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sábado, 16 de novembro de 2024

O estouro das manifestações

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Estouro das  manifestaçõesO cenário de insatisfação em todo o país é consequência de uma política defeituosa que há anos permanece mergulhada no ralo da corrupção. E por conta disso, o mundo todo passou a assistir nos canais de televisão e internet, os confrontos de rua entre manifestantes e a polícia do Estado. No ideário das elites o povo brasileiro é pacífico e festivo, sem condições de questionar os desmandos provocados pela política nacional.

Em contrapartida, os vários governos ditos democráticos e seguidores de uma política de mercado competitivo, sempre atuaram a favor do fortalecimento da propriedade privada, em detrimento da estatal. Nesse contexto, muitas promessas foram feitas ao longo dos pleitos eleitorais. Nessas campanhas se debatiam sobre as diversas questões institucionais referentes à moradia, educação, saúde, lazer, reforma agrária, segurança, não pagamento da dívida externa, emprego e salário digno, preservação ambiental, combate à seca e qualidade de vida para todos os ditos cidadãos. Muitos governos passaram e nada foi realmente cumprido na íntegra, desgastando cotidianamente a chamada república democrática.

Nesse sentido o que pairou foi uma ação assistencialista por parte dos governantes sem solucionar verdadeiramente as diversas demandas que assolam a vida diária do trabalhador assalariado da cidade e do campo. Os fenômenos de rebeldia que marcam as páginas dos noticiários nacionais e internacionais são uma variante dos impactos críticos desencadeados pelo sistema decadente que insiste em permanecer com uma estrutura de governo de exclusão, descaso e muitas irregularidades sociais. É notória a crise econômica mundial que coloca em xeque a inconsequente economia de mercado internacional, onde essa mesma engrenagem através de seus mandantes passa a impor aos governantes do Brasil uma política cada vez mais rasteira e desumana, provocando os inúmeros descompassos na sociedade.

Nessa linha de acontecimentos, o maior sofredor é o trabalhador humilde e desempregado, sendo atingido pela fome, miséria e violência policial, quando ousa reivindicar seus direitos negados e que ao longo de sua história vem sentindo na pele a insalubridade de uma democracia que beneficia os ricaços, que permanecem lucrando sempre mais. Os assassinatos no campo são assustadores, vitimando lavradores que reivindicam um pedaço de chão para tirar o mísero sustento de sua família.

Nenhuma sociedade consegue permanecer na apatia permanentemente, sem que um dia se levante contra seus algozes. Portanto, não deve ser motivo de surpresa a eclosão de recorrentes reivindicações populares nesse período. No início da formação do capitalismo no país, os governantes não tiveram a preocupação de realmente garantir a distribuição de terras aos antigos escravos que se tornaram livres. Nessa medida, uma parte foi transformando-se em trabalhadores assalariados e outra parte ainda mais massacrada ficou totalmente à mercê das intempéries de uma política excludente, todos vítimas de uma profunda desigualdade entre classes.

Assim nascem os primeiros focos de sem-terra, sem-teto, desempregados, excluídos e marginalizados por um punhado de ricaços dominantes. Em vários momentos, as camadas populares lutaram e protestaram contra os antigos opressores, porém essas lutas foram locais sem possuir uma reivindicação de proporção nacional e com pouca mobilidade de massa. Portanto, isso é uma maneira de comprovar historicamente que o brasileiro possui uma marca de luta em gerações anteriores, hora mais expressiva ou menos aguerrida, dependendo da ocasião do momento.

O estouro de manifestações que sacode o Brasil de ponta a ponta, eclodiu em São Paulo com as bandeiras de reivindicação do movimento popular pelo passe livre, que em seguida ganhou o recheio de antigas bandeiras esquecidas pelos chamados representantes políticos. Os eventos ocorridos nas ruas, praças e avenidas de todo o território nacional, significam uma ampla resposta do povo brasileiro contra as lacunas da irregular política dividida em classes.

A juventude e a população em geral não são inativas e demonstraram sua indignação no enfrentamento com a polícia do Estado nas ruas e avenidas. O chamado “vandalismo” resulta de um sistema político degradante e obsoleto. A rebeldia desses ativistas mais ousados faz parte do calor de qualquer luta em andamento por uma possível transformação social. Os bilhões de reais direcionados para a copa das confederações colocaram de forma clara que a política econômica do capital atua em benefício de um punhado de ricos, em prol de um evento futebolístico que foge ao atendimento das necessidades do povo.

Enquanto o Brasil ocupa a 85ª posição no ranking do IDH mundial e uma recente pesquisa revela que 15 milhões de pessoas passam fome em nosso país, uma dinheirama dos cofres públicos corre de maneira desenfreada atendendo aos caprichos de grandes empresários e da FIFA, apoiados pelos governantes. Os valorosos manifestantes que protestam estão protagonizando os rumos de uma nova era na política nacional.

Isso deixa às claras que a verdadeira democracia popular é decidida na base do debate popular sendo incrementada com as ações de rua para fazer valer o direito de um povo sofrido. Antes o que era impossível tornou-se possível, obrigando os ditos representantes do povo a fazer aquilo que as massas desejam alcançar. O povo organizado possui uma enorme força, mas nem sempre consegue perceber a dimensão do poder que possui.

A configuração de um novo quadro de justiça e uma política de agregação social e verdadeiramente democrática só se consolidará com as ações de rua para a derrubada do Estado capitalista opressor, fazendo valer o verdadeiro sentido democrático popular que deve ser construído pelo povo e para o povo, com o Estado socialista. Significa portanto que as contradições de ordem política e econômica do capitalismo financeiro necessitam ser superadas com a organização ativa das camadas populares.

Em suma, o arremedo democrático burguês que impera no país não consegue atender às demandas da população. O Estado burguês só ruirá com a força do povo, numa dinâmica de transformação social e inevitáveis perdas materiais, entre outras. Os fins poderão justificar os meios dependendo da ocasião e do calor do momento. O movimento deve arregimentar imediatamente operários, camponeses, estudantes, domésticas, desempregados, professores etc. Só a luta mudará a vida e a sociedade. É necessário que o movimento permaneça atuante até conseguir alcançar todas as reivindicações. Deve-se salientar que a mídia burguesa tenta desviar as atenções com a intenção de colocar povo contra povo. O Estado capitalista juntamente com toda a sua bandalheira deve ser derrubado e pagar pelos crimes cometidos contra os pobres, miseráveis, excluídos e desafortunados.

O combate à impunidade e à corrupção no Brasil deve ser tratado com rigor utilizando os clássicos tribunais do povo. Medidas governamentais da política vigente não solucionarão os problemas em questão. Está claro que a população não aguenta mais tanto desmando, sendo necessário sacudir o país e erradicar todas as necessidades do povo, por meio das assembleias populares e manifestações de rua. As arbitrariedades cometidas por um governismo atrelado a uma política de contradições só será modificado com a força e formação das lutas populares.

Na realidade a população não se sente representada politicamente e por esta razão tomou as ruas de todo o país, demonstrando a sua insatisfação. A política de pão e circo deve cair por terra e uma nova sociedade deve ser arquitetada. O rosto de ativistas encapuzados representa o rosto de um povo não visto em luta. É inegável que a pressão dos manifestantes fez o governo e empresários do transporte em São Paulo diminuir a tarifa de ônibus. Na seqüência foi barrada a PEC37. Enfim, estamos vivenciando momentos de possíveis mudanças na sistemática ordem do Estado capitalista financeiro. E por fim, os protestos tendem a se multiplicar no Brasil, pois as políticas públicas não garantirão benefícios concretos às camadas sofridas e exploradas de todo o território nacional. O povo na rua é que arrancará os objetivos populares. A meta do Estado é garantir a manutenção da política demagógica e degradante. Manter-se na luta e organizado é a única saída para mudar o Brasil.

Votar em um parlamentar não significa garantia de direitos. O verdadeiro direito é aquele decidido pela democracia direta em nome do povo.

Carlos Holanda, graduado em História e pós –graduando em Metodologia do Ensino de História pela UECE (Universidade Estadual do Ceará)

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1 COMENTÁRIO

  1. O Brasil nunca parou de lutar. Todos devem saber disso e isso deve ser dito a todo momento: o estereótipo do brasileiro conformado é um estereótipo que serve muito bem aos interesses burgueses, o que se deve fazer é entender que este estereótipo não é totalmente verdade e que ele funciona mais como um modelo de cidadania que se impõe do que como uma conclusão tirada da realidade.

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