Ao analisar as dificuldades da luta da classe operária para derrotar a burguesia e conquistar o poder, V.I. Lênin escreveu:
“O proletariado na sua luta pelo poder, não tem outra arma senão a organização. Dividido pela concorrência anárquica que reina no mundo burguês, esmagado pelos trabalhos forçados a serviço do capital, constantemente atirado para o abismo da miséria mais completa, do embrutecimento e da degenerescência, o proletariado só pode tornar-se, e tornar-se-á inevitavelmente uma força invencível quando a sua unidade ideológica, baseada nos princípios marxistas, é cimentada pela unidade material da organização que reúne milhões de trabalhadores num exército da classe operária.” (Um passo adiante, dois passos atrás, Obras Escolhidas tomo 1)
Nada é assim mais importante para a classe operária realizar uma revolução que a constituição e o desenvolvimento de seu principal instrumento político: o partido revolucionário. Em consequência, a tarefa principal do militante comunista é construir esse partido, zelar pela sua fidelidade aos princípios do marxismo-leninismo e à luta revolucionária, dedicar-se a organizá-lo em todos os locais e trabalhar para resolver suas deficiências, pois dele depende a própria revolução.
Como sabemos, há 48 anos, um grupo de destemidos camaradas, tendo à frente Manoel Lisboa, Amaro Luís de Carvalho, Valmir Costa e Selma Bandeira fundaram o partido Comunista Revolucionário (PCR) como uma alternativa revolucionária ao reformismo e com a clara determinação de desenvolver a consciência e a organização das massas para realizar uma revolução popular, derrubar a Ditadura Militar fascista e implantar o socialismo em nosso país.
Hoje, 19 anos após a reorganização do PCR, vários fatos revelam que o nosso partido vive um importante momento da sua história e dá passos efetivos no sentido de crescer sua influência junto às massas mais exploradas e oprimidas de nossa sociedade.
Com efeito, mesmo não contando ainda com milhares de militantes, nosso partido tem conseguido realizar e alcançar importantes vitórias no movimento de massas, como prova o crescimento do Movimento Luta de Classes (MLC), bem como nossa atuação nos sindicatos e em diversas greves, o reconhecimento da representatividade do MLB com a eleição para a coordenação do Fórum de Reforma Urbana, a realização do 1º Encontro Nacional do Movimento Mulheres Olga Benario e a construção da Federação dos Estudantes do Ensino Técnico (Fenet) e do 3º Enet com mais de 1.500 estudantes vanguardeados pela União da Juventude Rebelião (UJR).
No entanto, apesar desses avanços e de estarmos hoje atuando em 15 estados, padecemos de vários problemas de organização que nos impedem de crescer mais e de nos tornarmos um partido em condições de dirigir a revolução socialista brasileira. Entre estas insuficiências, uma das mais importantes é pouca dedicação às tarefas de construção partidária, e, em particular, à assistência política e ideológica aos coletivos e militantes.
Muitos tratam as reuniões dos coletivos do partido como se fosse mais uma reunião da frente de massas, empenhando-se pouco para que os militantes desenvolvam sua consciência e seu compromisso com a revolução. Desprezam o fato de que é nos organismos partidários que os militantes podem estudar o marxismo-leninismo, avaliar o desenvolvimento de suas tarefas, prestar contas da venda do jornal A Verdade, informar se está recrutando ou não, e traçar planos para impulsionar as luta dos trabalhadores e estudantes.
É necessário, portanto, preparar bem as reuniões, realizar uma boa convocação e garantir tempo para debater e esclarecer as dúvidas dos membros dos coletivos. Infelizmente, gastamos muita energia e tempo com as reuniões e os problemas das entidades e dedicamos pouquíssimo tempo para a assistência política, a formação ideológica e a construção do partido. Ora, os coletivos, principalmente os de base (as células), existem para debater como melhor avançar as lutas populares, mas também, e, principalmente, para fortalecer e ampliar a organização partidária.
Porém, não basta organizar boas reuniões dos coletivos; o trabalho de assistência política requer a realização cotidiana de conversas com os militantes. Realizar um bom trabalho de organização exige conversar, reunir-se e trabalhar diretamente com os companheiros e as companheiras. Assim, além de realizar as reuniões dos organismos, o responsável por um coletivo deve fazer reuniões individuais, orientar cada passo dos membros do coletivo e dedicar tempo para a formação teórica do militante. Como sabemos, um camarada que compreende pouco a nossa teoria, o marxismo-leninismo, atua sem clareza e tem mais dificuldades para desenvolver sua militância. Não é demais insistir que cada militante precisa ter além do estudo no coletivo, um plano individual de leitura, e o assistente só poderá ajudá-lo se ele próprio estiver estudando a teoria revolucionária.
Dizem alguns que esse método de trabalho é correto, mas que não têm tempo para colocá-lo em prática: “são muitas as tarefas”, argumentam.
Pois bem, se não temos tempo, então, a primeira coisa a fazer, é refletir sobre o que estamos fazendo com o nosso tempo e que prioridades estamos estabelecendo em nossas vidas. Afinal, se existe algo que um revolucionário precisa ter é tempo para cumprir com suas tarefas revolucionárias.
A verdade é que para que o nosso partido se torne um partido muito maior, é urgente que cada camarada leve mais a sério seu trabalho de assistência e de formação de outros revolucionários. Em vez de se lamentar porque muitas decisões ficam no papel, devemos analisar suas causas e o que estamos fazendo para mudar essa realidade.
O Partido e a Revolução
Mas por que há entre nós uma secundarização dessas tarefas de organização, da importância das reuniões dos coletivos e da formação ideológica e política dos militantes?
A causa não é outra senão a subestimação do papel do partido para a realização da revolução, a não compreensão do por que o partido foi construído, isto é, de que “Sem a ação da vanguarda, sem a direção de um Partido Comunista Revolucionário, a revolta do povo será sempre cega e inconsequente.” (Manoel Lisboa)
A luta dos revolucionários vai muito além de simplesmente organizar a greve, uma ocupação ou a passeata contra o governo. Ela tem como objetivo principal organizar as massas para fazer uma revolução que estabeleça novas relações de produção entre os homens e mulheres e acabe de uma vez por todas com a exploração capitalista dos trabalhadores, e isso só é possível se a propriedade privada dos meios de produção for abolida.
É claro que a burguesia, a classe que é a maior beneficiária na sociedade capitalista e que sabe que é a existência da propriedade privada que lhe garante explorar o operário e extrair dele a mais-valia, tudo faz (e fará) para impedir essa revolução. Por isso, a classe operária só terá condições de realizar uma revolução em nosso país se tiver construído uma forte organização que reúna os elementos mais combativos e mais avançados do proletariado. Uma organização que, como explicou Lênin, não tenha divisão entre operários, intelectuais ou estudantes, pois todos têm como profissão a atividade revolucionária.
De fato, sem um Estado Maior a classe operária fica sem um comando que analise e estude as condições em que se desenvolve a luta de classes e fica sem uma vanguarda que elabore uma tática e uma estratégia para a conquista revolucionária do poder.
Se cada um de nós tiver claro que esse é o objetivo do Partido e assumir a tarefa da sua construção como a principal de sua vida, nós passaremos a enxergar que cada recrutamento, a formação de uma nova célula ou mesmo a reunião de um coletivo são passos indispensáveis na caminhada em direção à revolução que precisamos realizar para que nosso povo construa uma nova sociedade, a sociedade socialista. Tenhamos, pois, sempre em mente os versos do poeta: “E há que se cuidar do broto/Pra que a vida nos dê/Flor e fruto.” (Milton Nascimento e Wagner Tiso. Coração de Estudante.)
Luiz Falcão, membro do comitê central do PCR