UM JORNAL DOS TRABALHADORES NA LUTA PELO SOCIALISMO

domingo, 24 de novembro de 2024

Há que se cuidar do broto

Outros Artigos

Ao analisar as dificuldades da luta da classe operária para derrotar a burguesia e conquistar o poder, V.I. Lênin escreveu:

 “O proletariado na sua luta pelo poder, não tem outra arma senão a organização. Dividido pela concorrência anárquica que reina no mundo burguês, esmagado pelos trabalhos forçados a serviço do capital, constantemente atirado para o abismo da miséria mais completa, do embrutecimento e da degenerescência, o proletariado só pode tornar-se, e tornar-se-á inevitavelmente uma força invencível quando a sua unidade ideológica, baseada nos princípios marxistas, é cimentada pela unidade material da organização que reúne milhões de trabalhadores num exército da classe operária.” (Um passo adiante, dois passos atrás, Obras Escolhidas tomo 1)

Nada é assim mais importante para a classe operária realizar uma revolução que a constituição e o desenvolvimento de seu principal instrumento político: o partido revolucionário. Em consequência, a tarefa principal do militante comunista é construir esse partido, zelar pela sua fidelidade aos princípios do marxismo-leninismo e à luta revolucionária, dedicar-se a organizá-lo em todos os locais e trabalhar para resolver suas deficiências, pois dele depende a própria revolução.

Como sabemos, há 48 anos, um grupo de destemidos camaradas, tendo à frente Manoel Lisboa, Amaro Luís de Carvalho, Valmir Costa e Selma Bandeira fundaram o partido Comunista Revolucionário (PCR) como uma alternativa revolucionária ao reformismo e com a clara determinação de desenvolver a consciência e a organização das massas para realizar uma revolução popular, derrubar a Ditadura Militar fascista e implantar o socialismo em nosso país.

Hoje, 19 anos após a reorganização do PCR, vários fatos revelam que o nosso partido vive um importante momento da sua história e dá passos efetivos no sentido de crescer sua influência junto às massas mais exploradas e oprimidas de nossa sociedade.

Com efeito, mesmo não contando ainda com milhares de militantes, nosso partido tem conseguido realizar e alcançar importantes vitórias no movimento de massas, como prova o crescimento do Movimento Luta de Classes (MLC), bem como nossa atuação nos sindicatos e em diversas greves, o reconhecimento da representatividade do MLB com a eleição para a coordenação do Fórum de Reforma Urbana, a realização do 1º Encontro Nacional do Movimento Mulheres Olga Benario e a construção da Federação dos Estudantes do Ensino Técnico (Fenet) e do 3º Enet com mais de 1.500 estudantes vanguardeados pela União da Juventude Rebelião (UJR).

No entanto, apesar desses avanços e de estarmos hoje atuando em 15 estados, padecemos de vários problemas de organização que nos impedem de crescer mais e de nos tornarmos um partido em condições de dirigir a revolução socialista brasileira. Entre estas insuficiências, uma das mais importantes é pouca dedicação às tarefas de construção partidária, e, em particular, à assistência política e ideológica aos coletivos e militantes.

Muitos tratam as reuniões dos coletivos do partido como se fosse mais uma reunião da frente de massas, empenhando-se pouco para que os militantes desenvolvam sua consciência e seu compromisso com a revolução. Desprezam o fato de que é nos organismos partidários que os militantes podem estudar o marxismo-leninismo, avaliar o desenvolvimento de suas tarefas, prestar contas da venda do jornal A Verdade, informar se está recrutando ou não, e traçar planos para impulsionar as luta dos trabalhadores e estudantes.

É necessário, portanto, preparar bem as reuniões, realizar uma boa convocação e garantir tempo para debater e esclarecer as dúvidas dos membros dos coletivos. Infelizmente, gastamos muita energia e tempo com as reuniões e os problemas das entidades e dedicamos pouquíssimo tempo para a assistência política, a formação ideológica e a construção do partido. Ora, os coletivos, principalmente os de base (as células), existem para debater como melhor avançar as lutas populares, mas também, e, principalmente, para fortalecer e ampliar a organização partidária.

Porém, não basta organizar boas reuniões dos coletivos; o trabalho de assistência política requer a realização cotidiana de conversas com os militantes. Realizar um bom trabalho de organização exige conversar, reunir-se e trabalhar diretamente com os companheiros e as companheiras. Assim, além de realizar as reuniões dos organismos, o responsável por um coletivo deve fazer reuniões individuais, orientar cada passo dos membros do coletivo e dedicar tempo para a formação teórica do militante. Como sabemos, um camarada que compreende pouco a nossa teoria, o marxismo-leninismo, atua sem clareza e tem mais dificuldades para desenvolver sua militância. Não é demais insistir que cada militante precisa ter além do estudo no coletivo, um plano individual de leitura, e o assistente só poderá ajudá-lo se ele próprio estiver estudando a teoria revolucionária.

Dizem alguns que esse método de trabalho é correto, mas que não têm tempo para colocá-lo em prática: “são muitas as tarefas”, argumentam.
Pois bem, se não temos tempo, então, a primeira coisa a fazer, é refletir sobre o que estamos fazendo com o nosso tempo e que prioridades estamos estabelecendo em nossas vidas. Afinal, se existe algo que um revolucionário precisa ter é tempo para cumprir com suas tarefas revolucionárias.

A verdade é que para que o nosso partido se torne um partido muito maior, é urgente que cada camarada leve mais a sério seu trabalho de assistência e de formação de outros revolucionários. Em vez de se lamentar porque muitas decisões ficam no papel, devemos analisar suas causas e o que estamos fazendo para mudar essa realidade.

O Partido e a Revolução

Mas por que há entre nós uma secundarização dessas tarefas de organização, da importância das reuniões dos coletivos e da formação ideológica e política dos militantes?

A causa não é outra senão a subestimação do papel do partido para a realização da revolução, a não compreensão do por que o partido foi construído, isto é, de que “Sem a ação da vanguarda, sem a direção de um Partido Comunista Revolucionário, a revolta do povo será sempre cega e inconsequente.” (Manoel Lisboa)

A luta dos revolucionários vai muito além de simplesmente organizar a greve, uma ocupação ou a passeata contra o governo. Ela tem como objetivo principal organizar as massas para fazer uma revolução que estabeleça novas relações de produção entre os homens e mulheres e acabe de uma vez por todas com a exploração capitalista dos trabalhadores, e isso só é possível se a propriedade privada dos meios de produção for abolida.

É claro que a burguesia, a classe que é a maior beneficiária na sociedade capitalista e que sabe que é a existência da propriedade privada que lhe garante explorar o operário e extrair dele a mais-valia, tudo faz (e fará) para impedir essa revolução. Por isso, a classe operária só terá condições de realizar uma revolução em nosso país se tiver construído uma forte organização que reúna os elementos mais combativos e mais avançados do proletariado. Uma organização que, como explicou Lênin, não tenha divisão entre operários, intelectuais ou estudantes, pois todos têm como profissão a atividade revolucionária.

De fato, sem um Estado Maior a classe operária fica sem um comando que analise e estude as condições em que se desenvolve a luta de classes e fica sem uma vanguarda que elabore uma tática e uma estratégia para a conquista revolucionária do poder.

Se cada um de nós tiver claro que esse é o objetivo do Partido e assumir a tarefa da sua construção como a principal de sua vida, nós passaremos a enxergar que cada recrutamento, a formação de uma nova célula ou mesmo a reunião de um coletivo são passos indispensáveis na caminhada em direção à revolução que precisamos realizar para que nosso povo construa uma nova sociedade, a sociedade socialista. Tenhamos, pois, sempre em mente os versos do poeta: “E há que se cuidar do broto/Pra que a vida nos dê/Flor e fruto.” (Milton Nascimento e Wagner Tiso. Coração de Estudante.)

Luiz Falcão, membro do comitê central do PCR

Conheça os livros das edições Manoel Lisboa

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui

Matérias recentes