Em 13 de junho de 1985, oito trabalhadores e trabalhadoras rurais, entre elas uma mulher grávida, foram torturadas e assassinadas em São João do Araguaia, no Sul do Pará, a mando de José Edmundo Ortiz Vergolino, latifundiário da região ligado à ditadura militar. As vítimas foram encontradas uma semana após os homicídios, gerando revolta na região e levando à denúncias da Comissão Pastoral da Terra na Corte Interamericana de Direitos Humanos.
Os trabalhadores foram identificados como sendo João Evangelista Vilarina, Francisca Pereira Alves, Januário Ferreira Lima, Luiz Carlos Pereira de Souza e Francisca da Silva (que estava grávida). Cinco dias depois das mortes, no dia 18, outros três agricultores foram executados – José Pereira da Silva, Valdemar Alves de Almeida e Nelson Ribeiro.
Esse foi o maior massacre de trabalhadores rurais na região sul e sudeste do Pará, que somente foi superado 11 anos depois, no atentado às vidas de 17 trabalhadores rurais em El Dorado dos Carajás pela Polícia Militar e pelo governador do estado, Almir Gabriel (PSDB), o qual nunca sequer foi indiciado pelos homicídios ordenados pelo seu governo antipovo.
Contudo, a despeito da alta gravidade dos crimes, do caráter monstruoso e da clara manifestação de interesse pelas mortes, que ocorreram em área ocupada pelos trabalhadores rurais antes pertencente, fruto de grilagem e falsificação de documentos junto às instituições militares, a José Vergolino, nada, na época, foi feito pelas autoridades responsáveis pelas investigações e a justiça foi negada às famílias das vítimas de mais um crime movido pela luta de classes no campo, que ficou conhecido com “Chacina da Fazenda Ubá”.
Com a redemocratização, as lutas populares se intensificaram ainda mais, e, em 1999, o caso da Fazenda Ubá foi levado à Comissão Internacional de Direitos Humanos. Em 2006, José Vergolino foi condenado a 152 anos de prisão por ter sido o mandante das torturas e assassinatos dos oito trabalhadores rurais de São João do Araguaia, contudo somente foi preso em janeiro deste ano, em Marabá, sendo transferido para uma penitenciária de Belém. No dia de ontem (18/02), teve seu pedido de liberdade negado pela Seção de Direito Penal do Tribunal de Justiça do Pará.
Em 2010 foi firmado um acordo entre os familiares das vítimas, o Estado Brasileiro e Estado do Pará, que obriga o Brasil a reconhecer a responsabilidade internacional por violação de direitos humanos. Entre as medidas a serem efetivadas está a prisão dos acusados por tais violações. Entretanto, a Justiça burguesa, rápida em condenar os pobres, passa décadas para indiciar, julgar e, raramente, condenar a elite rural e empresarial que massacra o nosso povo, torturando e assassinando até mulheres grávidas.
Matheus Nascimento, Belém