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domingo, 6 de outubro de 2024

Contra o fascismo, autodefesa!

Igreja em São Paulo onde os haitianos são acolhidos.
Igreja em São Paulo onde os haitianos são acolhidos.

Um conjunto de fatos ocorridos nos últimos dias indicam que, pelo menos no estado de São Paulo, estão em um funcionamento um ou mais grupos de extrema direita fascista destinados a realizar ações terroristas de intimidação e agressão contra pessoas, militantes e organizações populares.

No dia 30 de julho ocorreu o primeiro fato. Após as 22h, os ocupantes de um carro escuro arremessaram uma bomba de fabricação caseira contra a portaria do Instituto Lula, organização que representa o ex-presidente e está sediada na capital paulista, no bairro do Ipiranga. A bomba abriu fissuras no portão e seus estilhaços provocaram danos sem deixar feridos.

Dois dias depois, no sábado (1 de agosto), dois ataques foram realizados no centro da capital paulista. O alvo dessa vez foram os imigrantes haitianos que vivem em São Paulo. Eles foram alvejados a tiros na rua do Glicério e na escadaria da Igreja onde funciona a missão religiosa que atende os refugiados em São Paulo. Segundo a reportagem do próprio jornal O Globo, testemunhas declararam que  o atirador gritou enquanto atacava: “Haitianos, vocês roubam nossos empregos!“. Seis haitianos foram atingidos e alguns deles permanecem com balas alojadas no corpo, sem correr risco de morte.

O terceiro fato ocorreu na noite de ontem (8 de agosto). A modelo Viviany Beleboni, transexual militante pelos direitos LGBT – que ficou conhecida nacionalmente após realizar uma performance na última parada gay em São Paulo representando as transexuais crucificadas como o Cristo pela violência transfóbica – foi atacada quando caminhava nas proximidades da sua casa. O agressor portava uma faca e, após luta corporal com Viviane, fugiu deixando a vítima com vários ferimentos.

Os alvos dos três atentados têm em comum o fato de terem motivado fortes ataques nas redes sociais nos últimos meses. Em uma rápida leitura na seção de comentários em notícias relacionadas a haitianos, transexuais e Lula é possível encontrar dezenas de ameaças a integridade, crimes de ódio e injúria. Seria muita ingenuidade pensar que esses crimes ficariam apenas na ameaça virtual.

Não se pode subestimar o potencial de dano desses grupos fascistas, afirmando que são apenas uma minoria inofensiva de lunáticos e fundamentalistas. Na medida em que os setores mais reacionários da extrema direita veem frustrados os seus planos golpistas que incluem uma ‘intervenção militar’, é de se esperar que recorram ao terrorismo como forma de realizar o que desejam. Um de seus ídolos, o deputado federal Jair Bolsonaro (PP-RJ), é inclusive suspeito de envolvimento no ataque a bomba ao Pavilhão Riocentro, em 1981.

O objetivo desses grupos é muito claro: intimidar as organizações populares e de esquerda, inibir a livre expressão de ideias e impedir a organização livre e ampla dos movimentos e militantes sociais através do medo. Até o momento, nenhum dos responsáveis pelos três atentados foi identificado e punido, deixando o caminho aberto para novas ações. É evidente que a Polícia de São Paulo e o Ministério Público, tratarão o tema como casos isolados e farão o surrado e conhecido inquérito moroso.

Frente ao fascismo, é necessário organizar a autodefesa. O primeiro passo é formar uma frente de organizações sociais que exija do governo federal uma força-tarefa da Polícia Federal que investigue esses grupos, seus crimes e ligações. Essa exigência, no entanto, não deve guardar nenhuma ilusão. Trata-se de um governo enfraquecido e diposto a ceder a todas exigências da direita do país, e que se recusou, inclusive, a punir os torturadores e assassinos da ditadura militar identificados pela Comissão da Verdade.

Mais importante ainda, é preciso avançar em relação a atitude liberal e desorganizada que hoje temos em relação a organização de atos e reuniões públicas. Nossas atividades não podem ser um alvo falso de ataque para esses grupos. É preciso preparar os esforços de autodefesa e vigilância em cada frente e transformar o famoso slogan ‘Não passarão!‘ em atitudes concretas, e não em apenas uma frase de efeito.

Jorge Batista, São Paulo

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