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quinta-feira, 12 de dezembro de 2024

Os esquecidos moradores de rua

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moradores de ruaNos últimos meses, os casos de moradores de rua que morrem nas cidades brasileiras mostram uma triste realidade nos centros urbanos. Em julho, na cidade de São Bernardo do Campo, uma mulher foi encontrada morta por hipotermia em uma das madrugadas mais frias do ano na cidade. No mesmo mês, um homem foi morto brutalmente a pauladas no centro de São Paulo. Dentre tantos massacres como o da Candelária, no Rio de Janeiro, 1993, e o Massacre da Sé, em 2004, em que houve envolvimento direto de policiais militares. De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), mais de dois milhões de brasileiros são moradores de rua. Só em São Paulo, são mais de 15 mil. Mais de 70% são mulatos ou negros de baixa escolaridade.

Quando nos deparamos com uma pessoa em situação de rua, logo surgem vários questionamentos como: quais são suas histórias de vida e por que chegaram lá? Por que nada é feito para garantir os direitos dela? Por que cada vez mais seres humanos vivem em uma situação tão desumana nas cidades grandes? São homens, mulheres, crianças, idosos, famílias inteiras excluídas, sem identidade, indivíduos que, muitas vezes, tornam-se invisíveis, porém humanos. Muito dos motivos que levam essas pessoas até a rua são a violência, principalmente a doméstica, desde física até psicológica, movida por preconceito e ódio, que afetam principalmente idosos, crianças e mulheres. Outra causa é a dependência química, com um número muito elevado de viciados em drogas. E pessoas com doenças e transtornos mentais que, abandonados por familiares, ou desaparecidos, chegam às ruas. O desemprego é outra causa que afeta diretamente o problema, com destaque para imigrantes e ex-presidiários que têm dificuldades e poucas opções de ter um trabalho registrado.

É comum ouvir que as pessoas que estão nas ruas são as únicas responsáveis por sua situação. Os meios de comunicação reproduzem o discurso do ódio, do preconceito, e reforçam a imagem negativa de quem vive na rua, rotulam como mendigos, incapazes, vagabundos ou viciados criminosos. Logo, cria-se a ideia de que não se deve importar com o outro que não é percebível, o outro ignorado, que não é visto, sem voz e excluído, o ser invisível. Muitas vezes, o governo encobre o problema em vez de repensar políticas públicas. O geógrafo e professor Milton Santos, autor do livro “A urbanização brasileira”, disse: “Ao longo do século, mas sobretudo nos períodos mais recentes, o processo brasileiro de urbanização mostra uma crescente associação com o da pobreza, cujo lugar passa a ser cada vez mais a cidade, sobretudo a grande cidade”. O crescimento da economia brasileira nos últimos anos trouxe enormes lucros para os capitalistas, mas a qualidade de vida das cidades do Brasil é péssima.

A verdade é que essas pessoas chegam até a rua porque vivemos em uma sociedade em que o lucro vem acima das vidas das pessoas e a desigualdade é a condição para que o capital possa reproduzir e aumentar seus lucros. O capitalismo se apropria de todas as riquezas produzidas pelos trabalhadores, é um sistema profundamente autoritário e elitista e não permite que a cidade seja um espaço democrático e justo. O espaço urbano passou a ser determinado pelas grandes corporações, empresas, bancos e empreiteiras que ditam como querem as cidades. O desemprego, a pobreza, a violência, o aumento do aluguel, o absurdo de pessoas que vivem nas ruas e das crianças que passam fome são provas de que o capitalismo – com suas contradições – é o responsável por haver tantas pessoas esquecidas nas ruas das cidades brasileiras.

A cidade não pode ser um lugar de negócios lucrativos a serviço de uma elite. Nossas cidades são dominadas cada vez mais pelo capital em aliança com o Estado burguês. O mantra reacionário que esconde o problema, ao invés de resolver, esconde a realidade.

A cidade que desejamos é outra. Tem moradia digna e respeito aos direitos humanos, o poder pertence ao povo, e os trabalhadores compartilham dos frutos do que se produz coletivamente.

Lucas Barbosa, São Bernardo do Campo

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2 COMENTÁRIOS

  1. Tema complexo, porém sua visão e sensibilidade faz o leitor compreender e refletir sobre tal tema, parabéns.

  2. Grande parte dos moradores de rua e pedintes, por mais repulsiva que possa parecer minha colocação, tomam essa condição como estilo de vida. Existem diversos endereços na cidade de SP em que é prestado serviço a essas pessoas de forma gratuita, desde abrigos até trabalhos de recapacitação. Os problemas são vários, desde a qualidade desses serviços e o atendimento a essas pessoas, até o fato que muitos não gostam de viver sobre regras como horario de entrada e saído dos abrigos, responsabilidade de um trabalho… e assim preferem a vida livre das ruas e pedir dinheiro de graça as pessoas o dia inteiro. No aeroporto de Congonhas uma balconista de uma lanchonete disse varias vezes garotos q deveriam estar na escola pública gratuita, iam no balcão comprar lanche ou simplesmente trocar dinheiro que tiram em maços do bolso, arrecadado pedindo das pessoas durante o dia… de graça, sem ter produzido nada, apenas se utilizando de suas carinhas sofridas como pretexto. Assim, eu acho q o problema vem dos dois lados, do governo e do péssimo e infimo investimento nos serviços públicos, e tbm da própria malandragem e dos valores conturbados do brasileiro.

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