Foi um dia de provocações da Polícia Militar hoje no centro de São Paulo. Após promover o despejo de 200 famílias que viviam em um edifício ocupado na avenida São João, zona central de São Paulo, policiais iniciaram uma operação de terror a pretexto de combater supostos vândalos que atiravam pedras, incendiaram um ônibus e sacos de lixos. Em todas as imagens divulgadas em tempo real pela mídia dos monopólios, os “vândalos” não passavam de 15 gatos pingados.
A verdade é que a polícia lançou bombas de gás lacrimogêneo, de efeito moral e balas de borracha a torto e a direito. Vários relatos dão conta de que pessoas eram afetados com efeito do gás a quilômetros de distância do tal confronto. Como prova o vídeo abaixo gravado por celular na rua Capitão Salomão, a PM se colocou na esquina de ruas onde estão cortiços e bares populares e atirou a esmo, procurando provocar a população.
https://www.youtube.com/watch?v=H72WHWujGuk
O relato abaixo foi feito por Bruno Torturra, do site Fluxo :
“Mais de 10 cartuchos de gás são disparados no meio da rua. Crianças, idosos, trabalhadores, apartamentos, lojas, motoristas… todos envolvidos pela fumaça cancerígena, abortiva, altamente tóxica do gás CS. Bombas de efeito moral. Balas de borracha disparadas aleatoriamente por policiais ao longe. O Choque avança. E atira mais gás agora na Cap. Salomão, onde não havia nenhum. Repito, nenhum distúrbio. Botequins tomados de gás. Um hotel popular tomado de gás na portaria”.
Várias pessoas, principalmente os mais jovens, procuraram responder na mesma moeda, resistindo à truculência da PM. Sempre que há injustiças nos bairros populares, como o assassinato de inocentes, a população responde com fechamento de ruas e enfrentamento à polícia. Dessa vez não foi diferente.
A luta por moradia
A ocupação da Frente de Luta por Moradia – FLM na rua São João é uma das centenas de ocupações que existem hoje na cidade de São Paulo. Apenas na cidade, são mais de 400 mil imóveis abandonados, sem função social, a grande maioria no centro. Alguns prédios estão abandonados há mais de vinte anos, como é o caso do edifício da Avenida São João, antes um hotel.
A causa de tanta casa sem gente e tanta gente sem casa é a especulação imobiliária. O lucro que se pode auferir em cima da propriedade de um edifício é mais importante do que o direito mais básico e fundamentalmente humano que é o de uma família ter um teto para se abrigar do frio, da chuva e poder viver.
O poder judiciário, o mesmo que no dia de hoje aprovou o pagamento de auxílio-moradia para todos os juízes federais, é célere em expedir mandatos de reintegração de posse quando os prejudicados são as famílias mais pobres. Mas esse mesmo poder judiciário é mansinho e faz vista grossa para shoppings e outras construções luxuosas que roubam terras devolutas, constroem sobre mananciais e usam mão-de-obra escrava em seus canteiros.
É preciso uma transformação profunda, que acabe com tanta injustiça. É preciso enxergar para além da fumaça do gás lacrimogêneo.
Jorge Batista, São Paulo