“Acabou a mordaça e ninguém vai se calar de hoje em diante”, palavras de um trabalhador da Guaraves, maior abatedouro industrial de aves da Paraíba, localizado na cidade de Guarabira, a 98 km da capital João Pessoa. Este foi o clima da greve histórica que os trabalhadores desta empresa realizaram no dia 4 de setembro.
Debaixo de chuva e ainda na madrugada, eles começaram a se aglomerar na frente da empresa. De manhã, logo cedo, a greve já era o principal assunto discutido na cidade. Pelas emissoras de rádio a população parabenizava a coragem e determinação dos trabalhadores em enfrentar o poderio da empresa, que tem como dono o senhor Ivanildo Coutinho, que, além do abatedouro, é proprietário de uma emissora de rádio e um de shopping center na cidade, exercendo, assim, grande influência política na região.
Por dia, são mais de 80 mil aves abatidas por cerca de 700 trabalhadores que se revezam em três turnos. “Nós não temos horário de descanso. Até as grávidas trabalham lá dentro na produção correndo o risco de cair, ficando em pé por mais de dez horas. Pra gente ir ao banheiro, tem hora marcada. Só temos um momento pela manhã. Depois disso, se der vontade, tem que fazer na roupa, e pra eles (a empresas) não tem problema. Pra escravidão só tá faltando o chicote”, disse a A Verdade a trabalhadora Maria (nome fictício).
E Maria continua seu depoimento: “Somos proibidos de tomar água mineral que tem na empresa. Tomamos a água que vem do açude que fica ao lado, que é usada no abate das aves e é despejada novamente no açude. Lá dentro não existe ‘por favor’, ‘com licença’, nem ‘obrigado’. Tudo é na base do ‘bora! borá! bora!, que o serviço não pode parar!’”.
A greve foi organizada pelo Movimento Luta de Classes (MLC) e contou com o apoio da CUT. À tarde, aconteceu uma reunião entre uma comissão de trabalhadores e a empresa para que fosse apresentada a pauta de reivindicações. Ao fim da tarde, a comissão informou em assembleia geral que todos os pontos foram acatados pela empresa, garantindo a instalação de bebedouros, a redução do banco de horas de seis para dois meses, além da garantia de pagamento do dia parado e de uma nova reunião, agendada para o dia 6 de novembro, para discutir o adicional de insalubridade, que não é recebido.
“Tem que ter um sindicato aqui pra representar verdadeiramente o trabalhador. Essa empresa tem que ser fiscalizada, e o sindicato pelego tem que arredar o pé daqui”, disse Radamés Cândido, do MLC, referindo-se à necessidade de se organizar um novo sindicato para a categoria, já que o sindicato atual nada faz diante da situação vivida pelos operários, defendendo, na prática, os interesses do patrão.
Com muitas palmas e com a autoestima bastante elevada, os trabalhadores encerraram a greve, levando para casa a lição de que só conquista quem se organiza e vai à luta!
Emerson Lira – PB