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quarta-feira, 9 de outubro de 2024

La Pasionaria: “Os fascistas não passarão!

Dolores

La Pasionaria. Apaixonada. A flor da paixão. Assim se sentia e assim era Dolores. Sensível às dores dos sofridos, repleta de amor. Um Amor de Humanidade. “Fogo que acende/fogo que alimenta/fogo que cresce, queima e apaixona”1.

Nasceu Isidora Dolores Ibárruri Gómez, Dolores, filha de trabalhador mineiro, no dia 9 de dezembro de 1895, na aldeia de Gallarta, na província basca de Biscaia. Foi uma criança altiva, inteligente. Ela mesma relata: “Sempre fui muito rebelde, desde pequenina. Diante da injustiça, sempre reagi violentamente. Se a minha mãe me castigasse sem um motivo, eu armava logo uma grande confusão”. Teve uma passagem brilhante pela escola, mas precisou se afastar para trabalhar em serviços domésticos e de costura, a fim de ajudar a família.

Seu pai, conservador, era carlista, movimento de apoio aos descendentes de Carlos de Borbón na disputa pela sucessão ao trono, travada com os descendentes do rei Fernando VII.  Cansado, o pai mandava a garota para as reuniões, a fim de lhe transmitir as informações, os debates, e dessa forma Dolores começou sua atividade política.

Inclinou-se para a esquerda. Em 1916, casou com o operário mineiro socialista Julián Ruiz e ingressou na Frente Socialista, participou da greve geral de 1917, ano em que festejou a Revolução Bolchevique. Junto com o marido, rompeu com a Frente, que não aceitou se unir à Internacional Comunista criada por Lênin e participou, em 1920, da fundação do Partido Comunista Espanhol (PCE).

Boa escritora e oradora, impressionavam seus textos publicados nos panfletos e boletins do Partido. Os operários chamavam-na de mulher abençoada. Quando se mudou para Madri, em 1930, passou a escrever no jornal do PCE Mundo Obrero, com o pseudônimo Pasionaria, e agitar grandes massas com sua emocionante e vibrante oratória. O mito está se construindo. “Por tua voz, fala a Espanha das cordilheiras/dos braços pobres e explorados/crescem os heróis cheios de palmeiras/morrem saudando-te pilotos e soldados”2.

Dolores teve seis filhos (as), dos (as) quais quatro morreram ainda crianças e Rubén, nascido em 1921, piloto de combate das Forças Armadas Soviéticas, caiu em combate na Batalha de Stalingrado. Ela costumava andar sempre com roupas de cor preta, num luto permanente pela morte das pessoas queridas. Quando seu casamento terminou, ela se mudou para a capital espanhola.

No Pasarán!

Em 1931, cai a Monarquia. Espanha Republicana. Dolores vai para a Constituinte, eleita pelo Partido Comunista nas Astúrias. Em 1934, visita Moscou, conhece Stálin e preside o I Congresso das Mulheres Comunistas da Espanha. Espanha no coração/No coração de Neruda,/No vosso e em meu coração./Espanha da liberdade,/Não a Espanha da opressão./Espanha republicana:/ A Espanha de Franco, não!”3

A Frente Popular de Esquerda vence as eleições, mas a Direita não aceita a perda de poder e se lança à guerra para restaurar a Monarquia. O verão de 1936 marca o início da guerra (Leia Guernica, em A Verdade, nº 90). São três anos de luta com mais de 400 mil mortes. Dolores escreve, discursa, anima os combatentes nas frentes de batalha. Comunista, ela defende conventos de freiras e religiosos da sanha anticlerical de setores anarquistas da Frente. Amada e admirada, ela é a heroína da República e todos (as) vibram ao ouvir seus slogans: “Antes morrer de pé que viver de joelhos!”, “Os fascistas não passarão!”, “É melhor ser a viúva de um herói, que a mulher de um covarde!”.

A Divisão interna da Frente Popular Republicana (Comunistas x trotskistas x anarquistas) facilita a vitória das forças franquistas, que contam com apoio total dos nazistas alemães. No ano de 1939, Dolores, como tantos outros comunistas partem para Moscou.

Foram 38 anos de exílio, durante os quais, a revolucionária não descansou. Atuou com Dimitrov na Internacional Comunista (III Internacional), visitou países socialistas, foi eleita, em 1942, secretária-geral do PCE e, em 1960, sua presidenta.

Si! Si! Si! Dolores a Madrid

Com este grito, a multidão emocionada e entusiástica, recebeu Dolores de volta à pátria, em 1977, um ano após a morte de Franco, num momento de transição democrática. A velha revolucionária se aproximava dos 82 anos, mas não se aposentou. Foi novamente eleita para a Assembleia Constituinte, participou de vários eventos, escreveu suas memórias “O único Caminho”.  “Quem não a segue?/Nunca ao vento deu uma bandeira mais paixão/ não ardeu mais intensamente um coração”4.

Morreu no dia 12 de novembro de 1989, aos 94 anos. No seu enterro, diante da multidão chorosa, Julio Anguita, falou para ela: “…Dizem, Dolores, que morreste! Que asneira! Vives em cada um dos que te amam, e são tantos! Comunista exemplar, és de todos: de todos que levantam o punho, de todo o povo; tu ensinaste que o Partido não se organiza para si próprio, mas para todos os oprimidos. Que exemplo para mulheres e homens, mulher cheia de ternura e de firmeza. Fecha os olhos e sonha com o teu povo! Dorme, companheira Ibárruri! Repousa, camarada Pasionaria.”.

E assim, Dolores “morreu como um pássaro: cantando.5

1Miguel Hernández, poeta espanhol, em PASIONARIA.

2Miguel Hernández, poema citado.

3 Manuel Bandeira, poeta brasileiro em No vosso e em meu coração.

4 Rafael Alberti, poeta espanhol, em Uma Pasionaria para Dolores

5 Miguel Hernández, obra citada

José Levino, historiador e membro do Conselho Editorial de A Verdade

Discurso pronunciado no Monumental Cinema de Madrid
8 de Novembro de 1936

Trabalhadores, camaradas:

“Quando os obuses [arma de artilharia] do inimigo começam a derrubar as casas de nossa cidade; quando sobre o céu da capital da República voam aviões fascistas, metralhando mulheres e crianças indefesas, parece inacreditável vir prestigiar um ato dessa natureza. E isso não é necessário para levantar seus espíritos, que bem agitados os tens através de dias de lutas inenarráveis, senão para afirmarmos que estamos aqui e que não nos fomos. Que estamos aqui junto a vocês, como sempre tivemos, e dispostos também a cumprir com o dever de agradecer, a partir da Madrid inconquistável, à União Soviética, ao país soviético, sua solidariedade para com nosso povo e sua defesa da República em Genebra.

Desde aquele país, nos diz o heroico povo soviético – que soube vencer não somente o inimigo interior, mas também o inimigo exterior – e as mulheres nos gritam: irmãos espanhóis, estamos com vocês!

Graças a essa solidariedade nos sentimentos mais seguros; não nos sentimos sozinhos e podemos dizer ao inimigo que Não Passará!

É preciso que o mundo conheça o alto nível moral de nosso povo que não se deixa abater pela superioridade inimiga.

Dissemos muitas vezes que Madrid não se defende somente de dentro, mas também de fora. E não faz muitos dias que o Partido Comunista publicou um chamamento a todos os trabalhadores e principalmente aos comunistas nesse sentido. “É necessário que o comunista – dizia esse manifesto – seja um soldado que organize, um comissário político que eduque e prepare os combatentes; que seja o primeiro na luta e no sacrifício”. Cumprindo a decisão de nosso Comitê Central, temos nos deslocado a províncias, e não mais tarde que ontem, recorremos a regiões de Levante, para demandar aos camponeses e trabalhadores em luta ajuda para Madrid, e eles nos tem prometido e tem começado a organização de envio de mantimentos.

O fato de que hajam tantas mulheres nesse comício nos permite, sem temer nos equivocarmos, proclamar com orgulho que não se extinguiu a tradição heróica das mulheres espanholas que, em todos os momentos que esteve ameaçada a integridade da pátria, estiveram junto a seus companheiros e com eles souberam lutar e morrer. E por isso nos sentimos profundamente orgulhosos e seguros da vitória. Porque uma causa que defendem as mulheres e as mães, apesar dos contratempos da luta, será sempre uma luta vitoriosa.

Desta mesma tribuna dissemos que tínhamos o necessário para começar a ofensiva. Depois, um dia dissemos: camaradas, temos que resistir aos embates do inimigo dois, três, quatro, oito dias, os que sejam necessários. Resistiram, resistem e Madrid se fez inconquistável.”

Discurso pronunciado em 8 de novembro de 1936 no Monumental Cinema de Madrid

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