Um conjunto de fatos ocorridos nos últimos dias indicam que, pelo menos no estado de São Paulo, estão em um funcionamento um ou mais grupos de extrema direita fascista destinados a realizar ações terroristas de intimidação e agressão contra pessoas, militantes e organizações populares.
No dia 30 de julho ocorreu o primeiro fato. Após as 22h, os ocupantes de um carro escuro arremessaram uma bomba de fabricação caseira contra a portaria do Instituto Lula, organização que representa o ex-presidente e está sediada na capital paulista, no bairro do Ipiranga. A bomba abriu fissuras no portão e seus estilhaços provocaram danos sem deixar feridos.
Dois dias depois, no sábado (1 de agosto), dois ataques foram realizados no centro da capital paulista. O alvo dessa vez foram os imigrantes haitianos que vivem em São Paulo. Eles foram alvejados a tiros na rua do Glicério e na escadaria da Igreja onde funciona a missão religiosa que atende os refugiados em São Paulo. Segundo a reportagem do próprio jornal O Globo, testemunhas declararam que o atirador gritou enquanto atacava: “Haitianos, vocês roubam nossos empregos!“. Seis haitianos foram atingidos e alguns deles permanecem com balas alojadas no corpo, sem correr risco de morte.
O terceiro fato ocorreu na noite de ontem (8 de agosto). A modelo Viviany Beleboni, transexual militante pelos direitos LGBT – que ficou conhecida nacionalmente após realizar uma performance na última parada gay em São Paulo representando as transexuais crucificadas como o Cristo pela violência transfóbica – foi atacada quando caminhava nas proximidades da sua casa. O agressor portava uma faca e, após luta corporal com Viviane, fugiu deixando a vítima com vários ferimentos.
Os alvos dos três atentados têm em comum o fato de terem motivado fortes ataques nas redes sociais nos últimos meses. Em uma rápida leitura na seção de comentários em notícias relacionadas a haitianos, transexuais e Lula é possível encontrar dezenas de ameaças a integridade, crimes de ódio e injúria. Seria muita ingenuidade pensar que esses crimes ficariam apenas na ameaça virtual.
Não se pode subestimar o potencial de dano desses grupos fascistas, afirmando que são apenas uma minoria inofensiva de lunáticos e fundamentalistas. Na medida em que os setores mais reacionários da extrema direita veem frustrados os seus planos golpistas que incluem uma ‘intervenção militar’, é de se esperar que recorram ao terrorismo como forma de realizar o que desejam. Um de seus ídolos, o deputado federal Jair Bolsonaro (PP-RJ), é inclusive suspeito de envolvimento no ataque a bomba ao Pavilhão Riocentro, em 1981.
O objetivo desses grupos é muito claro: intimidar as organizações populares e de esquerda, inibir a livre expressão de ideias e impedir a organização livre e ampla dos movimentos e militantes sociais através do medo. Até o momento, nenhum dos responsáveis pelos três atentados foi identificado e punido, deixando o caminho aberto para novas ações. É evidente que a Polícia de São Paulo e o Ministério Público, tratarão o tema como casos isolados e farão o surrado e conhecido inquérito moroso.
Frente ao fascismo, é necessário organizar a autodefesa. O primeiro passo é formar uma frente de organizações sociais que exija do governo federal uma força-tarefa da Polícia Federal que investigue esses grupos, seus crimes e ligações. Essa exigência, no entanto, não deve guardar nenhuma ilusão. Trata-se de um governo enfraquecido e diposto a ceder a todas exigências da direita do país, e que se recusou, inclusive, a punir os torturadores e assassinos da ditadura militar identificados pela Comissão da Verdade.
Mais importante ainda, é preciso avançar em relação a atitude liberal e desorganizada que hoje temos em relação a organização de atos e reuniões públicas. Nossas atividades não podem ser um alvo falso de ataque para esses grupos. É preciso preparar os esforços de autodefesa e vigilância em cada frente e transformar o famoso slogan ‘Não passarão!‘ em atitudes concretas, e não em apenas uma frase de efeito.
Jorge Batista, São Paulo