realizar reformas estruturais tais como a nacionalização da terra, reforma agrária e uma industrialização soberana, se converte em ruptura sistêmica. 

No caldeirão geopolítico da guerra fria e com o histórico de opressão estadunidense, a classe trabalhadora e os revolucionários cubanos precisavam optar pelo socialismo. Afinal, a única forma de garantir que as mudanças ansiadas pelo povo cubano acontecesse era por meio de uma revolução completa, que tornassem a propriedade dos meios de produção, em especial a terra, coletiva, sendo toda a economia cubana planejada não mais para o enriquecimento de poucos latifundiários e capitalistas, mas para a distribuição justa da riqueza socialmente produzida.

Se Cuba resistiu e resiste ao bloqueio e a todos os ataques do imperialismo é por conta de sua união em torno da construção do socialismo e do novo ser humano, liberto dos valores anacrônicos da sociedade burguesa, caminhando em direção ao Comunismo, à construção de uma humanidade verdadeiramente livre!

Viva Cuba! Luz que ilumina o caminho de todos os revolucionários da América Latina! Hasta la victoria siempre!

Pernambuco é o estado com o maior número de endividados do Nordeste

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A dependência dos cartões de crédito e dos empréstimos tem marcado a vida do povo de Pernambuco. Mas quem lucra com uma população cada vez mais endividada?  

Clóvis Maia | Redação Pernambuco


BRASIL – Difícil andar pelas ruas do Recife e não se deparar com os inúmeros cartazes de empréstimos. A cada poste, parada de ônibus ou muro, lá estão as propagandas oferecendo possibilidades de empréstimos de procedência duvidosa, voltadas para gente humilde, prontas para pegar pelo bolso, literalmente.  

O problema é que, em meio a uma situação nada favorável para a classe trabalhadora, endividar-se infelizmente virou uma regra, e não uma exceção. Prova disso é que Pernambuco, segundo pesquisa realizada pelo Serasa, é o estado com o maior índice de inadimplência do Nordeste. Até maio de 2024, 46,4% da população em Pernambuco estava atolada em dívidas, especialmente no cartão de crédito. Ou seja, quase metade da população adulta, entre 41 e 60 anos, enfrenta esse problema.  

No país, a quantidade de pessoas com o nome sujo chegava a 72,5 milhões, com o Rio de Janeiro (54,16%), Brasília (52,74%) e Mato Grosso (52,51%) liderando o ranking nacional em abril do ano passado. Segundo a Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (Fecomércio-PE), a dívida dos pernambucanos no cartão de crédito afetava 93,7% das famílias. Quem ganha com isso? Os bancos, é claro.  

Com as atualizações dessas pesquisas prestes a serem divulgadas este ano, fica a preocupação de como a classe trabalhadora enfrenta essa dura realidade, com gastos cada vez maiores. Para se ter uma ideia, o Recife é também a capital com o aluguel mais caro do Nordeste e a terceira mais cara do país (dados da pesquisa Fipezap 2024). Além disso, 2025 começou com o aumento das passagens de ônibus na região metropolitana e a promessa de privatização do metrô e da COMPESA. Ou seja: aumento para nós e lucro para eles.  

“Se tiver caro, não compre”  

Em fevereiro deste ano, ao falar sobre a carestia dos alimentos, o presidente Lula cometeu uma gafe infeliz ao resumir a questão dos preços da comida a uma fórmula pouco efetiva no cotidiano dos brasileiros: “Se tiver caro, não compra”. Claro que, no mundo real, não é possível fazer esse exercício. Com preços cada vez mais altos, desemprego e contas chegando, é de se esperar que o uso dos cartões de crédito e o endividamento dos mais pobres se tornem ferramentas de enriquecimento dos banqueiros, tornando-os ainda mais ricos.  

Não basta apenas “educar o povo” em relação à inflação, como deseja o presidente. Não basta deixar de comprar. Aliás, quem tem o poder de fazer isso? Certamente, a classe trabalhadora não tem essa opção.  

Rebelar-se é justo  

Ao mesmo tempo em que se espalham as propagandas de empréstimos com parcelas “até o infinito”, cresce também a indignação da população. Imagine ter que passar até duas horas e meia no trânsito só para chegar ao trabalho e, antes do dia 20 de cada mês, ver o bolso apertar e as dívidas baterem na porta. O salário da mãe e do pai de família já chega comprometido para pagar o cartão e fazer mais dívidas, como cantou Agenor de Miranda Araújo Neto, em 1988: “Meu cartão de crédito é uma navalha”.  

Quando o Movimento de Luta nos Bairros, Vilas e Favelas decide ocupar uma prefeitura ou uma dessas grandes redes de supermercados — muitas envolvidas em esquemas nada lícitos —, a imprensa ignora ou chama de baderna e invasão. Como o povo não vai se revoltar ao perder o sono ou o apetite, vendo o pouco dinheiro escoar junto com os preços dos alimentos, dos aluguéis, das passagens, da luz, da água, dos remédios dos filhos?  

Mais do que se revoltar com o governo — que é o que essa imprensa tem feito —, precisamos explicar para as pessoas quem são os verdadeiros culpados: os donos dos bancos e dos meios de produção, os mesmos que lucram com a nossa miséria. Mas não adianta apenas a indignação. É preciso se organizar para pôr fim a esse sistema decadente chamado capitalismo. Está cada vez mais escancarado que as coisas não ficarão melhores para nós enquanto não destruirmos essas algemas modernas que nos prendem: os cartões de crédito, os empréstimos consignados, os juros abusivos e os sanguessugas e parasitas que nos deixam cada vez mais dependentes e infelizes.  

Inflação corrói renda e comprar comida é desafio diário para milhões de pessoas

No acumulado dos últimos 12 meses, a inflação passou de 5% no Brasil. O preço dos alimentos subiu ainda mais, devido à especulação promovida pelos monopólios do setor agrícola. Só a reforma agrária e a nacionalização da terra podem enfrentar essa crise.

Rafael Freire | Redação


O aumento de quase 17% nas tarifas de energia elétrica residencial puxou a inflação no Brasil para mais de 5% no acumulado dos últimos 12 meses. O IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo) apontou ainda para um aumento nos custos do consumo domiciliar: ovo de galinha (15,4%), café moído (10,8%) e arroz (8%) – itens básicos na mesa das famílias da classe trabalhadora brasileira – foram alguns dos que mais subiram de preço. Combustíveis aumentaram quase 3%; educação e habitação foram os que mais subiram entre todos os grupos de produtos e serviços medidos pelo IPCA: estão na casa dos 4,5% ou um pouco a mais.

O consumo diário de proteínas é fundamental para a saúde humana, em especial, para o desenvolvimento das crianças. Porém, só no ano de 2024, segundo o IBGE, houve uma elevação de mais de 20% no preço da carne bovina, levando a um consumo ainda maior de carne de frango e de ovos. Agora, o cenário se agrava com a alta do preço do ovo de galinha, para muitos chamado de “bife do olhão”. Fato é que, hoje, muitas famílias pobres consomem apenas arroz e feijão pelo menos três dias da semana.

Para Claudia Scarpelin, pesquisadora do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), vinculado à Escola Superior de Agricultura da USP, “o principal fator que tem impactado nos preços dos ovos é a baixa oferta no mercado interno”. Só para os EUA, houve um aumento de 22% nas exportações de ovos nos últimos 12 meses. E isso é uma tendência, não apenas uma circunstância passageira.

Alguns economistas burgueses, no entanto, querem atribuir todo o peso à alta dos preços dos alimentos a fatores climáticos. Sim, certamente as variações nos preços também são resultado do aumento dos custos de produção em face do aumento das temperaturas.

Quando as temperaturas amenizam, os preços também caem um pouco, mas jamais retornam aos patamares anteriores. Os capitalistas tratam sempre de manter sua margem de lucros crescente, ainda mais se estamos falando do setor agrícola brasileiro, cuja principal característica é ser monopolizado por um número pequeno de famílias ou grupos financeiros.

O presidente Lula, porém, não consegue se decidir e chegou a botar o nome da galinha na roda. “A galinha não está cobrando caro. Ainda não encontrei uma galinha pedindo aumento do ovo. A coitadinha sofre, ainda canta quando põe o ovo, mas o ovo está saindo do controle. Uns dizem que é o calor, outros dizem que é a exportação. Eu estou atrás”, comentou em discurso no dia 07 de março num evento oficial do Programa de Reforma Agrária¹.

Posse da terra

São mais de 500 anos de exploração da terra e da força de trabalho neste solo com o objetivo de enriquecer as elites econômicas, fosse no tempo da Coroa Portuguesa e do nascente capitalismo na Europa; fosse no período em que essas elites atendiam pelos nomes de latifundiários ou ruralistas; seja agora, com a “modernização” do campo, na era do “agronegócio pop”.

Como diz o Programa da Revolução Socialista Brasileira do PCR, ao falar sobre a desindustrialização da economia nacional: “Além do controle dos monopólios e da oligarquia financeira sobre a indústria, o comércio e a agricultura, outras características se aprofundaram nas três últimas décadas na economia brasileira, em particular a subordinação do país às potências imperialistas e às corporações internacionais e a consolidação do Brasil como país exportador de commodities²”.

E mais: “O avanço do capitalismo no campo se deu convertendo grande parte da velha estrutura agrária numa economia capitalista voltada para o mercado externo. Ou seja, não houve em nosso país a destruição da velha economia agrícola por meio de uma reforma agrária, mas sim a modernização das grandes propriedades rurais e a formação de uma burguesia agrária moderna”.

De acordo com o último Censo Agropecuário (2017), a agricultura familiar é a base da economia de 90% dos municípios brasileiros com até 20 mil habitantes, sendo responsável por mais de 70% dos brasileiros ocupados no campo, que produzem, por exemplo, 70% do feijão nacional, 34% do arroz, 87% da mandioca, 46% do milho, 38% do café e 21% do trigo.

“Por isso, só é possível solucionar os problemas dos camponeses com a socialização das grandes empresas que atuam na agricultura, a nacionalização da terra e a substituição dos exploradores, da grande burguesia e da oligarquia latifundiária, pela administração dos operários e dos camponeses, dos que produzem e geram riquezas. Estes devem administrar a grande agroindústria e realizar uma reforma agrária que dê terras para quem precisa, garantindo todo apoio para a produção familiar e buscando construir novas agroindústrias socialistas e cooperativas para ampliar a produção e produzir o que o povo realmente necessita”, sentencia o documento do PCR.

Matéria publicada na edição impressa nº 309 do jornal A Verdade