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sexta-feira, 15 de novembro de 2024

Alí Primera, um artista a serviço do povo

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Nascia no dia 31 de outubro de 1942, na cidade de Coro, Estado de Falcón, na Venezuela, Ely Rafael Primera Rossell. Filho de Antonio Primera e Carmem Adela Rossell, devido à origem árabe de seus avós, logo foi apelidado carinhosamente de Alí. Assim nasceu Alí Primera, “A Voz do Povo Venezuelano”.

Filho de uma família pobre, Alí e seus dois irmãos ficaram órfãos de pai muito cedo; ele tinha apenas três anos quando seu pai foi morto em um tiroteio por ocasião de uma fuga de presidiários na cidade de Coro. Sua mãe, viúva e com três filhos, passando por muitas dificuldades financeiras, peregrina por várias cidades de península de Paraguaná. Para ajudar em casa, Alí já trabalhava como engraxate aos seis anos; teve vários empregos, e, na juventude, chegou a ser boxeador. Apesar das inúmeras dificuldades, sua mãe não permitia que os filhos ficassem sem estudar. Em 1960, sua família mudou-se mais uma vez, agora para a Capital, Caracas, onde ingressa no Liceu Caracas e conclui o ensino secundário.

Arte e Militância Política

Em 1964, inicia os estudos de Licenciatura em Química na Faculdade de Ciências da Universidade Central da Venezuela. É durante o período dos estudos universitários que Alí conhece suas duas paixões: a vida Política e a de Cantor de Músicas de Protestos. O cantor e compositor de círculos de amigos se inscreve no Festival de Canções de Protesto realizado pela Universidade de Los Andes, em 1967, apresentando em público suas primeiras composições, as músicas Humanidad e No Basta Rezar, projetando-se para a fama. Naquele momento, surgia o cantor de Músicas de protesto mais amado da Venezuela.

Em 1968, Alí ganha uma bolsa do Partido Comunista da Venezuela (PCV) para continuar os estudos em Tecnologia do Petróleo, na Romênia. Permanece na Europa de 1969 a 1973; para se sustentar, vira lavador de pratos e se apresenta eventualmente como cantor. Estava na Alemanha quando decide gravar seu primeiro disco (LP) intitulado “Gente de mi Tierra” – todo com canções de protesto, nas quais relata a vida sofrida do seu povo, as desigualdades sociais, a necessidade da luta e da resistência. Com a difusão do disco na sua terra natal, rapidamente sofre censura política nos meios de comunicação. Para evitar que suas canções estimulassem os novos cantores e movimentos, o Governo proíbe a circulação de canções de protesto no país.

O que os “donos” do poder não sabiam é que já era tarde; a música de Alí havia se difundido pelos bairros pobres, nas universidades, nas fábricas, entre as mulheres e os movimentos sociais. Nem o próprio Alí imaginava que havia tocado o coração de sua gente e que isso o transformaria no “Cantor do Povo”.

Ainda na Europa, casou-se na Suécia pela primeira vez com Taria Osenius; deste relacionamento, nasceram duas filhas: Maria Fernanda – a quem dedicou o tema “Los pies de mi niña”, e Maria Angela – para quem compôs a música “ La piel de me niña huela a caramelo”. Mesmo sem ter concluído o curso superior, decide voltar à sua terra amada em novembro de 1973 e dedicar-se inteiramente à música e à vida política. Ingressa na Juventude Comunista da Venezuela (JCV) e no Partido Comunista da Venezuela (PCV), participando ativamente de atividades e campanhas e foi membro fundador do Movimento al Socialismo (MAS).

Nesse período, conhece e se casa com a cantora Sol Musset, com quem teve quatro filhos: Sandino, Servando, Florentino e Juan Simón. Em 1977, do relacionamento com Noelia Pérez nasce Jorge Primera Pérez.

Novos projetos e morte prematura        

Alí participou de inúmeros festivais e eventos na Venezuela e por toda a América Latina. Entre suas canções mais famosas, estão: Paraguaná, Paraguanera; José Leonardo; Casas de Cartón, Cruz Salmerón Acosta; Reverón; Flora y Ceferino; Cancion Mansa para un Pueblo Bravo. Em 1984, inicia um novo projeto musical que combinava as músicas de protesto com novos ritmos e instrumentos nunca utilizados por ele antes.

Já havia gravado quatro músicas, quando, no dia 16 de fevereiro de 1985, sua vida termina num acidente de automóvel na rodovia Valle-Coche, que liga Caracas aos estados do Sul e do Oeste.

Da ditadura ao governo popular

Três anos depois de sua morte, houve uma grande revolta popular na Venezuela contra o arrocho de salários e a alta de preços do pão e outros produtos de primeira necessidade, culminando no Caracazo de 1989, desmascarando a social-democracia que governava sob a presidência de Carlos Andrés Pérez. Milhares de pessoas foram massacradas pelo Exército.

A Voz do Povo Vive!        

Em 1982, um grupo de oficiais de esquerda liderados pelo Coronel Hugo Chávez fundara o Movimento Revolucionário Bolivariano, clandestino, que, mais tarde, soube capitalizar a revolta e a frustração popular de 1989. O Movimento ampliou suas bases para os setores populares e tentou tomar o poder pelas armas em 1992. A tentativa fracassou, mas o Movimento se ampliou, conquistando a Presidência nas eleições de 1998. Desde então, Hugo Chávez se mantém como presidente.

Alí Primera não pôde participar fisicamente desse efervescente processo político, mas a sua voz sim. Ele é a voz do povo rebelde e revolucionário, que ouve e canta suas músicas, em casa, nas ruas, no trabalho e nas lutas.  Em 2005, o Governo de Hugo Chavez declarou a música de Alí como patrimônio nacional.  Sua imagem, seu exemplo e suas músicas estão espalhados por todo o país e inspiram velhos, jovens e as novas gerações de artistas populares, não apenas na Venezuela, mas em toda a América Latina.

Elizabeth Araújo e José Levino

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