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terça-feira, 15 de outubro de 2024

Em livro, jornalista denuncia privatizações no Brasil

“É um lixo!”. Assim classificou José Serra o livro A Privataria Tucana, do jornalista Amaury Ribeiro Júnior. Serra é o personagem central deste livro-reportagem, que expõe com detalhes e vastas provas o esquema de corrupção, lavagem de dinheiro e entrega do patrimônio público brasileiro a um seleto grupo de bancos e companhias nacionais e estrangeiras, realizado durante os anos do Governo FHC/PSDB (1995-2002).

Durante os dois mandatos de Fernando Henrique Cardoso na Presidência da República, José Serra foi ministro da Saúde e do Planejamento, condição em que comandou o maior crime cometido contra a soberania nacional, leiloando, ou melhor, entregando dezenas de empresas estatais ao capital privado. E mais. Fez isso não apenas sob uma perspectiva neoliberal da economia, mas também em benefício próprio. Sua família e seus aliados foram os maiores beneficiados desse processo de privatização, que, casado ao termo pirataria, resultou na agora revelada privataria tucana.

Amauri Ribeiro Júnior é um jornalista com passagens por diversas redações do país e com experiência em temas polêmicos, grandes reportagens e maquinações políticas. No dia 19 de setembro de 2007, sofreu um atentado à bala na Cidade Ocidental, em Goiás. Foi baleado rente à artéria femoral e por muito pouco não morreu. Amaury mexera com o tráfico de drogas quando apurava as execuções de duas adolescentes e descobriu que, em apenas seis messes, cerca de 150 jovens haviam sido assassinados nos arredores de Brasília. “Era o saldo da carnificina promovida pelo crime organizado e o narcotráfico em uma região distante apenas algumas dezenas de quilômetros da Esplanada dos Ministérios”, afirma no primeiro capítulo do livro (pág.16).

Após se recuperar do atentado, Amaury foi descobrir que era justamente nos Ministérios de Brasília onde funcionava o quartel general de outro setor do crime organizado. Sob o comando de José Serra (que já foi deputado federal, senador e governador do Estado de São Paulo, além de candidato à Presidência da República pelo PSDB), o martelo da privatização foi batido para várias estatais, como as companhias de eletricidade do Espírito Santo e Rio de Janeiro (Excelsa e Light, respectivamente), para a companhia de mineração Vale do Rio Doce, para a Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), e ainda Embraer (aviões), Usiminas (hidrelétrica), Copesul (petroquímica), diversas ferrovias, bancos e todo o Sistema Telebrás (telecomunicações).

“O resultado de tudo isso é que […], enquanto o Governo FHC afirmava ter arrecadado R$ 85,2 bilhões no processo, o jornalista econômico Aloysio Biondi publicava no seu best-seller Brasil Privatizado que o país pagara para vender suas estatais. Este pagamento atingira R$ 87,6 bilhões, portanto, R$ 2,4 bilhões a mais do que recebera”. (pág. 40) Tal fenômeno foi possível porque, antes de leiloar as estatais, elas eram recapitalizadas pelo BNDES e fundos de pensões de estatais; suas dívidas eram absorvidas pelo Governo Federal; seus compradores recebiam empréstimos do próprio Governo para comprá-las; ou simplesmente eram “vendidas” com altas cifras em seus caixas, e tudo ficava para o novo dono.

Lavagem de dinheiro

Mas não foi só isso. O grande mérito da investigação de Amaury Jr. foi ter descoberto o caminho percorrido pelos recursos obtidos com as privatizações até chegar nos bolsos de Serra e Cia.

Nos paraísos fiscais das Ilhas Virgens Britânicas, locais que a burguesia mundial conserva propositalmente sem nenhum tipo de controle público e em absoluto sigilo de quanto e de quem investe, estão instaladas as chamadas offshores ou empresas de fachada. Dentre as pessoas de confiança de José Serra apontadas no livro como proprietárias dessas empresas, estão Ricardo Sérgio de Oliveiro, seu tesoureiro de campanha eleitoral, e Verônica Serra, sua filha. Outros nomes conhecidos de todos nós também figuram aqui compartilhando da mesma prática: o traficante Fernandinho Beira-Mar, o “rouba-mas-faz” Paulo Maluf, o “dono” da CBF Ricardo Teixeira, o banqueiro Daniel Dantas e o operador do “Mensalão” Marcos Valério.

O livro nos explica sucintamente como funciona o esquema (pág. 55): “A lavagem de dinheiro tem três fases: colocação, cobertura e integração. Na primeira, é preciso reduzir a visibilidade do dinheiro do crime, fracionando-o e convertendo-o em outros valores por meio do sistema financeiro, bancos, bolsas de valores e casas de câmbio. É remetido para fora do país, transformando-se em cheques administrativos, mercadorias e empresas. Em um segundo momento, pratica-se uma cascata de operações financeiras intensas, complexas e rápidas, da qual participam pessoas físicas e jurídicas e paraísos fiscais. O propósito é afastar o máximo o dinheiro de sua procedência real. Tudo culmina, na terceira etapa, com o retorno do dinheiro ao circuito financeiro normal. Removido de suas impurezas, ganha status de capital lícito, servindo para compra de bens e constituição de empresas. As offshores servem de ferramenta nos três estágios. Permitem as remessas ilegais ao exterior por meio de uma rede de doleiros e depois atuam na camuflagem e na limpeza por intermédio de operações de repatriamento de dinheiro”.

Há muito mais coisas em A Privataria Tucana. No campo da política o tucano José Serra também cometeu vários crimes, incluindo os já comprovados de sonegação de informação à Justiça Eleitoral e o de espionagem contra seus cupinchas de PSDB.

O PT também é citado na obra. A narrativa finda com a sequência de bombardeios, via Veja e congêneres, lançados por Antônio Palocci (ex-ministro de Lula e Dilma) e Rui Falcão (atual presidente do PT), sobre o “colega” Fernando Pimentel, do PT de Minas Gerais, então coordenador da campanha de Dilma Rousseff à Presidência da República para deslocá-lo do posto.

Amaury Ribeiro Júnior encerra o livro com um recado aos leitores: “Varrer a sujeira para debaixo do tapete, como se fez tantas vezes, não é mais possível. Não há tapete suficiente para acobertar tanto lixo. O Brasil, que escondeu a escravidão e ainda oculta a barbárie de suas ditaduras, não pode negar aos brasileiros a evisceração da privataria. Quem for inocente que seja inocentado, quem for culpado que expie sua culpa” (pág. 339).

 Rafael Freire,  presidente do Sindicato dos Jornalistas da Paraíba

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2 COMENTÁRIOS

  1. Ao ler a matéria sobre o livro”Privataria Tucana”,publicada neste jornal, fiquei ponderando de como o povo brasileiro é alheio aos acontecimentos na política do nosso país.

  2. Canada é o único pais do mundo onde  o Comunismo funcionou – até  os índios tem direito a um cheque mensal   – morei  trinta anos-  durante  teve o Pierre Eliot Trudeau  como ditador 20 anos .  exemplo de parlamento .

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