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quinta-feira, 18 de abril de 2024

Celia Sánchez: a flor mais autóctone da revolução

Seu nome está nas ruas, nas praças, escolas e, principalmente em inúmeras meninas que, em todo o país, levam seu nome, numa homenagem das suas mães à heroína do povo cubano.

Ela, que amava a natureza, cultivava belos jardins floridos, foi denominada por Fidel como “A flor mais autóctone da revolução”.

Celia Sánchez Manduley, fundadora e dirigente do Movimento 26 de Julho na Província do Oriente, nasceu no dia 9 de maio de 1920, na localidade de Media Luna, Província Oriental de Cuba. Foi uma dos(as) nove filhos (as) de doutor Manuel Sánchez e Acácia Manduley. Seu pai era médico e atendia os camponeses com muita eficiência e solicitude; era muito querido na região. Pertencia ao Partido do Povo Cubano, mais conhecido como Partido Ortodoxo. Ainda adolescente, Célia ingressou no setor jovem do Partido ao qual pertencia Fidel Castro, então estudante de Direito em Havana.

Como o Partido era de tipo populista, combatia a corrupção e as multinacionais, mas era limitado pela ideologia pequeno-burguesa, Fidel procurou organizar à parte a Juventude, em defesa de uma linha revolucionária, voltada para os interesses dos camponeses e dos pobres, guiado pelo marxismo e pela pensamento de José Marti.

Organizando o Movimento 26 de Julho 

Célia integrou-se ao grupo, que congregava cerca de 1.500 pessoas. Quando o ditador Fulgêncio Batista implantou uma ditadura, impossibilitando a ação oposicionista por meios institucionais, Fidel traçou uma estratégia de tomada do poder por meio das armas. Considerava que as condições objetivas estavam dadas em Cuba; faltava apenas uma vanguarda reconhecida pelas massas. Dizia “É preciso movimentar a roda menor para a roda maior entrar em ação”. A ação concebida para pôr a roda menor em movimento foi o ataque ao quartel Moncada. O objetivo era distribuir armas com o povo, que seria convocado pelas emissoras de rádio. 150 jovens participaram do assalto ao Moncada (não havia armas para número maior) no dia 26 de Julho de 1953, razão pela qual a organização recebeu o nome de Movimento 26 de Julho (M-26/7).   Os revolucionários não conseguiram o objetivo imediato. Houve poucos sobreviventes, entre os quais Fidel, mas o Movimento ganhou a credibilidade e a confiança do povo e tornou-se realmente a sua vanguarda na luta pela libertação, que aconteceria apenas seis anos depois de Moncada.

1953 foi o ano do centenário de nascimento de José Marti, poeta, filósofo e símbolo da luta pela Independência de Cuba. Meses antes do ataque a Moncada, Celia Sánchez, juntamente com seu pai e vários companheiros do Movimento  fizeram homenagem a Marti, colocando um busto dele no ponto mais alto do monte Turquino. A quem afirmava que isso era loucura, ela respondia: “Nada disso, é para quando as pessoas passarem por aqui lembrarem que falta concluir a obra que Marti começou”.  Ela não participou do assalto a Moncada, mas logo depois do massacre, engajou-se ativamente na campanha financeira para ajudar os prisioneiros e suas famílias.

Com sua simpatia, dedicação, conhecimento da região e do seu povo, Célia organizou o movimento na região oriental, juntamente com Frank País e criou uma rede humana para apoiar a guerrilha libertadora. É esse trabalho de mobilização, organização e conscientização popular, que explica a proeza de doze homens, sobreviventes do desembarque do Granma, terem, em pouco tempo, se tornado um invencível Exército Rebelde, que tomou o poder apenas 25 meses após o episódio sobre o qual Che Guevara costumava dizer: “Não foi um desembarque, foi um naufrágio”. Se tivessem desembarcado no local combinado, teriam encontrado dezenas de homens liderados por Celia, com caminhões, caminhonetes, toda a infraestrutura necessária para conduzi-los a Sierra Maestra.

Quando espalharam o boato da morte de Fidel nos primeiros ataques após o desembarque (70 expedicionários mortos), a angústia foi generalizada. Celia, entretanto, embora extremamente abalada, manteve o ânimo e levantou o moral dos companheiros, afirmando: “É mentira de Batista, Fidel Vive”! Estava certa. “Foi Norma quem nos deu o alento necessário, quem nos ajudou a manter viva a esperança”, relata Julio M. Llanes em Celia, nossa e das flores.

Da base de apoio ao combate na serra

Norma ou Aly (codinomes de Celia) foi o elo entra a montanha e a planície, organizando o fornecimento de remédios, alimentos, roupas e a condução de novos combatentes que foram se incorporando à guerrilha. O Exército sabia disso e a procurava com ordens de assassiná-la, mas nunca o conseguiu. Ela sabia se disfarçar muito bem e, segundo o povo, passava sob as narinas dos soldados e eles nem desconfiavam.
Ela queria combater. Insistiu em ir para o México e ajudar nos preparativos da expedição, mas Frank País a convenceu de que sua atuação era mais necessária na base de apoio. Deixando a base organizada, Celia subiu a serra em maio de 1957 e se incorporou ao Exército Rebelde, tendo se transformado em brava guerrilheira. Desde então, tornou-se auxiliar direta de Fidel, até sua morte. Mais que auxiliar, amiga íntima, responsável pela organização da vida pessoal do Comandante, a única pessoa que criticava erros de Fidel, sem rodeios, embora diante de outras pessoas garantisse que ele sempre tomava as decisões certas.

Foi a primeira guerrilheira da Sierra. Depois, outras mulheres seguiram o caminho aberto por ela, que demonstrou ser a mulher capaz de assumir as mesmas tarefas dos homens. Prova disso foi sua participação em pé de igualdade no ataque ao Quartel Uvero, a primeira grande vitória da guerrilha sobre o Exército de Batista.

Em Sierra Maestra, além de combater, Célia atuou como secretária e memória viva da guerrilha, pois guardava todos os documentos, papéis, anotações, palavras e discursos de Fidel, até as piadas que o Comandante contava em momentos de descontração. A quem considerava um exagero guardar tudo, ela afirmava: “Há muitos papéis sem importância hoje, mas para o futuro e para a história, serão de grande valor”. Todos os detalhes e o dia-a-dia da guerra são conhecidos graças ao Diário de Che Guevara e à documentação de Célia.

Secretária, conselheira, defensora da cultura e das flores

Célia integrava o Comitê Central do Partido Comunista Cubano, fundado em 1965, que unificou o Movimento 26 de Julho e o Partido Socialista Popular. No Governo, foi secretária do Conselho de Estado e destacou-se como defensora e difusora da história, das artes, da moda, da comida e de todas as formas de manifestação da nacionalidade cubana, assistiu o Comandante como amiga e conselheira, além de defender a natureza e cuidar das flores. Morreu, vitimada por um câncer, no dia 11 de janeiro de 1980.

A casa em que nasceu foi transformada no Museu da Casa Natal de Celia, repleto de documentos e objetos pessoais relacionados com a grande revolucionária, incluindo álbuns fotográficos de sua família.

O monumento erguido em sua homenagem no Parque Lênin, projetado por ela no subúrbio de Havana, um dos lugares que mais admirava, está sempre coberto por centenas das flores que ela tanto amava.
Seu nome está nas ruas, nas praças, escolas e, principalmente em inúmeras meninas que, em todo o país, levam seu nome, numa homenagem das suas mães à heroína do povo cubano.

Nada melhor para concluir estas linhas sobre Celia Sánchez que as palavras pronunciadas por Armando Hart, presidente do Centro de Estudos Martianos: “Para medir quem foi esta nossa irmã, basta sublinhar que é impossível escrever a história de Fidel Castro sem relacioná-la à vida de Célia Sánchez Manduley”.

José Levino, historiador

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5 COMENTÁRIOS

  1. Preciso ler mais sobre Célia Sanchez. Só tenho lido sobre Che, Fidel e Cienfuegos. Célia, agora, fará parte de minhas pesquisas sobre a Revolução Cubana.

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