A cada 11 minutos, uma mulher é estuprada e, a cada dois minutos, cinco mulheres são espancadas no nosso país. Isto torna o Brasil o quinto país no mundo que mais mata mulheres, segundo o Mapa da Violência no Brasil. Entramos para as estatísticas diariamente e, enquanto nos tornamos números e dados de pesquisas, continuamos vivendo essa realidade. Sofremos diversos ataques por sermos mulheres e se formos negras ou LGBTs, isso se intensifica.
No mercado de trabalho, somos a maioria nos empregos informais; recebemos os salários mais baixos; somos assediadas; as primeiras a perder o emprego; e, se não bastasse tudo isso, ainda temos de conciliar com outra jornada de trabalho, o trabalho doméstico – exercido em grande parte por mulheres negras, trabalho que, além de ser excluído do processo de produção, também não é reconhecido. Todas essas circunstâncias nos colocam numa posição servil na sociedade. A falta de creche e escolas para nossos filhos também colabora para nossa submissão e dependência. E, mesmo sendo metade da população, estamos em número muito pequeno nos espaços de representação política.
Não há dúvidas para nós de que o machismo, o racismo e o sexismo ainda permanecem enraizados às estruturas da nossa atual sociedade porque o capitalismo intensifica e aumenta esses mecanismos de exploração. Porém, há diversas tentativas da burguesia de negar este fato. Através de algumas pequenas conquistas, como a possibilidade de trabalho assalariado, o acesso ao voto e a (falsa) liberdade sexual, a burguesia oportunista tenta nos vender um discurso hipócrita de igualdade e liberdade, prometendo, dessa forma, a libertação do sexo oprimido através de reformas. O feminismo liberal (burguês) tenta desviar as nossas reivindicações e apaziguar as massas femininas, mas estamos cansadas de sermos humilhadas e exploradas pelo sistema capitalista. Por isso, devemos questionar a quem esse discurso vendido da burguesia favorece: a liberdade é de que sexo? A igualdade é de que classe?
É fundamental entendermos que o capitalismo depende das diversas formas de opressão para assegurar o seu sistema de exploração, por isso, a dominação da mulher e o racismo têm um papel essencial para a garantia desse sistema. A exclusão e a marginalização de uma grande parte da sociedade das esferas de decisão facilitam que um punhado de gente se aproprie do resultado do trabalho de diversas outras pessoas e controle os meios de produção. É estratégico manter os baixos salários, as péssimas condições de trabalho e o desemprego – que caracteriza o exército de reserva composto majoritariamente por mulheres negras –, uma vez que assegura o lucro deste pequeno setor explorador da sociedade, que é a burguesia. Por essa razão, as mulheres são as mais afetadas por este sistema injusto e repressivo.
A nossa sociedade cria vários obstáculos para dificultar nossa emancipação. E é por isso que nós, mulheres trabalhadoras, temos duplamente o dever e a necessidade de nos organizar e destruir os alicerces da sociedade exploradora. Devemos mostrar que odiamos e queremos eliminar tudo o que nos oprime. Para que isso aconteça, todas nós precisamos estar juntas e fortalecidas, compreendendo que também somos sujeitos da transformação social.
Muitas mulheres dedicaram suas vidas à libertação da classe oprimida, criaram as condições políticas, morais e mesmo físicas para que pudéssemos nos organizar e continuar com a luta. Não podemos nos manter à margem dessa luta revolucionária, pois é impossível fazer a revolução sem as mulheres, é impossível acabar com o sistema de exploração mantendo mais da metade da sociedade explorada. O sucesso da revolução depende da significativa participação das mulheres.
Nossas lutas mostram que nosso perfil revolucionário é a saída para acabar com as ilusões reformistas do feminismo liberal e da burguesia. O Movimento de Mulheres Olga Benario, desde 2011, luta ao lado da mulher trabalhadora. Prova disso é que, sem auxílio estatal, já construímos duas Casas de Referência para acolher mulheres em situação de vulnerabilidade social: a Casa de Referência da Mulher Tina Martins, em Belo Horizonte, e a Ocupação Mulheres Mirabal, em Porto Alegre.
Nós, do Movimento de Mulheres Olga Benario, convocamos todas as mulheres a lutarem pela sua emancipação e a compreenderem a importância da unidade entre a luta das mulheres e a luta pelo socialismo, pois ela não pode ser dada de forma isolada. A libertação das mulheres é de vital importância para a libertação da classe trabalhadora, pois a derrubada dos privilégios e da exploração e a imposição da plena igualdade de direitos e deveres somente serão capazes numa sociedade socialista.
Camila Borges – Movimento de Mulheres Olga Benario – RS