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quinta-feira, 26 de dezembro de 2024

Greves de operários impedem demissões

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Greve na mercedesQue há uma crise na economia brasileira e mundial não há mais quem duvide. A própria presidenta da República, Dilma Rousseff, declarou em entrevista aos jornais burgueses Folha de São Paulo, O Globo e o Estado de São Paulo que errou ao não ter percebido ainda em 2014 que a crise econômica era grave.

Porém, ao contrário do que dizem os grandes meios de comunicação a serviço da classe dominante, são os trabalhadores e povo pobre quem mais sofre as consequências dessa crise, embora não tenham nenhuma responsabilidade pelo seu surgimento, tampouco pela nomeação do ministro da Fazenda ou do presidente do Banco Central, pois não estão no governo, e muito menos são quem decidem nas empresas em que trabalham.

Prova disso é que apenas nos seis primeiros meses deste ano, os patrões, os donos das indústrias, das lojas e dos bancos, já demitiram mais de 500 mil trabalhadores, mas nenhum trabalhador demitiu sequer um patrão. Somente no mês de julho foram 157,9 mil trabalhadores.

Estas centenas de milhares de pessoas ficarão, portanto, desamparadas, pois na sociedade capitalista o trabalhador que não vende sua força de trabalho não recebe salário e sem dinheiro não consegue comprar alimentos, pagar aluguel ou pagar a conta de luz ou de água.

Com o patrão, a situação é oposta.  Ele é o dono da empresa, e no pior dos casos diminui a produção, mas continua obtendo lucro graças à exploração dos operários que permanecem empregados e seguem produzindo sempre mais do que o salário que recebem. Além disso, enquanto os trabalhadores perdem seus empregos e são jogados no olho da rua, os patrões utilizam o capital que antes era usado para contratar operários e comprar matérias-primas para aplicar em títulos da dívida pública se beneficiando dos altos juros pagos pelo governo ou enviam esse dinheiro para bancos no exterior.

Em vez de produção, especulação financeira

Há ainda casos de empresários que em vez de continuarem com suas indústrias produzindo viram importadores de produtos fabricados em outros países, preferencialmente na China. Segundo Carlos Pastoriza, presidente da Associação Brasileira de Indústria de Máquinas e Equipamentos (ABIMAQ) “várias indústrias silenciosamente deixam de ser fabricantes para virarem montadoras e, em seguida, importadoras. Fazem isso de uma forma maquiada. Por exemplo, o eletrônico vem acabado da China, a empresa tira a placa do produto xingue-lingue e coloca a de fabricado no Brasil, com uma marca conhecida.” (FSP, 12/08/15)

Assim, mesmo na crise os patrões conseguem ficar mais ricos, enquanto os trabalhadores ficam mais pobres.

Para termos uma ideia da fortuna que os capitalistas que investem em títulos da dívida pública ganham sem nada produzir, basta observar que devido à taxa Selic (taxa fixada pelo BC), hoje,  o governo federal paga R$ 300 bilhões de juros por ano. Para pagar esses bilhões, o governo corta investimentos, deixa de enviar medicamentos para os postos e hospitais, corta bolsas de estudantes, dinheiro do Fies e do Prouni, nega qualquer reajuste aos servidores públicos e corta verbas da educação, da saúde pública e da reforma agrária.

Resultado, em plena crise, o banco Itaú lucrou de janeiro a julho, escandalosos R$ 11,71 bilhões; e o Bradesco R$ 9,617 bilhões.

Mas, em vez de enfrentar o grave problema da dívida pública e de pôr fim aos escandalosos pagamentos da dívida pública, mesmo que temporariamente por meio de uma moratória, a presidenta Dilma e o PT preferem seguir a receita sugerida pelo afilhado do presidente do Bradesco, o ministro Joaquim Levy, e continuar aumentando o patrimônio dos parasitas do capital financeiro, e ampliando o domínio do capital sobre a economia brasileira com novas privatizações, como a venda da BR e da Transpetro, leilões do nosso petróleo, além de jogar no país na maior recessão dos últimos anos. Em consequência, a cada dia que passa, cresce a desconfiança dos trabalhadores num governo no qual votaram com a esperança de que melhorariam suas condições de vida e poderiam, pelo menos, conseguir trabalhar.

Luta contra as demissões

Numa tentativa de diminuir as demissões, o governo adotou duas medidas paliativas: o Programa de Proteção ao Emprego (PPE), que autoriza os patrões a reduzir a jornada de trabalho e os salários em até 30% e, mais recentemente, a liberação de R$ 5 bilhões¹ em crédito via Banco do Brasil e Caixa para a indústria automobilística, as montadoras. Nenhuma medida, porém, para taxar as grandes fortunas.

Entretanto, mesmo recebendo esses privilégios, os donos das empresas seguem demitindo os trabalhadores, seja para aplicar o dinheiro no mercado financeiro seja para forçar uma ainda maior redução no preço da força de trabalho.

De fato, A General Motors, de uma tacada só, demitiu 798 operários de sua fábrica em São José dos Campos. A Mercedes, por sua vez, resolveu chantagear os operários: anunciou que irá demitir em setembro 2.000 operários de sua fábrica em São Bernardo do Campo, a não ser que os operários aceitem  reduzir os salários e desistam de qualquer reajuste em 2016.

Mas, como ensina a sabedoria popular, o pau que bate no Chico bate também no Francisco. Muito embora os operários não sejam donos das fábricas na sociedade capitalista, eles são proprietários de sua força de trabalho e sabem que sem ela nada pode ser produzido.  Com essa consciência, os operários da GM, comandados por seu sindicato, viram que a única coisa que poderia salvá-los da guilhotina dos patrões era a sua união e luta e decidiram entrar em greve. Durante 14 dias, nenhum operário entrou para trabalhar e a fábrica parou 100%.  No dia 21 de agosto, vendo que não haveria como fazer a fábrica voltar a produzir sem os trabalhadores, a GM revogou todas as 798 demissões e os dias parados não foram descontados. O presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de São José dos Campos, Antônio Ferreira de Barros, (Macapá) analisou assim a vitória dos operários da GM: “O resultado dessa greve é de grande importância para todo o país. Vivemos um momento em que os patrões estão demitindo milhares de companheiros, sem qualquer reação por parte do governo. Nossa mobilização mostrou que é possível resistir e vencer. Os metalúrgicos, mais uma vez, deram prova de sua força”.

Também, os operários da Mercedes Benz de São Bernardo do Campo cruzaram os braços contra as demissões e 10 mil trabalhadores da empresa marcharam unidos no dia 26 de agosto contra as demissões na rodovia Anchieta. Após oito dias de greve, as demissões foram suspensas e empresa e sindicato decidiram por adotar o PPE.

O caráter explorador e cruel da burguesia, a classe que é dona dos meios de produção, fica ainda mais evidente quando lemos os relatos dos operários que foram demitidos pela GM e pela Mercedes.

“Não teve critério nenhum para os cortes e é muita injustiça com os trabalhadores. Ninguém pode desanimar por ter sido pego de surpresa. Vamos fazer a luta pelos empregos. Estou no último ano da faculdade, tenho dois filhos e valorizo muito o meu emprego. Estava conversando sobre estagiar aqui e agora acontece isso. Vamos lutar para reverter a decisão”.

Tarcisio Miranda, há quatro anos na Funilaria da GM

“Minha reação foi de espanto ao saber da minha demissão. Estou há anos na fábrica, nunca faltei ou dei um motivo sequer para ser tratado apenas como um número, mesmo com problemas de saúde. Tenho os dois ombros comprometidos, a coluna e faço tratamento contra trombose. E sempre continuei firme porque valorizo o meu trabalho. A dor agora não é só física, e sim emocional”. Leandro Dias da Silva, 11 anos, na Montagem de Caminhão da Mercedes

“Nunca recebi uma carta de demissão, mas já senti tudo isso na pele. Meu marido, que estava em layoff² no primeiro semestre, foi demitido, o que nos abalou profundamente. Fico emocionada porque amanhã pode ser eu, por ver pais e mães que não poderão contar mais com aquela renda certa todo o mês. Que dependem do convênio, que pagam a escola dos filhos, que colocam comida na mesa”. Sueli Maria Bertuzzi Freitas, 11 anos, na Logística da Mercedes

Na verdade, o único objetivo da burguesia é aumentar seus lucros. A classe dos exploradores não possui nenhuma compaixão e não é nem um pouco solidária com o sofrimento de um pai ou de uma mãe que fica desempregado. Pelo contrário, prefere que existam mais e mais desempregados, pois assim, cresce o exército industrial de reserva, e o salário tem uma queda no seu valor. Para os patrões, o desemprego é uma benção, pois quanto mais operários estiverem desempregados menor será o salário a ser pago ao trabalhador empregado, consequentemente seus lucros serão maiores³.

Tentando justificar as demissões, os empresários afirmam que a situação está ruim para todo mundo. Ora, como pode a situação estar ruim para as indústrias de veículos se somente nos últimos cinco anos elas enviaram 16,286 bilhões de dólares para o exterior, o equivalente a 58,95 bilhões de reais?

Toda essa situação mostra não só o fracasso da politica econômica do governo, o chamado Plano Levy, como também deixa clara a impossibilidade de conciliar os interesses da burguesia com a classe operária.

Infelizmente, algumas forças de esquerda sob a alegação de que o principal é garantir o crescimento da economia, seguem pregando o desenvolvimento capitalista como o caminho para tirar o Brasil da crise e a aliança com a burguesia nacional. Ora, como temos visto, o crescimento capitalista sempre significa, de um lado, aumento dos lucros e das riquezas da classe capitalista, e, de outro, desemprego, fome e miséria para a grande maioria da população. Prova disso é que embora o Brasil seja a 7ª economia do mundo, ocupa o 79º lugar entre os países  no Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) da Organização das Nações Unidas (ONU).

Com efeito, como mostraram os operários metalúrgicos, a verdadeira solução para a crise é a união e a luta da classe operária contra os patrões contra qualquer redução de salário ou demissão e o desenvolvimento de sua consciência e organização rumo à conquista do poder pelos trabalhadores para pôr fim em definitivo ao sofrimento dos pobres com a passagem do controle dos meios de produção –  terra, máquinas e fábricas  e dos bancos – para as mãos da classe operária e dos camponeses.

(Lula Falcão  é diretor de Redação do jornal A Verdade e membro do Comitê Central do PCR)

¹Lembremos que nos últimos anos a indústria automobilística já recebeu do Governo federal cerca de R$ 11 bilhões em isenção de IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados) entre outras  benesses do governo.

²Layoff  – Suspensão temporária do período de trabalho ou do contrato de trabalho durante um período de tempo, com o trabalhador recebendo o salário integral ou apenas parte dele. Após esse tempo, o trabalhador volta para a empresa.

³De acordo com o IBGE, devido aos milhares de demissões, o rendimento médio real dos trabalhadores em julho deste ano teve uma queda de 2,4% em comparação com julho de 2014.

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