Foi noticiado que cerca de 100 aeronaves de guerra da Arábia Saudita estão bombardeando Sanaa, a capital do Iêmen, que, recentemente, foi tomada por rebeldes Houthi, e que aproximadamente 150 mil soldados entraram no norte do Iêmen para uma ofensiva em solo.
Também se sabe que a ofensiva saudita no Iêmen é apoiada pelo Egito, Marrocos, Jordânia, Sudão, Kuwait, UAE, Qatar, Bahrein e Paquistão. De acordo com as agências de notícia, os EUA não estão envolvidos na ofensiva, mas realizam apoio de logística e inteligência.
No Iemên, com uma população de 25 milhões de habitantes e sendo um dos mais pobres países da região, os rebeldes Houthi tomaram a capital Sanaa em janeiro de 2015 e instalaram um “conselho presidencial” com cinco membros.
As forças reacionárias e imperialistas que atuam na região sempre tiveram um papel nos conflitos no Iêmen, que é um país de importância estratégica vital como caminho por onde se transporta o petróleo do Golfo Pérsico através do Mar Vermelho. Em nenhum momento, no entanto, as intervenções tinham sido realizadas de maneira direta.
Quem acompanha os acontecimentos na região sabe que a Arábia Saudita e os EUA não ficariam cegos à vitória dos Houthi no Iêmen. Um governo Houthi no Iêmen significa uma facada xiita nas costas da Arábia Saudita, com a qual o Irã sai beneficiado.
Os xiitas iemenitas, que compõem a linha do “Crescente Xiita”, presente no extremo sul do Oriente Médio, são também ligados à maioria xiita da população nos campos de petróleo da Arábia Saudita e dos países do Golfo. Quando a rebelião Houthi no Iêmen começou, a discussão era: “Quem irá ganhar no Iêmen? A Arábia Saudita ou o Irã?” Ao invés de: “Quem vai governar o Iêmen?”. Na sequência, a tomada de poder dos Houthi no Iêmen foi vista ao redor do mundo com “a vitória iraniana no Iêmen”.
Sem dúvidas, a vitória dos xiitas significa pânico aos tronos dos monarcas e reis na Arábia Saudita e em outros Estados do golfo porque a parcela considerável da população xiita nesses é, também, a mais oprimida e miserável.
Além disso, após a queda de Mosul, a “guarda revolucionária” iraniana e os oficiais iranianos (inclusive generais) estão lutando como parte da contraofensiva contra o Estado Islâmico. Isso significa mais que “proximidade na fé”; Iraque e Irã se tornaram aliados. Isso também significa que, na medida em que a ameaça do Estado Islâmico é debelada, Iraque se tornará um país sob o controle do Irã. Os EUA e outras potências ocidentais estão preocupadas com este fato.
Dessa maneira, “Iêmen não é apenas Iêmen”, nem tampouco os “Houthi são apenas Houthi”! Se este fosse o caso, o Iêmen seria no máximo um problema apenas para a Arábia Saudita. Mas não é este o caso. Ao contrário, o conflito no Iêmen – do ponto de vista do quadro geral da região – se tornou o território mais perigoso do conflito ‘Xiita-Sunita’. De fato, todos os dez países que fazem parte da “coalizão” que está atacando o Iêmen têm governos sunitas. (*)
Como era esperado, o ministro das Relações Exteriores turco declarou apoio à operação. A declaração “apoiando a intervenção militar da Arábia Saudita no Iêmen” afirma que a “operação militar contribuirá para legitimar a autoridade no Iêmen”. Claro; essa declaração tem várias interpretações. Mas a questão principal é saber qual o interesse de Çanakkale ou Sarıkamış sobre o Iêmen! Especialmente quando se sabe que o conflito no Iêmen não será controlado facilmente!
Os Estados Unidos, aliados com a linha do “Crescente Xiita” através do Iraque e do Irã no extremo-norte do Oriente Médio são, por outro lado, aliados da Arábia Saudita contra o Irã e a linha do “Crescente Xiita” no extremo-sul. A contradição não é exatamente como parece. É um sinal de como, mais do que nunca, as contradições se tornaram fraudulentas no Oriente Médio.
İhsan Çaralan, membro do Comitê Executivo do Partido do Trabalho – Emep
(*) Egito e Turquia estão em desacordo sobre a questão da irmandade mulçumana, mas este é um desacordo dentro dos marcos do Islã sunita. Ambos estão unidos contra os xiitas.