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quarta-feira, 9 de outubro de 2024

Vale do Rio Doce atolada em escândalos

Empresa, que já foi um patrimônio do povo brasileiro está envolvida em escândalos de corrupção a acordo com ditadura africana

A empresa brasileira Vale do Rio Doce, privatizada em 1997, uma das maiores empresas mineradoras do mundo, está envolvida em escândalo de corrupção e disputa internacional. Tudo isso para adquirir o controle de parte da valiosa Simandou, segunda maior jazida de minério de ferro do mundo, localizada na Guiné, no continente africano.

A operação ocorreu nos primeiros meses de 2010, quando a Guiné saía de um governo ditatorial e quando protestos populares tomavam as ruas do país. A jazida de Simandou é dividida em duas partes, sendo uma ocupada pela empresa australiana Rio Tinto e a chinesa Chinalco e outra explorada pelo consórcio Vale Beny Group, formado pela Vale do Rio Doce e o empresário israelense Beny Steinmetz, famoso pelas suas relações com ditaduras na África. Steinmetz havia recebido a metade da jazida das mãos de Lansana Conté, último ditador do país.

No fim de 2010, como fruto das lutas do povo da Guiné, assume a presidência o ex-preso e exilado político Alpha Conté, primeiro presidente democraticamente eleito. Com um país arruinado e milhares de famintos, o presidente propõe rever os acordos de concessão para a exploração das jazidas, de forma que o governo tenha mais recursos para superar os graves problemas sociais e econômicos do país. A Guiné é um dos países mais pobres do mundo e, ao mesmo tempo, tem a metade das reservas mundiais de bauxita, além de jazidas de diamante e ouro. O novo governo acusa ainda o consórcio Vale Beny Group de não cumprir a legislação do país.

Na madrugada de 31 de julho, manifestantes invadiram e saquearam o acampamento da mineradora na cidade de Zogota porque a empresa não cumpriu acordos trabalhistas e desrespeitou vários direitos dos trabalhadores. No dia 4 de agosto, seis trabalhadores da Vale foram mortos pelo exército guineense numa nova manifestação. Segundo manifestantes, a própria Vale forneceu os veículos ao exército para que reprimisse os trabalhadores.

Portanto, como está constatado, no centro dos ataques à soberania do povo da Guiné está a Vale do Rio Doce, uma empresa estratégica que já foi estatal. Nesse período, nossas riquezas naturais estavam sob controle público, mas hoje, como empresa privada capitalista, a única coisa que interessa a seus proprietários é aumentar a exploração sobre a classe trabalhadora, roubar as riquezas de diversos países e obter o máximo de lucro possível, mesmo que, para alcançar seus objetivos, seja necessário assassinar trabalhadores e se envolverem escândalos. Ouseja, não há escrúpulos para os capitalistas quando se trata de aumentar seus lucros e privilégios.

A privatização da Vale do Rio Doce

É importante lembrar que a Vale do Rio Doce foi entregue, em maio de 1997, pelo então presidente Fernando Henrique Cardoso, ao empresário Benjamin Steinbruch por R$ 3,3 bilhões, um valor muito subestimado, sendo que ainda foi desconsiderado dessa conta o valor das jazidas que estavam sobre o controle da empresa naquela época.

Antes mesmo de sua privatização, a Vale já era a maior exportadora de minério de ferro do mundo, com faturamento anual de R$ 2 bilhões. Descobertas feitas meses antes da privatização apontavam jazidas de ouro no Pará, região onde hoje se encontra a maior província mineral do mundo, a reserva mineral de Carajás. Todo esse patrimônio foi entregue de bandeja aos capitalistas, através de negociatas e transações que lesaram o patrimônio público e colocaram as riquezas minerais brasileiras nas mãos de grupos capitalistas privados. A transação teve ainda o total financiamento do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e Steinbruch ainda ganhou R$ 700 milhões que estavam no caixa da Vale.

Tudo isso mostra o quanto foram criminosas as privatizações de nossas empresas estatais, na década de 1990, e do nosso patrimônio realizadas no governo neoliberal de FHC. Isso aponta a necessidade de uma profunda investigação no mar de corrupção que marcou essas transações. Assim, ficará mais claro que a reestatização dessas empresas é uma justiça que deve ser feita ao povo brasileiro.

Natália Alves, Belo Horizonte

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