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domingo, 3 de novembro de 2024

Sobre medo e fascismo

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1948095_280639718769567_8783289246558752228_n“Se eu fosse querer parar o jogo a cada vez que me chamassem de macaco ou crioulo, todos os jogos iriam parar. O torcedor grita mesmo”. 
Essa frase foi proferida por Edson Arantes, outrora conhecido como Pelé, em entrevista no dia 10 de setembro. É uma frase que tem um claro objetivo: naturalizar o racismo e a repressão ao negro, pregando a resignação. Foi uma frase emitida na mesma semana em que a agressora do goleiro Aranha, Patrícia Moreira, percorreu os principais programas de auditório da TV da família Marinho, se fazendo de vítima.

O objetivo maior é propagar o medo. Neste 11 de setembro, um Centro de Tradições Gaúchas – CTG da cidade de Santana do Livramento – RS que realizaria a celebração de um casamento coletivo onde um dos casais é gay, foi incendiado após ameaças. Outra casal gay desistiu da cerimônia em virtude das ameaças.

No dia 10 de setembro, na região metropolitana de Goiânia, o jovem João Antonio Donati, de 18 anos, foi sequestrado, torturado, teve as duas pernas e o pescoço quebrado e morreu como resultado da tortura. Os assassinos deixaram em sua boca um bilhete: “Vamos impedir que essa praga se espalhe”. O crime de João Antonio era ser gay.

Quase sempre, um novo Amarildo desaparece nas mãos da polícia militar. No dia 29 de Agosto, foi o jovem Davi da Silva, 17 anos, morador do bairro Benedito Bentes, em Maceió – AL. Sua mãe declarou: “Não sei mais o que fazer, nem a quem recorrer. Meu filho morava comigo e era a única companhia que eu tinha. Sei que ele estava errado quando foi abordado pelos policiais, porque estava com maconha, mas a função da polícia é prender, e não fazer com que uma pessoa desapareça deixando a família aflita.”

Negros, gays, moradores da periferia vivem sob o medo e a polícia e a mídia querem que eles se resignem, se escondam e se enquadrem na “moral e bons costumes”. Há os que comemoram tantas mortes e violência, dizendo que isso é normal. Mas há, também, os que olham para o lado e fingem não ver, abrindo mão de lutar de maneira resoluta contra o racismo, o machismo e a homofobia.

A verdade é que o clima de negação dos direitos civis mais básicos, somado ao medo e à resignação social são o melhor caldo para o desenvolvimento do fascismo. O fascismo ganha a consciência de grande parte da sociedade quando consegue convencer que a solução para os problemas sociais é prisão, repressão, perseguição e ordem, quando, muito pelo contrário, o Brasil só poderá resolver seus problemas com mais direitos, igualdade social e liberdade de organização e expressão.

Quem se abstêm de combater pelos direitos civis no Brasil leva água ao moinho do fascismo.

Jorge Batista, São Paulo

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