No dia 29 de setembro de 2018, milhões de brasileiras e de brasileiros foram às ruas e gritaram em alto e bom som: “Ele não!Não queremos uma nova ditadura militar em nosso país!”.
De nada adiantaram as envergonhadas edições feitas pela Rede Globo: a vontade da imensa maioria do povo brasileiro ficou evidente no desfile popular pelas avenidas das principais capitais e mais de 60 cidades defendendo as liberdades democráticas, duramente conquistadas com a derrubada da ditadura, em 1985.
As gigantescas manifestações foram também uma resposta às diversas declarações dadas nos últimos dias pelos generais que comandam a campanha do capitão reformado Jair Bolsonaro e que estavam clandestinos até uma pesquisa do Ibope apontar o candidato da extrema-direita liderando o 1º turno com 27%.
Os generais decidiram que seria hora de falar e apresentar quais as propostas que um governo de Bolsonaro adotaria.
O primeiro foi o general Hamilton Mourão, candidato a vice-presidente na chapa. Ou seja, aquele que assume a Presidência em caso de renúncia ou de morte de Bolsonaro. O general Mourão, que, no ano passado, em palestra numa Loja Maçônica, defendeu um novo golpe militar no país, agora pregou uma Constituinte sem voto popular e feita por “notáveis”, proposta inspirada no Ato Institucional nº 4 do general Castelo Branco, que outorgou a Constituição de 1967. Mais recentemente, no dia 27 de setembro, em palestra na cidade de Uruguaiana (RS), o general Mourão defendeu o fim do 13º salário e das férias dos trabalhadores. Disse ele: “Se a gente arrecada 12, como é que pagamos 13 salários. O único lugar em que a pessoa ganha mais em férias é aqui no Brasil”. Tivesse o senhor general estudado mais, saberia que o salário mínimo do Brasil é um dos menores do mundo. Saberia também que as horas que o operário trabalha ao longo do ano e o que ele produz nessas horas não só garante seu salário, como também o lucro do patrão e até o dinheiro que sustenta o Estado burguês, que paga a polpuda aposentadoria do general Mourão, como explicou de forma muito profunda e clara Karl Marx em sua genial obra O Capital.
Outro general que comanda a campanha de Bolsonaro é Aluísio Ribeiro Souto, responsável por formular propostas para serem implementadas no improvável governo. Em entrevista ao UOL, no dia 28/09/2018, o general Aluísio Souto declarou ser favorável a extinção do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), alegando que ele protegia bandido (sic). Achando pouco, defendeu que os livros que se referiam ao golpe militar de 1964 como golpe e denunciassem os crimes da ditadura fascista deveriam ser eliminados. Uma pergunta, general: como se eliminam livros, queimando ou censurando-os?
Já o general Augusto Heleno Ribeiro Pereira, responsável por comandar as tropas brasileiras durante a intervenção imperialista no Haiti, e também um dos chefes da campanha do candidato que defende o estupro e é contra o direito das empregadas domésticas, declarou, antes mesmo de ir para reserva, ser contrário à demarcação das terras indígenas. Pois bem, se as terras dos indígenas deixarem de pertencer a eles, a quem o sr. General Heleno as entregaria? Às multinacionais estrangeiras que roubam nossos minérios e ouro ou ao agronegócio que planta soja e devasta as florestas com seu gado?
A tudo isso, no dia 29 de setembro, o povo brasileiro disse não, como muito bem resumiu a deputada federal Luiza Erundina (PSOL): “O povo tem que estar nas ruas. Ele é fascista, brutamontes, atrasado, reacionário e estuprador. E não merece a sociedade e o povo que tem. Nós vamos derrubá-lo e reconstruir a democracia com o povo nas ruas”.
É verdade que uma pequena minoria de brasileiros apoia Bolsonaro. Mas é uma minoria! E ela está iludida, vem sendo enganada pelos grandes meios de comunicação e pensa que é possível uma mudança mantendo o mesmo sistema econômico e político – o capitalismo – que vigora no Brasil. Pensa essa minoria que um governo militar resolveria o problema da segurança e acabaria com a violência. Mas isso é uma mentira que os generais e seus apoiadores propagam para que eles assumam o poder e possam retornar a vida de privilégios que tinham durante os 21 anos de arbítrio e de autoritarismo.
Prova disso é que o Exército e as Forças Armadas comandam há sete meses a segurança pública no Estado do Rio de Janeiro e, até hoje, não conseguiram solucionar nem quem são os assassinos covardes da vereadora Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes. Além do mais, o tráfico de drogas continua dominando várias regiões do Rio de Janeiro e, além da Polícia Militar, tem agora a proteção dos tanques do próprio Exército. Números do Observatório da Intervenção, do Centro de Estudos de Segurança e Cidadania da Universidade Cândido Mendes, divulgados em agosto, mostram que, após a intervenção do Exército no Rio, os índices de mortes se multiplicaram: foram cometidos 2.617 homicídios e 99.571 roubos e aconteceram 4.850 tiroteios (um aumento de 62%) em consequência de disputas de facções, confronto policial, operações e perseguições.
Ademais, a violência não diminuiu com o golpe fascista de 1964, aumentou, como também cresceu a pobreza, o desemprego, o domínio do capital estrangeiro sobre a nossa economia e a fome.
Para acabar com a violência no Brasil é necessário resolver o problema do desemprego. Hoje são 13 milhões de brasileiros que não têm trabalho, e, se não têm trabalho, não têm como alimentar seus filhos, pagar aluguel, comprar gás e comida. Para acabar com a violência é necessário que o Estado pare de usar os recursos públicos para aumentar a riqueza de uma minoria de ricaços (apenas seis bilionários no país possuem riqueza superior a 100 milhões brasileiros). O governo não pode pagar uma fortuna de juros aos banqueiros e não investir um centavo em saúde e educação públicas e em moradia popular.
A solução da crise que vive a economia brasileira não é colocar um montão de generais em Brasília, morando nos Palácios do Alvorada e do Jaburu ou nas mansões do Lago do Sul com todas as mordomias. A solução é pôr fim a um modelo econômico que destrói a pequena propriedade rural e rouba as terras dos indígenas, entrega nosso petróleo, minérios e ouro a multinacionais que lucram bilhões com espoliação do nosso país.
Depois, os generais já estiveram em Brasília governando o Brasil, de 1964 a 1985, e o que vimos: censura, livros sendo eliminados, direitos dos trabalhadores desrespeitados, revolucionários sendo torturados e assassinados nos quartéis, como ocorreu com Alexandre Vannucchi Leme, Manoel Lisboa, Emmanuel Bezerra, Vladimir Herzog, Marilene Villas-Boas, Iara Iavelberg, mortalidade infantil, arrocho salarial, fome, desemprego e a economia nacional arruinada.
A solução, portanto, não é estabelecer mais um governo da minoria, mas sim um governo da maioria, o poder popular; colocar o poder nas mãos do povo. Esta é a solução para resolver os problemas do Brasil. Como demonstrou o dia 29, nenhuma minoria vai dominar a maioria do povo. Por isso, Ele e o fascismo não passarão!
Luiz Falcão, membro do Comitê Central do PCR e diretor de A Verdade