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sexta-feira, 22 de novembro de 2024

Depoimento da invasão de Gaza por um médico

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Crianças mortasNeste Depoimento da invasão de Gaza por um médico, o mesmo relata as tristes notícias de bombardeios no território Palestino, principalmente na Faixa de Gaza, centro da disputa entre o Hamas e Israel. A cada imagem veiculada o sofrimento se torna evidente, com cenas de um povo sendo dizimado sem piedade graças a uma disputa imperialista.

Além dos povos diretamente envolvidos no conflito, estrangeiros que trabalham na região também sofrem com os conflitos, como é o caso do médico norueguês que presta serviços humanitários em um hospital de Gaza, Dr. Mads Gilbert, que escreveu a emocionante carta transcrita a seguir, pedindo o fim da guerra.

Redação PE

Queridos amigos,

A noite passada foi muito dura para todos nós aqui. A “invasão por terra” em Gaza provocou dezenas de mortos e um montão de mutilados, feridos, ensanguentados e moribundos. Todos palestinos, de todas as idades. Todos civis e que nada têm a ver com essa guerra fratricida.

Os enfermeiros e voluntários/as são verdadeiros heróis que estão passando com as ambulâncias em meio aos escombros para ver se conseguem salvar ainda algumas vítimas. Estão trabalhando 24 horas por dia, quase caindo de cansaço e sob o peso de um trabalho desumano, além de não receberem nenhum pagamento. Há quatro meses, o hospital Shifa não tem dinheiro para pagar a ninguém. Assim mesmo, os funcionários estão correndo atrás de sangue e de leitos para socorrer esses seres humanos que são mortos pelo Estado de Israel como se fossem mosquitos. E são seres humanos…

Como médico, só posso testemunhar minha profunda admiração pelos voluntários e minha proximidade espiritual dessa resistência (“sumud”) palestina. Verdadeiros mártires que nos dão força, mesmo se somente em vê-los, tenho vontade de gritar de dor, de chorar. Muitos pais, agarrados a uma criança, morta ou ferida, coberta de sangue, para lhe proteger em um abraço sem fim, mas nós temos de lhes dizer: nos entreguem suas crianças. Isso é perigoso. Vocês e elas podem morrer.

E de repente, um barulho, uma explosão, mais cinzas… Aí vem outras dezenas de ensangüentados e feridos. Verdadeiro lago de sangue no nosso átrio de emergência. São mais de cem casos chegados nessa noite ao hospital e aqui já não temos eletricidade, nem água, nem material de curativo, remédios, nada. E o próprio hospital teve uma ala bombardeada e está em escombros.

É difícil acreditar que tudo isso está acontecendo apenas para que o Estado de Israel possa firmar sua ocupação militar nos territórios palestinos, sob qualquer pretexto, como esse da morte de três adolescentes judeus. Às vezes, custa a acreditar que, em pleno século XXI, uma coisa dessas possa estar acontecendo.

Preciso parar essa mensagem porque exatamente nesse minuto escuto a orquestra macabra da máquina de guerra israelita, com sua artilharia atirando diretamente de navios no porto sobre as pessoas que passam nas ruas, os F16 norte americanos que rugem sobre o nosso céu e os aviões não pilotados (Zenanis) que passam muito baixo, quase sobre nossas cabeças. Tudo pago pelos Estados Unidos e países ocidentais que financiam tudo isso.

Convido o presidente dos Estados Unidos e as pessoas que ainda acham que o Estado de Israel possa ter alguma razão de vir aqui passar uma noite no nosso hospital. Uma noite no Shifa Hospital basta.

Por favor, nos ajudem a pôr fim a esse massacre.

Se vocês se omitem e fazem de conta que não sabem, serão cúmplices diante de Deus de tanto sangue derramado. Em nome do Deus de todas as crenças, façam o que puderem para parar esse massacre. Isso não pode continuar.

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