UM JORNAL DOS TRABALHADORES NA LUTA PELO SOCIALISMO

quinta-feira, 26 de dezembro de 2024

Latuff: Carta aos brasileiros (da esquerda)

Leia também

10653804_420643981407558_4891099705768937896_n
Carlos Latuff, Cartunista

Afinal, Dilma Rousseff garantiu mais um mandato, derrotando o tucano Aécio Neves. Foi por um triz, como na eleição de 2010, ao enfrentar o também tucano José Serra. Naquele ano, como agora, votei em Dilma, não por apoiar a agenda de seu governo e sim por acreditar que as coisas podem não melhorar, mas certamente podem piorar, e no meu entendimento, Aécio Neves simboliza o retrocesso, o agravamento de um problema.

Meu voto não é um cheque em branco a Dilma e seu partido, nem tão pouco é um voto de confiança no sistema eleitoral. Com sua política de alianças com o que há de mais patife na política brasileira, o governo de Dilma Rousseff não me representa, como também não representa os indígenas e quilombolas, estes sequer citados nos debates e propagandas dos candidatos. Quero crer também que não representa os moradores de favelas cuja ocupação por tropas do exército foi autorizada pela presidenta. E acredito ainda que não representa a parcela do movimento social que não foi cooptada pela máquina do governo.

Claro que me agrada aos olhos ver os “coxinhas” se consumindo no próprio ódio ao saber que a “ditadura comunista do PT” terá um fôlego adicional de 4 anos, mas não tenho qualquer esperança de que o Partido dos Trabalhadores, com todos os compromissos firmados com o agronegócio, banqueiros, empresários, e mesmo a “guerra contra as drogas” de Washington, possa retomar às velhas bandeiras de luta do movimento social. O movimento social no Brasil precisa livrar-se dessa polarização entre PT e PSDB, livrar-se da cooptação, e trabalhar por uma alternativa à esquerda, uma alternativa que não busque como meta o governo e sim o poder. Acabar de vez com essa oligarquia, com o coronelismo, com o poder de famílias que possuem terras, emissoras de TV e rádio, e mesmo estados inteiros. São estes os verdadeiros detentores do poder no Brasil.

Quanto a mim, retorno agora à oposição de esquerda e continuo colocando minha arte a serviço do movimento social. A quem acredita que pelo meu voto crítico eu aderi ou capitulei ao governismo, peço que refreie sua leviandade e guarde essa carta como referência futura.

Carlos Latuff

Porto Alegre, 27 de outubro de 2014.

More articles

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui

Últimos artigos