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sábado, 20 de abril de 2024

Os ratos da FIFA

Aldo e BlatterEntre pênaltis que não ocorreram, mas foram marcados, e cotoveladas, carrinhos e pisões no tornozelo que não receberam nem cartão amarelo, a mordida dada no jogador italiano Chiellini pelo artilheiro uruguaio Luis Suárez e a dura pena imposta pela Fifa ao atleta – nove jogos e seu banimento de qualquer atividade relacionada ao futebol no mundo por quatro meses –  foi um dos assuntos mais debatido na Copa da Fifa.

A punição ocorreu logo após a eliminação da Itália e da Inglaterra, do torneio, e teve repúdio até da sempre conciliadora Federação Internacional de Jogadores de Futebol Profissional (FIFPro, na sigla em francês). Para a FIFPro, Luis Suárez tem direito a um julgamento justo, e suspender o jogador até de treinamentos por quatro meses seria “uma violação de seu direito de trabalhar”. O próprio Chiellini declarou que a punição foi excessiva e defendeu que Suárez  “seja autorizado a, pelo menos, seguir perto de seus colegas durante os jogos porque um banimento desses é realmente alienante para um jogador”.

Fred, jogador da seleção brasileira, também criticou a pena da Fifa,  “Como jogador, como ser humano, compreendendo que lá dentro o jogador está à flor da pele, com tensão, disputa por espaço. Enxergo a punição como severa demais. Uma punição pode acabar com a vida do atleta, quatro meses, nove jogos. Tem que ser punido, mas queria vê-lo jogar a Copa ainda”, disse Fred.
Mas por que Suárez é banido do futebol e Joseph Blatter, presidente da Fifa, que rouba o futebol mundial, nada sofre?

Segundo Andrew Jennings, jornalista inglês autor do livro Um jogo cada vez mais sujo, Blatter é um chefe poderoso, compromissado com o próprio enriquecimento por meio de atividades criminosas que envolvem corrupção e propinas no fechamento de contratos. Além disso, o sr. Blatter manipula resultados das partidas para favorecer familiares e a ele próprio nas bolsas de apostas, e promove a extorsão de bilhões de dólares de governos”.

Um exemplo sobre o enriquecimento da família Blatter: como a Fifa  tem o poder de ganhar os lucrativos direitos televisivos de qualquer canal do mundo para transmissão da Copa, ela concedeu 50% destes direitos para a Infront, uma empresa suíça de marketing de esportes, cujo chefe da empresa é seu sobrinho, Philippe Blatter.

A exemplo da máfia italiana, a Fifa possui um código de honra e silêncio que impede  que qualquer um dos seus membros denuncie outro membro e se beneficia de tribunais privados da Fifa,  que não pode ser contestado nos tribunais civis. Além disso, formada por 209 associações nacionais com poder de voto nos congressos, a Fifa mantém essa  máquina, “lubrificada por doações de milhões de dólares para essas associações, valores que não são auditados, e pelo enorme comércio clandestino dos preciosos ingressos da Copa do Mundo, que vão parar debaixo do tapete.”  Dessa forma, o presidente da Fifa se torna praticamente  vitalício e impõe  uma verdadeira ditadura sobre jogadores e clubes do mundo inteiro. João Havelange ficou 24 anos na presidência e Blatter está há 16 anos.

Jamil Chade, autor do livro A Copa como ela é, da Companhia das Letras, relatou assim como ocorreu o último congresso da Fifa realizado em junho deste ano no Brasil:

“Em 10 de junho, 209 federações nacionais se reuniram no Transamérica Expo Center, no bairro de Santo Amaro, em São Paulo, em um encontro que explicitou a guerra pelo poder dentro da Fifa e escancarou manobras para comprar votos e ganhar aliados. Tudo graças ao sequestro da emoção de milhões de garotos e famílias pelo mundo que dão parte de seu dinheiro ao futebol. No centro do debate nesta semana estava a permanência de Joseph Blatter como presidente da organização, um cargo que ele ocupa desde 1998. Na Fifa, ele já está desde 1975. Mas sua avaliação é de que sua missão “ainda não acabou”.

Logo no início do Congresso – que contou com a cicerone Fernanda Lima apresentando o suiço como “o homem que guiou a Fifa com sucesso desde 1998″ – Blatter fez questão de anunciar que estava usando parte da receita da Copa do Mundo no Brasil, a mais lucrativa da história, para repartir bônus a todas as federações nacionais. No total, o cartola usou US$ 200 milhões para ganhar aliados. “Nunca estivemos tão ricos e tão fortes como agora”, declarou.

Pois bem, cada dirigente saiu de São Paulo com US$ 700 mil a mais no bolso. Se o valor não seria significativo para um alemão ou inglês, o dinheiro fez delegações menores ovacionarem o “grande líder”. “Vocês estão felizes?”, gritava de seu púlpito o dirigente suíço.

A distribuição do “presente” não era por acaso. Momentos depois, surgiria na pauta do Congresso a proposta de limitar o mandato do presidente da Fifa. (…) No momento de apurar o resultado, nenhuma surpresa: as propostas feitas para reformar a Fifa e permitir uma mudança de geração no comando da entidade foram enterradas. E os dirigentes comemoraram como se tivessem feito um gol.” (http://apublica.org/2014/06/).

Aldo Rebelo, Ministro do Esporte, também esteve presente e o ex-atacante Ronaldo foi outra presença ilustre e teve a responsabilidade de levar a taça ao palco do evento.

Em resumo, “são os pequenos ratos agradecendo ao rato-chefe pelo estilo de vida de magnatas que levam” (Jennings).

Que a Fifa tá cada vez mais rica e, em particular, seus dirigentes, não há dúvida. Somente com a Copa no Brasil a entidade vai lucrar 15 bilhões de dólares e não pagará nenhum centavo de imposto. (Veja A Verdade, nº 162).

Por tudo isso, quem deveria ser realmente banido do futebol não é o Luisito Suárez, mas Blatter e sua corja. Pois, além de roubarem, impõem, com base na filosofia capitalista de ganhar a qualquer preço, um futebol robotizado, de choques físicos  e chutões, e enterram o futebol-arte.

Luiz Falcão, diretor de A Verdade

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