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sexta-feira, 26 de abril de 2024

30 anos de encontros nacionais de mulheres argentinas

Nos dias 10, 11 e 12 de outubro foi realizado na Argentina o “30º Encuentro de Nacional de Mujeres” em Mar del Plata. É o 30º ano consecutivo desde 1985 que o encontro é realizado e de lá para cá ele só tem crescido. Participaram do encontro cerca de 65 mil mulheres de toda Argentina e mais delegações internacionais como do Uruguai, Colômbia, Venezuela e do Brasil com o Movimento de Mulheres Olga Benário.

Com a consigna “el encuentro somos todas” se inicia a abertura do encontro com milhares de mulheres argentinas em coro cantando: “que momento, apesar de todo les hicimos el encuentro” cantado entre crianças, adolescentes, mulheres jovens, adultas e idosas, apontando que apesar de todas as dificuldades encontradas para chegar ao encontro e para organiza-lo durante todo o ano, foi possível sua realização sem depender de nenhuma estrutura de governo.  Também cantavam: “ni una muerta, ni uma más, gritemos todas emergência nacional” em referencia ao grande ato realizado em 3 de junho reconhecido como “Ni Una a Menos” exigindo que o governo declare emergência nacional em violência sexual e doméstica frente ao grande número de feminicidios que vem ocorrendo no país. O estopim que desencadeou as manifestações do “Ni Una a Menos” foi o assassinato violento da jovem de 14 anos, Chiara Paez, que foi assassinada pelo namorado e enterrada no quintal. Dias antes, outro caso teve grande repercussão: uma mulher de 22 anos foi assassinada pelo namorado, que ateou fogo em seu corpo durante uma discussão. Enquanto nos reuníamos foram assassinadas brutalmente 2 mulheres em Mal del Plata, onde a violência contra a mulher é grande e ao total foram 4 feminicidios no país durante a realização do encontro. Na argentina morre uma mulher por violência de gênero a cada 30 horas.

Por todos os anos de realização do encontro ele vem mantendo seus 7 pilares principais:  autoconvocado, autofinanciado, autônomo, plural, horizontal, federal e democrático, os quais tem garantido a sua continuidade ao longo de todos esses anos.

Um dos objetivos do encontro é fortalecer o debate e o avanço de consciência e organização das mulheres que vem e que levam o debate para seus bairros, fábricas, escolas, universidades. O encontro é organizado a partir da escolha do local e da disponibilidade de companheiras locais para comporem uma comissão organizadora que trabalha durante todo o ano para garantir a realização do encontro. A participação na comissão organizadora e em todos os debates do encontro tem como característica a representação pessoal de cada mulher e não representação por movimentos ou partidos políticos. Durante o ano grupos de mulheres realizam campanhas financeiras como vendas de comida, rifas e brechós para poderem chegar ao tão esperado encontro nacional de mulheres. Todas as posições durante os grupos de debate são respeitadas, no relatório estão contidas tanto a opinião da maioria quanto da minoria e as sugestões de cada grupo de trabalho são encaminhadas por consenso.

As mulheres vão ao encontro preparadas para participar e contar o que vivem no dia  a dia, em suas casas, trabalhos, locais de estudo e moradia. É no encontro nacional de mulheres onde as mulheres podem se dar conta de que não estão sozinhas e que o que se passa a uma se passa a muitas. Nesse espaço as mulheres deixam de ser invisíveis para se tornar visíveis.

Durante dos dias 10 e 11 foram realizados 65 grupos de discussão sobre os mais variados temas e cada um desses grupos teve que se desdobrar em média em outros 4 ou 5 para poder garantir a participação e a fala de todas as companheiras nesses espaços. A comissão organizadora estima que ao todo foram mais de 250 grupos de debate. Os grupos de discussão são considerados o coração do encontro, onde são realizados debates importantes sobre a questão da mulher na sociedade, como a questão da educação, saúde, justiça, sexualidade, aborto, tráfico de mulheres e crianças, prostituição, povos originários, campesinas, trabalho, desemprego, sindicalismo, cultura, arte, religião, estado laico, feminicídio, política, crise econômica, direito à terra e moradia, dívida externa, imperialismo e integração latino-americana e tantos outros.

Algumas pautas de exigências dos movimentos de mulheres passam por: igual salário para igual trabalho; chega de feminicídios, nenhuma mulher morta e declaração de emergência nacional em violência sexual e doméstica; verba para aplicação efetiva da lei 26.485 de proteção integral para prevenir, sancionar e erradicar a violência contr as mulheres; desmantelamento das redes de tráfico humano; educação sexual para decidir, anticonceptivos para não abortar e aborto legal para não morrer, creches nos bairros e locais de trabalho, chega de fome, terra para viver e trabalhar.

Na noite de sábado, dia 11, foi realizada uma grande atividade com a companheira Kurda Melike Yasar, representante internacional do movimento de mulheres livres do Kurdistão. Melike falou sobre a luta das mulheres Kurdas na batalha encabeçada contra o Estado Islâmico e contra o exército turco fascista, principalmente em Rojavá onde as mulheres são as protagonistas fundamentais no processo de resistência, organização e luta revolucionária pela libertação e autodeterminação de seu povo.

Foi organizada também uma agenda cultural impecável, com teatro, vivências, apresentações artísticas, música e dança.

No domingo foi realizada a marcha tradicional do encontro. Foi uma grande marcha que ocorreu como programado pela comissão organizadora, passando por lugares emblemáticos da luta do movimento de mulheres na cidade. As ruas de Mar del Plata se inundaram de luta, de força e palavras de ordem que expressavam mais que nunca a vigência do “Ni Una a Menos” e a exigência de Emergência Nacional em Violência Sexual e Doméstica, como marco também dos feminicidios ocorridos nas ultimas horas na cidade e no país.

Houveram também algumas marchas separadas da oficial do encontro. Uma delas com cerca de 5 mil mulheres caminhou em direção à igreja e foi duramente reprimida pelas forças policiais e grupos nazifascistas. Algumas mulheres foram trancadas dentro da igreja e agredidas, outras foram detidas. Durante o ato de encerramento do encontro a comissão organizadora apresentou uma moção de repúdio em relação à repressão e violência sofrida pelas mulheres na catedral.

No ultima dia são defendidas no ato de encerramento as indicações de locais para o próximo encontro. Para ano que vem foi aprovado a realização do encontro para Rosário.

O encontro massivo, os debates urgentes e fundamentais que se realizaram sobre a questão das mulheres na sociedade nos aponta a necessidade de construir também aqui no Brasil um amplo movimento de mulheres e um amplo encontro de mulheres brasileiras, que nos faça avançar na defesa de nossas bandeiras e na construção de uma sociedade mais igualitária, sem opressão e sem exploração.

Priscila Voigt, brasileira que representou o Movimento de Mulheres Olga Benário no 30º Encuentro de Nacional de Mujeres da Argentina.

 

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