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sexta-feira, 19 de abril de 2024

“O racismo no futebol espelha o racismo na sociedade”

racismo no futebolEm ano de Copa do Mundo, têm sido cada vez mais frequentes notícias sobre o racismo no futebol brasileiro e internacional. Casos ocorridos no Brasil mostram que o racismo existe em nosso país, e não somente na Europa ou nos EUA, como muitos acreditam.

No início de março, na partida entre Esportivo e Veranópolis, torcedores do time da casa ofenderam o árbitro Márcio Chagas da Silva com xingamentos racistas, amassaram seu carro e deixaram bananas na parte superior do veículo e no cano de escape. Também em março, numa partida entre Grêmio e Inter, o zagueiro Paulão sentiu o peso do racismo. Ao olhar para a torcida do Grêmio, viu que um grupo imitava sons de macacos.

No mês seguinte, o apresentador do SBT Lourival dos Santos, da cidade de Maringá, foi preso por chamar de macaco o jogador Maicon, do Londrina. Também o jogador Arouca foi chamado de macaco por torcedores do Mogi-Mirim após marcar um gol.

É evidente que a grande mídia não pode deixar de exibir as recorrentes atitudes criminosas de racismo contra negros no futebol – ainda mais em partidas transmitidas ao vivo para milhões de telespectadores. Porém, esta mesma mídia burguesa vem deixando de mostrar casos bem anteriores, passando a ideia de que este é um problema recente na história do futebol brasileiro.

Na verdade, a visão racista sobre negros e mestiços no futebol vinha se formando desde o nascimento do esporte no País. No início do século 20, o esporte era praticado pelos filhos das elites cariocas. Portanto, em espaços da elite era proibida a presença de negros. O Fluminense, um dos maiores clubes brasileiros, ainda hoje é conhecido pelo apelido “pó de arroz” (o nome vem dos casos, ocorridos nas primeiras décadas do clube, de jogadores negros que somente conseguiram ingressar no time após uso de “maquiagem” com pó de arroz para “disfarçar” a cor da pele).

A partir de 1954, após a Seleção ser eliminada na Copa do Mundo, análises – que logo se comprovariam carentes de fundamento – foram divulgadas atribuindo a culpa pelos fracassos aos jogadores afrodescendentes. Isto porque “estes seriam inseguros em momentos decisivos”.

Em entrevista ao site UOL, o ex-jogador Paulo César Caju contou um caso ocorrido em 1968: “Fiz uma excursão com o Botafogo para Bagé, no interior do Rio Grande do Sul, que era a cidade de um dirigente do clube. Fomos lá no Country Club da cidade, jogamos, vencemos e depois teria um jantar. Quando chegamos à noite, paramos em uma outra porta do clube e tinha a placa ‘proibida a entrada de negros’. Voltamos para o hotel na mesma hora, pegamos o ônibus até Porto Alegre e depois embarcamos para o Rio. Nunca mais voltei lá”, recordou.

Também identificamos o racismo no futebol brasileiro quando observarmos quão poucos são os técnicos de futebol negros nos diversos clubes do País, em comparação com a quantidade de jogadores negros nos mesmos clubes. Poucos jogadores negros conseguem se tornar técnicos, e os que o fazem, treinam, em sua maioria, clubes das séries B e C. Um dirigente do Flamengo disse, em 2011, que o ex-jogador e auxiliar técnico Andrade não poderia ser treinador da equipe por ser um negro que falava mal. O também ex-jogador e hoje comentarista esportivo Júnior se manifestou em apoio ao profissional. Após a contratação, Andrade conduziu o time ao título do Campeonato Brasileiro.

O ex-jogador francês Lilian Thuram diz que no Brasil ocorre o que ele mesmo chama de “racismo velado”: “O racismo no futebol espelha o racismo na sociedade. O que é mais violento: ser xingado num campo de futebol ou não conseguir um emprego pelo fato de ser negro? É uma hipocrisia da sociedade associar o racismo apenas ao futebol”. Thuram fala também da omissão das federações em relação aos casos ocorridos: “As federações tendem a não aceitar as decisões mais radicais porque desejam garantir o espetáculo e todo o negócio envolvido num torneio de futebol”.

O pensamento racista considera que existe uma “raça superior à outra”. As agressões praticadas no futebol são uma forma de afirmar a esses jogadores negros que, apesar de bons jogadores, ricos (como manda a sociedade capitalista) e famosos, serão sempre inferiores porque são negros. Nossa cultura associa “ser negro” a “ser inferior”, seja na cor da pele, na cultura, no cabelo crespo, na religião de matriz africana… desde os tempos da escravidão. Tal visão ideológica vem sendo aprofundada na educação infantil, que não ensina a importância da população negra na história do nosso país; pela grande mídia, que banaliza o tema ao dizer que “somos todos macacos”; pela Fifa e pela CBF, que não punem os agressores, e por todo o sistema opressor em que vivemos.  Esse racismo, apesar de banalizado, ainda é forte em nosso país. Lutar contra ele, contra a discriminação e o preconceito racial é uma tarefa de todos aqueles que desejam construir aqui uma sociedade mais justa e igual para todos!

Luiz Antônio dos Santos e Eloá dos Santos, Rio de Janeiro

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