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sexta-feira, 13 de dezembro de 2024

As revoltas na Turquia

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EMEPComo podemos interpretar as massivas mobilizações que se espalharam e estão em curso na Turquia? A Primavera Turca? Uma convulsão social? Uma tentativa de golpe iniciada pelos nacionalistas?

Para fazer uma interpretação realista devem-se considerar os incidentes políticos anteriores na Turquia. Definitivamente, o fogo não foi causado por apenas uma fagulha.

O governo do AKP (Partido da Justiça e Desenvolvimento, na sigla em turco) é o aliado mais leal do imperialismo estadunidense e ocidental no Oriente Médio, é um importante ator no “Projeto do Grande Oriente Médio” e o mais devoto executor das políticas neoliberais; essas políticas que são confrontadas extensivamente por protestos ao longo dos anos.

Tais políticas, como a transferência de propriedade pública estatal para empresas multinacionais e magnatas locais, demissões em massa, reorganização da força de trabalho com vistas à terceirização, a repressão contra os sindicatos, a restrição dos direitos sociais, diminuição dos salários e o aumento da exploração em nome de maior rendimento e competitividade, etc., evocaram revoltas diárias em fábricas e empresas.

Ao mesmo tempo, a política de ignorar a questão curda junto às políticas de assimilação nacional-cultural e às detenções massivas de membros do povo curdo provocavam tremendas repercussões.

A burguesia urbana e cosmopolita também está incomodada com o aumento da presença de elementos religiosos nas práticas e pronunciamentos do governo do AKP. Isso se expressa na implantação do ensino religioso compulsório nas escolas secundaristas, o novo arranjo do sistema educacional de acordo com as reivindicações religiosas, o aumento no número de escolas religiosas, a criação do Ministério de Assuntos Religiosos; além da restrição da venda de bebidas alcoólicas e no direito a fumar em espaços determinados, e a troca de quadros burocráticos do Estado por religiosos pró-AKP.

O AKP criou alto interesse internacional ao privatizar empresas estatais para o capital estrangeiro a preços baixíssimos, criando condições para um fluxo de dinheiro fácil e atraindo capital à Turquia, evitando que este fosse investido no Oriente Médio ou em bancos e empresas ocidentais. Assim, o governo do AKP teve mais sucesso até agora que os EUA e a União Europeia em resistir à crise econômica mundial.

Mas ultimamente o fluxo de capital externo tem diminuído. O governo do AKP tenta evitar a desaceleração econômica, implementando uma campanha a que chama de “Transformação Urbana”. As áreas de maior valor das grandes cidades foram expropriadas para a construção de enormes edifícios comerciais que são vendidos a preços extremamente altos. Isso gera um trânsito cada vez mais caótico, que, somado a destruição de espaços naturais e parques e ao enriquecimento de membros do AKP com essas políticas, levou a um descontentamento geral.

A política com relação à Síria também gerou grande insatisfação. O apoio econômico às organizações e grupos islâmicos radicais e a permissão para que estes grupos passem pela fronteira rumo à Síria desencadeou muitos outros problemas. Os radicais islâmicos se tornaram uma ameaça ao poder da maioria Alauita na fronteira turca com a Síria. O apoio aos radicais islâmicos prejudicou o comércio e a economia na região. O número de empresas em falência e o desemprego aumentaram. Assim, aparecem os efeitos negativos dos cinco milhões de dólares concedidos aos opositores da Síria.

Nessas circunstâncias, o primeiro-ministro Tayyip Erdogan anunciou a construção de um centro comercial no local do Parque Taksim. O centro comercial seria construído imitando um quartel de artilharia da Revolução Burguesa de 1908, conhecido como quartel general das forças reacionárias, centro da insurreição. Ao ressuscitar o quartel, o AKP pretende advogar pelo golpe reacionário e torná-lo mais importante no imaginário da população que a Revolução de 1908. Uma grande parte da população assim entendeu o problema, um plano urbanístico com um profundo caráter reacionário. Além disso, os ecologistas denunciaram que não sobraria quase nenhuma área verde onde seria erguido o centro comercial. A intenção de Erdogan de realizar essa mudança na cidade sem o consentimento da maioria abriu caminho para um levante contra suas políticas ditatoriais.

No parque Gezi de Taksim começou a resistência. As máquinas entraram em ação para realizar a demolição, atraindo milhares de pessoas para a defesa do parque. Já durante a madrugada, com a maioria das pessoas tendo ido embora do parque, as forças policiais atacaram um pequeno grupo que se manteve na praça dormindo em barracas. A Polícia queimou as barracas, os ativistas foram espancados e atacados com gás de pimenta.

Há um mês, durante as manifestações do 1º de Maio, em Taksim, o governo proibiu a aproximação da região num raio de 20 milhas e paralisou o serviço de transporte público que dá acesso ao local; cortaram o acesso à parte asiática e europeia da cidade durante todo o dia, e os manifestantes foram submetidos à agressão, ao gás de pimenta e aos canhões de água. As precauções tomadas pelo governo do AKP prejudicaram todas as pessoas de Istambul, além dos turistas.

Agora, utilizam-se novamente dos mesmos métodos para acabar com a luta no Parque Gezi de Taksim. O último ataque chamou atenção de amplos setores da massa e dezenas de milhares de pessoas se dirigiram a Taksim. Ao término do expediente, mais de 100 mil pessoas se reuniam em Taksim. A polícia se utilizou de canhões de gás e água pressurizados. Apesar da censura promovida pelos meios de comunicação burgueses, os esforços por meio órgãos democráticos e revolucionários de imprensa e das redes sociais fizeram as notícias sobre os acontecimentos se espalharem. Assim, as manifestações se espalharam para as regiões de Ankara e Izmir. O povo não deixou as ruas até a noite. Em Izmir, Ankara e Istambul os confrontos foram realmente duros entre a Polícia e os ativistas. Houve mortes de alguns jovens. Dezenas de milhares de pessoas ficaram feridas e/ou presas. O assistente da Juventude de nosso Partido em Ankara foi preso e espancado.

A maior parte dos manifestantes foram mulheres e jovens. Torcidas organizadas também participaram das manifestações, deixando de lado suas rivalidades. As palavras de ordem mais ouvidas diziam “Governo, renuncie” e “Renuncie, Tayyip”. A maior parte das pessoas que participaram nos protestos não é de nenhum partido ou organização.

Nosso Partido, junto a todos os partidos revolucionários e democráticos, os ecologistas, as associações de médicos, engenheiros e arquitetos, os sindicatos dos trabalhadores do serviço público, os alauítas, os intelectuais e artistas, advogados, grupos nacionalistas, etc.,  compuseram o setor laico da sociedade, daqueles que concordam que o governo do AKP está de pouco em pouco criando um sistema legal religioso.

Nosso Partido, participando das manifestações com todos os seus quadros e organizações, empenhou-se em atrair os trabalhadores, todos os proletários e sindicatos para a ação. Além de participar na formação dos órgãos de comando das mobilizações e nas discussões para aprofundar a discussão sobre as demandas destas.

Assim, foram convocados protestos pelas seguintes bandeiras: solução democrática e popular da questão curda; fim das restrições à liberdade de imprensa, de expressão e filiação; direitos dos alauítas; volta dos direitos trabalhistas perdidos; fim da cota mínima para representação parlamentar; investigação e punição dos responsáveis de massacres como os de Robonski e Reyhanli; proibição do uso de gás de pimenta pela Polícia em manifestações; proibição da destruição de cidades e de espaços verdes com fins de especulação imobiliária; e fim do desmatamento.

Convocaram-se as pessoas a se organizar e lutar. Hoje, o Sindicato dos Trabalhadores do Serviço Público (KESK, na sigla em turco) e a Confederação dos Sindicatos Revolucionários estão em greve geral. Os acontecimentos na Turquia têm semelhanças e diferenças com os processos ocorridos na Tunísia, Egito e outros países. As semelhanças são as amplas massas a dizer “Já basta” e indo às ruas com gana de lutar. As diferenças são quanto ao nível de organização e às reivindicações. Durante os últimos cinco anos, ações similares ocorreram não só em países árabes ou na Turquia, mas também em países europeus como Grécia, Itália, Portugal, Espanha, França e Inglaterra, e em alguns países da América Latina. Vemos que o ponto de partida para todos estes processos são as massas se rebelando contra a repressão e a exploração no sistema capitalista.

Acreditamos veementemente que o povo em rebelião contra a classe dominante pelos seus direitos e sua liberdade se fortalece em muito com a solidariedade internacional e a unidade.

Partido do Trabalho (Emek Partisi) – en.emep.org 

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