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sábado, 21 de dezembro de 2024

“Topografia de um desnudo” relembra operação mata-mendigos

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Topografia de um desnudo, de Teresa Aguiar, narra um dos casos mais negros da história recente do Brasil – a “Operação mata-mendigos”. Entre o fim de 1962 e o início de 1963, foram encontrados os corpos de 13 moradores de rua da cidade do Rio de Janeiro, no então Estado da Guanabara. Foi um caso que chocou o país e só foi revelado devido à coragem de repórteres responsáveis pelos jornais de oposição ao crescente governo fascista brasileiro.

O filme – que conta com grande elenco – narra a história do morador de rua chamado de Russo (Lima Duarte), que surge boiando nas águas do Rio Guandu, próximo a um depósito de lixo municipal. Russo morava junto com a mulher e outros catadores no lixão de onde eles recolhiam alimentos. Isabel (Arlane Porto) é colunista de um grande jornal carioca e amante de Clemente (Kito Junqueira), que é o dono do jornal e tem interesse em construir um loteamento residencial na região do lixão. Ao viajar de carro com dois repórteres comunistas, responsáveis por manifestações contra o governo pré-ditatorial, ela acaba indo parar no lixão. Lá avista o corpo de Russo e, a partir deste episódio, começa a investigar a morte dos moradores de rua.

Isabel acaba conhecendo “Freira” (Maria Alice Vergueiro), uma cafetina que mora no lixão, e passa a buscar mais informações sobre os assassinatos. Após escrever em sua coluna uma dura crítica, responsabilizando o governo pelos crimes, ela se torna alvo de perseguições da polícia que, naquele momento, era formada pela escória da polícia fascista formada durante a Ditadura Vargas.

A polícia havia criado o Dermen, o Departamento de Repressão à Mendicância, chefiado por Manoel (Ney Latorraca) e o Cabo Lucas (José de Abreu). Esse grupo de extermínio caçava moradores de rua durante a noite, torturava-os em busca de informações e, após assassiná-los, jogava os corpos nos rios Guandu e da Guarda.

Mas para a polícia fascista, a serviço do governo imperialista pré-ditatorial, não bastava cometer esses delitos absurdos. Era necessário acabar com os opositores que denunciavam os crimes nos jornais de esquerda. Várias vezes, durante o filme, são levantadas suspeitas absurdas de que houvesse uma célula comunista no lixão, além de responsabilizarem a imprensa comunista por exagerar nos casos e culpar o governo pelos crimes.

Na tentativa de eliminar testemunhas, intimidar a imprensa e livrar os assassinos, a polícia mata Isabel e dá a ela o mesmo destino que aos moradores chacinados. O Cabo Lucas também acaba sendo executado e acusado de comandar o grupo de extermínio. No fim, ainda invadem o lixão e matam todos os catadores que estavam ao alcance das armas.

O caso, retratado com uma dose de ficção, ocorreu no final do ano de 1962 na cidade do Rio de Janeiro. De início, os corpos foram encontrados às margens dos dois rios. Com o aumento do número de cadáveres, a imprensa e a opinião pública, que começavam a sentir a repressão e armação do golpe militar, começam a se posicionar contra o governo e cobrar a investigação dos casos. Foram encontrados treze corpos de moradores de rua, e a suspeita é de que chegou a vinte o número de mortos.

Uma parte da imprensa que investigava os casos acreditava que fosse um “treinamento” para a polícia que, nos anos seguintes, viria a praticar as mesmas técnicas de tortura com os opositores do governo. Mas a teoria mais aceita é a de que essa operação foi idealizada pelo governo para “limpar” a cidade dos moradores de rua, para poder receber a rainha Elizabeth, da Inglaterra, e mascarar os problemas sociais produzidos pelo sistema capitalista.

Topografia de um desnudo é uma grande oportunidade de conhecer mais sobre a agressão que a sociedade brasileira sofre por parte da polícia fascista e do governo imperialista. Serve também para conscientizar, não só nossos militantes, como todos os leitores sobre os métodos de repressão e a tática para manter a ordem utilizados para esconder os problemas sociais criados pelo sistema capitalista, que vão desde a repressão, censura, perseguição, torturas, assassinatos, grupos de extermínio, tráfico de influência até chegar à ditadura. Mas todos esses métodos não são capazes de intimidar nem calar o povo, que entrega a vida em nome dos irmãos que sofrem para satisfazer as mordomias de poucos homens que se apropriam dos bens da sociedade.

Lucas Marcelino, São Paulo

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1 COMENTÁRIO

  1. Memórias cruéis essas e tantas outras que guardo e chego a me sentir tão envergonhado do meu País, da situações humilhantes a que são submetidos meus semelhantes, que, involuntariamente, relego a um segundo plano mental e cai no meu esquecimento, apesar de ser consciente de que devemos denunciar e nunca calar ante essas barbaridades praticadas pelos governos, principalmente o da Ditadura Militar, que não teve limites com um verdadeiro genocídio, juntamente com atos de terror e tirania incomparáveis até com as monstruosidades nazistas.

    Nossa Ditadura superou as maldades de Hitler, não tenho dúvidas.

    Estava eu morando no Rio de Janeiro nessa época, ainda adolescente, acompanhava atônito esses noticiários, que eram muitos seletivos, mas os comentários nas ruas, nas escolas, nos bares, nas casas, mesmo sob ameaças do terror instaurado, a boca curta, ouviam-se muitos comentários sobre tudo isso, inclusive essa matança de mendigos.

    Agitadores e comunistas nem se fala. Eram chacinados sem dó, nem piedade. Simplesmente sumiam verdadeira coletividades socialistas.

    Lembro do Governador Negrão de Lima do Rio de Janeiro quando estava ficando muito evidente essa matança de mendigos, deflagrou nova ação muita criativa: – passou a exportar os mendigos cariocas para outros Estados da Federação, principalmente para o Nordeste. Isso ganhou pouca repercussão e portanto foi incrementando progressivamente essa empreitada de exportação.

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