A 22ª Convenção Nacional de Solidariedade a Cuba se converteu na maior construção, dos últimos anos, de unidade de partidos, entidades de classes e organizações para a cooperação e a defesa do povo cubano realizada no Brasil.
Pernambuco sediou, nos dias 04, 05 e 06 de junho, a 22ª Convenção Nacional de Solidariedade a Cuba, com a presença de 480 delegados vindos de 18 estados, representando 54 organizações. A abertura aconteceu na Associação de Ensino Superior de Olinda (AESO), com a exposição Fidel es Fidel, do fotógrafo cubano Roberto Chile. Em seguida, a mesa oficial de abertura contou com as saudações do prefeito de Olinda, Renildo Calheiros, do vice-prefeito de Recife, Luciano Siqueira, do secretário executivo da Casa Civil do Estado de Pernambuco, Anchieta Patriota, do presidente do Centro Cultural Manoel Lisboa, Edival Cajá, do diretor do Instituto Cubano de Amizade aos Povos (Icap), Roberto Hamilton, e da embaixadora de Cuba no Brasil, Marielena Ruiz Capote, além de representantes das organizações envolvidas na execução do evento.
“A 1ª Convenção levantou duas bandeiras na construção da unidade de ação de diferentes partidos e organizações: a suspensão do bloqueio dos EUA e a recuperação de Guantánamo, ocupada pelo imperialismo em 1903. Outra bandeira erguida depois foi a libertação dos Cinco Heróis. E esta é a grande conquista do movimento de solidariedade dos povos com Cuba. As outras duas bandeiras são apenas questão de tempo para conquistarmos”, declarou Edival Cajá, que coordenou a comissão executiva da Convenção.
Em sua fala, a embaixadora Marielena Ruiz também celebrou a conquista da libertação dos Cinco, destacando que esta foi uma vitória dos movimentos em todo o mundo, e enfatizou a importância da unidade nesta conquista. “Depois de todos esses anos, brasileiros e cubanos estão cada vez mais próximos. A vinda de um dos heróis para este evento é um agradecimento a todo suporte dado pelo Brasil”, declarou.
Os debates que se seguiram foram realizados no auditório da Faculdade de Ciências da Administração de Pernambuco (FCAP), em Recife. Temas como o bloqueio econômico e financeiro, a reabertura das relações diplomáticas entre EUA e Cuba, a luta pelo fechamento de Guantánamo, o papel da juventude na construção do socialismo e a importância de uma rede de comunicação eficaz para contrapor as mentiras da mídia burguesa sobre a Revolução Cubana. A Verdade participou da mesa debate sobre este último tema, com a intervenção do jornalista Rafael Freire, que, entre outras questões, enfatizou a campanha desenvolvida pelo jornal, durante anos, em prol da libertação dos Cinco Heróis.
Mas o grande momento da 22ª Convenção ficou para o final. Edival Cajá, que presidiu os trabalhos, leu a Carta do Recife, uma enérgica declaração unitária de todas as organizações presentes e deu prosseguimento ao painel de encerramento, com o tema da libertação dos Cinco Heróis cubanos, que contou com o convidado de honra Gerardo Hernández, líder do grupo que lutava, em Miami, para impedir ações terroristas contra o povo cubano. Por seu trabalho revolucionário, Gerardo passou 16 anos preso nos cárceres norte-americanos e, só no dia 17 de dezembro de 2014, regressou a Cuba juntamente com outros dois camaradas, dos cinco, que ainda se encontravam detidos.
Recepcionado com uma explosão de aplausos e palavras de ordem, Gerardo foi atencioso com todos que queriam abraçá-lo e agradeceu o apoio dos brasileiros pela libertação dos cinco. “Não são vocês que têm que agradecer aos Cinco, são os Cinco que têm que agradecer a vocês. Agradeço por trazer-me, e não me refiro a trazer-me de avião, mas a trazer-me de volta a liberdade. Ao longo desses anos todos em que estive condenado a duas prisões perpétuas e mais 15 anos, só conseguimos resistir porque sabíamos que os povos do mundo lutavam por nós”, declarou. “Agora, mais do que nunca, precisamos seguir nesta unidade, em solidariedade e em defesa de Cuba. Não se pode baixar a guarda. Vocês, como nós, estão conscientes que os ventos que enfrentam a Revolução Cubana não são pequenos, mas confiamos no espírito de luta do nosso povo”, finalizou com a humildade e fé de um revolucionário, contagiando o plenário lotado. Os trabalhos da 22ª Convenção foram encerrados oficialmente pela embaixadora Marielena Ruiz, que convocou todos a permanecer mobilizados em defesa da Revolução Cubana.
A Verdade ainda realizou uma entrevista exclusive com Gerardo, com será publicada em nossa edição de julho.
O Estado de Minas Gerais foi aprovado, por consenso, como próxima sede da Convenção Nacional de Solidariedade a Cuba, que ocorrerá em 2017.
Abaixo, segue a íntegra da Carta do Recife.
Ludmila Outtes e Thiago Santos
Carta da 22ª Convenção Nacional de Solidariedade a Cuba, ao povo e ao governo do Brasil e de Cuba
Recife-PE, 06 de junho de 2015
Nas hospitaleiras cidades de Recife e Olinda, Estado de Pernambuco, terra de tantas revoluções libertárias, de heróis patrióticos e internacionalistas, como José Inácio de Abreu e Lima, Miguel Arraes, David Capistrano e Gregório Bezerra, no dia 6 de junho de 2015, os 480 delegados e convidados à 22ª Convenção Nacional de Solidariedade a Cuba celebramos, junto a Gerardo Hernández Nordelo, uma das mais importantes vitórias do movimento de solidariedade internacional com a Causa dos Cinco: estes voltaram à Pátria, ao seio do povo que defenderam de forma digna e heroica, e, de onde seguem, com mais força e convicções, defendendo o Socialismo que cubanas e cubanos assumiram, por esmagadora maioria, como opção histórica de desenvolvimento social, democracia e justiça para todos.
O regresso dos Cinco demonstrou o valor insubstituível da solidariedade na defesa das causas justas dos nossos povos e confirmou a utilidade dos esforços como o que realizamos hoje.
Somos protagonistas de uma das maiores Convenções de Solidariedade celebradas até hoje no Brasil, com recorde de delegados (480), de organizações de solidariedade representadas (54), de estados com delegações presentes (18) e de movimentos sociais e partidos amigos de Cuba. Fato que nos orgulha e estimula.
Constatamos, com satisfação, que a expansão do movimento de solidariedade a Cuba, durante os últimos anos, foi muito mais que quantitativa, foi qualitativa: se evidenciou uma crescente diversidade das forças sociais interessadas em promover as relações de amizade e solidariedade mútua entre nossos respectivos povos; fica cada vez mais claro que, desde as organizações de solidariedade, podem-se gestar iniciativas que favoreçam o crescimento das relações bilaterais, inclusive em nível de Governo; e se tornaram mais objetivas as relações plurais cultivadas por nossos dois povos nos últimos anos.
Seguiremos firmes no nosso caminho. Defendemos a cooperação, a solidariedade e a amizade entre todos os povos do mundo. E esta é também a característica fundamental da política externa cubana. Assim sendo, nos somamos à defesa de uma solução pacífica dos conflitos internacionais em que os verdadeiros interesses dos povos e nações sejam respeitados. Confiamos que o povo, que soube escolher o caminho da revolução socialista, da liberdade e da autodeterminação, com inauditos sacrifícios, jamais se submeterá ao perverso domínio do capitalismo e que continuará firme na construção do Socialismo.
Por isso, devemos enfrentar a guerra midiática permanente realizada pelos EUA, que busca caluniar, isolar e solapar o processo socialista cubano.
Continuaremos firmes na batalha pela soberania, pela democracia, pela liberdade e pelo socialismo em Cuba e no mundo.
Levaremos a nossa luta pela causa da vida, pela justiça social, pela paz, pelo fim do terrorismo de Estado até as últimas consequências. Por isso, exigimos a condenação dos verdadeiros terroristas, como Luis Posada Carriles, agente da CIA, declarado terrorista pela justiça cubana e pela justiça da Venezuela, autor do atentado ao voo 455 da Cubana de Aviación, em 1976, que sobrevoava os céus de Barbados, matando os 73 passageiros inocentes. Por isso, seguiremos firmes no nosso caminho e ao lado de Cuba e também da Venezuela!
Defendemos a integração solidária dos povos da América Latina e Caribe e de todo o mundo, por isso, exigimos o fim do criminoso bloqueio econômico, que, até 2013, trouxe perdas superiores a US$ 117 bilhões, mais que o dobro do Produto Interno Bruto (PIB) de Cuba, causando danos irreparáveis e desumanos à indústria, à agricultura, ao comércio e ao povo cubano.
De igual modo, exigimos o encerramento imediato da prisão de Guantánamo e a sua indiscutível devolução ao povo cubano, como a única maneira de pôr fim às graves violações dos direitos humanos que comete o governo dos Estados Unidos nesta base militar, que fere a soberania da nação cubana.
Tentam em vão, mas não apagarão jamais da história a trajetória de solidariedade humana da revolução cubana: desde 1963, quando partiu para a Argélia a primeira brigada médica cubana em missão internacionalista, 131.933 profissionais da saúde colaboram com outras nações; atualmente cerca de 25 mil médicos e mais de 50.000 especialistas permanecem prestando esses serviços, inclusive no Nepal, onde uma brigada médica cubana integrada por 49 profissionais presta socorro às vítimas do terremoto de 25 de abril deste ano.
Neste sentido, somos imensamente gratos pela realização do extraordinário trabalho dos médicos cubanos em nossos municípios distantes e nas periferias das grandes cidades do Brasil por meio do programa Mais Médicos; somos pelo reconhecimento automático, como faz o governo argentino, dos médicos formados na Escola Latino Americana de Medicina (ELAM), que, além da capacitação profissional e técnica, ensina também a solidariedade e o humanismo como ferramentas para salvar vidas.
Essa deverá ser a base política de construção de uma nova sociedade que os povos do mundo inteiro desejam. Não queremos tropas militares invadindo países para saquear suas riquezas, e sim médicos que salvem vidas, educadores que fomentem valores de solidariedade, técnicos que preservem o meio ambiente, enfim, homens e mulheres que sirvam a paz e a cooperação entre os povos.
Não nos esqueceremos jamais que os resultados extraordinários alcançados pelos nossos irmãos cubanos, como o fim do analfabetismo, da desnutrição infantil, a universalização da educação, inclusive de nível superior, os altos índices de expectativa de vida e o menor índice de mortalidade infantil do mundo só foram possíveis graças à sua revolução, que nacionalizou as terras, os bancos e socializou o conjunto das riquezas produzidas pelo povo cubano ao longo da sua história.
Por tudo isso, exigimos:
Fim do iníquo, ilegal e criminoso bloqueio estadunidense a Cuba!
Fechamento imediato da prisão e da Base de Guantánamo e sua imediata devolução aos seus verdadeiros donos, o povo cubano!
Fim das ações terroristas, punição para Posada Carriles e todos os criminosos impunes!
Fim do terrorismo midiático contra Cuba!
Fora com a 4ª Frota dos mares latino-americanos e caribenhos!
Viva o 56º Aniversário da Revolução Cubana! Viva o Socialismo!
Viva a libertação dos Cinco Heróis!
Pela autodeterminação e unidade da América Latina e Caribe!