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quinta-feira, 12 de dezembro de 2024

Sobre o papel da vanguarda no movimento

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A “teoria” da espontaneidade é a teoria do oportunismo, a teoria que consiste em acreditar cegamente no movimento operário espontâneo, a teoria que nega de fato o papel dirigente da vanguarda da classe operária, do partido da classe operária.

A teoria que consiste em prestar culto à espontaneidade é uma teoria decididamente contrária ao caráter revolucionário do movimento trabalhador; impede que este se oriente pelo caminho da luta contra os fundamentos do capitalismo; luta para que este movimento se oriente exclusivamente pela via das “possíveis” e “aceitáveis” reivindicações para o capitalismo, advoga em absoluto “ a linha da menor resistência”. A teoria da espontaneidade é a ideologia do trade-unionismo.

A teoria que cultua a espontaneidade é resolutamente contrária à que prega que se imprima ao movimento espontâneo um caráter consciente e metódico, é contrária a que o Partido avance à frente da classe operária, a que o Partido eleve as massas a um nível consciente, a que o Partido dirija o movimento; luta para que os elementos conscientes do movimento não impeçam que este siga seu caminho, luta para que o Partido não faça mais do que estar atento ao movimento espontâneo e caminhe a reboque deste. A teoria da espontaneidade é a teoria que consiste em menosprezar o papel do elemento consciente dentro do movimento, é a ideologia do “seguidismo”, fase lógica de todo o oportunismo.

Praticamente, esta teoria, que entrou em cena já antes da primeira revolução russa, levava seus partidários, os chamados “economistas”, a negar na Rússia a necessidade de um partido operário independente, a manifestar-se contra a luta revolucionária da classe operária pela derrocada do czarismo, a vaticinar uma política trade-unionista no movimento e, em geral, a entregar o movimento operário à hegemonia da burguesia liberal.

A luta da velha Iskra(1) e a brilhante crítica da teoria do “seguidismo”, feita por Lênin em Que fazer?, não só derrotaram o chamado “economismo”, mas também lançaram as bases teóricas para um movimento realmente revolucionário da classe operária russa.

Sem esta luta não teria sido possível pensar em criar-se na Rússia um partido operário independente, nem seu papel dirigente na revolução.

Mas a teoria que consiste em prestar culto à espontaneidade não é um fenômeno exclusivamente russo. Esta teoria encontra-se bastante alargada, embora sob uma forma algo distinta, em todos os partidos da Segunda Internacional, sem exceção. Refiro-me, ao dizer isto, à chamada “teoria” das “forças produtivas”, vulgarizada pelos líderes da Segunda Internacional, teoria que justifica tudo e reconcilia todos, que comprova os fatos e os explica quando já toda a gente está farta deles e, depois de comprová-los, se revela muito tranquila. Marx dizia que a teoria materialista não pode limitar-se a interpretar o mundo, mas que, além disso, deve transformá-lo. Mas aos Kautski e companhia não lhes preocupa isto, e preferem ficar-se  pela primeira  parte  da  fórmula de Marx. Eis aqui um dos inúmeros exemplos de aplicação desta “teoria”.

Dizem que, em vésperas da guerra imperialista, os partidos da Segunda Internacional ameaçavam declarar “a guerra à guerra” no caso de serem os imperialistas a iniciá-la. Afirmam que, em vésperas da guerra, estes partidos não fizeram caso da palavra de ordem “Guerra à guerra”, conduzindo logo para o campo da prática a palavra de ordem contrária de “Guerra pela pátria imperialista!”. Dizem que esta mudança de posições provocou milhões de vítimas entre os operários. Mas seria um erro acreditar que alguém tivesse a culpa disto, que alguém fosse infiel ou traidor à classe operária. Nada disso! Aconteceu o que tinha de acontecer. Em primeiro lugar, porque a Internacional é “um instrumento de paz” e não de guerra; e, em segundo lugar, porque, dado o “estado de desenvolvimento das forças produtivas” daquele tempo, não se podia fazer outra coisa. A “culpa” pertence às “forças produtivas”. Assim “nos” explica, exatamente, a “teoria das forças produtivas” do senhor Kautski. E quem não acreditar nesta “teoria” não é marxista. E o papel dos partidos? Sua importância no movimento? Mas que pode fazer um partido diante de um fator tão decisivo como o “estado de desenvolvimento das forças produtivas”?…

Poderíamos citar uma série de exemplos de falsificações do marxismo semelhantes a esta.

Resta demonstrar que este “marxismo” falsificado, destinado a encobrir o oportunismo, não é mais do que uma variante europeia daquela mesma teoria do “seguidismo”, combatida por Lênin muito antes da primeira revolução russa?

Será necessário porventura demonstrar que destruir essa falsificação teórica é condição preliminar para a criação no Ocidente de partidos verdadeiramente revolucionários?

(Extraído do livro Fundamentos do Leninismo, edições Manoel Lisboa, 2012)

(1) Iskra (Estrela) foi o órgão fundado por Lênin, que exerceu grande influência no seu tempo, sobretudo pela sua eficácia política. (N. do T.)

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